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Tribunal de Justiça de Minas Gerais 1.0024.12.037071-3/002Número do 0370713-Númeração Des.(a) Luiz Carlos Gomes da MataRelator: Des.(a) Luiz Carlos Gomes da MataRelator do Acordão: 27/08/2015Data do Julgamento: 04/09/2015Data da Publicação: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO. CONTRATO BANCÁRIO. JUROS COMPOSTOS. ANATOCISMO. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. COBRANÇA DE JUROS. ABUSIVIDADE. MÉDIA DE MERCADO. DISCREPÂNCIA. ÔNUS DA PROVA. DEVEDOR. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CONTRATO SUJEITO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. VALIDADE. CUMULAÇÃO COM ENCARGOS DA MORA. IMPOSSIBILIDADE. TAXA CONTRATADA. BV FINANCEIRA. INTERPRETAÇÃO. TARIFA DE CADASTRO. LICITUDE. MATÉRIA PACIFICADA NO STJ. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. MÁ FÉ NÃO CARACTERIZADA. DESCABIMENTO. COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. APLICAÇÃO DA SÚMULA 306. ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO STJ. - Em se tratando de juros compostos, calculados de acordo com as taxas anuais efetivas previstas no contrato, a decomposição feita para cálculo da parcela mensal fixa a ser paga para quitação do principal e dos juros não importa em cobrança de juros sobre juros caracterizadora da prática de anatocismo. - "A mera circunstância de estar pactuada taxa efetiva e taxa nominal de juros não implica capitalização de juros, mas apenas processo de formação da taxa de juros pelo método composto, o que não é proibido pelo Decreto 22.626/1933" (RECURSO ESPECIAL Nº 973.827 - RS). - Os juros remuneratórios do contrato bancário podem ser reduzidos quando constatada a abusividade da cobrança, que se caracteriza pela discrepância com as taxas médias praticadas pelo mercado, de acordo com precedentes do Colendo Superior Tribunal de Justiça (v.g.: STJ - REsp 1036818 / RS - Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI - DJe 20/06/2008; e REsp 591.484/RS, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 24.10.2006, DJ 11.12.2006 p. 362). - Cabe ao autor da ação de revisão do contrato bancário o ônus de 1 Tribunal de Justiça de Minas Gerais provar a discrepância dos juros cobrados com as taxas médias praticadas pelo mercado (artigo 333, inciso I, Código de Processo Civil). - O Colendo Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que é válida a contratação de comissão de permanência, mesmo nos contratos bancários sujeitos às regras do Código de Defesa do Consumidor, em julgamento de recurso repetitivo (art. 543, §7º, CPC). - A cobrança de comissão de permanência não pode ser cumulada com a cobrança de juros e multa moratórios, conforme entendimento consolidado no Colendo Superior Tribunal de Justiça (v.g.: AgRg no REsp 1015148 / RS). - Como a interpretação das cláusulas do contrato de adesão se faz de forma mais favorável ao aderente, deve ser tida como anual a taxa de comissão de permanência estipulada em 12% (doze por cento) em cédula de crédito bancário que não indica a periodicidade (mensal/anual) a ela aplicável. - De acordo com decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recurso representativo de controvérsia (Recurso Especial nº 1.251.331, DJe 24.10.2013), a cobrança de tarifa de cadastro devidamente contrata é legítima, guardando correspondência com serviços necessários à operação de crédito. - A aplicação da sanção prevista no parágrafo único, do artigo 42, do CDC, somente ocorre quando verificadas três situações: a cobrança indevida, o pagamento em excesso e a não ocorrência de engano justificável. - De acordo com a orientação jurisprudencial emanada pela Corte Especial do Colendo Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de um recurso representativo de controvérsia (REsp 963.528/PR), "a Lei nº 8.906/94 assegura ao advogado a titularidade da verba honorária incluída na condenação, sendo certo que a previsão, contida no Código de Processo Civil, de compensação dos honorários na hipótese de sucumbência recíproca, não colide com a referida norma do Estatuto da Advocacia. É a ¿ratio essendi' da Súmula 306 do Supremo Tribunal de Justiça". APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.12.037071-3/002 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S) : ARLINDO ANDRE COELHO - APELADO(A)(S): BV FINANCEIRA S/A CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO A C Ó R D Ã O 2 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Vistos etc., acorda, em Turma, a 13ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, por maioria, em NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO. DES. LUIZ CARLOS GOMES DA MATA RELATOR. DES. LUIZ CARLOS GOMES DA MATA (RELATOR) V O T O Versa o presente embate sobre recurso de apelação, interposto por ARLINDO ANDRÉ COELHO, em razão da sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, Dr. Paulo Roberto Maia Alves Ferreira, que, em ação de revisão de contrato bancário, julgou parcialmente procedente o pedido inicial para afastar a incidência da multa de 2% (dois por cento) no caso de mora e permitir a cobrança da comissão de permanência à taxa média de mercado, limitada ao somatório dos encargos contratados. Condenou a parte requerida a restituir o autor, de forma simples, o que cobrou indevidamente a tal título. Condenou as partes no pagamento das custas processuais e honorários fixados em 10% (dez por cento) do valor da condenação, na proporção de 65% (sessenta por cento) ao autor e 35% (trinta e cinco por cento) para a requerida, autorizando a compensação dos honorários nos termos da Súmula 306 do Superior Tribunal de Justiça. 