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AN02FREV001/REV 4.0 30 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO ELEITORAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 31 CURSO DE DIREITO ELEITORAL MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 32 MÓDULO II 2 JUSTIÇA E PROCESSO ELEITORAL 2.1 JUSTIÇA ELEITORAL A justiça eleitoral brasileira teve uma grande ligação com a revolução de 1930, pois a proposta dessa revolução foi moralizar o sistema eleitoral, daí, o primeiro passo do governo (Getúlio Vargas) foi criar uma comissão de reforma da legislação eleitoral, através do Decreto nº 19.546 de 1930. Essa reforma só foi concluída em 1932, quando a Justiça Eleitoral do Brasil foi criada pelo Decreto n° 21.076\32. Surgindo assim, o sistema eleitoral judiciário. O nosso primeiro Código Eleitoral de 1932, conhecido como carta de alforria do povo brasileiro, surgiu como resposta aos anseios da população por segurança e lisura no processo eleitoral. Até então sequer o sigilo do voto estava garantido, bem como o voto feminino ainda era vedado. Veio então, restabelecer a esperança do povo em realizar um sonho, que era de conhecer as urnas. Dessa forma, o Código Eleitoral de 1932 criou e organizou a Justiça Eleitoral, além de prever diversas disposições a respeito das eleições e seu desenvolvimento. Mas foi com a Constituição Federal de 1934 que a Justiça Eleitoral alcançou o status constitucional, permanecendo no sistema constitucional brasileiro desde então sofrendo apenas uma infeliz interrupção na ocasião do Estado Novo em 1937, retornando pelo Decreto-lei n° 7.586 em 1945, passando a ser prevista na Constituição de 1946 e em todas as demais. A Justiça Eleitoral possui em seu quadro funcionários próprios e funcionários de outros órgãos que atuam de maneira provisória, mas todos os seus julgadores não são do seu quadro funcional permanente, ou seja, seus julgadores não correspondem aos quadros efetivos da Justiça eleitoral, sendo, de acordo com cada AN02FREV001/REV 4.0 33 órgão, provenientes de outras searas, Em suma, embora a justiça eleitoral tenha quadro de funcionários permanente, seus julgadores são sempre provisórios (temporários), provenientes de outros órgãos. Há uma Justiça Eleitoral no Brasil que atua por meio de seu órgão de cúpula, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), pelos juízes eleitorais e pelas Juntas Eleitorais, conforme o art. 118 da CF, a atuação de cada um depende de seu âmbito de competência. São órgãos da Justiça Eleitoral: TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com sede na Capital da República e Jurisdição em todo o país. TRE (Tribunal Regional Eleitoral) na Capital de cada Estado e no Distrito Federal. Juntas Eleitorais Juízes Eleitorais 2.1.1 Competência do TSE A competência do TSE é definida pelo art. 22 do Código Eleitoral. Cabendo a ele processar e julgar: O registro e a cassação de registro de partidos políticos, dos seus diretórios nacionais e de candidatos à presidência e vice-presidência da República; Os conflitos de jurisdição entre tribunais Regionais e juízes eleitorais de estados diferentes; A suspeição ou impedimento aos seus membros, ao Procurador Geral e aos funcionários da sua Secretaria; Os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos cometidos pelos seus próprios juízes e pelos juízes dos Tribunais Regionais; AN02FREV001/REV 4.0 34 As reclamações relativas a obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e à apuração da origem dos seus recursos; As impugnações à apuração do resultado geral, proclamação dos eleitos e expedição de diploma na eleição de Presidente e Vice-Presidente da República; Os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos nos Tribunais Regionais dentro de trinta dias da conclusão ao relator, formulados por partido, candidato, Ministério Público ou parte legitimamente interessada; As reclamações contra os seus próprios juízes que, no prazo de trinta dias a contar da conclusão, não houverem julgado os feitos a eles distribuídos; A ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte dias de decisão irrecorrível, possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até o seu trânsito em julgado. E ainda, julgar os recursos interpostos das decisões dos Tribunais Regionais nos termos do Art. 276 inclusive os que versarem sobre matéria administrativa. 