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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO ANÁLISE DOS EFEITOS DE UM TREINO PARENTAL SOBRE COMPORTAMENTOS DE CRIANÇAS COM TDAH: COMPARAÇÃO ENTRE SETTING TERAPÊUTICO E AMBIENTE DOMICILIAR Maria Elizabete Coelho das Neves Belém - Pará Agosto/2008 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO ANÁLISE DOS EFEITOS DE UM TREINO PARENTAL SOBRE COMPORTAMENTOS DE CRIANÇAS COM TDAH: COMPARAÇÃO ENTRE SETTING TERAPÊUTICO E AMBIENTE DOMICILIAR Maria Elizabete Coelho das Neves Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento para obtenção do Título de Mestre, realizada sob a orientação da Prof.ª Dra. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira. Belém – Pará Agosto/ 2008 COMISSÃO EXAMINADORA Profa. Dra. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira Universidade Federal do Pará Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento Orientadora Profa. Dra. Célia Maria Lana da Costa Zannon Universidade de Brasília Membro Profa. Dra. Ana Emília Vita Carvalho Centro Universitário do Pará Membro Prof. Dr. Romariz da Silva Barros Universidade Federal do Pará Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento Suplente i Dedico esta obra aos quatro homens de minha vida, Otacílio (marido), Artur e Andrey (filhos) e ao meu, nunca esquecido, primeiro esposo e pai dos meus preciosos filhos, Amadeu, in memorian. Aos meus pais (Manoel e Jacira) e a meus seis irmãos (ãs) (José, Simone, Elizangela, Ed Carlos, Missilene e Edilan). E aos participantes da pesquisa que representam todos os portadores do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- TDAH e seus familiares. ii AGRADECIMENTOS A Deus por ter me permitido sentí-lo perto, dando-me forças para progedir nas etapas e superar os obstásculos que apareceram ao longo do percurso. Aos coordenadores e professores do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará, especialmente, a Profa. Dra. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira, Profa. Dra. Marilice Garotti, Prof. Dr. Romariz Barros e a Profa. Dra. Socorro Aguiar, por terem contribuído no apromimoramento dos meus conhecimentos dentro da abordagem da Análise do Comportamento, tanto no que se refere à pesquisa básica como na aplicada. À Diretora Acadêmica do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza, Dra. Simone Neno e às profissionais do Projeto Caminhar, Dra. Ana Emília Carvalho, Dra. Helena Feio e funcionários da recepção da Ala B pelo acesso e colaboração desde o início até o término da pesquisa. Aos membros da banca examinadora dessa dissertação, Profa. Dra. Ana Emília Carvalho, a Profa. Dra. Célia Zannon e o Prof. Dr. Romariz Barros, pelo aceite de examinarem tal trabalho. À Profa. Dra. Eleonora Arnaud Ferreira pela orientação competente e compromissada, pela serenidade, firmeza, segurança e objetividade com que conduziu as minhas dúvidas e inseguranças, provocadas pelas pressões, obstáculos e exigências de cada etapa do mestrado; habilidades essas advindas de uma terapeuta experiente, de um ser humano e profissional ímpar que foram imprescindíveis para que eu me sentisse fortalecida e continuasse a cumprir todas as etapas necessárias. As minhas preciosas auxiliares de pesquisa, Débora de Oliveira e Fernanda Bengio pela disponibilidade, empenho, dedicação, compromisso e responsabilidade com que conduziram as tarefas as quais eram incubidas de cumprirem. A busca incessante de vocês em aprender novas habilidades foi um grande incentivo para mim. À Diretora da Diretoria de Assistência Social (DAS), na época, Srª Ivone Oliveira, da Secretaria do Estado de Assistência e Desenvolvimento Social-SEDES, órgão o qual faço parte como servidora pública efetiva, pela flexibilidade e acordo em liberar-me das minhas atividades laborais para fins de execução das etapas finais da pesquisa (análise dos resultados e escrita da dissertação). À amiga e colega de trabalho, a pedagoga Almira Mendes, na época, Gerente do Plantão Social da Delegacia de Crimes Contra a Integridade da Mulher-DCCIM, pela autorização de troca de plantões entre as colegas de trabalho e intercessão junto à Direção do órgão para minha transferência para a sede da Secretaria, que foram fatos imprescindíveis para garantia de participação e cumprimento dos critérios avaliativos das disciplinas que fazem parte da grade do mestrado. A todas as colegas de trabalho da DCCIM e hoje, as da Coordenadoria de Proteção Social Especial da Média Complexidade –CPSE-MC, pelo apoio, torcida e colaboração desde à época em que fui admitida no mestrado na condição de aluna especial até hoje. A minha amiga Lúcia Helena Costa e seu namorado Sérgio Silva pela disponibilidade, empenho e desprendimento ao socorrerem-me todas as vezes em que o meu computador tinha algum problema técnico. iii Às amigas de profissão, Adriene Robert, Ana Cristina Maués, Celina Azevedo, Fátima Teixeira, Keila Rebello, Mariene Casseb, Marta Santos, Mislene Lima, Nilda Barata, Patrícia Neder, Paula Frassinetti, Rachel Benchaya, Silvia Canaan-Oliveira, Silvia Maués e Wardie Salame, e todas as demais que sei que torceram e torcem pelo meu êxito. Aos meus amigos(as), em especial Ana Karla Peres e sua mãe Clotilde Peres, e todos os meus familiares pelo incentivo e por entenderem minhas ausências em muitos dos eventos sociais e minha indisponiblilidade de visitá-los com a freqüência com que eu gostaria de fazer. Às minhas sogras e sogro, primeiramente, a Srª Ivonete Neves e Sr. Amadeu Neves, que seguraram as pontas com o meu filho mais velho, dando a ele, em um momento em que eu não podia, uma atenção extensiva e contínua; e a D. Tereza Fontes in memorian pela compreeensão, força, incentivo e torcida. Aos meus pais, que, embora não tenham tido oportunidade quando jovens de estudarem, foram sempre compreensivos, incentivadores e demonstram ter orgulho de mim, dos meus esforços e êxitos, e, dessa vez, não se comportaram de modo diferente. Ao meu atual marido, grande companheiro e responsável pela implementação da coleta de dados uma vez que era ele quem me levava “para cima e para baixo” com todos os equipamentos aos locais de realização da pesquisa. Foi ele quem também sentiu mais minha ausência, nas longas e contínuas madrugadas em que trabalhei e não dormi ao seu lado; não o companhei em eventos e, por vezes, se privava de ir para me dar apoio logístico em casa. Foi ele quem suportou diretamente os efeitos dos fatores externos extremamente estressantes sobre o meu comportamento. Obrigada, meu amado Otacílio pelo colo, incentivo, compreensão, apoio logístico, emocional e até financeiro e, principalmente, por existir em minha vida. Aos meus preciosos e tão amados filhos, Artur e Andrey, que pelo simples fato de existirem já são para mim motivo suficiente de agradecimentos,agora quanto mais quando compreenderam e aceitaram as renúncias que, algumas vezes, tive que fazer; quando foram tão prestativos e cooperativos comigo e atenderam inúmeros dos meus pedidos; meus amores, isso não tem preço saber por atos que és amada por quem amas. A todos os meus clientes de consultório que foram compreensíveis e flexíveis em todos os momentos em que necessitei conciliar minha vida acadêmica com a de psicoterapeuta. Aos participantes da pesquisa, crianças, seus pais e professoras pela aceitação e disponibilidade em participar das etapas da pesquisa, sem as quais eu não conseguiria obter os dados que subsidiam os resultados e discussão dessa dissertação. Aprendi muito com e sobre vocês. A todos que contribuíram para que direta e/ou indiretamente esse ciclo de minha vida se concluísse com êxito. Agradeço sinceramente a todos e todas. iv SUMÁRIO Dedicatória Agradecimentos Sumário Lista de Tabelas Resumo Abstract Introdução 1- Definição de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 2- Etiologia 3 - Critérios de Diagnóstico 4 – Sintomatologia 5 - Tipos de TDAH 6 - TDAH e Prevalência 7 - TDAH e Comorbidades 8 - Tratamentos Indicados para TDAH 8.1- Intervenções Psicossociais 8.2 -Tratamento Farmacológico 9 - Pesquisa Básica/Aplicada e Treinamento Parental em TDAH 10-TDAH e Contribuições da Análise do Comportamento 10.1- Intervenção Comportamental com Pais 10.2 -Alguns Conceitos e Procedimentos da Análise do Comportamento 11 -TDAH e Estilo Parental Objetivos Método 1- Participantes 2- Composição da Amostra 3- Ambiente 4- Instrumentos, Materiais e Equipamentos 5- Procedimento 6- Análise dos Dados 7- Resultados 8- Discussão 9- Referências Bibliográficas 10- Anexos i ii iv v vii viii 1 1 1 2 3 4 5 5 6 7 9 11 16 20 23 32 35 35 35 36 36 37 42 56 83 140 162 170 v LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela 2: Tabela 3: Tabela 4: Tabela 5: Tabela 6: Tabela 7: Jogos e Materiais Selecionados de Acordo com a Classificação do Sistema ESAR Características de Cada Membro das Díades por Condição Resultados Obtidos com a Primeira Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 1 Resultados Obtidos com a Primeira Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 2 Resultados Obtidos com a Primeira Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 3 Resultados Obtidos com a Primeira Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 4 Resultados Obtidos com a Primeira Aplicação do IEP com os Responsáveis da Condição 1 e da