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Serviço Público Federal Ministério da educação Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário “Professor Antônio Garcia Filho” Graduação em Medicina Sanni Silvino Parente Revisão: litíase renal EPIDEMIOLOGIA Estima-se que acometa 1/1000 pessoas na população geral. Principalmente entre 20 e 50 anos, e mais frequentemente homens (3:1). Calcula-se que 12% dos homens e 5% das mulheres apresentarão um episódio até os 70 anos. É uma doença mais comum em países desenvolvidos devido aos hábitos alimentares e em regiões de clima quente devido a maior perda insensível de água associado à maior exposição ao sol, com consequente maior formação de vitamina D e absorção de cálcio. Sua prevalência geral é de 12%, podendo atingir 20% em adultos homens. Apresenta uma alta taxa de recorrência: 50% em 5 anos. A respeito da constituição do cálculo, em ordem decrescente, tem-se: oxalato de Ca + fosfato de Ca (37%); oxalato de Ca (26%), estruvita – fosfato, amônia, Mg, Ca (22%); fosfato de cálcio (7%); ácido úrico (6%) e cistina (2%). FATORES DE RISCO Hábitos alimentares: baixa ingesta líquida, alto consumo de sal, dieta rica em purinas, oxalato ou proteínas. Doenças renais: o Anatômicas: rins policísticos, JUP, e rins em ferradura; o Funcionais: acidose tubular renal e hiperparatireoidismo primário. Antecedentes familiares; Profissões; Medicamentos: vitamina D e análogos, vitamica C, salicilatos e indinavir; Cirurgias / doenças intestinais: síndrome do intestino curto e doença de Crhon; Doenças sistêmicas: HAS e gota; Infecção do trato urinário: bactérias produtoras de uréase (proteus, klebsiella). FISIOPATOLOGIA A formação dos cálculos representam a base fisiopatogênica da doença e ocorre através da união dos seguintes fatores: aumento na concentração urinária de solutos; diminuição de inibidores da cristalização, aumento de substancias ou condições promotoras da formação de cálculos (pH); bactérias que produzem uréase. AUMENTO DA CONCENTRAÇÃO URINÁRIA DE SOLUTOS: deve-se a baixa ingestão de água, com consequente diminuição do volume urinário ou ao aumento da concentração dos solutos, que pode ser devido a distúrbios metabólicos (hipercalciúria) ou dieta inadequada. Os solutos podem ser divididos em pouco solúveis (alguns sais de Ca – tendem a precipitar) e solúveis (Na, ureia e creatinina). Hipercalciúria: está presente em 50% dos casos de litíase. Nos precipitados, encontra-se a associação do Ca com oxalato (endógeno ou exógeno) ou ânios fosfato (maioria dos alimentos). Idiopática: defeito na reabsorção tubular de Ca ou absorção intestinal excessiva de Ca. Geralmente os níveis de PTH não estão alterados. Excessiva ingesta de Na: Aumento na excreção renal de Na, como a reabsorção tubular de Ca segue a de Na, a excreção de Ca também aumenta. Hiperparatireoidismo primário: hipercalcemia e elevação do PTH. Outras causas: imobilização prolongada, neoplasias ou doenças granulomatosas. Hiperuricosúria: forma cálculos de ácido úrico. Guarda relação com a gota e dieta rica em purinas. Nem todos os pacientes com cálculos de ácido úrico apresentam excreção excessiva desse composto. É comum a formação de cálculos em pacientes com taxas normais de ácido úrico, mas com ph urinário elevado. Não raramente, formam-se pequenos agregados que podem ser eliminados, mas que servem de base para precipitação de outros sais (oxalato e fosfato de Ca), formando um calculo misto, cuja verdadeira origem passa despercebida. Também ocorre a formação de complexos com inibidores da cristalização (mucopolissacarídeos). Hiperoxalúria: devido a produção e/ou absorção intestinal elevada de oxalato. Deficiência enzimática de origem genética > distorcem o metabolismo > aumento da taxa de formação de oxalato; Doenças intestinais relacionadas a má formação de gorduras (bariátrica, doença de Crohn, celíaca) > aumento da capacidade intestinal de absorver oxalato. Alimentos que contém oxalato: espinafre, beterraba, chocolates, ché preto, etc. Ou percussores do oxalato: ácido ascórbico. Cistinuria: é uma doença rara, representa menos de 2% dos casos – excessão em crianças, quando predominam as causas hereditárias de nefrolitíase- com padrão de herança autossômica recessiva. Ocorre por um defeito na absorção intestinal e reabsorção renal de cistina e vários outros AA. Ao mesmo tempo, a excreção renal desses AA estão persistentemente elevadas. Dessa forma encontra-se maior síntese e menor catabolismo desses. Quase todos os AA são solúveis e não tendem a precipitar, porém a cistina tem solubilidade limitada e forma cálculos com facilidade, especialmente em ph mais baixos. Forma cálculos radiopacos (presença de enxofre) e tendem a agregar-se, podendo chegar a um grande tamanho capaz de promover obstrução urinária grave. DIMINUIÇÃO DE INIBIDORES DA CRISTALIZAÇÃO Citrato: forma complexos solúveis com o Ca, devido sua grande afinidade. Magnésio: semelhante ao citrato, forma complexos solúveis com o oxalato, porem essa ligação possui afinidade um pouco mais baixa. Além disso, inibe a absorção intestinal de oxalato. Pirofosfatos, glicosaminoglicanos, nefrocalcina e proteína Tamm- Horsfall: dificultam a agregação de Ca, fosfato e oxalato. AUMENTO DE SUBSTANCIAS OU CONDIÇÕES PROMOTORAS DA FORMAÇÃO CALCULAR. (ph): Fosfato de cálcio / ph alcalino Oxalato de cálcio é pouco influenciado pelo ph; Estruvita tem sua formação facilitada em ph alcalino. BACTÉRIAS QUE PRODUZEM URÉASE: são formados cálculos de estruvita. Proteus, klebsiella, serratia, psedomonas, ureaplasma e citrobacter. LITÍASE RENAL NO PRONTO-SOCORRO A abordagem de urgência deve ser objetiva a fim de confirmar a hipótese da maineira mais rápida possível e responder as seguintes perguntas: 1. Existe obstrução do TU? 2. Infecção associada? 3. Disfunção renal associada? QUADRO CLINICO : hematúria e dor, podendo apresentar, também, infecção do trato urinário e insuficiência renal aguda. Cólica uretral: obstrução do fluxo urinário> aaumento da pressão intralumial e distenção da capsula renal>contração da musculatura uretral. É uma dor intensa no flanco ou lombar com irradiação para bexiga (ureter alto), testículos e grades lábios (ureter baixo). Pode estar acompanhada de hematúria macroscópica, disúria, náuseas e vômitos. Disúria; Oliguria (obstrução parcial) ou anúria (total); Fácies de dor, palidez, taquicardia, hipertensão. Febre, quando tem-se ITU; Giordano +. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Quadros de abdome agudo causados por úlcera péptica perfurada, apendicite aguda, diverticulite aguda ou dissecção de aorta. EXAMES SUBSIDIÁRIOS Hemograma completo; ureia; creatinina e potássio sanguíneos; gasometria venosa; urina tipo I. Hematúria: passagem do cálculo pelas vias urinárias; ITU: leucocitúria (as vezes com nitrito +) e bactérias; Obstrução: aumento da uréia, creatinina, K. EXAMES DE IMAGEM RX de abdome: qualquer opacificação nas áreas de projeção dos rins, uereteres e bexiga em contexto clínico. São radiopacos (exceção cálculos de ácido úrico). Cálculos pequenos ou sobrepostos a estruturas ósseaspodem não ser visualizados; US rins e vias urinárias: todos os cálculos podem ser visualizados. Útil para detectar a ocorrência de dilatação pielocalical (sugere obstrução). RX + US = resultados semelhantes a TC TCH: é o método de escolha. Não requer contraste na maioria das vezes, podendo detectar o cálculo, o ponto e o grau de obstrução. Urografia excretora: fornece dados anatômicos