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Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014

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FACULDADE MAURICIO DE NASSAU 
UNIDADE FAP TERESINA 
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO 
KARLA TALITA RAMOS SALES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEI MARIA DA PENHA: 
Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em 
Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA - PI 
2015 
KARLA TALITA RAMOS SALES 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEI MARIA DA PENHA: 
Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em 
Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Bacharelado de Direito da Faculdade 
Maurício de Nassau - Unidade FAP Teresina, 
como requisito parcial à obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
 
 
 Orientador: Prof. Eduardo Faustino Lima Sá. 
Co-orientador: Prof. Ana Maria Chaib Gomes 
Ribeiro. 
 
 
 
 
 
TERESINA - PI 
2015 
 
KARLA TALITA RAMOS SALES 
 
 
 
 
 
 
 
LEI MARIA DA PENHA: 
Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares em 
Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. 
 
 
 
 
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado 
adequado à obtenção do título de Bacharel em 
Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso 
de Bacharelado em Direito da Faculdade Maurício 
de Nassau - Unidade FAP Teresina. 
 
 
Cidade, (dia) de (mês) de (ano da defesa). 
 
______________________________________________________ 
Professor e orientador Nome do Professor, Título. 
 
______________________________________________________ 
Prof. Nome do Professor, Título. 
 
______________________________________________________ 
Prof. Nome do Professor, Título. 
 
______________________________________________________ 
Prof. Nome do Professor, Título. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, meu maior alicerce, por 
proporcionar-me a verdadeira força para lutar e 
encarar os desafios que a vida oferece, em busca da 
realização dos meus objetivos. 
 Aos meus pais, por ter terem me incentivado 
a fazer o curso de Direito, bem como pelo amor, 
confiança, dedicação e por serem meus grandes 
heróis e incentivadores. 
A minha irmã, pelo companheirismo e 
amizade. 
E as pessoas que contribuíram para o 
desenvolvimento deste trabalho 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço primeiramente a Deus, sempre presente em minha vida. Por guiar-me 
para o caminho certo, pelos seus ensinamentos de sabedoria e por proporcionar-me a 
força necessária para seguir em busca de conquistas. 
Agradeço à minha mãe, por seu exemplo de dedicação na educação de seus 
filhos, pelo amor, e pelo apoio em todos os momentos. 
Agradeço ao meu pai, pelo amor, dedicação, por sua luta diária para investir no 
futuro de seus filhos. Por sempre incentivar-me a estudar e lutar pelos meus objetivos e 
por estar sempre presente em todos os momentos da minha vida e por ser um exemplo 
de homem trabalhador e meu maior espelho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da 
epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. 
Texto da epígrafe. Texto da epígrafe. Texto da 
epígrafe” (Autoria). 
 
 
 
 
 
 
 RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem como tema a Lei Maria da Penha, tendo como delimitação a 
Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas Medidas Protetivas, no qual possui 
como objetivos gerais analisar a aplicabilidade da Lei Maria da Penha, bem como a 
natureza jurídica de suas medidas cautelares, assim como a importância dessas 
medidas para prevenção e combate a violência doméstica e possui como objetivos 
específicos definir as formas de violência doméstica e familiar, identificar o sujeito 
passivo e ativo que podem configurar nesta lei, indicar as medidas protetivas de 
urgência, e são acessórias do processo principal e pesquisar a forma mais frequente 
da violência doméstica. Ademais, a pesquisa foi realizada através de analise de dados 
do Juizado de Violência Doméstica e Familiar de Teresina, pesquisa bibliográfica, 
aliada a coleta de jurisprudência, tendo sido utilizados como autores Maria Berenice 
Dias (2013), Victor Eduardo (2014), Stela Valéria (2012), Rogério Sanches Cunha e 
Ronaldo Batista Pinto (2014), Sergio Pinto Martins (2013). Os resultados desta analise 
mostraram que a Lei Maria da Penha vem sendo efetivada em Teresina, mas que 
precisa ser efetuada algumas mudanças. 
 
 
Palavras-Chave: Medidas Cautelares, Formas de violência doméstica e familiar, 
Sujeitos da Lei Maria da Penha, escusas absolutórias, Garantia do contrato de 
trabalho. 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÔES 
 
 
Gráfico 1 – Profissão da vítima 
Gráfico 2 – Profissão do agressor 
Gráfico 3 – Relação da vítima com o agressor 
Gráfico 4 – Tipos de violência domestica 
Gráfico 5 – Meios de agressão 
Gráfico 6 – Local de ocorrência das agressões 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 – Faixa etárias da vítima e do agressor 
Tabela 2 – Estado civil da vítima e do agressor 
Tabela 3 – Número de processos distribuídos por classes 
Tabela 4 – Número de processos julgados e medidas protetivas concedidas 
Tabela 5 – Número de audiências designadas e realizadas 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
 
 
 CF- Constituição Federal 
JVDF – Juizado de Violência Doméstica e Familiar de Teresina. 
 
 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 12 
2 .. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ERRO! INDICADOR 
NÃO DEFINIDO. 
3- LEI MARIA DA PENHA EM DEBATE ................ ERRO! INDICADOR NÃO 
DEFINIDO. 
3.1.Motivação da inserção da Lei 11.340/06 no ordenamento jurídico ............... Erro! 
Indicador não definido. 
3.2 Origem e denominação da Lei Maria da Penha .... Erro! Indicador não definido. 
3.3 Sujeito ativo e passivo da Lei 11..340/06 ................ Erro! Indicador não definido. 
3.3.1Sujeito ativo..........................................................................................................2 
3.3.2 Sujeito Passivo.....................................................................................................2 
3.4 Formas de manifestação da violência doméstica contra a mulher Erro! Indicador 
não definido. 
4.COMPETÊNCIA PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DOS 
CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 
4.1. Competência de jurisdição..................................................................................2 
4.2 Competência de Juízo..........................................................................................2 
4.3 Competência ratione personae...........................................................................2 
4.4 competência recursal............................................................................................2 
4.5 Competência de Jurisdição..................................................................................2 
5. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ........ Erro! Indicador não definido.5.1 Tutelas de urgência.................................................................................................2 
5.2 Natureza jurídica das medidas protetivas ..............................................................2 
5.3 Prisão Preventiva....................................................................................................2 
5.4 Medidas que obrigam o agressor............................................................................2 
5.4.1 Limitação ao uso da arma de fogo......................................................................2 
5.5 Medidas que protegem a vitima..........................................................................2 
5.5.1 Separação de corpos e proibição de contato..................................................2 
5.5.2 Obrigação alimentar......................................................................................2 
5.5.3 Medidas de natureza patrimonial...................................................................2 
6. GARANTIA DO CONTRATO DE TRABALHO Erro! Indicador não definido. 
6.1 Serviço Público.......................................................................................................2 
 
6.2 Iniciativa Privada....................................................................................................2 
7. RENUNCIA A REPRESENTAÇÃO ..................... Erro! Indicador não definido. 
7.1 Conceitos de Retratação, Desistência e Renúncia..................................................2 
7.2 Representação e renuncia à representação na Lei Maria da Penha........................2 
8. APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA E DE SUAS MEDIDAS 
CAUTELARES EM TERESINA............................................................................................2 
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 70 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 70 
ANEXOS ..................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 
ANEXO A – TÍTULO ................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 
ANEXO B – TÍTULO ................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 
 
