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Instrumentalização Cirúrgica I I Página 1 Capítulo I - Infecção Hospitalar 1. Introdução A infecção hospitalar é um tema que cada vez mais preocupa a comunidade da saúde, devido às suas enumeras implicações: -aumento do tempo de internamento dos doentes e do seu sofrimento; -despesas acrescidas para a instituição; -aumento do número de horas necessárias de cuidados para os profissionais de Saúde. Por isso, há uma preocupação constante nas instituições de saúde devido as infecções hospitalares. Evidentemente, o profissional de saúde ou o hospital não contamina voluntariamente seus pacientes, mas a inobservância de princípios básicos do controle das infecções hospitalares pode ter conseqüências drásticas. No entanto, a Enfermagem tem consciência da importância do seu papel no que tange à prevenção e ao controle da infecção hospitalar, por isso, é bom lembrar que o paciente hospitalizado, em geral, fica mais exposto à grande variedade de microorganismos, num momento em que se encontra menos preparado para combatê-los. O estresse da doença e o fato da internação constituem por si fatores de desestabilização, acrescidos pela diminuição dos mecanismos de defesa, bem como do tratamento invasivo que compromete a integridade da pele. Estes fatores exigem atenção e compromisso redobrado de toda a equipe de saúde. Assim, é importante ter profissionais conscientes, trabalhando em equipe, respeitando cada um dentro de suas funções, atualizando-se com freqüência e com capacidade de auto avaliarem-se. A ocorrência das infecções hospitalares e suas práticas de controle têm uma estreita relação com a história. Desde o surgimento dos hospitais, as infecções hospitalares existem. O início das preocupações com a infecção hospitalar no Brasil acompanhou o processo de industrialização acelerado que se iniciou no governo de Juscelino Kubischek e também a ocorrência de surtos por estafilococo resistentes a penicilina, pelos relatos vindos de países com medicina tecnologicamente avançada. Porém, somente em 1997 com a Lei Federal 9.431 de 06/01/97, que foi instituído a obrigatoriedade da existência da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e de um Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH), definido como um conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente, tendo como objetivo a redução máxima possível da incidência e gravidade das infecções nosocomiais. Em 13/05/98, o Ministério da Saúde editou a Portaria 2.616/98, com diretrizes e normas para a execução destas ações, adequando-as à nova legislação. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 2 É neste contexto que as instituições tentam investir na prevenção de forma a diminuir as despesas humanas e materiais apostando fortemente na sua prevenção. 2. Definições Segundo o Ministério da Saúde 2004: Infecção é a resposta inflamatória provocada pela invasão ou presença de microorganismos em tecidos orgânicos. Infecção Hospitalar é qualquer infecção adquirida após a internação do paciente e que se manifesta durante a internação ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. Usa-se como critérios gerais: 1. Quando na mesma topografia em que foi diagnosticada infecção comunitária for isolado um germe diferente, seguido do agravamento das condições clínicas do paciente, o caso deverá ser considerado como hospitalar. 2. Quando se desconhecer o período de incubação do microrganismo e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da admissão, considera-se infecção hospitalar toda manifestação clínica de infecção que se apresentar 72 horas após a admissão. Também são consideradas hospitalares aquelas infecções manifestadas antes de se completar 72 horas da internação, quando associadas a procedimentos invasivos diagnósticos e/ou terapêuticos, realizados previamente. 3. As infecções no recém-nascido são hospitalares, com exceção das transmitidas de forma transplacentária e aquelas associadas a bolsa rota superior a 24 horas. Infecção Comunitária é a infecção constatada ou em incubação no ato da admissão do paciente, desde que não relacionado com internação anterior no mesmo hospital. São também consideradas infecções comunitárias: 1. As infecções associadas a complicações ou extensão da infecção já presente na admissão, a menos que haja troca de microrganismo ou sinais ou sintomas fortemente sugestivo da aquisição de nova infecção. 2. Infecção em recém-nascido, cuja aquisição por via transplacentária é conhecida ou foi comprovada e que tornou-se evidente logo após o nascimento (ex: Herpes simples, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, sífilis e AIDS). Adicionalmente, são também consideradas comunitárias todas as infecções de recém-nascidos associadas com bolsa rota superior a 24 horas. Tempo ou período de incubação de uma doença infecciosa é o intervalo de tempo que transcorre entre a exposição a um agente infeccioso e a aparição do primeiro sinal ou sintoma da doença de que se trate. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 3 Desta forma, quando se conhece o tempo de incubação de uma infecção específica, deve-se considerar como infecção hospitalar todos os casos de pacientes internados que manifestaram a referida infecção num intervalo de tempo, contado desde a admissão do paciente até a primeira manifestação clínica, superior ao tempo de incubação da doença. Para saber mais sobre as diferenças conceituais entre a infecção comunitária e hospitalar, observe o quadro do MS (2002): CARACTERÍSTICA INFECÇÃO COMUNITÁRIA INFECÇÃO HOSPITALAR Diagnóstico Antes da admissão hospitalar. A partir de 48 horas após a internação. Admissão hospitalar A infecção constatada ou em incubação no ato da admissão hospitalar, desde que não relacionada a internamento anterior. Não se identifica presença ou incubação de infecção na admissão hospitalar. Complicações ou extensão da infecção Associadas à infecção já existente. Na presença de sinais e sintomas fortemente sugestivos de nova infecção, trata-se de infecção hospitalar. Associadas à nova infecção, adquirida durante a hospitalização. Recém-nascidos Infecções com aquisição por via transplacentária e que se tornou evidente logo após o nascimento (exemplo: herpes simples, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, sífilis, HIV). Adquiridas no pré- parto e parto, bem como pela colonização do RN com os micro- organismos hospitalares. É fato que as infecções hospitalares aumentam o tempo de hospitalização do cliente e, como decorrência, elevam o custo dos tratamentos. Falhas nas práticas da assistência aumentam o risco de aquisição de infecções para os pacientes, tais como: falhas no processo de esterilização do material, no preparo de medicamentos parenterais, bem como na execução de procedimentos invasivos, entre outras. Nesse sentido, é necessário evidenciar que as infecções hospitalares estão situadas entre as principais causas de óbito no Brasil, ao lado das doenças Instrumentalização Cirúrgica I I Página 4 neoplásicas, respiratórias, infecciosas e cardiovasculares. Portanto, mostra-se relevante ampliar os programas de orientações para prevenção e controle das infecções hospitalares.Podemos constatar que no ambiente hospitalar a proliferação de microorganismos é muito grande e, quando aliada ao enfraquecimento dos mecanismos de defesa do cliente, propicia, sem dúvida, o aumento das condições inerentes ao acometimento das infecções hospitalares. Portanto, precisamos ficar atentos. Teoricamente a infecção hospitalar pode ocorrer em qualquer pessoa que esteja no hospital: pacientes, funcionários e até visitantes. Na prática constata-se que todo o ambiente hospitalar é passível de acometimento de infecção. Podemos assegurar que os índices de cada hospital variam de acordo com o tipo de paciente atendido. As maternidades, por exemplo, apresentam um índice de infecção hospitalar mais baixo por ser menos frequente que pacientes saudáveis contraiam infecção. Situação inversa ocorre nas unidades de transplantes, de quimioterapia e hospitais de oncologia que apresentam altos índices de infecção hospitalar devido à gravidade dos pacientes ali atendidos e à agressividade dos procedimentos realizados nessas clínicas. A transmissão de microorganismos no hospital se dá, com maior freqüência, através das mãos dos profissionais de saúde que normalmente carregam os agentes de um paciente para outro. A maneira mais eficaz da não transmissão é a higienização das mãos antes e depois de qualquer contato com o paciente. Embora grande parte das infecções hospitalares seja de origem endógena e portanto de difícil prevenção, é considerável o número de infecções hospitalares que podem ser evitadas. 