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FACULDADE MAURICIO DE NASSAU UNIDADE FAP TERESINA CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO KARLA TALITA RAMOS SALES LEI MARIA DA PENHA: Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. TERESINA - PI 2015 KARLA TALITA RAMOS SALES LEI MARIA DA PENHA: Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharelado de Direito da Faculdade Maurício de Nassau - Unidade FAP Teresina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Eduardo Faustino Lima Sá. Co-orientador: Prof. Ana Maria Chaib Gomes Ribeiro. TERESINA - PI 2015 KARLA TALITA RAMOS SALES LEI MARIA DA PENHA: Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Bacharelado em Direito da Faculdade Maurício de Nassau - Unidade FAP Teresina. Cidade, (dia) de (mês) de (ano da defesa). ______________________________________________________ Professor e orientador Nome do Professor, Título. ______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, Título. ______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, Título. ______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, Título. A Deus, meu maior alicerce, por proporcionar-me a verdadeira força para lutar e encarar os desafios que a vida oferece, em busca da realização dos meus objetivos. Aos meus pais, por ter terem me incentivado a fazer o curso de Direito, bem como pelo amor, confiança, dedicação e por serem meus grandes heróis e incentivadores. A minha irmã, pelo companheirismo e amizade. E as pessoas que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, sempre presente em minha vida. Por guiar-me para o caminho certo, pelos seus ensinamentos de sabedoria e por proporcionar-me a força necessária para seguir em busca de conquistas. Agradeço à minha mãe, por seu exemplo de dedicação na educação de seus filhos, pelo amor, e pelo apoio em todos os momentos. Agradeço ao meu pai, pelo amor, dedicação, por sua luta diária para investir no futuro de seus filhos. Por sempre incentivar-me a estudar e lutar pelos meus objetivos e por estar sempre presente em todos os momentos da minha vida e por ser um exemplo de homem trabalhador e meu maior espelho. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe” (Autoria). RESUMO O presente trabalho tem como tema a Lei Maria da Penha, tendo como delimitação a Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas Medidas Protetivas, no qual possui como objetivos gerais analisar a aplicabilidade da Lei Maria da Penha, bem como a natureza jurídica de suas medidas cautelares, assim como a importância dessas medidas para prevenção e combate a violência doméstica e possui como objetivos específicos definir as formas de violência doméstica e familiar, identificar o sujeito passivo e ativo que podem configurar nesta lei, indicar as medidas protetivas de urgência, e são acessórias do processo principal e pesquisar a forma mais frequente da violência doméstica. Ademais, a pesquisa foi realizada através de analise de dados do Juizado de Violência Doméstica e Familiar de Teresina, pesquisa bibliográfica, aliada a coleta de jurisprudência, tendo sido utilizados como autores Maria Berenice Dias (2013), Victor Eduardo (2014), Stela Valéria (2012), Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2014), Sergio Pinto Martins (2013). Os resultados desta analise mostraram que a Lei Maria da Penha vem sendo efetivada em Teresina, mas que precisa ser efetuada algumas mudanças. Palavras-Chave: Medidas Cautelares, Formas de violência doméstica e familiar, Sujeitos da Lei Maria da Penha, escusas absolutórias, Garantia do contrato de trabalho. LISTA DE ILUSTRAÇÔES Gráfico 1 – Profissão da vítima Gráfico 2 – Profissão do agressor Gráfico 3 – Relação da vítima com o agressor Gráfico 4 – Tipos de violência domestica Gráfico 5 – Meios de agressão Gráfico 6 – Local de ocorrência das agressões LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Faixa etárias da vítima e do agressor Tabela 2 – Estado civil da vítima e do agressor Tabela 3 – Número de processos distribuídos por classes Tabela 4 – Número de processos julgados e medidas protetivas concedidas Tabela 5 – Número de audiências designadas e realizadas LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CF- Constituição Federal JVDF – Juizado de Violência Doméstica e Familiar de Teresina. 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 12 2 .. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 3- LEI MARIA DA PENHA EM DEBATE ................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 3.1.Motivação da inserção da Lei 11.340/06 no ordenamento jurídico ............... Erro! Indicador não definido. 3.2 Origem e denominação da Lei Maria da Penha .... Erro! Indicador não definido. 3.3 Sujeito ativo e passivo da Lei 11..340/06 ................ Erro! Indicador não definido. 3.3.1Sujeito ativo..........................................................................................................2 3.3.2 Sujeito Passivo.....................................................................................................2 3.4 Formas de manifestação da violência doméstica contra a mulher Erro! Indicador não definido. 4.COMPETÊNCIA PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 4.1. Competência de jurisdição..................................................................................2 4.2 Competência de Juízo..........................................................................................2 4.3 Competência ratione personae...........................................................................2 4.4 competência recursal............................................................................................2 4.5 Competência de Jurisdição..................................................................................2 5. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ........ Erro! Indicador não definido.5.1 Tutelas de urgência.................................................................................................2 5.2 Natureza jurídica das medidas protetivas ..............................................................2 5.3 Prisão Preventiva....................................................................................................2 5.4 Medidas que obrigam o agressor............................................................................2 5.4.1 Limitação ao uso da arma de fogo......................................................................2 5.5 Medidas que protegem a vitima..........................................................................2 5.5.1 Separação de corpos e proibição de contato..................................................2 5.5.2 Obrigação alimentar......................................................................................2 5.5.3 Medidas de natureza patrimonial...................................................................2 6. GARANTIA DO CONTRATO DE TRABALHO Erro! Indicador não definido. 6.1 Serviço Público.......................................................................................................2 6.2 Iniciativa Privada....................................................................................................2 7. RENUNCIA A REPRESENTAÇÃO ..................... Erro! Indicador não definido. 7.1 Conceitos de Retratação, Desistência e Renúncia..................................................2 7.2 Representação e renuncia à representação na Lei Maria da Penha........................2 8. APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA E DE SUAS MEDIDAS CAUTELARES EM TERESINA............................................................................................2 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 70 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 70 ANEXOS ..................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. ANEXO A – TÍTULO ................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. ANEXO B – TÍTULO ................