precisos. TRATAMENTO Quando o episódio ocorre sem complicações, utiliza-se analgésicos, antiinflamatorios e antiespasmódicos, recomenda a procura de um urologista pós-alta, não se orienta a hiperidratação e orienta guaradar eventuais cálculos eliminados. CONTROLE DA DOR: o AINHs (diminuindo o espasmo uretral – podem diminuir a filtração glomerular e agravar uma disfunção renal preexistente) o Miperidina e morfina; o Antiespasmódicos; Quando se trata de CÁLCULOS DE ÁCIDO ÚRICO (radioluscentes a RX – historia de repetição por esses cálculos): alcalinizar a urina com citrato de K. Não se deve hidratar; Em pacientes desidratados por vômitos ou impossibilidade de ingestão de líquidos: solução fisiológica 0,9% IV. Internação e consulta do urologista: o ITU: febre, leucocitose, disúria, leucocitúria, nitrito e bactérias na urina I. o Dor intratável; o Hematúria macroscópica intensa; o Obstrução do TU. ITU: antibioticoterapia empírica e colheita prévia de urina para cultura; Hematúria macroscópica: dosar plaquetas e coagulograma. Suspender medicamentos: warfarina, AAS, heparina e derivados. Sondagem vesical de demora com irrigação para evitar a formação de coágulos. LITÍASE RENAL NO AMBULATÓRIO O diagnóstico será feito após episódio agudo, em achados em exames de rotina, após eliminação espontânea do cálculo, em investigação de hematúria ou através da investigação de insuficiência renal. Objetivos: 1. Diagnosticar a causa da formação dos cálculos; 2. Analisar se os cálculos devem ser retirados ou têm chance de serem eliminados; 3. Se há malformação do trato urinário que predisponha a formação de cálculos; 4. Doença sistêmica; 5. Desobstruir o TU. ANAMNESE Encontrar uma etiologia sistêmica (doença de Crohn, gota); abordar aspectos dietéticos, atividade profissional ou recreativa; uso de medicamentos e história familiar; sonda vesical de demora; número de cálculos, envolvimento de um (indicativo de malformação) ou ambos os rins, frequência da cólica renal, idade de aparecimento do primeiro e presença de ITU; EXAMES BIOQUÍMICOS Hemograma, sódio, potássio, cloro, ph, bicarbonato, ureia, creatinina, ácido úrico, cálcio, fosforo. EXAMES SUBSIDIÁRIOS Urina I; urocultura e urina 24h (Na, K, creatinina, ácido úrico, Mg, Ca, citrato e oxalato). pH: alto – estruvita ou fosfato de cálcio – baixo – ácido úrico ou oxalato de cálcio. Valores referência urina 24h: o Volume: 2 – 2,5 l o Ácido úrico: h < 800mg / m< 750mg o Cálcio: h< 300;m<250mg;c<4mg/kg o Oxalato: <40mg o Cistina: <243mg o Citrato: >320mg o Sódio: <3g / <51m Eq TRATAMENTO ORIENTAÇÕES GERAIS: o Alta ingestão de líquido; o Sucos de maça, tomate e uva elevam o risco; o Sucos de laranja ou limão auxiliam na expulsão de cálculos de citrato; o Consumo moderado de café, chás ou vinho diminui o risco; o Consumo de sal <3g/dia. o Proteínas 0,8-1,3g/kg/dia; o Cálcio 800 a 1200mg/dia: sua deficiência leva a maior absorção de oxalato. o Citrato de potássio (Litocidol) e alimentos ricos em potássio. Hipercalciuria: HCZ ou cloratalidona, aumentar o consumo de K, dosar K sérico 10 dias após. Hiperuricosúria: alcalinizar a urina com citrato de potássio e restringir alimentos com purinas (miúdos, vísceras, frutos do mar). Hipocitraturia persistente: citrato de potássio por vários anos. Hiperoxalúria: o Restringir alimentos ricos em oxalato (espinafre, beterraba, chocolate, chá preto); o Consumo ideal de cálcio; o Carbonato de cálcio durante as refeições > quelar oxalato; o Suplementos de magnésio e piredoxina; o Suspensão suplementos vita C; Cálculos de estruvita: precoce remoção do cálculo e antimicrobianos. Cálculos de cistina: aumento da ingestão de água; alcalinização com citrato de potássio; captopril.
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