2.1.2 Atribuições do TSE As atribuições do TSE estão previstas no art. 23 do Código Eleitoral, das quais se destacam a de expedir instruções convenientes à execução do Código Eleitoral e responder a consultas sobre a matéria eleitoral, como veremos a seguir: Elaborar o seu regimento interno; Organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Geral, propondo ao Congresso Nacional a criação ou extinção dos cargos administrativos e a fixação dos respectivos vencimentos, provendo-os na forma da lei; Conceder aos seus membros licença e férias, assim como afastamento do exercício dos cargos efetivos; Aprovar o afastamento do exercício dos cargos efetivos dos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais; AN02FREV001/REV 4.0 35 Propor a criação de Tribunal Regional na sede de qualquer dos Territórios; Propor ao Poder Legislativo o aumento do número dos juízes de qualquer Tribunal Eleitoral, indicando a forma desse aumento; Fixar as datas para as eleições de Presidente e Vice-Presidente da República, senadores e deputados federais, quando não o tiverem sido por lei: Aprovar a divisão dos Estados em zonas eleitorais ou a criação de novas zonas; Expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste Código; Fixar a diária do Corregedor Geral, dos Corregedores Regionais e auxiliares em diligência fora da sede; Enviar ao Presidente da República a lista tríplice organizada pelos Tribunais de Justiça nos termos do ar. 25; Responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdição, federal ou órgão nacional de partido político; Autorizar a contagem dos votos pelas mesas receptoras nos Estados em que essa providência for solicitada pelo Tribunal Regional respectivo; Requisitar a força federal necessária ao cumprimento da lei, de suas próprias decisões ou das decisões dos Tribunais Regionais que o solicitarem, e para garantir a votação e a apuração; Organizar e divulgar a Súmula de sua jurisprudência; Requisitar funcionários da União e do Distrito Federal quando o exigir o acúmulo ocasional do serviço de sua Secretaria; Publicar um boletim eleitoral; Tomar quaisquer outras providências que julgar convenientes à execução da legislação eleitoral. Assim como o TSE, os TREs possuem membros efetivos e substitutos que são eleitos por voto secreto e oriundos de classes distintas. Outra semelhança com o TSE é que os cargos de presidente e vice do tribunal Regional Eleitoral são privativos dos desembargadores, sendo eleitos pelo próprio TRE, mas dentre aqueles provenientes da categoria dos desembargadores AN02FREV001/REV 4.0 36 do Tribunal de Justiça que tomaram posse como juiz do TRE, conforme art. 120, § 2°, da CF. 2.1.3 Competência do TRE A competência do TRE é definida pelo art. 29 do Código Eleitoral. Cabendo a ele, processar e julgar: O registro e o cancelamento do registro dos diretórios estaduais e municipais de partidos políticos, bem como de candidatos a governador, Vice- Governadores e membros do Congresso nacional e das Assembleias legislativas; Os conflitos de jurisdição entre juízes eleitorais do respectivo Estado; A suspeição ou impedimentos aos seus membros, ao Procurador-geral e aos funcionários da sua Secretaria, assim como aos juízes e escrivães eleitorais; Os crimes eleitorais cometidos pelos juízes eleitorais; O habeas corpus ou mandado de segurança, em matéria eleitoral, contra ato de autoridades que respondam perante os Tribunais de Justiça por crime de responsabilidade e, em grau de recurso, os denegados ou concedidos pelos juízes eleitorais; ou, ainda, o habeas corpus quando houver perigo de se consumar a violência antes que o juiz competente possa prover sobre a impetração; As reclamações relativas a obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e à apuração da origem dos seus recursos; Os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos nos Tribunais regionais dentro de trinta dias da sua conclusão ao relator, formulados por partido, candidato, Ministério Público ou parte legitimamente interessada; E ainda, julgar os recursos interpostos dos atos e das decisões proferidas pelos juízes e Juntas