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 12 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como tema a Lei Maria da Penha, no qual possui como delimitação a Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. Diante disto, o referido trabalho tem como problematizarão verificar se a Lei 11.340/2006, assim como as suas medidas cautelares tem sido eficazes no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher em Teresina-PI. Além disso, possui como hipóteses averiguar se as medidas protetivas da Lei Maria da Penha não são dependentes da ação principal, se as medidas protetivas possuem natureza jurídica mista e se a aplicação da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares é importante para o combate a violência doméstica. Ademais, este tema foi escolhido devido os constantes casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres no ambiente social, no qual habitualmente pode-se constatar nos jornais e noticiários da televisão. Assim sendo, este trabalho irá proporcionar um conhecimento mais profundo da Lei Maria da Penha, como por exemplo, quais as formas de violência e quem pode configurar como sujeito passivo e ativo desta lei. Além disto, este trabalho também foi relevante para o conhecimento das medidas protetivas presentes na referida lei, assim como na análise de aspectos referentes a atuação estatal no processamento das denúncias das vítimas, bem como da própria aplicabilidade dos dispositivos legais na prevenção geral e especial do crime de violência doméstica contra a mulher. Diante do exposto, a referida pesquisa teve como objetivo geral analisar a aplicabilidade da Lei Maria da Penha, bem como a natureza jurídica de suas medidas protetivas, assim como a importância dessas medidas para prevenção e combate a violência doméstica. Destarte, possui como objetivos específicos definir as formas de violência doméstica e familiar, bem como explicar o porquê da criação e origem da Lei Maria da Penha, identificar o sujeito passivo e ativo que podem configurar na Lei Maria da Penha, definir a competência para processamento e julgamento dos crimes de violência doméstica, indicar as medidas protetivas de urgência, bem como analisar a sua natureza jurídica e são acessórias do processo principal ou não. 13 Além disso, possuiu também como objetivos específicos pesquisar qual a forma mais comum de violência doméstica em Teresina e verificar se o estabelecido pela Lei Maria da Penha vem sendo cumprido na capital teresinense. Ressalta-se ainda, que a metodologia que foi utilizada nesta pesquisa foi o método indutivo, pois a pesquisa partiu do particular para o geral. Ademais, a pesquisa é pura, assim como quantitativa e qualitativa, no qual foram utilizados pesquisa documental, bibliográfica, aliada a coleta de jurisprudência e análise de conteúdo de argumento jurisprudenciais. Destarte, a análise documental foi baseada, conforme dados das estatísticas coletadas junto à Delegacia da Mulher em Teresina e do Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Teresina. Além disso, como pesquisas bibliográficas foram utilizados os autores Maria Berenice Dias (2013), Victor Eduardo (2014), Stela Valéria (2012), Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2014), Sergio Pinto Martins (2013), além de terem sido utilizados também alguns artigos científicos citados ao longo da pesquisa. Assim sendo, a pesquisa foi apresentada em cinco capítulos, cujo o primeiro é a introdução, o segundo capítulo irá trata da construção histórica da violência doméstica contra mulher, o terceiro capítulo irá debater a motivação da inserção da Lei Maria da Penha no ordenamento jurídico, a origem e denominação da referida lei, o sujeito ativo e passivo que podem configurar nesta lei, assim como suas formas de manifestação. Além disto, o quarto capítulo irá tratar da competência para o processamento e julgamento dos crimes de violência doméstica contra a mulher, as medidas protetivas de urgência e a garantia do contrato de trabalho. E finalmente o quinto e último capítulo foi da análise dos dados coletados no Juizado da Violência Doméstica e Familiar da 5ª Vara Criminal de Teresina, bem como das informações prestadas pelos serventuários daquela Vara. 2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER As mulheres segundo o artigo de Larissa Leal (2012), desde os primórdios da humanidade eram vistas como o sexo frágil e submissas ao homem. Na Idade 14 Média, por exemplo, na qual as relações eram estabelecidas com base no direito canônico, onde os religiosos justificavam da submissão da mulher, com base no discurso do mito da criação, tendo em vista que a mulher foi feita da costela de Adão e por isso teria uma ligação carnal e corporal com o homem, e este por ter ganhado vida a partir de um sopro divino, seria superior a mulher e estaria mais próximo de Deus. Ademais, as mulheres daquela época eram consideradas fruto do pecado, pois descendiam de Eva que comeu o fruto proibido e acabou ocasionando todos os males da humanidade. Dessa forma, as mulheres eram consideradas todas pecadoras e muito próximas dos prazeres carnais, assim deveriam todas ficarem afastadas dos clérigos, para que assim os religiosos não caíssem em tentação. Assim sendo, em virtude desses mitos religiosos, durante séculos a mulher da IdadeMédia, sofreu com a discriminação e inferioridade da sociedade medieval, no qual os homens eram considerados seus donos, pois sempre a mulher estava sobre a dominação de alguém, se não estivessem sob a custódia do pai, estariam sob a custódia do marido. Ressalta-se ainda, conforme artigo da Tânia Pifari (2012), que na Grécia Antiga, as mulheres não tinham direitos jurídicos, não recebiam educação formal, eram proibidas de aparecer em público sozinhas, sendo confinadas em suas próprias casas em um aposento particular chamado gineceu, pois as residências era dividida em três partes, quais sejam ágora, o androceu e o gineceu. Assim, a ágora era o espaço comum compartilhados por todos da casa, já o androceu era o espaço reservado ao homem onde oferecia banquetes e recebia os amigos e por fim o gineceu espaço feminino, no qual era restrito as mulheres e as pessoas ligadas a elas por lanços de parentesco, assim somente eram autorizados a entra neste espaço o pai, o marido, o filho e o tio da mulher. Diante disto, era nítido a discriminação das mulheres na Grécia Antiga, pois vivem isoladas em seu próprio lar, enquanto os homens não tinham seus direitos restritos, mas sim garantidos, pois gozava de todos os direitos políticos e civis. Já em Roma, as mulheres não eram consideradas cidadãs e sua a exclusão social, jurídica e política colocavam a mulher no mesmo patamar que as crianças e os escravos, tendo como função na sociedade apenas de procriadora. No entanto, no século XIX há a consolidação do sistema capitalista, que acabou por acarretar profundas mudanças na sociedade como um todo. Seu modo 15 de produção afetou o trabalho feminino levando um grande contingente de mulheres às fábricas. Diante disto, a mulher sai de seu espaço reservado e restrito, qual seja seu espaço privado, e vai para esfera pública. Neste processo, contestam a visão de que são inferior aos homens e se articulam para provar que podem fazer as mesmas coisas que eles, iniciando assim, a trajetória do movimento feminista, no qual buscam acabar com discriminações sociais, econômicas, políticas e culturais de que a mulheres são vítimas. Ademais, sobre a construção histórica da violência doméstica na sociedade Maria Berenice Dias (2013, p.18), assim se preleciona: Ditados populares, com aparente natureza jocosa, acabam por absolver e naturalizar a violência doméstica: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, “ele pode não saber porque bate, mas ela sabe por que apanha”. Esses, entre outros ditos, repetidos como brincadeira, sempre esconderam certa conivência da sociedade para com a violência contra a mulher. Talvez o mais terrível deles seja: “mulher gosta de apanhar”. Trata-se de uma ideia enganosa, certamente gerada pela dificuldade que a vitima tem de denunciar seu agressor. Seja por medo, por vergonha, seja por não ter para onde ir, ou por receio de não conseguir se manter sozinha e sustentar os filhos, o fato é que a mulher resiste em buscar a punição de quem ama ou, ao menos, um dia amou.(Grifo nosso). Assim, de acordo com Maria Berenice Dias (2013), a culpa pela violência doméstica sofrida pela mulher, não é responsabilidade exclusivamente do agressor, mas sim da sociedade como um todo que muitas vezes é conivente a com a violência doméstica. Além disso, a violência doméstica segue preceitos culturais e religiosos, por exemplo, o tabu da virgindade e a restrição ao exercício da sexualidade que sempre limitaram a mulher. Ressalta-se ainda, a ideal da mulher pelo casamento perfeito, no qual buscava ser a rainha do lar, ter uma casa para cuidar, filhos para criar e um marido para amar. Destarte, segundo artigo de Monica Reis (2014), a educação que os pais dão aos seus filhos podem desencadear a violência doméstica, no qual muitas vezes os meninos são socializados em um ambiente machista e as meninas socializadas de forma submissa. Assim, ao atingirem a fase adulta iram externalizar seu comportamento nos seus relacionamentos, os homens se comportaram de forma possessiva e controladora e as mulheres de forma submissa. Diante disto, as famílias muitas vezes são as principais responsáveis pela inserção da violência doméstica no seio familiar, pois adotam posturas preconceituosas e arcaicas em relação aos papeis da mulher e do homem na sociedade. 16 Assim, conforme o artigo de Monica Reis (2014, pag.2): “Eram comum ouvir as avós falando às mais jovens: Como é que vai casar se nem sabe bater um bolo?” Ademais, paradoxalmente são as próprias mulheres a perpetuar o machismo no ambiente familiar, tendo em vista que sobrecarregam as meninas das tarefas domésticas, poupando assim os meninos dos afazeres domésticos. Portanto, diante do exposto, a violência contra a mulher advêm de um conjunto de fatores, tais como de natureza sócio-culturais, políticos, econômicos que juntos dão sustentação ao que alguns autores, como Bourdieu citado pele artigo do Adriano Senkevics (2012), chamou de dominação masculina. 