Condição 2 42 83 86 88 90 92 94 Tabela 8: Resultados obtidos por meio da Primeira Aplicação da Escala do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade- Versão para Professores 96 Tabela 9: Freqüência de Comportamentos Observados quanto ao Cumprimento do Agendamento das Sessões de Intervenção 97 Tabela 10: Qualidade da Descrição das Instruções de Atendimento Feita pelas Mães e pelas Crianças da Condição 1 e da Condição 2 nas Cinco Sessões de Intervenção 99 Tabela 11: Ocorrência das Categorias de Análise do Comportamento da Mãe Observadas Durante as Sessões de Intervenção na Condição 1 e na Condição 2 e Suas Respectivas Práticas Parentais Positivas 101 Tabela 12: Ocorrência das Categorias de Análise do Comportamento da Mãe Observadas Durante as Sessões de Intervenção na Condição 1 e na Condição 2 e Suas Respectivas Práticas Parentais Negativas 103 Tabela 13: Total de Unidades de Análise do Comportamento de Autocontrole e de Hiperatividade/Impulsividade Observadas por Criança e por Condição de Intervenção 105 Tabela 14: Ocorrência das Categorias de Autocontrole Observadas na Criança Durante as Sessões de Intervenção na Condição 1 e na Condição 2 106 Tabela 15: Ocorrência das Categorias de Hiperatividade/Impulsividade Observadas na Criança Durante as Sessões de Intervenção na Condição 1 e na Condição 2 109 Tabela 16: Número de Escolhas por Tipos de Jogos ou Tarefas realizadas pela Criança e pela Mãe ao Longo das Cinco Sessões de Intervenção 111 Tabela 17: Número Total de Jogos e Tarefas Realizados Durante as Sessões de Intervenção por Díade e por Condição 113 2 Tabela 18: Descrição Feita pela Mãe e pela Criança quanto ao grau de satisfação em relação às sessões de intervenção vi 114 Tabela 19 Resultados Obtidos com a Segunda Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 1 116 vi Tabela 20: Resultados Obtidos com a Segunda Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 2 119 Tabela 21: Resultados Obtidos com a Segunda Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 3 120 Tabela 22: Resultados Obtidos com a Segunda Aplicação do CBCL e do TRF: Criança 4 122 Tabela 23: Comparação entre os Resultados Obtidos na Primeira e na Segunda Aplicação da Lista de Verificação Comportamental com as Crianças da Condição 1: Consultório (CBCL/ 6 a 18 anos e TRF/ 6 a 18 anos) 124 Tabela 24: Comparação entre os Resultados Obtidos na Primeira e na Segunda Aplicação da Lista de Verificação Comportamental com as Crianças da Condição 2: Domicílio (CBCL/ 6 a 18 anos e TRF/ 6 a 18 anos) 127 Tabela 25: Comparação entre a Primeira e a Segunda Avaliação do Comportamento da Criança Feitas pela Mãe e pela Professora 131 Tabela 26: Resultados obtidos com a Segunda Aplicação do Inventário de Estilos Parentais (IEP) com os Responsáveis Participantes da Condição 1 e da Condição 2 133 Tabela 27: Comparação entre a Primeira e Segunda Aplicação do IEP com os Responsáveis Participantes da Condição 1 e da Condição 2 134 Tabela 28: Resultados obtidos por meio da Segunda Aplicação da Escala do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade- Versão para Professores 137 Tabela 29: Comparação entre a Primeira e Segunda Aplicação da Escala do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade-versão para professores com os Participantes da Condição 1 e da Condição 2 138 vii Neves, M. E. C. (2008). Análise dos efeitos de um treino parental sobre comportamentos de crianças com TDAH: comparação entre setting terapêutico e ambiente domiciliar. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Belém: Universidade Federal do Pará. RESUMO Esse estudo foi realizado com o objetivo de contribuir com a avaliação dos efeitos de uma intervenção comportamental direcionada a pais/responsáveis de crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade-TDAH, investigando os efeitos desse modelo de treino parental em duas condições, setting terapêutico (Condição 1) e ambiente domiciliar (Condição 2), sobre a ocorrência de comportamentos de hiperatividade versus autocontrole. Os participantes foram pais de quatro crianças, na faixa etária entre cinco e nove anos. Utilizaram-se como instrumentos: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE, Inventário de Estilos Parentais-IEP, Lista de Verificação Comportamental para Crianças e Adolescentes-CBCL/TRF, Escala do TDAH versão para professor, Roteiro de Entrevista Inicial, Roteiro de Entrevista de Avaliação, Roteiro de Entrevista Final, Critério de Classificação Econômica Brasil-CCEB. O procedimento de pesquisa consistiu em: (a) contato com neuropediatra; (b)triagem e convite aos participantes; (c) distribuição de dois participantes para cada condição de intervenção; (d) avaliação inicial, incluindo entrevista com os responsáveis, aplicações do TCLE, IEP e CBCL; (e) visita à escola e aplicações do TCLE, da Escala do TDAH e do TRF, versões para professor; (f) realização de cinco sessões de intervenção, gravadas em áudio e vídeo, duas de linha de base, uma de habituação às regras e duas de manutenção das regras e instalação de comportamento de auto-observação, que envolveram situações de interação em jogos de regras, com participação da terapeuta-pesquisadora, da mãe e da criança; (g) realização de entrevista de avaliação da primeira fase; (h) reversão de contextos para os participantes e (i) avaliação final, realizada por meio de entrevista com os responsáveis e re-aplicação dos instrumentais padronizados com pais e professores, utilizados anteriormente, mais o CCEB. Os dados obtidos por meio dos instrumentos padronizados receberam o tratamento indicado nos manuais. Dois sistemas de categorias de análise do comportamento foram utilizados, um para descrever os comportamentos das mães e outro para comportamentos observados nas crianças. Os principais resultados sugerem que as crianças em ambiente de consultório tiveram maior ocorrência de emissão de comportamentos de autocontrole do que as em ambiente de domicílio, as quais, por sua vez, tiveram prevalência de comportamentos de hiperatividade/impulsividade. Do mesmo modo, as mães em ambiente de consultório obtiveram maiores escores em práticas educativas positivas e menos em negativas, comparadas às mães do grupo de domicílio. Houve aumento de práticas educativas positivas para a maioria das mães. Discute-se o contexto de consultório enquanto um ambiente eficaz de intervenção, embora se reconheça que as dificuldades de controle de comportamentos inadequados são maiores para os pais em ambiente domiciliar, por isso, intervenções em ambiente natural devem ser consideradas no processo terapêutico. Por outro lado, o treino parental demonstrou ser efetivo na aquisição, fortalecimento e manutenção de práticas educativas positivas em todas as mães, o que pode influenciar beneficamente os comportamentos das crianças com TDAH. Palavras-chave: TDAH, treino parental, setting terapêutico vs domicílio, autocontrole. viii ABSTRACT Neves, M. E. C. (2008). Analysis of parental training effects on child behavior with ADHD: a comparison between therapeutic setting and home environment. Master’s Dissertation presented before the Graduate Program in Theory and Behavior Research. Belém: Federal University of Pará. This study aims to contribute with the evaluation of the effects of behavioral intervention addressed to parents/guardians of children with Attention Deficit Hyperactivity Disorder – ADHD, investigating the effects of this model on parental training under two conditions, therapeutic setting (Condition 1) and home environment (Condition 2), on the occurrence of hyperactivity behavior versus self-control. The participants were the parents of four children, between five and nine years of age. The following instruments were used: Free Informed Term of Consent - FITC, Parental Style Inventory – PSI, Child Behavior Checklist – Teachers Report Form CBCL/ TRF, teacher’s version of the ADHD rating scale, Initial Interview Guideline, Interview and Evaluation Guideline, Final Evaluation Guideline, Brazilian Economic Rating Criteria-BERC. The research process consisted in: (a) contacting a pediatric neurologist; (b) participants’ triage and invitation; (c) distribution of two participants for each condition of intervention; (d) initial evaluation, including interview with the guardians, application of FTIC, PSI and CBCL; (e) visit to school and application of FTIC, ADHD rating scale and teacher’s versions of TRF; (f) five intervention sessions, taped in audio and video, two baselines, one habituation to rules and two maintenance in behavior and installation of self-observation behavior, which involved situations of interaction in games with rules, with participation of therapist- researcher, the child’s mother, (g) an evaluation interview on the first phase; (h) reversion of context for the participants and (i) final evaluation, done through interviews with the guardians and a repetition of the previously used standard instruments with the parents and teachers, plus the BERC. The data obtained through such standardized instruments received treatment indicated in the manuals. Two systems of categories for behavior analysis were used, one to describe the mothers’ behavior and the other, the children’s behavior. The main results suggest that children in the consulting room environment had a