3. Aspectos Históricos das Infecções Hospitalares Se considerarmos a infecção hospitalar como toda a infecção transmitida ou adquirida no espaço hospitalar, podemos mencionar que seu surgimento ocorreu no período medieval, época em que foram criadas as instituições concebidas como alojamento dos doentes ou não, peregrinos, pobres e inválidos. Dessa forma, percebemos que estas instituições abrigavam os excluídos, e, por conseguinte, a disseminação de doenças infecciosas era promovida por esta condição. Surgiram nessa época as epidemias de cólera e peste por exemplo. No século XVIII, iniciou-se a transformação dessas instituições de abrigo em hospitais, como um local de assistência aos pobres, onde as pessoas eram internadas para cura, medicalização e morte. Somente na primeira metade do século XIX, a infecção hospitalar começou a ser mencionada pelos profissionais de saúde. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 5 O inglês James Young Simpson (1811- 1870), professor de cirurgia da Universidade de Edimburg, observou em 1830 o aumento na taxa de mortes pós-amputação, que ocorria justamente em pacientes internados. Empregou para este fato o termo ―hospitalismo‖, sempre que se referia aos riscos ligados à assistência hospitalar. O médico Ignaz Philip Semmelweis em 1847 indicou a lavagem das mãos com ―água clorada‖ para todo examinador, antes de tocar a mulher em trabalho de parto. Com esta medida, conseguiu reduzir, satisfatoriamente, a taxa de mortalidade de 22 para 3% em apenas 7 meses. Neste contexto, a enfermagem participou ativamente em 1856 quando a enfermeira Florence Nightingale padronizou os procedimentos de cuidados de enfermagem, e focou a atenção nas questões de higiene e limpeza do hospital. Além disso, Florence apresentava sua preocupação com as doenças epidêmicas e com as infecções hospitalares e suas repercussões. Isso faz parte de nossa prática até hoje. Outro destaque significativo foi de Joseph Lister que publicou, em 1867, um trabalho importante: o resultado de suas experiências sobre assepsia e antissepsia, e trouxe à luz o conceito de cirurgia asséptica. Os resultados desses trabalhos abriram uma nova fase na história da cirurgia – a chamada medicina antisséptica – que reduziu consideravelmente a incidência das infecções cirúrgicas e pós-operatórias. Apesar dos avanços históricos, alguns fatores contribuíram para a disseminação das infecções: as enfermarias superlotadas, a permanência prolongada dos pacientes, além dos cuidados precários prestados aos mesmos. Esta situação marcou a primeira metade do séc. XIX. Em contraponto, citamos na segunda metade do século XIX a incorporação de novos conhecimentos como assepsia, antissepsia, desinfecção, esterilização e antibioticoterapia. No entanto, estes foram incorporados na prática hospitalar no começo do século XX, com o advento dos antibióticos. Em 1928, o cientista Alexandre Fleming descobriu a penicilina, mas somente, em 1939, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, dois cientistas, Howard Florey e Ernst Chain, retomaram as pesquisas e conseguiram reproduzir penicilina em escala industrial. Assim, iniciava-se uma nova fase para a medicina – a era dos antibióticos. A penicilina salvou muitas vidas durante a guerra, mas somente em 1942 observou-se significativa redução das infecções estreptocócicas nos pacientes hospitalizados. Na década de 1950, houve um significativo aumento das infecções hospitalares com o surgimento de cepas de Staphylococcus resistentes à penicilina, provocando surtos de infecção nos berçários, com taxa de mortalidade muito alta. Com isto, Instrumentalização Cirúrgica I I Página 6 deflagraram-se eventos científicos internacionais e nacionais relacionados às infecções hospitalares e ao seu controle. Entre os eventos de maior repercussão destaca-se: 1958 - a Conferência Nacional sobre Doenças Estafilocócicas de Aquisição Hospitalar, realizada em Atlanta nos Estados Unidos; 1962 - o Simpósio sobre Epidemiologia e Controle das Infecções Hospitalares; 1970 - a Conferência Internacional das Infecções Hospitalares. Em 1965, nos Estados Unidos, um hospital foi obrigado a pagar indenização a um cliente pelos danos causados em consequência de uma infecção hospitalar. Foi então, o momento de se criar os Commiltthecs on Infections, e, dessa forma, programar estudos sobre infecções hospitalares, procurando métodos mais efetivos de vigilância dos hospitais. Assim, ainda na década de 1960, houve o reconhecimento das infecções hospitalares como problema de saúde pública. O Centers for Dieases Control (CDC), recomendou a vigilância epidemiológica das infecções hospitalares de forma sistemática para todos os hospitais. Em 1976, um Grupo de Trabalho promovido pela Oficina Regional da Organização Mundial da Saúde - OMS se reuniu para discutir os problemas e os tipos de investigações conduzidas para o controle das infecções hospitalares na Europa. Essas discussões resultaram na concepção de que as infecções hospitalares estão relacionadas a quatro fatores: paciente, microorganismos, meio ambiente e administração, e que seu manejo depende de atuação multiprofissional. Diante da importância de atuação multiprofissional, em 1979, um grupo composto pelas diversas profissões da saúde se reuniu na Guatemala para preparar um informe que refletisse os avanços na elaboração de um Programa de Controle de Infecções Hospitalares na América Latina e Caribe. Em 1996, a Organização Mundial de Saúde apresentou um guia prático sobre controle de infecção hospitalar. Com isso consideramos que o controle das infecções hospitalares está relacionado à adoção de medidas curativas e individuais e que é de suma importância a atuação multiprofissional, caracterizando a enfermagem como fundamental. No Brasil Entre 1950 e 1967 a área da saúde no Brasil teve influências do desenvolvimento do capitalismo e a urbanização acelerada,com a priorização da assistência médica curativa e previdenciária. Ocorre a sedimentação do sistema capitalista, relacionada ao desenvolvimento econômico no processo de industrialização e o estabelecimento de um governo autoritário, sob ditadura militar. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 7 Foi desta época em que se tem relatado os primeiros casos de infecções hospitalares. Após, iniciou-se a época que corresponde à primeira fase da ditadura militar, na fase do milagre brasileiro. a saúde teve grande expansão na assistência médica previdenciária, a qual entrou em crise diante de suas fragilidades. Do período final da ditadura militar à transição democrática e a primeira eleição direta para presidente, o qual foi conhecido como a ‗década perdida‘. Na saúde ocorreram importantes mudanças, culminando com a institucionalização do Sistema Único de Saúde - SUS. Nessa década, ainda se atribuía a ocorrência de infecção aos hospitais, com a preocupação relacionada a duas concepções: a ambiental e a procedimental. A maior preocupação da primeira foi com estrutura física hospitalar (organização dos serviços, medidas de higiene e saneamento, cuidados com lixo e esgoto), e a concepção procedimental mencionava as técnicas de assepsia, antissepsia, desinfecção e esterilização. Na década de 50, a enfermagem participou ativamente do movimento que deu origem a criação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), por meio da publicação de estudos e pesquisas voltados para o ambiente, ao processamento de materiais e aos procedimentos de antissepsia. Entre 1972 e 1976, foram elaboradas portarias, que determinavam a criação e organização das comissões de controle de infecção. Momento esse, em que se iniciaram estudos em hospitais brasileiros. Com isso, percebemos que a década de 1970 foi marcada pelo estabelecimento de iniciativas concretas para o controle das infecções hospitalares. A década de 1980 foi marcada pela constatação generalizada da gravidade do problema, com repercussões na mídia impressa, televisão entre outras, com apontamentos de usuários, profissionais e representantes dos hospitais. Atente para a evolução dos instrumentos legais que normatizam a prática de controle das Infecções Hospitalares: INSTRUMENTO LEGAL DETERMINAÇÃO LEGAL Portaria MS n° 196/83 Determina que ―todo hospital, independente da entidade mantenedora, porte ou especialidade, deve constituir comissão de controle de infecção‖. Portaria MS n° 930/92 Estabelece normas práticas de controle das Infecções Hospitalares e estabelece que ―todos os hospitais do país, além de Comissões, deveriam também constituir Serviços de Controle de Infecções Hospitalares, compreendendo, pelo menos um médico e um enfermeiro para cada 200 leitos‖. Lei n° 9431/97 Estabelece em seu artigo 1° a obrigatoriedade dos hospitais manterem um Programa de Controle das Infecções Hospitalares (PCIH). E em seu artigo 2° preconiza a constituição de Instrumentalização Cirúrgica I I Página 8 Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH) para execução adequada do programa. Portaria MS n° 2616 Revoga a Portaria n° 930/92 e estabelece em seu artigo 1° diretrizes e normas para a prevenção e o controle das infecções hospitalares. /e em seu artigo 2° define as ações mínimas necessárias com vistas à redução máxima possível da incidência das infecções hospitalares, que compõem o Programa de Controle de Infecções Hospitalares. A década de 1980 foi assinalada por processos de proporções, principalmente aqueles relacionados às medidas de biossegurança, voltados para o surgimento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (Human Immunodeficiency Vírus - HIV) e a hospitalização dos infectados. Este é um evento que não pode cair no esquecimento. Um profissional informado do processo histórico das infecções hospitalares, é capaz de atuar com mais afinco na prevenção e controle dessas infecções. Nesse contexto, o CDC, a partir da década de 90, procurou ampliar o termo ―precauções‖, denominando-o Precauções Universais, visando também ao uso de Equipamentos de Proteção Individual - EPI (máscara, luvas, avental e óculos protetores) a serem usados sempre que houver a possibilidade de contaminação por materiais biológicos. 