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Revitalização Urbana: Entendendo o processo de requalificação da paisagem

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REVISTA DO CEDS Periódico do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB N. 1 agosto/dezembro 2014 – Semestral Disponível em: http://www.undb.edu.br/ceds/revistadoceds 
Revitalização Urbana: Entendendo o processo de requalificação da paisagem1
 Aline Maria Marques Bezerra2
 César Roberto Castro Chaves3
 Resumo: Quando ouvimos falar de Revitalização, somos imediatamente remetidos a uma ideia de restauração de Patrimônios Históricos Culturais, mas revitalização é um termo muito mais abrangente, trata de um conjunto de ações, a fim de permitir a um determinado espaço nova eficiência, novo sentido em seu uso, visando uma melhoria do espaço e do seu entorno. No estudo que se segue, compreenderemos o conceito proposto e também outros conceitos correlacionados a revitalização, mas que tem finalidades diferenciadas. Estudaremos o processo de revitalização atrelado à evolução urbana, seu uso em diferentes experiências no Brasil e em outros lugares do mundo. E por fim, veremos como se dá o processo de revitalização urbana, seus usos, pontos positivos e negativos. A metodologia utilizada foi de revisão bibliográfica, buscando vários autores para a construção de uma visão crítica sobre o assunto. 
Palavras-chave: Requalificação. Renovação. Revitalização. Gentrificação.
INTRODUÇÃO 
 
A palavra Revitalização sempre trás a mente a ideia de conjuntos de medidas e ações que surgem com o objetivo de aplicar a determinada área um novo valor, e dando vida econômica e social. O crescimento das cidades está acelerado, algumas cidades já alcançaram toda sua área e já não é mais possível encontrar espaços livres para construção. Há cidades também que cresceram sem atentar para o planejamento urbano e por isso começam a apresentar problemas no uso de algumas áreas, desvalorização de outros, mau uso e até abandono e marginalização de áreas. 
1 Paper apresentado à disciplina Metodologia de Pesquisa Científica da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco 
2 Aluna do primeiro período de Arquitetura e Urbanismo da UNDB. 
3 Professor Mestre em Cultura e Sociedade, orientador.
 Essa degradação não é incomum, atingem cidades de médio e grande porte, suas áreas passam a serem substituídas por outras, que ofereçam opções atrativas para consumo e investimento. Em alguns lugares, a prefeitura deixa de lado determinadas regiões, principalmente o centro das cidades e dirigem sua atenção a outras. Para esses casos é que a revitalização vem como solução.
 
Mas é de extrema importância relacionar o processo de requalificação arquitetônica a evolução urbana, considerando a sua cultura, a utilização socioeconômica. A Arquitetura e o Urbanismo têm produzido bastante sobre intervenções urbanas, que objetivam a revitalização e a requalificação de áreas urbanas, dando às cidades um aumento no seu grau de competitividade e valorização. 
Historicamente diversas intervenções têm ocorrido nas áreas centrais das cidades com intuito da melhoria estética ou em busca de renovação urbana. Mas essa renovação vem alterando e muito a dinâmica dessas áreas exigindo altos investimentos, e tem como característica principal sobrepor sua função com interesses imobiliários, e a questão reside aí, o governo precisa estar atento à qualidade de vida do cidadão. Assim vem se fortalecendo a metodologia de revitalização urbana. 
Nesse estudo optou-se desenvolver o tema através da pesquisa bibliográfica, visando o entendimento fundamentado do assunto. Foram consultadas obras nacionais, artigos científicos, livros, periódicos, além de material disponibilizado na internet. 
Este paper se propõe a discutir o processo de Revitalização Urbana, bem como conhecer o conceito de Revitalização Urbana, identificar mudanças da Revitalização Urbana ao longo dos anos e estudar experiências de Requalificação Urbana no Brasil e no mundo. Identificando suas características, e atribuindo a ela a importância dela para a conservação das cidades. 
