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* Profª Camila Louise Baena Ferreira Londrina, 2015. História da saúde no Brasil * Brasil 1920: sistema de proteção social seguro social Caixas de aposentadorias e pensões (depois substituídas por institutos) 1988: SEGURIDADE SOCIAL Constituição Federal/ Constituição Cidadã/ Carta Magna * O que tínhamos antes do SUS? Organização sanitária do Brasil na Colônia e no Império Quando o Brasil era uma colônia de Portugal, sua organização sanitária espelhava a da metrópole. Físico-mor, diretamente ou por meio de seus delegados na capitania, respondia pelo saneamento e pela profilaxia das doenças endêmicas e às questões relativas ao trabalho de médicos, farmacêuticos cirurgiões, boticários, curandeiros, etc. Os problemas de higiene eram de responsabilidade das autoridades locais. * Câmaras municipais: sujeira das cidades, fiscalização dos portos e alimentos. Moradores da cidade solicitavam a presença dos médicos, mediante cartas ao rei (dificuldade de serem encontrados profissionais dispostos a migrarem para o Brasil) 1543: surge a Primeira Santa Casa Brás Cubas, fundou em Santos, a Irmandade da Misericórdia e o Hospital de todos os Santos Santas Casas em Olinda, Bahia, Rio de Janeiro, Belém e São Paulo. Assistência aos pobres: caridade cristã abrigava viajantes, indigentes e doentes Militares: eram recolhidos e cuidados pelas famílias ricas Depois: atendidos por cirurgiões-militares em hospitais da irmandade das santas casas, cabendo ao governo da Colônia o pagamento de uma taxa anual * 1828: responsabilidades da saúde pública foram atribuídas às municipalidades 1850: Junta de Higiene Pública (casos de febre amarela no RJ) Mais: Inspetoria Geral de Higiene Inspetoria Geral de Saúde dos Portos Conselho Superior de Saúde Pública Primeiras medidas voltadas para a higiene escolar e proteção de crianças e adolescentes no trabalho das fábricas. * Epidemias: ação comunitária se organizava em nível local, em comissões formadas a cada episódio de saúde relevante ou por intermédio da câmara de vereadores Quando situação se complicava, a opção era pela concentração das decisões no governo central Ao final do Império: organização sanitária brasileira rudimentar e centralizada Incapaz de responder às epidemias e de assegurar a assistência aos doentes, sem discriminação * Início da República Com a proclamação da República, a responsabilidade pelas ações de saúde passou a ser atribuída aos estados 1897: Diretoria Geral de Saúde Pública (âmbito federal: reunidos os serviços de saúde terrestres e marítimos) Finalidade: atuar onde não cabia a intervenção dos governos estaduais, como era o caso da vigilância sanitária dos portos Passagem do século XIX para o XX: início da industrialização Saúde como questão social, ou seja, não se restringia ao indivíduo, exigindo respostas da sociedade e do poder público * República Velha (1889-1930) Prevalecia uma concepção liberal de Estado de que só cabia a este intervir em situações em que o indivíduo sozinho ou a iniciativa privada não fosse capaz de responder. Desconfiança em relação à descentralização Vista por certos segmentos, como algo negativo * Cada parte que compunha a organização sanitária não estabelecia relação com as outras, atuando de forma estanque, e com propósitos diversos, às vezes fazendo as mesmas coisas. Duplicação de esforços: desperdício de recursos + dificuldade para resolver o problema de saúde da população que se urbanizava, devido ao aumento do número de indústrias Não-sistema de saúde marca principal separação entre as ações de saúde pública e a assistência médico-hospitalar * 1900: século do progresso! (avanços na ciência, eletricidade, engenharia e medicina) As mudanças ocorridas no decorrer do século foram de fatos fenomenais, apesar das duas guerras sanguinárias e terrivelmente destrutivas: População cresceu de 1,7 para 6 bilhões. Expectativa de vida (países industriais): subiu de 45 anos para 75 anos. Expectativa de vida (países pobres): subiu de 25 anos para 63 anos. Risco de morte no parto: diminuiu 40 vezes. Fonte: ARBIX, G; ZILBOVICIUS, M; ABRAMOVAY, R. Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Unesp, 2001. * Epidemias (cólera, malária, peste negra...) Imigrantes não querem mais vir para o Brasil (muitos vinham com falsas promessas. Exemplo: filme Sonhos Tropicais) Falta mão de obra: prejuízos econômicos (cultivo do café) Pessoas sem condições financeiras: dependiam de benzedeiras e de caridade quando ficavam doentes (x cuidar da saúde) Campanha de vacinação em massa liderada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz (responsável pela estruturação da saúde pública no Brasil e saneamento do RJ) Entretanto...medidas populares e polêmicas * Além do plano de saneamento... Remodelação urbana: presidente Rodrigues Alves (1902-1906): medidas drásticas para combater as epidemias Cortiços e casebres, que compunham inúmeros quarteirões dos bairros centrais, foram demolidos, e deram lugar a grandes avenidas e ao alargamento das ruas, seguindo o modelo de urbanização dos grandes bulevares parisienses. livro “O Cortiço”, de Aloísio Azevedo denuncia a baixa renda dos cortiços cariocas do final do século XIX. A população local foi desalojada, refugiando-se em barracos nos morros cariocas ou em bairros distantes na periferia. As favelas começaram a se expandir. * “BOTA ABAIXO” * * * 1903: Oswaldo Cruz assumia a Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), cargo que, na época, equivalia ao de Ministro da Saúde. 