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Fichamento: TARROW, Sidney. Introdução e Confronto político e ciências sociais. In: O poder em movimento. Movimentos sociais e conflito político. Petrópolis: Vozes, 2009. • Pergunta fundamental no percurso investigativo de Tarrow: o que fazem os indivíduos se engajarem em ações coletivas. Ele está preocupado em perceber as condições políticas que mobilizam à ação coletiva. • Perspectiva teórico-analítica: Situa os movimentos sociais no universo do conflito. Teoria do Confronto Político. • Os movimentos sociais surgem quando se conformam "oportunidades políticas" para a intervenção de agentes sociais que normalmente carecem delas. “o confronto político é desencadeado quando oportunidades e restrições políticas em mudança criam incentivos para atores sociais que não têm recursos próprios” (p.18). • Detalhe importante: “agem através de repertórios de confronto conhecidos, expandindo-os ao criar inovações marginais”. • O poder dos movimentos se manifesta quando os cidadãos comuns unem as suas forças para enfrentar as elites, as autoridades e seus antagonistas sociais (p.18) • Suas bases se assentam nas redes sociais (teoria de redes, densos ou não, e sua extensão) e nos símbolos culturais através dos quais se estruturam as relações sociais. • Sobre teoria de redes, relembro aporte de Joan Scott (1991): “são as redes em que as pessoas estão inseridas que explicam como coletividades se formam”1. As redes explicam e possibilitam a ação coletiva. • Ainda sobre as redes, é importante destacar a ideia de densidade (denso ou não) e sua extensão. Vínculos densos permite a criação de identidades solidárias e comunais ao longo do tempo e na ausência de organização formal. A classe social, por exemplo, é baseada em vínculos mais extensivos. • Primeiras definições: O conceito de movimentos sociais para o autor, designa “as sequências de confronto político baseadas em redes sociais de apoio e em vigorosos esquemas de ação coletiva e que, além disso, desenvolvem capacidade de manter provocações sustentadas contra opositores poderosos. Mas todos são parte de um universo mais amplo de confronto político que pode surgir, de um 1 SAVAGE, Mike. Espaços, redes e formação de classe. Mundos do Trabalho, vol. 3, n. 5, 2011, p. 18. lado, de dentro das instituições e, de outro, pode se expandir e se transformar em revolução. Situar os movimentos sociais e sua dinâmica particular, histórica e analiticamente, no universo do confronto é o objetivo deste estudo”. • Questão central 1: o lugar dos movimentos sociais, dos ciclos de confronto e das revoluções na categoria mais geral de confronto político. • Questão central 2: a ação coletiva de confronto é a base dos movimentos sociais. O ato irredutível que está na base de todos os movimentos sociais, protestos e revoluções é a ação coletiva de confronto. A ação coletiva pode assumir muitas formas - breve ou sustentada, institucionalizada ou disruptiva, monótona ou dramática. A maioria delas ocorre no interior de instituições, através de grupos constituídos que agem em nome de objetivos que dificilmente causariam estranheza. A ação coletiva torna-se de confronto quando é empregada por pessoas que não têm acesso regular às instituições, que agem em nome de exigências novas ou não atendidas e que se comportam de maneira que fundamentalmente desafia os outros ou as autoridades (TARROW, 2009: 19). • A ACC é a base dos movimentos sociais, porque é este o principal e, por vezes, o único meio que as pessoas comuns têm contra seus opositores mais bem equipados ou Estados poderosos. O que não significa que o confronto político não se sustente por bases e práticas políticas mais amplas, como a formação de organizações, mobilização dos seus membros, elaboração de uma ideologia de sustentação e se engajarem na construção simbólica de identidades coletivas. • Ele recusa as explicações que os interpretam como expressões de extremismo, privação e violência e busca construir uma linha interpretativa que os caracteriza enquanto desafios coletivos baseados em objetivos comuns e solidariedade social numa interação sustentada com as