RENOVAÇÃO, REVITALIZAÇÃO E GENTRIFICAÇÃO: desvendando os conceitos 
Revitalização é um termo bastante empregado quando se fala de intervenção urbana. Entretanto, a paisagem urbana pode sofrer diferentes tipos de intervenções, cada uma com sua característica, e para uma compreensão exata do que é possível infligir à paisagem, objetivando diferentes resultados.
 Nesses últimos anos, tem havido um fenômeno mundial de revalorização das áreas urbanas, levando em conta principalmente, o uso da água, desenvolvimento sustentável, ocupação de áreas vazias, requalificação de espaços, otimização da mobilidade urbana destacando as potencialidades paisagísticas, logísticas e imobiliárias (GROSSO, 2008, p. 22). 
Para termos ideia da mudança pela qual as cidades passam, usemos São Luís para visualizarmos esse processo. A capital maranhense é formada por um conjunto de cidades que foi sendo formada desde o início da década de 70. Começa ao longo da Estrada de Ferro Carajás e da Rodovia BR-222. A cidade foi fundada por franceses em 1612, mas os portugueses a tomaram em 1615, e a fim de construir fortificações de defesa – e, sobretudo, descaracterizar qualquer traço dos franceses - foi enviado para cá, o engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita, que além das fortalezas, deixou também um plano de urbanização para ser usado como referência na expansão da cidade. Ele deu ao centro de São Luís uma regularidade geométrica, talvez a primeira no Brasil. Um traçado urbano que se apresentou completamente diferente das ruas estreitas e irregulares que os portugueses usaram em cidades como Rio de Janeiro e Olinda, se tornando uma configuração muito moderna para a época. 
A partir da década de 1990 a urbanização da capital sofreu grande aceleração, refletindo em aspectos demográficos, sociais e econômicos, também em outros municípios da Ilha de São Luís - Paço do Lumiar, São José de Ribamar e Raposa. Algumas áreas rurais tornaram-se urbanas, o que permitiu a criação da metrópole. São Luís também já sofreu outros diversos processos de intervenção urbana, uns mais antigos e outros mais recentes, alguns bastante divulgados, como o Projeto Reviver e o Projeto de Urbanização da Lagoa da Jansen, e outros nem tão conhecidos, como o Projeto Palafita Zero, que abrange os bairros Jaracaty, Vinhais e Cohafuma. Contudo, essas intervenções que podem parecer o mesmo processo, apresentam características e usos diferenciados. 
Exemplificamos com São Luís, mas diversas cidades estão frente a grande complexidade que tem as intervenções urbanas, ainda mais se essas intervenções são feitas de formas isoladas, sem a preocupação de uma continuidade e abrangência de toda a cidade. É de suma importância compreender os meandros desse processo e suas consequências, para que se possa construir uma crítica responsável quanto ao uso de cada um, e avaliar os pontos positivos e negativos, levando em conta as consequências para a cidade e para a população. Existem muitas transformações acontecendo, em centros históricos, em áreas de periferia, áreas de preservação, em espaços vazios e/ou degradados e lugares de usos comuns à população rica e pobre, todas essas intervenções são baseadas em projetos urbanos que almejam a requalificação urbana dessas áreas. 
De uma forma ou de outra, as ações de requalificação tem aparecido em destaque para que se possa compreender toda essa dinâmica urbana contemporânea, ainda mais em se preocupando em assimilar a essa dinâmica todo o valor histórico, cultural e social. 
Mas há também quem avalie esses processos de revitalização urbana como uma produção cultural das cidades visando lucro, retorno financeiro, como Arantes, Maricato e Vainer (2000, p. 47).Os autores entendem que esse processo é importante fator de evolução urbana, que é impulsionada pela necessidade do mercado, afirmam: 
Tais iniciativas, sejam elas grandes investimentos em equipamentos ou culturais de preservação e restauração de algo, é alcançado pelo status do patrimônio, constituindo, pois uma dimensão associada à primeira,na condição de isca ou imagem publicitária. [...] A medida que a cultura passa a ser o principal negócio das cidades.