3 Tribunal de Justiça de Minas Gerais O apelante afirma ser abusiva a cobrança das tarifas de cadastro, registro do contrato, inserção de gravame, avaliação de bens e serviços de terceiros; alega que a taxa de juros contratados discrepa da média de mercado, pelo que pede a sua limitação; sustenta ser ilícita a capitalização de juros; entende que a comissão de permanência deve ser substituída pela correção monetária pelo INPC e, subsidiariamente, defende que tal encargo não poder ser cumulado com outros próprios da mora; pede a restituição, em dobro, do que pagou indevidamente; ao final, insurge-se contra a compensação dos honorários de sucumbência. O preparo do recurso não foi comprovado, eis que a parte litiga sob os auspícios da justiça gratuita (fl. 44). Contrarrazões da parte contrária às fls. 171/23, pugnando pelo desprovimento do recurso. É o relatório. DECIDO: Conheço do recurso, eis que presentes todas as condições de admissibilidade. A propósito da vedação legal à capitalização mensal de juros, 4 Tribunal de Justiça de Minas Gerais venho aplicando o entendimento consubstanciado na Súmula nº 121 do Excelso Supremo Tribunal Federal, que tem o seguinte teor: É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada. Como é cediço, a discussão que desaguou na edição da referida súmula diz respeito à pratica do anatocismo, que consiste na capitalização de juros, vencendo novos juros. É a contagem de juros sobre juros já produzidos pelo capital empregado. (in, Novo Dicionário Jurídico Brasileiro, do jurista José Náufel). Ou ainda, de acordo com a doutrina de Orlando Gomes (Contratos, Forense, 16ª ed., p. 321): não permite a lei que se adicionem os juros ao capital para o efeito de se contarem novos juros. Em suma, não é permitido contar juros de juros. Proíbe-se, numa palavra, o 'anatocismo'. Em se tratando de juros compostos, calculados de acordo com as taxas anuais efetivas previstas no contrato, a decomposição feita para cálculo da parcela mensal fixa a ser paga para quitação do principal e dos juros não importa em cobrança de juros sobre juros. É evidente que cada parcela paga quita em primeiro lugar os juros vencidos, amortizando no que sobejar o capital, nos termos do Código Civil Brasileiro, verbis: 5 Tribunalde Justiça de Minas Gerais Art. 993 - Havendo capital e juros vencidos, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e, depois, no capital, salvo estipulação em contrario, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Ora, quitados os juros vencidos mediante o pagamento de cada parcela não se pode falar em capitalização de juros sobre juros. O que existe é apenas um plano de pagamento, mediante a decomposição dos juros efetivamente contratados em taxas anuais. No mesmo sentido do que venho decidindo, cito outra decisão deste Tribunal: AÇÃO ANULATÓRIA DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO - INEXISTÊNCIA DE VÍCIO DO CONSENTIMENTO - AJUSTE COM PRESTAÇÕES PRÉ- FIXADAS - CAPITALIZAÇÃO MENSAL INEXISTENTE - INCLUSÃO DO NOME EM CADASTROS RESTRITIVOS DE CRÉDITO - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO.- Considerando que o anatocismo consiste na cobrança de juros sobre juros vencidos e não pagos, resta descaracterizada a capitalização, no tocante aos contratos de empréstimo cujo pagamento do débito foi avençado com anuência do consumidor, em parcelas mensais pré- fixadas. Os juros compostos correspondem à remuneração do capital inerente ao contrato, e foram distribuídos em 24 parcelas fixas, inexistindo capitalização periódica, ante a ausência de variação do valor das prestações. - A negativação do nome de consumidor inadimplente configura exercício regular do direito do credor e, por conseqüência, não enseja a reparação de ordem moral. (TJMG - APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0024.05.692862-5/002 6 Tribunal de Justiça de Minas Gerais - RELATOR: EXMO. SR. DES. OSMANDO ALMEIDA - DJ 17.12.2010). Por tal razão é que sempre entendi inexistir anatocismo em tais casos, não vendo sentido em se admitir a sua presença apenas em razão da taxa efetiva anual ser superior à multiplicação por 12(doze) da taxa nominal de juros ajustada. O tema foi abordado pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial n.º 973.827-RS (DJ 24.09.2012), que no mesmo sentido do que eu vinha afirmando, assentou: CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AÇÕES REVISIONAL E DE BUSCA E APREENSÃO CONVERTIDA EM DEPÓSITO. C O N T R A T O D E F I N A N C I A M E N T O C O M G A R A N T I A D E ALIENAÇÃOFIDUCIÁRIA. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS COMPOSTOS. DECRETO 22.626/1933 MEDIDA PROVISÓRIA 2.170- 36/2001. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. MORA. CARACTERIZAÇÃO. 1. A capitalização de juros vedada pelo Decreto 22.626/1933 (Lei de Usura) em intervalo inferior a um ano e permitida pela Medida Provisória 2.170- 36/2001, desde que expressamente pactuada, tem por pressuposto a circunstância de os juros devidos e já vencidos serem, periodicamente, incorporados ao valor principal. Os juros não pagos são incorporados ao capital e sobre eles passam a incidir novos juros. 2. Por outro lado, há os conceitos abstratos, de matemática financeira, de "taxa de juros simples" e "taxa de juros compostos", métodos usados na formação da taxa de juros contratada, prévios ao início do cumprimento do contrato. A mera circunstância de estar pactuada taxa efetiva e taxa nominal de juros não implica capitalização de 7 Tribunal de Justiça de Minas Gerais juros, mas apenas processo de formação da taxa de juros pelo método composto, o que não é proibido pelo Decreto 22.626/1933. 3. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada." - "A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada". 