 
 12 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Este trabalho tem como tema a Lei Maria da Penha, no qual possui como 
delimitação a Aplicabilidade da Lei Maria da Penha e de suas medidas cautelares 
em Teresina-PI entre os anos de 2010 à 2014. Diante disto, o referido trabalho tem 
como problematizarão verificar se a Lei 11.340/2006, assim como as suas medidas 
cautelares tem sido eficazes no combate à violência doméstica e familiar contra a 
mulher em Teresina-PI. 
Além disso, possui como hipóteses averiguar se as medidas protetivas da Lei 
Maria da Penha não são dependentes da ação principal, se as medidas protetivas 
possuem natureza jurídica mista e se a aplicação da Lei Maria da Penha e de suas 
medidas cautelares é importante para o combate a violência doméstica. 
Ademais, este tema foi escolhido devido os constantes casos de violência 
doméstica e familiar contra as mulheres no ambiente social, no qual habitualmente 
pode-se constatar nos jornais e noticiários da televisão. Assim sendo, este trabalho 
irá proporcionar um conhecimento mais profundo da Lei Maria da Penha, como por 
exemplo, quais as formas de violência e quem pode configurar como sujeito passivo 
e ativo desta lei. 
Além disto, este trabalho também foi relevante para o conhecimento das 
medidas protetivas presentes na referida lei, assim como na análise de aspectos 
referentes a atuação estatal no processamento das denúncias das vítimas, bem 
como da própria aplicabilidade dos dispositivos legais na prevenção geral e especial 
do crime de violência doméstica contra a mulher. 
Diante do exposto, a referida pesquisa teve como objetivo geral analisar a 
aplicabilidade da Lei Maria da Penha, bem como a natureza jurídica de suas 
medidas protetivas, assim como a importância dessas medidas para prevenção e 
combate a violência doméstica. 
Destarte, possui como objetivos específicos definir as formas de violência 
doméstica e familiar, bem como explicar o porquê da criação e origem da Lei Maria 
da Penha, identificar o sujeito passivo e ativo que podem configurar na Lei Maria da 
Penha, definir a competência para processamento e julgamento dos crimes de 
violência doméstica, indicar as medidas protetivas de urgência, bem como analisar a 
sua natureza jurídica e são acessórias do processo principal ou não. 
 13 
Além disso, possuiu também como objetivos específicos pesquisar qual a 
forma mais comum de violência doméstica em Teresina e verificar se o estabelecido 
pela Lei Maria da Penha vem sendo cumprido na capital teresinense. 
Ressalta-se ainda, que a metodologia que foi utilizada nesta pesquisa foi o 
método indutivo, pois a pesquisa partiu do particular para o geral. Ademais, a 
pesquisa é pura, assim como quantitativa e qualitativa, no qual foram utilizados 
pesquisa documental, bibliográfica, aliada a coleta de jurisprudência e análise de 
conteúdo de argumento jurisprudenciais. 
Destarte, a análise documental foi baseada, conforme dados das estatísticas 
coletadas junto à Delegacia da Mulher em Teresina e do Juizado da Violência 
Doméstica e Familiar de Teresina. Além disso, como pesquisas bibliográficas foram 
utilizados os autores Maria Berenice Dias (2013), Victor Eduardo (2014), Stela 
Valéria (2012), Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2014), Sergio Pinto 
Martins (2013), além de terem sido utilizados também alguns artigos científicos 
citados ao longo da pesquisa. 
Assim sendo, a pesquisa foi apresentada em cinco capítulos, cujo o primeiro é 
a introdução, o segundo capítulo irá trata da construção histórica da violência 
doméstica contra mulher, o terceiro capítulo irá debater a motivação da inserção da 
Lei Maria da Penha no ordenamento jurídico, a origem e denominação da referida 
lei, o sujeito ativo e passivo que podem configurar nesta lei, assim como suas formas 
de manifestação. 
Além disto, o quarto capítulo irá tratar da competência para o processamento 
e julgamento dos crimes de violência doméstica contra a mulher, as medidas 
protetivas de urgência e a garantia do contrato de trabalho. 
 E finalmente o quinto e último capítulo foi da análise dos dados 
coletados no Juizado da Violência Doméstica e Familiar da 5ª Vara Criminal de 
Teresina, bem como das informações prestadas pelos serventuários daquela Vara. 
 
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER 
 
 
As mulheres segundo o artigo de Larissa Leal (2012), desde os primórdios da 
humanidade eram vistas como o sexo frágil e submissas ao homem. Na Idade 
 14 
Média, por exemplo, na qual as relações eram estabelecidas com base no direito 
canônico, onde os religiosos justificavam da submissão da mulher, com base no 
discurso do mito da criação, tendo em vista que a mulher foi feita da costela de Adão 
e por isso teria uma ligação carnal e corporal com o homem, e este por ter ganhado 
vida a partir de um sopro divino, seria superior a mulher e estaria mais próximo de 
Deus. 
Ademais, as mulheres daquela época eram consideradas fruto do pecado, 
pois descendiam de Eva que comeu o fruto proibido e acabou ocasionando todos os 
males da humanidade. Dessa forma, as mulheres eram consideradas todas 
pecadoras e muito próximas dos prazeres carnais, assim deveriam todas ficarem 
afastadas dos clérigos, para que assim os religiosos não caíssem em tentação. 
Assim sendo, em virtude desses mitos religiosos, durante séculos a mulher da 
IdadeMédia, sofreu com a discriminação e inferioridade da sociedade medieval, no 
qual os homens eram considerados seus donos, pois sempre a mulher estava sobre 
a dominação de alguém, se não estivessem sob a custódia do pai, estariam sob a 
custódia do marido. 
Ressalta-se ainda, conforme artigo da Tânia Pifari (2012), que na Grécia 
Antiga, as mulheres não tinham direitos jurídicos, não recebiam educação formal, 
eram proibidas de aparecer em público sozinhas, sendo confinadas em suas 
próprias casas em um aposento particular chamado gineceu, pois as residências era 
dividida em três partes, quais sejam ágora, o androceu e o gineceu. 
Assim, a ágora era o espaço comum compartilhados por todos da casa, já o 
androceu era o espaço reservado ao homem onde oferecia banquetes e recebia os 
amigos e por fim o gineceu espaço feminino, no qual era restrito as mulheres e as 
pessoas ligadas a elas por lanços de parentesco, assim somente eram autorizados a 
entra neste espaço o pai, o marido, o filho e o tio da mulher. 
Diante disto, era nítido a discriminação das mulheres na Grécia Antiga, pois 
vivem isoladas em seu próprio lar, enquanto os homens não tinham seus direitos 
restritos, mas sim garantidos, pois gozava de todos os direitos políticos e civis. 
Já em Roma, as mulheres não eram consideradas cidadãs e sua a exclusão 
social, jurídica e política colocavam a mulher no mesmo patamar que as crianças e 
os escravos, tendo como função na sociedade apenas de procriadora. 
No entanto, no século XIX há a consolidação do sistema capitalista, que 
acabou por acarretar profundas mudanças na sociedade como um todo. Seu modo 
 15 
de produção afetou o trabalho feminino levando um grande contingente de mulheres 
às fábricas. 
Diante disto, a mulher sai de seu espaço reservado e restrito, qual seja seu 
espaço privado, e vai para esfera pública. Neste processo, contestam a visão de que 
são inferior aos homens e se articulam para provar que podem fazer as mesmas 
coisas que eles, iniciando assim, a trajetória do movimento feminista, no qual 
buscam acabar com discriminações sociais, econômicas, políticas e culturais de que 
a mulheres são vítimas. 
Ademais, sobre a construção histórica da violência doméstica na sociedade 
Maria Berenice Dias (2013, p.18), assim se preleciona: 
Ditados populares, com aparente natureza jocosa, acabam por absolver e 
naturalizar a violência doméstica: “em briga de marido e mulher ninguém 
mete a colher”, “ele pode não saber porque bate, mas ela sabe por que 
apanha”. Esses, entre outros ditos, repetidos como brincadeira, sempre 
esconderam certa conivência da sociedade para com a violência contra a 
mulher. Talvez o mais terrível deles seja: “mulher gosta de apanhar”. 
Trata-se de uma ideia enganosa, certamente gerada pela dificuldade que a 
vitima tem de denunciar seu agressor. Seja por medo, por vergonha, seja 
por não ter para onde ir, ou por receio de não conseguir se manter sozinha 
e sustentar os filhos, o fato é que a mulher resiste em buscar a punição de 
quem ama ou, ao menos, um dia amou.(Grifo nosso). 
Assim, de acordo com Maria Berenice Dias (2013), a culpa pela violência 
doméstica sofrida pela mulher, não é responsabilidade exclusivamente do agressor, 
mas sim da sociedade como um todo que muitas vezes é conivente a com a 
violência doméstica. Além disso, a violência doméstica segue preceitos culturais e 
religiosos, por exemplo, o tabu da virgindade e a restrição ao exercício da 
sexualidade que sempre limitaram a mulher. Ressalta-se ainda, a ideal da mulher 
pelo casamento perfeito, no qual buscava ser a rainha do lar, ter uma casa para 
cuidar, filhos para criar e um marido para amar. 
Destarte, segundo artigo de Monica Reis (2014), a educação que os pais dão 
 aos seus filhos podem desencadear a violência doméstica, no qual muitas vezes os 
meninos são socializados em um ambiente machista e as meninas socializadas de 
forma submissa. Assim, ao atingirem a fase adulta iram externalizar seu 
comportamento nos seus relacionamentos, os homens se comportaram de forma 
possessiva e controladora e as mulheres de forma submissa. 
Diante disto, as famílias muitas vezes são as principais responsáveis pela 
inserção da violência doméstica no seio familiar, pois adotam posturas 
preconceituosas e arcaicas em relação aos papeis da mulher e do homem na 
sociedade. 
 16 
Assim, conforme o artigo de Monica Reis (2014, pag.2): “Eram comum ouvir 
as avós falando às mais jovens: Como é que vai casar se nem sabe bater um bolo?” 
Ademais, paradoxalmente são as próprias mulheres a perpetuar o machismo no 
ambiente familiar, tendo em vista que sobrecarregam as meninas das tarefas 
domésticas, poupando assim os meninos dos afazeres domésticos. 
 Portanto, diante do exposto, a violência contra a mulher advêm de um 
conjunto de fatores, tais como de natureza sócio-culturais, políticos, econômicos que 
juntos dão sustentação ao que alguns autores, como Bourdieu citado pele artigo do 
Adriano Senkevics (2012), chamou de dominação masculina. 
 