greater occurrence of behavior emission of self-control than in the home environment, which, on the other hand, had prevalence of hyperactivity-impulsivity behavior. Likewise, mothers in the consulting room environment scored better than those in the home environment group. There was an increase in educative practices for most mothers. One discusses the consulting room context as an effective intervention environment, although it is recognized that the difficulties of control of inadequate behavior are greater for parents in the home environment, as a result, intervention in a natural environment must be considered during the therapeutic process. On the other hand, parental training has demonstrated to be effective in the acquisition, enhancement and maintenance of positive educative practices for all mothers, which may influence beneficially the behavior of children with ADHD. Keywords: ADHD, parental training, therapeutic setting vs home environment, self- control. A presente pesquisa pretendeu analisar os efeitos de uma intervenção comportamental direcionada a pais/responsáveis de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) sobre (i) a ocorrência de comportamentos de hiperatividade, (ii) a instalação de comportamentos de autocontrole em tais crianças e (iii) os estilos parentais. A intervenção aconteceu em situações de interação em jogos de regras, com a participação de um dos pais/responsáveis, a criança e uma terapeuta-pesquisadora (TP) experiente, em dois contextos: setting terapêutico (consultório) e ambiente domiciliar (domicílio). A pesquisa, além do enfoque nos efeitos da intervenção em dois contextos sobre o comportamento de criança e responsável, investigou a generalização dos possíveis benefícios para outro ambiente, no caso, a escola. 1. Definição de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é definido como uma doença crônica que se apresenta como um quadro sindrômico, constituído por um conjunto de sinais e sintomas. A avaliação do transtorno requer a manifestação da tríade sintomatológica clássica da síndrome, caracterizada pela desatenção, hiperatividade (atividade motora excessiva) e impulsividade, inadequadas à faixa etária do indivíduo e presentes em pelo menos dois ambientes distintos, ou seja, em diferentes contextos, como na família e na escola (Cypel, 2000; Rohde, Barbosa, Tramontina & Polanczyk, 2000; Silvia, 2003; Szobot, Eizirik, Cunha, Langleben & Rohde, 2001; Vasconcelos, 2002). 2. Etiologia Inúmeros estudos têm sido realizados com o objetivo de precisar a etiologia do TDAH, porém, suas causas ainda não são conhecidas (Rohde & Halpern, 2004). Cypel (2000) alerta para a complexidade e multiplicidade de fatores que podem interferir no TDAH, ressaltando ainda que a probabilidade da manifestação da síndromeseja determinada por um somatório de fatores desencadeantes, que diverge de indivíduo para indivíduo em decorrência da heterogeneidade dos casos. Vasconcelos (2002) também enfatiza a variedade etiológica, apresentando os fatores neurológicos e genéticos como explicação dos sintomas e ocorrência do transtorno. Os fatores neurológicos são representados por danos no desenvolvimento, estrutura e função do córtex pré-frontal, suas redes de conexões com outras regiões do cérebro, 2 especialmente o corpo estriado, o que ocasionaria déficits na manutenção da atenção, inibição, regulação da emoção, motivação e capacidade de organização e planejamento futuro. Já os fatores genéticos encontram fortes indícios nos estudos que investigaram familiares adotivos e gêmeos na etiologia do TDAH. A autora ainda enfatiza que, os fatores puramente ambientais e sociais não figuram na literatura como fatores causais, mas sim como fatores que contribuem para a persistência/manutenção dos sintomas. A exposição a certas toxinas com elevados níveis de contaminação por chumbo ou outros metais, bem como a exposição pré-natal ao álcool e ao fumo também podem estar associadas à hiperatividade e desatenção. 3. Critérios de Diagnóstico Quanto ao diagnóstico do TDAH, ele tem sido feito fundamentalmente por meio de critérios operacionais clínicos, provenientes do sistema classificatório utilizado em psiquiatria, o CID-10 1 e do DSM-IV 2 (Rohde & Halpern, 2004; Vasconcelos, 2002). Segundo Rohde e cols. (2000) e Rohde e Halpern (2004), apesar da utilização de nomenclaturas diferentes (transtorno de déficit de atenção/hiperatividade no DSM-IV e transtornos hipercinéticos no CID-10), ambos os sistemas classificatórios apresentam mais similaridades do que diferenças. Em pesquisa realizada no Brasil com adolescentes de uma escola em Brasília, encontraram-se indicativos da adequação dos critérios propostos no DSM-IV, reforçando a aplicabilidade dos mesmos em nossa cultura (Rohde, Biederman, Busnello, Zimmermann, Schmitz, Martins, & Tramontina,1999). O DSM-IV propõe a necessidade de pelo menos seis dos nove sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade para que ocorra o diagnóstico de TDAH. No entanto, tem-se sugerido que esse limiar seja reduzido para cinco ou menos sintomas em adolescentes e adultos, face à possibilidade de continuidade dos prejuízos no seu funcionamento global, mesmo com menos de seis sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade. Portanto, o nível de prejuízo deve ser avaliado sempre a partir das potencialidades do adolescente e do grau de esforços necessários para a manutenção do ajustamento (Rohde & cols., 2000). 1 Código Internacional de Doenças, 10ª. Edição. Organização Mundial de Saúde (OMS, 1993). 2 DSM-IV: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4ª. Edição. Associação de Psiquiatria Norte-Americana (APA, 1994). 3 Ainda fazem parte do diagnóstico, a ocorrência dos sintomas por mais de seis meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento do indivíduo, evidências de prejuízos clinicamente significativos no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional, em pelo menos dois ou mais contextos da vida do indivíduo, e presença dos sintomas antes dos sete anos de idade (Schwartzman, 2001; Vasconcelos, 2002). Faz parte ainda do critério diagnóstico, a não ocorrência dos sintomas exclusivamente durante o curso de um transtorno invasivo do desenvolvimento, como esquizofrenia ou outro transtorno psicótico, bem como quando os sintomas não são melhores explicados por outro transtorno mental (Schwartzman, 2001). Segundo Vasconcelos (2002), alguns critérios do DSM-IV devem ser ajustados a cada avaliação clínica, considerando a faixa etária sugerida para ocorrência do transtorno, duração dos sintomas, bem como a existência de diferentes tipos de TDAH. Além disso, a utilização dos critérios diagnósticos do DSM-IV deve ser acompanhada de entrevistas de coleta de dados com os pais, com a criança e com os professores (Rohde & cols., 2000; Schwartzman, 2001). Recomenda-se que, tanto na entrevista com os pais, como com a criança, é essencial investigar os sintomas relacionados com as comorbidades psiquiátricas mais prevalentes (Rohde & cols., 2000). 4. Sintomatologia Quanto à tríade sintomatológica, pode-se afirmar que, de acordo com os critérios diagnósticos do DSM-IV (Rohde & cols., 2000; Schwartzman, 2001; Silvia, 2003): (a) Os sintomas de desatenção podem ser identificados quando, freqüentemente, a criança deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, dentre outras; tem dificuldades freqüentes em manter a atenção em tarefas ou atividade lúdicas; com freqüência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra; freqüentemente não segue instruções e nem conclui seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais; apresenta freqüente dificuldade para organizar tarefas e atividades; freqüentemente evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exigem esforço mental constante; perde com freqüência coisas necessárias para tarefas ou atividades; distrai-se com facilidade diante de estímulos alheios à tarefa; freqüentemente apresenta esquecimento em atividades diárias. (b) Os sintomas de hiperatividade podem ser identificados quando, freqüentemente, agita as mãos ou os pés ou se agita na cadeira; com freqüência abandona sua cadeira em 4 sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; freqüentemente corre ou escala com exageros em situações nas quais isto é inapropriado; freqüentemente tem dificuldades para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; freqüentemente está “a mil”, como se estivesse “a todo vapor”; com freqüência fala em demasia. (c) Os sintomas de impulsividade seriam diagnosticados quando a criança freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido concluídas; tem freqüente dificuldade de aguardar sua vez; freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos dos outros. 