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8 CURSO DE PEDAGOGIA O PRINCÍPIO DO MOVIMENTO NELSIMARA VIVIAM SANTATERRA COSTA SANTOS. Capivari, SP 2009 CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CENECISTA DE CAPIVARI 9 CURSO DE PEDAGOGIA O PRINCÍPIO DO MOVIMENTO Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia do ISECC/CNEC Capivari, para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da Professora Ms. Alessandra Lucena. NELSIMARA VIVIAM SANTATERRA COSTA SANTOS. Capivari, SP 2009 CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CENECISTA DE CAPIVARI 10 Monografia defendida e aprovada em 16/11/09, pela banca examinadora constituída pelos professores: ____________________________________ Prof(a) orientador: Alessandra Lucena. ____________________________________ Prof(a) examinador: Rita de C. Cristofoleti. 11 Dedico este trabalho a Deus, e a todas as pessoas que vierem a ler esta pesquisa, que possam ver que as mudanças no ensino podem e devem ocorrer. Que tenham a coragem e a força de conquistá-las. 12 AGRADECIMENTOS Agradeço a Jesus, que iluminou meus caminhos e pensamentos, deu-me animo e saúde para não desistir e lutar por vitórias. Meu muito obrigado a todos os professores, em especial ao professor Carlos Eduardo de Oliveira Klebis pelo auxílio em minha iniciação a essa monografia, a minha orientadora Alessandra Lucena e a avaliadora deste trabalho Rita de Cássia Cristofoleti, também a coordenadora do curso, que tanto nos instiga a conhecimentos, professora Teresa do Carmo Ferrari Bedendi. Obrigado a igreja que orou por mim, as minhas colegas de classe, pois sempre ajudamos uns aos outros e principalmente, pelas minhas três amigas, que estiveram sempre comigo: Daniela Coleto, Denise Diório e Juliana Gonçalves, meu muito obrigado. Agradeço em especial a toda a minha família, principalmente ao meu esposo Fernando Mariano Santos e a minha prima Bruna Cristina de Oliveira, que tanto me ajudou com sua internet, também a minha avó Celestina Pinto Santaterra, que sempre esteve ao meu lado, a minha mãe Nelsinha Santaterra, ao meu pai Antenos Assis Costa, e aos meus tios Agostinho Santaterra e Maria Salete de Oliveira. Também agradeço a meu sogro Laércio Mariano Santos, e a minha sogra Benedita Joana Caran Santos, e a todos meus cunhados e cunhadas. 13 ...Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se tudo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer a mão: Não precisamos de ti, nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo, que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra: também os que em nós não são decorosos revestidos de especial honra. Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo, pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam... (ALMEIDA, 1993, p. 143). A Bíblia Sagrada 14 SANTOS, Nelsimara. O Princípio do Movimento. Monografia de Conclusão de Curso. Curso de Pedagogia. Instituto Superior de Educação Cenecista Capivari – ISECC. 42, 2009. RESUMO Nesse estudo, discutiremos os aspectos fundamentais que envolvem o trabalho com Educação Física, o que é movimentar-se, a psicomotricidade desde o nascimento à pré-escola, o sentido psicoafetivo e social e o valor da disciplina, entre outras. Mostraremos o retorno do conceito corpo- mente tão importante para a vida, que já existiu, mas se perdeu nos dias atuais. Discutiremos sobre os benefícios da educação pelo movimento para a formação dos alunos, nas áreas motora, cognitiva, afetiva, social e cultural, entendendo-se como partes essenciais do desenvolvimento amplo e integral do aluno. É necessário resgatar e valorizar a educação motora, tão completa e ultimamente desvinculada das atitudes dos educadores. Palavras-chave: 1. Educação Física. 2. Movimento. 3. Psicomotricidade 15 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8 1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA..............................................................................12 1.1 Conhecendo melhor a educação física no Brasil..................................................14 1.2 Interfaces da Educação Física ..............................................................................16 2. EDUCAÇÃO FÍSICA CORPORAL...................................................................................17 2.1 O Aluno em sua Totalidade.................................................................................18 2. 2 A Ginástica e a Música.......................................................................................20 3. O MOVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL................................................................22 3.1 Compreendendo o princípio do movimento nos bebês..........................................27 3.2 Fases CorporaisDesenvolvimentistas dos Bebês..................................................31 4. O MOVIMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL............................................................36 4.1 O movimento cotidiano no ensino fundamental..................................................37 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................41 8 INTRODUÇÃO Este trabalho aborda estudos sobre o princípio do movimento na Educação Física ou como é denominada nos dias atuais como Educação Motora, presente na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental. Pretende-se com o presente trabalho estudar o desenvolvimento da criança sob aspecto psicomotor, desde os primeiros anos de vida, comparando os benefícios que o equilíbrio da ação motora traz para o aprendizado e concentração nos estudos. Também vamos discutir a realidade das escolas na prática da educação física, apresentando uma significativa importância frente às outras disciplinas e apresentaremos às circunstâncias em que se dão as práticas da disciplina educação física, desde o berçário. Outro aspecto discutido durante o trabalho foi sobre a aprendizagem dos alunos, nas áreas motora, cognitiva, afetiva, social e cultural, que atualmente se encontram tão debilitadas na sociedade em geral, por consequência da globalização em massa, perdemos o tempo para refletir, tempo ocioso e necessário, por isso temos que resgatar a amplitude dessas áreas que não caminham bem separadamente, pois são unidas. É necessário resgatar e valorizar a educação motora, tão completa e ultimamente desvinculada das atitudes dos educadores, por demasiado “cansaço”, pouca dedicação e formação precária dos docentes. A importância de se pesquisar o trabalho da disciplina Educação Física desde o nascimento de uma criança é de uma relevância específica, pois demonstra os benefícios que a disciplina proporciona para a vida do indivíduo, favorecendo seu desenvolvimento social, psicomotor, afetivo; sua independência nos movimentos e atitudes, enfrentando os obstáculos e tendo uma melhor visão de mundo. Comparar as atividades de uma criança com os embasamentos da disciplina Educação Física é importante, pois ensina o equilíbrio necessário ao corpo, mente e alma, para um melhor enfrentamento às dificuldades que se encontram nos dias atuais. Desde o nascimento o ser humano se compõe em um completo sistema corpóreo, em que está por desvendar. E inicialmente, isso ocorre intensamente, nos seis primeiros anos de vida, a capacidade de aprendizagem e evolução cognitiva, afetiva, motora e social é intensa. A Educação Física está presente em várias áreas de conhecimentos, não se limita apenas nas atividades físicas, vai além, entra na consciência, no aprendizado do corpo, na totalidade (afetiva, cognitiva, motora, social e cultural), que devem ser estimuladas desde a mais tenra idade, para que se tornem adultos moderados, equilibrados, conscientes das suas funções no mundo, sabendo se conhecer, permitindo que o individuo nesta perspectiva 9 conheça melhor os outros, entendendo o outro em seu interior. Para tal, torna-se necessário exercitar a interiorização das sensações, para nos tornamos melhores e aprendermos mais a cada dia. Segundo Freire (l995), a sensibilidade das expressões é de grande relevância, pois tudo que aprendemos, é continuamente transformado, é resignificado, pois quando ouvimos, corremos ou dançamos nos expressamos para nós e para os outros, e também quando ficamos imóveis, quando nada fazemos, também podemos nos expressar e sermos percebidos com isso, pois o que colocamos no mundo por expressões corporais é nosso, nosso jeito de ser e ao ver do mundo simbólico tantas coisas passam a existir para nós, que nossas expressões têm a cara de todas as coisas e a cara de todas as gentes. Tanto quanto os sentidos não podem ficar a mercê da natureza, não podem crescer como um vegetal, também a motricidade precisa