 
3. LEI MARIA DA PENHA EM DEBATE 
 
 
3.1 MOTIVAÇÃO DA INSERÇÃO DA LEI 11.340/06 NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO 
 
Na sociedade são inúmeros os casos de mulheres que sofreram ou sofrem 
com a violência doméstica e familiar, no qual o portal JusBrasil-Notícias (2013), 
informou que 70% dos casos são cometidos pelos seus companheiros que 
aproveitam-se da condição mais frágil e da dependência econômica da mulher, pois 
muitas delas não possuem renda própria e são totalmente dependentes de seus 
companheiros e acabam assim, submetendo-se a violência dos agressores. 
Além disso, assim informa Maria Berenice Dias (2013, p.23): 
Desde 1980, quando se começou a levantar o número de homicídios 
femininos, 91.932 mulheres foram mortas no Brasil. De 1980 a 1996, a taxa 
do fenicídio duplicou, permanecendo, a parti daí, no mesmo patamar: 4,5 
homicídios para cada 100 mil mulheres. Somente no ano de 2007, quando 
da vigência da Lei Maria da Penha, houve um leve decréscimo, logo 
voltando aos patamares anteriores. Isto significa que a cada duas horas 
uma mulher é assassinada no país. No ano de 2010 foram 4.297 mortes. 
(Grifo do autor). 
Ademais, segundo dados do Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas 
(IPEA), divulgado em 25 de setembro de 2013, entre 2001 e 2011, a cada hora e 
meia uma mulher morreu de formar violenta no Brasil. Foram 5.664 mortes por ano, 
472 por mês, 15 por dia, sendo que 40% de todos os assassinatos foram cometidos 
por um parceiro íntimo. 
 17 
Assim sendo, segundo Stela Valéria (2012), a Lei nº 11.346/2006, 
popularmente conhecida como a Lei Maria da Penha surgiu para proteger as 
mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, visando assim à igualdade 
material, no qual preconiza que todos são iguais diante de sua igualdade e desiguais 
diante de suas desigualdades, ou seja, a referida lei surgiu para proteger os 
interesses de uma classe mais frágil perante os seus agressores, para que assim 
houvesse a equidade entre homens e mulheres. 
Além disso, a própria constituição brasileira prever tratamento diferenciado 
em certas circunstâncias, e foi assim, baseando-se na igualdade material que o 
Superior Tribunal de Justiça utilizou-se de critérios diferenciados para promoção de 
militares em razão do gênero. Nessa linha, segue o trecho da decisão do recurso de 
mandado de segurança: 
A utilização de critérios diferenciados para promoção de militares, em razão 
das peculiaridades de gênero, não ofende o princípio da igualdade. Com 
esse entendimento, a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) 
negou provimento a recurso em mandado de segurança interposto por um 
cabo que questionava a diferenciaçãoentre sexos estabelecida em edital 
para ingresso no curso de formação de sargentos da Polícia Militar de Mato 
Grosso do Sul. (STJ- REsp. 44.576/MS-REL.MIN.Humberto Martins-2º 
Turma-DJ 24/02/2014) 
Ademais, a Lei Maria da Penha foi criada em virtude das constantes lutas 
dos movimentos feministas e das mulheres, para que se tivesse um combate à 
violência doméstica contra a mulher e uma punição mais severa aos agressores, 
tendo em vista que antes da criação da lei a maioria dos agressores eram punidos 
apenas com doação de cestas básicas e prestação de serviços comunitários. 
Destarte, na obra de Maria Berenice Dias (2013), explica-se que a antes a 
competência para julgar crimes de violência doméstica contra a mulher eram dos 
Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95), assim sendo inúmeros agressores 
não era punidos, pois muitos dos crimes contra as mulheres eram considerados de 
menor potencial ofensivo e acabavam sendo resolvidos de forma consensual, por 
meio de acordos. Diante da impunidade dos agressores as vítimas se sentiam 
desencorajadas a denunciá-los e os agressores a certeza de que ficariam impunes. 
Desta forma, conforme a cartilha da Menicucci (2012), chefe da Secretaria 
das Políticas Públicas para as mulheres da Presidência da República, a referida lei 
foi criada diante das constantes lutas feministas e da pressão das Organizações 
internacionais, em virtude do alto índice de mortes de mulheres no País. Assim 
preconiza, Menicucci (2012, p.7): 
 18 
Lei Maria da Penha representou uma verdadeira guinada na história da 
impunidade. Por meio dela, vidas que seriam perdidas passaram a ser 
preservadas, mulheres em situação de violência ganharam direito e 
proteção, fortaleceu-se a autonomia das mulheres. 
Assim, o artigo 1º da Lei Maria da Penha estatele que, in verbis: 
Art. 1º. Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da 
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para 
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados 
internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre 
a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e 
estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de 
violência doméstica e familiar. 
Assim, conforme o exposto no artigo 1º da Lei Maria da Penha, a referida Lei 
foi criada no Brasil, seguindo os tratados internacionais ratificados pelo Estado 
brasileiro e nos termos do parágrafo 8º do artigo 226 da Constituição Federal, no 
qual busca “Criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a 
mulher.” 
E foi assim, diante da união coletiva entre as organizações internacionais e 
os movimentos feministas que a Lei Maria da Penha foi decretada pelo Congresso 
Nacional e sancionada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva no dia 7 de 
agosto de 2006 e veio a entrar em vigor no dia 22 de setembro de 2006, no qual 
segundo consta no artigo do Paulo Borges (2012), no dia seguinte ao vigor da lei foi 
preso o primeiro agressor no estado do Rio de Janeiro, após tentar estrangular sua 
ex-esposa. 
 
 
3.2. ORIGEM E DENOMINAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA 
 
 
Conforme consta na obra de Maria Berenice Dias (2013), a principal fonte 
incentivadora e lutadora para a criação desta lei chama-se Maria da Penha Maia 
Fernandes, na qual foi mais uma de tantas outras mulheres que sofreram ou sofrem 
com a violência de seus companheiros. 
Assim, Maria Berenice Dias (2013), relata a história da Maria da Penha Maia 
Fernandes, no qual é um exemplo de luta contra a violência doméstica. Maria da 
Penha é biofarmacêutica, cearense, e foi casada com Marco Antonio Herédia 
Viveros, professor universitário de Economia, colombiano e naturalizado brasileiro e 
pai de suas três filhas, este constantemente agredia e fazia ameaças psicológicas e 
 19 
físicas à Maria da Penha, tendo inclusive, por duas vezes tentado matá-la, porém, 
felizmente não obtendo êxito. 
A primeira tentativa de assassinato Maria da Penha tinha 38 anos e suas 
filhas tinham entre dois e seis anos de idade, o fato ocorreu no dia 29 de maio de 
 1983 na cidade de Fortaleza, no qual Marco Antônio, simulou ter ocorrido um 
assalto, onde disparou dois tiros de espingarda nas costas da Maria da Penha, 
enquanto ela estava dormindo. Na época, ele foi encontrado na cozinha gritando por 
socorro, alegou que ladrões haviam entrado na casa e atirado na sua esposa e que 
haviam fugido pela janela. 
Ressaltando-se ainda, que conforme pensamentos de Cunha e Pinto (2014), 
Viveiros cometeu à tentativa de assassinato premeditadamente, tendo em vista que 
um dia antes do ocorrido Viveros tentou convencer Maria da Penha a celebrar um 
seguro de vida, no qual posteriormente com sua morte ele seria o único beneficiário. 
Ademais, o agressor cinco dias antes do ato fez Maria da Penha assinar um recibo 
em branco, referente à venda de um veículo de sua propriedade. 
Assim sendo, em virtude dos tiros, Maria da Penha foi hospitalizada e 
permaneceu internada por quatro meses, vindo a ficar paraplégica, tendo em vista 
que os tiros atingiram sua terceira e quarta vértebra. No entanto, mesmo depois de 
todo sofrimento ocasionado a Maria da Penha, o seu agressor não se satisfez e 
tentou pela segunda vez assassina-lá. A segunda tentativa aconteceu dias depois do 
retorno de Maria da Penha a sua casa, na qual Marco Antônio empurrou-a da 
cadeira de rodas e tentou matá-la eletrocutada durante o banho. 
No entanto, segundo Maria Berenice Dias (2013), conforme relatos da Maria 
da Penha, as agressões não aconteceram de repente, pois durantes anos ela sofreu 
calada com repetidas agressões e intimidações. Ademais, conforme Cunha e Pinto 
(2014), a mesma não denunciava as agressões pelo medo, pois ao denunciá-lo 
acabaria agravando ainda mais sua situação e de suas filhas, pois Viveros poderia 
se vingar, tendo em vista que era muito violento não só com a Maria da Penha, mais 
também com suas filhas. 
Mas foi só depois da segunda tentativa de assassinato que Maria da Penha 
ganhou força e coragem para denunciar Viveros, no entanto mesmo com a denuncia 
nenhuma atitude foi tomada pelas autoridades públicas para punir o agressor, assim 
sendo diante da impunidade, Maria da Penha chegou a pensar que ela era culpada 
 e Viveros tinha razão de agredi-la. 
 20 
Entretanto, segundo exposto por Maria Berenice Dias, Maria da Penha não 
desistiu de ver seu agressor punido, e assim na luta pela justiça se juntou aos 
movimentos feministas e escreveu um livro, no qual foi intitulado “Sobrevivi, posso 
contar”, no qual relatou o processo e as histórias de agressões que ela e suas filhas 
sofriam. 
Diante disso, as investigações do caso começaram em junho de 1983, no 
entanto o Ministério Público só ofereceu a denúncia em setembro de 1984, no qual 
em 1991 o réu foi levado ao tribunal do júri e condenado a oito anos de prisão. Mas 
mesmo com condenação, Maria da Penha ainda estava longe de ganhar a batalha, 
pois Viveros recorreu da decisão em liberdade e um ano depois o julgamento foi 
anulado. 
Em 1996 o réu foi levado a um novo julgamento, no qual foi declarado 
culpado e condenado a dez anos e seis meses de prisão, no entanto da mesma 
forma do julgamento anterior, impetrou recurso contra a sentença e ficou em 
liberdade. 
Assim, diante da demora injustificada em se dar uma decisão definitiva no 
processo e de o réu permanecer solto, Maria da Penha juntamente com o Centro 
pela Justiça e o Direito Internacional-CEJIL e o ComitêLatino-Americano e do 
Caribe para a defesa dos Direitos da Mulher- CLADEM formalizaram denúncia à 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados 
Americanos- OEA, para que assim fosse tomada alguma atitude e o agressor fosse 
punido. 
A denúncia foi aceita pela OEA, no qual por quatro vezes solicitou 
informações do caso ao governo brasileiro, no entanto nunca obteve nenhuma 
resposta. Assim, diante da omissão do Estado e por não atender aos tratados 
internacionais no combate a violência doméstica, em 2001 após dezoito anos da 
pratica do crime o Brasil foi condenado internacionalmente. 
No Relatório de nº 54 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
impôs ao Brasil a pagar a Maria da Penha uma indenização no valor de vinte mil 
dólares. Além disso, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão 
em relação à violência doméstica, bem como recomendou várias medidas em 
relação ao caso concreto de Maria da Penha e também sobre às políticas públicas 
do Estado para enfrentar a violência doméstica contra as mulheres brasileiras. 
Segue abaixo um trecho do Relatório de nº 54 da OEA, in verbis: 
 21 
A impunidade que gozou e ainda goza o agressor e ex-esposo da Senhora 
Fernandes é contrária à obrigação internacional voluntariamente assumida 
por parte do Estado de ratificar a Convenção de Belém do Pará. A falta de 
julgamento e condenação do responsável nessas circunstâncias constitui 
um ato de tolerância, por parte do Estado, da violência que Maria da Penha 
sofreu, e essa omissão dos tribunais de justiça brasileiros agrava as 
consequências diretas das agressões sofridas pela Senhora Maria da 
Penha Maia Fernandes. Além disso, como foi demonstrado anteriormente, 
essa tolerância por parte dos órgãos do Estado não é exclusiva deste caso, 
mas uma pauta sistemática. Trata-se de uma tolerância de todo o 
sistema, que não faz senão perpetuar as raízes e fatores psicológicos, 
sociais e históricos que mantêm e alimentam a violência contra a 
mulher. (Grifo nosso). 
Assim, conforme o trecho exposto, a OEA impôs ao Brasil o cumprimento do 
tratado internacional da Convenção de Belém do Pará, ratificado pelo Brasil em 27 
de novembro de 1995, no qual possui como objetivo punir e erradicar a violência 
contra a mulher. Ademais, impôs ainda, que o Brasil deixasse de ser omisso aos 
casos de violência doméstica, para que assim houvesse uma atuação efetiva do 
Estado não só no caso da Maria da Penha, mais também em todos os outros casos 
de violência doméstica. 
Deste modo, passados 19 anos e seis meses após os fatos Viveros foi 
preso, em virtude da constante luta da Maria da Penha e das pressões 
internacionais. Mas, para revolta de Maria da Penha em 28 de outubro de 2002, foi 
liberado depois de cumprir apenas dois anos de prisão. Ademais, em julho de 2008 
Maria da Penha recebeu uma indenização no valor de sessenta mil reais, no qual foi 
paga pelo governo do Estado do Ceará, em uma solenidade pública, com pedidos 
de desculpas. 
Assim, conforme Maria Berenice Dias (2013), a referida Lei foi criada, diante 
da luta da Maria da Penha em ver seu agressor punido, da pressão internacional, 
para que o Brasil cumprisse os tratados e convenções do qual é signatário e dos 
movimentos feministas no combate a Violência doméstica. Ademais, assim relatou 
Maria Berenice Dias (2013, p.15): “Quando o Presidente Lula sancionou a Lei 
11.340/06, chamou-a Lei Maria da Penha e disse: Esta mulher renasceu das cinzas 
para se transformar em um símbolo da luta contra a violência doméstica no nosso 
país”. (Grifo do autor). 
 
