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Fonte da leitura: http://www.pucpr.br/arquivosUpload/5371894291314711916.pdf Ano da publicação: Originalmente em Outubro de 1960, no Journal of Law and Economics. Número de páginas: 37. Título da obra: O Problema do Custo Social. Nome do autor: Ronald Coase. Nome do tradutor: Tradução por Francisco Kümmel F. Alves e Renato Vieira Caovilla. Tema da obra: Economia e Direito. 2.1. Palavras-chave: Custos de transação, externalidades, direitos de propriedade, bem-estar social. 3. Ideias principais do autor: Em sua obra, Coase faz uma análise das ações das business firms que geram ações prejudiciais para terceiros, e busca uma solução à esse prejuízo analisando os problemas que podem ser implicados nessa situação: Coibir “A”, para evitar o prejuízo de “B”, implica em prejuízo de “A”. O autor usa exemplo do Professor George J. Stigler, onde: “Assumindo-se que o efeito prejudicial da poluição é a mortandade de peixes, a questão a ser decidida é: o valor dos peixes mortos é maior ou menor do que o valor do produto resultante da atividade contaminadora do córrego.” (pg.3). Ainda, o autor cita que: “É necessário saber se a atividade nociva é ou não responsabilizável pelos prejuízos que causa, uma vez que, sem o estabelecimento dessa delimitação inicial de direitos, não poderá haver transações no mercado para transferência ou recombinação desses direitos. No entanto, o resultado final (que maximiza o valor da produção) independe do posicionamento legal, desde que se assuma que o sistema de determinação de preços funcione sem custos.” (pg.7). Coase faz uso de quatro casos reais para exemplificar o custo das transações no mercado, explicando logo após o termo “firma”, que representa uma forma alternativa a essas transações, com o uso de decisões administrativas. Nesse contexto, Coase mostra como solução alternativa uma regulação direta do governo por meio da lei. O governo seria, “em certo sentido, uma super-firma (mas de um tipo muito especial), porquanto é capaz de interferir no uso dos fatores de produção por meio de decisões administrativas. (pg.15)”. No entanto, o autor deixa claro que essa interferência direta do governo não traz necessariamente melhores resultados do que deixar que o problema seja resolvido pela “firma”. Outra solução apresentada seria a de não se fazer nada a respeito, quando as “atividades-fonte dos danos fossem menores do que os custos envolvidos na regulação governamental”. No entanto, nas considerações finais da Seção VI que trata sobre este assunto, o autor afirma que: “Todas as soluções acarretam custos e não há razão alguma para supor simplesmente que a regulação governamental seja a mais apropriada quando o problema não for satisfatoriamente resolvido através do mercado ou da firma. Uma visão satisfatória sobre a política mais adequada somente pode ser alcançada através de um paciente estudo de como, na prática, o mercado, as firmas e os governos lidam com o problema dos efeitos prejudiciais. Os economistas precisam estudar o trabalho do agente que organiza as partes, a efetividade dos acordos restritivos, os problemas de larga escala no desenvolvimento de companhias imobiliárias, a operação de zoneamento pelo governo e outras atividades regulatórias.” (pg. 16). Feitas tais considerações, o autor passa a tratar da questão da “Delimitação Jurídica dos Direitos e o Problema Econômico”, onde enfatiza que a corte, diante de transações de mercado custosas, deve ser capaz de entender que sua decisão tem consequência econômica, e na medida de que isto fosse possível, levar em conta esse entendimento ao “exercerem sua competência decisória”. Isso seria chamado, segundo o autor, de “planejamento e zoneamento pelo judiciário”. Para exemplificar é usada uma passagem de W. L. Prosser, em The Law of Torts, onde “uma pessoa pode”: “[...] fazer uso de sua própria propriedade ou... conduzir suas atividades às custas de algum prejuízo aos vizinhos. Ele pode administrar uma fábrica cujos barulho e fumaça causam algum desconforto a outras pessoas, contanto que o faça dentro de limites razoáveis. Somente quando a sua conduta se mostra desarrazoada, tendo em vista a sua utilidade e os prejuízos que causa [itálico acrescentado], é 17 que constitui um dano... Como afirmado em um antigo caso, em relação à atividade de fabricação de velas em uma cidade, “Le utility de chose excusera le noisomeness del stink” . O mundo deve ter fábricas, siderúrgicas, refinarias