elites, opositores e autoridade. • A sua definição se fundamenta em quatro determinações empíricas dos movimentos sociais: protesto coletivo, objetivo comum, solidariedade social e interação sustentada. Enfoque metodológico: as ações coletivas de confronto. • Teoria da ação coletiva como ponto de partida ➔ Aportes da sociologia e da ciência política ➔ Dados históricos concretos • As formas de confronto da ação coletiva associadas aos movimentos sociais são histórica e sociologicamente distintas. Têm poder porque desafiam os seus oponentes, despertam solidariedade e assumem significados em meio a determinados grupos da população, situações e culturas políticas. • Hipótese geral: agrupar a la gente en una acción colectiva coordinada en momentos estratégicos de la historia requiere una solución social, lo que llamaré la necesidad de solventar los costes sociales transaccionales de la acción colectiva. Esto supone la puesta en escena de desafíos colectivos, la concepción de objetivos comunes, la potenciación de la solidaridad y el mantenimiento de la acción colectiva; las propiedades básicas de los movimientos sociales (TARROW, 1996: 20-21). O desafio coletivo Provém da abordagem específica dos movimentos sociais, “eles preparam desafios contenciosos através da ação disruptiva direta contra elites, autoridades, outros grupos ou códigos culturais. Esta ruptura, quase sempre pública por natureza, pode assumir também a forma de resistência pessoal coordenada ou de afirmação coletiva de novos valores” (MELUCCI, 1996., apud. TARROW, 2009, p.21). ➔ Entretanto, não é a única forma de ação que vemos nos movimentos sociais. Esses – especialmente os organizados – recorrem a diversos tipos de ação. ➔ Ainda assim, para o autor, as ações mais características dos movimentos sociais continuam a ser os desafios contenciosos. Essa característica específica de sua ação coletiva não se deve a uma inclinação psicologicamente violenta dos líderes, mas “a falta de recursos estáveis – dinheiro, organização, acesso ao Estado – controlados pelos grupos de interesses e pelos partidos.” Propósito comum A razão mais básica para as pessoas se unirem para participar de movimentos é a organização de um conjunto de reivindicações comuns aos opositores, autoridades ou elites. Ele alerta que nem todos os conflitos deste tipo surgem de interesses de classe, “mas de interesses e valores comuns ou justapostos que são a base de suas ações comuns”. Salienta os riscos e custos envolvidos na ação coletiva de confronto, que só pode ser justificado por objetivos concretos. Solidariedade e identidade coletiva ➔ Questão de ser algo perceptível nas relações sociais e de identidade no interior daquela coletividade, ou seja, está além de uma categoria imposta pelo observador. Tarrow argumenta então que “o que traduz o potencial de ação de um movimento é o reconhecimento dos seus participantes de seus interesses comuns” (p.22). E continua, “ao mobilizar o consenso, os organizadores do movimento desempenham um papel importante na sua estimulação. Mas os líderes só podem criar um movimento social quando liberam os mais profundos sentimentos de solidariedade ou identidade. É nesse sentido que ele argumenta como historicamente o nacionalismo, a afiliação étnica e religiosa formarem bases mais sólidas para a ação do que os imperativos baseados em categorias objetivas, como a classe social. Sustentando o confronto político (diferenciador dos movimentos sociais de outras formas de confronto político) Para o autor, é apenas quando a ação coletiva contra antagonistas é sustentada no tempo que formas episódicas de confronto se torna um movimento social (p.23).