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Carreiras Jurídicas Intensivo Modular 2015 - Direito Processual civil - Prof. Marcos Vinícius 60 aulas - 203 pg

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CARREIRAS JURÍDICAS
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Disciplina: Direito Processual Civil Professor: Marcus Vinícius Aulas: 01 e 02 | Data: 11/02/2015
ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
TEORIA GERAL DO PROCESSO - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Princípio da isonomia
De início, apontaremos algumas nuances do novo CPC em comparação com o vigente. Vejamos:
o atual CPC não faz divisão entre parte geral e parte especial. Contudo, o novo CPC faz tal divisão.
o CPC atual não faz uma numeração de princípios. Por outro lado, o Novo CPC faz uma enumeração dos princípios fundamentais que o regulamentam.
Salientados esses dois aspectos iniciais, cabe ressaltar que dentre os diversos ramos do direito, o Processo Civil é um dos mais novos. A doutrina considera que em 1868 nasceu a disciplina "Processo Civil", desvinculando-se do direito civil (antigamente o CPC estava unido ao CC) adquirindo sua autonomia com princípios e regras próprias.
Uma vez que o CPC adquiriu autonomia, ele passou a ter princípios, regras e institutos próprios, sendo, portanto, considerado uma ciência. Assim, vamos analisar seus princípios e institutos fundamentais.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Princípio da isonomia (igualdade)
Isonomia traduz a ideia de igualdade. Ora, se nós pensarmos em princípio da igualdade, ele não é exclusivo do Processo Civil, tendo estatura elevada ao se consagrar no art. 5°, caput e I, CF:
CF, art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição
Tendo o princípio da isonomia estatura constitucional, ele repercute no Processo Civil. Portanto, vamos estudar sua amplitude no que pertine ao diploma processual.
O art. 125, I, CPC adota o princípio da isonomia determinando que o juiz nos exame das causas preserve a igualdade entre as partes:
CPC, art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe:
I - assegurar às partes igualdade de tratamento; (...)
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Qual seu significado atual? Este princípio mudou de significado nos seus últimos anos. O que era igualdade no século XIX não preserva o mesmo sentido nos dias atuais.
Antigamente se aplicava o princípio da ISONOMIA FORMAL. Esta isonomia estabelece que todas as pessoas, sem exceção, tem que receber tratamento igualitário, independentemente da situação individualizada.
Contudo, foi percebendo-se que as pessoas não são iguais. Assim, tratá-las de forma igual perpetuar-se-iam as desigualdades.
Desse modo, de uma ideia de isonomia formal, passou-se para uma ideia de ISONOMIA REAL, cuja melhor definição é de Rui Barbosa: "a verdadeira isonomia é tratar os iguais de forma igual, na medida de suas igualdades; e os desiguais, na medida de suas desigualdades".
O art. 188, CPC diz que o Ministério Público (MP) e a Fazenda Pública (FP), quando forem partes, terão mais prazos que outros litigantes para contestar e recorrer. Que prazo é esse?
CPC, art. 188. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
prazo em QUÁDRUPLO para CONTESTAR;
prazo em DOBRO para RECORRER;
A seguir, vejamos as questões relacionadas à contestação.
Assim, eventual contestação da Fazenda Pública (FP) no procedimento ordinário será de 60 dias (15x4=60). Caso recorra via embargos de declaração, o prazo será de 10 dias (5x2=10).
O que o CPC quer dizer com Fazenda Pública? FP corresponde às pessoas jurídicas de direito público, quais sejam, União, Estados, Distrito Federal, Municípios, bem como autarquias e fundações públicas.
ATENÇÃO: empresas públicas, apesar do nome, são pessoas jurídicas de direito privado. Nesse mesmo diapasão encontra-se a sociedade de economia mista (pessoa jurídica de direito privado) - ambas não tem o privilégio do art. 188, CPC.
Por outro lado, a lei fala em Ministério Público (MP). Sabemos que esta instituição pode participar no processo em duas qualidades: (i) parte e (ii) fiscal da lei.