4. Segundo o entendimento pacificado na 2ª Seção, a comissão de permanência não pode ser cumulada com quaisquer outros encargos remuneratórios ou moratórios. 5. É lícita a cobrança dos encargos da mora quando caracterizado o estado de inadimplência, que decorre da falta de demonstração da abusividade das cláusulas contratuais questionadas. 6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, provido. (RECURSO ESPECIAL Nº 973.827 - RS - Rel. p/ o acórdão MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI - Dje 24.09.2012). Assim, entendo que não há no contrato sub judice a capitalização mensal de juros que caracteriza anatocismo, pelo que desprovejo o recurso nesta parte. A propósito da limitação dos juros remuneratórios, quando do 8 Tribunal de Justiça de Minas Gerais julgamento da Apelação Cível n.º 1.0702.03.049951-2/001, manifestei o entendimento de que a redução dos juros remuneratórios contratados somente é cabível quando demonstrado, pelo devedor, que as taxas cobradas estão acima dos patamares médios do mercado, caracterizando a abusividade que é óbice ao direito do credor de cobrar a taxa pactuada. É que o Colendo Superior Tribunal de Justiça vem admitindo que seja feita a redução dos juros remuneratórios contratados, quando constatada a abusividade na cobrança feita em taxa muito acima do patamar médio de mercado para a operação, v.g. in: PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. EMPRÉSTIMO PESSOAL. JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE. CONSTATAÇÃO. LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. - Cabalmente demonstrada pelas instâncias ordinárias a abusividade da taxa de juros remuneratórios cobrada, deve ser feita sua redução ao patamar médio praticado pelo mercado para a respectiva modalidade contratual. - Não se configura o dissídio jurisprudencial se ausentes as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. Art. 541, parágrafo único, do CPC e art. 255, caput e parágrafos, do RISTJ. Recurso especial não conhecido (STJ - REsp 1036818 / RS - Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI - DJe 20/06/2008). Cito outro precedente: 9 Tribunal de Justiça de Minas Gerais R E C U R S O E S P E C I A L . A Ç Ã O D E C O B R A N Ç A . J U R O S REMUNERATÓRIOS. TAXA PACTUADA EM 55% A.M. ANTES DO PLANO REAL. ABUSIVIDADE. REDUÇÃO À TAXA DE MERCADO PARA O PERÍODO POSTERIOR. PRECEDENTES. - Reconhecida, na origem, a abusividade da cobrança da taxa de juros remuneratórios de 55% ao mês no período posterior ao Plano Real, os juros não ficam limitados em 12% ao ano, mas à taxa média de mercado, segundo a espécie da operação, apurada pelo Banco Central do Brasil. Precedentes. - Recurso conhecido e provido." (REsp 591.484/RS, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 24.10.2006, DJ 11.12.2006 p. 362). Assim, cabe ao autor provar a discrepância dos juros cobrados com as taxas médias praticadas pelo mercado (artigo 333, inciso I, Código de Processo Civil), ônus do qual não se desincumbiu. A propósito da previsão de incidência de comissão de permanência sobre as parcelas inadimplidas no prazo previsto no contrato, aplico o entendimento consubstanciado na Súmula 294 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, verbis: "Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato". Quando do julgamento do Recurso Especial nº 1.058.114-RS, realizado em parte sob a sistemática do artigo 543, §7º, do Código de Processo Civil (recursos repetitivos), o Colendo Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que é válida a contratação de comissão de permanência, mesmo nos contratos bancários sujeitos às regras do Código de Defesa do Consumidor: 10 Tribunal de Justiça de Minas Gerais DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS SUJEITOS AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA BOA-FÉOBJETIVA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. VALIDADE DA CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES. DECOTE DOS EXCESSOS. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDIGO CIVIL ALEMÃO. ARTIGO 170 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. 1. O princípio da boa-fé objetiva se aplica a todos os partícipes da relação obrigacional, inclusive daquela originada de relação de consumo. No que diz respeito ao devedor, a expectativa é a de que cumpra, no vencimento, a sua prestação. 2. Nos contratos bancários sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor, é válida a cláusula que institui comissão de permanência para viger após o vencimento da dívida. 3. A importância cobrada a título de comissão de permanência não poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média de mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e c) multa contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do art. 52, § 1º, do CDC. 4. Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de comissão de permanência, deverá o juiz decotá-los, preservando, tanto quanto possível, a vontade das partes manifestada na celebração do contrato, em homenagem ao princípio da conservação dos negócios jurídicos consagrado nos arts. 139 e 140 do Código Civil alemão e reproduzido no art. 170 do Código Civil brasileiro. 5. A decretação de nulidade de cláusula contratual é medida excepcional, somente adotada se impossível o seu aproveitamento. 