5. Tipos de TDAH A maioria dos trabalhos científicos, até recentemente, adotava critérios que se baseavam na edição de 1991 do DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais), que realizou uma reunião de propostas anteriores, distribuindo as manifestações clínicas do TDAH em dois grupos: desatenção e impulsividade/hiperatividade (Cypel, 2000). Entretanto, uma edição do DSM-IV de 1994, divide o TDAH em três subtipos, a saber: (a) Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tipo predominantemente Desatento: que compreende aqueles indivíduos que apresentam seis ou mais sintomas de desatenção e menos de seis sintomas de hiperatividade/impulsividade que persistem há pelo menos seis meses; (b) Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tipo predominante Hiperativo-Impulsivo: compreende aqueles indivíduos que apresentam seis ou mais sintomas de hiperatividade/impulsividade e menos de seis sintomas de desatenção que persistem há pelo menos seis meses; (c) Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tipo combinado: consiste naquele indivíduo que apresenta tanto seis ou mais sintomas de desatenção, como também seis ou mais sintomas de hiperatividade/impulsividade, persistentes há pelo menos seis meses. Ainda é aceito, atualmente, o diagnóstico de Déficit de Atenção tipo Residual, dado a adultos que continuam a apresentar alguns sinais e sintomas (Schwartzman, 2001). 5 6.TDAH e Prevalência Os dados na literatura revelam que TDAH tem sido um dos problemas psiquiátricos mais diagnosticados na infância e na adolescência (Schwartzman, 2001; Szobot & cols., 2001; Vasconcelos, 2002). Há discordância quanto aos dados de prevalência, mas estudos nacionais e internacionais, baseados em sua maioria com crianças em idade escolar, têm demonstrado que a prevalência do TDAH encontra-se entre 3% a 6% (Rohde & cols., 2000; Szobot & cols.). Já Schwartzman afirma que as taxas de prevalência variam entre 0,5 a 20% da população em idade escolar, mas ressalta que, para a mesma população, a Associação Americana de Psiquiatria aponta uma taxa entre 2 a 4%. Por sua vez, Barkley (2002) destaca que há cerca de mais de dois milhões de crianças em idade escolar com o TDAH. Segundo Schwartzman, o sexo masculino é o mais afetado, na proporção de três meninos para cada menina. Por sua vez, Vasconcelos revela dados que indicam que há uma maior tendência em encontrar TDAH entre indivíduos de grupos sociais menos favorecidos economicamente. 7. TDAH e Comorbidades Em se tratando das comorbidades, as pesquisas têm demonstrado uma alta taxa (de 30% a 50%) de comorbidades entre transtornos disruptivos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno opositor desafiante) (Rohde & cols., 2000). No Brasil, pesquisas encontraram taxas de comorbidade de 47,8% com transtornos disruptivos em adolescentes com diagnóstico de TDAH. Doenças como depressão (15% a 20%), transtorno de ansiedade (em torno de 25%) e transtorno de aprendizagem (10% a 25%) também apresentam taxas significativas (Rohde & cols., 2000). Quanto aos transtornos de aprendizagem, vale destacar um dos mais citados na literatura como relacionado ao TDAH, que é a dislexia. Segundo Topczewski (1999), a dislexia se caracteriza por uma dificuldade específica para o aprendizado da escrita-leitura, que compromete, de maneira significativa, o desempenho escolar e é uma característica constitucional, determinada geneticamente, o que nem sempre acontece com hiperatividade; porém, muitas crianças disléxicas apresentam também déficit de atenção que acentua ou desencadeia a hiperatividade, acarretando um quadro comportamental que prejudica ainda mais a capacidade do aprendizado. Estudos também demonstram uma alta taxa de comorbidades (entre 9% e 40%) entre TDAH e abuso ou dependência de drogas, tanto na adolescência quanto na idade 6 adulta. Atualmente, tem se discutido se o TDAH em si mesmo é um fator de risco para o abuso ou dependência de drogas na adolescência, porém, também se sabe que é freqüente a comorbidade de TDAH e transtorno de conduta, e que, este último associa-se comumente ao abuso ou dependência a drogas. Assim, é bem provável que o abuso/dependência a drogas ocorra mais freqüentemente em um subgrupo de adolescentes com TDAH que apresentam conjuntamente transtorno de conduta. Então, o fator de risco não seria em si o TDAH, mas sim a comorbidade com transtorno de conduta. Mas esta questão ainda está em aberto, necessitando de mais pesquisas (Rohde & cols., 2000; Calheiros, Oliveira & Andretta, 2006; Pelham, Foster & Robb, 2007; Spencer, Biederman, & Mick, 2007; Szobot & Romano, 2007; Rodriguez, Tercyak & Audrain-McGovern, 2008). O TDAH está associado a uma série de complicações na infância, adolescência e na vida adulta (Szobot & cols., 2001). Nesse sentido, Rohde e cols. (2000) afirmam que estudos têm demonstrado que crianças com TDAH apresentam um maior risco para desenvolverem outras doenças psiquiátricas em qualquer uma das fases do ciclo de vida (infância, adolescência e adulta). Da mesma forma, Szobot e cols. (2001) alertam quanto às conseqüências para as pessoas acometidas pelo TDAH terem maior risco para desenvolverem transtorno anti-social e de dependência química. 8. Tratamentos indicados para TDAH É crescente o interesse pelo tratamento de crianças com TDAH, impulsionado, principalmente, pelo aumento de crianças diagnosticadas com comportamentos-problema na escola. O TDAH é um transtorno que determina prejuízo no funcionamento acadêmico e social de crianças e adolescentes e que, freqüentemente, está associado à comorbidades importantes, como transtorno de conduta, transtorno opositor desafiante, transtorno de ansiedade, transtorno de aprendizagem, depressão, abuso e dependência de drogas, dentre outras (Rodhe & cols., 2000; Rodhe & Halpern, 2004), o que exige da criança e de seus familiares a inserção e adesão em tratamentos para prevenção de mais prejuízos e a redução dos já existentes. Vale ressaltar ainda que, o TDAH não tem cura, o que significa que os tratamentos em si não alteram os déficits neuropsicológicos subjacentes ao comportamento de inibição, porém, podem resultar em redução de sintomas e minimização dos seus efeitos negativos, melhorando a qualidade de vida do indivíduo (Vasconcelos, 2002). 7 Os tratamentos indicados a indivíduos com diagnóstico de TDAH exigem uma abordagem ampla do indivíduo (Grevet, Abreu & Shansis, 2003), incluindo intervenções psicossociais e farmacológica (Domingos & Risso, 2000; Rohde & cols., 2000) . 8.1. Intervenções Psicossociais As intervenções psicossociais correspondem às psicoterapias (Grevet & cols., 2003). Cypel (2000) aponta a psicoterapia como um dos pontos fundamentais para se obter adequação comportamental em indivíduos com TDAH. Por sua vez, Grevet e cols. afirmam que os principais modelos de psicoterapias que são utilizadas com crianças e adolescentes, baseadas em estudo clínico controlado, são: a terapia cognitivo- comportamental individual e com familiares; a terapia de apoio para pacientes e familiares, seguindo modelo educacional; o treinamento comportamental para familiares; o biofeedback 3 ; a biblioterapia e o treino de habilidades sociais para pacientes e familiares. Tais modelos demonstram ser bastante eficientes na redução da hiperatividade e dos problemas de conduta. Porém, o mesmo não ocorre com os sintomas de desatenção, o que exigiria a intervenção medicamentosa. Rohde e cols. (2000) afirmam que a abordagem psicoterápica mais estudada e com evidência científica comprovada de sua eficácia para os sintomas que caracterizam o transtorno (desatenção, hiperatividade e impulsividade), bem como para o manejo dos sintomas comportamentais associados a ele (oposição, desafio e teimosia), é a terapia cognitivo-comportamental. A Associação Brasileira de Déficit de Atenção e Hiperatividade/Impulsividade- ABDA (s.d.) corrobora a indicação dessa abordagem para tratamento, com a defesa de que, até o momento, não há evidência científica de que outras formas de psicoterapia auxiliem nos sintomas. Entretanto, este posicionamento não é consenso, havendo outra linha de teóricos que, baseados em revisões e avaliações de tratamentos psicossociais, sugerem o treinamento comportamental parental e a intervenção comportamental em sala de aula como critérios bem estabelecidos de tratamento. Para eles, intervenções cognitivas 3 Segundo o Instituto de Neuropsicologia e Biofeedback- INBIO (2007) o biofeedback é uma técnica que utiliza determinados aparelhos para monitorar eventos fisiológicos (batimento cardíaco, respiração, eletromiografia, eletroencéfalo), o que possibilita acesso a esses dados e manipulação desses eventos, promovendo no indivíduo o aprendizado do controle voluntário sobre músculos e funções corporais reguladas pelo sistema nervoso central e Autônomo. Bio é vida, feedback é informação. Essa uma técnica utilizada há mais de 30 anos pela psicologia. 