Eleitorais e das decisões dos juízes eleitorais que concederem ou denegarem habeas corpus ou mandado de segurança. AN02FREV001/REV 4.0 37 Juízes Eleitorais são os juízes de direito estaduais que exercem essa função. Eles são investidos dessa nova função por um prazo de dois anos, prorrogáveis por igual período. Sua competência encontra-se no art. 35 do Código Eleitoral. As Juntas Eleitorais também constituem órgão da Justiça Eleitoral. Os membros dessas Juntas Eleitorais serão nomeados 60 dias antes da eleição, depois de aprovação do TRE, por meio de seu presidente. As competências das Juntas Eleitorais estão previstas no art. 40 do Código Eleitoral. 2.1.4 Atribuições do TRE O art. 30 do Código Eleitoral traz diversas atribuições ao TRE, das quais se destacam a de elaborar o seu regimento interno; constituir as Juntas Eleitorais e designar a respectiva sede de jurisdição e a de responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político, como veremos a seguir: Elaborar o seu regimento interno; Organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Regional provendo-lhes os cargos na forma da lei, e propor ao Congresso Nacional, por intermédio do Tribunal Superior a criação ou supressão de cargos e a fixação dos respectivos vencimentos; Conceder aos seus membros e aos juízes eleitorais licença e férias, assim como afastamento do exercício dos cargos efetivos submetendo, quanto aqueles, a decisão à aprovação do Tribunal Superior Eleitoral; Fixar a data das eleições de Governador e Vice-Governador, Deputados Estaduais, Prefeitos, Vice-Prefeitos, Vereadores e Juízes de paz, quando não determinada por disposição constitucional ou legal; AN02FREV001/REV 4.0 38 Constituir as juntas eleitorais e designar a respectiva sede e jurisdição; Indicar ao tribunal Superior às zonas eleitorais ou seções em que a contagem dos votos deva ser feita pela mesa receptora; Apurar com os resultados parciais enviados pelas juntas eleitorais, os resultados finais das eleições de Governador e Vice-Governador de membros do Congresso Nacional e expedir os respectivos diplomas, remetendo dentro do prazo de 10 dias, após a diplomação, ao Tribunal Superior, cópia das atas de seus trabalhos; Responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político; Dividir a respectiva circunscrição em zonas eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação de novas zonas, à aprovação do Tribunal Superior; Aprovar a designação do Ofício de Justiça que deva responder pela escrivania eleitoral durante o biênio; Requisitar a força necessária ao cumprimento de suas decisões solicitar ao Tribunal Superior a requisição de força federal; Autorizar, no Distrito Federal e nas capitais dos Estados, ao seu presidente e, no interior, aos juízes eleitorais, a requisição de funcionários federais, estaduais ou municipais para auxiliarem os escrivães eleitorais, quando exigir o acúmulo ocasional do serviço; Requisitar funcionários da União e, ainda, no Distrito Federal e em cada Estado ou Território, funcionários dos respectivos quadros administrativos, no caso de acúmulo ocasional de serviço de suas Secretarias; Aplicar as penas disciplinares de advertência e de suspensão até 30 (trinta) dias aos juízes eleitorais; Cumprir e fazer cumprir as decisões e instruções do Tribunal Superior; Determinar, em caso de urgência, providências para a execução da lei na respectiva circunscrição; Organizar o fichário dos eleitores do Estado; AN02FREV001/REV 4.0 39 Suprimir os mapas parciais de apuração mandando utilizar apenas os boletins e os mapas totalizadores, desde que o menor número de candidatos às eleições proporcionais justifique a supressão. 