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DPC1_T16_Da denunciação da lide (01_03)

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR - UCSAL
FACULDADE DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL I
Tema 16 : DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE (01/03). Conceito. Obrigatoriedade da denunciação da lide. Objetivo do incidente.
“Conceito
No sistema do Código, a denunciação da lide é a medida obrigatória, que leva a uma sentença sobre a responsabilidade do terceiro em face do denunciante, de par com a solução normal do litígio de início de deduzido em juízo, entre autor e réu.
Consiste em chamar o terceiro (denunciado), que mantém um vínculo de direito com a parte (denunciante), para vir responder pela garantia do negócio jurídico, caso o denunciante saia vencido no processo.
Os casos em que tem cabimento a denunciação da lide, segundo o art. 70, são:
I – o de garantia da evicção;
II – o da posse indireta;
III – o do direito regressivo de indenização.
Examinemo-los separadamente:
 A primeira hipótese se refere ao chamamento do alienante, quando o adquirente a título oneroso sofre reivindicação da coisa negociada por parte de terceiro. A convocação se faz para que o denunciado venha garantir ao denunciante o exercício dos direitos que lhe advém da evicção, nos termos dos arts. 1.107 a 1.117 do Código Civil de 1916 (CC de 2002, arts. 447 a 457).
Se o adquirente não lançar mão da denunciação da lide e vier a sucumbir perante a reivindicação da outra parte, não poderá exercitar, contra o transmitente, o direito de garantia que da evicção lhe resultaria (art. 1.116 do Código Civil de 1916; CC de 2002, art. 456). Daí a obrigatoriedade, na hipótese do art. 70 se refere à denunciação da lide.
 A segunda hipótese do art. 70 se refere à denunciação da lide ao proprietário ou possuidor indireto quando a ação versar sobre bem em poder do possuidor direto e só este for demandado.
Casos de posse indireta são, exemplificativamente, os do usufrutuário, do credor pignoratício e do locatário, hipótese em que os atos possessórios diretos não anulam a posse indireta daqueles que a cedera, temporariamente, aos primeiros (art. 486 do Código Civil de 1916; CC de 2002, art. 1.197).
Em todos esses exemplos, o proprietário ou possuidor, ao ceder a posse direta a outrem, assume o dever de garantir o exercício normal dela por aquele que passa a ser o possuidor direto.
Se a mesma posse vem a ser reivindicada por terceiro, impõe-se a denunciação da lide para que o possuidor direto (denunciante) possa obter, na eventualidade de sucumbência, na sentença da própria ação por ele suportada, a condenação do possuidor indireto a perdas e danos pela não-garantia da posse cedida (art. 76).
Possuidor indireto, finalmente, não se confunde com mero detentor, ou servidor da posse de outrem. Não tendo direto à posse, o mero detentor não tem direito de indenização a resguardar contra o verdadeiro possuidor. A ele, quando demandado pessoalmente, compete apenas nomear à autoria o legítimo possuidor (art. 62).
 A última hipótese do art. 70 (nº III) se refere à denunciação da lide àquele que estiver obrigado, por lei ou contrato, a indenizar o denunciante, em ação regressiva, pelo prejuízo que eventualmente advier da perda da causa.
A falta de denunciação, segundo a lição de Celso Barbi, leva à perda do direto de regresso. Essa perda, porém, só ocorre em casos como o da garantia da evicção, conforme se esclarece adiante.
O art. 70, nº III, consoante abalizado entendimento do mesmo processualista, deve ser interpretado, restritivamente, de modo a abranger unicamente o direito regressivo, como tal conceituado em lei, e não situações apenas assemelhadas, como a o contrato de seguro. Na verdade, a responsabilidade do segurado é direta e não regressiva, pois decorre do dano e não da sucumbência do segurado, segundo Celso Barbi.
No entanto, a jurisprudência, a meu ver com acerto, tem evoluído no sentido de ampliar a admissibilidade da denunciação da lide e não restringi-la, como a princípio entendeu o citado processualista. Hoje, já não se discute mais sobre a admissibilidade da denunciação da lide nos casos de agente de ato ilícito quando este conte com seguro de responsabilidade Civil.
