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Direito Animal - Rafael Fernandes Titan - 2021

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Prévia do material em texto

Copyright © 20210 by Rafael Fernandes Titan
Categoria: Bioética e Biodireito
Produção Editorial Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
 
Conversão Epub: Rosane Abel
A LIVRARIA E EDITORA LUMEN JURIS LTDA.
não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta obra por seu Autor.
É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às
características gráficas e/ou editoriais. A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal,
art. 184 e §§, e Lei nº 6.895, de 17/12/1980), sujeitando-se a busca e apreensão e indenizações diversas
(Lei nº 9.610/98).
 
Todos os direitos desta edição reservados à Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
 
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
T617d
Titan, Rafael Fernandes
Direito animal : o direito do animal não-humano no cenário processual penal e
ambiental / Rafael Fernandes Titan. – Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2021. 
 
Inclui bibliografia.
Inclui anexos.
Epub 1331kb
 ISBN 978-65-5510-406-6
 
1.Direito do animal. 2. Direito ambiental. 3. Processo penal - Brasil. 4. Crimes contra
o meio ambiente - Brasil. 5. Procedimento especial. I. Título.
 CDD 344Ficha catalográfica elaborada por Ellen Tuzi CRB-7: 6927
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao Ayron, Ayla, Anakin e todos os seres vivos que merecem
justiça.
Agradecimentos
A Deus.
À minha família, que me incentivou e ajudou a chegar até aqui. Pai, mãe e
irmãos e irmãs: Amo vocês!
À minha esposa, quem sempre foi incansável e a responsável, diretamente,
por esse projeto acontecer. Te amo, por toda eternidade.
À minha amada avó “Manina” que me guiou pelos bons caminhos e hoje
guia o meu maior tesouro: minha filha. Minha amada avó, aqui te torno
imortal.
À minha amada madrinha “Tia Marlene”, pela assistência e amor
incondicional. Te amo!
Aos meus amigos não humanos Ayron, Ayla e Anakin, que me ensinaram
um pouco sobre o amor incondicional.
Ao meu grande amigo / irmão Gabriel Sombra, que assim como eu, nutre
um profundo amor e respeito pelos animais não humanos, te amo! In
memoriam Rafael Sombra.
Ao meu grande amigo / irmão Leandro Lobo Leite, que se empenhou para
que, mais uma vez, esse sonho se transformasse em realidade. Te amo!
Ao meu grande amigo / irmão Igor Magalhães, que sempre me incentivou
no caminho do saber. Que essa obra possa, de alguma forma, te trazer paz e
felicidade. Te amo!
Aos meus amigos e familiares.
À minha querida ex aluna e ex orientanda, atualmente Advogada, Maria
Cristina Krause Ramos, que contribuiu para a produção dessa obra com seu
conhecimento sobre o tema.
Por fim e o mais importante: Ao GRANDE AMOR DA MINHA VIDA,
Saori Pereira Fernandes Titan. Nosso amor, sem dúvida, é além da vida.
 
Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal venha
a adquirir os direitos que jamais poderiam ter-lhe sido negados,
a não ser pela mão da tirania.
Jeremy Bentham
Nota do autor
Nada, absolutamente nada, é mais gratificante pra um autor, para um
escritor, do que ver sua obra alcançar uma enorme parcela dos seus leitores.
Tivemos todas as obras de A Desproporcionalidade, graças a Deus,
adquiridas e isso é motivo de orgulho e comemoração.
Esse fato me faz recordar dessa mesma sensação de orgulho e
comemoração, quando finalizei meu Trabalho de Conclusão de Curso, há
cinco anos atrás. Para quem não sabe a minha pesquisa sobre o tema de
direito animal existe há exatos sete anos e ocorreu de uma maneira singular.
Conto para vocês. Eu tinha o companheirismo e amizade de um labrador
chamado Ayron e como todo bom canino – deveria ser - era brincalhão,
dengoso, alegre, feliz e saudável. Fazia lá suas traquinagens, também como
todo bom cachorro, mas nunca algo preocupante a ponto de me fazer ter a
necessidade de contratar um adestrador para lidar com o problema.
Conseguíamos nos entender muito bem. Infelizmente, uma doença o
acometeu. Câncer, linfoma. Neoplasia maligna é uma das doenças mais
frustrantes e angustiantes que existem, pois quando o tratamento é iniciado
você tem a esperança e acredita firmemente que o paciente sairá ileso daquela
situação, pois o mesmo apresenta uma melhora considerável. Entretanto, em
alguns casos, essa mesma melhora transforma-se em uma piora também
considerável e, fatalmente, depois o óbito. Meu assecla (em tantas situações)
não resistiu e foi morar nos campos do Criador. Fiquei de luto, tentei
entender e aceitar o que aconteceu. Voltei mais forte e prometi ao meu
melhor amigo que faria algo que o orgulhasse, algo de positivo para todos os
seres vivos como ele (e os diferentes também). Honrei minha promessa
quando iniciei, desenvolvi e concluí meu primeiro estudo sobre o direito do
ser não humano.
Depois desses fatos, eu decidi não parar pois entendi que ainda havia
muito trabalho a ser desenvolvido, muita pesquisa a ser feita e muitas
transformações necessitavam ser iniciadas. Era necessário tentar colocar em
prática as pesquisas que estavam sendo desenvolvidas, entretanto fazer isso
no cenário jurídico não é tão simples como devem pensar algumas pessoas.
Você precisa de um caso concreto, precisa apresentar uma solução nova para
esse caso e diligenciar (de todas as maneiras possíveis) para que a solução da
demanda, embasada de uma tese nova e atual, seja aceita para, enfim,
produzir os efeitos da teoria. E isso, pra quem é da ciência jurídica, é
extremamente moroso e doloroso.
Após muitas atividades práticas, em conjunto com a Comissão de Defesa
dos Direitos dos Animais da OAB/PA, lutando pela tutela dos seres não
humanos, percebi que eu poderia fazer mais. Eu poderia minimizar o
problema, talvez, na “raíz” e tentar sensibilizar e desmistificar costumes e
conceitos ambientais, instaurados no âmago das pessoas. Foi, então, que
comecei a palestrar sobre o tema. Minhas palestras me levaram a muitas
faculdades, a escolas e o que eu considero o mais importante: ao doutorado
em direito. Estudo de excelência esse que me possibilitou desenvolver uma
tese para proporcionar, ainda mais, garantias de direitos aos animais não
humanos.
Pensando nas adversidades encontradas por colegas de profissão, alunos,
protetores e entusiastas do assunto, decidi lançar, em 2016, a primeira edição
do livro A Desproporcionalidade. Essas primeiras notas, esses primeiros
pensamentos, foram de grande valia para estudos e fundamentações de peças
processuais em defesa do direito animal. Percebi, nesse momento, que eu
deveria ir além. Então, ao concluir as aulas do doutorado, me senti
extremamente confiante para continuar minhas pesquisas na área e
proporcionar a todos – seres humanos e não humanos – uma outra concepção
do assunto (direito animal), a fim de que ambos caminhassem lado a lado, de
mãos e patas dadas. Esses acontecimentos me levaram a uma cadeira de
professor em duas faculdades de direito, as quais, não estava mais como
palestrante e sim como docente. Eu pude demonstrar e ensinar sobre o direito
dos animais, bem como explicar meus pontos de vista, minhas compreensões
e posicionamento sobre diversos assuntos nessa área, o que, por sinal, foi
extremamente relevante para o projeto dessa nova literatura.
Com a soma de todos esses feitos, o direito animal ganhou mais um aliado
à sua tutela. Me transformou em um pesquisador específico dessa área e tais
pesquisas deram origens a artigos, premiações e reconhecimento, mas não o
reconhecimento pessoal e sim o reconhecimento científico, fazendo com que
a procura pelos livros A Desproporcionalidade aumentassem
admiravelmente.
Eu não poderia deixar que o conhecimento contido em nossa obra primeva
ficasse estagnado. Assim, comecei a desenhar em meus pensamentos a sua
atualização e a inclusão de pontos extremamente relevantes e atuais em um
possível novo exemplar. Assuntos como a perspectiva teórica como base da
evolução histórica da lei de crimes ambientais, a “nova” regra de
competência para crimes contra a fauna e a flora brasileira, a necessidade de
um procedimento penal especial para crimes contra o meio ambiente e o
direito animal como direito humano e fundamental, eram exemplos de
discussõesimportantes que gostaria de trazer a baila.
Foi então que com a infeliz chegada do Covid-19 ao Brasil, fazendo com
que alguns serviços fossem suspensos, me dediquei quase que
exclusivamente a produção desse novo título. Uma literatura mais robusta,
mais atual e com temas interessantes que não havíamos incluído no primeiro
livro.
Outras questões como: tutela animal e orientação alimentar, animal como
sujeito de direito, natureza jurídica do animal não humano e tantos outros,
ainda não fazem parte dessa edição. Pelo menos não de maneira tão profunda.
Explico: Estou preparando uma doutrina sobre direito animal que versará
sobre o resultado de todas as minhas pesquisas na área. Será algo grandioso e
completo, de maneira que uma obra nessa proporção requer mais tempo de
organização e atenção. Para quem está impaciente por essa obra, eu peço um
pouco de calma, pois prometo que suas expectativas serão atendidas e quem
sabe até extrapolada.
Por derradeiro, agradeço você: leitor, aluno, professor, protetor, entusiasta
do assunto, por estar comigo nesse momento sorvendo cada gota do
conhecimento aqui gravado, fruto de muita pesquisa, muito amor e muita
vontade de fazer a diferença - positiva - para aqueles que não conseguem
fazer sozinhos. Que todos nós possamos aplicar praticamente a teoria contida
nessa nova obra.
 
Rafael Fernandes Titan Belém, 13 de abril de 2020.