ser educada. É livre para falar o homem que aprendeu a falar; é livre para ficar imóvel o homem que aprendeu a ficar imóvel e assim por diante. Não é difícil concluir que a educação motora educa, entre outras coisas, para a liberdade; para a liberdade de expressão. E a expressão humana é sempre, em última instância, corporal. Ou seja, é pela motricidade que o homem se realiza (FREIRE , l995, p. 41). Para Freire (1995) cabe ao homem compreender não apenas fazer, pois o homem é um ser simbólico e necessita compreender suas próprias ações. A perspectiva renovadora da psicomotricidade está na proposição de um modelo pedagógico fundamentado na interdependência do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo dos indivíduos, bem como na tentativa de justificá-la como um componente curricular imprescindível à formação das estruturas de base voltadas para as tarefas instrucionais da escola (fundamentalmente, a aptidão para a leitura e para a escrita) (RESENDE, 1995, p.76). A criança deverá conhecer seu corpo e saber respeitá-lo, assim como o do outro, sabendo reconhecer suas emoções, saber que ela também é importante no seu desenvolvimento para a aprendizagem, e que seu corpo reage a essas emoções, por meios expressivos e motores. Em contrapartida, os educadores deverão identificar as dificuldades psicomotoras dos alunos, desde os bebês, além de trabalhar as inteligências múltiplas, tais como: cognitiva, motora, afetiva e social, desde o início da escolarização. Sendo assim, a pergunta que se coloca para a realização da presente pesquisa é: Quais são as contribuições que a educação pelo movimento fornece ao processo ensino aprendizagem de criança de 04 meses a 10 anos? 10 Acredita-se que o estudo do movimento por meio da disciplina de Educação Física promove o autoconhecimento dos alunos, fortalecendo a autoestima, a segurança em si mesmos, em seus movimentos corporais, expressões, na interação social e no desenvolvimento afetivo. O objetivo geral desta pesquisa é discutir a educação pelo movimento, sobre possibilidades de trabalho que contribuam para o desenvolvimento psicomotor da criança, promovendo momentos de aprendizagem da criança em sua totalidade, respeitando sua individualidade. Com isso, estabeleceram-se os seguintes objetivos para a realização do presente trabalho: • Traçar um breve histórico sobre o ensino de Educação Física no Brasil; • Discutir sobre a importância de trabalhos pedagógicos que levem em consideração o movimento, a emoção, e a afetividade; • Identificar os movimentos que a criança realiza e que constituem o desenvolvimento infantil; • Conhecer procedimentos pedagógicos que possibilitem o desenvolvimento infantil; • Discutir como a escola pode auxiliar nesse desenvolvimento, estimulando a realização de atividades que abordem movimento, afetividade e a ludicidade. • Identificar as contribuições do trabalho com a disciplina de Educação Física para a formação do aluno. • Os procedimentos metodológicos escolhidos para a realização da presente pesquisa são pautados em uma abordagem qualitativa, numa perspectiva histórico-cultural, baseada essencialmente em pesquisa bibliográfica e documental. Com os seguintes autores: Almeida (1993), Antunes (1999), Aquino (1998), Barbosa (1997), Codo (1999), De Marco (1995), Freire (2001 e 1995), Gallahue e Ozmum (2001), Gallardo; Oliveira e Aravena (1998), Le Bouch (1982), Louro (2000), Matos e Neira (2006), Medina (1990), Melchertes Hurtado (1996), Sivadon e Zoiila (1988), Soares (2001), Tojal (1994). E os documentos como; o PCN-Educação Física (2001) e os RCNEIs (1998). Nesse sentido, oprimeiro capítulo aborda sobre o Histórico da Educação Física implantada no Brasil, versando sobre os conhecimentos que fazem parte da “nova Educação Física”. O segundo capítulo discute sobre a Educação Física Corporal, que por meio afetivo promoverá um melhor conhecimento do corpo do aluno. 11 O terceiro capítulo discorre sobre o Movimento na Educação Infantil, focando nos bebês alertando sobre os cuidados que se deve ter com eles. E, para finalizarmos o capítulo quatro traz o Movimento no Ensino Fundamental em que promove reflexões sobre o cotidiano dos alunos do Ciclo I. 12 1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Iniciaremos com as idéias dos autores Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), apresentadas em sua obra ”A Criança em Movimento”. Comenta-se brevemente como a atual demanda da sociedade é pela produção do conhecimento universal, necessário para se viver e se desenvolver nas sociedades urbano-industriais. Os objetivos dos autores Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), é trazer os valores corporais das pessoas, não relacionados à estética, a que o mundo globalizado de hoje solicita, mas o equilíbrio corporal nas simples coisas, como nas atividades do lar, da sociedade, do cotidiano sem tanta pressa, sentir mais nosso próprio corpo, e de quem está a nossa volta. As tendências atuais no campo da Educação Física têm apontado seu caráter de humanização. Os conhecimentos prévios trazidos pela criança quando chega à escola, as características educacionais relativas à aprendizagem motora, os aspectos sóciopolíticos envolvidos no processo. Isso significa considerar o ser humano como uma totalidade multidimensionada (social, afetiva, cognitiva, cultural e motora). Segundo Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), a Educação Física escolar sistematizada teve início no final do século XIX. Nessa época, o Brasil iniciava sua transição de sociedade escravocrata para uma formação social capitalista. Acompanhando as tendências que predominavam na Europa, em diferentes campos do saber, existia a preocupação de construir um homem novo, que pudesse dar suporte à nova ordem política, econômica e social emergente. O objetivo era formar “um indivíduo forte, saudável, indispensável à implementação do processo de desenvolvimento do país”, diz Castellani Filho (1988, p. 39 apud Gallardo; Oliveira; Aravena, 1998, p.16). Também Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), relatam que quem cuidou disso no princípio foi a classe médica brasileira, que procurava “curar os homens de sua letargia, indolência, preguiça, imoralidade”, para afastá-los das práticas que pudessem trazer a deterioração da saúde e da moral. Os autores Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), citam que nesse contexto se destacou a defesa de Rui Barbosa, cuja ampla visão sobre a importância da atividade corporal na formação do indivíduo exerce influência ainda hoje. Eis um trecho de seu parecer sobre o projeto nº 224, de 1882, que tratava da reforma do ensino primário: 13 A ginástica não é um agente materialista, mas, pelo contrário, uma influência tão moralizadora quanto higiênica, tão intelectual quanto física, tão imprescindível à educação do sentimento e do espírito quanto à estabilidade da saúde e ao vigor dos órgãos. Materialista de fato é sim a pedagogia falsa que, descurando o corpo, escraviza irremissivelmente a alma à tirania odiosa das aberrações de um organismo solapado pela debilidade e pela doença. Nessas criaturas desequilibradas, sim, é que a carne governará sempre fatalmente o espírito, ora pelos apetites, ora pelas enfermidades [...]. Quão deplorável é que verdades desta comezinha singela sofram ainda contestação entre nós, e por homens que figuram nas mais altas eminências do país! (QUEIRÓS, 1942, p. 63 apud GALLARDO; OLIVEIRA; ARAVENA, 1998, p. 22): Desde o início da implantação dos cursos de Educação Física no ensino superior, os conteúdos que receberam maior atenção foram àqueles provenientes das Ciências Biológicas - sobretudo Biologia, Anatomia e Fisiologia Humana. Assim, o enfoque principal das aulas de Educação Física eram atividades para desenvolver as capacidades orgânicas dos indivíduos: resistência, força, velocidade e potência. Outras capacidades, tais como coordenação motora, flexibilidade e equilíbrio, também eram consideradas, por serem necessárias ao trabalho na indústria, mas como essas habilidades se aprimoram com a prática do dia a dia, inicialmente, não houve preocupação com o desenvolvimento sistemático delas. No início dos anos 70, do século XX, foi trazida ao Brasil uma corrente denominada psicomotricidade, desenvolvida, primeiramente, com a finalidade de recuperar a imagem corporal dos mutilados de guerra. Daí expandiu-se para outras áreas ligadas à aprendizagem. Baseada na interdependência entre desenvolvimento cognitivo e motor, a psicomotricidade surge como crítica ao dualismo corpo- mente predominante na Educação Física escolar, fundamentando suas ações nos jogos de movimento e de exercitação. Com isso, abordaremos as idéias de Le