 
 
 
 
 
 22 
3.3. SUJEITOS DA LEI 11.340/2006 
 
 
3.3.1 Sujeito Ativo 
 
Dispõe o jurista e professor Luís Flávio Gomes (2011): 
O Sujeito ativo da violência pode ser qualquer pessoa vinculada com a 
vítima (pessoa de qualquer orientação sexual, conforme o art. 5º, parágrafo 
único): do sexo masculino, feminino ou que tenha qualquer outra orientação 
sexual. Ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo da violência, basta 
estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou doméstico, todas 
se sujeitam à nova lei. Mulher que agride outra mulher com quem tenha 
relação íntima, aplica-se a nova lei. 
 
Diante disso, para configuração da violência doméstica não se exige a 
diferença de sexos entre os envolvidos. Ademais, pode configurar como sujeito ativo 
tanto o homem como a mulher, desde que a violência tenha sido cometida no 
ambiente familiar. Diante disso, tanto nas relações entre heterossexuais como nas 
homoafetivas pode ser aplicada a Lei Maria da Penha. 
Ademais, nas relações de parentesco também é possível reconhecer a 
violência doméstica ou familiar quando existi motivação de gênero. Assim pode 
configurar como sujeito ativo a filha, filho, neto ou neta da vítima. Nessa linha, são as 
palavras de Maria Berenice Dias (2013, p.61): 
A Justiça já reconheceu que conflitos entre mãe e filho, assim como 
desentendimento entre irmão e irmã, estão ao abrigo da Lei Maria da Penha 
quando a agressão tem motivação de ordem familiar. Mas sendo irmãos do 
sexo masculino, não é possível invocar sua aplicação. 
Diante do exposto, na relação baseada no parentesco, sendo a vítima do 
sexo feminino e a agressão praticada no ambiente familiar, será aplicada a referida 
lei independentemente do sexo do agressor, pois o legislador visou criar 
mecanismos de proteção para coibir e prevenir a violência doméstica contra a 
mulher, sem importar o gênero do agressor. Nesse diapasão, segue o julgamento do 
conflito de competência da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de 
Pernambuco, onde atuou como Relator o Desembargador Marco Antônio Cabral 
Maggi: 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE 
COMPETÊNCIA. CRIME PRATICADO POR FILHA CONTRA GENITORA 
NO INTERIOR DA RESIDÊNCIA. INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA. 
COMPETÊNCIA DA VARA ESPECIALIZADA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
E FAMILIAR CONTRA A MULHER. COMPETÊNCIA DO JUÍZO 
SUSCITANTE. DECISÃO: UNANIMEMENTE DEU-SE PROVIMENTO AO 
CONFLITO SUSCITADO, PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO DE 
DIREITO DA VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A 
MULHER DA COMARCA DE CAMARAGIBE-PE. A Lei nº 11.340/06 não 
menciona nada a respeito acerca do gênero do agressor, 
 23 
possibilitando que tanto o homem quanto a mulher figurem como 
sujeito ativo nos crimes de violência praticados no âmbito doméstico e 
familiar. Tratando-se de crime de violência doméstica, a competência para 
processar e julgar o feito recai sobre o Juízo das Varas Especializadas de 
Violência doméstica e familiar contra a mulher. Conflito de jurisdição 
conhecido. Juízo de Direito da Vara de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher da Comarca de Camaragibe-PE declarado competente. 
Decisão Unânime. (TJPE, Conf.Neg.de Comp. 347.4897, 4.ª C.Crim., Rel. 
Des. Marco Antônio Cabral Maggi, j. 14/10/2014.(Grifo nosso). 
Assim, diante do exposto foi declarada a competência da Vara 
 especializada de violência doméstica e familiar contra a mulher, para julgar o crime 
praticado pela filha contra sua genitora no ambiente residencial. 
Entretanto, ao julgar o Habeas Corpus de Nº 212.767/DF o Superior Tribunal 
de Justiça assim se posicionou: 
Habeas Corpus. Lesão corporal leve. Lei 11.340/06. Inaplicabilidade entre 
irmãos. Mulher. Sujeito passivo.[...]In causa, a relação de violência retratada 
neste feito ocorreu entre dois irmãos. Inaplicabilidade. Precedentes.(...) 
5.Ordem denegada.(STJ,HC212767-DF2011/0159507-5,6ª.,j.13/09.2011,rel, 
Min.Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJRS). 
Nessa linha, mesmo que a agressão tenha ocorrido no ambiente familiar, 
mas entre irmãos do sexo masculino não se aplica a Lei Maria da Penha. 
 