2.2 FUNÇÕES DA JUSTIÇA ELEITORAL Função Consultiva De regra, o Judiciário se manifesta diante dos fatos, analisando uma questão e decidindo sobre ela, excepcionalmente à Justiça Eleitoral foi concedida a função consultiva, autorizando a emissão de respostas em consultas hipotéticas e abstratas. É um mecanismo singular que pretende ampliar a transparência e segurança das questões eleitorais. Os artigos 23, XI e 30, VIII do Código Eleitoral autorizam as respostas dessas consultas tanto pelo TSE quanto pelos TREs, elencando os requisitos para cada uma. Consultas ao TSE - Pergunta em tese, isso quer dizer, a pergunta não se refere a um caso concreto, é na verdade um caso hipotético, abstrato. A consulta deve ser solicitada por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de partido político. Consultas aos TREs – Pergunta em tese, isso quer dizer, a pergunta não se refere a um caso concreto, é na verdade um caso hipotético, abstrato. A consulta deve ser solicitada por autoridade pública ou partido político. Dessa forma, tanto o TSE como os TREs, detêm atribuições para responder as consultas, conforme o Código Eleitoral. As consultas não possuem efeito vinculante, isso quer dizer que o resultado delas não obriga o Tribunal, que respondeu de determinada maneira decidir AN02FREV001/REV 4.0 40 igualmente diante de um caso concreto. Mas as consultas são úteis para revelar o entendimento do tribunal naquela ocasião e orientar os atos do consulente e demais interessados. Função Normativa Um dos aspectos que distingue a Justiça Eleitoral de suas congêneres é a função normativa que lhe foi atribuída pelo legislador. Apesar de a Constituição Federal não prever essa função, ela consta no art. 1°, § único, e do art. 23 IX, ambos do Código Eleitoral. Art. 1º Este Código contém normas destinadas a assegurar a organização e o exercício de direitos políticos precipuamente os de votar e ser votado. Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral expedirá Instruções para sua fiel execução. Art. 23 IX Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior: IX - expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste Código. Assim, as Resoluções expedidas pelo TSE ostentam força de lei. Ter força de lei, não é o mesmo que lei. O ter força, aí, significa gozar do mesmo prestígio, deter a mesma eficácia geral e abstrata atribuída às leis. Mas estas são hierarquicamente superiores às resoluções pretorianas. Impera no sistema pátrio o princípio de legalidade, conforme o art. 5°, II da CF: “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. Reconhece-se, todavia, que as resoluções do TSE são importantes para a operacionalização do direito eleitoral, sobretudo, das eleições, porquanto solidificam a copiosa legislação em vigor. Com isso, proporciona-se mais segurança e transparência na atuação dos operadores desse importante ramo do direito. Função Jurisdicional A função jurisdicional caracteriza-se pela solução imperativa, em caráter definitivo, dos conflitos intersubjetivos submetidos ao Estado-juiz, havendo AN02FREV001/REV 4.0 41 substituição da vontade estatal pela dos contendores. Dessa forma, a Justiça Eleitoral também possui a mais elementar das funções do Judiciário, a função jurisdicional, embora essa seja a função mais comum e que no Poder Judiciário ocupa quase a totalidade do desempenho das funções, como ocorre na Justiça Estadual, Federal, seja na primeira ou segunda instância. Aqui na Justiça Eleitoral também é uma função de extrema importância, mas ocupa apenas parcela de suas numerosas atividades. Para Jose Jairo Gomes: “A finalidade da jurisdição é fazer atuar o direito em casos concretos, no que contribui para a pacificação do meio social”. (GOMES, 2011, p. 62.) Assim, toda vez que a Justiça Eleitoral for submetida à contenda, exercitará sua função jurisdicional, aplicando o direito à espécie tratada. É isso que ocorre nas decisões que imponham multa pela realização de propaganda eleitoral ilícita, que decretem inelegibilidade na ação de investigação judicial eleitoral (AIJE), que cassem o registro e diploma nas ações fundadas nos artigos 30-A; 41-A e 73 da Lei n° 9.504/97. Assim, sempre que houver conflitos de interesses, que reclame decisão do órgão judicial para ser solucionado, está-se à diante de exercício de função jurisdicional. A função jurisdicional pode ter origem em procedimento administrativo que, em razão da superveniência de conflito, converte-se em judicial. Um exemplo dessa situação é possível ocorrer na transferência de domicílio eleitoral, pois se sabe que esse procedimento possui natureza administrativa. Todavia, se deferida à transferência pleiteada dentro do lapso dos dez dias qualquer delegado de partido político poderá recorrer ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), impugnando a decisão com