O MP terá o privilégio do art. 188 apenas quando for parte? Ou sempre, qualquer que seja a condição que intervenha? Imagine uma ação de divórcio em que o MP atua como fiscal. Qual prazo se submete?
Está pacificado no STF e no STJ que o MP tem o privilégio do art. 188, CPC qualquer que seja a qualidade que intervenha.
Na redação do art. 188, a impressão é a de que o MP somente terá privilégio quando atuar como parte, mas esta interpretação é equivocada.
Ademais, se a FP e o MP tem prazo em quádruplo para contestar, qual prazo aplicar-se-á em eventual reconvenção?
É verdade que o artigo 188 se referiu estritamente à contestação, mas o CPC, no art. 299, aduz que a reconvenção deve ser oferecida SIMULTANEAMENTE à contestação, não obstante em peças diferentes. Os prazos da reconvenção são atrelados ao da contestação. Assim, ao quadruplicar o prazo da contestação, quadruplica-se o a da reconvenção.
CPC, art. 299. A contestação e a reconvenção serão oferecidas simultaneamente, em peças autônomas; a exceção será processada em apenso aos autos principais.
Se o MP e a FP tem prazo em quádruplo para contestar, qual o prazo para a exceção de incompetência? Sabemos que ela deve ser apresentada no prazo da contestação (art. 299, CPC). Assim, se o prazo da contestação quadruplica, igualmente quadriplicará para a exceção de incompetência.
De igual modo quadruplicará o prazo para impugnar o valor da causa, uma vez que ela deve ser apresentada no prazo da contestação, nos termos do art. 261, CPC.
CPC, art. 261. O réu poderá impugnar, no prazo da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor. A impugnação será autuada em apenso, ouvindo-se o autor no prazo de 5 (cinco) dias. Em seguida o juiz, sem suspender o processo, servindo-se, quando necessário, do auxílio de perito, determinará, no prazo de 10 (dez) dias, o valor da causa.
Superada as questões atinentes à contestação, vejamos os aspectos relacionados ao ato de recorrer.
Imagine que a FP promova ação contra "X". Se esta demanda é julgada improcedente, a FP terá prazo em dobro para recorrer. Mas se a ação for julgada procedente, "X" apela em prazo simples. Recebida essa apelação, o juiz intima a FP para oferecer contrarrazões. Qual o prazo da FP (MP) para oferecer contrarrazões? Está pacificado que o prazo é SIMPLES.
Atenção: esses entes têm prazo em dobro para recorrer quando interpuserem recurso (quando forem recorrentes).
	Atual CPC (1973)
	Novo CPC
	Art. 188, CPC (dobro para recorrer; quádruplo para contestar para FP e MP)
	MP e FP passam a ter TODOS os prazos processuais em DOBRO
Esse artigo fere o princípio da isonomia? Ele é constitucional? A situação diferenciada que justifica terem prazo maior é que FP e MP atuam em uma sobremaneira quantidade de processos e, portanto, não há violação do princípio da isonomia.
Outro dispositivo que devemos analisar é o art. 191, CPC. Ele estabelece que no processo em que houver litisconsórcio (pluralidade de litigantes), sendo este dotado de diferentes advogados, todos os prazos legais do processo serão em dobro.
CPC, art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos.
Imagine que "A" e "B" promovem ação contra "C", tendo os autores advogados diferentes. Nesse caso, eles serão beneficiados com prazo em dobro para contestar e contrarrazoar. A mesma ideia se aplica caso os litisconsortes estivessem no polo passivo ("A" promove ação contra "B", "C" e "D", réus com advogados diferentes).Suponha que "A" promove ação contra "B" e "C". Tais réus procuram o MESMO escritório de advocacia, com dois advogados (Almeida e Ferreira). Os procuradores combinam que "B" passará uma procuração específica e exclusiva para o advogado Almeida, ao passo que "C" passará uma procuração específica e exclusiva para o advogado Ferreira. Quais os prazos processuais? É pacífico que os prazos serão em DOBRO.