3. LEI MARIA DA PENHA EM DEBATE 3.1 MOTIVAÇÃO DA INSERÇÃO DA LEI 11.340/06 NO ORDENAMENTO JURÍDICO Na sociedade são inúmeros os casos de mulheres que sofreram ou sofrem com a violência doméstica e familiar, no qual o portal JusBrasil-Notícias (2013), informou que 70% dos casos são cometidos pelos seus companheiros que aproveitam-se da condição mais frágil e da dependência econômica da mulher, pois muitas delas não possuem renda própria e são totalmente dependentes de seus companheiros e acabam assim, submetendo-se a violência dos agressores. Além disso, assim informa Maria Berenice Dias (2013, p.23): Desde 1980, quando se começou a levantar o número de homicídios femininos, 91.932 mulheres foram mortas no Brasil. De 1980 a 1996, a taxa do fenicídio duplicou, permanecendo, a parti daí, no mesmo patamar: 4,5 homicídios para cada 100 mil mulheres. Somente no ano de 2007, quando da vigência da Lei Maria da Penha, houve um leve decréscimo, logo voltando aos patamares anteriores. Isto significa que a cada duas horas uma mulher é assassinada no país. No ano de 2010 foram 4.297 mortes. (Grifo do autor). Ademais, segundo dados do Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas (IPEA), divulgado em 25 de setembro de 2013, entre 2001 e 2011, a cada hora e meia uma mulher morreu de formar violenta no Brasil. Foram 5.664 mortes por ano, 472 por mês, 15 por dia, sendo que 40% de todos os assassinatos foram cometidos por um parceiro íntimo. 17 Assim sendo, segundo Stela Valéria (2012), a Lei nº 11.346/2006, popularmente conhecida como a Lei Maria da Penha surgiu para proteger as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, visando assim à igualdade material, no qual preconiza que todos são iguais diante de sua igualdade e desiguais diante de suas desigualdades, ou seja, a referida lei surgiu para proteger os interesses de uma classe mais frágil perante os seus agressores, para que assim houvesse a equidade entre homens e mulheres. Além disso, a própria constituição brasileira prever tratamento diferenciado em certas circunstâncias, e foi assim, baseando-se na igualdade material que o Superior Tribunal de Justiça utilizou-se de critérios diferenciados para promoção de militares em razão do gênero. Nessa linha, segue o trecho da decisão do recurso de mandado de segurança: A utilização de critérios diferenciados para promoção de militares, em razão das peculiaridades de gênero, não ofende o princípio da igualdade. Com esse entendimento, a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento a recurso em mandado de segurança interposto por um cabo que questionava a diferenciaçãoentre sexos estabelecida em edital para ingresso no curso de formação de sargentos da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. (STJ- REsp. 44.576/MS-REL.MIN.Humberto Martins-2º Turma-DJ 24/02/2014) Ademais, a Lei Maria da Penha foi criada em virtude das constantes lutas dos movimentos feministas e das mulheres, para que se tivesse um combate à violência doméstica contra a mulher e uma punição mais severa aos agressores, tendo em vista que antes da criação da lei a maioria dos agressores eram punidos apenas com doação de cestas básicas e prestação de serviços comunitários. Destarte, na obra de Maria Berenice Dias (2013), explica-se que a antes a competência para julgar crimes de violência doméstica contra a mulher eram dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95), assim sendo inúmeros agressores não era punidos, pois muitos dos crimes contra as mulheres eram considerados de menor potencial ofensivo e acabavam sendo resolvidos de forma consensual, por meio de acordos. Diante da impunidade dos agressores as vítimas se sentiam desencorajadas a denunciá-los e os agressores a certeza de que ficariam impunes. Desta forma, conforme a cartilha da Menicucci (2012), chefe da Secretaria das Políticas Públicas para as mulheres da Presidência da República, a referida lei foi criada diante das constantes lutas feministas e da pressão das Organizações internacionais, em virtude do alto índice de mortes de mulheres no País. Assim preconiza, Menicucci (2012, p.7): 18 Lei Maria da Penha representou uma verdadeira guinada na história da impunidade. Por meio dela, vidas que seriam perdidas passaram a ser preservadas, mulheres em situação de violência ganharam direito e proteção, fortaleceu-se a autonomia das mulheres. Assim, o artigo 1º da Lei Maria da Penha estatele que, in verbis: Art. 1º. Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Assim, conforme o exposto no artigo 1º da Lei Maria da Penha, a referida Lei foi criada no Brasil, seguindo os tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro e nos termos do parágrafo 8º do artigo 226 da Constituição Federal, no qual busca “Criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.” E foi assim, diante da união coletiva entre as organizações internacionais e os movimentos feministas que a Lei Maria da Penha foi decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva no dia 7 de agosto de 2006 e veio a entrar em vigor no dia 22 de setembro de 2006, no qual segundo consta no artigo do Paulo Borges (2012), no dia seguinte ao vigor da lei foi preso o primeiro agressor no estado do Rio de Janeiro, após tentar estrangular sua ex-esposa. 3.2. ORIGEM E DENOMINAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA Conforme consta na obra de Maria Berenice Dias (2013), a principal fonte incentivadora e lutadora para a criação desta lei chama-se Maria da Penha Maia Fernandes, na qual foi mais uma de tantas outras mulheres que sofreram ou sofrem com a violência de seus companheiros. Assim, Maria Berenice Dias (2013), relata a história da Maria da Penha Maia Fernandes, no qual é um exemplo de luta contra a violência doméstica. Maria da Penha é biofarmacêutica, cearense, e foi casada com Marco Antonio Herédia Viveros, professor universitário de Economia, colombiano e naturalizado brasileiro e pai de suas três filhas, este constantemente agredia e fazia ameaças psicológicas e 19 físicas à Maria da Penha, tendo inclusive, por duas vezes tentado matá-la, porém, felizmente não obtendo êxito. A primeira tentativa de assassinato Maria da Penha tinha 38 anos e suas filhas tinham entre dois e seis anos de idade, o fato ocorreu no dia 29 de maio de 1983 na cidade de Fortaleza, no qual Marco Antônio, simulou ter ocorrido um assalto, onde disparou dois tiros de espingarda nas costas da Maria da Penha, enquanto ela estava dormindo. Na época, ele foi encontrado na cozinha gritando por socorro, alegou que ladrões haviam entrado na casa e atirado na sua esposa e que haviam fugido pela janela. Ressaltando-se ainda, que conforme pensamentos de Cunha e Pinto (2014), Viveiros cometeu à tentativa de assassinato premeditadamente, tendo em vista que um dia antes do ocorrido Viveros tentou convencer Maria da Penha a celebrar um seguro de vida, no qual posteriormente com sua morte ele seria o único beneficiário. Ademais, o agressor cinco dias antes do ato fez Maria da Penha assinar um recibo em branco, referente à venda de um veículo de sua propriedade. Assim sendo, em virtude dos tiros, Maria da Penha foi hospitalizada e permaneceu internada por quatro meses, vindo a ficar paraplégica, tendo em vista que os tiros atingiram sua terceira e quarta vértebra. No entanto, mesmo depois de todo sofrimento ocasionado a Maria da Penha, o seu agressor não se satisfez e tentou pela segunda vez assassina-lá. A segunda tentativa aconteceu dias depois do retorno de Maria da Penha a sua casa, na qual Marco Antônio empurrou-a da cadeira de rodas e tentou matá-la eletrocutada durante o banho. No entanto, segundo Maria Berenice Dias (2013), conforme relatos da Maria da Penha, as agressões não aconteceram de repente, pois durantes anos ela sofreu calada com repetidas agressões e intimidações. Ademais, conforme Cunha e Pinto (2014), a mesma não denunciava as agressões pelo medo, pois ao denunciá-lo acabaria agravando ainda mais sua situação e de suas filhas, pois Viveros poderia se vingar, tendo em vista que era muito violento não só com a Maria da Penha, mais também com suas filhas. Mas foi só depois da segunda tentativa de assassinato que Maria da Penha ganhou força e coragem para denunciar Viveros, no entanto mesmo com a denuncia nenhuma atitude foi tomada pelas autoridades públicas para punir o agressor, assim sendo diante da impunidade, Maria da Penha chegou a pensar que ela era culpada e Viveros tinha razão de agredi-la. 20 Entretanto, segundo exposto por Maria Berenice Dias, Maria da Penha não desistiu de ver seu agressor punido, e assim na luta pela justiça se juntou aos movimentos