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Síntese - DIREITO PUBLICO E PRIVADO

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Direito público e direito privado 
Francisco Mafra 
 
 A partir da definição do direito como um conjunto de normas que disciplinará as 
relações sociais em um determinado grupo, parte-se para a divisão do próprio direito em 
uma árvore que se dividiria em inúmeros e distintos galhos ou ramos. 
 Celso Ribeiro Bastos parte da noção de que o direito é: “... o conjunto de normas 
e princípios que regem a atividade do Estado, a relação deste com os particulares, assim 
como o atuar recíproco dos cidadãos, e de que o direito administrativo é um dos ramos 
do direito público interno...” para perceber que o mesmo possui fatores que o diferenciam 
dentro do contexto a que pertence. A partir deste momento o próprio autor inicia análise 
sobre a divisão do direito nos ramos público e privado.[1] 
 Os estudiosos da teoria geral do direito, após longas exposições acerca da divisão 
do direito em dois ramos, público e privado, são assentes em concluir que a divisão 
público-privado serviria mesmo como um instrumento didático para o ensino da ciência 
do direito e uma melhor compreensão por parte dos seus estudiosos. 
 Edgar de Godoy da Mata Machado assim o faz ao apresentar diferentes autores 
cada qual sem alcançar uma idéia ou conclusão precisa dos limites porventura existentes 
na divisão entre o direito positivo público e privado.[2] 
 Ao estudar a divisão entre direito público e privado, Edimur Ferreira de Faria 
esclarece que a ordem jurídica é uma, inexistindo, assim, diferentes direitos. O que 
acontece, porém, é que desde os romanos, o direito é dividido em público e privado. 
 A divisão se justifica por existirem diferentes níveis de relação jurídica entre os 
cidadãos entre si e entre esses e o Estado, a Administração Pública. 
 As relações jurídicas entre os cidadãos particulares ocorreriam dentro do direito 
privado. Já as relações nas quais estaria presente o Poder Público, ou mesmo o interesse 
público, seriam pautadas pelo direito público.[3] 
 O direito privado se dividiria, fundamentalmente, em dois ramos, ou seja, o civil 
e o comercial. 
 Já o direito público é composto de vários sub-ramos, quais sejam, o direito 
constitucional, o administrativo, o penal, o previdenciário, o eleitoral, internacional 
público e privado, processual civil e penal, do trabalho, tributário e financeiro. 
 De Plácido e Silva define o direito público como o conjunto de leis, criadas para 
regularem os interesses de ordem coletiva, ou, em outros termos, principalmente, 
organizar e disciplinar a organização das instituições políticas de um país, as relações dos 
poderes públicos entre si, e destes com os particulares como membros de uma 
coletividade, e na defesa do interesse público.[4] 
 São suas as palavras: 
“A norma de Direito Público, pois, tende sempre a regular um interesse, direto ou 
indireto, do próprio Estado, em que tem vigência, seja para impor um princípio de 
caráter político e soberano, seja para administrar os negócios públicos, seja para 
defender a sociedade, que se indica o próprio alicerce do poder público”.[5] 
 Diógenes Gasparini inicialmente aborda a questão dos dois ramos do direito 
tratando o mesmo como uma unidade indivisível, maciça, monolítica. Lembra, no 
entanto, a sua divisão, desde Roma, em dois ramos, quais sejam, o privado e o público. O 
Direito Público regularia as relações jurídicas em que predomina o interesse do Estado, 
ao ponto que o Direito Privado disciplinaria as relações jurídicas em que predomina o 
interesse dos particulares. O critério do interesse é que dividiria, assim, o Direito em dois 
ramos.[6] 
 José Cretella Jr informa que o direito constitui-se em uma unidade desdobrável 
em dois campos que se comunicam entre si, apesar de informados por princípios distintos. 
 Os dois campos são estabelecidos por motivos didáticos. Os campos do Direito 
Público e do Direito privado são comunicáveis entre si, embora formados por princípios 
distintos – os princípios de direito público e os princípios de direito privado[7]. 
 O problema de se dividir o direito em dois ramos esbarra na impossibilidade de se 
estabelecer, de modo absoluto, fronteiras nítidas entre eles.[8] Desde ULPIANO, no 
Império Romano, o direito é dividido entre os dois campos público e privado.[9] 
 Após a utilização de diferentes fórmulas do direito romano, em termos atuais, o 
direito público pode ser considerado como o responsável pela disciplina das relações 
jurídicas em que preponderam imediatamente interesses públicos. Já o direito privado é 
o ramo do direito que disciplina relações jurídicas em que predominam imediatamente 
interesses particulares. Mediatamente, o direito público pode produzir efeitos sobre os 
interesses do particular e, da mesma forma, o direito privado pode agir sobre o próprio 
Estado.[10] 
 O direito administrativo, por sua vez, estuda e trata das relações verticais, entre 
Administração e os cidadãos, mais comumente denominados administrados. Assuntos 
como servidores públicos, autarquias, atos administrativos, desapropriações, bens 
públicos, processos administrativos, poder de polícia e responsabilidade civil do Estado, 