Imagine que "A" promova ação contra "B" (advogados "x", "y", "z"), "C" ("a", "z", "v") e "D" ("z", "t", "u"). Esses litigantes terão prazo simples ou em dobro? A "pegadinha" é que cada um dos litisconsortes têm advogados diferentes, mas há um advogado que é comum a todos (advogado "z"). Se há um advogado que seja comum a todos, o prazo é SIMPLES.
Todavia, se tirarmos o advogado "z" do réu "D", por exemplo, aplica-se o art. 191, CPC.
Imagine que "A" ingressa uma ação contra "B" (advogado x) e contra "C" (revel). Após a citação dos réus, qual o prazo a ser aplicado? Resposta: em consonância com o entendimento do STJ, havendo litisconsortes passivos, como não é possível de antemão saber o que vão fazer (contratar o mesmo advogado ou diferentes), o prazo será sempre em DOBRO. Assim, o prazo da contestação dobra, ainda que o corréu permaneça revel. Logo, passada a fase da contestação e mantendo-se o corréu revel, os demais prazos para o réu "B" serão SIMPLES.
Imagine que "A" ingressa com uma ação em face de "B" (advogado x) e da Fazenda Pública (advogado y). Pergunta-se: estando presentes simultaneamente as hipóteses legais dos arts. 188 e 191, ambos do CPC, aplicam- se cumulativamente ou não? Resposta: não se aplicam cumulativamente, ou seja, ADOTA-SE O QUE FOR MAIS FAVORÁVEL A CADA PARTE. Assim, aplica-se o art. 188, CPC para a Fazenda Pública (quádruplo para contestar) e, para "B", o art. 191, CPC (dobro para contestar).
Ocorrendo a mesma situação do exemplo acima, com um detalhe a mais, isto é, foi julgada improcedente a ação. Qual o prazo para o autor apelar? E qual o prazo para a Fazenda Pública (FP) oferecer contrarrazões? Resposta: o prazo para o autor apelar será SIMPLES; todavia, o prazo para a FP oferecer contrarrazões será em DOBRO, pois está em litisconsorte com advogados diferentes, em consonância com o art.191, CPC.
Imagine que "A" ingressa uma ação contra "B" (advogado "x") e contra "C" (advogado "x"). Nesse caso, o prazo é simples. Houve sentença de procedência. No último dia do prazo para recorrer, o advogado "x" substabelece a procuração sem reserva de poderes ao advogado "y". Aplica-se a regra do art. 191? Tal manobra NÃO enseja a aplicação do prazo em dobro. Nesse sentido, há dois entendimentos:
o prazo somente dobra se os réus tiverem advogados diferentes desde o início do prazo para a prática do ato processual, sendo irrelevantes eventuais alterações no curso do prazo.
b) se no curso do processo surgir advogados diferentes, somente dobra o saldo remanescente.
	CPC 1973
	Novo CPC
	Litisconsórcio com advogados diferentes, os prazos continuam em dobro
	Litisconsórcio com advogados diferentes, os prazos continuam em dobro
	—
	Dobra o prazo quando houver advogados de escritórios diferentes
	—
	Não dobra o prazo caso o processo seja eletrônico
ATENÇÃO: imagine que "A" promova ação contra "B" e "C", réus com advogados diferentes (prazo em dobro). Como os dois réus podem apelar, bem como ambos têm prazos iguais para tanto, os autos devem ficar no cartório, em princípio. A menos que os advogados acordem sobre a retirada do processo.
Pessoa pobre tem mais prazo que pessoa rica no processo? Não. Assim, é possível que no processo uma das partes, ou ambas, não tendo condições de suportar custas e despesas, requeiram assistência judiciária gratuita (Lei 1.060/50). Essa lei, no art. 5, §5° aduz que quando o beneficiário da justiça gratuita for assistido por órgão público de assistência judiciária (Defensoria Pública/PAJ), todos os prazos processuais serão em dobro.
Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos
Ressalta-se que o STJ tem equiparado a órgãos públicos alguns centros acadêmicos de instituição pública que tenham convênios com a assistência judiciária. Para estes, aplica-se a regra do prazo em DOBRO.
