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VOTO NULO e ANULAÇÃO DA ELEIÇÃO

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Voto nulo e anulação da eleição
Afonso Tavares Dantas Neto
O voto nulo pode ser entendido como “ausência de voto, renúncia ao
direito de preferência, o voto nulo é, nesses termos, um voto positivo, no
sentido em que, como o voto em um candidato ou em um partido, ele
representa uma manifestação da vontade eleitoral. Condenatória, mas
sempre vontade afirmativa. Pois é por seu intermédio que o cidadão expressa
sua condenação às limitações do pleito. O voto em branco é de quem cala; o
voto nulo é de quem fala, protestando. Daquele que, particularmente nas
rodadas de segundo turno, não se vê contemplado pelas candidaturas em
disputa. O voto nulo, aliás, interfere no resultado do pleito, porque pode
anulá-lo, como vimos anteriormente. Mas o voto nulo também pode resultar
de ausência de vontade, quando é o voto do erro, do que não soube votar
corretamente”
(MANUAL DAS ELEIÇÕES. Roberto Amaral, Sérgio Sérvulo da Cunha. 4ª
edição – São Paulo: Saraiva, 2010. p. 89).
Na realidade prática da eleição, considerando-se que hoje em dia a urna
eletrônica é o meio de votação consagrado (o uso das antigas cédulas de
votação é mera excepcionalidade), como ocorre o voto nulo? Os mestres
Roberto Amaral e Sérgio Sérvulo da Cunha respondem: “o voto dado,
mediante digitação repetida de número inexistente de candidato ou partido”
(obra citada, p. 90).
Não se pode deixar de esclarecer que o voto nulo, tal como o voto em
branco, não é considerado voto válido, não sendo assim computado para fins
de apuração do resultado da eleição. Vejamos o que diz a Lei nº
9.504/1997, in verbis:
“Art. 2º Será considerado eleito o candidato a Presidente ou a
Governador que obtiver a maioria absoluta de votos, não computados
os em branco e os nulos.
§ 1º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação,
far-se-á nova eleição no último domingo de outubro, concorrendo os dois
candidatos mais votados, e considerando-se eleito o que obtiver a maioria dos
votos válidos.
§ 2º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou
impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o
de maior votação.
§ 3º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer em segundo lugar
mais de um candidato com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.
§ 4º A eleição do Presidente importará a do candidato a Vice-Presidente com
ele registrado, o mesmo se aplicando à eleição de Governador.
Art. 3º Será considerado eleito Prefeito o candidato que obtiver a
maioria dos votos, não computados os em branco e os nulos”.
Até mesmo a Constituição Federal de 1988 aborda o tema, deixando
claro que o voto nulo e o voto em branco não são computados na apuração da
eleição, pois não são considerados votos válidos. Vale a pena consultar a
Carta Magna, verbatim:
“Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-
se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno,
e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano
anterior ao do término do mandato presidencial vigente.
§ 1º - A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente
com ele registrado.
§ 2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado
por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não
computados os em branco e os nulos”.
Agora, uma vez explicado em que consiste o voto nulo, cumpre indagar
qual a razão de tanta polêmica em torno da questão do voto nulo e de uma
eventual anulação de eleição como possível decorrência da anulação do voto.
A raiz do debate está no art. 224 do Código Eleitoral, in verbis:
“Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do País nas
eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do
Município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais
votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20
(vinte) a 40 (quarenta) dias”.
Uma leitura apressada do dispositivo legal citado poderia induzir a
pessoa a imaginar que se a maioria dos eleitores anulasse seu voto, de
propósito ou por erro, haveria como consequência a anulação da eleição.
Aliás, conforme já foi observado, chegou inclusive a haver campanhas
pela anulação do voto com o intuito de forçar uma nova eleição. Mais grave:
boa parte do eleitorado continua acreditando nesta interpretação equivocada
do sentido da norma eleitoral em questão.