Apresentação
O professor e advogado Rafael Fernandes Titan, se lançou a mais um
desafio na sua vida acadêmica, que foi o de escrever a presente obra
intitulada “Direito Animal – o direito do animal não humano no cenário
processual penal e ambiental”. Trata-se de obra desafiadora, que cuida de
tema inovador, complexo e rodeado de pré-julgamentos. Titan, no entanto, o
enfrenta com competência, coragem e, sobretudo, compromisso com a
natureza e com a construção de uma sociedade, presente e futura, mais
tolerante, solidária e pacífica, na qual a dignidade, enquanto princípio, não
seja uma exclusividade da espécie humana.
O tema é instigante porque remove o véu do preconceito a respeito da
natureza jurídica dos seres não humanos e das consequências sobre as ações
que contra eles os humanos empreendem. Defendem alguns que estaria
surgindo um novo ramo do Direito, de terceira geração, que reconhece os
Animais como sujeitos de direitos, afastando a concepção de que seriam eles
coisa ou recurso natural. Seria o chamado Direito dos Animais, baseado no
paradigma da senciência, ou seja, no entendimento de que os animais não
humanos devem ter sua natureza jurídica modificada, tonando-se titulares de
direitos fundamentais.
A Constituição Federal, em seu artigo 225, dispõe ser o meio ambiente
ecologicamente equilibrado um direito fundamental, e, em seu parágrafo 1º,
inciso VII, refere que isso implica, também, no cuidado e proteção aos
animais. Se lhes confere “natureza difusa e coletiva; um verdadeiro bem
sócio-ambiental de toda a humanidade, com imperativo moral que demonstra
preocupação ética de vedar práticas cruéis contra os animais, e não apenas
com o equilíbrio ecológico.”1
O Supremo Tribunal Federal (STF), “numa primeira aproximação e tendo
em mente os precedentes do STF nos casos envolvendo a assim chamada
farra do boi, da rinha de galo e da vaquejada, nos quais a Corte — também
não de modo incontroverso — decidiu pela ilegitimidade constitucional de
tais práticas, fazendo prevalecer, no contexto de uma ponderação, o dever
constitucional de proteção dos animais em face de manifestações culturais e
desportivas de determinados segmentos da população, a decisão ora
comentada poderia, a depender do ponto de vista, soar como contraditória e
mesmo de caráter retrocessivo”2.
Ao defender a proteção aos animais sencientes, as conclusões do STF na
ADI nº 4.983/CE, na qual se discutia a constitucionalidade de lei estadual que
tratava da prática da vaquejada, sintetiza a evolução da jurisprudência no
sentido de reconhecer a senciência e apontar à existência de um Direito
Animal3.
Em que pese a brilhante conclusão do Tribunal Constitucional pátrio, vale
destacar, em especial, a argumentação desenvolvida pelo Min. Luís Roberto
Barroso, para o qual os animais, apesar de sofrerem – e terem percepção
desse sofrimento – estão em significativa desvantagem em relação aos
humanos. Isso porque os animais não podem, por si próprios, protestar de
forma organizada contra o tratamento que recebem, sendo dependentes dos
seres humanos para se organizarem em seu lugar. Nesse sentido, a
justificação moral para tal apoio estaria no reconhecimento de que animais
humanos e não-humanos compartilham, além do mesmo espaço, também
senciência e, com ela, o sofrimento, a dor e o legítimo interesse de não
receber tratamento cruel.
Constata-se, portanto, evidente evolução positiva na jurisprudência Corte
Superior Brasileira, embora ainda haja Ministros com uma percepção
significativamente antropocêntrica, que não reconhecem os animais não-
humanos como sujeitos de direito. Já se caminha, entretanto,
indubitavelmente, para uma maioria que reconhece, repudia e admite punir
atos dos humanos que submetem animais à crueldade por total
incompatibilidade com o art. 225, §1º, VII, da Constituição Federal.
Ao lançar a presente obra, com análise de doutrina nacional e estrangeira
sobre o tema, bem como observando o trajeto da evolução da jurisprudência
em nosso país, o Autor presta um grande serviço à sociedade na defesa de
todos os animais sencientes, humanos e não-humanos, que vai além da mera
contribuição acadêmica, servindo como importante convite a repensar os
direitos humanos em perspectiva ampliada.
 
Ophir Cavalcante Junior Advogado, Mestre em Direito pela UFPa, ex-
Procurador-Geral do Estado do Pará, ex-Presidente da OAB/PA e ex-
Presidente do Conselho Federal da OAB.
1 CHALFUN, Mery. A questão animal sob a perspectiva do supremo tribunal federal e os “aspectos normativos da
natureza jurídica”. Revista de Biodireito e Direito dos Animais. Curitiba: v. 2, n. 2, p. 56 – 77, jul./dez. 2016.
2 SARLET, Ingo Wolfang, O STF e a tensão entre a liberdade religiosa e o dever de proteção animais. Revista
Eletrônica Consultor Jurídico. Publicação eletrônica: 26 abr. 2019. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2019-abr-26/direitos-fundamentais-stf-liberdade-religiosa-dever-protecao-animais >.
Acesso em 03 jul. 2020.
3 [...] Portanto, a vedação da crueldade contra animais na Constituição Federal deve ser considerada uma norma
autônoma, de modo que sua proteção não se dê unicamente em razão de uma função ecológica ou preservacionista,
e a fim de que os animais não sejam reduzidos à mera condição de elementos do meio ambiente. Só assim
reconheceremos a essa vedação o valor eminentemente moral que o constituinte lhe conferiu ao propô-la em
benefício dos animais sencientes. Esse valor moral está na declaração de que o sofrimento animal importa por si só,
independentemente do equilibro do meio ambiente, da sua função ecológica ou de sua importância para a
preservação de sua espécie. [...] Diante do exposto, acompanho o relator, julgando o pedido formulado na presente
ação direta de inconstitucionalidade procedente, de acordo com os fundamentos aqui expostos, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei nº 15.299, de 8 de janeiro de 2013, do Estado do Ceará, propondo a seguinte tese:
manifestações culturais com características de entretenimento que submetem animais a crueldade são incompatíveis
com o art. 225, § 1º, VII, da Constituição Federal [...] (ADI nº 4.983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno.
Voto do Min. Roberto Barroso. Brasília: j. 06 out. 2016, DJe 27 abr. 2017)
Prefácio
Tenho dedicado os últimos anos da minha vida acadêmica, como Professor
da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a
desenvolver estudos e pesquisas para a elaboração dogmática do Direito
Animal brasileiro, como ramo jurídico autônomo em relação ao Direito
Ambiental.
O Direito Animal, no ponto de vista do direito positivo, é o conjunto de
regras e princípios que estabeleceos direitos fundamentais dos animais não-
humanos, considerados em si mesmos, independentemente da sua função
ambiental ou ecológica.
Dessa forma, os animais, no âmbito dessa nova disciplina, são encarados
como indivíduos importantes por si mesmos, ou seja, dotados de valor
intrínseco e dignidade próprios. Exatamente porque os animais têm
dignidade própria é que se deve outorgar a eles um catálogo mínimo de
direitos fundamentais.
No Brasil, a doutrina do Direito Animal, separada do Direito Ambiental,
somente passa a contar com trabalhos acadêmicos, em concentração
apreciável, a partir dos anos 2000, muito embora, antes disso, possam ser
encontradas obras precursoras, como Direito dos animais: o direito deles e o
nosso direito sobre eles, de Laerte Fernando Levai, de 1998, e A tutela
jurídica dos animais, de Edna Cardozo Dias, de 2000. Com mais de vinte
anos de produção acadêmica, a doutrina animalista já acumula um acervo
importante.
Mas ainda é preciso produzir muito mais para dar consistência científica
ao Direito Animal, de modo que ele possa influir, mais eficazmente, nas
decisões judiciais que tratem da tutela jurídica da dignidade animal.
Por essa razão, é muito bem-vinda a obra de Rafael Fernandes Titan, sobre
um aspecto ainda negligenciado pela doutrina animalista: as incongruências
do sistema de persecução penal, no que se refere à proteção da dignidade
animal. A desproporcionalidade entre o Direito Penal para proteção da
dignidade humana, em relação ao Direito Penal para proteção da dignidade
animal é flagrante, para não dizer inconstitucional, ante a clara insuficiência
das disposições penais, sobretudo das penas cominadas, especialmente para o
segundo caso.
O livro de Titan – DIREITO ANIMAL: O Direito do Animal Não Humano
no Cenário Processual Penal e Ambiental – é uma verdadeira denúncia
dessas incongruências, que possibilitam uma reflexão crítica sobre o caráter
especista e antropocêntrico do sistema jurídico-penal, que insiste em não
oferecer respostas adequadas às exigências constitucionais de proteção dos
animais como seres importantes em si mesmos.
Passando em revista as principais disposições penais e processuais penais
sobre o tema, Titan introduz os conceitos animalistas – como a senciência –
para ampliar a reflexão tradicional da doutrina penalista, que não consegue
enxergar a dignidade animal como um bem penalmente tutelável.
Da minha parte, sinto-me lisonjeado pelo convite de prefaciar esta obra,
que certamente será de citação obrigatória, quando se tratar das implicações
penais e processuais penais do Direito Animal.
Fico feliz em perceber o movimento crescente de jovens juristas – como
Rafael Titan – que encaram o desafio de construir a história do Direito
Animal, lançando as suas bases dogmáticas, sem se deixar levar pela sedução
constante das demais disciplinas tradicionais – até mesmo do Direito
Ambiental.
Tenho certeza que Titan é impulsionado pelo mesmo sentimento que me
acometeu anos atrás: tratar os animais com consideração e respeito, não por
piedade ou compaixão, mas por direito e por justiça.
Parabéns ao autor pela obra!
Curitiba, inverno de 2020.