3.3.2Sujeito Passivo 
 
 De acordo com Maria Berenice Dias (2013, pag.62): 
No que diz com o sujeito passivo -ou seja, a vítima da violência- há a 
exigência de uma qualidade especial: ser mulher. Assim, lésbicas, 
transexuais, travestis e transgêneros, que tenham identidade social com o 
sexo feminino estão sob a égide da Lei Maria da Penha. A agressão contra 
elas no âmbito familiar constitui violência doméstica. Ainda que parte da 
doutrina encontre dificuldade em conceder-lhes o abrigo da lei, descabe 
deixar à margem da proteção legal aqueles que se reconhecem como 
mulher. Felizmente, assim já vem entendo a jurisprudência. 
Diante de exposto, os homens que possuem identidade de mulher e assim 
se apresentam no ambiente social podem configurar como sujeito passivo da Lei 
Maria da Penha. Nesse sentido, foi aplicada a Lei Maria da Penha a pessoa do sexo 
masculino, no qual se submeteu à cirurgia para adequação de sexo por ser 
hermafrodita, segue o julgamento do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E 
FAMILIAR. HOMOLOGAÇÃO DE AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE. 
AGRESSÕES PRATICADAS PELO COMPANHEIRO CONTRA PESSOA 
CIVILMENTE IDENTIFICADA COMO SENDO DO SEXO MASCULINO. 
VÍTIMA SUBMETIDA À CIRURGIA DE ADEQUAÇÃO DE SEXO POR SER 
HERMAFRODITA. ADOÇÃO DO SEXO FEMININO. PRESENÇA DE 
ÓRGÃOS REPRODUTORES FEMININOS QUE LHE CONFEREM A 
CONDIÇÃO DE MULHER. RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL JÁ 
REQUERIDA JUDICIALMENTE. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO, NO 
CASO CONCRETO, DA LEI N. 11.340/06. COMPETÊNCIA DO JUÍZO 
SUSCITANTE. CONFLITO IMPROCEDENTE.(TJ-SC - CJ: 64616 SC 
2009.006461-6, Relator: Roberto Lucas Pacheco, Data de Julgamento: 
 24 
14/08/2009, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação: Conflito de 
Jurisdição n. , da Capital). 
 Ademais, conforme artigo do Matheus Ciochetta Minuzzi(2014), o Juiz 
Osmar de Aguiar Pacheco, no interior do estado do Rio Grande do Sul na Comarca 
de Rio Pardo, concedeu em 2011 medida protetiva a um homem que alegou estar 
sendo ameaçado por seu ex-companheiro, fundamentando sua decisão no princípio 
da igualdade e diante a vulnerabilidade da vítima. Assim foi parte de sua decisão: 
[...] todo aquele em situação vulnerável, ou seja, enfraquecido, pode ser 
vitimado. Ao lado do Estado Democrático de Direito, há, e sempre existirá, 
parcela de indivíduos que busca impor, porque lhe interessa, a lei da 
barbárie, a lei do mais forte. E isso o Direito não pode permitir!... em 
situações iguais, as garantias legais devem valer para todos, além da 
Constituição vedar qualquer discriminação. Isso faz com que a união 
homoafetiva seja reconhecida como fenômeno social, merecedor não só de 
respeito como de proteção efetiva com os instrumentos contidos na 
legislação [...]. 
Assim, conforme a Folha (2011), Maria Berenice Dias informou que esta foi o 
primeiro caso que Lei Maria da Penha foi aplicada entre dois homens, haja vista que 
nos casos anteriores envolviam apenas mulheres. Assim, a mesma informou, que 
esta decisão foi louvável, pois como a lei é um medida protetiva da mulher, a 
analogia feita neste caso foi importante, tendo em vista que a referida lei se aplica 
independentemente da orientação sexual. 
Entretanto, conforme entendimentos de alguns tribunais não se aplica a 
 referida lei em casos de relação homoafetiva entre homens. Nesse, sentido foi a 
decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA. 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. VÍTIMA HOMEM. RELAÇÃO HOMOAFETIVA. O 
homem não pode ser sujeito passivo de violência doméstica no âmbito da 
Lei nº 11.340/2006 (entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça). 
(Recurso em Sentido Estrito Nº 70057112575, Terceira Câmara Criminal, 
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Diogenes Vicente Hassan Ribeiro, 
Julgado em 07/08/2014) 
Ademais, o mesmo relatou indeferiu apelação com pedido de medidas 
protetivas da vítima homem, em desfavor de sua ex-companheira, in verbis: 
APELAÇÃO. PETIÇÃO INICIAL NÃO RECEBIDA. PEDIDO DE MEDIDAS 
PROTETIVAS DA VÍTIMA, HOMEM, EM DESFAVOR DA EX-
COMPANHEIRA, MULHER. A Lei nº 11.340/2006 se aplica em proteção 
apenas às vítimas do sexo feminino, de modo que as medidas protetivas de 
urgência por ela reguladas não podem ser requeridas pelo homem em 
desfavor da mulher. Precedente do STJ. RECURSO DESPROVIDO. 
(Apelação Crime Nº 70054560107, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Diogenes Vicente Hassan Ribeiro, Julgado em 
19/12/2013) 
Assim, a referida lei pelo entendimento de alguns tribunais foi criada 
especificamente para proteção das mulheres em situação de vulnerabilidade. Além 
disto, segundo Maria Berenice Dias ( 2013) há uma hipótese que vem causando 
 25 
divergências na aplicação desta Lei, no qual acontece por exemplo, quando o pai 
agredi uma filha e um filho, provocando lesão corporal leve em ambos, neste caso 
conforme entendimento doutrinário, o processo será único e tramitará no Juizado da 
Violência Doméstica, no entanto a vítima masculina será aplicada a legislação dos 
Juizados Especiais(Lei 9.099/95) e a vítima mulher incide a Lei Maria da Penha, 
sendo possível a concessão das medidas de proteção. 
Destarte, a Lei Maria da Penha não exige coabitação entre as partes para 
ser aplicada, prova disso é que a referida lei foi aplicada entre ex-namorados pelo 
Superior Tribunal de Justiça, conforme segue: 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. EX-
NAMORADOS. VIOLÊNCIA COMETIDA EM RAZÃO DO 
INCONFORMISMO DO AGRESSOR COM O FIM DO RELACIONAMENTO. 
CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. 
APLICAÇÃO DA LEI 11.340/2006. COMPETÊNCIA DO SUSCITADO. 1. 
Configura violência contra a mulher, ensejando a aplicação da Lei nº 
11.340/2006, a agressão cometida por ex-namorado que não se conformou 
com o fim de relação de namoro, restando demonstrado nos autos o nexo 
causal entre a conduta agressiva do agente e a relação de intimidade que 
existia com a vítima. 2. In casu, a hipótese se amolda perfeitamente ao 
previsto no art. 5º, inciso III, da Lei nº 11.343/2006, já que caracterizada a 
relação íntima de afeto, em que o agressor conviveu com a ofendida por 
vinte e quatro anos, ainda que apenas como namorados, pois aludido 
dispositivo legal não exige a coabitação para a configuração da 
violência doméstica contra a mulher. 3. Conflito conhecido para declarar a 
competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro 
Lafaiete -MG, o suscitado.(STJ - CC: 103813 MG 2009/0038310-8, Relator: 
Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 24/06/2009, S3 - TERCEIRA 
SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 03/08/2009.(Grifo nosso) 
Ressalta-se ainda, que a Lei Maria da Penha também se aplica nas relações 
domésticas. No entanto, conforme Damásio de Jesus citado por Maria Berenice Dias 
(2013, p.63), assim informa: 
A denominada “diarista”, que trabalha apenas um, dois ou três dias por 
semana, não estar protegida pela lei em razão de sua pouca permanência 
no local de trabalho. Porém aquela que trabalha durante a semana, 
diariamente, ainda que não more no emprego, a aplicação da Lei esta 
condicionada à sua participação no ambiente familiar. 
Diante do exposto, percebe-se que para a aplicação da Lei Maria da Penha 
deve ser observado o caso concreto, no qual deve-se averiguar se a empregada 
doméstica participa do ambiente familiar. 
 