11 Tribunal de Justiça de Minas Gerais (RECURSO ESPECIAL Nº 1.058.114 - RS - Rel. p/ o acórdão MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA - DJe: 16/11/2010 - grifei) Então, nada obsta a contratação de comissão de permanência pelas partes, cumprindo verificar, tão somente, se a importância cobrada a tal título está de acordo com o instituto. Como a finalidade da comissão de permanência é a manutenção do conteúdo econômico do negócio, por via da continuidade da cobrança dos juros remuneratórios, além de desestimular a mora, através dos juros moratórios, e reprimir o inadimplemento, mediante a aplicação da multa contratual, não pode ser estipulada mediante taxa que supere o valor de tais encargos, conforme entendimento exposto no item 3 da ementa acima transcrita. E pela mesma razão não pode ser cumulada com os encargos moratórios já contemplados na sua estipulação, de forma a caracterizar um bis in idem. Verifico que a disposição contratual em revisão (cláusula 16, f. 34-v) autoriza a cumulação da comissão de permanência contratada com outros encargos próprios da mora, prática que entendo ilícita, porque representa uma cobrança em duplicidade. É que a sua natureza já importa no somatório dos juros remuneratórios, dos juros moratórios e da multa contratual, conforme acima expus. Em recente decisão, o Colendo Superior Tribunal de Justiça deixa bem claro que tal cumulação é vedada, ao firmar que, com o vencimento da obrigação, o devedor responderá exclusivamente pela comissão de permanência ajustada. Confira-se: 12 Tribunal de Justiça de Minas Gerais AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. SÚMULA N. 182/STJ. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CUMULAÇÃO COM DEMAIS ENCARGOS DE MORA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 83/STJ. 1. "É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada" (Súmula n. 182/STJ). 2. Quando a parte, no agravo regimental, não apresenta argumentos aptos a modificar a decisão agravada, mantém-se o julgado por seus próprios fundamentos. 3. Com o vencimento do mútuo bancário, o devedor responderá exclusivamente pela comissão de permanência (assim entendida como juros remuneratórios à taxa média de mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de normalidade, acrescidos de juros de mora e de multa contratual) sem cumulação com correção monetária (Recursos Especiais repetitivos n. 1.063.343/RS e 1.058.114/RS). Súmula n. 472/STJ. 4. Agravo regimental parcialmente conhecido e desprovido. (AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 345.540 - DF - Rel. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA - DJe: 15/04/2014 - grifei). Formo convicção, diante de tais razões, no sentido de afirmar ser lícita a contratação da comissão de permanência, desde que em taxa que não supere o somatório das taxas dos juros remuneratórios e moratórios e da multa, não sendo possível a sua cumulação com tais encargos, nem com correção monetária (Súmula 30 do STJ). 13 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Além disso, noto que no campo próprio da taxa de comissão de permanência (item 6) há apenas o percentual aplicável (12%), sem a indicação da periodicidade (mensal ou anual) a ser observada no cálculo pro rata die previsto na disposição contratual em questão (cláusula 16). Por se tratar de um típico contrato de adesão, cujas cláusulas devem ser interpretadas de forma mais favorável ao aderente, tenho como anual a taxa de comissão de permanência estipulada em 12% (doze por cento) na cédula de crédito bancário, que não indica a periodicidade a ela aplicável. Assim, no presente caso, entendo lícita a cobrança de comissão de permanência à taxa de 12% (doze por cento) ao ano, a ser calculada pro-rata -die, sem óbice à sua cumulação com os demais encargos moratórios contratados, já que o somatório deles não extrapola o somatório dos juros remuneratórios contratados, com os juros de mora de 1% ao mês e multa de 2%, conforme a orientação jurisprudencial acima indicada. No entanto, deixo de aplicar meu entendimento em atenção ao princípio que veda a reformatio in pejus. E por tudo acima explicitado, não vejo motivos para substituir a comissão de permanência pela correção monetária, conforme apuração do INPC. 14 Tribunal de Justiça de Minas Gerais A propósito da cobrança de tarifa cadastro, curvo-me à orientação emanada pelo Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de recurso representativo de controvérsia, sob a sistemática do artigo 543-C, do Código de Processo Civil, como se pode ver: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DIVERGÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS COMPOSTOS. MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36/2001. RECURSOS REPETITIVOS. CPC, ART. 543-C. TARIFAS ADMINISTRATIVAS PARA ABERTURA DE CRÉDITO (TAC), E EMISSÃO DE CARNÊ (TEC). EXPRESSA PREVISÃO CONTRATUAL. COBRANÇA. LEGITIMIDADE. PRECEDENTES. MÚTUO ACESSÓRIO PARA PAGAMENTO PARCELADO DO IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS (IOF). POSSIBILIDADE. 1. "A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada" (2ª Seção, REsp 973.827/RS, julgado na forma do art. 543-C do CPC, acórdão de minha relatoria, DJe de 24.9.2012). 2. Nos termos dos arts. 4º e 9º da Lei 4.595/1964, recebida pela Constituição como lei complementar, compete ao Conselho Monetário Nacional dispor sobre taxa de juros e sobre a remuneração dos serviços bancários, e ao Banco Central do Brasil fazer cumprir as normas expedidas pelo CMN. 3. Ao tempo da Resolução CMN 2.303/1996, a orientação estatal quanto à cobrança de tarifas pelas instituições financeiras era essencialmente não intervencionista, vale dizer, "a regulamentação facultava às instituições financeiras a cobrança pela prestação de quaisquer tipos de serviços, com exceção daqueles que a norma definia como básicos, desde que fossem efetivamente contratados e prestados ao cliente, assim como respeitassem os procedimentos 15 Tribunal de Justiça de Minas Geraisvoltados a assegurar a transparência da política de preços adotada pela instituição." 