de petróleo, maquinário pesado e barulhento, ainda que à custa de alguma inconveniência à vizinhança e os autores de ações judiciais podem ser instados a aceitar algum desconforto não-razoável em prol do bem comum.” (pg.17). Assim, segundo o autor, certas atividades que uma pessoa pode querer que sejam interrompidas ou restringidas, podem ser socialmente justificáveis. Trata-se de uma questão de “sopesamento entre os ganhos que adviriam com a eliminação dos efeitos prejudiciais e os ganhos que seriam experimentados com a continuação dessas atividades. (pg.22)”. Após esta Seção, Coase passa a tratar da abordagem de A. C. Pigou na obra The Economics of Welfare, revelando que seu ensaio é baseado especialmente na seção da Parte II, que trata da divergência entre os produtos sociais e privados. O objetivo de Pigou nesta parte é: “verificar até que ponto o livre jogo do interesse próprio, atuando sob o sistema jurídico existente, tende a distribuir os recursos de um país do modo mais favorável possível à produção de um grande dividendo nacional, e até que ponto é viável, por meio da ação estatal, aperfeiçoar tendências “naturais”. (pg. 25). Visando explicar a posição de Pigou, Coase destrincha o exemplo que o primeiro autor usa em sua obra, onde uma ferrovia provoca faíscas que causam incêndios na mata vizinha. Passa então a abordar várias situações, onde seria aplicada uma indenização da parte da ferrovia e onde não seria. Partindo do conceito de que “o produto privado é o valor do produto adicional resultante de uma determinada atividade de uma empresa, e o produto social é igual ao produto privado menos a desvalorização da produção em sua próxima melhor alternativa, pela qual nenhuma indenização é paga pela empresa (pg.34)”, ao final desta análise, Coase nos diz que “quando um economista está comparando arranjos sociais alternativos, a maneira apropriada de proceder é comparar o produto social total produzido por cada um desses arranjos. A comparação entre os produtos privado e social não tem relevância. (pg.29)”. Ainda sobre Pigou, com o exemplo dos coelhos do caso Boulston, Coase faz considerações sobre o Direito de Propriedade, onde mostra que “o Direito de Propriedade, em seu todo, é uma tentativa de reconciliação e comprometimento entre os interesses conflitantes. (pg.32)”. Nas decisões dos tribunais, ficaria claro que, o Direito de Propriedade parecia gerar economicamente soluções mais satisfatórias do que a aplicação da norma rígida. Ao final de seu ensaio, Coase mostra que é necessária uma mudança de abordagem da teoria econômica do bem-estar. Segundo o autor, é: “desejável que a escolha entre alocações sociais distintas para a solução dos problemas econômicos deva ocorrer em termos mais amplos e que o efeito total dessas alocações, em todas as esferas da vida, deva ser levado em consideração. Como Frank H. Knight tem, frequentemente, enfatizado, os problemas da teoria econômica do bem-estar dissolver-se-ão, no final, num estudo da estética e da moral.” (pg. 36). Uma das razões para o fracasso no desenvolvimento desta teoria mais apropriada vem do conceito equivocado do fator de produção. “Este é, geralmente, pensado como uma entidade física que o empresário adquire e usa (um pedaço de terra, uma tonelada de fertilizante), em vez de o direito de realizar certas ações (físicas).”. É preciso que seja entendido que o proprietário não tem direitos ilimitados. Assim, pensando os fatores de produção como direitos, Coase nos mostra que “O custo de exercer um direito (de usar um fator de produção) é semprea perda sofrida em outro lugar em consequência do exercício desse direito – a incapacidade de cruzar a terra, estacionar o carro, construir uma casa, gozar de uma vista, ter paz e silêncio, respirar ar limpo. (pg.37)”. Claramente, o que seria desejável é que as únicas ações realizadas fossem aquelas nas quais os ganhos produzidos valessem mais do que as perdas sofridas, porém “ao se projetar e escolher entre arranjos sociais, deve-se atentar para o efeito total.”. Isto é, acima de tudo, a abordagem defendida por Coase neste seu ensaio. Autores e livros citados no texto: G. J. Stigler, The Theory of Price, p. 105 (1952). W. L. Prosser, The Law of Torts 398-99, 412 (2d ed. 1955). C. M. Haar, Land-Use Planning, A Casebook on the Use, Misuse, and Re-use of Urban Land 95 (1959). A. C. Pigou, The Economics of Welfare 183 (4th Ed. 1932).
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