Com o advento do Código Civil de 2002, a estrutura jurídica do seguro de responsabilidade civil sofreu profunda alteração: o seguro não mais garante apenas o reembolso da indenização custeada pelo segurado; garante o pagamento das perdas e danos, pela seguradora, diretamente ao terceiro prejudicado pelo sinistro (CC, art. 787). Assim, o segurado que for demandado em ação indenizatória deverá utilizar o chamamento ao processo (art. 77, III) para forçar a introdução da seguradora no processo, e não mais a denunciação da lide (art. 70, III). Não será um direito de regresso que se estará exercitando, mas o direito de exigir que a seguradora assuma o dever de realizar a indenização direta ao autor da ação indenizatória, pois, no atual regime securitário, o direito da vítima é exercitável tanto perante o causador do dano como em face de sua seguradora.
Não s pode, enfim, utilizar a denunciação a lide com o propósito de excluir a responsabilidade do réu para atribuí-la ao terceiro denunciado, por inocorrer direito regressivo a atuar na espécie. É que, “em tal caso, se acolhidas as alegações do denunciante, a ação haverá de ser julgada improcedente e não haverá lugar para regresso; desacolhidas, estará afastada a responsabilidade do denunciado”.
Obrigatoriedade da denunciação da lide
Sobre a obrigatoriedade da denunciação da lide, é digna de acolhida a lição de Pedro Soares Muñoz, para quem, na dúvida, devem prevalecer as regras de direito material. Assim, merece subsistir o ensinamento de Lopes da Costa, segundo o qual “quando à denúncia a lei substantiva atribuir direitos materiais (o caso da evicção, por exemplo) é ela obrigatória. Se apenas se visa ao efeito processual de estender a coisa julgada ao denunciado, é ela facultativa” (para o denunciante). Para o denunciado, porém, os efeitos inerente à intervenção são sempre obrigatórios.
Nessa ordem de idéias, numa ação de responsabilidade civil, decorrente de ato ilícito, provocado por preposto do réu, não se pode falar em obrigatoriedade da denunciação da lide ao agente que no processo se atribui a culpa pelo evento. Sua convocação, pelo réu, para exercitar o eventual direito de regresso, seria simplesmente facultativa, de modo que a omissão da denunciação da lide não provocará nulidade do processo, nem perda do direito da parte vencida (preponente) de ajuizar, futuramente, outra ação direta contra o preposto para cobrar-lhe regressivamente a indenização.
Em conclusão: a obrigatoriedade de que fala o art. 70 decorre do direito material e não da lei processual.
Para efeitos meramente processuais, o significado da obrigatoriedade configurada no aludido dispositivo da lei formal restringe-se à circunstância de que, em qualquer das hipóteses legais, sem o incidente da denunciação da lide e a observância do respectivo procedimento, não será admissível a solução do problema do direito regressivo na sentença que decidir a causa principal, também o direito de regresso contra o terceiro responsável pela garantia de seu direito envolvido no litígio, terá obrigatoriedade que fazer uso da denunciação da lide, nos moldes dos arts. 70 a 76.
Casos de não-cabimento da denunciação da lide
Em princípio, a previsão legal de cabimento da denunciação da lide abrange todas as causas do processo de cognição, sem distinção da natureza do direito material controvertido e do procedimento da ação. O art. 280, inciso I, no entanto, não a permite nos casos submetidos ao procedimento sumário, salvo quando fundada em contrato de seguro (alteração da Lei nº 10.444, de 07.05.2002).
Também o Código de Defesa do Consumidor não a admite nas ações de reparação de dano oriundas de relação de consumo. (Lei nº 8.078/90, art. 88).
Outra hipótese em que a doutrina e jurisprudência repelem a denunciação da lide é a dos embargos à execução, porseu âmbito restrito e específico.
Objetivo do incidente
Visa a denunciação a enxertar no processo uma nova lide, que vai envolver o denunciante e o denunciado em torno do direito de garantia ou de regresso que um pretende exercer contra o outro. A sentença, de tal sorte, decidirá não apenas a lide entre o autor e o réu, mas também a que se criou entre a parte denunciante e o terceiro denunciado”.
(obr. cit. Humberto Theodoro Júnior, pág. 129/130 e 132/133)
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APOSTILA ELABORADA PELO PROFESSOR LUIZ SOUZA CUNHA.
AUTOR CONSULTADO
Humberto Theodoro Júnior	Curso de Direito Processual Civil
	1º Vol. – 49ª Edição – 2009 - junho
Atenção:	A apostila é, tão somente, um resumo da matéria que pode ser aprendida pelo aluno. Ela deve servir de guia do ensino-aprendizado, sob orientação pedagógica.
	
	Esta apostila se destina, pois, exclusivamente ao estudo e discussão do texto em sala de aula, como diretriz do assunto, podendo substituir os apontamentos de sala de aula, a critério do aluno.
	
	Consulte a bibliografia anteriormente indicada além de outros autores.
Atualizada em junho/2011
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DPC I_T16_Da denunciação da lide (01/03)

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