8 direcionadas a indivíduoscom TDAH não parecem ser um critério bem estabelecido, ou tratamento de provável eficácia (Pelham, Wheeler & Chronis, 1998). Assim, o treinamento comportamental para familiares delineia-se enquanto modalidade de tratamento para o controle do TDAH, devendo envolver atendimento à criança e um programa de treinamento para os pais, a fim de que estes aprendam a manejar, no cotidiano, os sintomas dos filhos, além de orientação aos professores (Domingos & Risso, 2000; Rohde & cols., 2000; Vasconcelos, 2002), uma vez que tem demonstrado ser bastante eficiente (Grevet & cols., 2003). Rohde e Halpern (2004) corroboram esta recomendação quando afirmam que, dentre os tratamentos comportamentais, o treino parental parece ser a modalidade mais eficaz. Entretanto, resultados recentes de um estudo de tratamento multimodal (Multimodal Treatment Study - MTA), bastante citado na literatura internacional (Greene & Ablon, 2001; Rohde & cols., 2000; Wells & cols., 2004), supervalorizam a eficácia do tratamento fármaco em comparação a outras modalidades de tratamento, incluindo as psicoterapias. Esse estudo, realizado em 1992 e patrocinado pelo National Institute of Mental Health, acompanhou, por um período de 14 meses, 579 crianças recrutadas nos Estados Unidos e Canadá, divididas em quatro subgrupos: (1) crianças com tratamento apenas medicamentoso, (2) psicoterapia comportamental com crianças e orientação para os pais e professores, (3) abordagem combinada e (4) abordagem comunitária. Os participantes da pesquisa submeteram-se a avaliações de linha de base em 03, 09 e 14 meses. Os resultados demonstraram claramente uma eficácia superior da medicação sobre os sintomas característicos do TDAH quando comparada à abordagem psicoterápica e ao tratamento comunitário. Já a abordagem combinada (medicação + psicoterapia comportamental com crianças, orientação aos pais e professores) não demonstrou resultados de eficácia maior nos sintomas centrais do transtorno, quando comparada à abordagem apenas medicamentosa (Greene & Ablon, 2001; Rohde & cols., 2000; Wells & cols., 2000). Estes dados levaram a interpretações cautelosas de que o tratamento medicamentoso adequado é fundamental no manejo do transtorno (Rohde & cols., 2000). Miranda, Jarque e Tarraga (2006), ao analisarem 16 estudos de tratamentos realizados em ambiente escolar na última década, sugerem que a abordagem de tratamento psicossocial mais efetiva para o TDAH seja uma intervenção multimodal que, freqüentemente, inclui tratamento farmacológico, treinamento parental, intervenção escolar e intervenção com a criança. 9 Intervenções no âmbito escolar, com foco no desempenho acadêmico e em orientações aos professores visando melhora do desempenho acadêmico da criança, também são adotadas como possibilidades no tratamento (Rohde & cols. 2000; Vasconcelos, 2002). Nesse sentido, Rodhe e Halpern (2004) sugerem que os professores sejam orientados para a necessidade de uma sala de aula bem estruturada, com poucos alunos. Rotinas diárias consistentes e ambientes escolares previsíveis que ajudem essas crianças a manter o controle emocional, além de estratégias de ensino ativo, que incorporem a atividade física como processos de aprendizagem, tornam-se essenciais. 8.2. Tratamento Farmacológico Segundo Rodhe e Halpern (2004), existem mais de 150 estudos controlados, bem conduzidos metodologicamente, demonstrando a eficácia da intervenção farmacológica. Quanto à indicação para o seu uso, Robert (2005) afirma que a ABDA aponta estudos que demonstram que, pela comprovação de sua eficácia, há necessidade de primeiro iniciar o tratamento com o uso de intervenção farmacológica e depois a psicoterapia e outros acompanhamentos. Por sua vez, Cypel (2000) indica o uso de medicamentos somente em crianças nas quais as alterações de comportamento são intensas e quando as orientações dadas aos pais, à escola e as medidas psicoterápicas não se mostraram eficazes. A indicação do medicamento desde o início do tratamento só deverá ocorrer nos casos em que as conseqüências negativas no ambiente e no relacionamento social da criança forem de tal proporção que haja necessidade de reversão do quadro rapidamente. Na intervenção farmacológica, o tratamento predominante tem sido a utilização de estimulantes como o metilfenidato (Ritalina), a pemolina (Cylert) e as anfetaminas (Dexedrine, Adderall), os quais podem normalizar o substrato neural nas regiões pré- frontais. Também são utilizados outros agentes farmacológicos, como a clonidina (atensina), medicação para tratamento de hipertensão arterial, mas que pode ser utilizada como estimulante, tendo efeito eficaz na redução dos comportamentos de hiperatividade e impulsividade (Robert, 2005; Rohde & cols., 2000; Vasconcelos, 2002). Alguns estudos têm demonstrado também a eficácia de antidepressivos no tratamento do TDAH, principalmente em casos em que não há respostas aos estimulantes e na presença de algumas comorbidades, tais como a depressão e transtorno de ansiedade (Rohde & cols., 2000). 10 Por sua vez, um estudo realizado por Du Paul, Barkley e Connor (1998) identificou que 70% a 80% das crianças participantes mostraram melhora em seus comportamentos disruptivos, com aumento na atenção e redução de atividade motora irrelevante para a tarefa, bem como melhora na interação social, com diminuição de comportamentos agressivos, apenas com o tratamento medicamentoso. Entretanto, Vasconcelos (2002) ressalta que o tratamento medicamentoso não é o único indicado para TDAH, pois existem ainda poucos estudos que avaliam, em longo prazo, a eficácia de medicamentos estimulantes, havendo a sugestão de que os efeitos positivos não são mantidos após a suspensão do tratamento. Como podemos constatar, a literatura que aborda o tratamento do TDAH traz controvérsias quanto à modalidade de tratamento mais eficaz (ABDA, (s.d.); Grevet & cols., 2003; Miranda & cols., 2006; Pelham & cols., 1998; Rodhe & cols. 2000; Rodhe & Halpern, 2004), do mesmo modo quanto ao uso ou não da medicação como primeira escolha de intervenção (Robert, 2005; Cypel, 2000). Tais controvérsias só demonstram o quanto a área ainda necessita de mais pesquisas. Considerando que o TDAH é uma síndrome crônica, que necessita de intervenções para que haja redução dos sintomas e a minimização dos seus efeitos negativos, pode-se afirmar que a medicação seja ela introduzida antes ou depois de qualquer intervenção psicossocial, tem a redução dos sintomas como vantagem em curto prazo, porém, como desvantagem, tem seus efeitos colaterais, tais como: a redução do apetite, aumento de freqüência cardíaca e da pressão sangüínea, aumento da atividade elétrica cerebral, insônia, tiques nervosos, erupções cutâneas alérgicas e hepatite química, dentre outros; ainda é uma desvantagem a não manutenção dos benefícios após a suspensão dos medicamentos. O pesquisador Webster-Stratton individualmente e com a colaboração de outros pesquisadores (Webster-Stratton & Hammond, 1997; Webster-Stratton, Kolpacoff & Hollinsworth, 1989), além de revisões sobre a temática, desenvolveu nos últimos anos uma série de estudos, envolvendo números consideráveis de participantes, sobre os programas de treinamento para pais de crianças com problemas de comportamento e com déficits mentais. Esses estudos demonstram que, de uma forma geral, esses programas de treino parental têm contribuído para reduzir problemas de conduta em crianças, aumentar habilidades dos pais no manejo com essas crianças, proporcionando disciplina não violenta, redução de depressão parental com aumento de autoconfiança dos mesmos, aumento do envolvimento entre paise professores, aumento de comunicação familiar mais 11 adequada e resolução de problemas. Adicionalmente, esses estudos têm indicado que, quando verificados, os benefícios dos programas do treinamento parental têm persistido ao longo do tempo, no mínimo um ano após o tratamento. Esses dados, então, demonstram que o treino parental se torna um tratamento recomendável para o TDAH face à manutenção dos benefícios em longo prazo e por se tratarem de benefícios globais, que vão além dos sintomas. Tais constatações justificam uma revisão da literatura dentro deste tema. 9. Pesquisa Básica /Aplicada e Treinamento Parental em TDAH Em pesquisa básica e aplicada, o TDAH tem sido considerado enquanto comportamentos de impulsividade e déficits de autocontrole. Como tal, tem sido examinado utilizando-se paradigmas de esquemas e atividades concorrentes, que envolvem reforços de grande e de pequena magnitude para que o participante escolha pela obtenção de um reforço maior, que é liberado com um tempo de adiamento, ou outro de magnitude menor, que é liberado imediatamente (Binder, Dixon & Ghezzi, 2000; Neef & cols., 2005). Na literatura que aborda o tratamento relacionado à diminuição de comportamentos de hiperatividade apresentados por crianças com TDAH, encontram-se intervenções utilizando procedimentos para aquisição de comportamentos de autocontrole em ambiente artificialmente controlado e clínico (Binder & cols., 2000). Encontram-se ainda descrições de diversos experimentos direcionados à intervenção com pais de crianças com TDAH. A seguir discorre-se sobre tais experimentos. Em estudo realizado por Brzuszkiewicz, Mcintyre e Quintero (2006), com o objetivo de obter redução de comportamentos inadequados apresentados por mães de crianças com TDAH, utilizou-se um grupo de treinamento parental estendido a todas as participantes e uma avaliação individualizada através de vídeo feedback, incluída apenas para metade do grupo, em um delineamento de linha de base múltipla durante condição de jogo com seus filhos pré-escolares. Quatro díades mãe-criança foram selecionadas como participantes do experimento, sendo que todas as mães receberam treinamento parental na forma de instruções sobre características da primeira infância, administrado por dois pesquisadores. Metade do grupo, isto é, duas mães, participaram de 1 a 3 sessões complementares de treinamento no qual foi utilizado vídeo feedback , administrado por um pesquisador. Os dados foram coletados e codificados, semanalmente, durante observações de videotape da situação de jogos entre mães e crianças em ambiente