4. Comissão de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH É um órgão de assessoria à autoridade máxima da instituição de planejamento das ações de controle de infecção hospitalar, que serão executadas pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH). O controle da infecção hospitalar está regulamentado desde 1982 pelo Ministério da Saúde, quando da criação do Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar. Contudo, só passou a desenvolver estudos mais sérios e normas de controle mais rígidas nos hospitais a partir da comoção popular provocada pela morte de Tancredo Neves — a infecção hospitalar passou a ser temida pelos pacientes, aumentando os cuidados para evitá- la. O controle das infecções hospitalares passa, portanto, por um conjunto de ações que ao serem implementadas repercutem diretamente na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelos hospitais. Esse conjunto de ações constitui o Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) deve ser implantado em nível hospitalar, municipal/distrital, servindo como base de uma pirâmide, em cujo topo Instrumentalização Cirúrgica I I Página 9 está o Programa Nacional de Controle de Infecções Hospitalares. Daí, se conclui que o PCIH a nível central só será realmente efetivo quando contar com uma base forte e bem estruturada. As ações e serviços voltados para a prevenção e o controle de infecções hospitalares devem ser organizados de maneira a obedecer os princípios, diretrizes e normas de organização, direção e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) definidos através da lei 8080 de 19 de setembro de 1990. Assim cada nível de organização político administrativa do país está encarregado de desenvolver suas ações de Controle de Infecção Hospitalar com abrangência sobre sua população. Para reduzir os riscos de ocorrência de infecção hospitalar, um hospital deve constituir uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), que é responsável por uma série de medidas como o incentivo da correta higienização das mãos dos profissionais de saúde; o controle do uso de antimicrobianos, a fiscalização da limpeza e desinfecção de artigos e superfícies, etc. Essa comissão deve: -Desenvolver ações na busca ativa das infecções hospitalares. -Avaliar e orientar as técnicas relacionadas com procedimentos invasivos. -Participar da equipe de padronização de medicamentos. -Prevenção e controle das infecções hospitalares. -Controle de limpeza da caixa de água. -Controle no uso de antibiótico. -Implantar e manter o sistema de vigilância epidemiológica das infecções hospitalares. -Elaborar treinamentos periódicos das rotinas do CCIH. -Manter pasta atualizada das rotinas nas unidades. -Busca ativa aos pacientes com Infecção. -Fazer analise microbiológica da água. A CCIH é composta por membros executores e consultores. Os executores devem oferecer o respaldo científico para toda a comunidade hospitalar e, portanto, são encarregados da execução das ações programadas de controle de IH, que representa o SCIH. Os membros consultores são responsáveispor instituir as diretrizes para o Programa de Controle de Infecção Hospitalar, no que se refere aos serviços médicos, de enfermagem, de farmácia, de microbiologia que são os serviços mínimos que compõem uma CCIH. O Programa de Controle de Infecção Hospitalar é responsável pela coleta de dados e pela identificação dos pacientes com infecções hospitalares. Em resumo, os administradores determinarão a gravidade das mesmas para as devidas providências. Uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) possui profissionais que deverão executar as seguintes tarefas: Instrumentalização Cirúrgica I I Página 10 -Detectar casos de infecção hospitalar, seguindo critérios de diagnósticos previamente estabelecidos. -Conhecer as principais infecções hospitalares detectadas no serviço e definir se a ocorrência destes episódios de infecção está dentro de parâmetros aceitáveis. -Elaborar normas de padronização para que os procedimentos realizados na instituição sigam uma técnica asséptica (sem a penetração de microrganismos), diminuindo o risco do paciente em adquirir uma infecção. -Colaborar no treinamento de todos os profissionais da saúde no que se refere à prevenção e controle das infecções hospitalares. -Realizar controle da prescrição de antibióticos, evitando que os mesmos sejam utilizados de maneira descontrolada no hospital. -Recomendar as medidas de isolamento de doenças transmissíveis, quando se trata de pacientes hospitalizados. -Oferecer apoio técnico à administração hospitalar para a aquisição correta de materiais e equipamentos e para o planejamento adequado da área física das unidades de saúde. Os profissionais que participam da CCIH devem possuir um treinamento para a atuação nesta área. Há exigência legal para manutenção de pelo menos um médico e uma enfermeira na CCIH de cada hospital. Isto está regulamentado em portaria do Ministério da Saúde. Outros profissionais do hospital também devem participar da CCIH. Eles contribuem para a padronização correta dos procedimentos a serem executados. Estes profissionais devem possuir formação de nível superior e são farmacêuticos, microbiologistas, epidemiologistas, representantes médicos da área cirúrgica, clínica e obstétrica. Representantes da administração do hospital também devem atuar também na CCIH para colaborar na implantação das recomendações. 5. Vigilância Epidemiológica Segundo a Lei n° 8080 de 1990, que instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), Vigilância Epidemiológica ―é o conjunto de ações que propiciam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos‖. Se a definição oficial registra que esta atividade é o conjunto de ações, já nos mostra que toda a equipe de saúde e, em especial, a equipe de enfermagem participa dela ativamente. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 11 Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares é a ―observação ativa, sistemática e contínua da ocorrência e da distribuição dessas infecções entre os pacientes, hospitalizados ou não, e dos eventos e condições que afetam o risco de suas ocorrências com vistas à execução oportuna de ações de prevenção e controle‖. A vigilância epidemiológica tem sobre a saúde individual e coletiva grande alcance e deverá ser feita de acordo com as características da instituição, da população atendida, com grande abrangência e, principalmente, voltando sua atenção para os procedimentos realizados. Diante disso, é necessário estabelecer objetivos que orientem as ações da equipe de enfermagem, por exemplo: Detectar os surtos de Infecção Hospitalar; Comparar as taxas de Infecção Hospitalar; Incentivar a equipe para ações de Vigilância Epidemiológica; Determinar os fatores de risco para atuar em Vigilância Epidemiológica. Dessa forma, a Vigilância Epidemiológica é alicerçada pela coleta de dados que devem compor um formulário padronizado, com variáveis e indicadores bem definidos, assim como conceitos e critérios. Para a produção de conhecimentos, a busca ativa de dados deve ser efetiva e contínua. Tendo em vista essa afirmação, os dados coletados não podem conter erros para não comprometer o andamento de todo o processo da Vigilância. A coleta de dados deve, também, obedecer a um rigor maior, quando estes são oriundos de unidades de atendimentos de maior gravidade, por exemplo, UTI neonatal, onde a vigilância deverá ser diária. Faremos a seguir alguns comentários sobre os métodos. Vigilância global Tem como meta a vigilância de todos os pacientes, ou seja, de todas as unidades hospitalares. Dessa forma, avalia todo e qualquer episódio e como vantagem, mostra a situação geral do hospital e dos vários setores e, como desvantagem, gera indicadores limitados nas comparações inter-hospitalares. Por isso, não permite avaliar riscos decorrentes das internações, dos diagnósticos e das terapêuticas. Apresenta, também, custo elevado e mais tempo despendido pelos profissionais. Esses indicadores dificultam a atuação da equipe na análise dos dados de vigilância no que diz respeito às ações de investigação e educação. Vigilância dirigida Esta é uma opção útil para os hospitais de poucos recursos. Reúne esforços na solução de problemas próprios