 
VICENTE DE PAULA ATAIDE JUNIOR
Professor Adjunto do Departamento de Direito Civil e Processual Civil da
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor do Programa de Pós-
Graduação em Direito da UFPR. Doutor e Mestre em Direito pela UFPR.
Pós-Doutor em Direito Animal pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Coordenador do Programa de Direito Animal da UFPR. Coordenador do
Curso de Especialização em Direito Animal da ESMAFE-PR/UNINTER.
Juiz Federal no Paraná. Formador de Magistrados pela Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) e pela Escola da
Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (EMAGIS). Ex-
Promotor de Justiça do Ministério Público de Rondônia. Membro do Instituto
Brasileiro de Direito Processual (IBDP) e Membro-Fundador do Instituto
Paranaense de Direito Processual (IPDP). Membro da Comissão de Direito
Socioambiental da Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE).
Prefácio
Recebo o distinguido convite de Rafael Fernandes Titan para prefaciar esta
obra – dedicada às perspectivas ambientais e criminais do Direito Animal –,
que se traduz em rara e militante oposição à cultura de exclusão dos animais
de sistemas eficazes de tutelas e a um cansado processo civilizatório de
centralidades e interesses essencialmente econômicos – que ignorou censuras
e constrangimentos.
Assim, torna-se prazeroso o ato de apresentar esta obra. Pelos alcances
universalizantes e penhores humanistas, que não se furtam do seu criador;
dão-lhe, antes, ombros largos, que ostentam adequadamente discursos
cuidadosos, delineados em escritos e ensaios agradavelmente postos em
forma de correntezas temáticas. Apesar da seriedade que engradece o
trabalho.
Muito há a ser dito sobre o autor.
Além dos estuários acadêmicos, Rafael Fernandes Titan beneficiou-se
intelectualmente em cursos plurais de pós-graduação em Direito Público, em
Direito Penal e Processual Penal, estando a erguer, neste momento, o seu
Doutoramento.
Nele, somam-se outros quilates, a exemplo de cargos de professor
universitário, advogado e membro da Comissão de Defesa dos Direitos dos
Animais da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Estado do Pará.
E se os olhos percorrerem a introdução da obra que honrosamente aceito
prefaciar, encontram-se virtudes legitimantes da profissão de fé do autor à
substância do Direito Animal, posto revelarem a urgência confessada do
próprio escritor e de seu trabalho.
Trata-se de trabalho reativo ao estado das coisas que se consolidou a partir
de premissas essencialmente econômicas e em processos civilizatórios que
habitualmente marginalizaram o animal, quanto à perspectiva da existência,
da vida e da proteção adequada.
Com esse espírito de combatividade, “Violar um direito animal é violar
um direito humano”, brada, obstinado, Rafael Titan. A pronúncia de seu
sobrenome parece fazer todo sentido.
O ensaio abrange, contudo, mares ainda mais bravios. Inunda pautas éticas
alusivas relativas à agenda de proteção efetiva em favor dos animais, as quais
parecem precipitar evoluções, estabelecer projetos existenciais e erradicar
memórias de uma civilização severamente colonizada pelo utilitarismo, que
não se constrange perante a condição humana do homem e que em tudo
testemunha contrariamente a tal condição.
A condição do animal é, sem dúvida, intrínseca à humanidade do homem e
parte da improrrogável superação da ideia de que haveria escalonamentos –
base e ápice – entre as espécies a justificar pluralidade de níveis morais de
proteção. Tanto que a Declaração Universal dos Direitos dos Animais não
silencia: “2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros
animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus
conhecimentos ao serviço dos animais.”
Há imprescindibilidades nesta obra, reveladas em sua estrutura. O autor
perpassa, com láurea, o sistema normativo de proteção ambiental, tecendo
valioso estudo sobre as teorias fundantes – facultando-nos indispensável
ponto de contato com a gênese do tema – e o aparelho processual de tutelas
aplicáveis – em verdadeiros cuidados com a amplitude constitucional do
tema. Propõe, com suas edificantes ideias, novas centralidades para a conduta
humana, a partir de escolhas por juízos éticos possíveis favoráveis ao bem-
estar animal.
Entusiasmo-me verdadeiramente a apresentar este estudo – que reputo
sério e promissor – acerca de tutela libertadora dos animais e de uma
precipitação de avanços humanitários. No que, aliás, o estudo é muito bem
sucedido.
 
Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes
MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ
Sumário
Nota do autor
Apresentação
Prefácio
Prefácio
Sumário
1 Introdução
2 Breves Considerações da Lei de Crimes Ambientais
2.1 Perspectivas teóricas
2.1.1 Teoria Antropocentrista
2.1.2 Teoria Ecocêntrica
2.2 Aspectos gerais da Lei 9605/98
3 A fauna brasileira3.1 Animais da fauna brasileira
3.2 Formas de violência
3.3 Comércio de animais
3.4 A caça de animais e as armadilhas
4 A desproporcionalidade
5 Os procedimentos penais e a Lei de Crimes Ambientais
5.1 Diferença entre Processo, Jurisdição e Procedimento
5.1.1 Tipos de procedimento
5.1.2 O procedimento especial do processo penal brasileiro
5.2 A Lei de Crimes Ambientais e o procedimento especial
6 O direito do animal não humano como um direito humano
6.1 A senciência
6.2 Declaração Universal de Direitos
6.2.1 Evolução do Direitos Humanos no Brasil sob a ótica ambiental
6.3 Legislação brasileira
6.4 Violar um direito animal é violar um direito humano
7 Conclusão
Posfácio
Por Daniel Braga Lourenço
8 Bibliografia
Anexos
1 Introdução
Atualmente o homem limita-se unicamente a sua existência. Envolvido
pelo sentimento de poder e ambição, ele sempre almeja aquilo que lhe
satisfaz momentaneamente e depois descarta, não se importando com as
consequências geradas por esses descartes. Desmatamentos, maus tratos,
crueldades e entre outros crimes ambientais são praticados para satisfazer a
necessidade humana.
O homem e a natureza sempre coexistiram, porém aquele depende deste
para sobreviver e o contrário não é verdadeiro. Há tempos se busca o
entendimento entre homem e natureza. O homem, como já citado, é um ser
totalmente dependente da natureza, necessitando dela para viver e sobreviver,
pois é dela que retira os recursos indispensáveis para sua manutenção; foi
dela que teve sua origem biológica.
A relação do homem com a natureza já foi menos gravosa. Atualmente
nosso planeta passa por um processo de degradação ambiental muito alto.
Embora haja inúmeros projetos voltados para mitigar esses efeitos, os danos
já foram causados e muitas vidas já foram tomadas.
Partindo do preceito puramente biológico, o conceito de vida é o
fenômeno que anima a matéria e que passa pela seguinte sequência:
nascimento, crescimento, reprodução e morte – com as devidas vênias e
posteriores aprofundamentos, essa seria a sequência básica – sendo, portanto,
qualquer interrupção de caráter não biológico durante esse processo, até
mesmo a morte de um ser humano, é considerado um dano ambiental.
Ainda nesse sentido, morte deve ser algo natural do processo da vida
quando ocorre dentro do processo normal evolutivo. Quando isso ocorre fora
do padrão considerado normal, como um assassinato, por exemplo, muitas
responsabilidades irão surgir desse fato, tais como sanções, danos,
obrigações. E de tais fatos nasce uma palavra que comumente se vê em
televisões e jornais: justiça.
O conceito de justiça é demasiadamente subjetivo. O que pode ser justo e
correto para um indivíduo, pode não ser para o outro. O que precisa ser feito,
então, é valorar-se condutas em um determinado tempo e lugar, de acordo
com os costumes de uma sociedade, por exemplo, para se chegar próximo de
tal conceito. Mas, com o intuito de analisar o assunto aqui estudado, justiça é
fornecer à alguém ou a alguma coisa – no sentido de bem móvel ou imóvel -
tratamento igualitário na medida de suas (des)igualdades.
Logo, diante do conceito acima estudado, aquele que interrompe uma vida
merece ser punido de uma forma severa. O direito à vida é o direito mais
importante das legislações mundiais, independentemente do tipo de estado e
governo que o país esteja submetido. É importante ressaltar, que mesmo
sendo o mais importante em todas as partes do mundo, o direito a vida é
relativizado em alguns países. Constitucionalmente, no Brasil, o direito a vida
é o bem jurídico mais relevante que os cidadãos possuem e, de certo modo
bem como cumprindo alguns requisitos, ele pode ser posto em
condicionalidade, não sendo, dessa forma, absoluto. Do ponto de vista
religioso, a existência é o bem mais importante que a divindade entregou ao
mortal, seja qual for a religião do ser humano. E ela não deveria ser tomada a
não ser pela vontade de seu criador.
Ainda nesse sentido, as garantias constitucionais buscam consagrar à
solidariedade, consolidando dessa maneira os princípios da Revolução
Francesa: liberdade (1º geração), igualdade (2º geração) e fraternidade (3º
geração). A Terceira geração são os direitos fundamentais direcionados com
o destino da humanidade, inicialmente preocupados com o Meio Ambiente e
a sua proteção e conservação, o desenvolvimento econômico e a defesa do
consumidor. Esta visão decorrente da organização social que é a partir dessa
geração que surge a concepção individual considerada em sua unidade e não
na fragmentação individual. Logo, percebe-se que essa geração contribuiu de
forma maciça para o surgimento de uma consciência jurídica de grupo e na
consequência, o redimensionamento da liberdade de associação e de outros
direitos coletivos, também chamados de direitos transindividuais ou difusos.