4. Com o início da vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pelo Banco Central do Brasil. 5. A Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e a Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) não foram previstas na Tabela anexa à Circular BACEN 3.371/2007 e atos normativos que a sucederam, de forma que não mais é válida sua pactuação em contratos posteriores a 30.4.2008. 6. A cobrança de tais tarifas (TAC e TEC) é permitida, portanto, se baseada em contratos celebrados até 30.4.2008, ressalvado abuso devidamente comprovado caso a caso, por meio da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do magistrado. 7. Permanece legítima a estipulação da Tarifa de Cadastro, a qual remunera o serviço de "realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao inicio de relacionamento decorrente da abertura de conta de depósito à vista ou de poupança ou contratação de operação de crédito ou de arrendamento mercantil, não podendo ser cobrada cumulativamente" (Tabela anexa à vigente Resolução CMN 3.919/2010, com a redação dada pela Resolução 4.021/2011). 8. É lícito aos contratantes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. 9. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: 16 Tribunal de Justiça de Minas Gerais - 1ª Tese: Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. - 3ª Tese: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. 10. Recurso especial parcialmente provido. (STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 1.251.331 - RS - Rel. MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI - DJe: 24/10/2013 - grifei). Dessa forma, lícita a cobrança do referido encargo, desprovejo o recurso nesta parte. Em relação aos serviços de terceiros, da detida análise que fiz do contrato (fls. 34/35), não vislumbrei a cobrança do referido encargo. Cabia a parte fazer prova da alegada cobrança, nos termos do artigo 333, inciso I do Código de Processo Civil, ônus do qual não se desincumbiu, pelo que desprovejo o recurso neste tópico. Desprovejo o recurso, ainda, no que tange às tarifas de registro do 17 Tribunal de Justiça de Minas Gerais contrato, avaliação de bens e inserção de gravame eletrônico, pois, da detida análise que fiz da inicial, não vislumbrei pedido nesse sentido, o que configura patente inovação recursal, vedada em nosso ordenameno jurídico. A teor do que dispõem os artigos 515, 516 e 517 do Código de Processo Civil, apenas as questões suscitadas e discutidas no processo podem ser conhecidas na apelação. A propósito da restituição em dobro, a exegese que faço da disposição do parágrafo único, do artigo 42, do Código de Defesa do Consumidor, conduz à conclusão de que a obrigação de restituir em dobro, nele prevista, somente ocorre quando verificadas três situações: a cobrança indevida, o pagamento em excesso e a não ocorrência de engano justificável. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, instância máxima de interpretação das normais infraconstitucionais, vem confirmando a indispensabilidade de configuração da má-fé do credor, o que se materializa sempre que presentes os requisitos que acima indiquei. Confira-se, in verbis: CONTRATO BANCÁRIO. JUROS REMUNERATÓRIOS. NÃO LIMITAÇÃO. SÚMULA 596/STF. REPETIÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ. - Os juros remuneratórios não sofrem as limitações da Lei de Usura. - Quem recebe pagamento indevido deve restitui-lo para obviar o enriquecimento indevido. - Não incide a sanção do Art. 42, do CDC, quando o encargo considerado indevido é objeto de controvérsia jurisprudencial e não está configurada a má-fé do credor." (AgRg no REsp 856.486/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 9/10/2006 - grifei). Deste Egrégio Tribunal colho jurisprudência com interpretação do dispositivo que é consentânea com o meu entendimento, v.g. in: DIREITO CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - EMPRESA DE TELEFONIA - ACESSO A LINHA DE TELEFONIA CELULAR - 18 Tribunal de Justiça de Minas Gerais CLONAGEM - COBRANÇAS INDEVIDAS EM VALORES EXPRESSIVOS - CULPA - PROVA DO DANO MORAL - PRESCINDIBILIDADE - PRESUNÇÃO DE OCORRÊNCIA - VALOR DA INDENIZAÇÃO - CRITÉRIOS DE ESTABELECIMENTO - REPETIÇÃO DE INDÉBITO - PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 42 DO CDC - NÃO APLICAÇÃO. I - Age com culpa a prestadora de serviços de telefonia móvel que remete faturas de uma linha de acesso que fora clonada e que mesmo diante das reclamações do consumidor ignora a sua má prestação de serviços e reluta em reconhecer o defeito narrado pelo cliente. II - Presume-se o dano moral sofrido pelo consumidor que recebe cobranças indevidamente por serviços não utilizados cujos valores, somados, ultrapassam em mais de 1.000% a média do que era regularmente consumido mês a mês. III - A indenização por danos morais deve cumprir o duplo escopo de punir o ofensor, desestimulando-o da prática futura de atos semelhantes, bem como de compensar a vítima pelo sofrimento, sem, contudo, acarretar um enriquecimento ilícito desta última. IV - Para que a punição prevista no parágrafo único do artigo 42 do CDC incida no caso concreto, é necessário o preenchimento de dois requisitos, a cobrança indevida e o pagamento, ausente um deles incabível a aplicação de referida penalidade. (TJMG - AC n.