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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS KATHLEEN SANTOS VIEIRA DA CONCEIÇÃO NUSP 14682950 OS FUNCIONALISMOS DE MALINOWSKI E RADCLIFFE-BROWN SÃO PAULO - SP 2024 O funcionalismo é uma teoria possuinte de algumas categorias. De modo geral, sustenta que a sociedade funciona como um corpo, onde os organismos seriam as características que o constitui, como a economia, a arquitetura, a cultura, a psicologia, as instituições e outros. Na áfrica do Sul RADCLIFFE BROWN Radcliffe Brown inicia seu texto manifestando uma crítica meramente negativa quanto a problemática de definir e afirmar que o costume de um povo é ou já foi matrilinear, apenas pelo filho da mãe ter certos direitos especiais sobre a propriedade do irmão da mãe, como fez Henri A. Junod em seu livro “The life of a South African Tribe”. Em sua tese, o autor se posiciona contra esta ideia, pois, do seu ponto de vista, não é possível compreender uma sociedade estudando-a isoladamente, uma vez que existem outros povos além dos baThongas (povo África Ocidental Portuguesa citado no livro de Junod) em outras sociedades da África e em outras diversas partes do mundo, que possuem costumes semelhantes, mesmo não sendo ou tendo sido necessariamente matrilineares em algum momento. Com o intuito de defender sua tese, o escritor traz em seu texto diversos argumentos importantes para a compreensão da crítica. Entre eles está destacada a posição de que sociedades primitivas, em sua maioria, regulam as relações sociais dos indivíduos com base no parentesco, com padrões especiais de condutas, sejam eles de filho para com o pai, irmão para com irmão mais velho, ou outros tipos quaisquer. Aparentemente, o foco central do texto está na relação de tio com sobrinho e se, é possível ou não, definir povos como patrilineares e matrilineares a partir do que se pode observar desta relação. Um dos muitos argumentos importantes para a compreensão, é a classificação do que seria uma descendência patrilinear ou matrilinear. Denominando-se patriarcal quando: a descendência é patrilinear; o casamento é patriarcal; a herança e a sucessão são em linha masculina e a família é patripotestal. E matrilinear quando acontece o mesmo, porém, com e sobre a descendência da mãe. Com isso, é possível entender quando o autor fala sobre os Hotentotes Nama, da África do Sul, descritos pela Sra. Hoernle; O povo Tonga, da Polinésia, descrito por ele; E os baThonga, já descritos no corpo deste texto. Ele aponta que a irmã do pai é igualmente importante ao irmão da mãe. Neste contexto, Junod vai dizer que os homens a respeitam, mas ela não é mãe. Enquanto isso, no relato de Hoernle sobre os Nama, a irmã do pai é o objeto de maior respeito por parte do filho de seu irmão. Em Tonga a irmã do pai também está acima de todos os demais parentes a quem o sobrinho deve respeitar e obedecer. Logo, os exemplos mencionados demonstram ser algo geral, sendo assim aqueles que tivessem o desejo de explicar o irmão da mãe, não deveriam vê-lo como uma instituição independente, mas sim, parte de um sistema. Outra tendência do sistema classificatório de parentesco expressa o oposto do exemplo acima, onde o pai é respeitado e temido por ser aquele que instrui, repreende e castiga, enquanto a mãe é quem combina respeito e amor, mas no geral, esse amor excede o respeito, sendo assim, a mãe é considerada frouxa/fraca e acusada de estragar os filhos, segundo o pai. Essa classificação é utilizada pelo povo da África do Sul, mas também ocorre nos habitantes das ilhas Friendly. Sendo assim, o autor conclui até aqui, que por mais que existam sociedades denominadas matriarcais ou patriarcais, na verdade são elas bilaterais, uma vez que sempre haverá algo de importante vigente de respeito no lado oposto, ou seja, as distinções não são absolutas e sim relativas. É importante ressaltar que, com esta conclusão, o autor não está se desfazendo dos termos, mas sim explicando que os povos podem pender para um lado e outro, sendo em sua maioria bilaterais. Por fim Radcliffe-Brown expõe de forma minuciosa que os valores sociais vigentes de uma sociedade primitiva são mantidos mediante sua expressão nos costumes, rituais ou cerimônias, como por exemplo, o lobola: a compensação da família da mulher pela perda da mesma quando é levada pelo casamento. Em tribos patriarcais, o pagamento deveria ser efetuado para os parentes paternos, todavia, em sua maioria, este é transferido para o tio materno, mostrando mais uma vez, além do ritual, costumes e valores, a bilateralidade. BIBLIOGRAFIA MALINOWSKI, Bronisław. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Ed. Ubu, [1922] 2017. [Cap. 6 –“Lançamento de uma canoa e visita cerimonial. Economia tribal das ilhas trobriand”]; pp. 229-286. FAGUNDES, Guilherme Olímpio. 2023. "Funcionalismo". In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: https://ea.fflch.usp.br/correntes/funcionalismo. RADCLIFFE-BROWN, A. R.: “O irmão da mãe na África do Sul” in Estrutura e função na sociedade primitiva. Petrópolis, ed. Vozes, [1924] 1973; pp. 27-45. RADCLIFFE-BROWN, A. R. “Introdução" a Sistemas Africanos de Parentesco e Casamento In: Radcliffe-Brown, Coleção Grandes Cientistas Sociais 3, São Paulo, Ática, [1950] 1978. https://ea.fflch.usp.br/correntes/funcionalismo