feministas e escreveu um livro, no qual foi intitulado “Sobrevivi, posso contar”, no qual relatou o processo e as histórias de agressões que ela e suas filhas sofriam. Diante disso, as investigações do caso começaram em junho de 1983, no entanto o Ministério Público só ofereceu a denúncia em setembro de 1984, no qual em 1991 o réu foi levado ao tribunal do júri e condenado a oito anos de prisão. Mas mesmo com condenação, Maria da Penha ainda estava longe de ganhar a batalha, pois Viveros recorreu da decisão em liberdade e um ano depois o julgamento foi anulado. Em 1996 o réu foi levado a um novo julgamento, no qual foi declarado culpado e condenado a dez anos e seis meses de prisão, no entanto da mesma forma do julgamento anterior, impetrou recurso contra a sentença e ficou em liberdade. Assim, diante da demora injustificada em se dar uma decisão definitiva no processo e de o réu permanecer solto, Maria da Penha juntamente com o Centro pela Justiça e o Direito Internacional-CEJIL e o ComitêLatino-Americano e do Caribe para a defesa dos Direitos da Mulher- CLADEM formalizaram denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos- OEA, para que assim fosse tomada alguma atitude e o agressor fosse punido. A denúncia foi aceita pela OEA, no qual por quatro vezes solicitou informações do caso ao governo brasileiro, no entanto nunca obteve nenhuma resposta. Assim, diante da omissão do Estado e por não atender aos tratados internacionais no combate a violência doméstica, em 2001 após dezoito anos da pratica do crime o Brasil foi condenado internacionalmente. No Relatório de nº 54 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos impôs ao Brasil a pagar a Maria da Penha uma indenização no valor de vinte mil dólares. Além disso, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica, bem como recomendou várias medidas em relação ao caso concreto de Maria da Penha e também sobre às políticas públicas do Estado para enfrentar a violência doméstica contra as mulheres brasileiras. Segue abaixo um trecho do Relatório de nº 54 da OEA, in verbis: 21 A impunidade que gozou e ainda goza o agressor e ex-esposo da Senhora Fernandes é contrária à obrigação internacional voluntariamente assumida por parte do Estado de ratificar a Convenção de Belém do Pará. A falta de julgamento e condenação do responsável nessas circunstâncias constitui um ato de tolerância, por parte do Estado, da violência que Maria da Penha sofreu, e essa omissão dos tribunais de justiça brasileiros agrava as consequências diretas das agressões sofridas pela Senhora Maria da Penha Maia Fernandes. Além disso, como foi demonstrado anteriormente, essa tolerância por parte dos órgãos do Estado não é exclusiva deste caso, mas uma pauta sistemática. Trata-se de uma tolerância de todo o sistema, que não faz senão perpetuar as raízes e fatores psicológicos, sociais e históricos que mantêm e alimentam a violência contra a mulher. (Grifo nosso). Assim, conforme o trecho exposto, a OEA impôs ao Brasil o cumprimento do tratado internacional da Convenção de Belém do Pará, ratificado pelo Brasil em 27 de novembro de 1995, no qual possui como objetivo punir e erradicar a violência contra a mulher. Ademais, impôs ainda, que o Brasil deixasse de ser omisso aos casos de violência doméstica, para que assim houvesse uma atuação efetiva do Estado não só no caso da Maria da Penha, mais também em todos os outros casos de violência doméstica. Deste modo, passados 19 anos e seis meses após os fatos Viveros foi preso, em virtude da constante luta da Maria da Penha e das pressões internacionais. Mas, para revolta de Maria da Penha em 28 de outubro de 2002, foi liberado depois de cumprir apenas dois anos de prisão. Ademais, em julho de 2008 Maria da Penha recebeu uma indenização no valor de sessenta mil reais, no qual foi paga pelo governo do Estado do Ceará, em uma solenidade pública, com pedidos de desculpas. Assim, conforme Maria Berenice Dias (2013), a referida Lei foi criada, diante da luta da Maria da Penha em ver seu agressor punido, da pressão internacional, para que o Brasil cumprisse os tratados e convenções do qual é signatário e dos movimentos feministas no combate a Violência doméstica. Ademais, assim relatou Maria Berenice Dias (2013, p.15): “Quando o Presidente Lula sancionou a Lei 11.340/06, chamou-a Lei Maria da Penha e disse: Esta mulher renasceu das cinzas para se transformar em um símbolo da luta contra a violência doméstica no nosso país”. (Grifo do autor). 22 3.3. SUJEITOS DA LEI 11.340/2006 3.3.1 Sujeito Ativo Dispõe o jurista e professor Luís Flávio Gomes (2011): O Sujeito ativo da violência pode ser qualquer pessoa vinculada com a vítima (pessoa de qualquer orientação sexual, conforme o art. 5º, parágrafo único): do sexo masculino, feminino ou que tenha qualquer outra orientação sexual. Ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo da violência, basta estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou doméstico, todas se sujeitam à nova lei. Mulher que agride outra mulher com quem tenha relação íntima, aplica-se a nova lei. Diante disso, para configuração da violência doméstica não se exige a diferença de sexos entre os envolvidos. Ademais, pode configurar como sujeito ativo tanto o homem como a mulher, desde que a violência tenha sido cometida no ambiente familiar. Diante disso, tanto nas relações entre heterossexuais como nas homoafetivas pode ser aplicada a Lei Maria da Penha. Ademais, nas relações de parentesco também é possível reconhecer a violência doméstica ou familiar quando existi motivação de gênero. Assim pode configurar como sujeito ativo a filha, filho, neto ou neta da vítima. Nessa linha, são as palavras de Maria Berenice Dias (2013, p.61): A Justiça já reconheceu que conflitos entre mãe e filho, assim como desentendimento entre irmão e irmã, estão ao abrigo da Lei Maria da Penha quando a agressão tem motivação de ordem familiar. Mas sendo irmãos do sexo masculino, não é possível invocar sua aplicação. Diante do exposto, na relação baseada no parentesco, sendo a vítima do sexo feminino e a agressão praticada no ambiente familiar, será aplicada a referida lei independentemente do sexo do agressor, pois o legislador visou criar mecanismos de proteção para coibir e prevenir a violência doméstica contra a mulher, sem importar o gênero do agressor. Nesse diapasão, segue o julgamento do conflito de competência da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Pernambuco, onde atuou como Relator o Desembargador Marco Antônio Cabral Maggi: PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME PRATICADO POR FILHA CONTRA GENITORA NO INTERIOR DA RESIDÊNCIA. INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA. COMPETÊNCIA DA VARA ESPECIALIZADA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE. DECISÃO: UNANIMEMENTE DEU-SE PROVIMENTO AO CONFLITO SUSCITADO, PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE CAMARAGIBE-PE. A Lei nº 11.340/06 não menciona nada a respeito acerca do gênero do agressor, 23 possibilitando que tanto o homem quanto a mulher figurem como sujeito ativo nos crimes de violência praticados no âmbito doméstico e familiar. Tratando-se de crime de violência doméstica, a competência para processar e julgar o feito recai sobre o Juízo das Varas Especializadas de Violência doméstica e familiar contra a mulher. Conflito de jurisdição conhecido. Juízo de Direito da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Camaragibe-PE declarado competente. Decisão Unânime. (TJPE, Conf.Neg.de Comp. 347.4897, 4.ª C.Crim., Rel. Des. Marco Antônio Cabral Maggi, j. 14/10/2014.(Grifo nosso). Assim, diante do exposto foi declarada a competência da Vara especializada de violência doméstica e familiar contra a mulher, para julgar o crime praticado pela filha contra sua genitora no ambiente residencial. Entretanto, ao julgar o Habeas Corpus de Nº 212.767/DF o Superior Tribunal de Justiça assim se posicionou: Habeas Corpus. Lesão corporal leve. Lei 11.340/06. Inaplicabilidade entre irmãos. Mulher. Sujeito passivo.[...]In causa, a relação de violência retratada neste feito ocorreu entre dois irmãos. Inaplicabilidade. Precedentes.(...) 5.Ordem denegada.(STJ,HC212767-DF2011/0159507-5,6ª.,j.13/09.2011,rel, Min.Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJRS). Nessa linha, mesmo que a agressão tenha ocorrido no ambiente familiar, mas entre irmãos do sexo masculino não se aplica a Lei Maria da Penha. 