Assim suscitam um paradoxo quanto a essas requalificações urbanas. Como essas intervenções vem sido feitas? Essas mudanças tem apenas um caráter contemplativo ou são motivados por interesses econômicos?
A necessidade de intervenção em centros urbanos se dá não apenas para que se conserve toda a estruturação existente, mas, sobretudo pela necessidade de restaurar a identidade dos espaços e das pessoas com que se relaciona. Assim compreenderemos essas diferenças e responderemos as essas questões, desvendando os termos envolvidos. 
Existem termos específicos para diversas formas de intervenções urbanas, são eles: Revitalização Urbana, Renovação Urbana e Gentrificação. Segundo Vaz e Silveira (1999, p. 55) a Renovação Urbana se apoia nas ideias do modernismo e a Revitalização Urbana, desencadeado nas últimas décadas em confronto com os excessos do modernismo. O processo de intervenção dos centros urbanos pode ser dividido em três fases, de acordo com Vargas e Castilho (2006, p. 6), essas divisões históricas também definiram o termo, seu uso e significado, algumas ainda usadas até hoje. 
O período de Renovação Urbana abrange o período de 1950 até 1970. Apoiado nos ideais do modernismo, principalmente os expressos na carta de Atenas de 1933 (VAZ; SILVEIRA, 1999, p. 52) prezava pelo novo, destruindo o que considerava antigo e ultrapassado, e construindo tudo novo visando uma renovação. Toda essa ânsia por renovação coincidiu com o que as elites da época desejavam e também com os interesses de quem patrocinava essas renovações. Nos EUA, esses conceitos de renovação urbana vêm em um momento importante e alcançou grandes espaços, considerando que muitos centros estavam completamente degradados, sendo substituídos por subúrbios. Mas na Europa, por exemplo, como os centros estavam fortemente atrelados e carregados de cultura, eles não foram destruídos e sim tiveram seus problemas solucionados, impedindo amplas destruições, além das causadas pelas guerras. 
A Revitalização Urbana, por sua vez, se destaca entre 1950 e 1970. E vem de encontro a tudo o que prega a corrente anterior. Apresenta como prioridade o resgate de edifícios históricos, reestruturando áreas centrais, desenvolvendo e privilegiando o comércio da área (ARANTES; MARICATO; VAINER, 2000, p. 44). A preservação e a restauração de centros históricos e de seus edifícios mostravam um desejo de criar um novo espaço, que fosse distinto. Essa forma de intervenção mostrava traços do que foi a fase de Renovação Urbana vivenciada na Europa, inserindo nessas edificações antigas, novos usos, ligados a atividades de cultura e lazer, e em alguns lugares, como em São Luís, até a moradia. Essas ações foram legitimadas pelo envolvimento da sociedade, e com parcerias do setor público e privado, tendo como coadjuvante nesse processo a preservação do patrimônio. Para garantir que os usuários certos seriam atraídos para esses centros, estabeleceu-se três passos importantes: 
1) A intervenção por projetos arquitetônicos (empreendimentos/comércio/residência); 
2) Políticas públicas; 
3) Programa de gestão compartilhada (VARGAS; CASTILHO, 2006, p. 36). 
A Gentrificação abrange o período compreendido entre 1980 a 2000. Tendo como incentivo direto, a indústria da comunicação, especialmente a propaganda, transforma a cidade e a tira da posição de local de produção a mercadoria. Pois o mercado imobiliário junto com o poder público passa aplicar na região desejada, técnicas de planejamento estratégico e de mercado associando-o também ao marketing urbano (ARANTES; MARICATO; VAINER, 2000, p. 66). 