Bouch, sobre o “Desenvolvimento Psicomotor”, no qual descreve que a corrente educativa em psicomotricidade tem nascido das insuficiências na Educação Física, que não teve condições de corresponder às necessidades de uma educação real do corpo. Le Boulch (1982, p. 24) considera que: A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares e escolares; leva a criança a tomar consciência do seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas. 14 Para Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), o desenvolvimento psicomotor torna-se pré- requisito para o trabalho com conteúdos cognitivos e a educação do movimento dá lugar à educação pelo movimento, ou seja, o que era só para movimentar sem nenhum aspecto mais específico, torna-se agora relacionado ao corpo, aos aspectos mais primitivos, até mesmo quando estamos em silêncio, parados, estamos em movimento constantemente. Pois, em tudo que somos, somos pelo movimento. Ao final da década de 1980, uma nova concepção de Educação Física começou a se estruturar, baseada no estudo das influências que o meio físico e social tem sobre o desenvolvimento humano. Tais estudos utilizam informações da Antropologia, Psicologia, Filosofia, Sociologia e História, que, por fornecerem uma visão crítica da realidade, permitem entender nosso papel na complexa sociedade em que vivemos. De fato, a psicocinética1 toma a forma de uma educação psicomotora quando ela é aplicada na idade pré-escolar e na escola elementar. Unicamente, pela sua bagagem hereditária e pelas suas características próprias de reação, a criança, depois o adolescente, é dependente do meio humano, onde a natureza o tem colocado. O ser humano só pode ser compreendido através do vínculo que o une, o seu meio inter-humano. 1.1 Conhecendo melhor a educação física no Brasil A Faculdade de Educação Física da Unicamp foi criada em 10 de julho de 1985, pelo Decreto nº 23.646/85, pelo governador do Estado de São Paulo da época, André Franco Montoro. Nessa época, a Educação Física no Brasil passava por difíceis momentos, pois existiam habilitações somente em licenciaturas (para dar aulas), já a Unicamp queria ir além, queria profissionais também bacharelados (pesquisadores), para atuar na área da pesquisa e dar mais qualidade a Educação Físicaescolar. 1 Para Le Bouch (1982), a psicocinética, vem se referir ao movimento (mecânico), da mente ao corpo, independente da força. 15 A educação física encontra-se no contexto da história na educação e das atividades educativas, numa situação estranha. Fala-se em educação, mas parece não fazer parte da educação. Diante dessa situação a educação física é interpretada como algo intermediário ou mediador, como um instrumento para se chegar a objetivos que se situam fora dela mesma. Tal maneira de encarar a educação física devida, em parte, pelas diversas compreensões dualistas do homem apresentadas pelas diferentes correntes filosóficas. A educação física poderá ter sua própria identidade e autonomia, ou será sempre um mediador e instrumento para se chegar a valores superiores? (SANTIN, 1980, pp. 339 a 346 apud TOJAL, 1994, pp. 35 a 36). Segundo Tojal (1994), com toda a “modernização” (renascimento) da Educação Física dentro da Unicamp, surgiram alguns problemas em relação aos docentes, muitos se dividiram e acabou por se formar dois grupos, os dos teóricos que visam à Educação Física para desenvolver os valores da mente, dos sentidos, afetividade, social, cognitividade e motricidade e, os docentes práticos, que visam desenvolver “apenas” o físico do homem. Para João Batista Tojal, as discussões levaram sempre em conta que: A característica essencial da educação física é o movimento. É movimento. Não há educação física sem movimento humano, e isto a distingue das demais disciplinas. Os seus elementos são a ginástica, o jogo, o esporte e a dança. A simples prática dessas atividades não caracteriza a existência da educação física. O significado do verbo ser, para os objetivos do livro- Motricidade Humana, constitui preocupação básica. O que procuramos é a verdadeira natureza da educação física. A sua essência. Aquilo que realmente ela é. Enquanto fenômeno social, ajuda este homem a estabelecer relações com o grupo a que pertence (OLIVEIRA, p. 105 apud TOJAL, 1994, pp. 37 a 38). Toda a idéia do SER da Educação Física, não está baseada somente em uma educação para o físico- corpo, mas para a mente, as emoções e o social. Partem de certas filosofias e foi trazida com grande empenho por meio de palestras e um grande envolvimento da “Motricidade Humana”, defendida por Manuel Sérgio, que a colocava em prática no Instituto Superior de Educação Física da Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, hoje Faculdade de Motricidade Humana. A Unicamp também se preocupou com deveras especializações, e implantou o programa de mestrado da área de educação física, que era bem escasso em todo o país. Ela se preocupava bastante com áreas carentes em seus projetos e queria mais pesquisa e projetos inovadores no âmbito nacional. Todo este trabalho da Unicamp desenvolveu grupos e linhas de pesquisas, que criaram oportunidades para futuros profissionais. “Nas áreas de treinamento físico, recreação e lazer, Educação Física escolar e, também na área da Educação Física que atende às diferentes adaptações do ser humano e suas deficiências” (TOJAL, 1994, p. 39). 16 Com essa alavancada da Educação Física no Brasil, muitos profissionais de diversas áreas como da Medicina, Física, Psicologia, Filosofia e Educação foram envolvidos nesta discussão, iniciando, assim, uma discussão sobre Educação Física numa visão multidisciplinar. 1.2 Interfaces da Educação Física A Educação Física do corpo, mente, alma, emoções e principalmente do social, vem em contrapartida à modernidade agitada, que se esqueceu dos princípios de uma vida equilibrada, cheia de movimentos e expressões, que leva a conhecimentos superiores, que acalma e nos ajuda enfrentar o dia a dia, maçante que nos afoga. Estamos na atualidade, como seres humanos mergulhados em uma grande crise. Segundo Capra: As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda crise mundial complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida- a saúde e o modo de vida, a qualidade do ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade (CAPRA 1987, p. 19 apud TOJAL, 1994, p. 43). Em relação a críticos da Educação Física, cita-se Le Bouch (1982), que por meio de sua obra relata que a Educação Física não teve condições de corresponder às verdadeiras necessidades do corpo- real. João Batista Tojal, em seu livro “Motricidade Humana”, cita Le Bouch e não o vê como inimigo da Educação Física, mas como complementador dessa obra, enriquecendo-a criticamente. São vários os autores que se colocaram contra ou a favor da Educação Física, foram tantas as áreas exploradas, principalmente a filosofia. Tojal cita Silvino Santin sobre suas reflexões filosóficas, que logo de tantas discussões ao entorno da disciplina de Educação Física, levanta uma dúvida: “A educação física poderá ter sua identidade e autonomia, ou será sempre um mediador e instrumento para se chegar a valores superiores?” (SANTIN, 1980, p. 339-413 apud TOJAL, 1994, p. 53). Deflagramos no assunto e chegamos à conclusão que o ser humano é quem sustenta e alicerça a Educação Física. E é no SER- do homem, que a Educação Física encontra sua razão de ser. Para todos os estudiosos e filósofos que se dedicaram ao ideal da Educação Física, que é o reencontro com seu próprio SER- Humano, Homem, que se liga a natureza e tudo que nela 17 há. Temos que respeitar e conhecer nosso corpo, para sabermos nossos limites, porque é pelo corpo, que conheceremos nosso interior e exterior em essência e é com esses conhecimentos que nos tornaremos mais sábios e precisos enquanto para o aprendizado. 