3.3.2Sujeito Passivo De acordo com Maria Berenice Dias (2013, pag.62): No que diz com o sujeito passivo -ou seja, a vítima da violência- há a exigência de uma qualidade especial: ser mulher. Assim, lésbicas, transexuais, travestis e transgêneros, que tenham identidade social com o sexo feminino estão sob a égide da Lei Maria da Penha. A agressão contra elas no âmbito familiar constitui violência doméstica. Ainda que parte da doutrina encontre dificuldade em conceder-lhes o abrigo da lei, descabe deixar à margem da proteção legal aqueles que se reconhecem como mulher. Felizmente, assim já vem entendo a jurisprudência. Diante de exposto, os homens que possuem identidade de mulher e assim se apresentam no ambiente social podem configurar como sujeito passivo da Lei Maria da Penha. Nesse sentido, foi aplicada a Lei Maria da Penha a pessoa do sexo masculino, no qual se submeteu à cirurgia para adequação de sexo por ser hermafrodita, segue o julgamento do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. HOMOLOGAÇÃO DE AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. AGRESSÕES PRATICADAS PELO COMPANHEIRO CONTRA PESSOA CIVILMENTE IDENTIFICADA COMO SENDO DO SEXO MASCULINO. VÍTIMA SUBMETIDA À CIRURGIA DE ADEQUAÇÃO DE SEXO POR SER HERMAFRODITA. ADOÇÃO DO SEXO FEMININO. PRESENÇA DE ÓRGÃOS REPRODUTORES FEMININOS QUE LHE CONFEREM A CONDIÇÃO DE MULHER. RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL JÁ REQUERIDA JUDICIALMENTE. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO, NO CASO CONCRETO, DA LEI N. 11.340/06. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE. CONFLITO IMPROCEDENTE.(TJ-SC - CJ: 64616 SC 2009.006461-6, Relator: Roberto Lucas Pacheco, Data de Julgamento: 24 14/08/2009, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação: Conflito de Jurisdição n. , da Capital). Ademais, conforme artigo do Matheus Ciochetta Minuzzi(2014), o Juiz Osmar de Aguiar Pacheco, no interior do estado do Rio Grande do Sul na Comarca de Rio Pardo, concedeu em 2011 medida protetiva a um homem que alegou estar sendo ameaçado por seu ex-companheiro, fundamentando sua decisão no princípio da igualdade e diante a vulnerabilidade da vítima. Assim foi parte de sua decisão: [...] todo aquele em situação vulnerável, ou seja, enfraquecido, pode ser vitimado. Ao lado do Estado Democrático de Direito, há, e sempre existirá, parcela de indivíduos que busca impor, porque lhe interessa, a lei da barbárie, a lei do mais forte. E isso o Direito não pode permitir!... em situações iguais, as garantias legais devem valer para todos, além da Constituição vedar qualquer discriminação. Isso faz com que a união homoafetiva seja reconhecida como fenômeno social, merecedor não só de respeito como de proteção efetiva com os instrumentos contidos na legislação [...]. Assim, conforme a Folha (2011), Maria Berenice Dias informou que esta foi o primeiro caso que Lei Maria da Penha foi aplicada entre dois homens, haja vista que nos casos anteriores envolviam apenas mulheres. Assim, a mesma informou, que esta decisão foi louvável, pois como a lei é um medida protetiva da mulher, a analogia feita neste caso foi importante, tendo em vista que a referida lei se aplica independentemente da orientação sexual. Entretanto, conforme entendimentos de alguns tribunais não se aplica a referida lei em casos de relação homoafetiva entre homens. Nesse, sentido foi a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. VÍTIMA HOMEM. RELAÇÃO HOMOAFETIVA. O homem não pode ser sujeito passivo de violência doméstica no âmbito da Lei nº 11.340/2006 (entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça). (Recurso em Sentido Estrito Nº 70057112575, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Diogenes Vicente Hassan Ribeiro, Julgado em 07/08/2014) Ademais, o mesmo relatou indeferiu apelação com pedido de medidas protetivas da vítima homem, em desfavor de sua ex-companheira, in verbis: APELAÇÃO. PETIÇÃO INICIAL NÃO RECEBIDA. PEDIDO DE MEDIDAS PROTETIVAS DA VÍTIMA, HOMEM, EM DESFAVOR DA EX- COMPANHEIRA, MULHER. A Lei nº 11.340/2006 se aplica em proteção apenas às vítimas do sexo feminino, de modo que as medidas protetivas de urgência por ela reguladas não podem ser requeridas pelo homem em desfavor da mulher. Precedente do STJ. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Crime Nº 70054560107, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Diogenes Vicente Hassan Ribeiro, Julgado em 19/12/2013) Assim, a referida lei pelo entendimento de alguns tribunais foi criada especificamente para proteção das mulheres em situação de vulnerabilidade. Além disto, segundo Maria Berenice Dias ( 2013) há uma hipótese que vem causando 25 divergências na aplicação desta Lei, no qual acontece por exemplo, quando o pai agredi uma filha e um filho, provocando lesão corporal leve em ambos, neste caso conforme entendimento doutrinário, o processo será único e tramitará no Juizado da Violência Doméstica, no entanto a vítima masculina será aplicada a legislação dos Juizados Especiais(Lei 9.099/95) e a vítima mulher incide a Lei Maria da Penha, sendo possível a concessão das medidas de proteção. Destarte, a Lei Maria da Penha não exige coabitação entre as partes para ser aplicada, prova disso é que a referida lei foi aplicada entre ex-namorados pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme segue: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. EX- NAMORADOS. VIOLÊNCIA COMETIDA EM RAZÃO DO INCONFORMISMO DO AGRESSOR COM O FIM DO RELACIONAMENTO. CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. APLICAÇÃO DA LEI 11.340/2006. COMPETÊNCIA DO SUSCITADO. 1. Configura violência contra a mulher, ensejando a aplicação da Lei nº 11.340/2006, a agressão cometida por ex-namorado que não se conformou com o fim de relação de namoro, restando demonstrado nos autos o nexo causal entre a conduta agressiva do agente e a relação de intimidade que existia com a vítima. 2. In casu, a hipótese se amolda perfeitamente ao previsto no art. 5º, inciso III, da Lei nº 11.343/2006, já que caracterizada a relação íntima de afeto, em que o agressor conviveu com a ofendida por vinte e quatro anos, ainda que apenas como namorados, pois aludido dispositivo legal não exige a coabitação para a configuração da violência doméstica contra a mulher. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG, o suscitado.(STJ - CC: 103813 MG 2009/0038310-8, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 24/06/2009, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 03/08/2009.(Grifo nosso) Ressalta-se ainda, que a Lei Maria da Penha também se aplica nas relações domésticas. No entanto, conforme Damásio de Jesus citado por Maria Berenice Dias (2013, p.63), assim informa: A denominada “diarista”, que trabalha apenas um, dois ou três dias por semana, não estar protegida pela lei em razão de sua pouca permanência no local de trabalho. Porém aquela que trabalha durante a semana, diariamente, ainda que não more no emprego, a aplicação da Lei esta condicionada à sua participação no ambiente familiar. Diante do exposto, percebe-se que para a aplicação da Lei Maria da Penha deve ser observado o caso concreto, no qual deve-se averiguar se a empregada doméstica participa do ambiente familiar. 3.4. FORMAS DE MANIFESTAÇÃO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER Primeiramente, segundo pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2011, revelou-se que 91% dos homens consideram errado bater em mulher em 26 qualquer situação. Destarte, 8% diz já ter batido em uma mulher ou namorada, 25% diz saber de parente próximo que já bateu e 48% afirmarter amigo ou conhecido que bate ou costuma bater na mulher. Assim, embora a porcentagem tenha sido baixa para os homens que reconheceram já ter agredido uma mulher, mais da metade informou saber de alguém que agredi ou já agrediu uma mulher. Ademais, 40% das mulheres afirmaram já terem sofrido alguma violência, sendo que 24% sofreu algum tipo de controle ou cerceamento, 23% sofreu violência psíquica ou verbal e 24% ameaça ou violência física propriamente dita. Destarte, segundo a referida pesquisa, 16% sofreram xingamentos e ofensas recorrentes a sua conduta sexual, 15% foram controladas a respeito de aonde iriam e com quem sairiam e 16% das mulheres já levaram tapas. Nessa linha, percebe-se que a violência doméstica não é apenas a física, podendo configurar outras formas de agressão. Além disto, segundo preleciona Maria Berenice Dias (2013, p.65): No âmbito do Direito penal, vigoram os princípios da taxatividade e da legalidade, sede em que não se admitem conceitos vagos. Esta não foi a preocupação do legislador ao definir a violência doméstica e familiar e especificar suas formas. Tal, no entanto, não compromete a sua higidez e nem a tisna de inconstitucional. Tanto a violência doméstica não tem correspondência com tipos penais, que o rol de ações não é exaustivo. Basta atentar que, o art.7º. utiliza a expressão “entre outras”. Portanto, o elenco não se trata de numerus clausus, podendo haver o reconhecimento de ações outras que configurem violência doméstica e familiar contra a mulher. Assim, segundo o exposto, na Lei 11.340/06 não se aplica os princípios da taxatividade e da legalidade previstos no Direito Penal, no qual o primeiro princípio, Fernando Capez (2014, p.59) preconiza que “A lei penal deve ser precisa, uma vez que um fato só será considerado criminoso se houver perfeita correspondência entre ele e a norma que o descreve.” Já o segundo