Essa reinvenção urbana busca basicamente recuperar a economia da cidade, unindo o setor público, privado e, sobretudo os empreendedores imobiliários. Investindo em determinadas áreas, dando a ela caráter nobre, criando o emburguesamento de áreas antes consideradas pobres e/ou periféricas, expulsando os moradores da região. Um exemplo claro de gentrificação foi o projeto de urbanização da Lagoa da Jansen em São Luís do Maranhão, a área povoada por população com baixo poder aquisitivo, as residências eram palafitas, junto a lagoa mal cheirosa, logo com a urbanização da área, desapropriação desses cidadãos, a área ficou nobre e foi supervalorizada. Mas esse processo é oculto pelo discurso de melhoria da área, sendo as ações apresentadas sempre como revitalização. 
[...] usado como eufemismo: revitalização, reabilitação, revalorização, reciclagem, promoção, requalificação e até mesmo renascença e por aí a fora, mal encobrindo, pelo contrário, o sentindo original de invasão e reconquista, inerentes ao retorno das camadas afluentes ao coração da cidade [...] a gentrificação é uma resposta específica à máquina urbana de crescimento a uma conjuntura histórica marcada pela desindustrialização e consequente desinvestimentos das áreas urbanas significativas. (ARANTES; MARICATO; VAINER, 2000, p. 30). 
Embora esse processo esteja acontecendo mais nos últimos anos, foi em 1963 que o termo Gentrificação foi cunhado por Ruth Glass, na sua obra Introduction to London, aspects of change (BOTELHO, 2005, p. 55). Desde aí o termo vem sendo utilizado para descrever inúmeros casos semelhantes de requalificação de áreas urbanas. O processo que no começo era espontâneo, e apenas acompanhado de leve interesse imobiliário, começou a partir da década de 90, assumir um caráter de política urbana, articulando uma conquista de uma classe sobre a outra. 
Segundo Vaz e Silveira (1999, p. 57) cinco características básicas devem estar presentes nas intervenções de revitalização de centros urbanos: 
a) Humanização dos espaços coletivos produzidos; 
b) Valorização dos marcos simbólicos e históricos existentes; 
c) Incremento dos usos de lazer; 
d) Incentivo à instalação de habitações de interesse social; 
d)Preocupação com aspectos ecológicos e 
e) Participação da comunidade na concepção e implantação. 
Assim, a requalificação de centros urbanos deve se caracterizar não somente por critérios funcionais, mas também políticos, sociais e ambientais. Esses critérios conferem às intervenções uma nova vitalidade não só econômica, mas também social. 
PERSPECTIVA HISTÓRICA DA INTERVENÇÃO URBANA 
A urbanização como um processo e a cidade como organismo concreto, são processos que marcam verdadeiramente a sociedade contemporânea. Pois se passou mais a compreender o espaço como uma construção histórica e que as cidades são resultado de todo um processo que vai acumulando transformações que acontecem ao longo do tempo, amarrada por todas as relações estabelecidas em cada momento histórico diferente, decorrente das necessidades específicas. 
A exemplo da revolução industrial que suscitou diversas transformações nas cidades, efetivas mudanças que reverberaram diretamente sobre as cidades, recebendo e fazendo mudanças. A indústria causa impacto sobre o urbano, por isso a expansão das cidades provocada pela industrialização causou o que Harduel chama de explosão demográfica, (apud PEREIRA, 2009, p. 39) “enquanto a população mundial quadruplica após 1850, a população urbana se multiplica por dez”. Consequência dos progressos científicos e técnicos. Assim o que podemos perceber é que o crescimento das cidades ganha importância com a revolução industrial, permitindo que a cidade possa assumir uma ou vária funções. 
Após a II Guerra Mundial e até o último cartel do século XX, diferentes metrópoles ao redor do mundo, passaram por grande crescimento econômico de matriz fordista – produção e consumo massificado – onde o ideal positivista e a lógica racional-tecnicista do modernismo orientavam políticas urbanas equivocadas, numa renovação indiscriminada da cidade existente (PEREIRA, 2009, p. 46). Projetos inovadores vinham substituir a riqueza físico espacial e a diversidade sociocultural de áreas tradicionais, desvalorizadas e esvaziadas de suas funções originais ecom uma arquitetura distanciada de valores da população. 
