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O USO PESSOAL DE DROGAS E O DIREITO A VIDA PRIVADA Nos últimos dias fui muito questionado sobre o assunto que está causando grandes discussões em todo o país. Se você tiver acesso a qualquer meio de comunicação saberá a que me refiro. Sim, isso mesmo, descriminalização das drogas. Não vamos aqui esgotar o tema, pois este envolve grandes discussões e que repercute em diversos campos. Para os que acompanham este blog e leem meus textos saberá que entraria em conflito com os ideais mais comuns sobre o assunto. O fato é que tentarei abordar aqui o envolvimento do tema com o Direito, claro que sempre fazendo links com assuntos sociais que tem direta relação. O Supremo Tribunal Federal – STF – o guardião da Constituição, analisará o recurso extraordinário 635.659. Este RE fora aberto pela Defensoria Pública de São Paulo, pelo fato de uma pessoa ser presa por porte de drogas, pessoa esta que já estava presa e tinha consigo uma pequena quantidade de maconha dentro de uma unidade prisional na cidade de Diadema no Estado de São Paulo. Tal análise será feita pelo conflito entre o artigo 28 da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) e o artigo 5º inciso X da Constituição Federal Brasileira. O artigo 28 da Lei 11.343/2006 traz a seguinte redação: “Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes pena.” Nota-se, pela leitura do referido dispositivo, que o legislador criminaliza o uso mesmo que pessoal, submetendo ainda, a pena o indivíduo que descumprir, como estabelece o caput e os incisos anexos ao artigo 28. Observe agora a redação do artigo 5º, inciso X da Constituição Federal: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,...” esta pequena passagem é suficiente. Como descrito no inciso X, a intimidade e a vida privada consiste em um direito inviolável. Mas o que é ou em que consiste a vida privada? José Afonso da Silva ensina que “é o conjunto de modo de ser e viver, como direito de o indivíduo ser e viver sua própria vida.” O autor entende que a vida das pessoas compreende dois aspectos distintos: um exterior, que envolve as pessoas nas relações sociais e na vida pública, podendo ser divulgadas a terceiros, porque é pública, e uma interior. Esta, a vida interior, se debruça sobre a própria pessoa, é sua vida privada, e que é um direito inviolável nos termos da Constituição. Nota-se, porém, que há uma divergência entre os dois dispositivos, pois se a minha privada só diz respeito a mim e é um direito inviolável, logo disponho da liberdade de algumas práticas. Como bem sabe os acadêmicos em Direito, todo conflito deve ser analisado e solucionado. No referido caso, um dispositivo infraconstitucional colide com um direito fundamental da pessoa humana reconhecido na Carta Suprema. Como de conhecimento de muitos, todo e qualquer dispositivo infraconstitucional que contrarie a constituição é inconstitucional, ou seja, sem respaldo jurídico. No último dia 20, o ministro Gilmar Mendes votou favorável a descriminalização do uso pessoal. O ministro afirma, em seu voto, que apesar do uso da droga causar danos ao usuário, não poderá dar tratamento criminal, pois ofende o direito à vida privada e a auto determinação. Julguei muito coerente o voto do ministro, pois defendo que os direitos fundamentais devem ser respeitados o quanto mais for possível. Acredito que os demais sigam linha de pensamento próxima a de Mendes. Mas este assunto está longe de ter consenso entre os diversos setores da sociedade. Muitas pessoas se manifestam contra a descriminalização, outros a favor e alguns neutros. Muitos religiosos e profissionais da saúde tem reagido de forma contrária a descriminalização. No Brasil, 27% da população carcerária é por tráfico de drogas, e muito deste índice elevado é reflexo da confusão sobre quem é usuário e quem é traficante. A forma como a Lei de Drogas trata do assunto é um tanto controversa, o que talvez tenha desencadeado um maior agravo sobre o tema. Sem dúvidas é um longo debate que a sociedade ainda enfrentará, infelizmente muitos se embasarão pelas fontes manipuladoras, contribuindo para um debate menos rico. Todavia, independente da fonte, é de suma importância refletir sobre tudo que está ligado ao tema para adotar posicionamento coerente. Autor: Carlos Henrique de Lima Andrade é natural de Ribeirópolis, interior de Sergipe. Atualmente é graduando em Direito Pela Faculdade Pio Décimo, como Bolsista Integral do Programa Universidade para Todos (PROUNI), mas já foi aluno do curso de História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Já fora aprovado em diversos cursos em distintas Universidades Federais do País, é concursado público municipal na Prefeitura de Pinhão-SE. Também é pesquisador em Filosofia e Fundamentos Sócio-Antropológicos aplicados ao Direito na PIO X. Email: carloshenrique_lima16@hotmail.com
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