º 1.0024.06.104846-8/001 - Rel. Desembargador ADILSON LAMOUNIER - DJ 22/02/2008- grifei). E mais: APELAÇÃO CÍVEL - REPETIÇÃO DE INDÉBITO - INDENIZAÇÃO - DESCONTOS NÃO AUTORIZADOS - INSTITUIÇÃO BANCÁRIA - INCIDÊNCIA DAS TAXAS DE MERCADO - IMPOSSIBILIDADE - DEVOLUÇÃO EM DOBRO - MÁ-FÉ CARACTERIZADA - DANO MORAL - AUSÊNCIA Devem ser restituídos os valores lançados a débito em conta- corrente, pela instituição financeira, sem previsão contratual ou autorização do correntista, bem assim a repercussão dos débitos nas taxas cobradas pela utilização do cheque especial. Não encontra amparo legal a pretensão de que o montante a ser restituído seja atualizado com as mesmas taxas aplicadas pelas instituições financeiras no mercado. Comprovada a má-fé do réu, que efetuava os 19 Tribunal de Justiça de Minas Gerais descontos premeditadamente, deve ser aplicado o disposto no art.42, parágrafo único, do CDC, e devolvido em dobro o valor injustamente desviado. Não configura dano moral o mero aborrecimento decorrente da cobrança indevida. (TJMG - AC n.º 2.0000.00.496055-4/000- Rel. Desembargador LUCIANO PINTO - DJ 10/11/2005 - grifei). No caso, como a parte acreditava estar amparada por disposição contratual válida, somente declarada nula quando da prolação da sentença, descarto a má fé que autorizaria a condenação da restituição em dobro. Em relação à compensação dos honorários de sucumbência, o meu posicionamento sempre foi no sentido de que não seria possível, por dupla razão: a primeira, porque os honorários advocatícios pertencem aos advogados, a teor do que dispõe o artigo 23 da Lei 8.096/94, o que afasta a aplicação do artigo 21, caput, do Código de Processo Civil; a segunda, porque se está suspensa a exigibilidade da cobrança dos honorários advocatícios que a autora da ação deve suportar, em razão da assistência judiciária que lhe foi deferida, no momento não há o que se compensar. Com efeito, a compensação somente tem cabimento "entre dívidas líquidas e vencidas", a teor do que dispõe o artigo 369 do Código Civil, que não é cabível quando a dívida a ser compensada está com a sua exigibilidade suspensa. Dívida vencida é aquela que pode ser executada. Entretanto, quando do julgamento do recurso representativo de controvérsia acima indicado, o Colendo Superior Tribunal de Justiça 20 Tribunal de Justiça de Minas Gerais entende que a norma prevista no Estatuto da Advocacia não colide com a disposição do Código de Processo Civil que determina a compensação dos honorários, como se pode ver: PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. COMPENSAÇÃO. SÚMULA 306 DO STJ. TRIBUTÁRIO. MULTA FISCAL. REDUÇÃO. ALEGADO EFEITO CONFISCATÓRIO. SÚMULA 284 DO STJ. INAPLICABILIDADE DO CDC. DÉBITOS TRIBUTÁRIOS. MULTA MORATÓRIA. ART. 17 DO DECRETO 3.342/00. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO C. STF.1. "Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte." (Súmula 306, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/11/2004, DJ 22/11/2004) 2. O Código de Processo Civil, quanto aos honorários advocatícios, dispõe, como regra geral, que: "Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria." "Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas." 3. A seu turno, o Estatuto da OAB - Lei 8.906/94, estabelece que, in verbis: "Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência." "Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor." "Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial. (omissis) § 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou coletiva que retire do 21 Tribunal de Justiça de Minas Gerais advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência." 4. A Lei nº 8.906/94 assegura ao advogado a titularidade da verba honorária incluída na condenação, sendo certo que a previsão, contida no Código de Processo Civil, de compensação dos honorários na hipótese de sucumbência recíproca, não colide com a referida norma do Estatuto da Advocacia. É a ratio essendi da Súmula 306 do STJ. (Precedentes: AgRg no REsp 620.264/SC, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), QUARTA TURMA, julgado em 15/10/2009, DJe 26/10/2009; REsp 1114799/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/10/2009, DJe 28/10/2009; REsp 916.447/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 12/08/2008, DJe 29/09/2008; AgRg no REsp 1000796/BA, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 19/08/2008, DJe 13/10/2008; AgRg no REsp 823.990/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/09/2007, DJ 15/10/2007; REsp 668.610/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/03/2006, DJ 03/04/2006) 5. "O artigo 23 da Lei nº 8.906, de 1994, não revogou o art. 21 do Código de Processo Civil. Em havendo sucumbência recíproca e saldo em favor de uma das partes é assegurado o direito autônomo do advogado de executar o saldo da verba advocatícia do qual o seu cliente é beneficiário." (REsp nº 290.141/RS, Relator o Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, DJU de 31/3/2003) 6. A redução da multa moratória para o percentual máximo de 2% (dois por cento), nos termos do que dispõe o art. 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, nesta parte alterado pela Lei nº 9.298/96, aplica-se às relações de consumo, de natureza contratual, atinentes ao direito privado, não incidindo sobre as sanções tributárias, que estão sujeitas à legislação própria de direito público. (Precedentes: REsp 904.651/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/11/2008, DJe 18/02/2009; REsp 897.088/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2008, DJe 08/10/2008; AgRg no Ag 1026229/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/06/2008, DJe 27/06/2008; REsp 665.320/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/02/2008, DJe 03/03/2008) 7. A incidência da Súmula 22 Tribunal de Justiça de Minas Gerais 284 do STF ('É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia') revela-se inarredável, acarretando a inadmissibilidade do recurso especial, quando o recorrente não aponta os dispositivos de lei supostamente violados, sequer desenvolvendo argumentação hábil à compreensão da controvérsia, como ocorre in casu, em relação ao alegado efeito confiscatório da multa imposta pelo Fisco. 