3.4. FORMAS DE MANIFESTAÇÃO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
CONTRA A MULHER 
 
 
Primeiramente, segundo pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo 
em 2011, revelou-se que 91% dos homens consideram errado bater em mulher em 
 26 
qualquer situação. Destarte, 8% diz já ter batido em uma mulher ou namorada, 25% 
diz saber de parente próximo que já bateu e 48% afirmarter amigo ou conhecido 
que bate ou costuma bater na mulher. 
Assim, embora a porcentagem tenha sido baixa para os homens que 
reconheceram já ter agredido uma mulher, mais da metade informou saber de 
alguém que agredi ou já agrediu uma mulher. 
Ademais, 40% das mulheres afirmaram já terem sofrido alguma violência, 
sendo que 24% sofreu algum tipo de controle ou cerceamento, 23% sofreu violência 
psíquica ou verbal e 24% ameaça ou violência física propriamente dita. Destarte, 
segundo a referida pesquisa, 16% sofreram xingamentos e ofensas recorrentes a 
sua conduta sexual, 15% foram controladas a respeito de aonde iriam e com quem 
sairiam e 16% das mulheres já levaram tapas. Nessa linha, percebe-se que a 
violência doméstica não é apenas a física, podendo configurar outras formas de 
agressão. 
Além disto, segundo preleciona Maria Berenice Dias (2013, p.65): 
No âmbito do Direito penal, vigoram os princípios da taxatividade e da 
legalidade, sede em que não se admitem conceitos vagos. Esta não foi a 
preocupação do legislador ao definir a violência doméstica e familiar e 
especificar suas formas. Tal, no entanto, não compromete a sua higidez e 
nem a tisna de inconstitucional. Tanto a violência doméstica não tem 
correspondência com tipos penais, que o rol de ações não é exaustivo. 
Basta atentar que, o art.7º. utiliza a expressão “entre outras”. Portanto, o 
elenco não se trata de numerus clausus, podendo haver o reconhecimento 
de ações outras que configurem violência doméstica e familiar contra a 
mulher. 
Assim, segundo o exposto, na Lei 11.340/06 não se aplica os princípios da 
taxatividade e da legalidade previstos no Direito Penal, no qual o primeiro princípio, 
Fernando Capez (2014, p.59) preconiza que “A lei penal deve ser precisa, uma vez 
que um fato só será considerado criminoso se houver perfeita correspondência entre 
ele e a norma que o descreve.” Já o segundo princípio tem sua base no artigo 5º, 
inciso XXXIX, no qual estabelece que “Não há crime sem lei anterior que o defina, 
nem pena sem prévia cominação legal.” 
Ademais, a Lei Maria da Penha além de definir as formas de violência 
doméstica também definiu as formas de sua ocorrência. Assim dispõe o artigo 7º da 
referida Lei: 
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal; 
 27 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe 
cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e 
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas 
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, 
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância 
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja 
a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de 
seus direitos sexuais e reprodutivos; 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que 
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, 
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou 
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas 
necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria. (Grifo nosso). 
Conforme relato de Stela Valéria (2012), o artigo 7º segue o estabelecido 
pela Convenção de Belém do Pará, bem como de outras recomendações 
internacionais. Assim, a ampliação da definição da violência doméstica contra a 
mulher foi de grande importância para proteção das mulheres vítimas da violência 
doméstica e familiar, pois antes da criação da Lei Maria da Penha só era 
considerado violência doméstica a lesão corporal que gerasse dano físico ou 
prejudicasse a saúde da mulher. No entanto, após a edição desta lei qualquer ação 
ou omissão baseada no gênero que cause violência física, psicológica, dano moral e 
patrimonial a mulher é considerada violência doméstica. 
Destarte, a violência física conforme Maria Berenice Dias (2013) e Stela 
Valéria (2012) é qualquer conduta que afete a integridade física e saúde da mulher, 
assim para configurar a violência física não é necessário que a agressão deixe 
marcas aparentes, pois não é só a integridade física que é protegida judicialmente, 
mais também a saúde corporal da mulher, tendo em vista que muitas vítimas em 
virtude das agressões ficam com a saúde debilitada, no qual acabam sofrendo de 
dores de cabeça, fadiga crônica, dores nas costas, depressão, distúrbios do sono, 
entre outros problemas. 
Ressalta-se ainda, que caso o agressor venha a matar a vítima responderá 
pelo crime de homicídio qualificado, pois foi sancionado a Lei nº 13.104, de 09 de 
março de 2015, que alterou o artigo 121 do Código Penal para prever o feminicídio 
como circunstância qualificadora do crime de homicídio. 
 28 
Quanto à violência psicológica, segundo Maria Berenice Dias (2013) é 
considerada a agressão emocional que cause prejuízo psicológico para mulher, 
estando presente em todas as outras formas de violência doméstica. Além disso, é 
bem mais severa que a agressão física, no qual o agressor sente prazer em ver a 
vítima humilhada, inferiorizada e diminuída. Ademais, assim prelecionar Stela Valéria 
(2012): “A violência psicológica é uma das mais comuns e menos reconhecidas 
formas de violência doméstica, a própria vítima, muitas vezes não reconhece como 
algo injusto e ilícito” 
No entanto, a doutrina critica a violência psicológica, no qual segundo 
Marcelo Yukio Misaka (2007), citado por Maria Berenice Dias (2013, p.67), “todo 
crime gera dano emocional a vítima e, aplicar um tratamento diferenciado apenas 
pelo fato de a vítima ser mulher, seria discriminação injustificada de gêneros.” 
No entanto, Maria Berenice Dias (2013, p.67) assim se posiciona: 
Ora, quem assim pensa olvida-se que a violência contra a mulher tem raízes 
culturais e históricas, merecendo ser tratada de forma diferenciada. Os 
valores patriarcais favorecia o cenário de violência, porquanto a mulher, 
historicamente, sempre foi vista como um objeto, algo pertencente ao poder 
masculino. Não admitir esta realidade é que é infringe o princípio da 
igualdade. 
Diante disso, Maria Berenice Dias, critica os doutrinadores que não 
consideram a violência psicológica como umas das formas da violência doméstica. 
Isto posto, é preciso criar um meio de proteção diferenciado para as mulheres, pois 
se assim não for, haverá o infrigimento do princípio da igualdade, tendo em vista que 
baseado em preceitos patriarcais, a mulher historicamente sempre foi considerada 
um ser inferior e propriedade dos homens, no qual assim favorecia o ciclo de 
violência. 
Nesse tipo de agressão não há necessidade de apresentação de laudo 
técnico ou realização de perícia para comprovar o dano psicológico, assim o juiz 
constatando a violência psicológica poderá conceder a medida protetiva de urgência. 
Ressaltando-se ainda, segundo o art.61, II, f do Código Penal o delito praticado 
mediante violência psicológica é causa de majoração da pena. 
Sobre a violênciasexual, de acordo com Stela Valéria (2012), é considerada 
qualquer conduta que ofenda liberdade sexual da mulher, como por exemplo, 
quando o agressor obriga a vítima a presenciar e participar de relação sexual, a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo, entre outras formas de violência 
previstas na lei. 
 29 
Entretanto, assim relata Maria Berenice Dias (2013), apesar da Convenção 
de Belém do Pará ter reconhecido a violência sexual como violência doméstica, 
muitos doutrinadores e a jurisprudência relutaram em aceitá-la no âmbito dos 
vínculos familiares. Destarte, conforme Stela Valéria (2012), muitos operadores do 
direito justificavam que a violência sexual não poderá ser reconhecida, em virtude da 
 relação afetiva e coabitação entre o agressor e a vítima. 
Além disto, Maria Berenice Dias (2013), informa que muitos casos de 
violência sexual não eram reconhecidos, pelo fato de um deveres do casamento era 
o exercício da sexualidade, assim o homem tinha o direito de manter relação sexual 
com a mulher e a mulher o dever de satisfazer os desejos sexuais do marido. Diante 
disso, assim dispõe Maria Berenice Dias (2013, p.68): 
Ora, esta é uma postura de quem, seguindo preceitos religiosos 
quase medievais, entende a prática do sexo como algo destinado 
puramente à procriação, o que configura um posicionamento 
preconceituoso e atualmente insustentável. 
Ressalta-se ainda, conforme Victor Eduardo (2014), que a regra nos delitos 
sexuais é que a ação penal tenha sua iniciativa condicionada à representação da 
vítima. No entanto, caso a vítima seja vulnerável, menor de 18 anos e em caso de 
morte da vítima, a ação é de iniciativa pública incondicionada. 
Já a violência patrimonial, segundo o artigo do Mário Luiz Delgado (2014, 
p.1) o legislador entende como violência patrimonial: 
Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial 
ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, 
bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os 
destinados a satisfazer suas necessidades. (Grifo do autor) 
Destarte, quando ocorre à agressão na maioria dos casos à vítima é 
obrigada a sair de sua residência, e assim o agressor acaba se aproveitando desta 
situação para destruir os bens e objetos pessoais da vítima. Além disso, assim 
informar Mário Luiz Delgado (2014, pag.1): 
Nas demandas em curso nas varas da família, especialmente nos 
processos de divórcio com partilha de bens e de alimentos, são abundantes 
os crimes praticados conta o cônjuge virago e que passam despercebidos 
pelos advogados não militantes na advocacia criminal. Entre os tipos 
penais previstos na Lei Maria da Penha, um dos mais ocorrentes nas 
varas de família é a violência patrimonial contra a mulher. (Grifo nosso) 
Á visto disso, na maioria dos casos os bens do casal na sociedade conjugal 
foram adquiridos pelo esforço comum de ambos os cônjuges. No entanto, é comum 
que o marido sonegue o que era de direito ao outro cônjuge, para que assim fique 
com a integralidade dos bens, configurando assim a violência patrimonial. Outra 
conduta que também configura violência patrimonial é quando o cônjuge alimentante 
 30 
mesmo dispondo de condições financeiras deixar de satisfazer as necessidade 
alimentares da mulher, no qual esta omissão também configura o abandono material 
previsto no artigo 244 do Código Penal. 
 