Analisando a Constituição Federal de 1988, no âmbito dos direitos
fundamentais, é dever do ser humano, também, defender e preservar o meio
ambiente e nesse sentido a fauna e a flora que dele fazem parte, como bem
preceitua o artigo 225 da Constituição. No enfoque jurídico, aquele que ceifa
a vida de alguém, dependendo das leis do Estado em que se encontre, é
punido da mesma forma, com a morte. No Brasil o Código Penal, em seu
artigo 121 diz, in verbis: “Homicídio simples - Art. 121. Matar alguém: Pena
- reclusão, de seis a vinte anos.”1
Existe questionamento do porquê essa reclusão mínima não é maior. Há
posicionamentos acerca desse quantum ser ínfimo, por exemplo, 6 anos para
quem matou alguém. É aí que recaí o conceito de justiça e há de ser
analisado, mas talvez em momento oportuno, as condições da prática do
crime, a conduta do agente e uma série de fatores que levaram à prática
delituosa.
Um tema que, com certeza, gera uma discussão fervorosa em razão do
conceito de justiça é pensar: por que a sua vida é mais importante que a do
ser humano do seu lado? A pergunta pode também ser feita através de uma
outra ótica, vejamos: Por que a sua vida é mais importante que qualquer outra
forma de vida? Todos não têm direito à vida? Por que A tem que morrer para
B sobreviver?
A partir desses questionamentos é que se entra no tema mais importante
desse texto e já mencionado mais acima. Com o consumo desenfreado e a
busca por melhor condição de vida, o homem devasta a natureza, consome
seus recursos naturais sem a menor preocupação, dizimado tudo o que vê pela
frente: desmata, mata, fere e extingue fauna e flora que à ele são
indispensáveis para sua própria sobrevivência. Diante dessas afirmações,
volta-se as perguntas do parágrafo anterior: por que a vida do homem é mais
importante do que a vida da natureza, se é ela que faz ele permanecer vivo?
O conceito de justiça, como já foi afirmado, é subjetivo e é do
entendimento de cada um e em cada tempo, mas não se pode fechar os olhos
para uma situação que está fora dos padrões considerados éticos de uma
sociedade. Vejamos o que diz o artigo 29 da Lei 9.605/98 – Lei de Crimes
Ambientais, in verbis2: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar
espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida. Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
Ainda nesse sentido, o artigo 32 da mesma lei: “Art. 32. Praticar ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano,
e multa”3.
Se um homem matar um animal silvestre ou mutilar um animal doméstico
ele não vai ser encarcerado, com a devida vênia, não será nem “preso”. É
nessa situação que não se pode esquecer, que não se pode fingir, que não há
uma desproporcionalidade, pois de fato há! A todo momento existem notícias
nos diversos meios de comunicação sobre maus tratos e matança
indiscriminada da fauna e desmatamento da flora.
É necessário um senso moral, ético e justo em avaliar e ponderar sobre a
vida. Ela não deve ser banalizada a ponto de ser tomada apenaspelo simples
fato de não significar -tanto - para quem a ceifou. Que tipo de relação seria
essa? Seria uma relação justa? Não é um mundo justo e harmônico que o ser
humano busca?
A evolução histórica da Lei de Crimes Ambientais, como é chamada a Lei
9605/98, teve início, como já explicado, a partir do artigo 225 da
Constituição Federal Brasileira de 1988 e com a intenção de consolidar as
raras leis que regulavam os atos lesivos contra o meio ambiente. Na nova lei
criada, a intenção do legislador, além de unificar os textos legais esparsos, era
sancionar penalmente o agente causador do dano ambiental. Tal intenção foi
positiva, entretanto não houve um “quantum” de pena adequado e necessário
para quem cometesse o crime, tendo a referida lei o caráter sancionador
apenas administrativo e econômico.
Cada vez mais, animais selvagens e silvestres estão ameaçados de
extinção, devido a perda de habitat, poluição, intervenção humana,
exploração comercial e outros fatores. Os homens nem sempre fazem uso dos
recursos naturais, incluindo animais selvagens e silvestres, de maneira
responsável. Como resultado, os processos ecológicos não conseguem
funcionar corretamente, para manter o meio ambiente saudável e
diversificado para a população selvagem/silvestre. Existem tipos diferentes
de exploração dos animais selvagens e silvestres, com efeitos variados no
bem-estar dos indivíduos envolvidos. Alguns animais são capturados na
natureza, enquanto outros são reproduzidos em cativeiro. Eles podem ser
comercializados vivos ou mortos (inteiros, em partes ou na forma de produtos
processados). Muitos tipos de exploração envolvem alto grau de sofrimento
animal. Algumas formas de exploração comercial dos animais selvagens e
silvestres também comprometem sua preservação. Populações animais são
afetadas, assim como também a qualidade de vida do animal
individualmente.
O homem não sabe utilizar os recursos naturais de forma sustentável.
Utiliza-os de forma danosa para o meio ambiente e acaba causando morte,
maus tratos à animais silvestres, domésticos e domesticados. Não há
proporcionalidade entre a conduta do criminoso quando mata um animal com
a sanção imposta por tal ação. Se for feita uma comparação com o artigo 121
do Código Penal, será observado uma relativa proporcionalidade entre a
conduta e pena. Isso não ocorre no artigo 29 da lei de crimes ambientais.
Com uma atitude que cause severos e contínuos danos ao meio ambiente, a
consequência, em longo prazo, do ser humano é a própria extinção. Como
será abordado adiante, será possível perceber que ao modificar o cenário
ambiental onde vive, o homem está fadado a tal mudança. Se essa mudança
for positiva, racional a consequência será na mesma proporção. Entretanto, se
essa mutação for negativa e sem racionalidade, a consequência para o ser
humano, não será diferente.
1 (Brasil. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm).
2 BRASIL. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
3 BRASIL. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
2 Breves Considerações da Lei de Crimes
Ambientais
2.1 Perspectivas teóricas
Atualmente tem-se discutido a relevância dos recursos naturais do nosso
mundo. Ainda bem que a consciência em relação importância da preservação
e cuidado com o meio ambiente tem crescido e algumas pessoas tem se
posicionado cada vez mais de forma ecológica. Porém, não costumava ser
assim. Durante séculos o ser humano utilizou a natureza (fauna, flora e
demais recursos) da maneira que lhe convinha, entendendo que os recursos
naturais eram inesgotáveis. Esse pensamento, esse modo de agir, se
perpetuou ao longo dos anos e hoje a sociedade encontra dificuldade de
entender e aceitar que o meio ambiente possui valor próprio.
Diante desse contexto, analisaremos duas teorias importantes sobre a
perspectiva homem x meio ambiente: o antropocentrismo e o ecocentrismo.
Ainda existem outras teorias como o biocentrismo e especismo, mas não
trataremos dessas duas nessa abordagem.
2.1.1 Teoria Antropocentrista
De acordo com o promotor e professor Laerte Levai, o antropocentrismo é
“uma corrente de pensamento que reconhece o homem como o centro do
universo e, consequentemente, o gestor e usufrutuário do nosso planeta”
(LEVAI, L. F. 2011, p. 02). Assim, é de fácil percepção que essa teoria
defende a supremacia humana, pois todo e qualquer propósito que não seja do
ser humano fica em posição de inferioridade.
Nessa sequência, essa teoria não atribui relevância aquilo que não é
humano, os animais e outras formas de vida são considerados objetos e
servirão ao propósito do homem. Sua importância fica vinculada ao quanto
eles serão úteis para o desenvolvimento do ser humano e sua vida sadia.
Assim, os que não são homens possuem apenas um mero valor de uso e é
através dessa forma de pensar, através do antropocentrismo, que muitos
autores justificam a exploração do meio ambiente.
Inserida na perspectiva ora discutida, é possível citar a doutrina estrangeira
“The Great Chain of Being” (“A Grande Cadeia do Ser”), de autoria do
filósofo e historiador estadunidense Arthur Oncken Lovejoy. Essa obra, em
síntese, realiza uma distribuição das formas de vida e de não vida no mundo.
No primeiro degrau desse escalonamento existem os seres que não possuem
vida (terra, água, pedra e outros), acima deles as plantas, depois os animais
não humanos e no topo os homens.
Dessa forma, o mundo que conhecemos hoje foi construído sob os moldes
dessa “pirâmide” na qual os humanos dominam e detêm o controle sobre
todas as outras formas de vida e de não vida presentes no planeta.
2.1.2 Teoria Ecocêntrica
A visão do ecocentrismo é o contrário do antropocentrismo, é uma linha
de pensamento da filosofia voltada a ecologia, ou seja, posiciona a natureza
(o meio ambiente) como personagem principal e dessa forma passa a possuir
uma valoração, uma essência, algo que mereça proteção. Nessa teoria, os
interesses são todos voltados e concentrados ao meio ambiente. Para essa
teoria, o ser humano e a natureza estão no mesmo nível de escalonamento.
O argumento principal do ecocentrismo é de que o homem quando
executar qualquer tipo de ação, ou mesmo o pensamento, deve levar em
consideração a proteção e a conservação da natureza. Ao contrário do
antropocentrismo que preconiza a vida do ser humano como foco, como
centro, a teoria ecocêntrica busca a preservação do ecossistema e de todas as
espécies (incluindo a humana). Defende ainda, que todas as formas de vida
têm a mesma origem (água) e por isso não devem possuir tratamentos
distintos. O ecocentrismo é uma teoria, ao nosso sentir, mais abrangente pois
considera tanto os seres bióticos (os que possuem vida) quanto os seres
abióticos (os que não possuem vida). Nas palavras do professor ambientalista
Stan. J Rowe: “Ecocentrismo vai além do biocentrismo com sua fixação em
organismos, pois ecocentrismo vê as pessoas como inseparáveis da natureza
orgânica/inorgânica que as encapsula” (ROWE, J. Stan. 1994, p. 106-107).
Portanto, é cristalino que o posicionamento central dessa teoria posiciona
os valores do meio ambiente como detentor de garantias, prerrogativas,
direitos e não somente os animais. Essa visão procura por fim não somente a
exploração animal em todas as suas formas, mas também a ruina da natureza.