Entretanto, caso não tenha Defensoria Pública ou Procuradoria Geral do Estado e o necessitado seja assistido/representado através de um convênio particular com a OAB, ele será agraciado com o prazo em dobro? NÃO. O prazo será simples.
Esse artigo em estudo fere o princípio da isonomia? Não, porque pressupõe que esses órgãos atuem numa quantidade enorme de processos.
Por fim, existe uma regra do CPC que diz que as ações pessoais devem ser propostas no foro do domicílio do réu. Mas o CPC, no art. 100, I diz que a competência para as ações de divórcio, separação e anulação de casamento será do foro de residência da mulher (foro privilegiado). Isso não fere o princípio da isonomia? Não, pois segundo o STF, a situação da mulher ainda é de hipossuficiência.
Contudo, o novo CPC de 2015 entende que a mulher não mais faz jus ao foro privilegiado, pois sua situação se equilibrou ao do homem. Assim, para as ações de divórcio, separação, união estável e anulação de casamento, a competência será:
o foro do domicílio do cônjuge que tenha ficado com a guarda de filho incapaz;
no foro do último domicílio conjugal;
domicílio do réu.
JURISPRUDÊNCIA
AgRg no REsp 1485194 / SC
Relator (a) Ministro HUMBERTO MARTINS (1130)
Órgão Julgador - T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento - 11/11/2014
Data da Publicação/Fonte - DJe 21/11/2014
Ementa
PROCESSO CIVIL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL.
Impõe-se o não conhecimento do recurso especial, por ausência de prequestionamento, entendido como o indispensável exame da questão pela decisão atacada, apto a viabilizar a pretensão recursal (Súmulas 282 e 356 do STF).
A simples menção no acórdão de que se deu por prequestionados os dispositivos apontados pela recorrente, por si só, não tem o condão de prequestionar a matéria suscitada. Precedentes.
É imprescindível que haja sido consignado no acórdão recorrido o necessário e indispensável juízo de valor acerca da aplicação da norma federal ao caso concreto.
Ademais, o Tribunal de origem decidiu a controvérsia à luz de fundamentos eminentemente constitucionais (Princípio da Isonomia), tema insuscetível de ser examinado na via especial. Agravo regimental improvido.
QUESTÃO
UFMT - 2014 - MPE-MT - Promotor de Justiça
Levando em conta a legislação processual civil brasileira, analise as afirmativas.
- Genericamente, o princípio do devido processo legal caracteriza-se pelo trinômio vida-liberdade-propriedade, vale dizer, tem-se o direito de tutela àqueles bens da vida em seu sentido mais amplo e genérico.
- O princípio da isonomia determina o tratamento igualitário das partes, significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na exata medida de suas desigualdades.
- O princípio do juiz natural tem grande importância na garantia do estado de direito, bem como na manutenção dos preceitos básicos de imparcialidade do juiz na aplicação da atividade jurisdicional.
- O princípio do direito de ação determina que, além do direito ao processo justo, todos tenham o direito à tutela jurisdicional adequada. No entanto, abrange somente os direitos individuais levados ao conhecimento do judiciário, não tendo aplicação aos direitos coletivos.
Estão corretas as afirmativas :
I, II e III, apenas.
I e II, apenas.
I, III e IV, apenas.
II, III e IV, apenas.
II e IV, apenas.
Resposta: alternativa "a"
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Disciplina: Direito Processual Civil Professor: Marcus Vinícius Aulas: 03 e 04 |Data: 12/02/2015
ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
TEORIA GERAL DO PROCESSO - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Princípio da isonomia
Princípio do contraditório
3 e 4. Princípio da demanda e princípio dispositivo
Princípio da isonomia
Nas aulas anteriores, todos os exemplos que continham prazos foram lecionados à luz do processo de conhecimento. Diante disso, faz-se necessário estabelecer certas informações quanto ao processo de execução. Vejamos.
Desde a reforma de 2006/2007, o nosso sistema passou a fazer distinção entre execuções fundadas em título judicial (cumprimento de sentença) e execuções fundadas em título extrajudicial - é o chamado sistema dúplice.