A revitalização de centros urbanos nos seus primórdios surge em confronto à renovação urbana que dominaram as intervenções urbanísticas entre as décadas de 30 e 70, marcadas pelo urbanismo modernista. Essas grandes intervenções em áreas do centro tinha um cunho de limpeza, pois eliminavam áreas e edifícios habitados por populações de baixa renda, destruíam grandes áreas para novos oferecer a elas novos usos, constituindo polos comerciais e de serviços, produzindo edificações e espaços públicos marcados pela monumentalidade. Os críticos desse tipo de intervenção no espaço urbano acusam-no de atender mais aos interesses do capital imobiliário. A configuração da paisagem urbana no princípio do século XX, não levavam em consideração, ou se preocupavam com a beleza, buscavam mais a funcionalidade e por conta disso acabavam causando uma poluição visual, causada pela modernidade, telefones, eletricidade, mobiliário urbano e etc. e também cada vez mais a presença de automóveis. 
Mas foi com a consolidação de uma sociedade capitalista, voltada para a indústria e consumo que aumentou os problemas enfrentados pelas cidades. Daí, segundo RELPH (1985, p. 51) é que nasce o urbanismo moderno, visando procedimentos e ideias que objetivavam procedimentos que melhorassem as condições de vida, criando um sistema coerente, chamado “Planejamento da Cidade” De acordo com o autor: de início o planejamento das cidades foi concebido como meio de oferecer grandes soluções a todos os problemas urbanos, ou pela construção radical para o embelezamento da cidade ou pela construção de cidades-jardins completamente novas. Embora ele afirme que mesmo antes de surgir o planejamento moderno haviam surgido formas de enfrentar os problemas. 
Relph (1985, p. 78) destaca como soluções da época: 
- determinação de padrões de construção que visavam melhorar o desenvolvimento das habitações; 
- arranjos das cidades que primava à revitalização das fachadas e tentando diminuindo o caráter industrial; 
- criação de cidades modelos (séc. XIX), que contassem em áreas separadas, com casas, parque, biblioteca, lojas, teatros e circuito ferroviário. 
Nesse sentido, as principais correntes do Urbanismo dos séculos XIX e XX, segundo Relph (1985, p. 54) são a Humanista, Naturalista e Progressista, as duas primeiras, eram basicamente anti-industrialistas, quem prezavam pelo bem estar do indivíduo e previam arborização e jardins. Já a Progressista, era absolutamente voltada para a modernidade, e fazia uso de vidro, concretos e armações. Embora tenha sido predominante, sempre sofreu críticas, pois favoreceu o crescimento da cidade, sem atenção a beleza e ao conforto, destruiu patrimônios arquitetônicos e fez-se perder até a estrutura antiga das cidades, como vielas e ruas. 
Foi a partir da Segunda Grande Guerra, surgiram leis que efetivassem criação de planos oficiais de urbanização, oferecendo uma mudança significativa na paisagem urbana. Relph (1987, p. 62) chama atenção para três medidas que se tornaram padrões nesses planos, foram eles: Unidade de Vizinhança, que determinava que as escolas e outras instituições deveriam estar no centro das cidades e o comércio na periferia, as avenidas deveriam ser conforme o número de habitantes e deveria haver 10% de área livre; Princípio de Radburn, que adota os mesmo princípio da unidade da vizinhança, mas adaptando-as para veículos e por fim o Zoneamento das Áreas: que consistia em situar as diferentes áreas da cidade segundo as funções que desempenhavam, como lazer ou comércio, por exemplo, para controlar seus usos e determinar padrões específicos de construção. Essas ideias na prática não se apresentaram de maneira cabal, mas foram sendo adaptadas e podemos perceber sua influencia até hoje. 
