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Estrutura dos sólidos cristalinos 1 Introdução A maioria dos materiais de engenharia apresentam estrutura cristalina, ou seja, seus átomos estão dispostos de maneira regular, ordenada e repetitiva. De maneira geral, os metais apresentam estrutura relativamente simples, sendo três os tipos mais comuns. Por outro lado, os materiais cerâmicos apresentam estruturas relativamente complexas. Os materiais vítreos não apresentam estrutura atômica regular de longa distância e são considerados materiais não cristalinos. Já os materiais poliméricos apresentam estrutura intermediária entre os cerâmicos e os vítreos. Sua estrutura relativamente complexa faz com que sua cristalização seja fortemente dependente de sua história térmica. Uma das maneiras de se analisar a estrutura cristalina dos materiais é através da técnica de difração de raios X. Esta técnica consiste em avaliar os ângulos em que ocorrem difração de um feixe de raios X de comprimento de onda conhecido, determinando as distâncias interplanares dos planos atômicos ordenados. O conhecimento e o controle da estrutura dos materiais é fundamental para a compreensão e o controle de suas propriedades de engenharia. 2 Sete sistemas e 14 redes A estrutura cristalina tem como característica central sua forma regular e repetitiva. Para quantificar esta repetição, temos que determinar qual unidade estrutural é repetida. Por uma questão prática, geralmente haverá uma escolha mais simples para servir como unidade estrutural repetitiva. Essa escolha é conhecida como célula unitária. A principal característica de uma célula unitária é que ela representa a estrutura como um todo, pois a estrutura completa pode ser gerada pelo empilhamento repetitivo de células adjacentes, face à face, por todo espaço tridimensional. A partir da descrição das estruturas cristalinas por células unitárias, todas as estruturas possíveis se reduzem a sete sistemas de formas geométricas básicas, listadas na tabela 2.1. Partindo destes sete sistemas, levando em consideração a maneira como átomos podem ser arrumados periodicamente em uma rede tridimensional, tem-se um número limitado de possibilidades. Estas possibilidades de empilhamento periódico são conhecidas como as 14 redes de Bravais. Este arranjo periódico de átomos, ou grupo de átomos, gera uma rede de pontos com vizinhanças semelhantes no plano tridimensional. A tabela 2.1 apresenta as 14 estruturas possíveis. Tabela 2.1: Sete sistemas e 14 redes. Sistema Cúbico Simples Corpo Centrado Face Centrada Tetragonal Simples Corpo Centrado Ortorrombica Simples base centrada corpo centrado face centrada Monoclínica simples base centrada Triclínica Romboedrica Hexagonal = = Atividade sugerida: Recorte e cole os modelos das seguintes redes cristalinas: Figura 2.1: Rede cúbica 21 0 Figura 2.2: Rede tetragonal Figura 2.3: Rede ortorrômbica. Figura 2.4: Rede monoclinica Figura 2.5: Rede triclínica Figura 2.6: Rede hexagonal 3 Estruturas metálicas A maioria das estruturas de metais elementares a temperatura ambiente se encontram em uma das três estruturas que serão definidas a seguir. A primeira delas é a cúbica de corpo centrado, figura 3.1. Nesta estrutura temos um átomo em cada vértice e um átomo no centro do cubo. Estes átomos presentes no vértices são compartilhados por oito células adjacentes. Desta maneira, cada célula possui o equivalente a 1/8 de átomo por vértice e um átomo central, totalizando 2 átomos por célula unitária, o que representa um fator de empacotamento atômico (FEA) de 0,68. Este valor representa a fração volumétrica ocupada por átomos. O Fe, V, Cr, Mn e W são metais que apresentam a estrutura cúbica de corpo centrado Figura 3.1: Estrutura cúbica de corpo centrado onde a representa o parâmetro de rede e r o raio atômico. A segunda estrutura é a cúbica de face centrada. Esta estrutura apresenta um átomo em cada vértice e um átomo na posição central de cada aresta do cubo, figura 3.2. Os átomos de cada vértice são partilhados por oito células adjacentes, enquanto os átomos das arestas são partilhados por duas células adjacentes. Sendo assim, cada célula unitária possui 4 átomos e seu fator de empacotamento atômico é 0,74, a mais alta possível para empilhamento de esferas rígidas de mesmo tamanho. O Fe em alta temperatura, Al, Ni, Cu, Ag, Pt e Au apresentam esta estrutura. Figura 3.2: Estrutura cúbica de face centrada onde a é o parâmetro de rede, b a diagonal de uma das arestas e r o raio atômico. Finalmente, a rede hexagonal compacta é composta por seis átomos formando um hexágono nas faces superior e inferior envolvendo um átomo central. Entre as faces superior e inferior existe um plano contendo três