Com a devida vênia, tais campanhas para estimular o voto nulo devem
ser vista com reservas, pois todo cidadão, assim considerado “o indivíduo no
gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus
deveres para com este” (Dicionário Aurélio), deve procurar se informar sobre
os assuntos públicos, a fim de participar da vida social em sua plenitude. Abrir
mão do direito de voto, por ocasião da anulação proposital do voto na eleição,
acarreta uma diminuição da qualidade do cidadão, que acaba renunciando a
um direito que a humanidade levou séculos para consolidar. O voto confere ao
cidadão o poder de influir nos assuntos de Estado, tornando-o apto a
participar ativamente dos destinos da Nação, de modo que o voto nulo apenas
serve para transformar o eleitor em um cidadão de segunda categoria, uma
pessoa totalmente passiva diante do rumo dos acontecimentos.
Merece todo respeito o gesto do eleitor que anula o voto em sinal de
protesto, mas deve-se ter o cuidado de considerar que a democracia no Brasil
ainda é muito jovem e a última Constituição tem pouco mais de duas décadas,
ao contrário de outros países cuja tradição constitucional é centenária. A
verdade é que quanto maior a participação do cidadão nos destinos do País,
mais forte se torna a democracia.
Dentre todas as modalidades de interpretação, a interpretação literal é a
mais elementar, porém muitas vezes a menos exata. Assim sendo, deve-se
dar prevalência à interpretação sistemática, pois em tal caso a norma eleitoral
é analisada no contexto de toda legislação eleitoral vigente, cotejando-se as
diversas determinações legais.
Adotando-se uma interpretação sistemática, verifica-se desde logo a
necessidade de harmonizar o art. 224 do Código Eleitoral com o art. 219 do
mesmo Diploma Legal, in verbis:
“Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins
e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades
sem demonstração de prejuízo.
Parágrafo único. A declaração de nulidade não poderá ser requerida pela
parte que lhe deu causa nem a ela aproveitar”.
É fundamental consultar o entendimento dos Tribunais sobre o art. 224
do Código Eleitoral. Vejamos o que diz o Ac.-TSE, de 29.6.2006, no MS n°
3.438 e de 5.12.2006, no REspe n° 25.585: “Para fins de aplicação do art.
224 do Código Eleitoral, não se somam aos votos anulados em decorrência da
prática de captação ilícita de sufrágio os votos nulos por manifestação
apolítica de eleitores”. Res.-TSE n° 22.992/2008: “Os votos dados a
candidatos cujos registros encontravam-se sub judice, tendo sido confirmados
como nulos, não se somam, para fins de novas eleições (art. 224, CE), aos
votos nulos decorrentes de manifestação apolítica do eleitor”.
O julgado acima transcrito deixa claro que a manifestação apolítica do
eleitor mediante anulação do seu próprio voto, ainda que seja imitada pela
maioria dos eleitores, não enseja a anulação da eleição.
A decisão judicial adiante deixa ainda mais evidente que a anulação dos
próprios votos pelos eleitores não enseja a anulação da eleição, verbo ad
verbum:
“Agravo regimental. Ação cautelar. Efeito ativo. Acórdão regional.
Determinação. Nova eleição.
1. A proclamação dos eleitos constitui atoque se insere na atividade
administrativo eleitoral desta Justiça Especializada.
2. Não há óbice que o juízo eleitoral, em virtude da orientação do Tribunal na
Consulta nº 1.657, ao constatar equívoco na proclamação de segundo
colocado em eleição majoritária, reveja essa orientação, sustando a
diplomação do referido candidato.
3. Para fins do art. 224 do Código Eleitoral, a validade da votação - ou o
número de votos válidos - na eleição majoritária não é aferida sobre o total
de votos apurados, mas leva em consideração tão somente o percentual de
votos dados aos candidatos desse pleito, excluindo-se, portanto, os votos
nulos e os brancos, por expressa disposição do art. 77, § 2º, da Constituição
Federal.
Agravo regimental a que se nega provimento” (TSE – Agravo Regimental em
Ação Cautelar nº 3260, Acórdão de 04/06/2009, Relator(a) Min. ARNALDO
VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data
04/08/2009, Página 95 ).
Fica a dúvida sobre qual seria o verdadeiro alcance do art. 224 do
Código Eleitoral. A decisão judicial a seguir nos fornece uma pista sobre a
resposta, ipsis verbis et litteris:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO SANADA. EMBARGOS
ACOLHIDOS SEM EFEITOS MODIFICATIVOS.
