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OT nº 2 SOCIOLOGIA DO PODER POLITICO

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OT nº 2 - Sociologia do Poder Politico
A Nação é sem dúvida a mais vasta coletividade humana em todas as suas intrincadas relações sociopolíticas, oferecendo por isso uma grande unidade bastante homogénea, não designando no entanto uniformidade, nem indiferenciação. Sendo formada de criaturas pensantes e livres, com personalidades distintas, os indivíduos ao se associarem são norteados por coordenadas diferençadas, de acordo com as tendências pessoais e coletivas.
Oriundo dos múltiplos estratos sociais e políticos, portadores de gostos e vontades que frequentemente são discordantes o que gera conflitos, desde que a ambição maior seja o bem comum, a oposição ou a critica ao poder legitimado não será apenas um direito, mas também se torna um dever de todo cidadão.
Segundo Teixeira Fernandes (1997) o sufrágio universal em nada ou muito pouco contribuiu para uma democracia real, pois a elite percebeu que o mesmo não era capaz de modificar a estrutura de poder estabelecida.
O sociólogo Roberto Michels debateu-se muitas vezes com o problema das elites, questão já tratada anteriormente por Gaetano Mosca e Vilfrido Pareto, debruçando-se especialmente sobre a questão do fenómeno dos partidos políticos. De acordo com Szmon Chodak os seus” Partidos Políticos” constituem “o ponto de partida dum novo ramo da ciência: a sociologia dos partidos, e também da análise do processo de desenvolvimento, seus tipos estruturais e natureza dos membros do partido” (Seymor,p.20).
Um dos entendimentos de Robert Michels a respeito dos partidos é que eles são estruturalmente uma organização, ao serviço dum fim: a conquista do poder. Weber defendia que a verdadeira organização social “ é um esquema comum de valores, que se exprime em domínio social e em observância das normas, dentro de uma sociedade” (Blau pag 270). Segundo Jacob P. Mayer, Michels interessou-se primeiro do que Weber pelo fenómeno partidário e a obra “ Sociologia dos Partidos Políticos”, publicada em 1911, influenciou decisivamente” O Politico como Vocação de 1919,” no entanto a correspondência entre ambos demonstra claramente a primazia de Weber. Desse modo é valido afirmar que a importância de Robert Michels será alicerçada não na singularidade, mas sim na síntese que procurou realizar dos contributos de vários autores e correntes.
Numa composição de elementos de Gaetano Mosca, Vilfrido Pareto, de esquerda e de direita, recorrendo à noção de classe política e a perceção da necessidade das oligarquias de Mosca, utilizando o conceito de Pareto sobre a teoria de circulação das elites Fez uma junção entre elementos de esquerda e de direita, reprovou o autoritarismo das organizações socialistas mas atacou o socialismo e depreciou as massas na linha da tradição politica mais conservadora e reacionária.
Recorreu ao darwinismo social (Spencer) ao afirmar que os dons de liderança são obtidos pelo treino e pelo exercício, ou seja, que a falta da prática de mando debilita os homens condenando-os à submissão.
Teixeira sintetiza a tese central de sua obra em poucas palavras:” a democracia é um ideal irrealizável, pois todo o poder exige organização e toda a organização significa oligarquia. Segundo Michels, todos os partidos acabam por atraiçoar os ideais democráticos, transformando-se em organizações oligárquicas controladas por um pequeno número de indivíduos, a necessidade de organização é justificada como, “ a democracia não é pensável sem organização” (pag:53) e faz uma análise da estrutura interna “ quem diz organização diz tendência para a oligarquia.” (pag:54) Importante será notar que em sua análise utilizou inúmeros aspetos da teoria das organizações e da burocracia, a importância da coordenação e sequência de tarefas, da particularização funcional, da prática do segredo e do centralismo. Nesse sentido acorda com os socialistas e pondera que os proletários devem agregar esforços e organizar atividades para mais depressa conseguirem seus objetivos. No entanto tal proceder encerra um grande perigo: pode originar correntes conservadoras e tendências oligárquicas que acabam por asfixiar a própria democracia. As tendências oligárquicas derivam de inúmeros fatores, causas de essência técnico-administrativa, causas de natureza psicológica e fatores intelectuais.
Michels concorda com o pensamento de que o autogoverno das massas desempenharia a forma perfeita de democracia, no entanto a concretização desta é algo cada vez mais inviável. As massas possuem uma propensão irresistível para se deixarem sugestionar por oradores eloquentes ou líderes carismáticos.
A dominação (Herrschaft) ocupa, segundo Weber, o núcleo central da política, a tal ponto de identificar a sociologia política com a sociologia da dominação. Por dominação deve entender-se «a probabilidade de encontrar obediência a um mando de determinado conteúdo entre um grupo de pessoas» (p:54). Pois se no poder a palavra-chave é imposição, na dominação – no político – é obediência; há, portanto, uma sujeição voluntária do indivíduo. Assim, não existe dominação política se a um mando não corresponder a obediência.