o argumento de que o requerente não possui domicílio na circunscrição. De tal modo, surge o conflito de interesses, a ser solvido pelo órgão da Justiça Eleitoral, cuja atividade deixa de ser administrativa e passa a ser jurisdicional. Portanto, pela função jurisdicional a Justiça Eleitoral realiza os julgamentos dos conflitos. A função jurisdicional se diferencia por diversos pontos da função consultiva, dentre eles destacamos que nesta se debruça sobre casos concretos ao passo que AN02FREV001/REV 4.0 42 naquela, nas consultas, necessariamente devem se referir a casos abstratos, hipotéticos. Outro ponto que merece destaque é à força da decisão judicial que vincula as partes. Função Administrativa Por esta função a Justiça Eleitoral desempenha seu papel fundamental como gestora do processo eleitoral, isto é, cabe a ela promover as eleições atuando em todas as etapas do processo eleitoral, como na administração do cadastro de eleitores, nos atos de alistamento e de transferência eleitoral, na revisão do conjunto do eleitorado, na designação de locais de votação, na criação das seções eleitorais, na criação das zonas eleitorais, na nomeação, convocação, organização e auxílio de mesários, na apuração e julgamento dos procedimentos individuais de cancelamento dos eleitores. 2.3 PROCESSO ELEITORAL O processo eleitoral (procedimento das eleições), segundo o TSE, consiste em um conjunto de atos que abrange a preparação e a realização das eleições, incluindo a apuração dos votos e a diplomação dos eleitos. De acordo com José Jairo Gomes, em sentido amplo, processo eleitoral: Significa a complexa relação que se instaura entre Justiça Eleitoral, candidatos, partidos políticos, coligações, Ministério Público e cidadãos com vistas à concretização do sacrossanto direito de sufrágio e escolha, legítima, dos ocupantes dos cargos público-eletivos em disputa. (GOMES, 2011, p. 2008.) O procedimento, acima, reflete o intricado caminho que se percorre para a concretização das eleições, desde a efetivação das convenções pelas agremiações políticas até a diplomação dos eleitos. O processo eleitoral, portanto, inicia-se com as convenções partidárias e termina com o ato da diplomação, embora antes e depois desses marcos haja atos AN02FREV001/REV 4.0 43 de extrema importância para o processo eleitoral, como é o caso do requisito da filiação partidária e do domicílio eleitoral, exigidos já um ano antes do pleito e de ato de posse após a diplomação. 2.4 DIPLOMAÇÃO Os candidatos eleitos, assim como os suplentes, receberão diploma assinado pelo Presidente do Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral, conforme o caso. O diploma deverá constar o nome do candidato, a indicação da legenda sob a qual concorreu, o cargo para o qual foi eleito ou a sua classificação como suplente, e, facultativamente, outros dados a critério do juiz ou do Tribunal. 2.5 DIREITO PROCESSUAL ELEITORAL A expressão processo eleitoral adquire um significado polissêmico, quando se pensa em toda a vastidão de seu emprego e importância no cenário do Direito Eleitoral. Em primeira fonte, temos que o processo eleitoral se exterioriza pelo vínculo estabelecido entre os diversos sujeitos envolvidos na materialização do direito de sufrágio, que se dá por intermédio das eleições, isto é, formado pelas relações entre eleitores, candidatos, agremiações partidárias, Poder Judiciário Eleitoral, Ministério Público Eleitoral, integrantes de mesas receptoras de votos. Enfim, todos os componentes da grandiosa estrutura que se ergue para a concretização da finalidade eleitoral. Essa visão ampla do processo eleitoral é a aglutinação de todos os sentidos da expressão a partir de elementos compartimentados, o que autoriza concluir por um cenário de caráter administrativo e jurisdicional, partindo-se de um parâmetro de atuação da Justiça eleitoral nos dois âmbitos propostos. AN02FREV001/REV 4.0 44 Além disso, no caráter jurisdicional haverá acentuações de processo eleitoral cível (impugnação de mandato eletivo, investigação judicial eleitoral, etc.) e processo eleitoral criminal (ações penais). As particularidades das áreas que se vinculam à temática eleitoral irão estabelecer os princípios, diretrizes e normas subsidiárias que serão