Nas execuções fundadas em título judicial não há novo processo. Por outro lado, nas execuções por título extrajudicial há formação de novo processo.
Desde a reforma, criou-se um sistema no mecanismo de defesa, que nas execuções judiciais chama-se impugnação, e nas execuções por título extrajudicial chama-se embargos.
A impugnação é mero incidente de defesa (não forma novo processo). Ao revés, os embargos têm natureza jurídica de nova ação.
O prazo para ambas as defesas é de 15 dias.
Nesse sentido, sabemos que a execução pode ser dirigida contra dois ou mais devedores com advogados diferentes.
Imagine que “A" promove ação de execução por título extrajudicial contra "B" e "C" (com advogados diferentes). Esses executados, que estão em litisconsórcio, terão prazo em dobro para embargar? Não. O prazo é simples, ou seja, não se aplica o art. 191. Isso porque, o prazo para embargos é para o ajuizamento de nova ação.
ATENÇÃO: perceba que o art. 191 dispõe sobre o benefício do prazo em dobro, desde que os atos processuais sejam realizados dentro do processo (e não nos casos de nova ação - embargos).
Mas e se houver dois ou mais executados (litisconsórcios de executados) com diferentes advogados, haverá a dobra de prazo? Predomina o entendimento de que essa dobra se aplica à impugnação, porque o art. 191 diz que dobram os prazos “dentro do processo".
Superada essa questão, vejamos outra relacionada ao novo CPC.
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No novo CPC há uma novidade bastante controvertida. Há uma regra que estabelece que juízes e tribunais devem observar a ordem cronológica dos processos enviados para sentença e julgamento de recurso (tal disposição atende ao princípio da igualdade, pois os recursos mais antigos devem ser julgados com preferência).
Ocorre, todavia, que a lei prevê algumas exceções. Ex.: sentença proferida em audiência, homologação de acordo, julgamentos em bloco de processos que envolvem matéria objeto de julgamento repetitivo, sentenças de extinção sem julgamento de mérito, recursos (embargos de declaração, agravos internos) e sentenças que o juiz reconhecer urgência em decisão fundamentada.
Princípio do Contraditório
De igual modo ao princípio da isonomia, o contraditório tem estatura superior ao CPC. Ele está consagrado no art. 5°, LV, CF.
CF, art. 5°, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
A CF diz que se aplica o contraditório a todos os processos judiciais e administrativos.
Qual a natureza do inquérito policial? Administrativa. Contudo, ele não se submete ao princípio do contraditório, pois é apenas peça informativa.
Com efeito, contraditório é a necessidade de se dar ciência às partes (litigantes) da existência do processo e de tudo o que nele ocorre, permitindo que as partes se manifestem.
Tanto processos judiciais quanto administrativos precisam observar o contraditório.
Nos judiciais, o contraditório deve ser aplicado no campo civil e no campo penal. Mas há uma diferença de intensidade quanto ao contraditório nessas searas.
Na área criminal o contraditório tem mais intensidade, uma vez que os bens envolvidos são mais sensíveis.
No civil, o contraditório se contenta que as partes tomem ciência do processo e se defendam (ônus). Caso não queiram exercer o direito de defesa, o juiz presume que as alegações do adversário são verdadeiras (presunção de veracidade).
No criminal, o contraditório é obrigatório. Se no crime o juiz observa que o advogado é ineficiente, por exemplo, o magistrado o destitui e nomeia outro.
Na esfera civil existem os processos que versam sobre interesses indisponíveis (ex.: direito de família, investigação de paternidade) e interesses disponíveis (ex.: contrato). Há diferença do ponto de vista do contraditório?
CARREIRAS JURÍDICAS
Não importa se o processo versa sobre interesse disponível ou indisponível. No direito civil, a parte se defende se ela desejar, mesmo que o processo verse sobre interesse indisponível.
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Porém, caso o processo seja de ordem privada (interesse disponível) e o réu opte por não apresentar defesa, o juiz presumirá verdadeiros os fatos alegados pelo autor na petição inicial.