da instituição, limita-se a sítios e unidades específicas, vigilância de surtos e rotatória. Vejamos suas características: A vigilância por unidade específica facilita o desenvolvimento de ações de vigilância epidemiológica por reunir pacientes dos mesmos setores, com riscos análogos, por exemplo: pacientes cirúrgicos, oncológicos, de terapia intensiva etc.. A vigilância de surtos exige o trabalho simultâneo com o laboratório de Instrumentalização Cirúrgica I I Página 12 microbiologia e obedece a uma revisão diária dos resultados de conclusão. A vigilância rotatória como o próprio nome sugere, é aquela realizada no revezamento dos setores sob vigilância, detecta, assim, surtos ou qualquer outra situação. Neste caso, a intervenção deve ser rápida, apesar da dificuldade, pois, nem todos os setores estarão sob vigilância. Vigilância por objetivos O nome desta vigilância estabelece, antecipadamente, a definição dos objetivos a serem alcançados na consecução das metas estabelecidas Não é muito comum que os hospitais definam claramente as ações, porque ao final de qualquer vigilância é a prevenção e o controle das infecções que interessam. Coleta de dados A coleta de dados para a vigilância das infecções hospitalares pode ser feita de maneira ativa ou passiva. A ativa permite a identificação precoce das infecções, sendo, portanto, de maior eficácia. Propicia análises de fatores de risco e, consequentemente, medidas de controle durante a internação, assim como, a constante interação entre os profissionais da CCIH com os das unidades hospitalares. Esta coleta é feita pelo profissional enfermeiro da comissão de controle de infecção hospitalar que normalmente visita as unidades de alto risco diariamente. A forma passiva ocorre por meio da notificação dos casos. Essa forma é prevista como a mais frequente, pois se espera que sejam notificados todos os casos de doenças notificáveis atendidos pelos serviços de saúde, dependendo, então, da iniciativa e conscientização dosprofissionais que estão diretamente em contato com esses casos. As fontes de informação para a vigilância das infecções hospitalares são os prontuários dos pacientes, os relatórios de enfermagem, os laudos radiológicos e laboratoriais, as informações médicas e de enfermagem. Exceto as unidades de alto risco que já citamos, a periodicidade da coleta deve considerar a gravidade dos casos, o número e a complexidade dos procedimentos realizados e a duração da internação. Ressaltamos que pacientes com culturas positivas, com procedimento invasivo em uso de antimicrobianos, com febre e tempo de permanência no hospital acima do período normalmente estabelecido, podem constituir pistas para racionalizar o tempo utilizado na coleta, sem, no entanto, prejudicar a sensibilidade do método empregado. Após a observação ativa, sistemática e contínua da ocorrência das infecções hospitalares entre os pacientes, é necessário que os principais dados colhidos sejam devidamente registrados pela equipe de enfermagem, com vistas à execução oportuna de ações de controle, por exemplo: Identificação do paciente (nome, sexo, data do nascimento, peso em RN etc); Instrumentalização Cirúrgica I I Página 13 Dados da hospitalização (data da admissão, registro, número do leito, clínica ou serviço rede em que o paciente recebeu o tratamento, alta ou óbito); Informações sobre a infecção (data do início, sítio corporal: trato cirúrgico, pulmonar, urinário etc); Microorganismos isolados das culturas e antibiograma; Fatores de risco (doença de base e procedimentos invasivos); Antimicrobianos utilizados (nome, dose, via de aplicação e o tempo de uso). 6. Cadeia Epidemiológica Atualmente, a grande maioria das infecções hospitalares é causada por um desequilíbrio da relação existente entre a microbiota humana normal e os mecanismos de defesa do hospedeiro. Isto pode ocorrer devido à própria patologia de base do paciente, procedimentos invasivos e alterações da população microbiana, geralmente induzida pelo uso de antibióticos. Por serem doenças transmissíveis, as infecções hospitalares apresentam uma cadeia epidemiológica que pode ser definida a partir de seus seis elos: organismo etiológico; reservatórios ou fontes; vias de eliminação; vias de transmissão; via de penetração; e hospedeiro susceptível. A cadeia epidemiológica das infecções hospitalares será descrita de acordo com os seus elos. Organismo etiológico São os microorganismo que provocam a infecção. Exemplo: vírus, bactérias, protozoários ou fungos. Reservatório Termo utilizado para qualquer pessoa, vegetal, animal que forneça nutrição para os microorganismos e possibilite a sua dispersão. As infecções podem ser evitar eliminando o organismo etiológico do reservatório. Exemplo: Pessoas, água, equipamentos. Via de eliminação O organismo deve ter uma forma de saída a partir do reservatório, fazendo com que o hospedeiro infectado dissemine o organismo para outro hospedeiro ou para um ambiente. Exemplo: Excreções, secreções, pele, gotículas. Via de transmissão A via de transmissão é importante para ligar a fonte infecciosa ao seu novo hospedeiro. Os microrganismos são transmitidos no hospital por vários meios: por contato, por gotículas, por via aérea. Exemplo: Contato direto, ingestão, fomitos, transmissão pelo ar. Hospedeiro suscetível É aquele onde o hospedeiro não possui imunidade para determinado patógeno. Pacientes no ambiente hospitalar possuem fatores que os tornam mais susceptíveis aos microrganismos. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 14 Exemplo: Imunossupressão, diabetes, cirurgia, queimadura, idosos, recém- nascidos. Via de penetração Apresenta-se como meio do organismo entrar no hospedeiro. Exemplo: mucosa, trato GI, trato GU, trato respiratório, ruptura cultânea. 7. Higienização das Mãos Reconhecida como uma das medidas mais eficientes na prevenção de infecção hospitalares, a higienização das mãos é um procedimento simples que merece muita atenção e sua eficácia depende da duração e da técnica empregada. A higienização das mãos para todos profissionais envolvidos no atendimento ao paciente é imprescindível. Porém, é conveniente que você a eleja também a mais importante, garantindo desta forma, a sua participação técnica, consciente, eficaz e altamente profissional. Iremos diferenciar higienização das mãos de antissepsia das mãos Higienização das mãos: É a remoção mecânica da sujidade e redução da microbiota resistente. Nesta, utiliza-se água e sabão comum. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 15 Antissepsia das mãos: é a redução da microbiota resistente e eliminação da microbiota transitória com a ajuda de solução com propriedade germicida denominada antisséptico. Nesta, utiliza-se água e sabão antisséptico e no caso de fricção higiênica das mãos, utiliza-se um produto à base de álcool, normalmente em gel. O tempo que se recomenda para a realização destes procedimentos é de 30 segundos e o volume a ser utilizado de sabão é de 3 mL. Não se esqueça de que a técnica exige para a correta higienização, que o produto seja, inicialmente, massageado na palma da mão e em seguida, distribuído em todas as suas faces com atenção especial aos interdígitos e as articulações. No que diz respeito à lavagem das mãos e antissepsia, o guia do CDC, de outubro de 2002, faz as seguintes recomendações: 1. lavagem das mãos com água e sabão comum ou sabão antisséptico sempre que estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com material protéico; ao iniciar o turno de trabalho, após ir ao banheiro, antes e depois das refeições, antes do preparo de alimentos, da manipulação de medicamentos e nas situações descritas a seguir para preparação alcoólica. 2. usar fricção das mãos com produto a base de álcool para descontaminação rotineira das mãos, quando estas não estiverem visivelmente sujas, nas seguintes situações clínicas: -antes de contato direto com paciente; -após a remoção das luvas; -após contato com a pele intacta do paciente; -após o contato com objetos inanimados ao redor do paciente; Instrumentalização Cirúrgica I I Página 16 -antes das refeições e após utilizar o banheiro lavar as mãos com água e sabão comum. 3. Como alternativa para a descontaminação das mãos nestas situações clínicas citadas acima, é recomendada a lavagem das mãos com água e sabão antisséptico: -antes de calçar luvas estéreis; -antes da inserção de cateter urinário, cateter vascular periférico ou outro dispositivo invasivo que não exija procedimento cirúrgico; -após contato com fluídos corporais ou excreções, membrana mucosa, pele não intacta ou troca de vestimenta, mesmo que as mãos não estejam visivelmente sujas; -ao cuidar do paciente, durante a mudança de manipulação de um sítio contaminado para um sítio limpo. As técnicas fundamentais de higienização das mãos, as quais podem variar dependendo do objetivo ao qual se destinam. São divididas em: Higienização simples das mãos. Higienização anti-séptica das mãos. Fricção de anti-séptico nas mãos. Anti-sepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório das mãos. Técnica para higienização das mãos A eficácia da higienização das mãos depende da duração e da técnica empregada. Para isto devemos realizar este procedimento durante40 a 60 segundos. Antes de iniciar a técnica é necessário retirar jóias (anéis, pulseiras, relógio), pois sob tais objetos podem acumular microorganismos. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 17 Instrumentalização Cirúrgica I I Página 18 8. Antissepsia X Assepsia Assepsia foi definida pelo Ministério da Saúde como conjunto de medidas utilizadas para impedir a penetração de microorganismos em local que não os continha. Conforme a definição, a prática da assepsia se utiliza de meios apropriados para impedir a introdução de microorganismos no organismo. Ela difere da antissepsia, pelo fato de não empregar agentes terapêuticos. Neste contexto, os profissionais de saúde utilizam medidas de assepsia para evitar, direta ou indiretamente, a transmissão de microorganismos. Antissepsia consiste na utilização de produtos (microbicidas ou microbiostáticos) sobre a pele ou mucosa com o objetivo de reduzir os microorganismos em sua superfície. (ANVISA). Os conceitos parecem simples, mas se pararmos para pensar nas atividades desenvolvidas no dia-a-dia com nossos pacientes percebemos em quais a antissepsia precisa estar presente. Vários são os produtos utilizados, dentre eles destacamos o iodo povidona PVPI, o qual é muito utilizado na antissepsia e degermação. Porém, os diferentes tipos de PVPI são utilizados em diferentes superfícies. PVPI aquoso Composto orgânico de iodo, não age na presença de materiais orgânicos e eleva o nível sérico de iodo; PVPI degermante Utilizado somente em pele íntegra, com a finalidade de remover sujidade e reduzir a flora transitória e residente. Deve ser retirado após o uso. Tem indicação também na degermação da pele, mãos, área cirúrgica e procedimentos invasivos. PVPI alcoólico Indicado para uso em pele íntegra, após degermação das mãos, com a finalidade de fazer luva química e demarcar a área operatória, reduzindo a flora da pele; Relação de alguns procedimentos em que a antissepsia é muito importante: PROCEDIMENTOS SOLUÇÃO UTILIZADA Instrumentalização Cirúrgica I I Página 19 Antissepsia da mucosa: Antissepsia das mucosas bucal, ocular, vaginal e intestinal, ou dos locais em que pode haver lesão. PVPI AQUOSO Remoção de sujidade e redução da flora residual e transitória: Degermação 2 da pele, principalmente na área cirúrgica e procedimentos invasivos. Deve ser retirado após o uso. PVPI DEGERMANTE Cuidados pré-operatórios: Luva química, anti-sepsia de campo operatório após PVPI degermante, demarcação da área cirúrgica. PVPI ALCOÓLICO O antisséptico clorexidine aquoso faz a antissepsia, antes de procedimentos invasivos, com um tempo de ação residual de 5 a 6 horas. Já o álcool a 70% glicerinado tem ação imediata e faz a antissepsia de procedimentos que não necessitam de efeito residual por serem de curta duração. A antissepsia das mãos: em unidades de terapia intensiva, berçário de alto risco, unidades de transplantes, hematologia e na realização de pré e de pós- procedimentos e exames invasivos deve ser realizada utilizando-se a mesma técnica de higienização das mãos, incluindo os antebraços, porém, usando os antissépticos acima citados. Observação: Ao utilizar PVPI ou clorexidine não utilizar álcool a 70% imediatamente após, pois este inativa a ação residual dos mesmos. O uso do PVPI é contra indicado em recém-natos e grandes queimados devido a sua absorção transcutânea de iodo, podendo acarretar hipertireoidismo. A clorexidine deve ser utilizada em caso de pacientes ou funcionários alérgicos ao iodo. 9. Biossegurança e Equipamentos de Proteção Individual – EPI A biossegurança é uma ciência que surgiu para controlar e diminuir os riscos quando se praticam diferentes tecnologias, tanto aquelas desenvolvidas em laboratórios, ambulatórios como as que envolvem o meio ambiente. Também aparece em: indústrias, hospitais, clínicas, laboratórios de saúde pública, laboratórios de análises clínicas, hemocentros, universidades, etc. É um termo que se aplica ao conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços. Estes riscos podem comprometer a saúde do Instrumentalização Cirúrgica I I Página 20 Homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos. No caso dos profissionais de enfermagem, o foco principal desta disciplina está na prática assistencial da profissão. Durante o desenvolvimento desta, o profissional de saúde entra em contato com material biológico (sangue, secreções e excreções tipo vômito, urina, fezes, sêmen, leite materno, escarro, saliva e outros fluidos corporais). Estes materiais biológicos podem estar alojando microrganismos, por isso consideramos estes fluidos de pacientes ou os equipamentos e ambiente que tiveram contato com eles, como potencialmente contaminados por germes transmissíveis de doenças. Por não sabermos se os germes estão ou não presentes nestes equipamentos, vamos sempre considerá-los contaminados. Desta forma, na nossa rotina de trabalho sempre devemos estar conscientes da importância de nos protegermos ao manipularmos materiais, artigos, resíduos e ambiente sujos de sangue e/ou secreções. Ao profissional de enfermagem cabe, sobretudo, a consciência de sua responsabilidade quanto à prática da biossegurança em todos os seus procedimentos de trabalho e também junto aos seus pacientes para que, protegendo-se, possa garantir suas boas condições de saúde para, assim, estar apto ao cuidado com o próximo. As metas específicas são: Reduzir o número de microrganismos patogênicos encontrados no ambiente de tratamento; Reduzir o risco de contaminação cruzada no ambiente de tratamento; Proteger a saúde dos pacientes e da equipe de saúde; Conscientizar a equipe de saúde da importância de, consistentemente, aplicar as técnicas adequadas de controle de infecção; Difundir entre todos os membros da equipe de saúde o conceito de precauções universais, que assume que qualquer contato com fluidos do corpo é infeccioso e requer que todo profissional sujeito ao contato direto com eles se proteja, como se eles apresentassem o vírus da imunodeficiência adquirida ou da hepatite B, C ou D; Estudar e atender às exigências dos regulamentos governamentais locais, estaduais e federais. Como sabemos, pela nossa prática diária, a transmissão de agentes biológicos relacionados com os profissionais de saúde ocorre por meio de diferentes materiais e vias de aquisição como a percutânea, cutânea, mucosa, sangue, fluidos corpóreos, secreções, fezes, aerossóis Instrumentalização Cirúrgica I I Página 21 primários e gotículas, que propiciam grande comprometimento para esses profissionais. As medidas de biossegurança não devem seguir a linha do exagero, porém não devem ser desprezadas. As ações que contribuem para a segurança de vida no dia-a- dia do profissional são genericamente consideradas medidas de biossegurança. Esse argumento deixou bem clara a necessidade de motivar os profissionais que atuam diretamente na assistência hospitalar a utilizaremos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e seguirem as medidas preventivas na sua rotina diária, mesmo que os assistidos não sejam portadores de doenças infecciosas. Além dos EPIs, existem outras medidas que possibilitam a redução da probabilidade de adoecimento para o profissional, como imunização ativa e/ou passiva: a quimioprofilaxia. Dessa forma, precisamos compreender biossegurança como uma garantia de direitos que direcionam e afirmam a saúde humana, a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Os procedimentos de biossegurança terão que ser assegurados como instrumentos fundamentais no cotidiano dos profissionais de saúde. Como sabemos todas as pessoas que trabalham em serviços de saúde estão altamente expostas a vários agentes desencadeadores de doenças de ordem física, química e biológica. Entre os cuidados que os profissionais devem ter com relação à aquisição de infecção ou transmissão de agentes desencadeadores de doenças de ordem física, química e biológica está a atenção para com os materiais perfuro-cortantes. Para estes, o Ministério da Saúde tem recomendações específicas de procedimentos, são elas: Máxima atenção; Jamais utilizar os dedos como anteparo; Agulhas não devem ser reencapadas, entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as mãos; Não utilizar agulhas para fixar papéis; Todo material perfuro-cortante: agulhas, scalpes, lâminas de bisturi, vidrarias etc., mesmo estéreis, devem ser desprezados em recipiente resistente à perfuração e ruptura, e com tampa. Os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e devem ser colocados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento. As normas estabelecidas pelo Ministério de Saúde apontam para a importância de os profissionais tomarem os devidos cuidados com o intuito de evitar as taxas de infecção ocupacional pelo HIV que são relativamente baixas em comparação com as taxas dos vírus das hepatites B e C. Portanto, é conveniente que, no caso de exposição a materiais biológicos, os procedimentos preconizados pelo Ministério da Saúde, sejam devidamente considerados: Cuidados locais na área exposta; Instrumentalização Cirúrgica I I Página 22 Quimioprofilaxia antirretroviral; Acompanhamento sorológico. Todo profissional que atua em instituições de saúde está exposto a contaminações, mesmo aqueles que trabalham em setores administrativos. Toda a atenção e profissionalismo devem ser concentrados no desempenho das atividades na área de saúde, principalmente, no que se refere aos materiais orgânicos de contato diário, como fezes, secreções e sangue. