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* A Enfermagem Diante do Sofrimento e da Morte * Os profissionais de saúde encontram-se entre as populações mais sujeitas a agravos psíquicos e somáticos devido à natureza de sua rotina ocupacional, a qual se dá em ambientes insalubres e perigosos, com rotinas repetitivas e uma aproximação com a dor e a morte maior que o resto da população, o que os expõe a problemas de saúde, em especial geniturinários, psicossomáticos e osteomusculares, e à produção de sintomas psíquicos os mais diversos em natureza e intensidade de expressão (Pitta, 1991). * Indiscutivelmente, pelo contato direto e constante com os pacientes, a equipe de enfermagem funciona como um primeiro anteparo para a angústia deles e de seus familiares. Desta forma, o contato direto com o sofrimento e a morte é parte integrante do trabalho da enfermagem e acaba por gerar estresse psicológico e até mesmo físico nos profissionais. * A carga psíquica suportada por eles pode levá-los a doenças somáticas. Assim, Menzies (apud Pitta, 1999) descreve os tipos de defesa que os enfermeiros usam para suportar a carga psíquica do seu trabalho. * Tipos de defesas * 1) Despersonalização e evitação: Qualquer paciente é igual a outro qualquer. Evita-se o vínculo afetivo. As vestes iguais dos doentes são exemplos deste expediente utilizado nos hospitais. * 2) Fragmentação da relação técnico-paciente: Evita-se a intimidade para evitar angústia com o sofrimento do paciente. Mantém-se um distanciamento. * 3) Distanciamento e negação Os sentimentos têm que ser controlados, o envolvimento refreado e as identificações perturbadoras são evitadas. É consequência dos dois movimentos anteriores. * 4) Tentativa de eliminar decisões: Estabelecimento de desempenho das tarefas e padronização de condutas. O ritual cumpre a função de reduzir ansiedades. * 5) Redução da responsabilidade: Diminuição do peso da responsabilidade, obtido através do parcelamento e fragmentação das tarefas. Não se define de maneira clara quem é responsável por que tarefa e por quem. * “Os assim chamados sistemas sociais de defesa, como os descritos acima, cuja função primordial é ajudar o indivíduo a fugir da ansiedade, culpa, dúvida e incerteza, são aqui trazidos como um modelo explicativo para a complexa dinâmica da interação técnico paciente numa instituição hospitalar, embora não seja a única.” (PITTA, 1999:68) * Para ajudar o paciente e seus familiares o profissional de saúde pode: • Ajudar a pessoa a enfrentar a crise, auxiliando-a a expressar seus sentimentos. • Ajudar a pessoa a descobrir os fatos, desmistificando fantasias e esclarecendo suas dúvidas, evitando especulações sobre a doença. * Não dar a pessoa uma falsa confiança, oferecendo ajuda e reconhecendo a validade de seus temores. • Não encorajar a pessoa a culpar as outras. • Ajudá-la a aceitar ajuda. • Incentivar e sugerir uma reorganização das tarefas cotidianas, para que a pessoa receba assistência. * ORIENTAÇÕES GERAIS PARA AS EQUIPES DE SAÚDE: Trabalhar a relação com a própria vida e principalmente refletir sobre a própria morte; Repensar os objetivos e ideais profissionais e pessoais; Partilhar as dificuldades e angústias com colegas; Estar alerta para limitações, não ultrapassando limites emocionais; * Desenvolver atividades extratrabalho que propiciem a liberação de tensões; Considerar, sempre e acima de tudo, o paciente; Atuar colocando-se “no lugar”; Promover a esperança e estimular a participação ativa no processo saúde-doença; Proteger a dignidade do paciente e dos familiares. * * Dizem as Escrituras Sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. (Rubem Alves, publicado no Jornal Folha de S.Paulo, Caderno Sinapse, de 12/10/03).