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PORTUGUÊS 10.º ano Crónica de D. João I, Fernão Lopes O que é uma crónica? • Objetivo da Crónica de D. João I Contextualização histórica Afirmação da consciência coletiva Caracterização das personagens • Atores individuais D. Leonor Teles Conde Andeiro Rei de Castela Álvaro Pais Pagem do Mestre D. João, Mestre de Avis Nuno Álvares Pereira • Atores coletivos Povo Cidade Os Três Capítulos principais • Capítulo 11 Resumo Características • Capítulo 115 Características • Capítulo 148 Resumo Características Fernão Lopes • Características • Estilo e linguagem Coloquialismo Visualismo Dinamismo Objetividade / subjetividade Crónica de D. João I em exame Beatriz Duborjal O que é uma crónica? Uma crónica é uma narração histórica pela ordem do tempo em que se deram os factos. Objetivo da Crónica de D. João I: mostrar a legitimidade da eleição régia determinada pela vontade da população do reino. Contextualização histórica Com a morte de D. Fernando, em 1383, ficou regente a sua viúva, D. Leonor Teles. Isto aconteceu até que a sua única filha legítima, a Infanta D. Beatriz, assumiu o trono. O problema é que esta era casada com D. João I, rei de Castela, ficando assim em causa a independência de Portugal. Perante esta crise, a população de Lisboa insurgiu-se / revoltou-se contra D. Leonor Teles. O Conde Andeiro, fidalgo galego e amante da rainha é assassinado pelo Mestre de Avis. A revolta foi liderada pelo Mestre de Avis, futuro Rei de Portugal (D. João) e filho bastardo de D. Pedro. Face a este estado revolucionário, D. Leonor Teles pediu auxílio ao Rei de Castela. O último acabou por invadir Portugal, originando vários confrontos em que Portugal saiu sempre vitorioso. O Mestre de Avis foi aclamado Rei de Portugal nas cortes de Coimbra em 1385 e a paz com Castela foi estabelecida em 1411. Fernão Lopes escreve uma crónica sobre estes acontecimentos. Para conferir o maior rigor possível aos seus relatos, o autor procura evitar deixar-se influenciar pelo afeto à pátria. Ainda assim, são notáveis alguns momentos em que tal acontece. Fernão Lopes procurou transmitir uma visão multifacetada dos acontecimentos, considerando os vários fatores que neles intervêm: social, político, económico, religioso, e até psicológico. Afirmação da consciência coletiva O povo assume grande protagonismo na obra e o seu papel é bastante valorizado pelo cronista. Este dá vida às multidões, transformando-as numa força verificada. Na verdade, esta insurreição que se opera em Portugal, em 1383, ainda que tenha sido encabeçada por Álvaro Pais, um dos burgueses mais influentes do reino, só virga porque foi apoiada pelo povo. É, efetivamente, a plebe que empurra o Mestre de Avis para a revolução, colocando em causa a validade da sucessão dinástica por não reconhecer legitimidade ao Rei de Castela para assumir a regência de Portugal. É pois esta consciência da identidade nacional, este sentimento patriótico generoso e esta ligação à terra, em detrimento da eleição régia, que faz do povo o protagonista da insurreição que culminou com o triunfo da vontade popular. Afirmação da consciência coletiva: reafirmação da identidade nacional, todos juntos unidos para um objetivo comum (cientes do que têm de sofrer e passar para isso acontecer); coragem, espírito de sacrifício, sentimentos de patriotismo. O povo: • Manifesta o seu patriotismo. • Manifesta o seu apoio ao Mestre. • Garante a independência de Portugal: pelas ruas de Lisboa (após o casamento do Conde Andeiro) e durante o cerco à cidade, suportando os ataques castelhanos, a fome e a miséria. • É o verdadeiro herói da revolução e da crónica. • É uma personagem coletiva. • Todos partilham da mesma opinião. • Revolta-se contra as mesmas coisas. • É unido e coletivo. Caracterização das personagens Atores individuais D. Leonor Teles – a “vilã”, cariz dramático, revela ser determinada, persistente, dominadora, indomável, astuciosa, traidora, aleivosa e adúltera. Conde Andeiro – assume a ameaça castelhana sobre a integridade nacional, acabando por ser morto pelo Mestre de Avis, desencadeando a revolução; partidário dos espanhóis; galego e traidor. Rei de Castela – representa a força castelhana mostrando-se orgulhoso, ambicioso e