domiciliar. Os 12 resultados sugerem que o grupo de treino parental + avaliação individualizada através de vídeo feedback combinados como tratamento foram efetivos na diminuição de comportamentos inadequados de todas as quatro mães que participaram do estudo. A discussão dos pesquisadores focaliza a utilização da avaliação individualizada através de vídeo feedback como um componente suplementar no treinamento parental, com o objetivo de aumentar os resultados do tratamento e a generalização e manutenção dos efeitos. Arvans e Gaynor (2006) propuseram um delineamento de pesquisa baseado em um modelo de complacência ao menor erro, desenvolvido em 1996 por Ducharme e colaboradores. Este modelo trata de uma técnica de treinamento parental que exclui procedimentos disciplinares (por exemplo: custo de resposta ou time- out). O treinamento exigiu comportamento complacente às solicitações mais fáceis, aumentando de freqüência tal comportamento à medida que as solicitações tornavam-se mais difíceis. No critério de inclusão dos participantes, consideraram-se pais que relataram não complacência com suas crianças que se encontravam entre a faixa etária de 03 a 10 anos. Os pais foram submetidos a sessões de treinamento parental, de apoio e de follow-up. As sessões restantes foram conduzidas pelos pais em ambiente domiciliar. Os resultados apresentados pelos pesquisadores indicaram a viablidade de implementar o procedimento de complacência ao menor erro de modo mais simplificado, além de demonstrar a eficácia desse tipo de treino. Arnould, O’Leary e Edwards (1997) examinaram os efeitos de quatro variáveis sobre a relação entre envolvimento do pai (FI) e auto-relato de práticas parentais em 71 casais com crianças com TDAH. As variáveis investigadas foram: (a) o amor do pai em relação à esposa, (b) discriminação do modo de educar a criança, (c) identificação do papel parental tradicional (TRI), e (d) sintomas paternos de TDAH. Foram utilizados instrumentos psicométricos para medir envolvimento dos pais, sentimentos dos pais em relação às suas esposas, o relato de práticas educativas com a criança, identificação do papel, comportamentos e sintomas de TDAH nos pais. Os resultados demonstraram que envolvimento dos pais foi associado ao uso de mais disciplina efetiva dos pais quando esses não tinham sintomas de TDAH e relataram sentir mais amor por suas esposas; porém, foram associados ao uso de disciplina menos efetiva pelos pais, quando estes relatavam que tinham sintomas de TDAH, relatavam sentir menos amor por suas esposas e se identificavam predominantemente com papéis tradicionais. Por sua vez, os dados coletados com as mães demonstraram que o envolvimento dos pais foi associado com 13 menos prática de disciplina efetiva quando os casais discordavam quanto às discriminações do modo de educar as crianças. Dias e Gauy (2004) realizaram um estudo sob o enfoque cognitivo- comportamental, delineado com o objetivo de descrever o manejo das mães na interação com os filhos e na aquisição de habilidades para compreender e lidar com a criança em suas dificuldades. O estudo teve como participantes 10 mães, na faixa etária entre 25 e 45 anos, com filhos com diagnóstico de TDAH entre as idades de 4 a 13 anos. O delineamento consistiu em 14 sessões, que incluíam informações sobre a síndrome, orientações (envolvendo treino de solução de problemas, prevenções de recaídas e avaliações de intercorrências), treino de habilidades, discussão de práticas educativas parentais, ensino de relaxamento, orientação e duas sessões de follow-up. Os resultados demonstraram mudanças de manejo correlacionadas com uma maior compreensão do problema, levando a mudança no comportamento do filho identificada por maior obediência. Um estudo realizado por Eisenstadt, Eyberg, McNeil, Newcomb e Funderburk (1993) avaliou a efetividade da terapia focalizando a interação pais-crianças (PCIT) em 24 díades (mães e crianças). O delineamento consistiu em 14 sessões de PCIT, com metade dos participantes sendo submetidos primeiramente ao treinamento de interação dirigido à criança (CDI- 1º grupo) e a outra metade submetida ao treinamento de interação primeiro com as mães (PDI- 1º grupo). Os resultados demonstraram que, na metade do tratamento, o grupo PDI era mais efetivo do que o CDI na redução de comportamentos disruptivos e de não seguimento de regras. O PDI-1º grupo obteve melhora no relato dos pais em relação aos problemas de conduta da criança, com as mães relatando estar mais satisfeitas com a terapia. Ambos os grupos foram combinados para examinar o resultado global do tratamento, bem como a comparação dos efeitos mantidos pós-tratamento. As famílias mudaram de um limite fora do normal para um limite normal de complacência, administrando problemas, o nível de atividade, a tensão materna e ainda demonstraram melhora na auto-estima da criança. Foram realizadas avaliações durante seis meses após realização do estudo, período no qual se identificou a manutenção dos efeitos benéficos produzidos napesquisa. Pesquisa realizada por Monastra, Monastra e George (2004) examinou os efeitos de fármacos (Ritalina), biofeedback com eletroencefalograma (EEG) e estilo parental sobre os sintomas primários do TDAH em 100 crianças e adolescentes na faixa etária entre 6 a 19 anos. O delineamento consistiu em um programa de intervenção multimodal, que incluiu 14 tratamento medicamentoso (Ritalina), aconselhamento de pais e apoio acadêmico na escola, tendo tido duração de um ano. Cinqüenta e um dos participantes receberam também terapia com biofeedback. Foram utilizados na pesquisa os seguintes instrumentos de dicometria para medir atenção, a evolução do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade e uam medida encefalográfica quantitativa (QEEG). Significativa melhora foi identificada nos scores dos testes de atenção e hiperatividade enquanto os participantes eram testados usando a Ritalina. Entretanto, somente os participantes que se submeteram ao EEG Biofeedback mantiveram melhora nos scores dos testes citados quando testado sem Ritalina. As medidas comportamentais dos estilos parentais revelaram ainda efeitos moderados significativos nas manifestações de sintomas comportamentais em casa, mas não na escola. Hartman, Stage e Webster-Stratton (2003) utilizaram o método do modelo linear hierárquico para examinar os efeitos de fatores de risco de atenção da criança (como problemas de desatenção, impulsividade e hiperatividade) e fatores de riscos parentais e familiares na eficácia de um programa de treino parental para reduzir os problemas de conduta de meninos. Foram participantes do estudo mães de 81 meninos entre as idades de 4 e 7 anos, as quais foram acompanhadas por 22 a 24 meses. A efetividade do tratamento foi avaliada até um mês e um ano após o tratamento, por meio de sessões de observação direta em casa, relatos de pais e de professores. Os resultados desse estudo indicam que houve significativa redução na ocorrência de comportamentos indicadores de práticas negativas pelas mães, bem como dos problemas de conduta das crianças, de acordo com relato da mãe e de registros de observação em casa. Meninos com alta freqüência de comportamentos de desatenção e problemas de conduta mostraram benefícios semelhantes aos encontrados para meninos que não tinham comportamentos de desatenção (após submeterem-se ao programa de treinamento parental). A partir dos dados obtidos, os autores desta pesquisa sugerem que treinamento parental seja igualmente efetivo tanto para meninos com problemas de conduta e comportamentos de desatenção quanto para meninos com problemas de conduta, sem manifestação de desatenção. Sonuga-Barke, Daley, Thompson, Laver-Bradbury e Weeks (2001) realizaram uma pesquisa com o objetivo de avaliar duas diferentes terapias realizadas com pais de crianças pré-escolares em uma amostra da comunidade. Selecionaram 78 crianças de três anos de idade, que manifestavam na pré-escola sintomas de TDAH. Seus pais foram distribuídos, randomicamente, em três condições: (1) 30 pais foram submetidos submeteram ao 15 treinamento parental (PT), (2) 28 pais se submeteram a aconselhamento e apoio aos pais (PC & S), e (3) 20 pais formaram um grupo controle obtido de uma lista de espera. Ao grupo PT foram fornecidas técnicas de manejo no lidar com crianças. O grupo PC & S obteve apoio não diretivo e aconselhamento. Medidas dos sintomas da criança e de bem- estar das mães foram investigadas antes e após a intervenção, prolongando-se após 15 semanas seguidas. Os resultados demonstraram que, na condição de treinamento parental, os sintomas de TDAH foram reduzidos e o relato de bem-estar das mães foi aumentado, ao se comparar com as outras duas condições. Além disso, 53% das crianças apresentaram significativa melhora clínica. Os autores argumentam que treinamento parental é um valioso tratamento para pré-escolares, sendo que o PC & S teve um pequeno efeito sobre o comportamento das crianças. Afirmam ainda que psicoestimulantes não são um componente necessário para um tratamento efetivo de crianças pré-escolares com TDAH. Pesquisa realizada por Danforth, Harvey, Ulaszec e Mckee (2005) investigou os efeitos do treino parental sobre comportamentos de pais, bem como no de 45 crianças que apresentavam TDAH e comportamento agressivo