2.2 Aspectos gerais da Lei 9605/98
A partir de um dado momento da história do planeta Terra, a evolução
humana passou a representar um risco iminente e acentuado para os outros
seres vivos. Com o passar do tempo, a espécie humana, comoera de se
esperar, cresceu e saltou de 1 bilhão e meio para quase 6 bilhões de pessoas4.
Como qualquer espécie, a humana precisa consumir os recursos naturais
disponíveis no ambiente, entretanto esse consumo é desenfreado e sem limite,
prejudicando as outras formas de vida bem como o próprio do homem.
A evolução humana se deu pela predisposição genética do homem, as
grandes descobertas bem como o avanço tecnológico, proporcionaram ao
mesmo um rápido crescimento em comparação com as outras espécies. Tais
avanços e descobertas acentuaram o processo de transformação e degradação
em níveis que hoje se demonstram extremamente perigosos à própria
sobrevivência da humanidade.
Grandes áreas verdes foram desmatadas, rios e lagos poluídos, emissão de
gases e poluentes, dando início a um ciclo de poluição e contaminação do
solo, da água e do ar. Toda essa destruição teve como ponto de partida a
evolução do homem.
Em nosso país, antes da Constituição Federal de 1988, eram raros os textos
normativos que se preocupavam em normatizar os fatos que estavam
ocorrendo. A preocupação com a degradação ambiental e necessidade de
impor sanção ao homem acabou acontecendo, mas era porquê estava
lesionando algum direito alheio e por razões econômicas, e não pelo fato de
que davam valor ao meio ambiente. Faltava ainda uma punição em caráter
penal, a tipificação de crime pra quem degradasse o planeta. Foi então que
houve a hierarquização constitucional da proteção ao meio ambiente, inserida
no artigo 225 da Carta Magna do país, as leis penais pertinentes à proteção
ambiental foram consolidadas na Lei 9.605/98, de 12 de fevereiro de 1998.
A lei de crimes ambientais é um projeto oriundo do poder executivo e
tinha, originalmente, a intenção de sistematizar as punições administrativas e
unificar o valor das multas. Houve um debate no Congresso Nacional sobre a
tentativa de consolidar a legislação ambiental à questão penal. A intenção do
legislador era de reunir as sanções penais e administrativas brasileira em um
único dispositivo de lei em matéria ambiental. Concentraria a matéria em
uma única norma. Tal regulamentação veio através do Decreto 3179/99, que
especifica as penas aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente5.
Foi perceptível a boa intenção do legislador, entretanto faltou sensibilidade
ao mesmo acerca das sanções para quem cometesse crimes contra o meio
ambiente. Apesar disso, a vantagem da norma está na sistematização, pois há
um texto unificado, regulando as condutas e revogando dispositivos legais em
outras leis esparsas pelo princípio constitucional “lex specialis derogat lex
generali”, que significa nas palavras do doutrinador Luiz Paulo Sirvinskas:
“norma especial afasta a geral se se tratar da mesma matéria e se for
conflitante”6.
Ademais, ainda nesse sentido, é importante pontuar algumas
características da referida lei. O professor venezuelano José Moyá (2007, on
line), já na época da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
no Rio de Janeiro em 1992 (Rio 92), chegou a alardear que: “meio ambiente
não existe”, e que o que existe “é um todo global e integrado, cujos
elementos se combinam interdependentemente, formando uma unidade
indissolúvel” que deve então ser denominado apenas de ambiente7. Com a
devida vênia, ouso discordar e ter como concepção quatro modalidades de
meio ambiente: meio ambiente natural (aquele local existente sem a ação do
homem como meio para constituí-lo); meio ambiente artificial (aquele local
em que foi necessária a ação do homem para que existisse) e meio ambiente
cultural (todo aquele local que, apesar da ação do homem ser imprescindível
para que surgisse, é considerado um monumento histórico, cultural)8 e meio
ambiente laboral (formados por conjuntos de equipamentos de proteção
individual, por exemplo), bem como entender que as palavras meio e
ambiente não são sinônimas mas sim termos que se complementam. Nesse
mesmo entendimento, o mestre Édis Milaré apresenta sua concepção9: Tanto
a palavra meio quanto o vocábulo ambiente passam por conotações, quer na
linguagem científica quer na vulgar. Nenhum destes termos é unívoco
(detentor de um significado único), mas ambos são equívocos (mesma
palavra com significados diferentes). Meio pode significar: aritmeticamente,
a metade de um inteiro; um dado contexto físico ou social; um recurso ou
insumo para se alcançar ou produzir algo. Já ambiente pode representar um
espaço geográfico ou social, físico ou psicológico, natural ou artificial. Não
chega, pois, a ser redundante a expressão meio ambiente, embora no sentido
vulgar a palavra identifique o lugar, o sítio, o recinto, o espaço que envolve
os seres vivos e as coisas. De qualquer forma, trata-se de expressão
consagrada na língua portuguesa, pacificamente usada pela doutrina, lei e
jurisprudência de nosso país, que, amiúde, falam em meio ambiente, em vez
de ambiente apenas.
Ainda no que tange a lei de crimes ambientais, mister ressaltar que há a
previsibilidade do concurso de pessoas com base no artigo 29 do Código
Penal Brasileiro, em que a pessoa responderá mediante ao seu grau de
culpabilidade. Há a responsabilização da pessoa jurídica, pois de acordo com
a carta magna, o meio ambiente é um direito social, pertencente a toda
coletividade. O artigo 3º, da Lei 9605/98 ensina que é de integral
responsabilidade do Estado em punir civilmente, administrativamente e
penalmente as pessoas físicas ou jurídicas que cometem este delito, bem
como o parágrafo único deste artigo que aduz que, mesmo que se for a pessoa
jurídica que cometeu o delito, não excluirá a culpabilidade de seus
representantes legais, mesmo porque quem possui a capacidade para a prática
deste delito é somente a pessoa física, que consequentemente será de
responsabilidade do seu representante legal10. As circunstâncias judiciais
elencadas no artigo 59 do Código Penal para a aplicação na dosimetria da
pena estão presentes. Entretanto a Lei 9.605/1998 em seu artigo 6º elenca
circunstâncias específicas em crimes ambientais. Mas mesmo com essa
especificidade, há de se levar em consideração, de forma conjunta, o artigo
59 do Código Penal, não podendo se estipular um novo mínimo e máximo do
“quantum” da pena. O artigo 7º da lei em análise, de crimes ambientais, traz a
figura das penas restritivas de direito, as quais são autônomas e substituem as
penas privativas de liberdade desde que cumpridos os requisitos. No artigo 16
desta Lei, há a previsão da suspensão condicional da pena (o SURSIS penal)
desde que a pena máxima do delito ambiental não ultrapasse três anos.
A ação penal dos crimes de natureza ambiental, de acordo com o artigo 26
da Lei 9605/98, é pública e incondicionada a representação, ou seja, não se
faz necessário a atuação da vítima ou do seu representante para o início da
persecução criminal. Nos crimes contra a flora, a competência para processar
e julgar é da Justiça Federal quando fica comprovada a existência de lesão a
bens, serviços ou interesses da União. Caso contrário, o julgamento da causa
compete à Justiça Estadual, conforme entendimento do Superior Tribunal de
Justiça. Nos casos de crimes contra a fauna a competência da Justiça Federal
para o julgamento e processamento dos feitos somente se justifica se
demonstrado interesse direto e específico da União, de suas autarquias ou
empresas públicas, se não houver esse interesse, a competência é da justiça
Estadual. É importante destacar que o art. 53 da Lei 9.985/2000 outorgou ao
IBAMA o dever de catalogar espécies ameaçadas de extinção em território
nacional. Dessa forma, é possível entender que quando o IBAMA catalogar
espécies em possibilidades de extinção, qualquer crime praticado contra esse
animal será de competência federal. Vejamos o entendimento do Supremo
Tribunal Federal sobre o assunto: No presente caso, o delito imputado (art.
34, parágrafo único, inciso III, combinado com art. 15, II, alíneas “a” e “q”
da Lei 9.605/1.998) foi praticado dentro do território nacional, e não há
demonstração de que os espécimescapturados seriam transportados para fora
do país. Por outro lado, a fauna não é descrita pelo texto constitucional como
bem da União (art. 20 da Constituição). Nessa linha, a competência da Justiça
Federal para processamento do feito somente se justifica se demonstrado
interesse direto e específico da União, de suas autarquias ou empresas
públicas. Ora, in casu, o art. 53 da Lei 9.985/2000 outorgou ao IBAMA o
dever de catalogar espécies ameaças de extinção em território nacional. A par
disso, o art. 54 confere à União a faculdade de autorizar em caráter
excepcional a captura de determinados espécimes em risco de extinção
destinados a programas de criação em cativeiro ou formação de coleção
específica. Entrevejo, pois, que o dever de catalogar as espécies ameaçadas
de extinção no território nacional constitui interesse federal específico,
decorrente da necessidade de proteger determinados animais em toda a
extensão territorial brasileira. Como no caso em questão a denúncia reporta-
se à Instrução Normativa nº 05/2004 IBAMA, não merece reparo a fixação da
competência da Justiça Federal, com fulcro no art. 109 da Constituição. Sem
razões para a concessão da ordem de habeas corpus. Ante o exposto, nego
seguimento ao presente habeas corpus (art. 21,§1º, do RISTF). Publique-se.
HABEAS CORPUS 121.681 RIO GRANDE DO SUL. RELATORA : MIN.
ROSA WEBER. PACTE.(S) :FERNANDO LUIS DA ROSA FREIRE. IMPTE.(S)
:DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. PROC.(A/S)(ES) :DEFENSOR
PÚBLICO-GERAL FEDERAL. COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. 15/12/2017.