1. Não pode pleitear novas eleições o candidato que deu causa à anulação do
pleito (art. 219 do Código Eleitoral). Precedentes.
2. Na aplicação do art. 224 do Código Eleitoral é preciso que o candidato
cassado (sozinho) haja obtido mais de 50% (cinqüenta por cento) dos votos
válidos, não Voto nulo e anulação da eleição - Eleitoral - Âmbito Jurídico
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artig... 2
de 4 28/10/2015 11:43 entrando neste cálculo os votos originariamente
nulos. Precedentes.
3. Embargos acolhidos parcialmente para sanar a omissão apontada, sem lhes
imprimir qualquer efeito modificativo. Embargos da Coligação não conhecidos”
(TSE – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº
25855, Acórdão de 06/03/2008, Relator(a) Min. CARLOS AUGUSTO AYRES DE
FREITAS BRITTO, Publicação: DJ - Diário da Justiça, Data 11/4/2008, Página
08 ).
Entende-se por “votos originariamente nulos” aqueles votos nulos
decorrente de ato exclusivo do próprio eleitor, como por exemplo o voto nulo
em sinal de protesto, o erro de digitação do número do candidato, a digitação
de número inexistente por falta de interesse na eleição, etc.
A Resolução nº 23.372 do TSE exemplifica situações que
verdadeiramente poderiam ensejar a anulação da eleição em decorrência da
nulidade dos votos, ocasionando assim a necessidade de nova eleição,
verbatim:
“Art. 164. Nas eleições majoritárias, respeitado o disposto no § 1º do art. 162
desta resolução, serão observadas, ainda, as seguintes regras para a
proclamação dos resultados:
I – deve a Junta Eleitoral proclamar eleito o candidato que obteve a maioria
dos votos válidos, não computados os votos em branco e os votos nulos,
quando não houver candidatos com registro indeferido, ou, se houver, quando
os votos dados a esses candidatos não forem superiores a 50% da votação
válida;
II – não deve a Junta Eleitoral proclamar eleito o candidato que
obteve a maioria da votação válida, quando houver votos dados a
candidatos com registros indeferidos, mas com recursos ainda
pendentes, cuja nulidade for superior a 50% da votação válida, o que
poderá ensejar nova eleição, nos termos do art. 224 do Código
Eleitoral;
III – se a nulidade dos votos dados a candidatos com registro indeferido for
superior a 50% da votação válida e se já houver decisão do Tribunal Superior
Eleitoral indeferitória do pedido de registro, deverão ser realizadas novas
eleições imediatamente; caso não haja, ainda, decisão do Tribunal Superior
Eleitoral, não se realizarão novas eleições;
IV – havendo segundo turno e dele participar candidato que esteja sub judice
e que venha a ter o seu registro indeferido posteriormente, caberá à Junta
Eleitoral verificar se, com a nulidade dos votos dados a esse candidato no
primeiro turno, a hipótese é de realizar novo segundo turno, com os outros 2
candidatos mais votados no primeiro turno, ou de considerar eleito o mais
votado no primeiro turno; se a hipótese for de realização de novo segundo
turno, ele deverá ser realizado imediatamente, inclusive com a diplomação do
candidato que vier a ser eleito”.
Não se pode prescindir da orientação segura do colendo Tribunal
Superior Eleitoral, verbo ad verbum:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. REGISTRO DE
CANDIDATURA. INDEFERIMENTO ANTES DAS ELEIÇÕES. ANULAÇÃO DOS
VOTOS. NOVO CÁLCULO DO QUOCIENTE ELEITORAL.
1. Confirmei em meu voto, após os votos-vistas dos Ministros Marcelo Ribeiro
e Arnaldo Versiani, a tese de que são nulos os votos conferidos a
candidato que teve seu registro de candidatura indeferido antes da
realização da eleição, assim permanecendo até o trânsito em julgado
do pedido de registro, embora seu nome constasse na urna eletrônica.
Prevaleceu, nesse sentido, recente interpretação do art. 175, § 3º, do
Código Eleitoral (MS nº 3.525/PA, Rel. Min. Carlos Ayres Britto, sessão de
5.6.2007).