princípio tem sua base no artigo 5º, inciso XXXIX, no qual estabelece que “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Ademais, a Lei Maria da Penha além de definir as formas de violência doméstica também definiu as formas de sua ocorrência. Assim dispõe o artigo 7º da referida Lei: Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; 27 II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (Grifo nosso). Conforme relato de Stela Valéria (2012), o artigo 7º segue o estabelecido pela Convenção de Belém do Pará, bem como de outras recomendações internacionais. Assim, a ampliação da definição da violência doméstica contra a mulher foi de grande importância para proteção das mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, pois antes da criação da Lei Maria da Penha só era considerado violência doméstica a lesão corporal que gerasse dano físico ou prejudicasse a saúde da mulher. No entanto, após a edição desta lei qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause violência física, psicológica, dano moral e patrimonial a mulher é considerada violência doméstica. Destarte, a violência física conforme Maria Berenice Dias (2013) e Stela Valéria (2012) é qualquer conduta que afete a integridade física e saúde da mulher, assim para configurar a violência física não é necessário que a agressão deixe marcas aparentes, pois não é só a integridade física que é protegida judicialmente, mais também a saúde corporal da mulher, tendo em vista que muitas vítimas em virtude das agressões ficam com a saúde debilitada, no qual acabam sofrendo de dores de cabeça, fadiga crônica, dores nas costas, depressão, distúrbios do sono, entre outros problemas. Ressalta-se ainda, que caso o agressor venha a matar a vítima responderá pelo crime de homicídio qualificado, pois foi sancionado a Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015, que alterou o artigo 121 do Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. 28 Quanto à violência psicológica, segundo Maria Berenice Dias (2013) é considerada a agressão emocional que cause prejuízo psicológico para mulher, estando presente em todas as outras formas de violência doméstica. Além disso, é bem mais severa que a agressão física, no qual o agressor sente prazer em ver a vítima humilhada, inferiorizada e diminuída. Ademais, assim prelecionar Stela Valéria (2012): “A violência psicológica é uma das mais comuns e menos reconhecidas formas de violência doméstica, a própria vítima, muitas vezes não reconhece como algo injusto e ilícito” No entanto, a doutrina critica a violência psicológica, no qual segundo Marcelo Yukio Misaka (2007), citado por Maria Berenice Dias (2013, p.67), “todo crime gera dano emocional a vítima e, aplicar um tratamento diferenciado apenas pelo fato de a vítima ser mulher, seria discriminação injustificada de gêneros.” No entanto, Maria Berenice Dias (2013, p.67) assim se posiciona: Ora, quem assim pensa olvida-se que a violência contra a mulher tem raízes culturais e históricas, merecendo ser tratada de forma diferenciada. Os valores patriarcais favorecia o cenário de violência, porquanto a mulher, historicamente, sempre foi vista como um objeto, algo pertencente ao poder masculino. Não admitir esta realidade é que é infringe o princípio da igualdade. Diante disso, Maria Berenice Dias, critica os doutrinadores que não consideram a violência psicológica como umas das formas da violência doméstica. Isto posto, é preciso criar um meio de proteção diferenciado para as mulheres, pois se assim não for, haverá o infrigimento do princípio da igualdade, tendo em vista que baseado em preceitos patriarcais, a mulher historicamente sempre foi considerada um ser inferior e propriedade dos homens, no qual assim favorecia o ciclo de violência. Nesse tipo de agressão não há necessidade de apresentação de laudo técnico ou realização de perícia para comprovar o dano psicológico, assim o juiz constatando a violência psicológica poderá conceder a medida protetiva de urgência. Ressaltando-se ainda, segundo o art.61, II, f do Código Penal o delito praticado mediante violência psicológica é causa de majoração da pena. Sobre a violênciasexual, de acordo com Stela Valéria (2012), é considerada qualquer conduta que ofenda liberdade sexual da mulher, como por exemplo, quando o agressor obriga a vítima a presenciar e participar de relação sexual, a impeça de usar qualquer método contraceptivo, entre outras formas de violência previstas na lei. 29 Entretanto, assim relata Maria Berenice Dias (2013), apesar da Convenção de Belém do Pará ter reconhecido a violência sexual como violência doméstica, muitos doutrinadores e a jurisprudência relutaram em aceitá-la no âmbito dos vínculos familiares. Destarte, conforme Stela Valéria (2012), muitos operadores do direito justificavam que a violência sexual não poderá ser reconhecida, em virtude da relação afetiva e coabitação entre o agressor e a vítima. Além disto, Maria Berenice Dias (2013), informa que muitos casos de violência sexual não eram reconhecidos, pelo fato de um deveres do casamento era o exercício da sexualidade, assim o homem tinha o direito de manter relação sexual com a mulher e a mulher o dever de satisfazer os desejos sexuais do marido. Diante disso, assim dispõe Maria Berenice Dias (2013, p.68): Ora, esta é uma postura de quem, seguindo preceitos religiosos quase medievais, entende a prática do sexo como algo destinado puramente à procriação, o que configura um posicionamento preconceituoso e atualmente insustentável. Ressalta-se ainda, conforme Victor Eduardo (2014), que a regra nos delitos sexuais é que a ação penal tenha sua iniciativa condicionada à representação da vítima. No entanto, caso a vítima seja vulnerável, menor de 18 anos e em caso de morte da vítima, a ação é de iniciativa pública incondicionada. Já a violência patrimonial, segundo o artigo do Mário Luiz Delgado (2014, p.1) o legislador entende como violência patrimonial: Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. (Grifo do autor) Destarte, quando ocorre à agressão na maioria dos casos à vítima é obrigada a sair de sua residência, e assim o agressor acaba se aproveitando desta situação para destruir os bens e objetos pessoais da vítima. Além disso, assim informar Mário Luiz Delgado (2014, pag.1): Nas demandas em curso nas varas da família, especialmente nos processos de divórcio com partilha de bens e de alimentos, são abundantes os crimes praticados conta o cônjuge virago e que passam despercebidos pelos advogados não militantes na advocacia criminal. Entre os tipos penais previstos na Lei Maria da Penha, um dos mais ocorrentes nas varas de família é a violência patrimonial contra a mulher. (Grifo nosso) Á visto disso, na maioria dos casos os bens do casal na sociedade conjugal foram adquiridos pelo esforço comum de ambos os cônjuges. No entanto, é comum que o marido sonegue o que era de direito ao outro cônjuge, para que assim fique com a integralidade dos bens, configurando assim a violência patrimonial. Outra conduta que também configura violência patrimonial é quando o cônjuge alimentante 30 mesmo dispondo de condições financeiras deixar de satisfazer as necessidade alimentares da mulher, no qual esta omissão também configura o abandono material previsto no artigo 244 do Código Penal. Além disso, assim dispõe o artigo de Mario Luiz Delgado (2014, p.1): Na advocacia de família estamos habituados a identificar a violência patrimonial com a destruição de bens materiais e objetos pessoais, ou com a sua retenção indevida, nos casos de separação de fato, no afã de coagir a mulher a retomar ou a manter-se na convivência conjugal. Todavia, a violência patrimonial não se limita a tais condutas. Desta maneira, nas demandas da Vara da Família é comum o cônjuge nos casos de separação de fato cometer a violência patrimonial, com o objetivo de coagir a mulher a retomar ou permanecer com o vínculo conjugal. Ademais, assim prelecionar Maria Berenice Dias (2013, p.71): A partir da nova definição de violência doméstica, que reconhece também a violência patrimonial, não se aplicam as imunidades as absolutas ou relativas dos arts.181 e 182 do Código Penal quando a vítima é mulher e mantém com o autor da infração vínculo de natureza familiar. Não há mais como admitir o injustificável afastamento da pena ao infrator que pratica um crime contra sua esposa ou companheira, ou ainda, uma parente do sexo feminino.