1904: a cidade foi assolada por uma epidemia de varíola. Oswaldo Cruz mandou ao Congresso uma lei que reiterava a obrigatoriedade da vacinação, já instituída em 1837, mas que nunca tinha sido cumprida. Ciente da resistência da opinião pública, montou uma campanha em moldes militares. Dividiu a cidade em distritos, criou uma polícia sanitária com poder para desinfetar casas, caçar ratos e matar mosquitos. Repulsa por parte da população + setores da oposição. A maioria da população ainda desconhecia e temia os efeitos que a injeção de líquidos desconhecidos poderia causar no corpo das pessoas. Quase toda a imprensa ficou contra Oswaldo Cruz, ridicularizando seus atos com charges e artigos. * * * Revolta da Vacina: motim popular Carroças e bondes foram tombados e incendiados, lojas saqueadas, postes de iluminação destruídos e apedrejados. Pelotões dispararam contra a multidão. Durante uma semana, as ruas do Rio viveram uma guerra civil. Segundo a polícia, o saldo negativo foi de 23 mortos e 67 feridos, tendo sido presas 945 pessoas, das quais quase a metade foi deportada para o Acre, onde foi submetida a trabalhos forçados. * "conduzida de forma arbitrária, sem os necessários esclarecimentos à população, a campanha da vacina obrigatória canalizou um crescente descontentamento popular. Deve ser entendida como uma conseqüência do processo de modernização excludente concentrado, no tempo e no espaço desencadeado pela reforma do prefeito Passos e não, como foi considerada pelas autoridades, como uma reação explosiva da massa ignorante ao progresso e às inovações“ (historiador Sérgio Lamarão, da Universidade Federal Fluminense) Fonte: PORTO, M. Y. Uma revolta popular contra a vacinação. Revista ciência e cultura, nº 55, nº 01, São Paulo, 2003. * Epidemias (febre amarela, peste e varíola): início do século XX Comprometimento da economia agroexportadora Impôs ao poder público: - saneamento dos portos - adoção de medidas sanitárias nas cidades - combate a vetores - vacinação obrigatória Realização de campanhas sanitárias e reforma dos órgãos federais (Marca da saúde pública naquela época) Desde 1910: movimento pela mudança na organização sanitária - liderado por médicos + autoridades políticas e intelectuais Criação do DNPS: Departamento Nacional de Saúde Pública (1930) + criação de uma estrutura permanente de serviços de saúde pública em áreas rurais * Epidemias e doenças endêmicas campanhas sanitárias liderados por: Oswaldo Cruz Carlos Chagas Emílio Ribas Belisário Penna Barros Barreto, etc Criação de códigos sanitários Implantação de instituições científicas voltadas para a pesquisa biomédica Formação de uma comunidade científica e estabelecimento de políticas de saúde * Entretanto, ações eram episódicas e voltadas para doenças específicas (febre amarela, amarelão, tuberculose, lepra/hanseníase) Não existia um Ministério da Saúde Saúde era tratada mais como caso de polícia do que como questão social Órgão que cuidava da saúde pública vinculava-se ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores A realização de campanhas lembrava uma operação militar, e muitas das ações inspiravam-se no que se denomina polícia sanitária * 1920: iniciativas em relação aos serviços médicos de empresas Havia fábricas em SP que ofereciam serviços médicos aos trabalhadores, descontando 2% dos salários 1923: Início da previdência social no país Lei Elói Chaves: Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) trabalhadores vinculados a essas caixas teriam direito a assistência médica 1930: DNSP (Carlos Chagas) - profilaxia Propaganda sanitária Saneamento Higiene industrial Vigilância sanitária Controle de endemias * Desenvolvimento do sistema público de saúde O sistema público de saúde no Brasil nasceu por 3 vias: Saúde pública: ações voltados para a prevenção, o ambiente e a coletividade Medicina previdenciária: ações curativas e individuais Medicina do trabalho (caminhos paralelos, pressões distintas, falta de integração) * Apesar da reforma proposta por Carlos Chagas contemplar a chamada higiene industrial, a saúde do trabalhador não mereceu destaque nos órgãos responsáveis pela saúde pública Aquilo que atualmente conhecemos como saúde ocupacional, ou saúde do trabalhador, desenvolveu-se só a partir de 1930 com a criação do Ministério do Trabalho * Saúde Pública Críticas às campanhas sanitárias e as resistências da população às intervenções autoritárias possibilitaram o aparecimento de propostas de educação sanitária e de criação de centros de saúde Primeiros sanitaristas formados nos EUA (Universidade de John Hopkins), a exemplo de Geraldo de Paula Souza em SP mudança de ênfase: da coerção para a persuasão