8. O requisito do prequestionamento é indispensável, por isso que inviável a apreciação, em sede de recurso especial, de matéria sobre a qual não se pronunciou o Tribunal de origem, incidindo, por analogia, o óbice das Súmulas 282 e 356 do STF. 9. In casu, o art. 17, do Decreto 3.342/00, não foi objeto de análise pelo acórdão recorrido, nem sequer foram opostos embargos declaratórios com a finalidade de prequestioná-lo, razão pela qual impõe-se óbice intransponível ao conhecimento do recurso quanto ao aludido dispositivo. 10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008. (RECURSO ESPECIAL Nº 963.528 - PR - Rel. MINISTRO LUIZ FUX - DJe: 04/02/2010). Portanto, ressalvado o meu ponto de vista pessoal a propósito da questão, em não sendo possível demonstrar a superação do entendimento nela manifestado (overruling), ou a inaplicabilidade do entendimento ao caso (distinguishing), adoto a orientação jurisprudencial do Colendo Superior Tribunal de Justiça sobre o tema. Feitas tais considerações, NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO, mantendo intacta a sentença combatida. Custas do recurso, pelo apelante, suspensa a exigibilidade. 23 Tribunal de Justiça de Minas Gerais É o voto. DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA Peço vênia ao em. Relator, Des. Luiz Carlos Gomes da Mata, para dele divergir, mas apenas quanto aos fundamentos expendidos na solução da questão relativaà capitalização de juros, bem como quanto ao desfecho dado à questão relativa à cobrança da comissão de permanência. No que tange a capitalização de juros, diversamente do que entendeu S. Exa., data venia, constata-se, pela análise do contrato (folhas 34/35vº), a prática de capitalização de juros, em razão da divergência entre a taxa de juros mensal (1,43%) e a taxa de juros anual (26,19%) lançadas no referido contrato, cumprindo observar que a taxa de juros anual supera a soma de 12 vezes da taxa de juros mensal, isto que, segundo entendimento pacificado pelo STJ no julgamento do Resp 973827, já é o bastante para configurar expressa previsão da cobrança de juros capitalizados. Ademais, a cláusula 13 prevê expressamente a cobrança de juros capitalizados. E tenho manifestado entendimento no sentido de que, a partir da edição pelo Governo Federal da Medida Provisória nº 1.963-17, de 31 24 Tribunal de Justiça de Minas Gerais de março de 2000, reeditada sob o nº 2.170-36/2001 e que teve eficácia garantida pelo art. 2° da Emenda Constitucional n° 32, é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano, mas desde que expressamente pactuada. Esse entendimento já foi pacificado pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial nº 973.827-RS, submetido ao rito do art. 543-C do CPC: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados até 31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada. Nesse mesmo julgamento foi fixada a seguinte tese: A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada e forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. Assim, não se vislumbra, no presente caso, qualquer ilegalidade na capitalização de juros, visto que, repita-se, convencionada. Com relação à comissão de permanência, ao contrário do 25 Tribunal de Justiça de Minas Gerais entendimento externado por S. Exa. em seu voto, tenho que é possível a sua cobrança com juros moratórios e multa, desde que a referida comissão de permanência seja limitada à taxa média de mercado dos juros remuneratórios (não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de normalidade da operação), os juros moratórios sejam limitados a 12% ao ano, e a multa seja limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do art. 52, § 1º, do CDC. O Colendo STJ, que tem a última palavra em questão de natureza infraconstitucional, consoante a norma disposta no art. 105 da Constituição Federal, no julgamento do Recurso Especial de n° 1.058.114/RS, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, já pacificou de vez a questão, de forma a não ser mais possível qualquer discussão sobre a matéria, tendo também sobre o assunto editado a Súmula n° 472. Veja-se: DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS SUJEITOS AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. VALIDADE DA CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES. DECOTE DOS EXCESSOS. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDIGO CIVIL ALEMÃO. ARTIGO 170 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. 1. O princípio da boa-fé objetiva se aplica a todos os partícipes da relação obrigacional, inclusive daquela originada de relação de consumo. No que diz respeito ao devedor, a expectativa é a de que cumpra, no vencimento, a sua prestação. 2. Nos contratos bancários sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor, é válida a cláusula que institui comissão de permanência para viger após o vencimento da dívida. 3. A importância cobrada a título de comissão de permanência não poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média 26 Tribunal de Justiça de Minas Gerais de mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e c) multa contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do art. 52, § 1º, do CDC. 4. Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de comissão de permanência, deverá o juiz decotá-los, preservando, tanto quanto possível, a vontade das partes manifestada na celebração do contrato, em homenagem ao princípio da conservação dos negócios jurídicos consagrado nos arts. 139 e 140 do Código Civil alemão e reproduzido no art. 170 do Código Civil brasileiro. 5. A decretação de nulidade de cláusula contratual é medida excepcional, somente adotada se impossível o seu aproveitamento. 