Já no Brasil, podemos identificar quatro períodos mais relevantes da gênese e evolução do urbanismo, citados por Ribeiro e Cardoso (apud Pereira, 2009, p. 52). São eles: 
A Primeira República (1880-1930): carregada de resquícios escravagista e muito segregacionista tem predomínio do ruralismo. Acredita que para a constituição de uma nação, ela deve ser “purificada” ao máximo com a presença de indivíduos brancos, daí o incentivo também a imigração, não só visando atender a indústria cafeeira da época. Busca-se a cidade bela e limpa, e para que se consiga isso se fazia necessário a expulsão de todo e qualquer presença de negros e/ou índios. As intervenções da época são predominantemente higienistas, que iam desde o controle de epidemias quanto a exclusão social, enviando a camada pobre para os morros e outros lugares distantes. 
2) O Período Vargas (1930-1950): foi um período populista mas que via a pobreza como um entrave a modernização. Assim, tem o cuidado de conter conflitos sociais através de políticas públicas. Nessa época nasceu a “Marcha para o Oeste”, criada por Getúlio Vargas, para incentivar a ocupação e o progresso da região Centro-Oeste, pois havia muitas áreas desocupadas. Com o intuito de romper com os desequilíbrios regionais incentivando a migração. 
3) A Era do desenvolvimento (a partir de 1950): Foi marcada por uma acelerada modernização, baseada, sobretudo na internacionalização da economia – inicio das grandes dívidas externas – e na industrialização. Nessa fase a urbanização se intensifica, e gera problemas como o inchaço das cidades, migrações descontroladas, aumentando as desigualdades sociais e econômicas gerando um desequilíbrio no sistema liderando para o golpe militar. Apenas no fim do século 20, que surge um novo padrão a se pensar, a questão ambiental. Esse tema começa a surgir como uma preocupação. Assim essas ideais começaram a ser desenvolvidas no Brasil, reflexo das influencias internacionais. 
4 REVITALIZAÇÃO: para além dos centro históricos 
Com todo apanhado a cerca de urbanização feito no capítulo anterior, podemos perceber que o processo de revitalização pode ser parcial ou total. Pode em algumas situações gerar uma reconfiguração total da área, ou pode ser mantida algumas de suas funções. Nem sempre é um processo simples. Às vezes gera dúvidas e controvérsias quanto ao que se pode fazer ou não para se revitalizar uma área. 
É importante que fique clara a compreensão que revitalização urbana não compreende apenas áreas de preservação histórica. Ela se faz sempre que é necessária a revitalização de uma área degradada, que apresenta uma subutilização ou começa a torna-se obsoleta. Essas revitalizações, geralmente estão ligadas ao planejamento estratégico da cidade, bem como ao plano diretor, surgem como projetos de modernização da cidade, de embelezamento e também aos interesses imobiliários. E embora as revitalizações possam a priori parecer atender grandes metrópoles, ela é também um recurso utilizado por cidades de médio porte. Vejamos experiências de requalificação que atendem diferentes perfis de cidade e necessidade. 
São Luís foi tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em dois momentos, o primeiro em 23 de dezembro de 1953, 90 hectares, cerca de mil edificações foram consideradas de valor histórico. Depois em 6 de março de 1986 uma área maior de 160 hectares, aproximadamente 2,500 imóveis passaram a ser protegidas. Foi estabelecido o Projeto Reviver, um projeto de intervenção gigantesco, que abrangia a Zona da Praia Grande, O convento das Mercês, o Centro de Criatividade Odylo Costa Filho e outros pontos, e mais tarde o Teatro Arthur Azevedo. Nessa fase surgiu também o plano piloto de habitação, adaptando e restaurando um sobrado na região que atendesse 10 famílias. 
Já em Fortaleza, a principal experiência com revitalização foi com o Projeto de Revitalização Urbana e o Centro Dragão do Mar. O projeto visava recuperar uma parte da cidade e criar um centro de cultura. O projeto foi concebido para formar um circuito com a Avenida Monsenhor Tabosa, importante área comercial da cidade. A intenção desse projeto era recuperar essa área e dar a elanovo convívio, perdido ao longo dos anos. Perceba-se que nenhumas das edificações revitalizadas na área eram tombadas. 