Percebe-se, portanto, que a competência para processar e julgar crimes
contra o meio ambiente, em regra, é da Justiça Estadual e apenas com as
devidas condições estabelecidas pelos tribunais superiores é que será de
atribuição da Justiça federal. Ainda nesse contexto, poderá ser de
competência do juizado especial criminal os crimes em que a pena máxima
não exceder dois anos.
A evolução histórica da Lei de Crimes Ambientais, como é chamada a Lei
número 9.605/1998, teve início, como já explicado, a partir do artigo 225 da
Constituição Federal Brasileira de 1988 e com a intenção de consolidar as
raras leis que regulavam os atos lesivos contra o meio ambiente. Na nova lei
criada, a intenção do legislador, além de unificar os textos legais esparsos, era
sancionar penalmente o agente causador do dano ambiental. Tal intenção foi
positiva, entretanto não houve um “quantum” de pena adequado e necessário
para quem cometesse o crime, tendo a referida lei o caráter sancionador
apenas administrativo e econômico. No que diz respeito a parte processual,
verifica-se a fragilidade do sistema em garantir uma justa condenação, haja
vista os inúmeros “benefícios” que a legislação oferece por ter uma pena
desproporcional.
4 ROMANELLI, Francisco Antônio. A sanção penal no sistema da lei 9.6905/98.
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=7118
5 ROMANELLI, Francisco Antônio. A sanção penal no sistema da lei 9.6905/98.
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=7118
6 SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. São Paulo: Saraiva, 2004, 3.ª edição; pág. 235.
7 http://www.oab.org.br/editora/revista/revista_08/anexos/o_meio_ambiente_na_constituicao_federal.pdf
8 http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,comentarios-a-parte-geral-da-lei-de-crimes-ambientais,33417.html
9 http://www.oab.org.br/editora/revista/revista_08/anexos/o_meio_ambiente_na_constituicao_federal.pdf
10 http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,comentarios-a-parte-geral-da-lei-de-crimes-ambientais,33417.html
3 A fauna brasileira
3.1 Animais da fauna brasileira
Fauna é o conjunto de espécies animais quem vivem numa determinada
área (floresta, país, ecossistema específico). A fauna de uma determinada
região pode ser muito variada, dependendo das condições ambientais
existentes11. Grande, diversificada e específica é a fauna brasileira. Muito são
os animais nativos em nosso território, cabendo a nós, por força
constitucional, cuidar e proteger, pois é cristalino que nossa sobrevivência e
evolução dependem da boa relação entre o ser humano e o animal.
Na região amazônica são muitos os tipos de peixes e mamíferos aquáticos
que habitam os rios e lagos. As espécies mais conhecidas são o pirarucu e o
peixe-boi (ameaçado de extinção). Nas várzeas existem jacarés e tartarugas
(também ameaçados de extinção), bem como algumas espécies de anfíbios, a
capivara e algumas serpentes, como a sucuri. Nas florestas propriamente dita
se encontram a onça, os macacos, a preguiça, a jiboia, a sucuri, os papagaios,
araras, tucanos e uma variedade de insetos e aracnídeos. Nas caatingas,
cerrados e campos são mais comuns a raposa, o tamanduá, o lobo guará, o
guaxinim e codornas. De maneira geral, a fauna brasileira não se compara
com nenhuma outra em variedades. São inúmeras as aves de rapina, como os
gaviões, como as corujas e as águias12.
Dessa forma, são muitos os animais que compõe a fauna brasileira,
devendo a mesma ser preservada, pois pela própria evolução humana, como
já foi citado, é possível que alguns animais da nossa fauna sejam extintos,
como de fato já aconteceu e está acontecendo.
3.2 Formas de violência
Primeiramente se faz necessário definir, conceituar, a palavra violência.
De acordo com o dicionário13, violência é “Qualidade ou caráter de violento,
do que age com força, ímpeto. Ação violenta, agressiva, que faz uso da força
bruta: cometer violências.” é também “Ato de crueldade, de perversidade, de
tirania: regime de violência.” Ainda, “ação ou efeito de empregar força física
ou intimidação moral contra; ato violento.” Por Violência entende-se a
intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro indivíduo ou grupo
(ou também contra si mesmo). No entendimento de Foucault14, para que haja
violência é preciso que a intervenção física seja voluntária: o motorista
implicado num acidente de trânsito não exerce a violência contra as pessoas
que ficaram feridas, enquanto exerce violência quem atropela
intencionalmente uma pessoa odiada. Além disso, a intervenção física, na
qual a violência consiste, tem por finalidade destruir, ofender e coagir. É
violência a intervenção do torturador que mutila sua vítima; não é violência a
operação do cirurgião que busca salvar a vida de seu paciente. Exerce
violência quem tortura, fere ou mata; quem, não obstante a resistência,
imobiliza ou manipula o corpo de outro; quem impede materialmente outro
de cumprir determinada ação15. Geralmente a violência é exercida contra a
vontade da vítima. Existem, porém, exceções notáveis, como o suicídio ou os
atos de violência provocados pela vítima com finalidade propagandística ou
de outro tipo. (Stoppino, 1992, p.1291)16. Com a devida vênia, na minha
concepção, violência, de uma maneira abrangente, é uma conduta (ação ou
omissão), dolosa ou culposa, que provoca lesões contra a saúde física e/ou
psicológica de um ser vivo capaz de expressar sentimentos, ou seja, em seres
sencientes.
A violência através de uma ação dolosa é aquela que possui a vontade,
livre e consciente, de causar sofrimento a um ser. O agente quer satisfazer sua
vontade, quer infligir dano contra a saúde física e/ou psicológica do seu alvo.
A violência através da omissão é aquela em que o agente deixa de prestar um
socorro, uma ajuda para o ser vivo que precisa ser socorrido. No mesmo
sentido, a violência através de uma ação culposa, é aquela em que o agente,
por negligência, imprudência ou imperícia, não tem a intenção de lesionar,
mas lesiona.
A ação da violência, abordada de maneira genérica, pode recair sobre
objetos (mas dessa forma não lesiona e sim danifica) e sobre os seres vivos.
Desde o começo da humanidade, tal ação recai comumente sobre os animais
silvestres, domésticos e domesticados. E muitas são as formas de violência
física contra esses seres vivos, os quais são objetos desse estudo. Durante
muito tempo, os animais foram e continuam sendo mortos, vítimas de maus-
tratos, feridos, mutilados e explorados para satisfazer os prazeres, muitas dasvezes sem necessidade, dos seres humanos. Ceifar a vida de um animal, sem
necessidade, é o pior tipo de violência física que esse ser vivo pode receber,
pois aquela é a maior garantia que a Constituição Federal Brasileira oferece,
nenhuma outra garantia é tão importante quanto a vida, a essência da
existência, e retirar isso de um ser que a possui é a maior violação de um
direito que pode ocorrer, em qualquer lugar do mundo.
Ainda nesse sentido, o artigo 32 da Lei de crimes ambientais, cita, porém
não limita, os possíveis tipos de violência física que podem ser cometidos
contra animais silvestres, domésticos e domesticados. Praticar ato de abuso é
agir de maneira incorreta, ilegítima, imoderada e injusta, é forçar o animal
executar atividades que contrariem sua atividade natural; maltratar é o ato de
fazer sofrer; ferir significa machucar; mutilar é o ato de cortar, retalhar um
membro ou parte do corpo. Algumas doutrinas e pesquisadores acerca do
direito ambiental entendem que não é possível a modalidade culposa, através
da imprudência, negligência ou imperícia, para os tipos de violência física
descritos no artigo 32 e 29 da referida lei. Com o devido respeito, ouso
discordar. No que tange a ação de maus tratos, penso que é possível ser
cabível a modalidade culposa do delito, entretanto antes de aprofundar o
mérito do raciocínio, se faz necessário a conceituação das modalidades da
conduta culposa. A culpa, em sentido estrito, possui três modalidades:
imprudência, negligência e imperícia. Qualquer pessoa que execute uma ação
pautada em tais modalidades, age com culpa (sem intenção) e não com dolo
(com intenção). Agir com negligência significa deixar de fazer algo quando
deveria ter feito, é uma conduta omissiva. Imprudência significa agir com
precipitação, sem cuidado e zelo necessário. Imperícia significa não saber
fazer direito, falta de conhecimento necessário para agir. Dessa forma, é
perfeitamente plausível um ser humano que possui um animal de estimação
(doméstico) e, por conta de seus afazeres diários, esquece-se de alimentá-lo
por mais de dez dias, fazendo com que o mesmo fique debilitado. Houve
violência na conduta da pessoa, caracterizada pelo maltrato, entretanto não
houve vontade, intenção de alcançar aquele resultado e sim culpa em razão da
negligência, através da omissão, do deixar de alimentar.
Não se pode deixar de mencionar atos de violências que já foram muito
comuns em outrora. Era sensacional em espetáculos circenses a aparição de
animais como tigres, leões, elefantes e outros animais que compõe nossa
fauna. Bastava um gesto do domador e o animal atendia ao seu comando
fazendo o público aplaudir de pé. Sem saber, pessoas de bem aplaudiam a
violência na sua forma mais primitiva pois era através de atos de abuso, maus
tratos e até mutilações (remoção de unhas, dentes e outros) que os animais
ficavam condicionados à obediência. Esse espetáculo, bizarro, muitas vezes
não eram licenciadas e autorizadas pelos órgãos competentes, sendo realizado
na mais pura ilegalidade e a exposição desses animais incentivavam mais um
crime previsto pela lei dos crimes ambientais, o tráfico. Outra situação que
ocorre com frequência são as chamadas festa de “peão” onde animais como
bois, vacas e cavalos (na sua grande maioria) sofrem atos de abuso, maus
tratos e são feridos com o intuito de divertir o público.