(Grifo do autor). Destarte, as imunidades absolutas, também chamadas de escusas absolutórias, tem como consequência a isenção da pena para o autor da infração penal. Assim, de acordo com o artigo 181, inciso I, do Código Penal, se o fato for cometido contra o cônjuge, durante a constância do casamento, o infrator será isento de pena. Já o artigo 182, inciso I, também do Código Penal, aplica-se quando o fato ocorre entre partes que são separadas judicialmente ou desquitadas, no qual terá como consequência a necessidade de representação da vítima. Entretanto, conforme já exposto por Maria Berenice Dias (2013), as causas de imunidades absolutas e relativas do Código Penal não se aplicam as vítimas da violência doméstica, assim mesmo que o agressor subtraia algum objeto da vítima durante a sociedade conjugal não estará isento de pena. No entanto, assim entende Victor Eduardo (2014, p.502): Alguns autores interpretaram equivocadamente que todo crime patrimonial cometido contra a esposa, a companheira, filha etc., estaria excluído das imunidades, ainda que se tratasse de crimes como furto ou apropriação indébita. Esta interpretação é equivocada porque, nos expressos termos do art.181, I, do CP, as imunidades só devem ser excluídas se o crime envolver violência contra a pessoa ou grave ameaça. Violência contra a pessoa é a violência física (real), é a que decorre de uma efetiva agressão ou do emprego de força física contra a vítima. No furto, na apropriação indébita e no estelionato, não há emprego de violência contra a pessoa e, por isso, as imunidades são cabíveis. Violência patrimonial e violência física não se confundem nem mesmo no texto da Lei Maria da Penha, conforme se verifica nos incs. I e IV da mencionada Lei, que as diferencia. Ao dispor que 31 existe violência patrimonial em crimes como o furto, a Lei Maria da Penha estabeleceu apenas que tal crime, por gerar lesão patrimonial, admite a incidência das normas protetivas à mulher elencadas na própria lei, não havendo, contudo, extensão a dispositivos do Código Penal que nitidamente não foram por ela abrangidos. Se fosse verdade que a Lei Maria da Penha tivesse transformado toda forma de violência patrimonial, doméstica ou familiar, contra a mulher, em forma de violência física, então a subtração pura e simples contra a pessoa deveria ser tipificada como roubo (e não como furto); o estelionato contra a filha deveria ser enquadrado como extorsão. Nada mais absurdo. Assim, para Victor Eduardo (2014) diferentemente do pensamento de Maria Berenice Dias, as imunidades são aplicadas aos casos de violência doméstica, pois segundo o artigo 183, inciso I, do Código Penal as escusas absolutórias, só não serão aplicadas se o crime é de roubo, extorsão ou cometido com emprego de violência. Seguindo essa mesma linha de pensamento, assim se posicionou o Superior Tribunal de Justiça: ARTIGO 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). CRIME PRATICADO POR UM DOS CÔNJUGES CONTRA O OUTRO. SEPARAÇÃO DE CORPOS. EXTINÇÃO DO VÍNCULO MATRIMONIAL. INOCORRÊNCIA. INCIDÊNCIA DA ESCUSA ABSOLUTÓRIA PREVISTA NO ARTIGO181, INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. IMUNIDADE NÃO REVOGADA PELA LEI MARIA DA PENHA. DERROGAÇÃOQUE IMPLICARIA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. PREVISÃO EXPRESSA DE MEDIDAS CAUTELARES PARA A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO DA MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. INVIABILIDADE DE SE ADOTAR ANALOGIA EM PREJUÍZO DO RÉU. PROVIMENTO DO RECLAMO. (STJ- REsp. 42.918/RS- REL.MIN.JorgeMussi-5º Turma-DJ 14/08/2014) Diante do exposto, pelo entendido do Superior Tribunal de Justiça conforme citado pelo JusBrasil(2014) a Lei Maria da Penha não revogou o artigo 181, inciso I do Código Penal, pois caso não se reconhecesse as imunidades absolutas no âmbito de violência doméstica e familiar, haveria um desrespeito o princípio da isonomia, e assim o marido que cometesse a violência patrimonial no ambiente doméstico seria processado e julgado, entretanto a mulher que viesse a cometer o mesmo tipo de delito contra o marido estaria isenta de pena. Ademais, segue abaixo o fragmento do acórdão da referida decisão, proferida pelo Superior Tribunal de Justiça: Não há falar em ineficácia ou inutilidade da Lei 11.340/2006 ante a persistência da imunidade prevista no artigo 181, inciso I, do Código Penal quando se tratar de violência praticada contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, uma vez que na própria legislação vigente existe a previsão de medidas cautelares específicas para a proteção do patrimônio da ofendida (STJ -REsp. 42.918/RS-REL.MIN. JorgeMussi- 5ºTurma-DJ-14/08/2014) Assim, conforme mencionado a Lei 11.340/2006 não perde sua efetividade pela aplicação das imunidades no âmbito da violência doméstica e família, tendo em 32 vista que a mencionada lei possui as medidas protetivas de urgência para proteção do patrimônio da vítima. Finalmente, tem-se a violência moral, conforme Maria Berenice Dias (2013), no qual tal delito encontra-se presente nos crimes contra a Honra, quais sejam, calúnia, difamação e injúria. Diante disso, Victor Eduardo (2014), assim estabelece que na calúnia, o fato atribuído pelo ofensor à vítima é definido como crime, que tutela a honra objetiva, ou seja, o bom nome, a reputação de que alguém goza perante o grupo social. Na difamação também se tutela a honra objetiva, no qual há atribuição de fato ofensiva à reputação da vítima, mas não é definido como crime. Já na injúria não se atribui um fato determinado ao ofendido, sendo que atinge a honra subjetiva da vítima, ou seja, o sentimento que cada um tem acerca de seus próprios atributos físicos, morais ou intelectuais. Assim, quando os delitos contra a honra são cometidos no ambiente familiar ou doméstico configuram a violência moral. Ademais, assim relatou Maria Berenice Dias (2013, p.73): A violência moral é sempre uma desqualificação, interiorização ou ridicularizarão. Diante das novas tecnologias de informação e redes na internet, a violência moral contra a mulher tem adquirido novas dimensões. São ofensas divulgadas em espaços virtuais massivamente e em rede, de forma instantânea e de difícil comprovação e combate. Desta forma, com o avanço do mundo virtual se tornou-se comum a violência moral também ser cometida nas redes sócias, como no Facebook e WhatsApp. Ademais, esses delitos também dão ensejo na seara cível, a ação indenizatória por dano material e moral. Ressaltando-se ainda, que os crimes contra a honra são de ação penal privada, dependendo assim da queixa-crime da vítima para a punição do agressor. 4. COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER 4.1 COMPETÊNCIA DE “JURISDIÇÃO” De acordo com Maria Berenice Dias (2013), a Lei Maria da Penha foi implantada na legislação brasileira para atender os compromissos internacionais, que impõe o reconhecimento do direito das mulheres como direito humanos. Destarte, este instrumento proclama que a violência doméstica constitui violação dos 33 direitos humanos. Dessa forma, assim preceitua o artigo 6º da referida lei: “A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos ” No entanto, apesar de haver a tendência de definir como sendo da Justiça Federal a competência para julgar crimes cometidos em afronta aos direitos humanos, no caso de violência domestica não deve ser aplicado tal entendimento, tendo em vista que a Lei Maria da Penha prevê a criação de Juizados de Violência Doméstica contra a mulher–JVDFMs, com competência civil e criminal para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da pratica de violência doméstica e familiar contra a mulher. Entretanto, há a possibilidade de qualquer processo envolvendo violência doméstica ser deslocado para a justiça Federal, pois de acordo com o artigo 109, inciso V-A da Constituição Federal (acrescentado pela EC 45/2004), ocorrendo grave violação dos direitos humanos para assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos do qual o Brasil é signatário, a Constituição Federal autoriza que o Procurador Geral da República suscite, perante o Superior Tribunal de Justiça, incidente de deslocamento de competência para a justiça federal. 4.2 COMPETÊNCIA DE JUÍZO Conforme o previsto no artigo 41 da Lei Maria da Penha, esta lei afastou expressamente a violência doméstica da égide da lei 9.099/95(Lei dos juizados Especiais Criminais). Nessa Linha de pensamento, segue ementa da decisão do conflito de jurisdição do Tribunal de Justiça do Maranhão, in verbis: CONFLITO DE JURISDIÇÃO. VARA CRIMINAL E JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. LESÃO CORPORAL CARACTERIZADA PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA. COMPETÊNCIA DA VARA CRIMINAL. UNANIMIDADE. 1. Em se tratando de crimes praticados contra a mulher, por violência doméstica, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei dos Juizados. Inteligência do art. 41 da Lei Maria da Penha. 2. conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da Terceira Vara Criminal de Caxias. Unanimidade. (TJ-MA, Proc. 104512011, Relator: BENEDITO DE JESUS GUIMARÃES BELO, Data de Julgamento: 28/06/2011, CAXIAS).