Em Vitória, capital do Espírito Santo, a revitalização veio como solução à área degradada do centro, em estado de abandono e desvalorização imobiliária, ausência de funcionalidade, segurança e beleza (BOTELHO, 2005, p. 59). Foram investidos em novas edificações e na modernização das existentes. 
Temos também a experiência de Belo Horizonte, na revitalização da Praça Rui Barbosa, conhecida como a Praça Da Estação, o objetivo principal nessa intervenção foi atribuir a região um uso atual e recoloca-la na vida social urbana, gerando e atraindo capital cultural, criando um “produto” que pudesse ser vendido como capital cultural moderno e universal (ARANTES; MARICATO; VAINER, 2000, p. 67). 
A revitalização pode ser realizada também através de construções de impactos, em lugares de localização estratégica, ou por visibilidade, aparência ou monumentalidade. Esses monumentos tornam-se ícones e assim servem de catalisadores de desenvolvimentos e ajudam a valorizar seu entorno e às vezes até a cidade onde se encontram. 
Hazan (2003) aborda bastante esse lado da revitalização a partir de monumentos. Exemplos clássicos dessa monumentalidade gerando vitalidade, podemos citar o Partenon em Atenas e o Coliseu em Roma, pois geraram força e poder e as cidades foram crescendo ao seu redor. Na atualidade a autora, chama atenção para a França, com a construção do Arco de La Defense, a Ópera da Bastilha e a ampliação do Louvre, como alguns exemplos. 
E no Brasil podemos observar o projeto do Museu Guggenheim, que nasceu como um empreendimento cultural que estimularia o processo de requalificação, recuperação e reabilitação de casas e ruas no Morro da Conceição e também a diminuição do tráfego de carros e ônibus, liberando para pedestres. 
Em Niterói, os investimentos para gerar novos ícones se concretizaram através do Caminho de Niemeyer, que agrega vários projetos desenvolvidos pelo arquiteto, objetivando a revitalização geral do município, observe que no caso de Niterói o objetivo da revitalização não abrange apenas uma área, mas sim toda a cidade. 
Na Inglaterra, podemos observar a revitalização da área do Soho em Londres, através da expulsão carente, da região, visando uma recuperação do valor imobiliário, perdidas por conta de degradação sofrida enquanto essa população menos abastada, viviam nesses locais. Deslocando essa população original, e atraindo residentes de mais alta renda e recuperando a atividade econômica do local. 
Todas essas experiências citadas são experiências de revitalização urbana. Cada uma sendo utilizada de forma diferente, mas basicamente com o mesmo objetivo, dar um novo valor a área. Podemos perceber a diferença nos processos dependendo de onde são realizadas e também entre as cidades em que são desenvolvidas. Os projetos podem ter um lado grandioso e serem positivos por determinados ângulos para algumas cidades, mas em contrapartida, às vezes, essas políticas acabam por implantar uma segregação ainda maior entre a população de alta e baixa renda. 
CONCLUSÃO 
A revitalização urbana é imprescindível para manter os edifícios históricos bem como a memória da cidade, mas não é só com esse objetivo. Com o crescimento das cidades, com constantes transformações sofridas por elas, diferentes áreas perdem visibilidades, são degradadas pelo mau uso ou pela má administração pública. E com um mundo cada vez mais preocupado com o bem estar das pessoas no futuro, atrelado a questões ambientais, fazer com que todas as áreas possam ser aproveitadas, a requalificação urbana é cada vez mais exigida. 
A concepção do urbanismo foi sendo gerada e modificada ao longo da história, dividiu-se em períodos bem marcados por características diferenciadas de acordo com o contexto da época, deixou marcas e legados, que foram incorporados ao urbanismo atual. O Brasil acompanhou essas transformações, embora com um atraso, em relação à Europa, mas vem caminhando para a criação e transformação do Urbanismo. 