desafiante. O treinamento incluiu informações sobre TDAH e sua relação com comportamentos desafiantes/agressivos, assim como a habilidade dos pais que aderiram aos parâmetros estabelecidos em um fluxograma de manejo de comportamento – Behavior Management Flow Chart-BMFC. Os resultados demonstraram que o treino reduziu comportamentos hiperativos, desafiantes e agressivos nas crianças; identificou-se ainda melhora no comportamento dos pais e redução no nível de tensão. Verifica-se que, ao longo dos últimos anos, houve avanços nos estudos sobre TDAH, em todas as áreas. O quadro clínico foi delineado e manifestações da síndrome foram identificadas. Padrões de co-morbidade foram detalhados. Foram investigados vários fatores etiológicos, particularmente na área biológica (Cantwell, 1996). Intervenções foram delineadas, testadas, validadas como eficientes, sejam isoladas ou combinadas. Novos procedimentos comportamentais já reconhecidos como eficazes estão sendo utilizados para controle de comportamentos inadequados. Mas ainda há muitas lacunas, muitas perguntas sem respostas em relação ao TDAH, principalmente na área concernente ao tratamento, na qual a análise do comportamento enquanto arcabouço teórico e tecnológico pode contribuir. No entanto, apesar das possibilidades de contribuição da análise do comportamento e do crescente número de pesquisadores interessados em investigar o TDAH, ainda é 16 incipiente o que se tem disponível em estudos publicados dentro desta abordagem sobre o assunto, face às inúmeras respostas a se buscar para a compreensão do fenômeno, principalmente quanto ao tratamento em ambiente natural (como em domicílio, por exemplo) e a aplicabilidade de generalização do comportamento para outras áreas não submetidas à intervenção. Tanto em pesquisa básica quanto em aplicada, o TDAH tem sido investigado predominantemente em contextos escolares e clínicos, havendo escassez de registro de intervenção em ambiente domiciliar, sendo o uso do setting de domicílio restringido a espaço de coleta de dados por meio de videotapes (Brzuszkiewicz & cols., 2006), ou como atividades de casa, programadas no treino parental (Arvans & Gaynor, 2006), além do fato de que na prática clínica o atendimento em domicílio é pouco usado. Justifica-se tal predileção dos pesquisadores pelos settings escolares e clínicos à provável dificuldade metodológica de controle de variáveis em ambiente domiciliar. 10. TDAH e Contribuições da Análise do Comportamento O modelo explicativo do TDAH predominante na literatura descarta fatores ambientais como variáveis causais, considerando-os, no máximo, como capazes de alterar a intensidade dos sintomas. Tal posicionamento justifica-se face à consideração de que estruturas neurais seriam as responsáveis pela desatenção ou hiperatividade/impulsividade, o que torna prevalente o tratamento farmacológico. Vasconcelos (2002), no entanto, destaca que, na intervenção, as variáveis ambientais estão presentes em aspectos como características das tarefas (restritiva, complexa), do ambiente (não estimulante), da família (presença de alta freqüência de contingências aversivas associadas à baixa freqüência de reforçamento positivo; alta freqüência de mandos do tipo ordem) e características das contingências de reforçamento (baixa densidade do reforço). Além disso, treinamentode pais e de professores também tem processos que envolvem a análise funcional dos comportamentos emitidos pela criança e pelos membros da família. Vasconcelos também lembra que há inúmeros estudos que demonstram que os efeitos de uma droga sobre o comportamento podem ser modificados por fatores não-farmacológicos, o que confirma a significativa contribuição de variáveis comportamentais e ambientais nas ações das drogas, merecendo investigações. Considerando a relevância das variáveis ambientais nos procedimentos de intervenção em TDAH, a análise do comportamento (AC), enquanto uma ciência que compreende as causas dos comportamentos como função de interações entre os organismos 17 e o ambiente (Skinner, 1976; ver também Sanabio-Heck & Souto e Maia, 2005), tem se destacado na busca da identificação das relações de contingências entre organismo e variáveis externas na explicação do comportamento de crianças com TDAH (Vasconcelos, 2002). Tal abordagem tem seu arcabouço teórico e suporte tecnológico oriundos da filosofia do behaviorismo radical e de pesquisas empíricas, sendo um modelo útil para o estudo, produção e refinamento de procedimentos de intervenção que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos portadores de TDAH e seus familiares. Neste sentido, faz-se necessário apresentar duas subáreas da Análise do Comportamento: a Análise Experimental do Comportamento (AEC) que é responsável em conduzir a produção e validação de dados empíricos, adotando um planejamento de manipulação de variáveis em um contexto controlado e artificialmente simplificado; e a Análise Aplicada do Comportamento (AAC) que se caracteriza por ser uma ciência aplicada e uma área tecnológica ligada ao campo de intervenção planejada dos analistas do comportamento, tendo nela assentadas as práticas profissionais tradicionalmente tidas como psicológicas (ex: trabalho na clínica, escola, saúde pública, organização e onde mais houver comportamento a ser explicado) (Carvalho Neto, 2002). Por sua vez, a Terapia Analítico-Comportamental (Vasconcelos, 2002) adota uma visão idiográfica, que pode trazer uma contribuição importante à compreensão do comportamento do indivíduo com TDAH. No procedimento de avaliação, utiliza-se definição da queixa, da história da criança e da família, da história de intervenção, do levantamento de reforçadores, os quais direcionarão o planejamento e a seleção dos procedimentos para o tratamento (Robert, 2005). No trabalho com a criança dentro da abordagem analítico-comportamental, a questão da família sempre esteve presente. Isto se justifica pela própria concepção da influência do ambiente sobre o comportamento, que legitima a intervenção familiar comportamental (Ingberman, 2002), uma vez que muitos comportamentos de um indivíduo são mantidos pela relação com outros membros da família (Weber, Brandenburg & Salvador, 2006). Tal intervenção descreve um processo terapêutico que procura efetuar mudanças no comportamento da criança e, conseqüentemente, no seu ajustamento, por mudanças em aspectos do ambiente familiar que afetam o problema comportamental da criança (Ingberman, 2002). No trato com os familiares, principalmente com os pais de crianças com TDAH, essa consideração deve ser feita desde o diagnóstico, uma vez que os pais dessas crianças, 18 segundo Topczewski (1999), nem sempre conseguem perceber as diferenças comportamentais do quadro de TDAH em ambiente domiciliar, especialmente quando não tem outros filhos. Muitas vezes, por considerarem tratar-se de uma fase transitória e por dificuldades de aceitação do diagnóstico, tornam-se mais tolerantes, acostumando-se com o ritmo da criança; passam, assim, a não mostrar os seus verdadeiros limites; nesse contexto, há risco de reversão de papéis, onde há probabilidade da criança passar a dominar a situação enquanto os pais têm dificuldades de estabelecer e produzir o respeito e cumprimento das regras e limites necessários para o controle do comportamento da mesma. Além disso, há o fato de que muitos pais não admitem que sua criança apresente algum comprometimento comportamental, tomando as queixas em relação a ela como sendo uma questão pessoal de antipatia ou de intolerância. O conjunto dessas posturas faz com que os pais não percebam o quanto o tipo de comportamento de sua criança destoa de um padrão tolerável. A escola, então, acaba sendo o ambiente onde se identifica que o comportamento da criança destoa das demais e onde também os pais são sugestionados pelos profissionais desse contexto a recorrer a um especialista. Barkley (2002) corrobora com a premissa de que a análise do ambiente familiar é importante para o entendimento das interações pais-filhos e irmãos-criança, principalmente quando se trata de uma criança com TDAH, uma vez que há evidências de que os familiares e irmãos de uma criança com TDAH estão mais suscetíveis a experimentar suas próprias angústias e transtornos psiquiátricos do que pais e irmãos de uma criança que não apresenta TDAH. Estudos também demonstram que mães de crianças com TDAH apresentam comportamentos de controlar mais e se envolver no autocontrole de seus filhos do que mães de crianças sem TDAH, o que resulta em uma relação, com o passar do tempo, mais estressante (Barkley, 2002). Barkley (2002) ainda ressalta que, os efeitos de estratégias mal sucedidas pelos pais ocasionariam um estado de fracasso, que o autor denomina de “impotência aprendida”, onde passariam a evitar dar ordens, liberando o filho para fazer o que quiser, com pouca ou nenhuma supervisão. Neste ponto, os pais podem apresentar depressão, baixa auto-estima em seus papéis de pais e pouca satisfação com o envolvimento em suas responsabilidades paternas. Isto leva à conclusão de que conviver com uma criança portadora de TDAH pode comprometer seriamente a saúde mental dos pais e seu compromisso com as suas 19 responsabilidades como genitores. Pais e parentes de crianças diagnosticadas com TDAH têm, na verdade, maior probabilidade