calculista. Álvaro Pais – apresenta-se como chefe da insurreição de 1383 e mentor do assassinato do Conde Andeiro. Revela-se astuto, determinado e destemido; imagem do fidalgo de nobres valores. É o cúmplice do Mestre: leal, patriota, agitador do povo. Pagem do Mestre – cúmplice do Mestre: leal, patriota, informa e incita o povo à revolta. D. João, Mestre de Avis – manifesta-se como um homem vulgar que tem dúvidas e hesitações e comete erros. É o líder das multidões, o homem que assume a sua missão e que se mostra ambicioso; retrato de um homem espontâneo. É corajoso, determinado, patriota (mata o Conde Andeiro nos Paços da Rainha). Nuno Álvares Pereira – distingue-se pela sua determinação, coragem, perspicácia e lealdade. Atores coletivos Povo – força gregária e unida; apesar de ignorante, supersticioso e cruel, revela-se como a força motora da revolução; massa anónima; unido, leal ao Mestre, curioso, indignado, revoltado, desejoso de vingança, agressivo, determinado, disponível, empenhado na defesa, carinhoso, solidário, valente, irracional, impaciente, agitado, cruel, furioso (fúria popular), mobilização e união na ação, desorientação própria de quem age sem pensar e turvação resultante da ansiedade, precipitação, ausência de reflexão / moderação, desconforto emocional, desconfiança, alívio, comoção, alegria, satisfação da missão cumprida, poder, resistente, apavorado, forte, a morrer de fome (cerco). Cidade (personificação) – desesperada, unida em nome do bem comum. Os Três Capítulos principais Nesta obra analisamos três capítulos principais: • Capítulo 11 (assassínio do Conde Andeiro pelo Mestre de Avis). • Capítulos 115 (preparação de Lisboa para se defender dos castelhanos). • Capítulo 148 (cerco castelhano à cidade de Lisboa). Capítulo 11 Resumo: À hora marcada, Álvaro Pais e os seus aliados correm para a cidade bradando: “Matam o Mestre!”. A multidão junta-se à volta do Paço e ameaça incendiá-lo; há quem jure que o Mestre já está morto. De dentro gritam que quem está morto é o Andeiro, mas ninguém acredita. O Mestre mostra-se então a uma janela: “Amigos apacificai-vos!”. Sai do palácio rodeado pela multidão que o aclama e lhe pergunta: “Que nos mandais fazer, senhor?”. Ele responde que já não precisa da sua ajuda. No momento em que se vai sentar à mesa para comer com o Conde de Barcelos chega a notícia de que a multidão furiosa quer matar o bispo. Características: • Período do país sem rei e tomada de consciência de liberdades e responsabilidades. O alvoroço na cidade de Lisboa depois da morte do Conde Andeiro e o papel decisivo do Povo na aclamação do Mestre de Avis. Capítulo 115 Características: • Vivência heroica do povo nos grandes momentos da revolução: preparação da resistência ao cerco castelhano à cidade de Lisboa, de forma empenhada e valorosa (corajosa). • Povo com coragem, determinação e força mas preocupado também com o cerco. • Mestre preocupado -> ordenou que recolhessem todos os alimentos que fossem possíveis para sobreviverem ao cerco. • Houve portugueses que não quiseram sair das suas casas e vir para o cerco de Lisboa e outros que ficaram nas suas vilas e apoiaram Castela e o Rei. • Abastecimento: gado morto para conservarem em salgueiros. agricultores de modo a conseguirem produzir alimentos. enterraram carne nos riachos à volta do cerco para depois trazer comida. a comida começou a faltar porque o cerco demorou mais do que o suposto. • Armas: Escudos, lanças, dardos, bestas de trono, capacetes,catapultas, pedrinhas, espadas. (Pouco) armamento bem polido para mostrar na muralha como forma de enganar o adversário, os castelhanos. Esforço na muralha para que esta se tornasse mais segura, reforçando também as armas para se protegerem do povo castelhano. “rreluziam tantas” – realça a quantidade e qualidade (bem polidas) de armas que o povo tinha; imagem a transmitir aos adversários: estavam seguros, abastecidos, eram fortes e imponentes. • Todas as torres estavam protegidas. • O Mestre ordenou a repartição da segurança pelos fidalgos e cidadãos honrados (estavam mais protegidos), cada um deles tinha a sua própria proteção. • Mal tocava o alarme, iam todos a correr para essa parte da muralha defendê-la; organizados, determinação, união na defesa. • Homens