18 2. A EDUCAÇÃO FÍSICA CORPORAL Verifica-se atualmente, que a educação infantil tem alterado seu foco de “cuidadora” de crianças para auxiliar no desenvolvimento da criança. Sendo assim, não basta apenas “cuidar” dos bebês (crianças), temos que ensiná-los, instigá-los, auxiliar no seu desenvolvimento e conhecer seus desejos e anseios, para que desde de cedo já conheçam seu corpo, e localizem-se no espaço. Para isso o docente, tem que conhecer cada criança, observar o seu desenvolvimento, a fim de identificar as necessidades das crianças, permitindo ao educador planejar ações que auxiliem seus alunos, fortalecendo a relação de confiança entre a criança e o docente. Diante disso, este capítulo discutirá sobre a importância de se realizar trabalhos pedagógicos que levem em consideração o movimento e o relacionamento afetivo bem como procedimentos, ações que o educador pode utilizar em seu cotidiano, promovendo ao aluno o conhecimento de seu corpo. Busquei nas palavras dos autores Sivadon e Zoiila, na tradução de Regina Steffen (1988), auxílio para discutir sobre a retomada da vivência corporal e um dos caminhos sugeridos foi a utilização da massagem geral, a qual pode ser utilizada com um procedimento de trabalho, que favoreça a relação entre o educador e seu aluno. O toque, a vibração, a amassadura, estimulando as sensações tácteis cutâneas, parecem ajudar a essa retomada de consciência da existência física distinta de outrem. O mesmo se dará com os movimentos passivos dos membros, despertando cinestesia (SIVADON; ZOIILA, 1988, p. 73). Segundo Paul Sivadon e Adolfo F. Zoiila (1988, p.114), “a matéria viva é excitável; no animal e no homem as excitações se acompanham de transtornos corporais: as emoções.Os estímulos-resposta se realizam, desde a idade mais precoce, num universo de emoções”. Sendo assim, massagear os bebês proporciona uma relação de afetividade – emoção de grande relevância entre ele e o educador. A Educação Física corporal, não é apenas corpo- físico, mas pura afetividade- emoção. Nossas emoções, desde bebês nos movem a aprendizados, ao relaxamento, a confiança em seu próprio ser, cabe aos educadores saberem direcionar essas emoções nas crianças. Todos nossos movimentos, pensamentos, emoções, aspectos sociais e cognitivos têm várias explicações para diferentes autores. Mas, o que há de comum entre eles é a importância em desenvolver uma melhor consciência do corpo e uma maior amplitude à ação do indivíduo 19 sobre si mesmo para o relacionamento com as outras pessoas e isso deve ocorrer desde a infância, pois se existir essa cumplicidade entre discípulo e mestre, as capacidades superiores, que são as inteligências múltiplas (cognitivo, emocional, motora, social e cultural), serão alavancadas e o desenvolvimento para o aprendizado também. No mundo de hoje precisamos notar o outro, falta isso para que todos prosperem principalmente, no campo da educação em que frisaremos tanto neste texto. O valor do outro se perdeu, em meio a tantas outras importâncias do mundo, “globalizado” de hoje, pais e educadores importam-se que as crianças sistematizem tantos conhecimentos desse mundo capitalista, mas se esquecem de ensiná-las o valor do corpo, das suas capacidades, dos (sentidos que são importantes), são valiosos para o equilíbrio da saúde do corpo. O olhar, a voz, a respiração, o andar são idênticos; mas, como não foi dado ao homem poder vigiar ao mesmo tempo essas quatro expressões diversas e simultâneas do pensamento, busque aquela que diz a verdade: você conhecerá o homem por inteiro (BALZAC, 1834 apud SIVADON; ZOIILA, 1988, p. 261). Diante do exposto, considera-se de relevante importância que a escola, em parceria com a família, valorize mais trabalhos pedagógicos, como (as rodas de conversa, danças, jogos), que primem pelos desenvolvimentos dos movimentos e das questões relacionadas ao afetivo das crianças. Nesse sentido elas se desenvolveriam melhor, cognitivamente e socialmente, pois corpo, sentimento, mente e social estão interligados, e quando um não vai bem, o outro também não. 2.1 O Aluno em sua Totalidade Trago essa discussão porque sinto que falta a muitos educadores uma visão mais completa do que é o ser humano. Analisar e promover o desenvolvimento da inteligência infantil é algo inerente à função social atribuída à escola, mas não podemos perder a noção de totalidade, de que cada criança ali presente é muito mais do que um aparelho cognitivo. Ela é um ser que sente emoções, que vive imersa em relações com um universo objetivo e subjetivo, e possui uma capacidade intelectual que lhe permite organizar e interpretar essas relações com o mundo interno e externo (ARAÚJO, 1998, p. 32). Araújo coloca que é necessário ao educador ampliar sua visão em relação ao aluno, ao que é ser o ser humano. É necessário considerar a totalidade da criança, a qual é um ser que se emociona e interpreta as relações existentes entre o mundo externo e interno. Portanto, o homem não se separa da sua totalidade social, cognitiva, afetiva e física, pois somos agentes externos e internos e se alguma dessas totalidades for desequilibrada, todo 20 o resto sofrerá, por isso não podemos trabalhar com uma totalidade fragmentada e sim em conjunto. Para nós educadores alcançarmos sucesso em sala de aula, temos que compreender o indivíduo (criança) no todo, mas para conseguirmos chegar a essa totalidade, poderemos em nossos primeiros passos estudá-las primeiramente separadas, como relata Araújo: (...) para compreender o ser psicológico complexo que é a criança, precisamos estudar separadamente seus aspectos cognitivos, afetivos, sociais e biológicos, assim como suas relações com o mundo físico, interpessoal e sociocultural à sua volta (ARAÚJO, 1998, p. 33). Diante disso, pode-se estudar separadamente a complexidade do ser criança, mas não se pode deixar de considerar cada criança no seu ambiente social, e a partir disso, planejar ações necessárias para superar as dificuldades da criança. Antunes (1999), relata que os problemas de ordem afetiva às vezes poderão bloquear o cognitivo, assim precisamos saber diagnosticar e auxiliar nossos alunos, e até nós mesmos, o corpo por sua vez, falará muito sobre nós, assim ajudando aquela pessoa mais tímida, que não gosta de conversar, expor, falar de seus problemas, o professor precisa respeitar o gosto, opinião do aluno, mas a partir do momento que o problema x, começa a atrapalhar o desenvolvimento do aluno, cabe ao professor intervir, aconselhar, analisar o problema, encaminhar, quando necessário, para que, dentro do que é possível, possa auxiliar esse aluno, ou seja, o professor precisa ficar atento a tudo que se relaciona ao seu aluno, a quaisquer mudanças de comportamento, pois essa atitude ajudará no desenvolvimento e aprendizado do mesmo. Sendo assim, a Educação Física pode ser um espaço que favoreça ao educador conhecer, identificar as necessidades de seus alunos. Pode ser uma disciplina que auxilie no desenvolvimento dessas dificuldades, auxiliando na superação dessas crianças. 2.2 A Ginástica e a Música Nosso corpo, é nosso reconhecimento para nós e para os outros, é o espaço onde delimitamos nossos limites. A ginástica é uma esfera da Educação Física que promove tal reflexão e caracteriza-se como um ato, que possibilita nos conhecermos melhor, exercitando nosso corpo. 21 A ginástica surgiu a partir das necessidades para o trabalho, para as guerras, para tornar o corpo fortalecido, sobressaindo à preguiça, o fracasso, que assola um corpo sem conhecimento, debilitado, perdedor. Soares (1998), coloca que a ginástica é fruto do estudo feito pelos homens de ciência da França, que eram profundos admiradores da cultura grega, a qual preservava o conhecimento, o fortalecimento das curvaturas, dos músculos do corpo. A ginástica era tida como portadora da mais absoluta harmonia da cultura, devendo tornar-se obrigatória para a sociedade em geral, e ser incluída, inclusive nos currículos escolares. Ainda na França no século XIX, a ginástica apresentava vestígios do militarismo, o corpo educado para servir ao Estado. Existia, também, a preocupação com a estética, que o corpo deveria estar harmonioso, fazer movimentos perfeitos e belos. Outro aspecto que devemos considerar como elemento constituinte da Educação Física é a utilização da música. Para Amoros (1838 apud SOARES, 1998), a música vem se agrupar a educação, principalmente a Educação Física, pois ela liberta, dá impulso aos movimentos para equilibrar os exercícios para o corpo, para que não pareçam ásperos, ou rudez demais. A influência da música suaviza o temperamento atlético e mantém a sensibilidade adequada, pois é preciso ter “um refinamento do espírito”. Além do conhecimento do corpo, dos movimentos da Educação Física, a utilização da música é muito proveitosa para relaxar, ela é um exercício para o cérebro e ajuda nas expressões, na beleza das pessoas e na harmonia. A partir da popularização, dos cuidados com o corpo, da sua importância, o corpo passa a ser cada vez mais objeto de estudos e cuidados. Para Demeny (1931 apud SOARES, 1998), a Educação Física não pode ser desviada para outras questões, pois ela é o aperfeiçoamento moral do homem. Segundo Demeny (1931, p. 295 e 296 apud SOARES, 1998, p. 119): Definitivamente a Educação Física se propõe a aumentar o rendimento de todos que trabalham e a utilizar da melhor forma possível esse dispêndio de energia, é portanto,para qualquer nação, uma questão econômica da maior importância. 