Além disso, assim dispõe o artigo de Mario Luiz Delgado (2014, p.1): 
Na advocacia de família estamos habituados a identificar a violência 
patrimonial com a destruição de bens materiais e objetos pessoais, ou com 
a sua retenção indevida, nos casos de separação de fato, no afã de coagir a 
mulher a retomar ou a manter-se na convivência conjugal. Todavia, a 
violência patrimonial não se limita a tais condutas. 
Desta maneira, nas demandas da Vara da Família é comum o cônjuge nos 
casos de separação de fato cometer a violência patrimonial, com o objetivo de coagir 
a mulher a retomar ou permanecer com o vínculo conjugal. 
Ademais, assim prelecionar Maria Berenice Dias (2013, p.71): 
A partir da nova definição de violência doméstica, que reconhece também a 
violência patrimonial, não se aplicam as imunidades as absolutas ou 
relativas dos arts.181 e 182 do Código Penal quando a vítima é mulher e 
mantém com o autor da infração vínculo de natureza familiar. Não há mais 
como admitir o injustificável afastamento da pena ao infrator que pratica um 
crime contra sua esposa ou companheira, ou ainda, uma parente do sexo 
feminino.(Grifo do autor). 
Destarte, as imunidades absolutas, também chamadas de escusas 
absolutórias, tem como consequência a isenção da pena para o autor da infração 
penal. Assim, de acordo com o artigo 181, inciso I, do Código Penal, se o fato 
for cometido contra o cônjuge, durante a constância do casamento, o infrator será 
isento de pena. Já o artigo 182, inciso I, também do Código Penal, aplica-se quando 
o fato ocorre entre partes que são separadas judicialmente ou desquitadas, no qual 
terá como consequência a necessidade de representação da vítima. 
Entretanto, conforme já exposto por Maria Berenice Dias (2013), as causas 
de imunidades absolutas e relativas do Código Penal não se aplicam as vítimas da 
violência doméstica, assim mesmo que o agressor subtraia algum objeto da 
vítima durante a sociedade conjugal não estará isento de pena. 
No entanto, assim entende Victor Eduardo (2014, p.502): 
Alguns autores interpretaram equivocadamente que todo crime patrimonial 
cometido contra a esposa, a companheira, filha etc., estaria excluído das 
imunidades, ainda que se tratasse de crimes como furto ou apropriação 
indébita. Esta interpretação é equivocada porque, nos expressos termos do 
art.181, I, do CP, as imunidades só devem ser excluídas se o crime envolver 
violência contra a pessoa ou grave ameaça. Violência contra a pessoa é a 
violência física (real), é a que decorre de uma efetiva agressão ou do 
emprego de força física contra a vítima. No furto, na apropriação indébita e 
no estelionato, não há emprego de violência contra a pessoa e, por isso, as 
imunidades são cabíveis. Violência patrimonial e violência física não se 
confundem nem mesmo no texto da Lei Maria da Penha, conforme se 
verifica nos incs. I e IV da mencionada Lei, que as diferencia. Ao dispor que 
 31 
existe violência patrimonial em crimes como o furto, a Lei Maria da Penha 
estabeleceu apenas que tal crime, por gerar lesão patrimonial, admite a 
incidência das normas protetivas à mulher elencadas na própria lei, não 
havendo, contudo, extensão a dispositivos do Código Penal que nitidamente 
não foram por ela abrangidos. Se fosse verdade que a Lei Maria da Penha 
tivesse transformado toda forma de violência patrimonial, doméstica ou 
familiar, contra a mulher, em forma de violência física, então a subtração 
pura e simples contra a pessoa deveria ser tipificada como roubo (e não 
como furto); o estelionato contra a filha deveria ser enquadrado como 
extorsão. Nada mais absurdo. 
Assim, para Victor Eduardo (2014) diferentemente do pensamento de Maria 
Berenice Dias, as imunidades são aplicadas aos casos de violência doméstica, pois 
segundo o artigo 183, inciso I, do Código Penal as escusas absolutórias, só não 
serão aplicadas se o crime é de roubo, extorsão ou cometido com emprego de 
violência. 
 Seguindo essa mesma linha de pensamento, assim se posicionou o 
Superior Tribunal de Justiça: 
ARTIGO 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). CRIME 
PRATICADO POR UM DOS CÔNJUGES CONTRA O OUTRO. 
SEPARAÇÃO DE CORPOS. EXTINÇÃO DO VÍNCULO MATRIMONIAL. 
INOCORRÊNCIA. INCIDÊNCIA DA ESCUSA ABSOLUTÓRIA PREVISTA 
NO ARTIGO181, INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. IMUNIDADE NÃO 
REVOGADA PELA LEI MARIA DA PENHA. DERROGAÇÃOQUE 
IMPLICARIA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. PREVISÃO 
EXPRESSA DE MEDIDAS CAUTELARES PARA A PROTEÇÃO DO 
PATRIMÔNIO DA MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
E FAMILIAR. INVIABILIDADE DE SE ADOTAR ANALOGIA EM PREJUÍZO 
DO RÉU. PROVIMENTO DO RECLAMO. (STJ- REsp. 42.918/RS-
REL.MIN.JorgeMussi-5º Turma-DJ 14/08/2014) 
Diante do exposto, pelo entendido do Superior Tribunal de Justiça conforme 
citado pelo JusBrasil(2014) a Lei Maria da Penha não revogou o artigo 181, inciso I 
do Código Penal, pois caso não se reconhecesse as imunidades absolutas no 
âmbito de violência doméstica e familiar, haveria um desrespeito o princípio da 
isonomia, e assim o marido que cometesse a violência patrimonial no ambiente 
doméstico seria processado e julgado, entretanto a mulher que viesse a cometer o 
mesmo tipo de delito contra o marido estaria isenta de pena. Ademais, segue abaixo 
o fragmento do acórdão da referida decisão, proferida pelo Superior Tribunal de 
Justiça: 
Não há falar em ineficácia ou inutilidade da Lei 11.340/2006 ante a 
persistência da imunidade prevista no artigo 181, inciso I, do Código Penal 
quando se tratar de violência praticada contra a mulher no âmbito doméstico 
e familiar, uma vez que na própria legislação vigente existe a previsão de 
medidas cautelares específicas para a proteção do patrimônio da ofendida 
(STJ -REsp. 42.918/RS-REL.MIN. JorgeMussi- 5ºTurma-DJ-14/08/2014) 
Assim, conforme mencionado a Lei 11.340/2006 não perde sua efetividade 
pela aplicação das imunidades no âmbito da violência doméstica e família, tendo em 
 32 
vista que a mencionada lei possui as medidas protetivas de urgência para proteção 
do patrimônio da vítima. 
Finalmente, tem-se a violência moral, conforme Maria Berenice Dias (2013), 
no qual tal delito encontra-se presente nos crimes contra a Honra, quais sejam, 
calúnia, difamação e injúria. Diante disso, Victor Eduardo (2014), assim estabelece 
que na calúnia, o fato atribuído pelo ofensor à vítima é definido como crime, que 
tutela a honra objetiva, ou seja, o bom nome, a reputação de que alguém goza 
perante o grupo social. Na difamação também se tutela a honra objetiva, no qual há 
atribuição de fato ofensiva à reputação da vítima, mas não é definido como crime. Já 
na injúria não se atribui um fato determinado ao ofendido, sendo que atinge a honra 
subjetiva da vítima, ou seja, o sentimento que cada um tem acerca de seus próprios 
atributos físicos, morais ou intelectuais. 
Assim, quando os delitos contra a honra são cometidos no ambiente familiar 
ou doméstico configuram a violência moral. Ademais, assim relatou Maria Berenice 
Dias (2013, p.73): 
A violência moral é sempre uma desqualificação, interiorização ou 
ridicularizarão. Diante das novas tecnologias de informação e redes na 
internet, a violência moral contra a mulher tem adquirido novas dimensões. 
São ofensas divulgadas em espaços virtuais massivamente e em rede, de 
forma instantânea e de difícil comprovação e combate. 
Desta forma, com o avanço do mundo virtual se tornou-se comum a 
violência moral também ser cometida nas redes sócias, como no Facebook e 
WhatsApp. Ademais, esses delitos também dão ensejo na seara cível, a ação 
indenizatória por dano material e moral. Ressaltando-se ainda, que os crimes contra 
a honra são de ação penal privada, dependendo assim da queixa-crime da vítima 
para a punição do agressor. 
 
4. COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER 
 
4.1 COMPETÊNCIA DE “JURISDIÇÃO” 
 
De acordo com Maria Berenice Dias (2013), a Lei Maria da Penha foi 
implantada na legislação brasileira para atender os compromissos internacionais, 
que impõe o reconhecimento do direito das mulheres como direito humanos. 
Destarte, este instrumento proclama que a violência doméstica constitui violação dos 
 33 
direitos humanos. Dessa forma, assim preceitua o artigo 6º da referida lei: “A 
violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação 
dos direitos humanos ” 
No entanto, apesar de haver a tendência de definir como sendo da Justiça 
Federal a competência para julgar crimes cometidos em afronta aos direitos 
humanos, no caso de violência domestica não deve ser aplicado tal entendimento, 
 tendo em vista que a Lei Maria da Penha prevê a criação de Juizados de Violência 
Doméstica contra a mulher–JVDFMs, com competência civil e criminal para o 
processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da pratica de 
violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Entretanto, há a possibilidade de qualquer processo envolvendo violência 
doméstica ser deslocado para a justiça Federal, pois de acordo com o artigo 109, 
inciso V-A da Constituição Federal (acrescentado pela EC 45/2004), ocorrendo 
grave violação dos direitos humanos para assegurar o cumprimento de obrigações 
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos do qual o Brasil é 
signatário, a Constituição Federal autoriza que o Procurador Geral da República 
suscite, perante o Superior Tribunal de Justiça, incidente de deslocamento de 
competência para a justiça federal. 
 