encarregues da vigia das torres davam o seu cargo a homens em que confiavam quando iam descansar. Todos com armas na muralha -> mostra fortaleza / força / bravura contra os inimigos. • A vigia era constante. O Mestre também vigiava o que mostra determinação, patriotismo e coragem, uma vez que põe a sua pátria à frente da própria vida / segurança. • Mestre -> Líder ao qual cabe a função de atribuir tarefas e de manter e apoiar os que suportam a sua causa. • O povo não pensava que a igreja ajudava mais que cavaleiros com armas, não respeitava a decretal. Capítulo 148 Resumo: Em Lisboa, os mantimentos esgotaram-se de todo. Sobretudo para os pobres, porque há trigo, mas muito caro. Alguns iludem a fome com ervas e água; nas ruas e praças da cidade aparecem os cadáveres de homens e cachopos com as barrigas inchadas. Faltava o leite às mães, que outra coisa não têm para dar aos filhos senão as lágrimas que choram. Muitos maldizem o dia em que nasceram e pedem que a morte os leve depressa. “Oh, gente que depois veio, povo bem-aventurado, que não soube parte de tantos males nem partilhou tão tristes sofrimentos”. Características: • Vivência da miséria associada à falta de mantimentos durante o cerco castelhano: resistência patriótica à fome. • Devido à miséria, despachavam os aleijados, as prostitutas e os tolinhos -> crueldade, desumanidade • Consequências económicas do cerco a Lisboa. Falta de matimentos (trigo) devido ao excesso de população. Aumento do custo de produtos, inflação. • Consequências sociais e psicológicas: Subnutrição da população o que levou a um aumento de doenças e de mortes. Pobreza, desespero e tristeza -> população a mendigar. Desejo de morrer (sofrimento da cidade). • Este capítulo apela à nossa compaixão, uma vez que mostra o desespero das mães aos filhos. Apela mais aos sentimentos devido à grande dificuldade que o povo português teve face às adversidades -> heróis. • No fim do cerco, Mestre de Avis foi aclamado rei de Portugal: D. João I. Fernão Lopes Características: • Não foi um ficcionista. • Tudo o que escreveu era verdade. • Máximo de realismo. • Observação atenta da realidade. • “Artista da frase”. • “Pintor de imagens verbais”. Estilo e linguagem Coloquialismo / Linguagem coloquial (oralizante) Cativa / aproxima o leitor dos factos narrados Interpelação do interlocutor (convocação frequente do narratário), com recurso à 2ª pessoa do plural e a apóstrofe. Isto faz com que o discurso seja mais dinâmico, autêntico e vivo. Uso do imperativo. Utilização do verbo ouvir, sugerindo a interação oral. Reprodução de cantigas populares. O uso de palavras ou expressões de sabor popular e/ou arcaizante. / Utilização do registo corrente, popular, provérbios. Utilização de apóstrofes, interrogações retóricas, exclamações e interjeições. Alternância e conjugação de diferentes modos de discurso (com o discurso direto a conferir intensidade dramática, dinamismo, tom epocal e a permitir manifestar de forma viva o pensamento das personagens. Visualismo / Apelo Visual Leva o leitor a “ver” e a “viver” os acontecimentos Uso de vocábulos a marcar o sensorialismo da linguagem (atos de ver e ouvir) / utilização de campos lexicais relacionados com os sentidos (visão, audição). Emprego de recursos expressivos que conferem visualismo ao relato: comparação, personificação, enumeração, hipérbole, metáfora, dupla adjetivação. Articulação entre planos gerais (a cidade e os atores coletivos que nela intervêm) e planos de pormenor (grupos de personagens e situações particulares). Dinamismo / Vivacidade Coloca o leitor perante o desenrolar vivido das ações Sequencialização gradativa das ações. Caracterização das personagens a partir das suas atitudes. Narração, descrição, diálogo. Verbos de ação e gerúndio. Emprego de um ritmo acelerado. Recriação dos acontecimentos de forma dinâmica. Articulação entre objetividade e subjetividade Objetividade no rigor da pormenorização (descrições pormenorizadas, detalhadas e precisas, com valor descritivo e informativo). Subjetividade na apreciação crítica e emotiva dos factos relatados (o uso de interrogação retórica, frase exclamativa). Crónica de D. João I em Exame 2020 / 2ª fase / 734 2016 / Época Especial / 734 2010 / 1ª fase / 734 2009 / 2ª fase / 734