Entretanto, caso o processo verse sobre ordem pública (interesse indisponível), e o réu opte por não se defender, a falta de defesa NÃO implicará presunção de veracidade dos fatos alegados na petição inicial.
Agora vamos examinar algumas questões de concurso sobre contraditório.
Sabemos que todo processo judicial exige contraditório. Então como justifica o juiz em determinados tipos de processo conceder tutelas ou decisões antes de ouvir a parte contrária (ex.: inaudita altera pars)? Não afronta o princípio constitucional?
De fato, a lei sempre exige contraditório, mas nem sempre requer que ele seja prévio. Há casos em que se admite o contraditório diferido (aquele realizado a posteriori).
Assim, em regra, o contraditório diferido pressupõe situação de urgência (não é que não haja contraditório, mas se admite o contraditório posterior).
Durante muitos anos (antes de 2006), alguns processualistas chegaram a sustentar que nas execuções não existiria contraditório. Isso porque caso o executado quisesse se defender, ele não deveria fazer isso no bojo da execução, mas se valer da ação autônoma de embargos de execução. Desse modo, como o executado não se defende na execução, mas por via de embargos, alegavam que na execução não havia contraditório (isso está errado). Hoje, ninguém mais sustenta essa tese.
Execução é processo judicial? Sim. A CF diz que todos os processos judicias e administrativos devem observar o contraditório. Tanto há contraditório no processo de execução que se admite, além dos embargos, outro mecanismo alternativo como forma de defesa, qual seja, as exceções de pré-executividade (formas de defesa dentro da execução).
Analisada essa questão do contraditório em processos de execução, vejamos outro aspecto relacionado à prova emprestada sob o enfoque do contraditório.
Podemos afirmar que prova emprestada consiste na possibilidade de usar num processo prova que teria sido produzida em outro processo. Isso é possível?
Por força do princípio do contraditório, as partes de um determinado processo têm o direito e a possibilidade de acompanhar a produção da prova deste processo. Por exemplo, quando o juiz houve testemunhas no processo, ele marca audiência e intima as partes, podendo estas contraditar as testemunhas.
Imagine que no processo 1 entre "A" e "B" o juiz exige uma prova. Quem terá a oportunidade de participar da produção probatória será "A" e "B". Assim, no processo 2 entre "C" e "D", mesmo que verse sobre a mesma causa do processo 1, o juiz não poderá utilizar a prova deste processo 1, pois as partes do processo 2 não puderam participar da prova.
De tal forma que só existe apenas uma possibilidade de se utilizar a prova do processo 1 no processo 2: caso ambas as partes do processo 2 concordem. Contudo, se qualquer delas impugnar, o magistrado não poderá utilizá-la, sob pena de violar o contraditório.
Agora imagine um operário que trabalha na construção civil. Suponhaque ele sofra um acidente, incapacitando-o para o trabalho. Essa vítima tem a possibilidade de mover dois tipos de ações independentes. São elas:
Processo 1: contra o INSS (auxílio acidente)
- ação acidentária (responsabilidade objetiva): proposta na justiça estadual comum - art. 109, CF
Processo 2: contra o empregador
- ação de reparação de danos (responsabilidade subjetiva): proposta na justiça do trabalho EC/45
Embora uma ação seja de responsabilidade subjetiva e outra objetiva, há um aspecto comum a ser provado a fim de se obter "ganho de causa", qual seja, devem-se provar os danos (lesões incapacitantes).
Qual a forma mais adequada de provar a incapacidade? Prova pericial.
Pois bem. Imagine que primeiro se determinou a realização de perícia médica no processo 1. A prova pericial do processo 1 pode ser utilizada no processo 2?
Vamos imaginar que, num primeiro momento, essa perícia tenha sido favorável à vítima. Em sendo favorável, quem é que no processo 2 irá emprestá-la? Vítima. Ocorre que o empregador pode recusá-la no processo 2, pois foi produzida no processo 1 sem sua participação.
Existe alguma possibilidade dela vir a ser utilizada no processo 2? Sim, caso o empregador concorde. No entanto, se o empregador impugnar, o juiz deve ordenar outra perícia no processo 2.
