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ANIMAL TAMBÉM SENTE

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ANIMAL TAMBÉM SENTE, É SUCETÍVEL DE DIREITOS 
 
 A relação existente entre homem e animal é tão antiga quanto à própria história 
da humanidade. As pinturas rupestres são provas cabais dessa ligação. Neste período, 
animais eram domesticados para ajudar o homem no cotidiano. Todavia, o tempo e o 
desenvolvimento das civilizações instalaram tratamento diferenciado entre esses dois 
seres. Diante do atual relacionamento entre homem e animal, o Direito não pode 
continuar tratando os animais como coisas. 
 Todo mundo já deve ter visto ou ouvido diversas declarações de amor do para 
com o animal. Os próprios veículos de comunicação de massa do país exibem histórias 
interessantes sobre essa linda relação. É que em muitos casos parece que os animais 
transparecem dor, alegria, companheirismo etc, enfim, um verdadeiro amigo. Mas ao 
passo que apontamos tantas qualidades e benefícios que os animais trouxeram e trazem 
aos seres humanos, já se perguntou o que fazemos com eles? Ou, qual o tratamento que 
lhes damos? Infelizmente milhões de animais morrem por ano no Brasil. 
 O ponto chave da discussão é bem simples. O animal é, como nossa própria 
legislação civil trata, uma coisa. Coisa que nos apropriamos única e exclusivamente 
para atender nossas próprias necessidades. Não me refiro apenas de necessidade 
alimentar. Note bem que sempre que uma criança, na sua mais alta inocência, vê um 
cachorrinho ferido na rua e pede para levar para casa os pais preferem, se ela insistir, em 
comprar um cachorrinho limpo, de raça “boa”. Não nos enganemos com qualquer 
atitude. 
 O Supremo Tribunal Federal – STF – recentemente teve interessante discussão 
ao tratar da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI - 4983, ajuizada no STF pelo 
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra a Lei 15.299/2013, do Estado do 
Ceará, que regulamenta a vaquejada como prática desportiva e cultural. A defesa da 
supramencionada lei cearense alega que a mesma objetiva, além de reafirmar prática 
cultural, regulamentar a prática para que não ocorram os constantes casos de morte de 
animais nesses eventos. Que meus colegas vaqueiros me perdoem, mas ainda não sou 
capaz de enxergar com bons olhos práticas que buscam derrubar bois e que em muitos 
casos até arrancam o rabo do boi ou sofrem sérias lesões com a queda. Integridade 
animal ou prática cultural, qual prevalecerá? Eis o que queremos saber do Supremo. 
 São inúmeras práticas que poderia citar aqui quanto a diversão que envolva 
animais e estes sofram, como a rinha de galo. Todavia, o objetivo central não é discutir 
essas práticas. Nota-se que há uma falsa ideia de amor pelos animais. Estes são res 
nullius até que nos apropriemos para interesses próprios. Como animais não falam, não 
como nós, fica difícil em saber o que acham do nosso tratamento para com eles. 
 Histórias à parte, qual o posicionamento do Direito para com essas criaturas? O 
Código Civil de 2002 em seu Art. 82 diz que “são móveis os bens suscetíveis de 
movimento próprio (...)”, como os animais. Já a Constituição Federal de 1988 em seu 
Art. 225, §1º, inciso VII “(...) proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as 
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de 
espécies ou submetam os animais a crueldade”. Como se nota, a Carta Maior veda 
práticas de crueldade em face dos animais. Parece-nos que o legislador Constituinte quis 
que a legislação infraconstitucional desse tratamento diferenciado aos animais, e não o 
tratando como mera coisa suscetível de propriedade. Cabe destacar que o Brasil é 
signatário da Declaração Universal dos Direitos dos animais, esta que defende a 
igualdade, vida, integridade etc, dos animais. 
 Em virtude de diversas manifestações de setores da sociedade há forte tendência 
de haver mudança na lei civil para que seja dado tratamento diferenciado aos animais. 
Desta forma, surgem diversas discussões sobre se iremos todos ser vegetarianos, sobre 
representação processual entre outros. Todavia, acredito que não poderemos continuar 
tratando da forma atual sob argumento que está tudo bem e normal, que os amamos. 
Não, estamos bem longe disso. Por outro lado, não quer dizer que vamos abolir carne 
animal da nossa alimentação. O que se busca é um tratamento harmonioso, no qual não 
haja tratamento degradante e cruel em face dos animais. 
 O filósofo australiano Peter Singer é, a meu ver, um dos maiores entendedores 
do assunto na atualidade. Singer é o autor do livro “Libertação Animal”, no qual traz 
seu célebre posicionamento. Na obra supramencionada, Singer defende a ideia de 
igualdade atrelada à dor e sofrimento como forma de atender interesses humanos e 
animais. Peter Singer busca promoção do prazer e redução da dor e sofrimento como 
guia de se examinar os atos sob o aspecto da ética. A senciência, ou capacidade de 
sofrer ou sentir prazer, é que serão importantes para que seus interesses sejam levados 
em consideração. 
 O Direito não pode virar as costas para o tratamento cruel que recebe boa parte 
dos animais. Animais são capazes de sentir dor, alegria, ainda que de sua forma 
específica. Não estamos falando em equipará-los identicamente aos animais humanos, 
mas no sentido de harmonia entre ambos. A própria razão de ser da sociedade é alcançar 
necessidades que não conseguiríamos sozinhos, em virtude de nossas limitações. 
Buscamos sempre retirar a dor e sofrimento das nossas vidas, pois sabemos quão ruim 
é. Seguindo o posicionamento do filósofo Peter Singer, é imprescindível que nossa 
legislação seja alterada dando tratamento que harmonize a relação homem e animal, que 
nenhum destes seja tratado com crueldade. 
 
Autor: Carlos Henrique de Lima Andrade é natural de Ribeirópolis, interior de 
Sergipe. Atualmente é graduando em Direito Pela Faculdade Pio Décimo, como 
Bolsista Integral do Programa Universidade para Todos (PROUNI), mas já foi aluno do 
curso de História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Já fora aprovado em 
diversos cursos em distintas Universidades Federais do País, é concursado público 
municipal na Prefeitura de Pinhão-SE. Também é pesquisador em Filosofia e 
Fundamentos Sócio-Antropológicos aplicados ao Direito na PIO X. 
 Email: carloshenrique_lima16@hotmail.com

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