dentre outros, são abordados no direito administrativo.[11] 
 Hely Lopes Meirelles aponta a divisão do Direito em dois grandes ramos, o 
Público e o Privado. O Direito Público, ainda, pode ser dividido em Interno e Externo. 
 O Direito Público Interno tem como objeto a regulação dos interesses estatais e 
sociais. Os interesses individuais só são aqui tratados reflexamente. 
 O Direito Público Externo tem como objetivo reger as relações entre os Estados 
soberanos e as atividades individuais internacionalmente. 
 O Direito Privado, por sua vez, cuida com predominância dos interesses 
individuais, de modo a assegurar a coexistência social e a fruição de seus bens.[12] 
 As relações de direito privado aconteceriam no sentido horizontal.[13] Já no 
direito público temos a verticalidade que impõe ao Poder Público uma posição de 
superioridade frente aos particulares em função da manutenção do interesse público. 
 A própria expressão direito administrativo designa tanto uma disciplina científica, 
ou seja, a Ciência do Direito Administrativo, quanto um corpo de normas jurídicas a que 
se submete a Administração. É, por exemplo, o Direito Administrativo positivo brasileiro. 
 Aqui, no âmbito do direito administrativo, podem ser destacados tanto o critério 
do interesse predominante, quanto o critério do sujeito participante da relação jurídica 
para se posicionar o direito administrativo como ramo do direito público interno 
brasileiro. 
 Carlos Ari Sundfeld destaca o sentido e a utilidade das idéias “direito público” e 
“direito privado”, que permeiam todo conhecimento jurídico. Posto se tratarem de idéias 
e não de normas, aponta o autor a possibilidade do ordenamento existir indiferente a elas. 
 Para o autor de São Paulo, embora a distinção entre direito público e direito 
privado existisse já no Direito Romano, somente no Estado de Direito é que veio despertar 
grande interesse. 
 A partir de então, teriam sido apontados pela doutrina os critérios muitos critérios, 
dentre os quais se destacou o do sujeito e o do interesse. Direito público, segundo o 
critério inicial, seria aquele que tem por sujeito o Estado, ao mesmo tempo que o privado 
é o que regeria a vida dos particulares. 
 De acordo com o critério do interesse, por sua vez, as normas que cuidassem de 
interesses públicos seriam públicas, enquanto que as normas que regessem interesses 
privados seriam privadas. A grande dificuldade representaria a descoberta de quais seriam 
os critérios diferenciadores entre interesse público e privado. 
 Apontandoa insuficiência do critério anterior, o autor encerra o seu texto 
apresentando uma distinção entre direito público e direito privado com base no regime 
jurídico. [14] 
 A distinção entre público e privado tem uso assistemático dentro da cultura 
jurídica. Desta forma, seria inócua a busca de uma solução única, baseada em um só 
critério para, dentro da ciência jurídica, esclarecer o significado de público e de privado. 
 A adoção de um critério formal para a distinção entre público e privado seria a 
única forma de construir uma distinção entre os mesmos. 
 Voltando-se os olhares para as normas jurídicas e para como elas regulam as 
situações de que cuidam, ou seja, para o regime jurídico por elas criado. Assim, os 
institutos de direito público se distinguirão dos de direito privado pela sua submissão a 
um ou a outro regime jurídico. 
 Distinguir o público do privado significaria conhecer o regime de direito público 
e o de direito privado. 
 Por sua vez, para conhecer-se o direito público faz-se necessário o conhecimento 
dos princípios de direito Público. 
Direito comparado 
 Agustín Gordillo faz importantes anotações a respeito da divisão do Direito em 
Público e Privado. Assume o autor que as diferenças entre os mesmos são que no primeiro 
as relações jurídicas se dão entre o Estado e os particulares, ou entre os seus diferentes 
órgãos. Exemplifica que na Argentina não há atividade estatal submetida unicamente ao 
direito comum ou privado. Quando as normas de direito privado são aplicadas nas 
relações de algum ente estatal, elas serão sempre modificadas ou aproveitadas com as 
normas de direito público, de modo a fazerem parte deste de alguma forma. 
 Nas relações de Direito Público sobressalta uma relação de subordinação porque 
a lei confere ao poder público uma certa superioridade jurídica sobre os particulares, um 
número de atribuições superiores em relação aos direitos individuais. Na relação de 
Direito Privado prepondera uma relação de coordenação entre os sujeitos que são iguais. 
 A raiz desta divisão seria sociológica, visto que tais relações afetariam o “interesse 
público” (bem comum) ou o “interesse privado” individual, respectivamente.[15] A nota 
característica das normas de direito público são que as leis que regem as relações dos 
particulares com o Estado vão acumulando prerrogativas e privilégios para o Estado. 
Além do mais, alguns dos princípios concernentes a tais leis irão disciplinar relações 
interiores ao próprio Estado como, por exemplo, a organização, funcionamento e 
atividade dos poderes públicos e o controle dos serviços públicos monopolizados, os 
quais se utilizarão de princípios diferentes dos do direito comum.[16] 
 