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) destinam-se a proteger a integridade física dos profissionais. Sua adequação está diretamente ligada à atividade que se vai desenvolver e tem como objetivo a proteção do profissional ou paciente exposto a substâncias perigosas, seja por absorção, inalação ou contato físico. Os EPIs incluem: protetores ou máscaras faciais, óculos protetores, luvas, jalecos, avental emborrachado e calçados. Máscaras Fazem a proteção da mucosa nasal e protegem dos aerosóis primários e perdigotos contaminados (Gotículas minúsculas de saliva que saem pela boca durante a fala de uma pessoa). Este equipamento é considerado eficiente se apresentar um mínimo de filtração bacteriana de 95%, segundo as entidades normativas. Máscaras, protetores faciais e oculares ajudam a proteger as mucosas dos olhos, nariz e boca, pois os líquidos corporais podem borrifar, respingar ou pulverizar seu rosto. Óculos protetores Os olhos são muito susceptíveis a lesões microscópicas e macroscópicas face sua limitada vascularização e baixa imunidade. O profissional que não fizer uso desses equipamentos corre maior risco de infecções. Os óculos devem ser lavados entre um paciente e outro de forma rotineira. Luvas Devem ser utilizadas nos procedimentos de risco ocupacional aos fluidos corporais, tais como punção venosa periférica, quando se entra na unidade de paciente infectado ou colonizado por microorganismo resistente e deverão ser descartadas assim que terminarem o procedimento. São indicadas como barreira de proteção aos profissionais de saúde, especialmente ao risco biológico. Aventais Instrumentalização Cirúrgica I I Página 23 Evitam a contaminação das roupas e protegem a pele do profissional. Juntamente com os aventais, incluem-se em algumas ocasiões, as perneiras, as botas ou os propés, evitando assim borrifamentos de fluidos corpóreos. A utilização desses equipamentos deve ser seguida rigorosamente enquanto o profissional estiver trabalhando, independentemente do diagnóstico ou do estado infeccioso do paciente. O objetivo é reduzir, ao máximo, o risco de infecções de fontes conhecidas ou não. Protetores Para Os Membros Inferiores Os membros inferiores devem estar protegidos por calçados fechados durante o trabalho em serviços de saúde e laboratórios. Evitam acidentes que envolvem derramamento e salpicos de substâncias de risco químicos e biológicos, impactos, pérfuro- cortantes, queimaduras, choques, calor, frio, eletricidade etc. Os trabalhadores não devem expor os artelhos, o uso de sandálias ou sapatos de tecido é proibido na área de trabalho. O calçado deverá ser ajustado ao tipo de atividade desenvolvida como: botas de segurança em couro, botas de PVC, botinas e outros calçados de cano curto ou longo, com biqueira de reforço e solado antiderrapante. Sapatilhas ou pró-pés descartáveis ou reutilizáveis são, geralmente, usadas em áreas estéreis tanto em hospitais, laboratórios, biotérios e na indústria. Toucas Ou Gorros Nos ambientes de serviços de saúde, laboratoriais, dentre outros, os cabelos devem permanecer presos para evitar acidentes e contaminações por microorganismos, poeiras e ectoparasitos em suspensão. Os cabelos dos trabalhadores, também podem contaminar ambientes limpos ou estéreis ou contaminarem pacientes e o produto do trabalho, por este motivo as toucas ou gorros devem ser usados. Devem ser confeccionados em tecido que permita a aeração dos cabelos e do couro cabeludo. Podem ser descartáveis ou reutilizáveis. 10. Prevenção de Infecção dos Principais Sítios Introdução As infecções hospitalares mais freqüentes são as urinárias, em torno de (40%), as sepses (10%), as cirúrgicas (25%) e as pneumonias (10%). As outras infecções correspondem a uma proporção de 15%. A taxa de mortalidade por infecção hospitalar no Brasil mantém-se estável há décadas. A média é de 45 mil óbitos por ano em cerca de doze milhões de internações hospitalares. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 24 A instrumentação do trato urinário representa o fator de risco mais importante na aquisição de ITU, especialmente a sondagem vesical precedendo-a em mais de 80% dos casos, e outras manipulações em 5 a 10%. Os fatores associados ao hospedeiro, que resultam em maior incidência de infecção relacionada ao catéter vesical são: idade avançada, sexo feminino, gravidez, puerpério, colonização do meato uretral, urina vesical residual, doenças subjacentes graves e uso indiscriminado de antimicrobianos. O agente predominante das infecções do trato urinário é a Escherichia Coli. A segunda topografia de infecção hospitalarem muitas instituições é a ferida cirúrgica. O principal fator predisponente é o potencial de contaminação da cirurgia, mas a duração do procedimento e as condições pré-operatória do paciente também têm grande importância. Outros fatores podem influir na ocorrência de infecção, como a permanência pré-operatória do paciente, predispondo-o a infecção por cepas hospitalares mais virulentas e resistentes aos antibióticos, a presença de infecção concomitante, a utilização de corpos estranhos, como drenos e próteses, o estado nutricional dos tecidos operados e principalmente a técnica cirúrgica. A infecção do trato respiratório é geralmente a terceira principal topografia de infecção hospitalar. Fatores como idade, patologia de base, instrumentação do trato respiratório, colonização da orofaringe com flora intestinal favorecida pela neutralização do pH do estômago e pelo uso de sondas, endoscopia, equipamentos de terapia respiratória, broncoaspiração e biópsia transbrônquica predispõem ao aparecimento dessas infecções. a) Prevenção de Infecção do Trato Urinário As infecções do trato urinário (ITU) são de muita importância e também as mais frequentes, acometem homens e mulheres em qualquer idade, porém pessoas do sexo feminino são mais suscetíveis pela sua própria condição anatômica. É bom lembrar que a vulnerabilidade do trato urinário é tão grande que as infecções, que ali acontecem, apresentam grande importância, mesmo nas doenças infecciosas comunitárias. Essas infecções acarretam muitas complicações, bem como o aumento do ônus financeiro da terapêutica devido à necessidade de prolongar o período de internação e o uso de medicação apropriada. Na maioria dos casos, essas infecções são acompanhadas de bacteriúria. Na drenagem pelo sistema fechado, que é a forma indicada, a taxa de aquisição de bacteriúria é de 5 a 10 % por dia de cateterização. Fatores de risco Pacientes com déficit neurológico; Pacientes que durante uma hospitalização, sejam cateterizados; Gravidez; Instrumentalização Cirúrgica I I Página 25 Homens com mais de 50 anos; Diabéticos e transplantados renais etc. Medidas preventivas Lavagem das mãos antes e após a manipulação do sistema de drenagem; Usar técnica asséptica de colocação do cateter; Usar sonda com o menor calibre possível; Fixar a sonda evitando desta forma movimentos que tracionam a uretra; Nunca desconectar a sonda do sistema coletor; Trocar todo o sistema, em caso de contaminação; Manter o fluxo livre; Esvaziar sempre a bolsa; Evitar dobra nos tubos; Dar preferência ao sistema coletor fechado; Dar preferência ao sistema com válvula anti-refluxo; Evitar que o sistema coletor de urina toque o chão; Retirar o cateter assim que possível; Manter o meato uretral limpo, destacando-se a higiene perineal; Usar fralda descartável, especialmente em mulheres; Usar condons em homens, como alternativa à cateterização; Dar preferência ao cateterismo intermitente, especialmente em pacientes domiciliares. O tratamento será baseado nos critérios de diagnóstico e sempre que possível em urocultura e antibiograma. b) Prevenção de Infecções Respiratórias Pneumonia ―é uma inflamação do parênquima pulmonar causada por um agente microbiano‖ (ANVISA, 2004). Os agentes mais comuns encontrados no hospital são: Pseudomonas aeroginosa, Staphylococcus aureus, Klebsiela. Quando o paciente é imunocomprometido os agentes mais envolvidos são: Pseudocystis carini, Aspergillus fungicatus e Mycobacterium tuberculosis. Sabe-se que a penetração da bactéria é feita geralmente pela via aérea superior e não causa, necessariamente, a pneumonia se existir um mecanismo de defesa eficaz por parte do hospedeiro. No entanto, se a pneumonia se instala, ela tem como causa vários agentes patogênicos, inclusive, bactérias, fungos, vírus, micobactérias, clamídias, micoplasmas