2. Não há a alegada omissão quanto ao art. 5º da Res.-TSE nº 21.925/2004,
dispositivo que não afeta a conclusão do aresto combatido, apenas apresenta
o entendimento do TSE sobre o que são registros sob o crivo da justiça
especializada eleitoral.
3. O art. 3º da Res.-TSE nº 21.925/2004 condicionou o cômputo dos votos à
legenda do partido ao indeferimento do registro após a eleição, o que não é a
hipótese dos autos.
4. Não estando assegurados, ao partido ou ao candidato, a contagem dos
votos para qualquer efeito, correta a determinação de que se proceda ao
recálculo do quociente eleitoral. Aplica-se ao caso o seguinte precedente:
‘(...) indeferido ou cassado o registro, antes do pleito, a mera pendência de
recurso contra a decisão não assegura ao candidato nem ao partido - sempre
na hipótese de eleições proporcionais - a contagem do voto para qualquer
efeito (...)’ (TSE, MS nº 3.100/MA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de
7.2.2003).
5. Os embargos declaratórios prestam-se para integração e servem apenas
para ajustar e corrigir deficiências do acórdão que, no caso em comento, não
ocorreram.
6. Embargos de declaração não providos” (TSE – EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 27041, Acórdão de
11/09/2007, Relator(a) Min. JOSÉ AUGUSTO DELGADO, Publicação: DJ -
Diário de justiça, Data 28/09/2007, Página 192 ).
Uma outra decisão da mais alta Corte Eleitoral nos ajuda a compreender
em que situações realmente tem lugar a realização de nova eleição, ipsis
verbis et litteris:
“RECURSO ESPECIAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. INDEFERIMENTO ANTES
DAS ELEIÇÕES. ANULAÇÃO DOS VOTOS. ART. 175, § 3º, DO CÓDIGO
ELEITORAL. PROVIMENTO.
1. A interpretação dos §§ 3º e 4º do art. 175 do Código Eleitoral demonstra
que deve prevalecer a situação jurídica do candidato no momento da eleição.
(TSE, RCEd Nº 674, de minha relatoria, DJ de 24.4.2007 e TSE, MS nº
3.100/MA, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 7.2.2003).
2. O candidato Carlos Augusto Vitorino Cavalcante, no momento da eleição
municipal, não tinha registro de candidatura deferido, circunstância que
impõe a anulação dos votos a ele conferidos. No caso concreto, o
indeferimento do registro decorreu de inelegibilidade por rejeição das suas
contas. O acórdão que indeferiu seu registro de candidatura transitou em
julgado em 14.10.2004.
3. Em se tratando de eleições proporcionais, o provimento integral do apelo
do recorrente não pode ser deferido nesta instância em razão da implicação
da nulidade de votos para o coeficienteeleitoral.
4. Esta Corte, no julgamento do MS nº 3.525/PA, Rel. Min. Carlos Ayres
Britto, sessão de 5.6.2007, interpretando o art. 175, § 3º, do Código Eleitoral,
assentou entendimento de que são nulos os votos conferidos a candidato
que teve seu registro de candidatura indeferido antes da eleição,
ainda que sem trânsito em julgado, mas após a geração das tabelas
para carga das urnas eleitorais.
5. Recurso especial provido para declarar nulos os votos conferidos a Carlos
Augusto Vitorino Cavalcante, determinando-se o recálculo do quociente
eleitoral” (TSE – RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 27041, Acórdão de
12/06/2007, Relator(a) Min. JOSÉ AUGUSTO DELGADO, Publicação: DJ -
Diário de justiça, Data 08/08/2007, Página 230 ).
Em apertada síntese, poder-se-ia afirmar que o voto nulo provocado
pelo próprio eleitor não acarreta a anulação da eleição. Somente o
reconhecimento judicial da nulidade da maioria dos votos é capaz de
ocasionar nova eleição.
Aqui é interessante lembrar que “sendo nulos mais de 50% dos
votos válidos dados a candidato inelegível, incide a norma do art. 224
do Código Eleitoral” (TSE – RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 20008,
Acórdão nº 20008 de 12/11/2002, Relator(a) Min. LUIZ CARLOS LOPES
MADEIRA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 20/12/2002,
Página 27 REPDJ - Republicado no Diário de Justiça, Data 07/02/2003, Página
140 ).