22 3. O MOVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL O intuito deste capítulo é discutir sobre como a instituição de educação infantil trabalha a questão do movimento para auxiliar no desenvolvimento da criança e mostrar possibilidades de realizar um trabalho pedagógico na perspectiva de valorizar o movimento, a expressão corporal e, discorrer de forma breve o desenvolvimento da criança a partir da sua movimentação. Para Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), é raro encontrarmos instituições de educação infantil que utilizem os conhecimentos trazidos pelas crianças sobre seu corpo, o mundo dos jogos e das brincadeiras, a realidade das danças, músicas e atividades recreativas. Com referência à educação corporal, o que predomina é, sem dúvida, o caráter assistemático das atividades. As crianças ficam soltas no pátio ou no parquinho. Uma observação das formas de representação e de interiorização do mundo pela criança mostra que, nos dois primeiros anos de vida, as atividades motoras e sensoriais desempenham papel fundamental na formação da imagem corporal e na definição da própria identidade psicossexual da criança. Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), relatam que o bebê que chega ao berçário se encontra no fim da fase de movimentação reflexa, iniciada no período intra-uterino e que se prolonga até quatro meses de idade, aproximadamente. Nessa fase, também chamada de codificação ou de armazenamento de informações, o bebê se utiliza da movimentação reflexa para se relacionar com o meio físico e social. Para Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), é importante que o adulto, que toma conta de bebês nessa faixa etária ou trabalha com eles, seja extremamente sensível para compreender e atender as suas necessidades. Essa sintonia deve ocorrer de forma natural, o que significa uma interação carregada de afeto, calma e tranqüilidade, tanto nos períodos de alerta ativo como nos de sono. A tranquilidade e a calma podem ser facilitadas pela forma como o profissional interage com o bebê (contato corporal, maior ou menor estimulação oral etc.) e também pelo tipo de ambiente físico propiciado (por exemplo, mobília colorida ou com tons suaves e brinquedos que produzam sons não muito fortes). As fontes de irritação ou perturbação do bebê nem sempre são facilmente detectáveis na faixa etária em questão. Fome, sede, necessidade de ser trocado, de contato físico e de colo vão sendo cada vez mais reconhecidas e identificadas à medida que a relação adulto- criança se fortalece. 23 Nessa fase do desenvolvimento infantil, o corpo é a via de acesso ao mundo. Maior ou menor mobilidade, flexibilidade, agilidade ou autonomia corporal depende, em grande parte, da quantidade de experiências motoras com as quais a criança se depara no seu cotidiano. É importante também para o bebê ter atividades de aconchego na hora da comida, no momento do banho e atividades no pátio. Para Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), falar da avaliação do professor ou do adulto, que cuida da estimulação motora de um bebê de até 04 meses de idade, é verificar como ele responde à comunicação verbal e extraverbal do recém-nascido. Em outras palavras, se ele compreende a natureza desses apelos e responde prontamente no sentido de satisfazer aquela necessidade da criança; se ele sente vontade de se aproximar, de pegar no colo um bebê quando esse olha ou sorri para ele, e assim por diante. Outra questão em termos de avaliação é considerar como o educador apazigua a criança pequena que chora e manifesta algum tipo de desconforto. Responder a essa e às demais questões levantadas é dizer da adequação ou da motivação para desenvolver programas ligados à cultura corporal com bebês. Isso significa que não basta apenas cuidar da criança, mas, sobretudo, como e para que o profissional a atende, tudo isso é de fundamental importância. Para os autores, Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), o berçário I agrupa bebês entre 04 e 12 meses de idade, isto é, até a fase final da movimentação reflexa, no estágio de decodificação de informações. Nessa faixa etária, surge às primeiras habilidades, razão pela qual os movimentos dessa fase são chamados rudimentares. O conjunto desses movimentos voluntários amplia-se, especialmente os de manipulação simples (empurrar, puxar, carregar ou transportar) e as primeiras formas de locomoção (rastejar, engatinhar, locomover-se sentado e andar com apoio). Outro aspecto importante é considerar as diferenças individuais entre um bebê e outro, em termos de prontidão de respostas, ritmo com que se desenvolvem as ações motoras, maior ou menor dificuldade, prazer ou satisfação lúdica obtida, manutenção do interesse pela atividade etc. Incentivo e elogios, além do contato físico frequente, ajudam a criança pequena a incrementar sua auto-estima, a dar seus passos com maior independência, ou seja, a explorar o mundo com mais confiança. Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), citam que o repertório verbal e extraverbal do bebê entre os 04 aos 12 meses, já é bastante grande, assim o educador pode estabelecer alguns 24 limites às iniciativas e às ações motoras da criança quando necessário. Por exemplo: evitar que o bebê bata em outra criança, morda-a ou pegue um objeto perigoso. Para Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), a criança de 01e 02 anos de idade, incluída no maternal, está na fase dos movimentos rudimentares, no estágio de pré controle, sendo capaz de aplicar as experiências obtidas até então. A principal característica dessa faixa etária é o domínio do andar, considerado a primeira habilidade especificamente humana. Outras ações motoras começam a se desenvolver na sequência: subir-descer; saltar-cair e lançar- receber e outras ações motoras ganham novos contornos e nuances. Segundo Gallardo; Oliveira; Aravena (1998), O início das habilidades fundamentais surge com 02 ou 03 anos de idade. Esse é um estágio marcado pela exploração dos movimentos que fornecem experiências no sentido de aumentar o controle corporal. Assim, nos primeiros anos de vida, a criança vive uma “fome de atos”, por isso, é importante estar atento aos progressos que ocorrem, dado que o ritmo da aquisição dos movimentos fundamentais ou das habilidades especificamente humanas difere de uma criança para outra (patrimônio genético, motivação e estimulação). Nesse sentido, os estímulos fornecidos devem ser diversificados, atendendo a necessidades e a ritmos também diferentes. A organização do esquema corporal está intimamente relacionada à expressão livre da criança, pois ela está descobrindo seu próprio corpo no contato consigo mesma e com a realidade. Qualquer que seja a atividade cabe ao educador explorar a situação, ajudando a criança a obter consciência de si mesma, conhecer sua realidade corporal, estabelecer relações com espaço, tempo, forma e objetos. A criança de 3 anos que tem se beneficiado de um ambiente humano afetivo, que graças à ajuda materna, tem podido se confrontar no mundo dos objetos com sucesso e que não tem sido superprotegida ou, ao contrário, muito livre, deve ter uma motricidade espontânea harmoniosa. Seus deslocamentos não são mais problema, o equilíbrio está assegurado, a coordenação braços-pernas tem se adquirido e a motricidade é perfeitamente rítmica. Sobe e desce escadas rapidamente e tem adquirido muita”habilidade” no plano da coordenação óculo-manual. Bebe sem derramar o líquido, agarra a colher e o garfo entre o polegar e o indicador. Deve ter adquirido um bom controle esfincteriano e começa a se vestir só (LE BOULCH, 1982, p. 88). A avaliação do trabalho do professor do maternal leva em conta como ele utilizou os recursos ou os meios à sua disposição: contos, músicas, danças, brincadeiras,dramatizações, máscaras, disfarces etc., em diferentes momentos do seu dia a dia (atividades de sala, pátio, situação de banho ou asseio). 25 Para Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), também é a partir dos 03 anos, que a emergência da função de interiorização permite o retorno da criança a ela mesma, o que constitui um verdadeiro passo narcisista. Assim, a criança vai tomar consciência que sua personalidade é diferente dos modelos que até agora têm lhe sido imposto. A tendência agora não é mais de assimilar os sentimentos e atitudes de outra pessoa, mas sim, de preferência, de opor-se para afirmar sua personalidade nascente. Isto se chama jogos de alternância, permitindo precisamente à criança, graças a sua imaginação, passar de uma alternativa a outra. Colocando-se sucessivamente como pessoa ativa e como companheiro, buscará ensaiar os dois aspectos complementares necessários à constituição de um Ego equilibrado. É importante que as experiências perceptivas da criança em relação a seu próprio corpo estejam associadas à verbalização. A denominação das diferentes partes do corpo, que corresponde a um nível de utilização da função simbólica, deverá seguir passo a passo às verdadeiras aquisições feitas no plano cinestésico. Não se deve cometer o erro de fazer a criança aprender verbalmente os nomes das diferentes partes do corpo sem relacioná-las a uma experiência perceptiva suficiente. Deve ser proposta uma associação verbo-visual. Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), relatam que no Jardim I (entre 3 e 4 anos de idade), as crianças preocupam-se com a forma de execução, mas não com os resultados de suas ações. Quando brincam juntas, o grau de cooperação apresentado é ainda pequeno, e os jogos e as brincadeiras que desenvolvem têm poucas regras. As crianças pequenas copiam o estilo e os exemplos do que veem e observam em seu dia a dia. A educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma experiência ativa de confrontação com o meio. A ajuda educativa, proveniente dos pais e do meio escolar, tem a finalidade não de ensinar à criança comportamentos motores, mas sim de permitir-lhe, mediante o jogo, exercer sua função de ajustamento, individualmente ou com outras crianças. Para Le Boulch (1982), no estágio escolar, a primeira prioridade constitui a atividade motora lúdica, pois é fonte de prazer, permitindo à criança prosseguir à organização de sua “imagem do corpo” ao nível do vivido e de servir de ponto de partida na sua organização práxica em relação ao desenvolvimento das atitudes de análise perceptiva. Mas, Le Boulch (1982), teme que as tendências atuais da escola, em que a ansiedade da inadaptação (o não adequamento, igual a todas as crianças), de quase a metade das crianças, leve a diagnosticar precocemente alguns problemas, que na verdade a criança não o tenha, mas que são só simples retardos do desenvolvimento, na maioria das vezes educáveis. É necessária uma atitude educativa, apoiando-se no conhecimento dos ritmos do desenvolvimento da criança, mais do que uma medicalização ou uma psiquiatrização da 26 escola, criando as condições do progresso real no plano de prevenção das inadaptações escolares. Esta observação condena uma política escolar que consiste em separar precocemente o bom “grão” do ruim, os superdotados dos inadaptados, apoiando-se na convicção de que o peso da bagagem hereditária é tal que já tem a sorte marcada desde a escola maternal. A atitude, o conteúdo da criança, seus gestos, seus deslocamentos, seu ritmo nos permite conhecê-la e compreendê-la melhor do que pelas palavras pronunciadas. Naturalmente, a criança brinca, expressando por mímicas cenas da vida cotidiana: fala caminhando, canta dançando ou, o contrário, começa a dançar e o canto aparece depois. Ao mesmo tempo, ela expressa sua afetividade e exercita sua inteligência. A expressão livre corporal só é possível na medida em que o educador cria uma atmosfera de confiança, de compreensão, já que o bloqueio afetivo acarreta um bloqueio físico e, como consequência, inibe toda expressão gestual normal, natural. Segundo Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), quando as crianças chegam à pré- escola, por volta dos 04 ou 05 anos de idade, encontram-se no estágio elementar de execução dos movimentos fundamentais. No Jardim I (período que corresponde ao início da pré- escola), ocorre a descoberta de novas formas de utilizar as habilidades motoras, assim visando à formação de atitudes e valores como: cooperação, responsabilidade, respeito pelas diferenças, trabalho coletivo, auto-avaliação etc. Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), reltam que ao chegar aos 05 anos de idade (Jardim II), é comum relacionar essa fase com o início da alfabetização propriamente dita (que se aprofunda nos anos posteriores). O que existe de específico na pré-escola é o recorte que se faz do conhecimento a ser ensinado, atendendo às possibilidades reais e potenciais de cada criança. Pelo domínio desses elementos, a criança desenvolve as funções do pensamento (análise e síntese, por exemplo), bem como as noções de tempo, espaço, simultaneidade, ritmo, cooperação, interação grupal etc. Por meio da fala e da escrita, agora numa fase de codificação cada vez mais crescente, o aluno observa, experimenta, reflete, organiza e apresenta o conhecimento adquirido. Torna- se sujeito do conhecimento: com sua ação constrói e reconstrói continuamente o mundo. 27 3.1 Compreendendo o princípio do movimento nos bebês O princípio do movimento se dá pelo desenvolvimento, que são as alterações de comportamentos desde o começo da nossa vida, efetuado pela interação entre as necessidades da vida, o biológico de cada um e as condições em que se vive em que se encontra o indivíduo no ambiente. Vamos percorrer pelo desenvolvimento motor, cognitivo, psicomotor, afetivo e social, que compõe o ser humano em sua totalidade. O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo (RCNEI, vol. 3, 1998, p. 15). Gallahue e Ozmun (2001), colocam que a “área cognitiva” aplica-se ao estudo do comportamento motor, que envolve a relação funcional entre mente e o corpo. A interação recíproca da mente e do corpo tem sido explorada por muitos observadores desde Sócrates e Platão até os teóricos desenvolvimentistas do século. O desenvolvimento afetivo e social vem preencher o motor e o cognitivo, pois sem as emoções o indivíduo não se conheceria e não conseguiria fazer uma auto avaliação de si mesmo. E se falando de crianças, elas são pura emoção, e esta emoção está imersa nas relações sociais, em que terão que saber controlar seus impulsos motores e com isso, se desenvolver mais socialmente, culturalmente, pois o corpo fala. Segundo Le Bouch (1982), o sistema nervoso do recém nascido é imaturo. O estudo de cérebros de crianças de 11 meses expõe em evidência que a área motora é a mais avançada; e em seguida, seguem as áreas sensorias e depois as áreas auditivas e visuais. O lobo frontal desenvolve-seainda mais tardiamente, aproximadamente no 4º ano é que adquire um desenvolvimento comparável àquele alcançado pela região motora aos 11 meses. Para Gallahue e Ozmum (2001), os bebês já ao nascer possuem alguns comandos de seu corpo, como controle de alguns músculos do pulso, mãos e dedos. E, esse controle é usado pelos educadores no começo da vida escolar, com os elementos menos refinados da escrita. 28 O ser humano desde bebê tem a capacidade de plasticidade, mesmo que ocorra algo que desequilibre seu crescimento, como uma doença, por exemplo, a criança, seu corpo certamente tentará recuperar, arrumar o que está de errado, mas algumas crianças que passaram por deficiências nutricionais severas e prolongadas, vão sofrer vários déficits, principalmente de altura, peso, como do desenvolvimento cognitivo e motor. Os fatores ambientais são de extrema importância para o desenvolvimento saudável de um recém-nascido. Os cuidados paternos e maternos influenciam muito o bebê, e essas influências “boas” ou “ruins”, vão ter vários resultados posteriormente no comportamento da criança. O tempo de contato entre a mãe e seu bebê é fundamental, pois é isso que formará o vínculo entre os dois, e fará que o bebê a reconheça, quando tocá-lo. Para Gallahue e Ozmun, (2001, p.68), “se esse período sensível é perdido, os pais e a criança podem não estabelecer vínculos. Isso pode resultar em dificuldades desenvolvimentistas posteriores, particularmente no desenvolvimento afetivo da criança”. Esse vínculo mãe e bebê faz com que a criança se conheça aos poucos, se sinta aconchegada, amada e desenvolva um sentido sobre ela mesma. Caso isso não ocorra, vai afetar todo desenvolvimento natural da criança, tanto motor, cognitivo e emocional. Claro que todas as deficiências deixadas por um bebê “rejeitado”, serão grandes decepções- frustrações, mas com o poder do corpo e mente, da plasticidade, com o meio social, com outra cuidadora, com a escola, esta criança ainda poderá se sobressair em várias coisas e ter uma vida normal, equilibrada e sem traumas. O emocional de cada criança tem que ser bem trabalhado, pois com o afetivo fortalecido, nada a impedirá de se desenvolver. Por volta dos 6 anos, as crianças já são capazes de controlar seus movimentos para cumprir as tarefas escolares, recreacionais, competitivas e atividades da vida diária. Segundo Gallahue e Ozmun (2001), na ausência de movimentos reflexivos normais ou prolongados, pode-se suspeitar de dano neurológico. Além do pediatra, cabe ao pedagogo responsável perceber e alertar os pais, para que agilizem uma avaliação do sistema nervoso central do bebê. Todos os tipos de reflexos são de suma importância para que os bebês possam aprender a andar, ter um desenvolvimento adequado. É claro que um médico especialista (pediatra), irá diagnosticar qualquer problema com o recém-nascido, mas nossa pesquisa pretende promover reflexões acerca do assunto, envolvendo os educadores, informando-os sobre o reconhecimento das fases, movimentos e atitudes do desenvolvimento infantil. 