Outrossim, além da violência física, existe a violência psicológica e tal
violência pode sim ser infligida contra animais da fauna brasileira. A própria
negligência citada no parágrafo anterior é um exemplo de violência
psicológica, ou seja, se alguém que tenha adquirido o dever de cuidado para
com um animal, seja ele silvestre, doméstico ou domesticado, deixa-lhe de
fornecer água, comida, abrigo e demais cuidados necessários para sua
sobrevivência, acaba gerando um nível de estresse alto fazendo com que esse
animal seja violentado não só fisicamente, mas também psicologicamente.
É de fácil percepção do ser humano, notar que muitos cachorros que
vivem nas ruas são agressivos. A agressividade é algo natural tanto nos seres
humanos quanto nos animais, entretanto aflorar essa natureza de forma
desnecessária é prejudicial tanto para quem agride quanto para quem é
agredido e tal postura (de agressor) nada mais é do que uma forma de
sobrevivência, de instinto, de defesa. Animais domésticos, como cães e gatos
de rua por exemplo, são abandonados quando seus “proprietários” não tem
mais interesse em permanecer com eles e isso nada mais é do que um tipo de
violência psicológica, pois gera nos mesmos, sentimento de medo fazendo
com que eles, para conseguir sobreviver, sejam ou se tornem mais agressivo
que o natural.
As violências psicológica e física estão diretamente ligadas com o
sentimento e tal palavra tem por definição a aptidão de receber impressões.
Todos os animais da fauna brasileira são capazes de receber impressões, e
sendo essa a definição de sentimento, de uma maneira abstrata, por lógica
entende-se que os animais não humanos possuem sentimentos. A médica
veterinária e Pós-Doutora Carla Molento afirma que: “Embora a afirmação
pareça óbvia, na sociedade ainda é comum considerar animais como
objetos.”17.
Durante o III Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal em
agosto de 2014, realizado na cidade de Curitiba, 26 cientistas concluíram que
os animais além de possuírem sentimentos, não devem ser considerados
objetos. As justificativas e evidências para isso se dividem em quatro
categorias: comportamentais, neurológicas, farmacológicas e evolutivas. Tais
evidências demonstram que os animais se comportam semelhante aos seres
humanos e também apresentam estrutura nervosa parecida e isso pôde ser
percebido através de algumas substâncias liberadas diante de sensações de
medo e alegria18.
Dessa forma é cristalino o entendimento de que pode haver violências
tanto no aspecto físico (atos de abuso, mutilações, maus tratos etc.) quanto no
aspecto psicológico (abandono, exposição indevida etc.) contra os animais
pertencentes a fauna brasileira.
3.3 Comércio de animais
O comércio de animais no Brasil advém desde a chegada dos portugueses
em nosso território. Com os lusitanos em solos brasileiros e sua convivência
com os indígenas, logo ocorreu a prática do escambo, ou seja, o ato de “trocar
presentes”, sem o uso de moeda, “dinheiro”, entre esses dois povos. Essa
troca consistia em materiais que os índios tinham interesse, artefatos que não
tinham muito valor pros estrangeiros, e materiais que os portugueses tinham
interesse e sem valor para os índios. Alguns exemplos de materiais
importante para os portugueses: madeira, serviços, animais etc.
Os primeiros registros de envio da fauna silvestre brasileira datam de
1500. Em 27 de abril de 1500 pelo menos duas araras e alguns papagaios,
frutos de escambo com os índios, foram enviados ao rei de Portugal,
juntamente com outras amostras de animais, plantas e minerais.19.
Os animais que chegavam até Portugal, causavam grande admiração e
interesse, pois alguns desses eram exóticos para aquela região. Com o
despertar desse interesse, os portugueses perceberam que era possível criar
um comércio em torno desses animais e que seria bastante rentável. Alguns
seres vivos serviam de estimação e outros eram sacrificados para virar tecido
para roupas, adorno para o corpo etc. Dessa forma, a procura por esses
animais cresceu na Europa e diante desse cenário, o colonizador, a cada vez
que voltava ao Brasil, levava consigo alguns exemplares da nossa fauna,
causando dessa forma, o extermínio de várias espécies brasileiras para
atender ao crescente mercado estrangeiro.
Atualmente, mesmo com a lei de proteção à fauna e a lei de crimes
ambientais, as quais proíbem essa prática, salvo com algumas exceções, ainda
é comum se ver o comércio de animais. Esse comércio se dá através de feiras
ao ar livre e em contrabando ou tráfico, e tal ação dificilmente é punida,
facilitando, inclusive, a posse ilegal pela própria sociedade onde esses
animais são comercializados.O tráfico é o comércio ilegal de produtos
ilegais, enquanto que o contrabando é o comércio ilegal (sem pagar
impostos), de produtos legais.20 Essa atividade ilegal não é somente uma
afronta à lei, mas uma afronta à própria fauna brasileira, onde esses animais
comercializados muitas vezes entram em extinção, prejudicando todo o
ecossistema.
É quase certo que em todas as feiras há depósitos clandestinos de animais,
bem próximos, com a finalidade de abastecer os “estoques” dos vendedores.
Também há locais para esconder animais caso ocorra uma eventual operação
policial. Dado interessante é que nos casos de operações realizadas com a
Polícia Civil, nem sempre os traficantes e vendedores têm êxito, pois conta-se
com uma ação surpresa do Órgão Público. Já nos casos de operações
efetuadas pela Polícia Ambiental, ocorre o inverso, uma vez que ações em
feiras com policiais fardados geralmente não são bem sucedidas, já que os
“olheiros” conseguem avisar sobre a presença da polícia, dando tempo aos
comerciantes de esconderem os animais ou fugirem.21
O “modus operandi” dos traficantes são dos mais variados, utilizam
transporte terrestres, pequenas aeronaves e até embarcações e conseguem
atravessar fronteiras sem nenhuma tipo de preocupação em relação à
fiscalização de autoridades. Dessa forma, essa atividade ilegal, só ganha
incentivo ante a impunidade dos fatos.
Infelizmente o Brasil está entre os países considerados como exportador de
animais silvestres e em algumas feiras pelo menos dois mil animais como,
por exemplo, araras, papagaios, tucanos etc., são vendidos a cada domingo22.
Esse tipo de comércio é altamente perigoso não só para o próprio animal
(pois eles geralmente são acomodados em locais impróprios, superlotados,
sem ventilação e alimento necessário, ficam estressados e acabam morrendo
ou brigando com outras espécies e até se mutilando) mas também para o
próprio ecossistema, como já foi explicado.
3.4 A caça de animais e as armadilhas
Preliminarmente, se faz necessário conceituar o verbo caçar. De acordo
com o dicionário Aurélio online, caçar é: “Perseguir animais para os apanhar
ou matar.”23. Dessa forma, podemos entender o verbo acima mencionado, em
um sentido mais estrito, mais “fechado”, como a perseguição de um animal a
outro animal com a intenção de abater.
A caça acontece desde os primórdios do mundo e, nesse início, sempre
teve caráter de subsistência. Os predadores sempre escolhiam suas presas de
acordo com a facilidade de obtê-la, pois o alimento, a sobrevivência era mais
importante.
Com o passar do tempo, o homem foi conquistando seu espaço dentro da
cadeia alimentar, dentro da briga pela sobrevivência até chegar aos dias
atuais, o qual encontra-se no topo. Com suas tecnologias, máquinas e
estratégias, o mesmo consegue caçar todo e qualquer tipo de animal,
entretanto muita das vezes não é por alimento e nem sobrevivência, apenas
por diversão.
A caça nos Estados Unidos, dependendo da época do ano é uma atividade
legal e visa controlar a população de algumas espécies de animais, preservar
o meio ambiente e ajudar na manutenção do ecossistema local.
No estado de Nova York, são caçados duzentos mil cervos por temporada.
Neste mesmo estado um milhão de licenças de caça são emitidas anualmente
pelas autoridades. Ganham com isto os fazendeiros, gerentes de caça,
entidades preservacionistas, governo, turismo, fauna e todos que estão direta
ou indiretamente ligados a esta atividade como fabricantes e comerciantes de
artigos para caça, (vestuário, armas, munições, veículos, hotéis e etc.) Nos
Parques de Caça, também existem espécies exóticas oriundas da Europa,
Ásia, e África. A cada dia, esportistas do tiro dos EUA contribuem com mais
de 3 milhões de dólares para os esforços de conservação da vida selvagem.
Isto significa uma média anual de 1,5 bilhões de dólares. Desde que estes
programas começaram em 1930, pescadores e caçadores já desembolsaram
mais de 17 bilhões de dólares. Somente os caçadores são responsáveis por
mais de 380 mil empregos diretos. Para cada dólar de outros impostos que é
destinado à conservação da vida selvagem, os caçadores contribuem com 9
dólares.24
No Brasil, a caça é proibida. A Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967
regulamenta a situação, in verbis25: Art. 1º. Os animais de quaisquer espécies,
em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do
cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e
criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua
utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.
Entretanto, existem peculiaridades regionais que comportam o exercício
da caça, como por exemplo o Estado do Rio Grande do Sul mas que precisa
ter permissão do Poder Público Federal. A Lei de Crimes Ambientais
também prevê uma exceção para a prática da caça e do abate de animais, de
acordo com o que estabelece o artigo 37 da referida lei26: Art. 37. Não é
crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para
saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras,
pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que
legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III –
(VETADO); IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo
órgão competente.
A caça de animais quando não tem caráter de sobrevivência, de
alimentação ou de segurança é ilegal pois causa danos não somente ao animal
que foi abatido e sim em todo o meio ambiente e no próprio ser humano. Esse
tipo de atividade, por vezes feita apenas pelo prazer de matar, deveria ser
considerada errada perante a moral e os bons costumes, pois a intenção de
causar dor e sofrimento a um animal, de acordo com especialistas, é um
sintoma gritante da psicopatia, podendo, inclusive, esse ser humano causar
um mau a sociedade em algum momento futuro.