➔ Objetivos comuns, identidades coletivas e desafios identificáveis aos setores dominantes são fatores fundamentais, mas sem um repertório de confronto sustentado no tempo eles se tornam episódios apenas episódicos de luta política. Oportunidade políticas como sugestões estruturadoras Mas, se os recursos são instáveis e a repressão do Estado também, como os movimentos sociais sustentam seus desafios coletivos? Em sua abordagem, o conceito de estrutura de oportunidades políticas é desenvolvido como resposta a esse problema dos teóricos da ação coletiva e dos movimentos sociais. Assim, “as mudanças nas oportunidades e nas restrições políticas criam os incentivos mais importantes para iniciar novas fases de confronto. Estas ações, por sua vez, criam novas oportunidades tanto para os insurgentes originais quanto para os retardatários e, eventualmente, para os opositores e detentores de poder. Os ciclos de confronto -e, em raros casos, as revoluções - que se seguem são baseados nas externalidades obtidas e criadas por esses atores. Os resultados de tais ondas de confronto dependem não só da justiça da causa ou do poder de persuasão de qualquer movimento singular, mas de sua extensão e das reações das elites e de outros grupos.” ➔ Centralidade das ideias de ciclos de confronto e da perspectiva analítica sempre presente de analisar o movimento social em relação a seus grupos antagônicos, as elites e o Estado (análise que privilegia o conflito social). ➔ No capítulo 9, ele vai demonstrar que uma vez iniciado os ciclos de confronto, “há uma redução dos custos da ação coletiva para outros atores e uma difusão dos quadros interpretativos principais e dos modelos de ativismo” (p.25). Confronto político e movimentos sociais (Capt. 1) • O autor retoma brevemente a produção teórica sobre os movimentos sociais, sobretudo as ideias presentes nos primeiros trabalhos para coloca-los em perspectiva com as principais linhas teóricas sobre esse objeto, a saber: a teoria do descontentamento – enquadradas por ele no escopo das contribuições de Marx e Engels -, teoria da mobilização de recursos – relacionada aos avanços de Lenin quanto ao aspecto organizativo - e a teoria do enquadramento interpretativo e das identidades coletivas – que ele relaciona com Gramsci. “O confronto político surge como uma reação a mudanças nas oportunidades e restrições políticas em que os participantes reagem a uma variedade de incentivos: materiais e ideológicos, partidários ou baseados no grupo, de longa duração ou episódicos.” ➔ Uso de repertórios conhecidos de ação (Charles Tilly). ➔ “Quando suas ações se baseiam em densas redes sociais e estruturas conectivas e recorrem a quadros culturais consensuais e orientados para a ação, elas podem sustentar essas ações no conflito com opositores poderosos. Em tais casos - e apenas em tais casos - estamos diante de um movimento social. Quando o confronto se espalha por toda uma sociedade, como às vezes acontece, vemos um ciclo de confrontos”. ➔ Os conflitos resultam dos fluxos e refluxos da luta política. Suas hipóteses de trabalho: “as pessoas se engajam em confrontos políticos quando mudam os padrões de oportunidades e restrições políticas e, então, empregando estrategicamente um repertório de ação coletiva, criam novas oportunidades que são usadas por outros, em ciclos mais amplos de confronto. Quando suas lutas giram em torno de grandes divisões na sociedade, quando reúnem pessoas em volta de símbolos culturais herdados e quando podem ampliar ou construir densas redes sociais e estruturas conectivas, então esses episódios de confronto resultam em interações sustentadas com opositores - especificamente, em movimentos sociais” (p.38). • Oportunidades e restrições políticas: “Entendo oportunidades políticas como dimensões consistentes - mas não necessariamente formais, permanentes ou racionais - da luta política que encorajam as pessoas a se engajar no confronto político. Entendo as restrições políticas como fatores - tal como a repressão, mas também algo semelhante à capacidade das autoridades de colocar barreiras sólidas aos insurgentes - que desencorajam o confronto.” ➔ Sua ideia de oportunidade política enfatiza os recursos externos ao grupo (a conjuntura política, por exemplo). Ele diz: “mesmo desafiantes fracos ou desorganizados podem tirar vantagens deles”. Aprofundando a sua análise, ele vai afirmar: “o confronto político surge quando cidadãos comuns, encorajados algumas vezes por contraelites ou líderes, reagem a oportunidades que diminuem os custos da ação coletiva, revelam aliados potenciais, mostram os pontos mais vulneráveis das elites e autoridades e conduzem redes