Revolução de 1930 (golpe de Estado que depôs o presidente da República e colocou fim à República Velha): DNPS foi transferido do Ministério da Justiça para o Ministério da Educação e Saúde * 1953: instituído Ministério da Saúde Transformação de muitas campanhas sanitárias em órgãos e serviços responsáveis pela - febre amarela - tuberculose, - lepra - saúde da criança - fiscalização sanitária Serviços específicos e centralizados *intervenção em forma de campanhas persistiu em relação à erradicação da malária, tuberculose e varíola * Criação Sesp: Serviço Especial de Saúde Pública (resultado de um convênio entre o governo brasileiro e norte-americano no período da II Guerra Mundial, segundo alguns, para a exploração da borracha na Amazônia) transformou-se em Fundação (Fsesp) Governo do presidente Juscelino Kubitschek: Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu) Década de 60: substituído pela Superintendência de Campanhas (Sucam) Saúde pública dessa época: sanitarismo campanhista (ênfase em campanhas) sanitarismo dependente (modelo americano da Fsesp) * Condições de saúde da população se modificando... Antes: predomínio das doenças de pobreza – tuberculose - desnutrição - verminoses - DST - outras doenças infecciosas e parasitárias Depois: Morbidade moderna (doenças do coração, neoplasias, acidentes e violências) Redução da mortalidade e da natalidade Envelhecimento da população Decréscimo da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e o crescimento de doenças crônicas e degenerativas * Desenvolvimento industrial: governo do JK Influiu nos ramos farmacêutico e de equipamentos, fortalecendo a expansão da assistência médico-hospitalar em detrimento da saúde pública Este processo foi aprofundado na segunda metade da década de 1960, com a política de compra de serviços diagnósticos e terapêuticos no setor privado pela previdência social e com a criação da modalidade medicina de grupo junto a grande empresas (ex: indústria automobilística) * Final década de 40: 80% recursos federais: saúde pública 20% recursos federais: assistência médica individual 1964: distribuição contrária Medicina de grupo: um tipo de empresa médica que prestava serviços a uma grande empresa industrial, mediante pré-pagamento, contando inicialmente com um estímulo do governo, que dispensava parte das contribuições da previdência social Este modelo médico-assistencial apresentou grande crescimento na década de 70 Enquanto isso, os primeiros governos militares reduziram, ainda mais, os recursos destinados à saúde pública Orçamento do MS antes de 1975 não alcançava nem 1% dos recursos públicos da área federal * Deterioração das condições de saúde da população + contenção de ações de saúde pública Mortalidade infantil, cujas taxas reduziram-se entre as décadas de 1940 e 1960, sofreu uma ascensão com o aumento dos casos de tuberculose, malária, doença de chagas e acidentes de trabalho (+casos de meningite) Justamente no momento em que a economia do país crescia a uma taxa média de 10% ao ano, o país enfrentava uma série crise na saúde. * Medicina Previdenciária 1923: Caixas de aposentadoria e pensões 1930: expansão substituição por vários Institutos (IAPs) Um instituto para cada categoria de trabalhadores: Comerciários (IAPC) Bancários (IAPB) Industriários (IAPI) Marítimos (IAPM) Trabalhadores de transporte e cargas (Iapetec) Servidores do estado (Ipase), etc exceto este, todos foram unificados em 1966 no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) Somente os brasileiros que estivessem vinculados ao mercado formal de trabalho e com carteira assinada tinham acesso à assistência médica da previdência social. * Demais pessoas: pagar por serviços médicos ou buscar atendimento em entidades filantrópicas Direito à saúde não estava vinculado à condição da cidadania! Embora a assistência médica, hospitalar e farmacêutica estivesse incluída desde a instalação dos primeiros institutos, o financiamento dessas atividades dependia da sobra de recursos do ano anterior que não fossem gastos com os aposentados, viúvas e órfãos. A saúde não era prioridade, mesmo para os trabalhadores urbanos com carteira de trabalho assinada e seus familiares! * As prioridades eram outras... A capitalização obtida com as contribuições previdenciárias dos trabalhadores permitia que os recursos fossem desviados para investimentos na economia. Com recursos oriundos dos institutos foram construídas: Siderúrgica Nacional na ditadura Vargas Ponte Rio-Niterói, Transamazônica e Usina de Itaipu, no período militar Construção de Brasília (era democrática: JK) Pagamento da dívida aos bancos (governo FHC e Lula) * Referências GIOVANELLA, Lígia (org). Políticas e sistema de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2009. PAIM, Jairnilson Silva. O que é o SUS. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2009. Políticas Públicas de Saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde (documentário). Direção de: Renato Tapajós. Produção de: Ministério da Saúde, Organização Pan-americana de Saúde, Universidade Fluminense. Brasília, 2006. * * *