Da mesma forma, também é digno de nota que para fins do art. 224 do
Código Eleitoral, uma vez “declarados nulos os votos por captação
indevida (Art. 41-A da Lei nº 9.504/97), que, no conjunto, excedem a
50% dos votos válidos, determina-se a realização de novo pleito, não
a posse do segundo colocado” (TSE – RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº
19759, Acórdão nº 19759 de 10/12/2002, Relator(a) Min. LUIZ CARLOS
LOPES MADEIRA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data
14/02/2003, Página 191 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume
14, Tomo 1, Página 279 ).
A esta altura, é importante salientar que “para fins do art. 224 do
Código Eleitoral, a validade da votação ou o número de votos válidos na
eleição majoritária não é aferida sobre o total de votos apurados, mas leva
em consideração tão somente o percentual de votos dados aos candidatos
desse pleito, excluindo-se, portanto, os votos nulos e os brancos, por
expressa disposição do art. 77, § 2º, da Constituição Federal”. Ademais, “não
se somam aos votos nulos derivados da manifestação apolítica dos eleitores
aqueles nulos em decorrência do indeferimento do registro de candidatos;
afigura-se recomendável que a validade da votação seja aferida tendo em
conta apenas os votos atribuídos efetivamente a candidatos e não sobre o
total de votos apurados” (TSE – Agravo Regimental em Recurso em Mandado
de Segurança nº 665, Acórdão de 23/06/2009, Relator(a) Min. ARNALDO
VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico,
Volume -, Tomo -, Data 17/08/2009, Página 24 ).
Verdade seja dita, atualmente, em matéria de voto nulo, já é ponto
pacífico que “os votos dados a candidatos cujos registros encontravam-
se sub judice, tendo sido confirmados como nulos, não se somam,
para fins de novas eleições (art. 224, CE), aos votos nulos
decorrentes de manifestação apolítica do eleitor” (TSE – Processo
Administrativo nº 20159, Resolução nº 22992 de 19/12/2008, Relator(a) Min.
FELIX FISCHER, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Volume -, Tomo
178/2009, Data 18/09/2009, Página 36).
A expressão “manifestação apolítica do eleitor” não suscita maiores
indagações, pois reflete apenas aquele voto nulo que é dado pelo eleitor por
motivo de desinteresse.
O professor Henrique Melo leciona que “a eleição só será anulada se os
votos foram anulados em decorrência da prática de captação ilícita de
sufrágio e não por manifestação espontânea de eleitores” (DIREITO
ELEITORAL PARA CONCURSOS. 2ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2010. p. 285). A menção à captação ilícita de sufrágio é meramente
exemplificativa, pois em sua obra (já citada) o autor elenca várias outras
situações que podem dar causa à nulidade da votação (obra citada, págs.
283-284). O próprio Código Eleitoral prevê várias hipóteses de nulidade da
votação.
Em outras palavras, para anulação da votação e realização de nova
eleição, há necessidade de intervenção judicial, obrigatoriamente, qualquer
que seja a causa da nulidade dos votos. Se o voto for nulo tão somente em
decorrência de gesto de protesto, manifestação apolítica, erro na digitação do
número do candidato, ou qualquer outra razão análoga, não ficará configurada
hipótese realização de nova eleição.
À guisa de conclusão, a realização de novas eleições, prevista no art.
224 do Código Eleitoral, em decorrência da nulidade da maioria dos votos do
eleitorado, não se refere ao Voto nulo e anulação da eleição - Eleitoral -
Âmbito Jurídico http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artig... 3 de 4 28/10/2015 11:43 voto nulo ocasionado por
erro do eleitor no momento da votação nem muito menos ao voto que o
eleitor anula propositalmente em manifestação apolítica, em sinal de protesto
ou por mero desinteresse pelo resultado do pleito. Desse modo, só haverá
anulação da eleição, com realização de novo pleito eleitoral, em caso de
nulidade de votos reconhecida pela Justiça em número superior a 50%
(cinquenta por cento) da votação da circunscrição eleitoral.

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