29 A prevenção é a melhor solução para a saúde geral, como hoje em dia muitas crianças ficam mais na creche/instituição de educação infantil do que em sua casa, cabe aqui neste trabalho discutirmos sobre as fases corporais desenvolvimentistas dos bebês. A obtenção do controle sobre a musculatura, o aprendizado de como lidar com a força da gravidade e o ato de movimentar-se de maneira controlada através do espaço são tarefas desenvolvimentistas importantes que o bebê enfrenta. No período neonatal, o movimento é mal definido, controlado de modo deficiente, e os reflexos são gradualmente inibidos. Esse “estágio de inibição de reflexos” estende-se na maior parte do primeiro ano de vida do bebê. Este, aos poucos, progride em direção a um movimento rudimentar controlado, que representa realização monumental na supressão de reflexos e na integração dos sistemas sensorial e motor em movimento objetivo controlado (GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 192). Vamos apontar alguns movimentos que a criança realiza e constituem os reflexos primitivos e posturais dos bebês, exibindo uma sequência de movimentos que caracterizam o desenvolvimento e taxa aproximada de sua aparição e inibição, (tabela 1 “Compreendendo o Desenvolvimento Motor”, Gallahue e Ozmum, 2001, p. 175). MÊS REFEXOS PRIMITIVOS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 De Moro X X X X X X X Susto X X X X X Procura X X X X X X X X X X X X Sucção X X X X Palmar-mental X X X Palmar-mandibular X X X X Agarramento palmar X X X X X de Babinski X X X X Agarramento plantar X X X X X X X X X Firmeza do pescoço X X X X X X X REFLEXOS POSTURAIS Direção auditiva X X X X X Direção ótica X X X X X X X Flexão dos braços X X X X X X X X X X Amortecimento e apoio X X X X X X X X X Endireitamento do pescoço X X X X X X X Endireitamento do corpo X X X X X X X Engatinhar X X X X Caminhar X X X X X Nadar X X X X X 30 Para Gallahue e Ozmun: No reflexo de Moro, há repentina distensão e dobramento dos braços e expansão dos dedos. As pernas e dedos dos pés realizam as mesmas ações, mas menos vigorosamente. Os membros então voltam à posição flexionada normal contra o corpo. (2001, p. 176) Figura 1: Reflexo de Moro: fase de extensão, fase de flexão (“Compreendendo o Desenvolvimento Motor”, Gallahue e Ozmun, 2001, p. 176). Esse reflexo tem que ter uma duração aproximada de 6 meses, caso persista, pode-se desconfiar de disfunção neurológica. Gallahue e Ozmun (2001), relatam que temos também o reflexo tônico assimétrico do pescoço, que é bem pesquisado. Coloca-se o bebê deitado e vira seu pescoço para um dos lados, assim observando a posição contrária de guarda, como mostra as figuras 2 e 3. Figura 2 (“Compreendendo o Desenvolvimento Motor”, Gallahue e Ozmun, 2001 p. 179 e 182). Já o reflexo tônico simétrico produz distensão dos braços e flexão das pernas: 31 Figura 3 (“Compreendendo o Desenvolvimento Motor”, Gallahue e Ozmun, 2001, p. 179 e 182). Temos os reflexos corretivos do pescoço e do corpo, forçando a coluna do bebê para ele sentar-se, o tronco e a cabeça devem acompanhar. 3.2 Fases Corporais Desenvolvimentistas dos Bebês Segundo Gallahue e Ozmun (2001), o bebê deve se desenvolver em três fases distintas para poder sobreviver e interagir com o mundo. A 1ª delas é lutar com a força da gravidade, em relação a sua postura, ele tem que se manter estável, em sequência tem que saber controlar sua movimentação mesmo deficiente pelo espaço- ambiente, e por último deve desenvolver habilidades, de alcançar, segurar e soltar para se manter ativo na sociedade e fazer parte dela. Vamos demonstrar por meio de duas figuras o reflexo de engatinhar e o reflexo básicode caminhar: 32 Figuras 4 e 5 (“Compreendendo o Desenvolvimento Motor”, Gallahue e Ozmun, 2001, p. 184 e 185). Vamos ver na tabela abaixo a “sequência de desenvolvimento e idade aproximada de surgimento de habilidades rudimentares de estabilidade”, também a figura dos “três estágios para sentar-se independentemente” e os “três estágios para conseguir ficar em pé, de forma ereta: 33 Tabela 1 Tarefas de Estabilidade Habilidades Selecionadas Idade Aproximada de início Controle da cabeça e do Vira para um lado Nascimento pescoço Vira para ambos os lados 1º semana Segura-se com apoio 1º mês Desencosta o queixo da superfície 2º mês de contato Bom controle em decúbito ventral 3º mês Bom controle em decúbito dorsal 5º mês Controle do tronco Levanta cabeça e peito 2º mês Tenta virar de bruço 3º mês Rola com sucesso para ficar de bruço 6º mês Rola de bruço para a posição de barriga 8º mês para cima Sentar Senta com apoio 3º mês Senta com o próprio apoio 6º mês Senta sozinho 8º mês Fica em pé com apoio 6º mês Ficar de pé Apóia-se segurando com as mãos 10º mês Puxa-se para ficar em pé com apoio 11º mês Fica em pé sozinho 12º mês Tabela 1 “Compreendendo o Desenvolvimento Motor”, Gallahue e Ozmun, 2001, p. 196. 34 Figuras 6 e 7 (“Compreendendo o Desenvolvimento Motor”, Gallahue e Ozmun, 2001, p. 196, 197 e 198). Os bebês passam por várias fases, além do engatinhar e arrastar-se. Devem obter o controle da cabeça e do pescoço, devem ser capazes de erguer o queixo no berço, por exemplo. Em seguida vem o controle do tronco e por fim, o sentar-se. Logo depois, com uma rapidez absurda, ao mesmo tempo em que está sentando sozinho, ele está aprendendo, desenvolvendo o controle sobre os braços e as mãos para a obtenção da postura ereta. É uma grande vitória para o bebê, ficar em pé se segurando em algo, este movimento fortalece o quadril, os músculos das pernas. Em seguida dará seus primeiros passos com a ajuda humana e aos poucos conseguirá se estabilizar de pé. Claro que ainda não estará andando, mas logo conseguirá. Na tabela abaixo, verifica-se outros movimentos realizados pelos bebês, indicando as habilidades necessárias e a idade em que tais movimentos iniciam-se: Tarefas locomotoras Habilidades selecionadas Idade aproximada de início Movimentos horizontais Movimentos rápidos das pernas 3º mês Arrastar-se 6º mês Esgueira-se 9º mês Anda em quatro apoios 11º mês Galope ereto Anda com apoio 6º mês Anda segurando com as mãos 10º mês Anda com orientação 11º mês Anda sozinho (mãos para o alto) 12º mês Anda sozinho (mãos abaixadas) 13º mês Tabela 2 “Sequência de desenvolvimento e idade aproximada de início de surgimento de habilidades locomotoras rudimentares” (Gallahue e Ozmun,2001, p. 199). 35 Segundo Gallahue e Ozmun (2001), o desenvolvimento perceptivo na primeira infância está intrinsecamente entrelaçado com o desenvolvimento motor, resultando em um sistema interdependente. No início da infância, as brincadeiras são de suma importância para as crianças, pois é por ela que as crianças tomarão consciência de seu corpo e de suas capacidades motoras. O brincar também facilitará o desenvolvimento do aprendizado cognitivo e afetivo, bem como as habilidades motoras e o convívio social. “As crianças em idade pré-escolar rapidamente expandem seus horizontes, afirmando suas personalidades, desenvolvendo habilidades e testando os limites delas e da família e de outros ao redor” (Gallahue; Ozmun, 2001, p. 238). As crianças aprendem muito brincando, é pela brincadeira que ela supera desafios, as crianças são ativas e gastam bastante tempo brincando, e é nessa aprendizagem da educação física- brincadeira que a criança melhora seu auto-conceito, sua auto-estima como se vê e como é vista pelos outros. 