6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (STJ, REsp 1058114/RS, Ministra NANCY ANDRIGUI, Segunda Seção, julgamento em 12/08/2009, DJe 16/11/2010. Súmula 472 STJ: A comissão de permanência - cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato - exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual. Como visto, restou assentado naquele Colendo Tribunal Superior que a importância cobrada a título de comissão de permanência não poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média de mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e c) multa contratual limitada a 2% do valor da 27 Tribunal de Justiça de Minas Gerais prestação, nos termos do art. 52, § 1º, do CDC. Com efeito, a denominada comissão de permanência, de incidência decorrente da inadimplência, e que pela sua natureza já compreende juros remuneratórios, moratórios e multa, não pode superar a soma de tais encargos, sendo a sua cobrança permitida se prevista no contrato; não pode ser cobrada cumulativamente com esses mesmos encargos e/ou com correção monetária, como não raramente se vê. Proíbe-se, pois, o bis in idem. Nesse sentido, seguindo citada orientação do STJ, os seguintes julgados deste Egrégio Tribunal de Justiça: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO - PRIMEIRO RECURSO - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS - PREVISÃO CONTRATUAL - LEGALIDADE - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - POSSIBILIDADE - REPETIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO - AUSÊNCIA DE DOLO - INDEVIDA - SEGUNDO RECURSO - RESOLUÇÃO 642/2010 - AUSÊNCIA DO RECIBO ELETRÔNICO DE POSTAGEM - INADMISSÍVEL - NÃO CONHECIMENTO - MEDIDA QUE SE IMPÕE. - A capitalização mensal de juros é possível, em cédula de crédito bancário, desde que pactuada, nos termos do art. 28, §1º, I, da Lei 10.931/2004. -Em recentíssimo julgamento de matéria de Recursos Repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que, desde que pactuada, a comissão de permanência poderá ser cobrada (limitada à taxa do contrato), com juros moratórios de 12% ao ano e multa moratória (esta limitada a 2% quando versar relação de consumo). - Se não houve com dolo ao cobrar encargos abusivos, não há falar em repetição em dobro do indébito. - Nos termos do art. 6º, II, da Resolução 642/2010, na hipótese de protocolo postal, é indispensável à juntada do recibo eletrônico de postagem, para se aferir, com segurança, a tempestividade do recurso, sob pena de desconsideração, para todos os efeitos legais, das petições ou documentos recebidos por 28 Tribunal de Justiça de Minas Gerais intermédio do Serviço de Protocolo Postal, conforme determina o art. 9º, da Referida Resolução. Assim, diante da ausência do recibo eletrônico de postagem, o segundo recurso é inadmissível, o que impõe o seu não conhecimento. (Apelação Cível nº 1.0525.12.004163-3/002,Relator Des. Luciano Pinto, 17ª Câmara Cível, julgamento em 05/12/2013, publicação da súmula em 17/12/2013) EMENTA: INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. CDC. APLICABILIDADE.COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LIMITAÇÃO. I - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras, ut Súmula 297, STJ. II - "A cobrança de comissão de permanência - cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato - exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual" (Súmula 472, STJ). III - O que se proíbe não é a cumulação nominal (comissão de permanência + juros de mora; comissão de permanência + juros de mora + multa); o que se proíbe é o excesso e o bis in idem. Em outras palavras, o que deve ser observado é se o que está sendo cobrado no período de inadimplemento contratual supera ou não o percentual dos juros remuneratórios contratados somados aos juros moratórios e à multa eventualmente contratada. (Apelação Cível nº 1.0702.12.043580-6/002, Relator Des. Mota e Silva, 18ª Câmara Cível, julgamento em 17/12/2013, publicação em 19/12/2013) Verifica-se, dessa forma, que a cobrança vedada no período de inadimplência é aquela que excede a soma dos encargos remuneratórios e moratórios. Estando a cobrança nesses limites é admitida, conforme mencionada jurisprudência do Colendo STJ. 29 Tribunal de Justiça de Minas Gerais No caso dos autos, porém, verifica-se que o contrato celebrado entre as partes (folhas 34/35), prevê a cobrança da comissão de permanência (item 16, II c/c item 6), no percentual abusivo de 12% ao mês, muito superior à taxa dos juros remuneratórios contratados (1,43% a.m.), além de multa moratória de 2% (item 16, I). Desse modo, a solução correta para a questão discutida nos autos a respeito da cobrança da comissão de permanência é determinar a sua limitação ao percentual de 1,43% a.m. previsto no contrato para os juros remuneratórios (que in casu não ultrapassa a taxa média de mercado), e ao percentual de 2% sobre a parcela em atraso, também previsto no contrato a título de multa moratória para o caso de inadimplência, não se havendo de falar em correção monetária pelo índice de variação do INPC. Com tais considerações, dou parcial provimento ao recurso, mas apenas para limitar a cobrança da comissão de permanência ao somatório do percentual de 1,43% previsto no contrato para os juros remuneratórios (que, in casu, está dentro dos parâmetros da taxa média de mercado), com a multa moratória (limitada a 2% do valor da prestação) também prevista no contrato para o caso de inadimplência. DES. ALBERTO HENRIQUE - De acordo com o(a) Relator(a). 30 Tribunal de Justiça de Minas Gerais SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO, VENCIDO EM PARTE O REVISOR" 31
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