empregadas em casuísmos que exijam a interação entre as diversas disciplinas, como, por exemplo, a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil ou do Código de Processo Penal. O direito processual eleitoral é o conjunto jurídico normativo que trata do procedimento para solicitar a Justiça Eleitoral à resolução de um conflito eleitoral, dispondo as regras sobre o ingresso de ações e recursos judiciais. Isto é, o direito processual eleitoral aborda os instrumentos previstos para coibir as práticas de irregularidades eleitorais, por meio de procedimentos, ações e recursos. O Brasil não dispõe de um código de processo eleitoral como ocorre com o Código de Processo Penal e do Código de Processo Civil, por exemplo. Mas prevê o processo eleitoral pela legislação esparsa. 2.6 CRIME ELEITORAL De acordo com Suzana de Camargo Gomes: Os crimes eleitorais consistem em condutas delituosas que podem se revelar nas mais diferentes formas, indo desde aquelas que conspurcam a inscrição dos eleitores, a filiação a partidos políticos, o registro de candidatos, a propaganda eleitoral, a votação, até aquelas que violam a apuração dos resultados e diplomação dos eleitos. (GOMES, 2000, p. 25) Portanto, crime eleitoral é o resultado de toda ação ou omissão reprovável descrita no Código Eleitoral, isto é, crimes eleitorais são todas as condutas praticadas durante o processo eleitoral e que, por atingirem ou desonrarem o direito ao voto, a lei as reprime, implicando aos seus autores penas como detenção, reclusão ou pagamento de multa. AN02FREV001/REV 4.0 45 Há crimes eleitorais previstos no Código Eleitoral, na Lei Complementar n° 64/90 e na Lei Geral das Eleições (Lei n° 9.504/97), dentre outras. Recente controvérsia envolveu o crime de corrupção eleitoral tipificado no art. 299 do CE e o art. 41-A da Lei n° 9.504/97. O art. 299 do CE tipifica criminalmente o crime de corrupção eleitoral, assim tipificado: Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita: Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa. Não se trata de crime de mão própria, pois a vantagem pode ser prometida por qualquer pessoa em nome do candidato (HC 1423.54.2011.6.09.0000). A pena é de prisão e multa. A realização de promessa de campanha, as quais possuem caráter geral e usualmente são postas como um benefício à coletividade, não configura, por si só, o crime de corrupção eleitoral (art. 299, CE), sendo indispensável que a promessa de vantagem esteja vinculada à obtenção do voto de determinados eleitores (Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n° 586-48\SP, j. em 25/08/2011). O art. 41-A da Lei 9.504\97 dita que: Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinquenta mil UFIR, e cassação do registro ou do diploma. Diante da semelhança das condutas tipificadas, parte da doutrina passou a sustentar que as condutas caracterizam ilícito penal. O TSE, contudo, concluiu que o art. 41-A da Lei n° 9.504\97 não alterou a disciplina do art. 299 do Código Eleitoral, no que permanece o crime de corrupção eleitoral (HC 81, j. em 03/05/2005, informativo do TSE n° 18). AN02FREV001/REV 4.0 46 De acordo com o art. 41-A: § 1 o Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial fim de agir. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009) § 2 o As sanções previstas no caput aplicam-se contra quem praticar atos de violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009) § 3 o A representação contra as condutas vedadas no caput poderá ser ajuizada até a data da diplomação. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009) § 4 o O prazo de recurso contra decisões proferidas com base neste artigo será de 3 (três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário Oficial. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009) Os crimes eleitorais vão desde aqueles que prejudicam a inscrição de eleitores, passando por propagandas irregulares até a violação da apuração dos resultados, como veremos a seguir. De acordo com o TSE: Os principais crimes são: Corrupção eleitoral ativa: doar, oferecer ou prometer dinheiro, presente ou qualquer outra vantagem, inclusive emprego ou função pública, para o eleitor com o objetivo de obter-lhe o voto, ainda que a oferta não seja aceita; Corrupção eleitoral passiva: pedir ou receber dinheiro, presentes ou qualquer outra vantagem em troca do voto; Usar de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido, ainda que os fins visados não sejam conseguidos; Fornecer alimentação ou transporte para eleitores, tanto da zona rural quanto da zona urbana, desde o dia anterior até o posterior à eleição (somente a Justiça Eleitoral poderá realizar transporte de eleitores); Promover desordem que prejudique os trabalhos eleitorais; Recusar ou abandonar o serviço eleitoral sem justificativa; Utilizar serviços, veículos ou prédios públicos, inclusive de autarquias, fundações, sociedade de economia mista e entidade mantida pelo Poder Público, para beneficiar a campanha de um candidato ou partido político; Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem; AN02FREV001/REV 4.0 47 Violar ou tentar violar os programas ou os lacres da urna eletrônica; Causar, propositadamente, danos na urna eletrônica ou violar informações nela contidas; Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo votos ou documentos relativos à eleição; Fabricar, mandar fabricar, adquirir, fornecer, ainda que gratuitamente, subtrair ou guardar urnas, objetos ou papéis de uso exclusivo da Justiça Eleitoral; Alterar, de qualquer forma, os boletins de apuração; Falsificar ou alterar documento público ou particular para fins eleitorais; Fraudar a inscrição eleitoral, tanto no alistamento originário quanto na transferência do título de eleitor; Reter indevidamente o título eleitoral de outrem. Os crimes mais comuns na propaganda eleitoral são: Caluniar, injuriar ou difamar alguém na propaganda eleitoral; Divulgar fatos inverídicos em relação a candidatos e partidos, que sejam capazes de influenciar a opinião do eleitorado; Utilizar organização comercial, distribuição de prêmios e sorteios para fazer propaganda ou aliciamento de eleitores; Utilizar símbolos, frases ou imagens associadas ou semelhantes às empregadas por órgão do governo, empresa pública ou sociedade de economia mista; Divulgar pesquisa eleitoral fraudulenta; Inutilizar, alterar ou perturbar a propaganda eleitoral realizada em conformidade com a lei. A legislação proíbe diversas outras condutas na propaganda eleitoral, tais como: a) Realização de showmício; b) Utilização de outdoors; AN02FREV001/REV 4.0 48 c) Propaganda antecipada; d) Distribuição de camisetas e outro. É bom frisar, que essas condutas não são consideradas crimes, mas irregularidades que serão julgadas pela Justiça Eleitoral e poderão ensejar aplicação de multa para o candidato ou partido político. Agora, no dia da eleição: promover a desordem ou a concentração de eleitores com o fim de impedir, embaraçar ou fraudar o exercício do voto, sob qualquer forma, inclusive com o fornecimento gratuito de alimento e transporte coletivo; utilizar alto-falantes e amplificadores de som; realizar comício ou carreata ou fazer boca-de-urna; distribuir material de propaganda política (panfletos, cartazes, camisetas, bonés, adesivos, etc) fora da sede do partido ou comitê político; os funcionários da Justiça Eleitoral e mesários utilizarem qualquer elemento de propaganda eleitoral; violar ou tentar violar o sigilo do voto. Essas condutas são consideradas como crime. Importante lembrar, que é permitida, desde que não faça parte de aglomeração, a manifestação individual e silenciosa da preferência política do eleitor, inclusive o uso de camisetas, o porte de bandeira ou flâmula e a utilização de adesivos em veículos particulares. De acordo com o art. 356 do CE, o cidadão que tiver conhecimento de infração penal eleitoral deverá comunicá-la ao juiz eleitoral da zona onde ela se verificou. Quando a comunicação for verbal, mandará a autoridade judicial reduzi-la a termo, assinado pelo apresentante e por duas testemunhas, e a remeterá ao órgão do Ministério Público local, que procederá na forma deste Código. Se o Ministério Público julgar necessário maiores esclarecimentos e documentos complementares ou outros elementos de convicção, deverá requisitá- los diretamente de quaisquer autoridades ou funcionários que possam fornecê-los. Os crimes eleitorais são de ação penal pública incondicionada, inclusive nas hipóteses de calúnia, injúria e difamação eleitorais, conforme o art. 355 do CE, em virtude do interesse público que envolve a matéria eleitoral. Admite-se a ação penal privada subsidiária da pública, conforme art. 5°, LIX, da CF quando houver omissão do Ministério Público no prazo que lhe é reservado para oferecer denúncia, requerer AN02FREV001/REV 4.0 49 diligências ou propor o arquivamento do inquérito (esteja o acusado preso ou solto), já que se trata de garantia constitucional. 