36 4. O MOVIMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL No ensino fundamental são atendidas crianças a partir dos 6 anos de idade, agrupadas por faixa etária ou pelo nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo alcançado. Nessa nova etapa é preciso organizar atividades que auxiliem as crianças a alcançar o estágio maduro de execução dos movimentos fundamentais, facilitar a apropriação teórico- prática das atividades da cultura corporal (familiar e do meio físico- social próximo), e possibilitar diferentes formas de convivência harmônica entre as crianças por meio de atividades que estimulem a cooperação, a responsabilidade, a independência e a criação de normas para o trabalho em pequenos grupos. Segundo Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), tradicionalmente, os meninos são mais incentivados a desenvolver habilidades ligadas ao controle e à competição com bolas, corridas, força e agilidade. E, as meninas estimuladas a se dedicar a atividades em que o aspecto lúdico e expressivo é mais evidenciado (por exemplo, dança, ginástica rítmica, coreografia, equilíbrio e coordenação motora). Assim, é importante promover uma troca de repertório corporal entre os dois grupos, mesclando, recriando ou adaptando as práticas culturais de uns e outros. Num momento em que as crianças estão organizando sua identidade psicossexual, é importante marcar a heterogeneidade de interesses e desejos e, ao mesmo tempo, levá-las à vivência das capacidades do próprio corpo e mostrar-lhes as possibilidades de integração e de recriação conjunta nos jogos e em outras atividades. Nesse sentido, o aluno que vem de outro país, aquele mais tímido que veio transferido de outro estado ou escola, aquele com maiores dificuldades em uma ou outra atividade, ou com deficiências ou inaptidões motoras etc., participam das atividades com outros que não apresentam dificuldades na comunicação e no relacionamento grupal ou cujas habilidades motorasestão mais desenvolvidas. O ensino de Educação Física pode promover a formação de atitudes que eliminem o isolamento, o medo, o constrangimento, a discriminação ou o comportamento preconceituoso, que valoriza e favorece a espontaneidade, a criatividade, a auto-estima, o respeito e a aceitação das diferenças e dos limites. Para Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), por volta da 4º ano, a vida social da criança entra numa fase de crescente colaboração, envolvendo a discussão e a avaliação de diferentes pontos de vista. Os primórdios da adolescência são marcados pelo uso de suposições, deliberações e conclusões lógicas. Embora forte, o agrupamento de meninas com meninas (e 37 meninos com meninos), com o passar do tempo e mesmo no decorrer do ano letivo, vai cedendo espaço a uma aproximação e a um interesse pelo sexo oposto. Assim, Gallardo, Oliveira e Aravena (1998), citam que no 5º ano, os alunos já conhecem bem a rotina escolar, têm certa autonomia e dominam razoavelmente a maioria dos movimentos fundamentais. A entrada na puberdade, mais marcante nas meninas neste período, introduz novas e rápidas transformações no desenvolvimento corporal. Também em relação às capacidades cognitivas ocorrem mudanças importantes, principalmente, na maneira de pensar e de resolver problemas (por exemplo, maior abstração conceitual e estabelecimento de etapas lógicas no encaminhamento de uma questão). 4.1 O movimento cotidiano no ensino fundamental Para o autor Hurtado (1996), o movimento está contido na vida, a educação do corpo é que traz o equilíbrio para a vida global do indivíduo. Sabe-se que a vida é movimento, que o gesto humano é uma das primeiras manifestações de expressão e, por conseguinte, de comunicação entre o ser e o meio em que vive. A realização de atividades motoras pelo aluno, além de exercer papel preponderante no seu desenvolvimento somático e funcional, estimula e desenvolve as suas funções psíquicas. Daí a razão de ser da educação do corpo como fator de equilibrio orgânico (MELCHERTS HURTADO, 1996, p. 14). Nas figuras abaixo podemos observar atividades cotidianas que desenvolvem a psicomotricidade, aperfeiçoando os movimentos: Figura 8 – retirada do livro “Educação Física Pré-Escolar e Escolar” de Johann G. G. Melcherts Hurtado (1996, p. 14). Mais uma vez é importante valorizar atividades do cotidiano, saber orientar bem nossas crianças, desde a respiração à locomoção. 38 Há características específicas para crianças na faixa etária dos 4 aos 10 anos. Para trabalhar com elas é preciso conhecê-las, compreender o “mundo” em que vivem, pois passam de uma fase a outra com muita rapidez. Como diz Hurtado (1996, p. 26), “a vida da criança é integral e unitária”. O mesmo autor coloca que aos seis anos de idade a criança começa a se interessar por festas, se expressa mais corporalmente o que deseja, abusa das posturas corporais, de palavras e gestos para expressar suas idéias e emoções. Já na faixa etária dos sete aos oito anos de idade, a criança já não depende tanto dos pais, querem se expandir sozinhas e se interessam bastante por atividades de competição, precisando ser bem orientadas para não ser violentas. A criança ao chegar à idade dos nove e dez anos são mais estimuláveis, e querem muito se agrupar e fazer a vontade do grupo, assim precisando estar bem confiantes e orientadas para saber se impor e ter as direções corretas em meio aos amigos. Aos poucos essa criança se tornará um adolescente, com ideais adultos a serem adquiridos e formulados. Segundo Hurtado: Formação física: É entendida como alcance de níveis gerais, básicos e satisfatórios para o desenvolvimento corporal, orgânico, postural e motor... e a capacidade motora está condicionada ao desenvolvimento das qualidades físicas (resistência, coordenação, velocidade e ritmo), estrutura psicomotora, experiências motoras acumuladas e prática permanente de movimentos (MELCHERTS HURTADO, 1996, p. 32). Os jogos são instrumentos valiosos para a cognição das crianças entre os 4 e 10 anos. Os jogos deixam-nas mais cooperativas e atentas, se concentrando com facilidade. Para Melcherts Hurtado (1996, p. 41), “a recreação revigora o corpo, adestra as atividades motoras, dá leveza aos movimentos, possibilita a desinibição, permitindo à criança tornar-se atuante no meio em que se insere”. Temos que assegurar o respeito ao aluno, a sua individualidade, pois a criança tem o direito de ter medo ou indecisão, e sendo assim, é dever do educador transmitir segurança. As crianças em suas atividades diárias devem ter exercícios de relaxamento e respiratórios, para se estiverem desequilibradas, se equilibrarem para melhor aprender. Esses exercícios devem ser levados para a vida toda e em nenhum momento pode deixar de ser praticado no âmbito escolar. Tais exercícios promovem tranquilidade na criança, auxiliando, por exemplo, no momento da realização das provas. 39 Diante do exposto, verifica-se a pluralidade existente na área de Educação Física. Tal área contempla a discussão sobre conceitos filosóficos, fisiológicos, a atividades cívicas e sociais, questões de higiene e saúde escolar, por isso, ela é considerada tão ampla e importante. Desde cedo temos que alertar os alunos nos esportes, em seus hábitos relacionados a postura, alimentação, como estar em dia com procedimentos médicos, por exemplo, a vacinação. Todos esses meios, quando bem praticados, permitem à criança modificações benéficas ao organismo na área cognitiva, afetiva e psicomotora, em especial, pois quando são solicitadas atividades de natureza física, criativa, intelectual e social, a estrutura funcional da criança se ajusta ao esforço físico por meio da ação neuromuscular, que se traduz numa coordenação motora, de gestos e movimento mais equilibrados, bem como no prazer de criar com sensibilidade e na adaptação ao meio (sociabilização) (MELCHERTS HURTADO, 1996, p. 47). Verifica-se que a Educação Física vem transformando-se ao longo do tempo, de acordo com as necessidades das crianças pertencentes a esta sociedade globalizada. Temos, atualmente, um movimento forte de mudança desta Educação Física para uma educação motora. A educação motora começa a ser valorizada desde cedo pelos educadores, assim teremos alunos mais confiantes, conhecedores de si e críticos. Esse é o objetivo geral da educação pelo corpo, atingir o melhor dos alunos, que eles possam vir a ser verdadeiros cidadãos, dispostos a contribuir para um mundo melhor, sem injustiças, onde o que reina é o bem estar, a qualidade de vida e não o consumismo- globalizado. 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS O princípio do movimento vem trazendo inovações de um novo ensino, pautado não mais em uma única inteligência; a cognitiva, mas vem ressaltar as inteligências múltiplas que encontramos tanto nos PCNs (2001), como nos RCNEIs (1998), que trazem a importância do desenvolvimento cognitivo, motor, emocional, social e cultural das crianças. O trabalho se torna relevante, pois o ensino tem que estar completo, e a disciplina Educação Física, vem abordar temas não mais somente vinculados ao corpo, mas que abrangem outras disciplinas, se dá então o trabalho interdisciplinar. A Educação Física trabalha com a inclusão tão necessária hoje em dia, favorecendo o trabalho contra o preconceito, pois é uma disciplina universal, em que todos podem se expressar e se socializar em sua prática. Ela ajuda os alunos a se conhecerem melhor e saber controlar os impulsos corporais. Sendo assim, conclui-se que a disciplina de Educação Física fornece muitas contribuições para a formação do aluno, pois possibilita o autoconhecimento, a melhora da autoestima e autoconfiança,
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