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Verifica-se então a existência de dois tipos de conduta eleitoral, o modelo racional e o modelo irracional, Sendo que no primeiro, os partidos apresentam-se como os que proporcionarão os maiores benefícios, já perspetiva irracional, os partidos voltam- se para o inconsciente coletivo e manipulam (por meio dos sentimentos) os cidadãos.
A dominação, como já foi referido, exige um assentimento de vontade e implica, de forma consequente, a subordinação de uma maioria a uma minoria. Existindo uma impossibilidade real de realização do self-government, e como é impossível reunir num mesmo momento todos os milhões de habitante dum Estado, há a necessidade de eleger delegados de representação, introduzindo assim um elemento de desigualdade no sistema politico, que será cada vez mais agravada, quanto maior for o crescimento das organizações levando a uma maior divisão do trabalho.
De acordo com Michels o aparecimento de” escolas para políticos “é um sinal representativo da distância que separa a massa dos representados da elite dos representantes. Desse modo, partilha com Mosca a descrença em relação ao princípio representativo:”…é absurdo pretender “representar” uma massa heterogénea, nos inúmeros problemas surgidos da diferenciação crescente da nossa vida politica e económica”. Defende ainda que hierarquia, centralismo e obediência são princípios indispensáveis à sobrevivência dos” partidos democráticos de combate”, na linha do pensamento de Ostrogorski, considera que as máquinas partidárias foram obrigadas a moldar-se ao combate democrático adotando estruturas e modos de funcionamento de tipo militar.
De acordo com a “psicologia da oligarquia” as referências de Michels são relacionadas tanto ao perfil sociológico das massas quanto aos dos líderes. As massas apresentam um grande desinteresse pelas atividades político-partidárias o que levanta a necessidade de liderança, há ainda a tendência para a obediência, o sentimento de gratidão em relação aos chefes e a ausência de espirito critico. Em contra partida os lideres não são indiferentes `essa veneração.” A adoração suscita facilmente naquele que é objeto desse gesto a mania das grandezas. Aquela auto convicção desmedida, por vezes mal disfarçando uma vertente cómica, que tantas vezes se encontra nos modernos dirigentes dos movimentos de massas, tem a sua origem não apenas na característica de self made man de muitos deles, mas também na aceitação entusiástica que se encontram por parte das massas. (pag, 99). Distinguem-se ainda pelos dons de oratória com que encantam as massas.
A superioridade intelectual dos líderes é a terceira e ultima causa da oligarquia. Em claro contraste com a apatia das massas, os líderes apresentam-se com um elevado grau de conhecimentos. A política é exercida por profissionais. Segundo Michels entre o leque de fatores que ditam a permanência e proeminência das elites (tradição, poder económico, etc.) a educação formalé um dos mais importantes, para Michels é mesmo o mais importante.
A existência desses elementos acentuam as distâncias oligárquicas entre o partido e as massas, possuidoras de um alto estatuto, as chefias não podem ser substituídas sem que haja um grande desperdício tanto do tempo quanto dos valores investidos, No limite, a indispensabilidade dos líderes põe em crise a própria democracia, “ a democracia passaria a ser uma forma de poder dos melhores, ou seja uma aristocracia” (123-124).
Tais argumentos dão corpo a denominada oligarquia de ferro. Michels ainda salienta o que classifica como: “aburguesamento dos partidos operários “ adesão de pequenos burgueses aos partidos operários, criação de uma pequena burguesia pelos partidos proletários … Muitos outros fatores entram em linha de conta, os económicos, os sociais, o poder da comunicação, uma miríade de elementos que desembocam sempre nas oligarquias.
Michel não se limitou a centralizar as suas atenções na vida interna dos partidos, estudou o SPD, Partido Social Democrata, como um” estudo de caso” o que provavelmente dificultou a compreensão das diferenças entre um sistema monopartidário e um sistema pluripartidário. Michels pode ter desconfiado das possibilidades de concretização da democracia. Mas nunca propôs uma ideologia antidemocrática. O qualitativo que talvez melhor o defina é o de Mosca que apelidou Robert Michels de “a-democratico”.
Referencias Bibliográficas
Araújo, António, ANALISE SOCIAL, VOL XXVII (165) 2003, 1261-1284
Fernandes, António Teixeira, OS FENOMENOS POLITICOS, Porto, Edições Afrontamento, 1988, 2ªed.ISBN: 972-36-0185-O.
Fernandes, António Teixeira, A SOCIEDADE E O ESTADO, Porto, Edições Afrontamento,1997, ISBN:972-36-0431-0.
Mandragón, Ariel Ruiz, SINTESES ariel@inep.org
Michels, Robert – PARA UMA SOCIOLOGIA DOS PARTIDOS POLITICOS NA DEMOCRACIA MODERNA, Ed. ANTIGONA, 2001.
Pires, Francisco Videira, SOCIOLOGIA POLITICA, Porto, LELLO & IRMÃO, 1977.
Teixeira, Maria da Conceição, Robert Michels. A TEORIA E A POLITICA DA DEMOCRACIA, Lisboa. ISCSP, 2000.

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