entre outros. Fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento de pneumonias: Uso de ventilação mecânica; Idade avançada; Instrumentalização Cirúrgica I I Página 26 Presença de doença pulmonar crônica; Alteração do nível de consciência; Cirurgia tóraco-abdominal; Trauma bronco-aspiração e outros. Nesse processo, a prevenção para evitar fatores de risco é de extrema importância. Temos de considerar os fatores predisponentes que são exatamente aqueles que aumentam a frequência de aspiração e a quantidade de patógenos inoculados que dificultam as defesas locais ou a imunidade do sistema. Os mais importantes são a entubação endotraqueal com ventilação mecânica, que aumentam de forma considerável o risco de pneumonia. Mais de 50% das pneumonias nosocomiais estão associadas à ventilação mecânica e 10% delas ocorrem em UTI. Segundo a ANVISA, a ventilação mecânica aumenta o risco de aquisição de pneumonia hospitalar em comparação a pacientes não ventilados. Medidas preventivas Entubação No ato da entubação deve-se usar luvas estéreis, máscara e óculos de proteção. O avental deve ser utilizado para evitar a possibilidade de sujidade ou respingos. Evitar a contaminação da cânula antes da introdução na orofaringe. O fio guia deve ter sido desinfetado ou esterilizado e estar com embalagem adequada. Traqueostomia O procedimento deve ser realizada com técnica asséptica na sala de cirurgia, exceto nos casos de urgência. Quando a cânula de traqueostomia necessitar de troca, deverá ser substituída por outra esterilizada, usando técnica asséptica com luvas estéreis. O curativo da traqueostomia deve ser trocado quando necessário ou pelo menos diariamente. Aspiração A aspiração deve ser realizada sempre que houver necessidade e não a intervalos pré-fixados. O calibre da sonda de aspiração não deve ser superior à metade do diâmetro do calibre da cânula endotraqueal ou traqueostomia. Os frascos que acondicionam a secreção deverão ser lavados diariamente com solução detergente. As extensões dos aspiradores deverão ser lavadas e submetidos a desinfecção de alto nível ou à esterilização na saída do paciente. Outros Artigos Após o uso do ressucitador manual (ambú), máscara ou fio guia, é necessário submetê-los à desinfecção de alto nível ou esterilização, antes de serem usados em outro paciente. Estes materiais devem ser guardados e mantidos em embalagens plásticas fechadas. O sistema de nebulização (máscara, circuito e frasco) deve ser trocado a cada 48 horas. Os inaladores devem ser limpos e desinfetados a cada uso e mantidos em embalagem plástica (mesmo junto ao leito). c) Prevenção da Infecção do Sítio Cirúrgico Instrumentalização Cirúrgica I I Página 27 Infecções do Sitio Cirúrgico (ISC) são infecções que ocorrem relacionadas à manipulação cirúrgica acometendo tecido subcutâneo, tecidos moles profundos (fáscia e músculo), órgão e cavidades incisados. Enquadra- se como aquelas que ocorrem até o 30º dia de pós-operatório ou até 01 ano nos casos de cirurgias com implante de próteses. É importante lembrar que o organismo agredido por uma cirurgia responde com reações na luta pela sobrevivência como a inflamação, a revascularização e a deposição de tecido cicatricial. Como consequência ocorre uma deficiência do sistema imunológico, permitindo, desta forma, que com a presença do agente patogênico o processo infeccioso se instale no próprio campoou mesmo a distância. Os patógenos causadores de ISC podem ser provenientes de três fontes: microbiota do próprio paciente, da equipe de saúde (inclui deste item os funcionários do Centro Cirúrgico) e também do ambiente inanimado, incluindo material cirúrgico. Entretanto, há que se considerar que cada uma dessas fontes têm sua ordem de importância, dependendo das próprias condições do paciente e dos procedimentos realizados. Praticamente qualquer agente infeccioso pode ser responsável por Infecção do Sítio Cirúrgico. Em geral, elas são causadas por germes presentes colonizando a pele ou as mucosas do próprio paciente, sendo freqüentemente polimicrobianas, em especial após cirurgias abdominais. A freqüência relativa dos microorganismos pode sofrer influência do antimicrobiano utilizado em esquemas profiláticos. As taxas de ISC dependem diretamente do grau de contaminação da operação, sendo para cirurgias limpas de 1% a 5%, para as potencialmente contaminadas de 3% a 11%, para as contaminadas de 10% a 17%e para as infectadas acima de 27 %, segundo o Centers for Disease Control (CDC). Vários são os fatores de risco relacionados à Infecção do Sítio Cirúrgico. Para alguns destes fatores de risco, algumas medidas preventivas podem ser preconizadas: Fatores relacionados ao paciente Idade Os extremos de idade têm influência na taxa de infecção (maiores taxas são encontradas em pacientes com menos de 1 ano e mais de cinqüenta anos). Doença preexistente Admite-se que pacientes com múltiplas doenças preexistentes têm maior probabilidade de contrair infecção. Obesidade A obesidade é um fator de risco comprovado para infecções. As razões para esta susceptibilidade parecem ser a irrigação local do tecido adiposo que é comprovadamente pouco vascularizada, associada a maior duração dos procedimentos cirúrgicos e trauma da parede abdominal. Além disto, a área exposta do paciente obeso à contaminação é bem maior, com Instrumentalização Cirúrgica I I Página 28 a possível formação de espaços mortos e com a utilização de sutura subcutânea para fechá-los. d)Infecções fora do sítio operatório As infecções em locais afastados do sítio cirúrgico representam importante fator de risco. As infecções distantes, especialmente as do trato urinário e do acesso vascular são consideradas um fator de risco de infecção pós operatória, independentemente de qualquer outro fator, havendo contra-indicação para cirurgias eletivas. Pacientes que necessitem realizá-las devem receber antibióticos efetivos para o controle do processo infeccioso, mantidos por tempo suficiente para completar seu tratamento. Diabetes Controlar a glicemia em todos os pacientes diabéticos, evitando, particularmente hiperglicemia no pré- operatório. Tabagismo Encorajar a suspensão do tabagismo no mínimo instruir os pacientes a suspender por 30 dias antes da cirurgia eletiva o fumo de cigarros, charutos, cachimbo ou qualquer consumo de tabaco. Fatores relacionados à cirurgia Antibioticoprofilaxia A ausência de antibioticoprofilaxia nos casos em que seu emprego é indicado é um fator de risco para ISC. Classificação das cirurgias segundo o potencial de contaminação Este fator, intrinsicamente relacionado ao tipo de cirurgia realizado, reflete que a contaminação endógena é o mais importante fator para o desenvolvimento da ISC. Retirada de pêlos A tricotomia aumenta o risco de ISC devido às lesões que provoca na pele e, portanto, só deve ser realizada quando estritamente necessária, num período inferior a duas horas antes do ato cirúrgico e, quando realizada nas áreas de internação, deve preceder o banho; deve ser limitada a áreas em que o pêlo dificulte a visualização ou manipulação do campo operatório. Os aparelhos elétricos são menos lesivos à pele que os aparelhos com lâmina. Preparo pré-operatório da pele Seu objetivo é reduzir o risco de ISC pela contaminação da pele ao redor do sítio cirúrgico, num curto espaço de tempo e com irritação mínima do tecido; em geral, recomendam-se soluções de amplo espectro, com rápida atividade e que possuam ação residual. Os antissépticos mais utilizados são o álcool (que constitue em alternativa para procedimentos de curta duração), os iodóforos e a clorexidina. A seleção do produto deve considerar a sensibilidade do paciente e as condições de sua pele evitando assim, reações adversas às desejadas. Degermação A degermação deve ser feita com solução degermante de PVP-I ou Instrumentalização Cirúrgica I I Página 29 clorexidina, seguida por enxagüe com compressa embebida em água estéril ou soro fisiológico. Após o enxágüe, a anti-sepsia deve ser feita através da fricção com produto de mesmo princípio ativo, em veículo alcoólico e a solução deve secar espontaneamente. Para anti-sepsia de mucosas, recomenda-se o uso de soluções aquosas de anti-sépticos, realizando-se duas aplicações. Quanto à técnica de anti-sepsia, recomenda-se que os movimentos de espalhamento do produto devam partir da incisão para as áreas periféricas. Em relação ao banho do paciente no pré-operatório, recomenda-se que seja realizado na noite anterior à cirurgia, podendo ser repetido no dia da cirurgia; para este banho, pode-se usar sabão comum ou anti-séptico, se este for disponível. Técnica cirúrgica A técnica cirúrgica é um importante fator que interfere com a cicatrização e a ocorrência de infecções do sítio operatório. Vários aspectos relacionados à técnica cirúrgica merecem ser enfatizados: manutenção adequada da hemostasia preservando-se uma adequada perfusão tecidual, prevenção da hipotermia, manipulação cuidadosa dos tecidos, adoção de cuidados para se evitar quebras de técnicas, remoção