sociais e identidades coletivas à ação em torno de temas comuns” (p.39). • O repertório do confronto: “O confronto político não nasce da cabeça dos organizadores, mas está culturalmente inscrito e é socialmente comunicado”. “Grupos particulares têm uma história particular - e memória - de formas de confronto. Os trabalhadores sabem como fazer greves porque gerações de trabalhadores as fizeram antes deles; os parisienses erguem barricadas porque as barricadas estão inscritas na história do confronto parisiense; os camponeses tomam terras portando símbolos que seus pais e avós usaram no passado. Os cientistas políticos Stuart Hill e Donald Rothchild colocam assim: Os indivíduos, baseados em períodos passados de conflito com um grupo particular ou com o governo, constroem um protótipo de protesto ou tumulto que descreve o que fazer em circunstâncias particulares e também oferece uma base lógica para esta ação (1992: 192 apud. TARROW, 2009: 40)” • Mobilização do consenso e identidades (abordagem conceitual dos quadros interpretativos) ➔ Conceitos para dar conta do arcabouço de legitimação e do potencial cultural à ação coletiva: quadros interpretativos; pacotes ideológicos e discursos culturais. ➔ Tarrow recupera uma série de autores interessados em perceber as disputas por hegemonia nos movimentos sociais (não é um conceito que ele usa). Assim, valendo-se de Benford e Snow (1988), ele diz: “esses estudiosos concordam que os movimentos fazem um apaixonado ‘trabalho de enquadramento interpretativo’: configurando tais descontentamentos como reivindicações mais amplas e vibrantes.” ➔ “O enquadramento interpretativo não se relaciona apenas à generalização dos descontentamentos, mas define o “nós" e “eles" na estrutura de conflito de um movimento. Utilizando identidades coletivas e moldando novas, os desafiantes estabelecem os limites de seus adeptos futuros e definem seus inimigos através de atributos e maldades reais ou imaginários (HARD1N, 1995, cap. 4 apud. TARROW, 2009: 41). ➔ Papel da mídia na hegemonia cultural da sociedade, que expõe os limites dos organizadores dos movimentos ao se engajarem no enquadramento interpretativo. • Estruturas de mobilização ➔ A importância da organização. Nesse ponto, Tarrow mobiliza a teoria de redes para defender a hipótese de que são os indivíduos em suas redes sociais densas e conexões amplas que potencializam a possibilidade à ação coletiva. Ou seja, ele demarca, apoiando-se em outros autores, a sua crítica conceitual e metodológica ao utilitarismo da esfera individual presente na tese de Mancur Olson (1965). ➔ Demarca o espaço das instituições como lugares de disputas por hegemonia e potenciais propiciadores às mobilizações. Ele dá o exemplo do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos e a sociabilidade das igrejas. Assim, ele recupera as hipóteses de trabalho e suas redes de conceitos e metodologias dizendo o seguinte: “os repertórios de confronto, redes sociais e quadros culturais diminuem os custos de se atrair pessoas para a ação coletiva, produz confiança de que não estão sozinhos e dá um sentido mais amplo às suas reivindicações.Juntos, esses fatores deflagram os processos dinâmicos que tomaram os movimentos sociais historicamente centrais na mudança política e social” (p.43). • A dinâmica do movimento: Se a ação coletiva é bem-sucedida as oportunidades políticas abertas produzem ciclos mais amplos de confronto, que se espalham dos ativistas para aqueles aos quais se opõem, para grupos de interesse comuns e partidos políticos e, inevitavelmente, para o Estado (p.43). ➔ “À medida que o ciclo se amplia, os movimentos criam oportunidades também para as elites e grupos de oposição. Formam-se alianças entre participantes e desafiantes; as elites de oposição exigem mudanças que antes pareceriam temerárias; as forças governamentais reagem através de reformas, repressão ou uma combinação das duas. A ampliação da lógica da ação coletiva conduz a resultados na esfera da política institucional, onde os desafiantes que começaram o ciclo têm cada vez menos controle sobre seus resultados” (p.44).
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