(Grifo nosso). Assim, se a vitima é mulher e o crime aconteceu no ambiente doméstico, não é delito de pouca lesividade, não podendo mais ser apreciado pelos Juizados Especiais Criminais-JECrims. Ademais, nos locais onde ainda não foram instaladas 34 os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher-JVDFMs, o Juízo competente é o da Vara Criminal. Assim sendo, conforme Maria Berenice Dias (2013) nas localidades onde não foram instaladas os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher- JVDFMs houve um acréscimo muito grande de demandas na Vara Criminal, tendo em vista que cada ato de violência doméstica pode gerar dois procedimentos, pois tanto o expediente da autoridade policial para adoção de medidas protetivas urgência, como o inquérito policial são enviados a juízo em momentos diferentes. Nesse sentido, assim preleciona Maria Berenice Dias (2013, p.134): Garantido o direito de preferência a estes processos (art.33, parágrafo único), os demais têm sua tramitação comprometida. Como nestas varas encontram-se os processos de réus presos, das duas uma: ou pode ocorrer excesso de prazo, o que enseja a soltura do réu, ou não é garantido o direito de preferência aos delitos domésticos. Com isso agrava-se o risco de ocorrer a prescrição. A consequência é obvia: a consciência da impunidade e aumento dos índices de criminalidade. (Grifo do autor). Diante disto, percebe-se a importância da instalação do JVDFMs em todo o País. Além disso, as medidas protetivas encaminhadas pela autoridade policial, em sua grande maioria, reclamam providências no âmbito do Direitodas Famílias e como a tendência é a especialização das varas, de um modo geral, os magistrados acabam se distanciando dos ramos do qual não trabalham e assim os juízes criminais principalmente aqueles que atuam a muitos anos na referida área acabam tendo dificuldades para apreciar questões de âmbito familiar. 4.3 COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE De acordo com o jurista Luiz Flávio Gomes, em sede de violência doméstica a competência é firmada em razão da pessoa da vítima (mulher), assim não importa o local do fato, pois não é o local do fato que irá definir a competência, mas sim que se constate a violência contra a mulher e seu vínculo com o agente do fato. Ademais, segundo Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2014), no processo e julgamento dos crimes de violência domestica e familiar contra a mulher aplica-se subsidiariamente os preceitos dos Códigos de Processo Penal e Civil, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso. Destarte, um não exclui direitos reconhecidos nos outros, uma vez que os três estatutos visam a concretizar valores constitucionalmente reconhecidos (CF, arts. 226, § 8º, 227 e 230). 35 Entretanto, existe divergência sobre a aplicação da Lei Maria Penha ou do Estatuto da Criança e o adolescente quando se trata de menor. Ademais, pelo entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná aplica-se a Lei Maria da Penha mesmo quando se trata de menor, in verbis: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - LESÕES CORPORAIS CONTRA CRIANÇA MULHER NO ÂMBITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR - APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA - CONDIÇÃO DE CRIANÇA/MULHER QUE SE SOBREPÕE AO SIMPLES FATO DE SER CRIANÇA PARA FINS DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA - CARÁTER DE PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL NÃO SÓ DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES, MAS TAMBÉM DA MULHER - LEI MARIA DA PENHA QUE POSSUI UM CARÁTER MAIS ENÉRGICO DE PROTEÇÃO TOTAL - OBJETIVO PROGRAMÁTICO CONSTITUCIONAL QUE MAIS SE ALCANÇA NESTA LEI DO QUE PELO ECA. DECLARAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.(TJ-PR, Conflito de Competência nº 559604- 9/Curitiba, Relator: Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes, Data de Julgamento: 03/09/2009, 1ª Câmara Criminal em Composição Integral).(Grifo nosso). No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul não aplica a Lei Maria da Penha, mas sim o Estatuto da Criança e do Adolescente quando se trata de menor, nestes termos segue a ementa da decisão: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE MAUS TRATOS PRATICADO PELA MÃE CONTRA O CASAL DE FILHOS. NÃO INCIDÊNCIA DA LEI 11.340/06. O artigo 5º da Lei Maria da Penha configura como violência doméstica e familiar contra a mulher toda espécie de agressão (ação ou omissão), baseada no gênero, isto é, na condição hipossuficiente da mulher, que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, importando em violação dos direitos humanos, independente da habitualidade da agressão. No caso, maus tratos praticados pela mãe contra filhos, a hipossuficiência das vítimas decorre da condição de serem crianças - pela idade - e não em face da vulnerabilidade de gênero numa relação intrafamiliar. Havendo estatuto próprio de proteção da criança vítima de violência, não se pode aplicar indistintamente uma lei criada com a finalidade de proteger a mulher da violência masculina, em razão, principalmente, da sua inferioridade física. Aliado a isso, a aplicação da Lei Maria da Penha só ocorre quanto aos fatos praticados por homem contra mulher, o que inocorre in casu, devendo o feito ser apreciado pelo juízo comum suscitado. CONFLITO NEGATIVO JULGADO PROCEDENTE. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO”. (Conflito de Jurisdição Nº 70046682498, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francesco Conti, Julgado em 09/02/2012). (Grifo nosso). Ademais, o Código de Processo Penal, em seu artigo 69, estabelece que a competência criminal será fixada atentando-se para o lugar da infração, no entanto dispondo o agressor de foro privilegiado por prerrogativa de função, a competência para o julgamento das ações criminais desloca-se para o órgão indicador na lei, que se sobrepõe à competência do lugar da infração, assim, para exemplificar, o 36 promotor de justiça acusado de prática de agressões contra a esposa, será julgado pelo Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 96, inciso III, da Constituição Federal. Já o Código de Processo Civil elegeu a competência territorial, ou seja, o local da residência do réu. Entretanto, a exceções, como por exemplo, o domicilio da mulher para as ações que visam o fim do casamento e o domicílio do credor nas ações que buscam alimentos. No âmbito do Estatuto do Idoso impõe a competência absoluta do domicílio do idoso somente para as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos que lhes são assegurados. Além disto, assim preceitua Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2014, p.104), ipsis litteris: Uma das disposições constantes da Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003, o chamado Estatuto do Idoso (EI), deve ser observado no julgamento das causas que envolvam a prática de violência contra a mulher: “é assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, em qualquer instância”, conforme previsto no art.71, caput, do EI. Nesse sentido ainda, é disposto no art. 1.211-A do CPC.(Grifo nosso). Trata-se de privilégio que não se encontra em conflito com a lei ora comentada e, por conta disso, segundo a parte final do dispositivo, pode perfeitamente ser adotada, também, no julgamento das causas juntos aos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher (ou nas varas criminais enquanto não implantado o juizado, nos termos do art.33 desta lei. Nestes termos, deve-se haver a prioridade na tramitação dos processos no Juizados de Violência doméstica e Familiar contra a mulher nos casos em que a vitima tem idade igual ou superior a 60 anos, conforme estabelecido pelo artigo 71 do Estatuto do Idoso. Destarte, o Estatuto da Criança e do Adolescente firma a competência pelo domicílio dos pais ou responsável, ou, na falta destes, o lugar onde se encontra a criança ou o adolescente. Quando se trata de ato infracional, a autoridade competente é a do lugar da infração. Diante do exposto, todos os códigos, estatutos e leis em sede de jurisdição penal é definida pelo local da prática do crime.Já para as demandas de natureza civil o critério aplicado é o domicilio do réu, com algumas exceções. Ademais, diferentemente das normas de competência do Código de Processo Civil, nos casos de violência domestica de acordo com o artigo 15 da Lei Maria da Penha, nos processos de natureza cível a ofendia tem o direito á eleição do foro, quais sejam, o de sua residência ou domicilio, o lugar do fato em que se baseou a demanda ou no local do domicilio do agressor. 37 4.4 COMPETÊNCIA RECURSAL Diante da inaplicabilidade da Lei 9.099/1995, tem-se, por consequência, que eventual apelação contra sentença proferida no âmbito do juizado violência doméstica e familiar contra a mulher deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça. Ademais, em face natureza das medidas protetivas previstas em lei, umas de caráter civil e outras de natureza penal, há enorme divergência nos tribunais no que diz respeito qual a competência recursal. Veja o entendimento abaixo dos tribunais, in verbis: APELAÇÃO CRIME. LEI MARIA DA PENHA. AMEAÇA. MEDIDAS PROTETIVAS. No caso em apreço, a autora registrou ocorrência de suposta ameaça
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