2.7 INQUÉRITO POLICIAL E O PROCESSO ELEITORAL O aparelhamento do processo penal relativo aos crimes eleitorais segue o procedimento especial previsto no Código Eleitoral, conforme art. 355 a 364. O primeiro tema referente às regras processuais, cravado no art. 355 do CE deixa estampado que a ação penal relativa aos direitos eleitorais é pública incondicionada. O art. 5°, inciso LIX, da CF assegura a administração da ação penal privada nos crimes de ação pública, se decorrido o prazo legal esta não for movida. A norma constitucional não fez restrição a qualquer espécie ou modalidade de crime. Com isso, uma interpretação lógica e coerente leva à conclusão de que não seria constitucional entender que, em relação aos crimes eleitorais, existisse tal impedimento. Ademais, o art. 364 do Código Eleitoral prevê aplicação subsidiária do Código de Processo Penal em relação ao processo e julgamento dos crimes eleitorais. A lei processual penal comum, por sua vez, normatiza a questão da ação penal privada subsidiária da pública no art. 29 do CPP. Resulta assim, perfeitamente cabível o manejo da ação privada em relação aos crimes eleitorais, nas mesmas condições descritas pelo regime processual penal ordinário. A Polícia Federal exercerá, com prioridade sobre suas atribuições regulares, a função de polícia judiciária em matéria eleitoral limita às instruções e requisições do TSE, dos Tribunais Regionais ou dos juízes eleitorais de acordo com Res. – TSE n° 8.906/70 e art. 94 da Lei n° 9.504/97. Quando no local da infração não existirem órgãos da Polícia Federal, a Polícia Estadual terá atuação supletiva. Quando tiver conhecimento da prática de infração penal eleitoral, a autoridade policial deverá informar imediatamente o juiz eleitoral competente. Se necessário, a autoridade policial adotará as medidas acautelares previstas no CPP. AN02FREV001/REV 4.0 50 O inquérito policial eleitoral, regulamentado pela Resolução TSE n° 23.363/2011, somente será instaurado mediante requisição do Ministério Público ou da Justiça Eleitoral, salvo a hipótese de prisão em flagrante, quando o inquérito será instaurado independentemente de requisição. As autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer seja encontrado em flagrante delito pela prática de infração eleitoral, comunicando o fato ao juiz eleitoral competente em até vinte e quatro horas. Importante frisar, que a Resolução n° 23.363/2011 do Tribunal Superior Eleitoral acima mencionado, disciplina a apuração dos crimes eleitorais. Quando a infração for de menor potencial ofensivo, a autoridade policial elabora termo circunstanciado de ocorrência e providenciará o encaminhamento ao juiz eleitoral competente. O inquérito policial eleitoral será concluído em até dez dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou preventivamente, contado o prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou em até trinta dias, quando estiver solto. Aplica-se ao inquérito policial eleitoral o disposto no Código de Processo Penal. Assim, deferido o pedido de arquivamento do inquérito policial, não cabe recurso. Caso discorde do pedido de arquivamento, o juiz eleitoral deverá remeter as peças ao procurador regional eleitoral (e não ao procurador geral de justiça), que poderá insistir no pedido de arquivamento, oferecer denúncia ou designar outro promotor para oferecê-la, conforme o art. 357 do CE. O procedimento penal eleitoral propriamente dito começa com o oferecimento da denúncia no prazo de 10 dias, conforme o art. 357, caput do CE. Se for o caso de convencimento ministerial a respeito de ausência de justa causa para a ação penal, poderá requerer o arquivamento da comunicação sobre o crime, inclusive o inquérito policial. FIM DO MÓDULO II
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