de apresentar problemas psicológicos do que aqueles que não são pais de crianças com TDAH. Alguns destes problemas surgem pela convivência com um indivíduo que apresenta o transtorno que serve como modelo; outros estão relacionados a determinações hereditárias (Barkley, 2002). Assim, considerando que o ambiente familiar dessas crianças é caracterizado, em geral, por contingências aversivas, um dos primeiros pontos de intervenção é o aumento da freqüência de reforçamento positivo para as crianças e uma apresentação de reforços de maneira mais imediata sobre o controle do comportamento. A abordagem construcional, proposta por Goldiamond (1975) também pode ser um modelo de intervenção interessante uma vez que se remete a repertórios comportamentais já presentes no indivíduo e obtenção de conseqüências mais gratificantes. Tal modelo tem como principal premissa a construção de repertórios não adquiridos ou de baixa magnitude em um dado ambiente ou situação particular, podendo partir do restabelecimento ou transferência de repertórios bem sucedidos apresentados pelo indivíduo (repertório de entrada), porém a um alto custo de sofrimento para novas situações, obtendo como resultado o alívio ou eliminação do sofrimento. Para que isto ocorra, o indivíduo necessita discriminar sobre as contingências que governam o seu comportamento, aprendendo a identificar o seu próprio padrão comportamental e do que ele é função para que obtenha o controle sobre o seu comportamento. Na psicoterapia é possível adquirir habilidades de discriminação das contingências. No caso da psicoterapia direcionada à família de crianças com TDAH,passos são estabelecidos e o terapeuta somente avança caso os critérios tenham sido cumpridos pelos pais e pelas crianças. Os pais são orientados a dedicarem um tempo com suas crianças, observando, elogiando a criança, sem uso de críticas ou direcionamento. Devem substituir comandos múltiplos por regras simples e claras. Os pais devem brincar, dispor de um tempo para interagir ludicamente com a criança; e o terapeuta, nesse momento, pode servir como modelo adequado na interação com a criança. O sistema de Token pode ser utilizado como forma de incentivo a cumprimentos de tarefa em casa; porém, quando necessária, a punição tem sido utilizada na forma de custo de respostas contingente a comportamentos inadequados, pontos retirados contingente ao não cumprimento de um comando ou tarefa ou o emprego do time-out (Vasconcelos, 2002). 20 Diversas outras formas de intervenção com pais, também têm sido utilizadas amplamente na intervenção comportamental infantil, legitimadas por um dos pressupostos da Análise do Comportamento, o de que o comportamento da criança é desenvolvido e mantido pelas interações entre ela e seu ambiente, através das conseqüências que o controlam. Considerando, então, que os pais são referências desse ambiente, conseqüentemente, mudanças em seus comportamentos produziriam alterações também no comportamento da criança (Di Nucci & Pregnolato, 2004; Weber & cols., 2006). A possibilidade dos pais obterem informações sobre o transtorno, sobre treinamento quanto a alguns princípios e técnicas fundamentadas cientificamente e que explicam a aquisição, fortalecimento, manutenção e probabilidade da ocorrência de um determinado comportamento, bem como outros procedimentos próprios da abordagem comportamental, pode ajudá-los a adquirir comportamentos mais bem sucedidos na interação com seus filhos, ajudando-os na minimização dos efeitos negativos do TDAH, tanto para a criança quanto para os próprios pais. Partindo dessa premissa, tanto a orientação quanto o treinamento de pais têm como objetivo treiná-los para modificarem os comportamentos de seus filhos, alterando as contingências que os controlam, destacando-se como possibilidade para tratamento de problemas infantis face à relevância do papel dos pais como mediadores ou co-terapeutas. Nesse sentido, há estudos que respaldam e comprovam a eficácia de ambas as estratégias terapêuticas (Di Nucci & Pregnolato, 2004). Weber e cols. (2006) que aplicaram em um estudo três modelos diferentes de intervenção com os pais: (a) psicoterapia parental, (b) orientação parental aliada à psicoterapia infantil e (c) treinamento de pais, tendo concluído que o treinamento de pais apresentou vantagens quanto à adesão e quanto à praticidade. 10.1. Intervenção Comportamental com Pais Programas comportamentais de treinamento parental são utilizados há longo tempo, aproximadamente 40 anos, quando os psicólogos que desenvolveram o treinamento escreveram o primeiro livro ensinando a aplicabilidade e um programa que haviam desenvolvido (Buffalo, 2005). Nesse programa, as sessões parentais, geralmente, incluem um livro e/ou videotape que foram desenvolvidos especialmente para ensinar pais a usarem procedimentos de manejo comportamental com suas crianças. A primeira sessão é muitas vezes dedicada a uma visão completa do diagnóstico, etiologia, natureza e prognóstico do 21 TDAH. Depois disso, em sessões de grupo ou individual, pais aprendem uma variedade de técnicas, algumas das quais eles já podem estar utilizando em casa, mas ainda não consistentemente e corretamente como necessitado. Pais, então, vão para casa e implementam o que aprenderam nas sessões de treinamento e retornam para a sessão de pais na semana seguinte, para discutir os benefícios obtidos, a resolução de problemas e aprender novas técnicas. Em geral, as séries de sessões típicas de programas de treinamento parental seguem os seguintes tópicos: (a) construção e estabelecimento de regras em casa; (b) aprender a elogiar os comportamentos apropriados; (c) ignorar brandamente os comportamentos inapropriados; (d) usar comandos apropriados tanto quanto as contingências; (e) planejar antecipadamente; (f) trabalhar com crianças em espaço público; (g) fornecer “time-out” de reforçamento positivo; (h) fazer lista diária de pontos; (i) utilizar sistema de fichas – token com recompensas e conseqüências; (j) sistema de nota de escola e casa para recompensar comportamento na escola, entre outros (Buffalo, 2005). Embora muitas das idéias e técnicas que os pais aprendem em treinamento parental possam ser identificadas em práticas parentais do senso comum (a exemplo: elogiar a criança quando ela apresenta um comportamento adequado), muitos deles necessitam obter orientações cuidadosas e sistemáticas, além de apoio para aprender a implementar as tarefas parentais de forma consistente, uma vez que é muito difícil para eles comprarem um livro, aprender sobre modificação de comportamento e implementar um eficiente programa com seus filhos e em si próprios (Buffalo, 2005). Vale destacar que, o treinamento comportamental de pais (Behavioral Parent Therapy - BPT) é um dos tratamentos psicossociais com base empírica para TDAH. Durante muitos anos e em muitos estudos, BPT foi documentado para melhorar tanto os comportamentos do filho com TDAH quanto os comportamentos mal adaptativos dos pais. Em alguns estudos, BPT foi indicado também por resultar em benefícios em domínios adicionais, como estresse dos pais e comportamentos da criança em sala de aula. Porém, a literatura sobre BPT com pais de crianças com TDAH fica aquém ao ser comparada às pesquisas utilizando BPT com pais de crianças com transtorno de comportamento opositor- desafiante (Chronis, Chacko, Fabiano, Wymbs & Pelham, 2004). Em geral, estes programas de treinamento comportamental envolvem economia de fichas, reforçamento contingente a comportamentos adequados, time-out e manejo de contingências pelos professores e terapeutas (Domingos & Risso, 2000). 22 Anastopoulos, Shelton, Du Paul e Guevremont. (1993) analisaram mudanças nos comportamentos dos pais como efeito da participação em um programa de treinamento comportamental de pais (BPT), delineado para crianças em idade escolar e com diagnóstico do TDAH. Os participantes que completaram as nove sessões do programa de BPT demonstraram significativos ganhos nos comportamentos de ambos (pais e crianças), que foram mantidos dois meses após o tratamento. O BPT promoveu redução do estresse e aumento de auto-estima, que acompanhou melhorias de relatos de pais na severidade global dos sintomas das crianças com TDAH. Fabiano, Pelham, Arnoud, Flammer, Walker, Wienke, Burrows-MacLean e Swanger (2003), por sua vez, embora reconheçam que o treinamento parental focado nos pais seja um tratamento, apontam sua pesquisa como a primeira a investigar explicitamente a efetividade do treinamento comportamental parental, uma vez que consideram não existir estudos de efetividade para pais de crianças com TDAH. Tal pesquisa foi desenvolvida em oito semanas, durante duas horas semanais, nas quais incluia-se, na primeira hora, um treino de pais em grupo onde revisavam estratégias parentais efetivas em uma abordagem de modelação; concorrentemente, as crianças praticavam atividades recreativas. Durante a segunda hora, os pais e grupos de crianças jogavam juntos um jogo de futebol, promovendo um contexto de interação com os pais e a prática de estratégias parentais. Nesta pesquisa foram utilizadas três medidas de avaliação de comportamento: uma referente ao comportamento da criança e duas medidas de comportamento dos pais, uma por meio
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