Quando o animal caçado é de grande porte, ágil e com força física
superior, ou quando o caçador quer apanhar o animal através de emboscada,
ele utiliza alguma armadilha para conseguir capturar a caça e assim não sofrer
nenhuma ameaça à sua saúde. Entretanto, essas armadilhas, muitas vezes, são
cruéis, causando sofrimento para o animal e fazendo-o agonizar por horas
antes de morrer.
A armadilha provoca sérios ferimentos e grande estresse. À medida que
tenta escapar, o animal se fere ainda mais; ao morder a armadilha, quebra
seus dentes e machuca a boca e, algumas vezes, morde e mastiga a perna
presa até arrancá-la. Muitas vezes, morrem de infecção mesmo se conseguem
escapar dessa forma. Se a fuga não é possível, a vítima pode morrer de
choque, perda de sangue, hipotermia, desidratação ou exaustão antes que o
caçador retorne, o que pode levar dias ou semanas. Ele pode também ser
morto ou mutilado por predadores. Existe uma armadilha conhecida como
“leghold” e é universalmente conhecida pela crueldade. Seu uso é proibido
em mais de oitenta países27.
No ano de 2015, no mês de julho, na África, um leão chamado Cecil de 13
anos de idade, foi morto por caçadores, mas antes de morrer, teve seu corpo
arrastado por uma caminhonete para fora do parque ambiental onde se
encontrava e agonizou por mais de 40 horas com uma flecha fincada em seu
corpo.
A legislação brasileira proíbe o uso de armadilhas para o abate de animais
(com algumas exceções), de acordo com o artigo 10 da Lei 5197/67:
Art. 10. A utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de espécimes da
fauna silvestre são proibidas. a) com visgos, atiradeiras, fundas, bodoques, veneno,
incêndio ou armadilhas que maltratem a caça; b) com armas a bala, a menos de três
quilômetros de qualquer via térrea ou rodovia pública; c) com armas de calibre 22
para animais de porte superior ao tapiti (sylvilagus brasiliensis); d) com
armadilhas, constituídas de armas de fogo.
O fato é que a caça por si só já é um ato de covardia contra os seres vivos
que merecem ter sua vida preservada, bem como uma vida livre de
sofrimento e agonia. A armadilha não só acua o animal como o fazsofrer.
Atividades e apetrechos como os citados, deveriam ter uma punição mais
severa por parte da legislação, pois somente assim essa prática encontraria
um fim.
Grande, diversificada e específica é a fauna brasileira. Na região
amazônica são muitos os tipos de peixes e mamíferos aquáticos que habitam
os rios e lagos. As espécies mais conhecidas são o pirarucu, jacarés,
tartarugas, capivara, sucuri, onça, macacos, preguiça, papagaios, araras,
tucanos e uma variedade de insetos e aracnídeos. Dessa forma, são muitos os
animais que compõe a fauna brasileira, devendo a mesma ser preservada. A
violência contra esses animais pode se dar de maneira física e psicológica. A
violência física é aquela que atinge o animal externamente, machucando-o
por fora através de atos que mutilam, ferem e até mesmo causam a morte. A
violência psicológica se da através, por exemplo da negligência com o
animal, causando para ele estresse, medo e sensações que o façam temer pela
sua vida, afinal o instinto de sobrevivência é inerente a todo e qualquer ser
vivo. O comércio de animais silvestres ocorre no Brasil com muita
frequência. Esse tipo de comércio é muito perigoso para o meio ambiente,
além de ser considerado ilegal pela legislação brasileira. A caça no Brasil é
proibida, e a mesma quando não tem caráter de sobrevivência, de alimentação
ou de segurança deveria ser considerada uma afronta à sociedade, pois causa
danos não somente ao animal que foi abatido e sim em todo o meio ambiente
e no próprio ser humano. Esses animais caçados, muitas vezes, são abatidos
por armadilhas feitas pelos caçadores com o intuito de facilitar o abate da
presa. A armadilha também é considerada ilegal no Brasil.
11 http://www.suapesquisa.com/o_que_e/fauna.htm
12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Fauna_do_Brasil
13 https://www.dicio.com.br/violencia/
14 COSTA. Helrison Silva. PODER E VIOLÊNCIA NO PENSAMENTO DE MICHEL FOUCAULT. Sapere aude –
Belo Horizonte, v. 9 – n. 17, p. 153-170, Jan./Jun. 2018 – ISSN: 2177-6342.
15 http://www2.ucg.br/flash/artigos/080708foucault.html
16 http://perolaspalavras.blogspot.com.br/2011/06/foucault-e-violencia.html
17 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-
saude/2014/09/21/interna_ciencia_saude,448119/cientistas-brasileiros-afirmam-que-os-animais-tem-
sentimentos.shtml
18 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-
saude/2014/09/21/interna_ciencia_saude,448119/cientistas-brasileiros-afirmam-que-os-animais-tem-
sentimentos.shtml
19 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=4532&n_link=revista_artigos_leitura
20 Na opinião deste autor, o animal não humano não é um produto. O termo foi utilizado com o intuito - exclusivo - de
explicar a diferença entre tráfico e contrabando..
21 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=4532&n_link=revista_artigos_leitura
22 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=4532&n_link=revista_artigos_leitura
23 http://www.dicionariodoaurelio.com/cacar
24 http://www.savageadventures.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=61:caca&catid=48:informativo&Itemid=59
25 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5197.htm
26 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm
27 https://www.passeidireto.com/arquivo/3913254/atividade_aula_07_protecao_de_animais_selvagens-1/4
4 A desproporcionalidade
Proporcionalidade é aquilo que estabelece certo equilíbrio entre o que está
sendo analisado. Logo, a partir desse conceito, desproporcionalidade é o
desequilíbrio, a desarmonia, entre duas situações. Pode-se pensar, portanto,
que a desproporcionalidade gera a injustiça, pois onde há desequilíbrio a
justiça não possui forma.
No direito alemão, existe o princípio da proporcionalidade o qual ensina
que nenhuma norma constitucional é absoluta, ou seja, nenhuma garantia
constitucional supre ou revoga outra de mesmo valor. No Brasil, o princípio
da proporcionalidade tem por finalidade precípua equilibrar os direitos
individuais com os anseios da sociedade. Na seara administrativa, segundo o
mestre Dirley da Cunha Júnior, a proporcionalidade “é um importante
princípio constitucional que limita a atuação e a discricionariedade dos
poderes públicos e, em especial, veda que a Administração Pública aja com
excesso ou valendo-se de atos inúteis, desvantajosos, desarrazoados e
desproporcionais”. Complementando, a professora Fernanda Marinela
assevera que embora referido princípio não esteja expresso no texto
constitucional, alguns dispositivos podem ser utilizados como paradigmas
para o seu reconhecimento, como, por exemplo, o artigo 37 combinado com o
artigo 5º, inciso II e o artigo 84, inciso IV, todas da Constituição Federal
Brasileira28, in verbis: Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (...).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei.
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar,
promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para
sua fiel execução.
O ilustre doutrinador Bonavides afirma que
“em nosso ordenamento constitucional não deve a proporcionalidade permanecer
encoberta. Em se tratando de princípio vivo, elástico, prestante, protege ele o
cidadão contra os excessos do Estado e serve de escudo à defesa dos direitos e
liberdades constitucionais. De tal sorte que urge, quanto antes, extraí-lo da
doutrina, da reflexão, dos próprios fundamentos da Constituição, em ordem a
introduzi-lo, com todo o vigor, no uso jurisprudencial”29.
Ainda sobre o princípio da proporcionalidade, Humberto Ávila explica:
“O postulado da proporcionalidade se aplica apenas a situações em que há
uma relação de causalidade entre dois elementos empiricamente
discerníveis, um meio e um fim, de tal sorte que se possa proceder aos três
exames fundamentais: o da adequação (o meio promove o fim?), o da
necessidade (dentre os meios disponíveis e igualmente adequados para
promover o fim, não há outro meio menos restritivo do(s) direito(s)
fundamentais afetados?) e o da proporcionalidade em sentido estrito (as
vantagens trazidas pela promoção do fim correspondem às desvantagens
provocadas pela adoção do meio?)”30.
Dessa forma, se faz necessário, de acordo com as palavras do professor
Paulo Bonavides e Humberto Ávila, como já descrito, fazer uso do princípio
da proporcionalidade na aplicação imediata da lei em todos os seus sentidos,
observando a adequação, a necessidade e a proporção em sentido estrito.
Logo a simples aplicação da lei de forma desproporcional é uma afronta ao
princípio constitucional da proporcionalidade. Seria aplicar uma norma de
forma injusta, desarmônica e sem compasso.
O código penal brasileiro, em seu artigo 121, explica que para a ação de
matar alguém o agente terá como sanção uma pena de reclusão de 6 a 20
anos. O bem protegido pelo artigo 121, sem dúvida é a vida e mesmo que o
ceifador dela seja condenado no limite máximo da pena, o bem tutelado não
irá retornar, ficando claro, portanto, que tal sanção não é proporcional ao bem
jurídico que se tenta proteger, entretanto é eficiente para que haja um
desencorajamento dessa conduta. Por outro lado, a conduta de matar um
animal prevista no artigo 29 da lei 9.605/98, que tem como pena 6 meses a 1
ano de detenção, que também tem como bem tutelado a vida, não tem sanção
proporcional com o que se pretende proteger e tampouco é eficaz para que
não haja um estímulo em cometer tal crime. Ao aplicar a pena do artigo 29 da
lei de crimes ambientais, fica clara a desproporcionalidade, a injustiça e
desarmonia

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