 
 
 
CONCLUSÕES 
 Definir significa estabelecer fins, delimitar algo. Ao se descrever uma realidade, 
fazemos a sua definição. Concluir, no entanto, exige trabalho de consideração acerca do 
assunto tratado, exige compreensão a respeito do objeto que está sendo abordado. 
 Para se concluir acerca da natureza dos dois principais ramos do direito ou para 
se alcançar uma exata noção da realidade das mesmas devemos ter em mente a 
preponderância dos interesses em questão. Predominando-se os interesses particulares, 
tem-se o direito privado. Ao contrário, na predominância dos interesses que afetariam 
todo o grupo social, teríamos o direito público. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia 
BASTOS, Celso Ribeiro, Curso de Direito Administrativo, 5º edição, São Paulo: 
Saraiva, 2001. 
CRETELLA JR, José. Direito Administrativo Brasileiro, 2ª edição, Rio de Janeiro: 
Forense, 2000. 
___________. Curso de Direito Administrativo, 17ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 
2000. 
___________. Manual de Direito Administrativo, 7ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 
2000. 
DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico, Rio de Janeiro: Forense, 2001. 
FARIA, Edimur Ferreira de. Curso de Direito Administrativo Positivo, 3ª edição, Belo 
Horizonte: Del Rey, 2000. 
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo, 7ª edição, São Paulo: Saraiva, 2002. 
GORDILLO, Agustín. Tratado de Derecho Administrativo, Tomo I – Parte General – 
7ª edicion, Belo Horizonte: Del Rey e Fundación de Derecho Administrativo, 2003 
MATA MACHADO, Edgar da. Elementos de Teoria Geral do Direito, Belo 
Horizonte: UFMG, 1995. 
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo: Malheiros, 
1999. 
SUNDFELD, Carlos Ari, Fundamentos de Direito Público, 3ª edição, 3ª tiragem, São 
Paulo: Malheiros, 1998. 
 
Notas 
[1] BASTOS, Curso de Direito Administrativo, 5ª edição, São Paulo: Saraiva, 2001. 
[2] MATA MACHADO, Elementos de Teoria Geral do Direito, BH: UFMG, 1995. 
Pp.170-186. 
[3] FARIA, Edimur Ferreira de, Curso de Direito Administrativo Positivo, 3ª edição, 
BH: Del Rey, 2000. 
[4] DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico, RJ: Forense, 2001, verbete Direito 
Público. 
[5] Idem. 
[6] GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo, 7ª edição, SP: Saraiva, 2002. P.1. 
[7] Grifos do autor. 
[8] CRETELLA JR, José. Direito Administrativo Brasileiro, 2ª edição, RJ: Forense, 
2000. Pp.5-6. 
[9] __________. Manual de Direito Administrativo, 7ª edição, RJ: Forense, 2000. P.3. 
[10]__________. Curso de Direito Administrativo, 17ª edição, RJ: Forense, 2000. Pp. 3-
4. 
[11] CRETELLA JR., Manual....P. 4. 
[12] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 24ª edição, SP: 
Malheiros, 1999, pp. 31-32. 
[13] CRETELLA JR., Manual....Pp. 3-4. 
[14] SUNDFELD, Carlos Ari, Fundamentos de Direito Público, 3ª edição, 3ª tiragem, 
São Paulo: Malheiros, 1998, pp. 128-132. 
[15] GORDILLO, Agostín. Tratado de Derecho Administrativo, Tomo I – Parte 
General – 7ª edicion, BH: Del Rey e Fundción de Derecho Administrativo, 2003. Pp. 
V-15 – V – 16. 
[16] Idem.

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