Imaginemos hipótese diversa. Agora a perícia resulte desfavorável à vítima no processo 1. Nesse caso, o empregador irá requerê-la no processo 2. Pergunta-se: essa vítima poderá impugnar essa prova e exigir a produção de outra para processo 2? Não, pois ela participou da produção da prova.
Imagine uma execução promovida por um banco contra pessoa "x" (executado). Nesse processo acabou acontecendo a penhora de uma indústria que pertencia ao executado (único bem que "x" tinha). Sabemos que há a penhora de bens e sua avaliação via oficial de justiça. Mas nesse caso a avaliação deveria ser feita mediante perito, cuja cobrança pelo serviço foi estipulada em 60 mil reais. Contudo, o advogado do banco descobriu que havia outro credor executando "x". Esta execução estava mais adiantada e, portanto, já tinha o laudo de avaliação almejado. O banco então tirou cópia da avaliação e a usou contra "x". Pergunta-se: "x" poderia recusa essa prova? Não, pois participou de sua produção em outro processo.Conclusão: só se pode usar prova emprestada contra alguém, se:
esse alguém participou da produção da prova;
não participou, mas concorda com a utilização.
Vejamos adiante o principio do contraditório confrontado com o art. 285-A, CPC.
Numa das reformas do CPC, foi introduzido o art. 285-A.
CPC, art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada
Esse artigo trata das ações repetitivas. O dispositivo aduz que quando a questão for sobre exclusivamente de direito e em processo anteriores na mesma vara a sentença tiver sido de total improcedência, para os casos novos poderá o juiz, de plano, dispensar a citação do réu e repetir o conteúdo das sentenças anteriores. Seus requisitos são: (i) ações reiteradas sobre a mesma questão jurídica; (ii) sentença de total improcedência.
Ao juiz proferir sentença de mérito dispensando a citação do réu, não viola o princípio do contraditório? O professor entende que não há violação, pois o réu não sofre nenhum prejuízo, uma vez que a aplicação desse artigo requer sentença de total improcedência (não há sequer necessidade de contratar advogado).
Atenção: o CPC 2015 mantém a possibilidade de julgamento de improcedência de plano ampliando as hipóteses.
Pergunta: haverá mudança relevante no princípio do contraditório no CPC de 2015? Não. O porvindouro diploma processual apenas reforça a observância do princípio do contraditório (ex.: haverá disposição legal expressa que versará sobre o uso da prova emprestada, desde que haja observância do contraditório).
Atenção: o CPC 2015 torna expressa a regra de que juízes e tribunais não podem proferir nenhuma decisão com base em fundamento sobre o qual as partes não tiverem a oportunidade de se manifestar, ainda que cognoscível de ofício.
3 e 4. Princípio da demanda e princípio dispositivo
O princípio da demanda estabelece que com relação à iniciativa de propositura da ação, o judiciário é inerte, isto é, não compete ao judiciário dar início às demandas (processos) de ofício. A iniciativa é do prejudicado, da parte.
Portanto, dando a parte início ao processo, este se desenvolverá por impulso oficial.
Há, porém, exceções nas quais o juiz inicia o processo sem provocação (de ofício). São elas: (i) inventário e (ii) arrecadação de bens do ausente.
No que tange ao princípio dispositivo, na maioria dos processos cíveis a questão é de interesse disponível. Assim, as partes envolvidas podem dispor do direito material (ex.: renunciar, transigir ou reconhecer o direito da parte contrária).
Desse modo, quando esse direito disponível é discutido no processo, surge a questão: a iniciativa das provas é só das partes envolvidas ou o juiz pode determinar de ofício a produção de provas visando o esclarecimento dos fatos, mesmo que não requerida pelas partes?