átomos, figura 3.3. Desta maneira, em cada célula unitária os átomos dos vértices dos hexágonos são compartilhados entre seis células adjacentes. Os átomos que ocupam o centro dos hexágonos são compartilhados entre duas células adjacentes. Estes átomos compartilhados mais os três átomos do plano central totalizam seis átomos por célula unitária e um fator de empacotamento atômico de 0,74, o mesmo da cúbica de face centrada. O Zn, Mg e Ti são exemplos de metais que apresentam esta estrutura. Figura 3.3: Estrutura hexagonal compacta É importante salientar que em todas estas estruturas cristalinas, os átomos se tocam nos planos de maior densidade atômica. As estruturas cúbica de face centrada e hexagonal compacta apresentam o mesmo fator de empacotamento atômico. Ambas são formadas por empilhamento de planos atômicos compactos, porém a diferença está na sequência de empilhamento destas camadas. No arranjo CFC, a quarta camada se encontra alinhada com a primeira, enquanto na HC, a terceira se encontra alinhada com a primeira. A figura 3.4 apresenta como é esta diferença de empacotamento de planos Figura 3.4: Empacotamento de planos compactos em uma estrutura (b) hexagonal compacta e numa (c) cúbica de face centrada. 4 Estruturas cerâmicas A grande variedade de composições reflete na enorme variedade de estruturas cristalinas possíveis. Assim como foi definido para os metais um fator de empacotamento atômico, podemos definir um fator de empacotamento iônico para as cerâmicas. Este fator de empacotamento iônico é a fração volumétrica da célula unitária ocupada por íons. A estrutura cerâmica mais simples é a do cloreto de césio (CsCl). Podemos representar esta estrutura como duas redes cúbicas simples intercaladas, uma de íons Cs+ e outra de íons Cl-, figura 4.1. Figura 4.1: Modelo da estrutura do cloreto de césio. Outra estrutura cerâmica relativamente simples é a do NaCl. Podemos representar esta estrutura como duas estruturas CFC intercaladas, uma dos íons Na+ e outra do Cl-. Outros materiais cerâmicos importantes que apresentam a mesma estrutura são MgO, FeO, CaO e NiO, figura 4.2. Figura 4.2: Modelo da estrutura do cloreto de sódio. A fórmula química MX2 inclui uma série de estruturas cerâmicas importantes. A estrutura da fluorita (CaF2) apresenta íons de Ca2+ dispostos em uma célula cúbica de face centrada, enquanto os íons F- se localizam a 1/4 da diagonal desta célula, nos interstícios tetraédricos. As cerâmicas típicas com essa estrutura são o UO2, ThO2 e TeO2, figura 4.3. Figura 4.3: Modelo da estrutura fluorita. Ainda representando a simetria cubica, temos as estruturas do tipo perovskita (CaTiO3), de fórmula M'M”O3. Nesta estrutura, o Ca2+ ocupa os vértices do cubo, o O2- ocupa a posição central das faces e o Ti4+ a posiçãocentral do cubo, figura 4.4. Figura 4.4: Modelo de estrutura perovskita, as esferas vermelhas representam ânions de oxigênio, azul claro representam cátions de cálcio e azul escuro representam cátions de titânio. A SiO2 forma tetraedros cujo arranjo ordenado forma estruturas complexas. Um exemplo é a estrutura da cristobalita em que os tetraedros de SiO44- ocupam cada ponto de uma rede de Bravais do tipo CFC. Existem 24 átomos por célula unitária. O Al2O3 é um dos compostos cerâmicos mais importantes. Esta estrutura apresenta uma rede de Bravais romboédrica. Existem 30 sítios atômicos por célula unitária, divididos em 12 Al3+ e 18 O2-, respeitando a fórmula geral Al2O3, figura 4.5. Figura 4.5: Modelo de estrutura da alumina. Existem diversas outras estruturas cerâmicas complexas, como a do espinélio (MgAlO4) que contém 56 posições atômicas por célula unitária e a dos argilo minerais, que apresentam estrutura de silicatos em folha, semelhantes à cartas empilhadas em um baralho, o que lhes confere grande plasticidade ao serem hidratados. Finalmente, como exemplo típico de como a estrutura afeta diversas propriedades, temos a estrutura do grafite e do diamante. Ambos são formados por átomos de C. O grafite apresenta estrutura hexagonal em placas, com ligações covalentes entre os hexágonos e forças de van der Waals unindo as placas, o que explica sua natureza frágil e seu uso como lubrificante seco. O diamante, por outro lado, apresenta estrutura cúbica em que todos os átomos de C estão ligados por ligações covalentes. A figura 4.6 apresenta as estruturas do carbono. Figura 4.6: Estruturas do carbono Os materiais como Si, Ge e Sn apresentam estrutura cúbica do diamante. 