de tecidos desvitalizados, utilização de materiais de suturas e drenos apropriados, erradicação de espaços mortos e lavagem ou irrigação tópica da ferida de feridas consideradas sujas ou contaminadas. Drenos Os drenos representam uma porta de entrada para germes, sendo que a decisão para a sua colocação deve ser baseada em um avaliação criteriosa; quando utilizados, devem ser retirados tão logo a sua indicação cesse. Cuidados rigorosos na sua manipulação, incluindo lavagem das mãos e sistemas fechados para drenagem, devem ser adotados nas atividades de rotina com estes pacientes. Duração da cirurgia Existe uma forte associação entre tempo de cirurgia e risco de ISC. O risco de infecção é proporcional à duração do ato operatório, ou seja, quanto mais longa a cirurgia, maior a taxa de infecção. A duração da cirurgia varia de acordo com a complexidade do procedimento, dificultando a determinação do que seria o ―tempo ideal‖. Lavagem das mãos e degermação Recomenda-se que a duração da escovação antes da primeira cirurgia deva ser feita de 3 a 5 minutos e de 2 a 3 minutos para as subseqüentes. Tempos superiores são desnecessários, causando lesões abrasivas de pele e risco de emergência de organismos das camadas mais inferiores da pele; soluções degermantes a base de iodóforos ou clorexidina são aceitas como anti-sépticos nesta situação. Estes dois procedimentos realizados em conjunto no CC diminui acentuadamente as IH. Paramentação cirúrgica Deve ser feita de forma asséptica. A troca da paramentação deve ocorrer quando estiver visivelmente suja com sangue ou outro fluído corpóreo potencialmente infectante. Instrumentalização CirúrgicaI I Página 30 A máscara cirúrgica deve cobrir totalmente a boca e o nariz, e deve ser utilizada ao se entrar na sala cirúrgica se o instrumental estiver exposto ou a cirurgia estiver em andamento e todo cabelo devem estar cobertos ao entrar na sala cirúrgica. Limpeza da sala de cirurgias Ocorre um aumento significativo nas IH quando a limpeza da sala cirúrgica e dos instrumentais não é feita da maneira correta. Duração da hospitalização pré-operatória Quanto mais longa a internação antes da cirurgia, maior será a incidência de infecção. Nesse sentido, o estímulo às cirurgias ambulatoriais ou a internação o mais próximo possível da cirurgia têm se tornado medidas desejáveis. Ressaltamos que a nossa responsabilidade em relação às infecções do sítio cirúrgico não se restringem ao pré e intra-operatório. Destacamos a importância do seguimento pós-alta para a obtenção de dados fidedignos sobre as infecções do sítio cirúrgico devido à manifestação tardia na maioria dos casos, levando a subnotificação quando o seguimento do paciente é realizado somente durante a internação. O diagnóstico para as ISC (infecção de Sítio Cirúrgico) podem ser clínicos, laboratoriais e microbiológico. • Clínico: * Febre: manifesta-se em menos da metade dos pacientes com ISC. * Geral: mal-estar, taquicardia, taquipnéia, hipoxemia, coagulopatia, topor e coma. * Local: dor, celulite (hiperemia, edema, calor e dor), drenagem de secreção purulenta ou necrose tecidual. • Laboratorial: leucograma infeccioso podem aparecer em aproximadamente 50%, dos pacientes com ISC, neutrofilia com desvio para a esquerda, eosinopenia; • Microbiológico: na suspeita de ISC, tentar sempre identificar o agente infeccioso e sua sensibilidade a antibióticos, para direcionar tratamento antimicrobiano eficiente, se necessário. O tratamento consiste em aplicação de compressas quentes no local, isto pode favorecer a resolução das ISC superficial e acelerar a flutuação de abscessos de partes moles; a drenagem de coleções infectadas, este procedimento é importante, pois permite a remoção de bactérias, piócitos, tecidos desvitalizados e corpos estranhos (fios). Os abscessos profundos ou em cavidades podem ser drenados cirurgicamente ou por punções; desbridamento de tecidos necróticos e realização de curativo de forma asséptica. Alguns pacientes cirúrgicos apresentam ISC causadas por microorganismos multirresistentes. Considerando a presença de secreções no sitio cirúrgico, a necessidade de manipulação diária da ferida cirúrgica e o risco de disseminação de infecções, medidas de isolamento precauções devem ser utilizadas de acordo com o próximo capítulo precauções e isolamento. Instrumentalização Cirúrgica I I Página 31 11. Antibioticoprofilaxia Cirúrgica A antibioticoprofilaxia permanece sendo uma das principais responsáveis pelo uso incorreto de antimicrobianos no hospital e a sua realização de forma discutida e padronizada um dos pontos mais importantes do programa de controle de antibióticos. A prevenção da infecção de sítio cirúrgico (ISC) é constituída por medidas muitas vezes complexas e de difícil aplicação, envolvendo múltiplos profissionais, revisão de rotinas e mudanças de atitude e comportamento. Por esta razão, uma simplificação, através de uma abordagem farmacológica para prevenção de ISC é bastante atrativa. Entretanto, depositar toda a responsabilidade da prevenção de infecções no uso de um fármaco, embora possa ser uma conduta simples e prática para o cirurgião, pode se tornar um risco, caso as demais atitudes de prevenção forem negligenciadas. A profilaxia visa a prevenção de ISC, não tendo eficácia comprovada na prevenção de outras complicações infecciosas, como pneumonia, infecção do trato urinário e infecção de cateteres. Por ser de eficácia limitada, a profilaxia com antimicrobianos não substitui as demais medidas de prevenção. A eficácia ou ineficácia de um esquema profilático não é perceptível na prática diária. Assim, torna-se necessária uma vigilância sistemática e a observação de grande número de casos para se avaliar o real valor do esquema. Portanto, casos isolados de ISC ou mesmo taxas elevadas de infecção não podem justificar o uso de profilaxia ou ser controladas com a mesma, a não ser que tenha sido realizada uma avaliação metodologicamente rigorosa. De uma maneira prática, recomenda-se que aplicação seja feita no momento da indução anestésica. A dose do antimicrobiano a ser utilizada deve ser a habitual. Critérios gerais para a escolha do antimicrobiano A seleção de antibióticos para profilaxia cirúrgica depende de sua eficácia e segurança. O antibiótico deve: - Ter apresentação parenteral; - Possuir mínima toxicidade; - Ter baixo custo; - Ser fraco indutor de resistência; - Possuir farmacocinética adequada; - Ser dotado de atividade contra a maior parte dos patógenos causadores de isc na instituição; - Não ser usado no tratamento de infecções nosocomiais graves. O benefício deve ser avaliado comparativamente aos danos possíveis de causar. Por esta razão, drogas de baixa toxicidade como as cefalosporinas e as penicilinas Instrumentalização Cirúrgica I I Página 32 são, muitas vezes, as drogas de primeira escolha. Controle do uso de antimicrobianos Os antimicrobianos constituem uma categoria única de medicamentos, pois afetam não somente o paciente que faz uso, mas também, de maneira mais ampla, o ambiente microbiológico, interferindo com a flora de outros pacientes e das pessoas que direta ou indiretamente entram em contato. Os médicos, de uma maneira geral, colocam o foco de atendimento no paciente individualmente, sem pesar as conseqüências ecológicas, sobre outros pacientes, para o hospital, para a comunidade. O aumento de resistência dos germes aos antimicrobianos e a maior prevalência destas cepas no hospital, resultando em prolongamento na permanência, maior consumo de antimicrobianos, aumento na morbidade, mortalidade e custo, tem acarretado um problema para os médicos assistentes, para o pessoal de controle de infecção nosocomial e para os administradores hospitalares. A presença de um número cada vez maior de pacientes com diminuição de suas defesas, o uso de novos procedimentos invasivos e de instrumentação, o reconhecimento de novos organismos responsáveis por infecção, são algumas das razões para que os germes multirresistentes tornem-se cada vez mais importantes. O controle ou a erradicação de germes resistentes após tornarem-se endêmicos pode ser bastante difícil. O controle do uso de antimicrobianos, por tudo isso, não é uma opção, mas uma necessidade de toda a comunidade que usufrui ou que trabalha nas instituições de saúde e que não deveria permanecer restrita a estas, mas ser realizado em todos os locais, impedindo ou limitando o consumo e uso incorreto e sem indicação, como a venda sem prescrição, o uso para tratamento de infecções virais, a utilização de subdoses, a promoção abusiva do produto por companhias inescrupulosas, impedindo a prescrição por médicos ansiosos visando a ―cobertura de todos os agentes possíveis‖. A dose do antimicrobiano deve ser ajustada à intensidade da infecção, à topografia da doença, ao peso do paciente e às funções renal e hepática, evitando- se subdoses ou doses excessivas, que facilitam resistência e aumentam chance de efeitos colaterais. Desde que possível, deve-se escolher
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