4.2 COMPETÊNCIA DE JUÍZO 
 
Conforme o previsto no artigo 41 da Lei Maria da Penha, esta lei afastou 
expressamente a violência doméstica da égide da lei 9.099/95(Lei dos juizados 
Especiais Criminais). Nessa Linha de pensamento, segue ementa da decisão do 
conflito de jurisdição do Tribunal de Justiça do Maranhão, in verbis: 
CONFLITO DE JURISDIÇÃO. VARA CRIMINAL E JUIZADO ESPECIAL 
CRIMINAL. LESÃO CORPORAL CARACTERIZADA PELA VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA. APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA. COMPETÊNCIA 
DA VARA CRIMINAL. UNANIMIDADE. 1. Em se tratando de crimes 
praticados contra a mulher, por violência doméstica, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei dos Juizados. 
Inteligência do art. 41 da Lei Maria da Penha. 2. conflito conhecido para 
declarar a competência do Juízo da Terceira Vara Criminal de Caxias. 
Unanimidade. (TJ-MA, Proc. 104512011, Relator: BENEDITO DE JESUS 
GUIMARÃES BELO, Data de Julgamento: 28/06/2011, CAXIAS).(Grifo 
nosso). 
 Assim, se a vitima é mulher e o crime aconteceu no ambiente doméstico, 
não é delito de pouca lesividade, não podendo mais ser apreciado pelos Juizados 
Especiais Criminais-JECrims. Ademais, nos locais onde ainda não foram instaladas 
 34 
os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher-JVDFMs, o Juízo 
competente é o da Vara Criminal. 
Assim sendo, conforme Maria Berenice Dias (2013) nas localidades onde 
não foram instaladas os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher-
JVDFMs houve um acréscimo muito grande de demandas na Vara Criminal, tendo 
em vista que cada ato de violência doméstica pode gerar dois procedimentos, pois 
tanto o expediente da autoridade policial para adoção de medidas protetivas 
urgência, como o inquérito policial são enviados a juízo em momentos diferentes. 
Nesse sentido, assim preleciona Maria Berenice Dias (2013, p.134): 
Garantido o direito de preferência a estes processos (art.33, parágrafo 
único), os demais têm sua tramitação comprometida. Como nestas varas 
encontram-se os processos de réus presos, das duas uma: ou pode ocorrer 
excesso de prazo, o que enseja a soltura do réu, ou não é garantido o 
direito de preferência aos delitos domésticos. Com isso agrava-se o risco de 
ocorrer a prescrição. A consequência é obvia: a consciência da impunidade 
e aumento dos índices de criminalidade. (Grifo do autor). 
Diante disto, percebe-se a importância da instalação do JVDFMs em todo o 
País. Além disso, as medidas protetivas encaminhadas pela autoridade policial, em 
sua grande maioria, reclamam providências no âmbito do Direitodas Famílias e 
como a tendência é a especialização das varas, de um modo geral, os magistrados 
acabam se distanciando dos ramos do qual não trabalham e assim os juízes 
criminais principalmente aqueles que atuam a muitos anos na referida área acabam 
tendo dificuldades para apreciar questões de âmbito familiar. 
 
4.3 COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE 
 
De acordo com o jurista Luiz Flávio Gomes, em sede de violência doméstica 
a competência é firmada em razão da pessoa da vítima (mulher), assim não importa 
o local do fato, pois não é o local do fato que irá definir a competência, mas sim que 
se constate a violência contra a mulher e seu vínculo com o agente do fato. 
Ademais, segundo Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto (2014), 
no processo e julgamento dos crimes de violência domestica e familiar contra a 
mulher aplica-se subsidiariamente os preceitos dos Códigos de Processo Penal e 
Civil, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso. 
Destarte, um não exclui direitos reconhecidos nos outros, uma vez que os 
três estatutos visam a concretizar valores constitucionalmente reconhecidos (CF, 
arts. 226, § 8º, 227 e 230). 
 35 
Entretanto, existe divergência sobre a aplicação da Lei Maria Penha ou do 
Estatuto da Criança e o adolescente quando se trata de menor. Ademais, pelo 
entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná aplica-se a Lei Maria da Penha 
mesmo quando se trata de menor, in verbis: 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - LESÕES CORPORAIS 
CONTRA CRIANÇA MULHER NO ÂMBITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E 
FAMILIAR - APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA - CONDIÇÃO 
DE CRIANÇA/MULHER QUE SE SOBREPÕE AO SIMPLES FATO DE 
SER CRIANÇA PARA FINS DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA - 
CARÁTER DE PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL NÃO SÓ DAS CRIANÇAS 
E ADOLESCENTES, MAS TAMBÉM DA MULHER - LEI MARIA DA PENHA 
QUE POSSUI UM CARÁTER MAIS ENÉRGICO DE PROTEÇÃO TOTAL - 
OBJETIVO PROGRAMÁTICO CONSTITUCIONAL QUE MAIS SE 
ALCANÇA NESTA LEI DO QUE PELO ECA. DECLARAÇÃO DE 
COMPETÊNCIA DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
CONTRA A MULHER.(TJ-PR, Conflito de Competência nº 559604-
9/Curitiba, Relator: Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes, Data de 
Julgamento: 03/09/2009, 1ª Câmara Criminal em Composição 
Integral).(Grifo nosso). 
 
No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul não aplica a Lei 
Maria da Penha, mas sim o Estatuto da Criança e do Adolescente quando se trata 
de menor, nestes termos segue a ementa da decisão: 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. 
CRIME DE MAUS TRATOS PRATICADO PELA MÃE CONTRA O CASAL 
DE FILHOS. NÃO INCIDÊNCIA DA LEI 11.340/06. O artigo 5º da Lei Maria 
da Penha configura como violência doméstica e familiar contra a mulher 
toda espécie de agressão (ação ou omissão), baseada no gênero, isto é, na 
condição hipossuficiente da mulher, que lhe cause morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, importando em 
violação dos direitos humanos, independente da habitualidade da agressão. 
No caso, maus tratos praticados pela mãe contra filhos, a 
hipossuficiência das vítimas decorre da condição de serem crianças - 
pela idade - e não em face da vulnerabilidade de gênero numa relação 
intrafamiliar. Havendo estatuto próprio de proteção da criança vítima de 
violência, não se pode aplicar indistintamente uma lei criada com a 
finalidade de proteger a mulher da violência masculina, em razão, 
principalmente, da sua inferioridade física. Aliado a isso, a aplicação da Lei 
Maria da Penha só ocorre quanto aos fatos praticados por homem 
contra mulher, o que inocorre in casu, devendo o feito ser apreciado pelo 
juízo comum suscitado. CONFLITO NEGATIVO JULGADO PROCEDENTE. 
COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO”. (Conflito de Jurisdição Nº 
70046682498, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Francesco Conti, Julgado em 09/02/2012). (Grifo nosso). 
Ademais, o Código de Processo Penal, em seu artigo 69, estabelece que a 
competência criminal será fixada atentando-se para o lugar da infração, no entanto 
dispondo o agressor de foro privilegiado por prerrogativa de função, a competência 
para o julgamento das ações criminais desloca-se para o órgão indicador na lei, que 
se sobrepõe à competência do lugar da infração, assim, para exemplificar, o 
 36 
promotor de justiça acusado de prática de agressões contra a esposa, será julgado 
pelo Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 96, inciso III, da Constituição Federal. 
Já o Código de Processo Civil elegeu a competência territorial, ou seja, o 
local da residência do réu. Entretanto, a exceções, como por exemplo, o domicilio da 
mulher para as ações que visam o fim do casamento e o domicílio do credor nas 
ações que buscam alimentos. 
No âmbito do Estatuto do Idoso impõe a competência absoluta do domicílio 
do idoso somente para as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos que 
lhes são assegurados. Além disto, assim preceitua Rogério Sanches Cunha e 
Ronaldo Batista Pinto (2014, p.104), ipsis litteris: 
Uma das disposições constantes da Lei 10.741, de 1º de outubro de 
2003, o chamado Estatuto do Idoso (EI), deve ser observado no 
julgamento das causas que envolvam a prática de violência contra a 
mulher: “é assegurada prioridade na tramitação dos processos e 
procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure 
como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 anos, 
em qualquer instância”, conforme previsto no art.71, caput, do EI. Nesse 
sentido ainda, é disposto no art. 1.211-A do CPC.(Grifo nosso). 
Trata-se de privilégio que não se encontra em conflito com a lei ora 
comentada e, por conta disso, segundo a parte final do dispositivo, pode 
perfeitamente ser adotada, também, no julgamento das causas juntos aos 
juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher (ou nas varas 
criminais enquanto não implantado o juizado, nos termos do art.33 desta lei. 
Nestes termos, deve-se haver a prioridade na tramitação dos processos no 
Juizados de Violência doméstica e Familiar contra a mulher nos casos em que a 
vitima tem idade igual ou superior a 60 anos, conforme estabelecido pelo artigo 71 
do Estatuto do Idoso. 
Destarte, o Estatuto da Criança e do Adolescente firma a competência pelo 
domicílio dos pais ou responsável, ou, na falta destes, o lugar onde se encontra a 
criança ou o adolescente. Quando se trata de ato infracional, a autoridade 
competente é a do lugar da infração. 
Diante do exposto, todos os códigos, estatutos e leis em sede de jurisdição 
penal é definida pelo local da prática do crime.Já para as demandas de natureza civil 
o critério aplicado é o domicilio do réu, com algumas exceções. 
Ademais, diferentemente das normas de competência do Código de 
Processo Civil, nos casos de violência domestica de acordo com o artigo 15 da Lei 
Maria da Penha, nos processos de natureza cível a ofendia tem o direito á eleição 
do foro, quais sejam, o de sua residência ou domicilio, o lugar do fato em que se 
baseou a demanda ou no local do domicilio do agressor. 
 37 
 
4.4 COMPETÊNCIA RECURSAL 
 
Diante da inaplicabilidade da Lei 9.099/1995, tem-se, por consequência, que 
eventual apelação contra sentença proferida no âmbito do juizado violência 
doméstica e familiar contra a mulher deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça. 
Ademais, em face natureza das medidas protetivas previstas em lei, umas 
de caráter civil e outras de natureza penal, há enorme divergência nos tribunais no 
que diz respeito qual a competência recursal. Veja o entendimento abaixo dos 
tribunais, in verbis: 
APELAÇÃO CRIME. LEI MARIA DA PENHA. AMEAÇA. MEDIDAS 
PROTETIVAS. No caso em apreço, a autora registrou ocorrência de 
suposta ameaça

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