5 Estruturas poliméricas As longas cadeias moleculares dos materiais poliméricos torna desfavorável o arranjo ordenado e repetitivo de seus átomos. Por este motivo, boa parte dos polímeros comerciais é não cristalina. De maneira geral, como as cadeias possuem diversos nanômetros de comprimento enquanto as regiões cristalinas apresentam algumas dezenas de nanômetros, as cadeias precisam se dobrar, em um modelo conhecido como miscela franjada, figura 5.1. Figura 5.1: Modelo cristalino da miscela franjada. 6 Posições na rede, direções e planos Existem algumas regras básicas para se descrever a geometria em e ao redor de células unitárias. As posições na rede cristalina são expressas como coordenadas de pontos de frações ou múltiplos de células unitárias. A figura 6.1 apresenta uma célula unitária genérica com as coordenadas indicando as posições na célula. Figura 6.1: Posições de pontos em (a) um plano cartesiano e (b) em uma célula unitária. As direções na rede cristalina são sempre expressas em números inteiros dentro de colchetes []. Quando a direção se move para o eixo negativo, a notação precisa indicar este movimento, com uma barra sobre o número inteiro. A figura 6.2 ilustra as direções em uma rede cristalina genérica. Figura 6.2: Direções cristalinas Notam-se que as direções [110] e [110] são bastante semelhantes. Ambas são diagonais da base de uma célula unitária. Se examinarmos todas as diagonais de um sistema cúbico, notaremos que são idênticas, desta maneira, a direção [111] pode se tornar [111] ou [111] dependendo da escolha da posição de origem e da orientação dos eixos cristalográficos. Esse conjunto de direções, que são estruturalmente idênticas, é chamado de família de direções e é designado por <> ao invés de []. Como exemplo temos: <111>= [111], [111], [111], [111], [111], [111], [111], [111] A figura 6.3 ilustra esta família de direções. Figura 6.3: Família de direções <111> O ângulo entre as direções e a densidade linear, ou seja, o número de átomos contidos em uma direção, é de fundamental importância na compreensão das propriedades mecânicas dos materiais. A notação de planos também é feita por números inteiros contidos entre parenteses (). A notação indica o inverso da posição que o plano intercepta a rede. Na figura 6.4 têm- se na primeira imagem um plano interceptando os pontos x=1, y=1 e z=1, tomando-se o inverso destas posições têm-se h=1/1, k=1/1 e l=1/1 e portanto o plano indicado é o (111). No caso da segunda imagem, têm-se um plano que intercepta os eixos x=1/2, y=1/2 e z=1 e portanto o plano indicado é ( 112 1 1 2 1 1 ) ou (221). Figura 6.4: Definição dos índices de Miller de planos cristalográficos. Assim como existem direções estruturalmente equivalentes, podemos agrupar planos estruturalmente equivalentes em famílias de planos, figura 6.5, com a seguinte notação: {111}= (100), (010), (001), (100), (010), (001) Assim como a densidade linear, a densidade planar também influencia as propriedades mecânicas dos materiais. Figura 6.5: Demonstração de planos em uma rede cúbica. 7 Difração de raios X A técnica de difração de raios X é utilizada para se determinar a estrutura cristalina e parâmetros de rede. A difração é o resultado da radiação por um conjunto regular de centros de difusão cujo espaçamento é da ordem do comprimento de onda de radiação. A rede atômica regular atua como centro de difração como apresentado na figura 7.1. A partir do ângulo do feixe refratado, pode-se determinar a distância interplanar d, utilizando a lei de Bragg: nλ=2d senθ (1) em que n é um número inteiro, λ o comprimento de onda, d o espaçamento interplanar e θ o ângulo de difração. Figura 7.1: Difração de um feixe de raios X em um plano cristalino O espaçamento interplanar é função dos índices de Miller do plano. No caso de estruturas cúbicas o espaçamento entre planos (hkl) adjacentes é: dhkl= a √h2+k2+l2 (2) onde a é o parâmetro de rede, ou seja, o tamanho da aresta do cubo. Para formas mais complexas, a relação da distância interplanar e o parâmetro de rede é mais complicada, como por exemplo, para um sistema hexagonal: dhkl= a √ 43 (h2+hk+k2)+l2( a2c2 ) (3) onde a e c são os parâmetros de rede de uma estrutura hexagonal. 8 Considerações finais Existe uma gama de possibilidades de arranjos atômicos regulares no estado sólido. Desde estruturas simples como a dos metais a estruturas complexas como a dos materiais poliméricos. Normalmente, materiais contendo elementos de liga, dopantes ou impurezas apresentam estruturas semelhantes a dos materiais base puros, com algumas distorções na rede. Uma ferramenta importante para se determinar as características destes arranjos atômicos ordenados e regulares é a técnica de difração de raios X. 1 Introdução 2 Sete sistemas e 14 redes 3 Estruturas metálicas 4 Estruturas cerâmicas 5 Estruturas poliméricas 6 Posições na rede, direções e planos 7 Difração de raios X 8 Considerações finais
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