Assim utilizando de formas diferenciadas de requalificação urbana, como a Renovação, a Revitalização e Gentrificação, a paisagem vai sendo mudada e reutilizada, atendendo necessidades específicas para cada local. A preocupação com a dinâmica da cidade vem crescendo, embora tenha sempre estado presente na construção das cidades, ainda que menos ou mais dependendo do contexto histórico. 
Os casos vistos se enquadram no conceito de requalificação urbana, por visarem oferecer a área uma nova utilidade, criando oportunidades de comércio, promovendo uma imagem melhor para a cidade ou parte dela. Os resultados do urbanismo moderno vão sendo cada vez mais notórias na atualidade. Construção ou restauração levam a melhoria da paisagem. 
Dentro do contexto da pesquisa, observamos que não é possível admitir apenas um conceito ou teoria de requalificação urbana, frente a tantas necessidades e possibilidades. Os espaços, públicos ou privados, desempenham funções urbanas. Assim o que é necessário é uma pesquisa maior, quanto a projetos de revitalização urbana, para que permita o desenvolvimento de novas perspectivas conceituais, formais e também formas de atuação, sempre questionando os modelos já existentes, pensando em gerar melhores soluções. Lembrando também que esse processo deve estar inserido no contexto geral da cidade, no plano diretor, deve ser prioridade na expansão e melhora do ambiente. 
Conclui-se também que o processo de requalificação da paisagem, traz benefícios a onde quer que seja implantada, quer reavivando áreas, prédios, oferecendo possibilidades de crescimento, ou mesmo aumento da visibilidade e aumento do turismo. E embora não possamos descartar alguns danos colaterais, como a expulsão, algumas vezes, de uma parte da população, para a periferia, segregando mais ainda a população de baixa renda. 
Assim, espera-se que essa pesquisa, sirva como um provocador de discussões no campo da requalificação da paisagem, suscitando interesse e pesquisas, buscando uma reflexão sobre as consequências e as possibilidades quanto se trata de mudar e dar nova vida a paisagem urbana. 
REFERÊNCIAS
GROSSO, Kerley Soares de Souza. Intervenções urbanísticas como estratégia para o desenvolvimento local e revalorização da imagem da cidade: análise da revitalização no município de Niterói (RJ). 1° SIMPGEO/SP, Rio Claro, 2008. 
VAZ , Lilian Fessler; SILVEIRA , Carmen Beatriz. Áreas centrais, projetos urbanísticos e vazios urbanos. Revista Território. Rio de Janeiro, ano IV, n° 7. p. 51-66. jul./dez. 1999 
ARANTES, Otília Beatriz Fiori; MARICATO, Ermínia;VAINER, Carlos B. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 
VARGAS, Heliana Comim, CASTILHO; Ana Luisa Howard de. Intervenções em centros urbanos: objetivos e resultados. Barueri, SP: Manoele, 2006. 
BOTELHO, Tarcísio R. Revitalização de centros urbanos no Brasil: uma análise comparativa das experiências de Vitória, Fortaleza e São Luís. Revista Eure (Vol. XXXI, Nº 93), pp. 53-71, Santiago de Chile, ago. 2005. 
PEREIRA, Iacimary Socorro de Oliveira. As políticas públicas de revitalização urbana e a localização das classes sociais: o caso de Belém - PA. 2009. 284 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo)-Universidade de Brasília, Brasília, 2009. 
HAZAN , Vera Magiano. O papel dos ícones da contemporaneidade na revitalização dos grandes centros urbanos. Arquitextos, São Paulo, 04.041, Vitruvius, out. 2003. Disponível em: . Acesso em: fev. 2013. 
DEL RIO, Vicente. Voltando às origens: A revitalização de áreas portuárias nos centros urbanos. < http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp091.asp>. Acesso em: 26 mar. 2013.

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