Ex.: acidente de trânsito - não se sabe de que maneira, mas os carros "A" e "B" colidem. Como o judiciário é inerte, cabem às partes moverem ação de reparação de danos. Se o autor pedir indenização deve imputar a culpa ao réu (ex.: quem atravessou no sinal vermelho foi o réu). Por sua vez, o réu imputará ao autor a causa do evento. Imagine então que o juiz dê sequência à produção de provas. Cada parte arrola duas testemunhas. Primeiro as testemunhas do autor e depois as do réu. As duas testemunhas do autor afirma que quem violou a regra foi o réu. Ao passo que as testemunhas do réu declaram que quem deu causa ao evento foi o autor. De tal maneira que ao término da audiência não se sabe o que aconteceu. Nesse caso, como o juiz deve proceder?
O direito romano solucionava tais questões duvidosas preconizando que o juiz deveria proferir uma sentença non liquet (sem julgamento).
Contudo, atualmente, nosso CPC previu essa possibilidade de dúvida e o art. 333, CPC estabelece regras de julgamento quanto ao ônus da prova (esse dispositivo só deve ser aplicado nas circunstâncias de esgotamento das provas).
CPC, art. 333. O ônus da prova incumbe:
- ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
- ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
Assim, aplicando o art. 333 na ação de indenização (responsabilidade subjetiva), o ônus é do autor em provar seus fatos constitutivos (como ele não provou, resultará em sentença de improcedência).
Obs.: imagine que fosse um carro e um ônibus municipal, de tal forma que a ação seja contra a empresa. As empresas de ônibus respondem pelos seus atos de maneira objetiva e, portanto, cabe a ela alegar somente culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior.
Agora imagine que o juiz ao ler atentamente os autos constata que no semáforo havia fiscalização fotográfica. Suponha que o magistrado oficie ao órgão responsável, conquanto as partes não tenham requerido este meio de prova. O juiz pode de ofício na esfera civil e versando sobre interesses disponíveis requerer provas? - próxima aula.
JURISPRUDÊNCIA
AgRg no REsp 1189573 / AM
Relator (a) Ministra ASSUSETE MAGALHÃES
Órgão Julgador - T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento - 04/11/2014
Data da Publicação/Fonte - DJe 14/11/2014
Ementa
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II, DO CPC. ALEGADA OMISSÃO INEXISTENTE. SERVIDOR PÚBLICO INATIVO. EXTENSÃO DE BENEFÍCIO CONCEDIDO A SERVIDOR ATIVO. SERVIDOR APOSENTADO ANTES DA EMENDA CONSTITUCIONAL 41/2003. ACÓRDÃO COM
FUNDAMENTO EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ELEITA. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.Não há omissão no acórdão recorrido, quando o Tribunal de origem pronuncia-se, de forma clara e precisa, sobre a questão posta nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a decisão. Ademais, o Magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte. Nesse sentido: STJ, REsp 739.711/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJU de 14/12/2006.
Hipótese em que o acórdão de origem decidiu, com fundamento eminentemente constitucional, que o impetrante, servidor público municipal inativo, faria jus ao reajustamento de seus proventos na forma do art. 40, § 8°, da Constituição Federal, na redação anterior à Emenda Constitucional 41/2003, porquanto sua inativação ocorreu anteriormente à EC 41/2003, encontrando-se protegido pelo direito adquirido, na forma dos arts. 7° da referida EC 41/2003 e 2° da EC 47/2005.
Nos termos da jurisprudência desta Corte, "ainda que o acórdão a quo tenha citado a Legislação infraconstitucional, a matéria foi solucionada sob fundamento eminentemente constitucional, erigindo o princípio da isonomia para estender aos inativos as aludidas gratificações, motivo pelo qual refoge a esta Corte competência para o exame da lei federal tida como violada" (STJ, AgRg no AREsp 438.532/RN, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe de 1°/04/2014). No mesmo sentido: STJ, AgRg no REsp 1.156.133/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, DJe de 20/06/2014; AgRg no AREsp 423.193/PB, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de 10/12/2013.
Agravo Regimental improvido.
QUESTÃO
FCC - 2014 - DPE-PB - Defensor Público
Quanto aos atos processuais, é correto afirmar:
O prazo para sua prática é contínuo, seja estabelecido pela lei ou pelo juiz, mas é interrompido nos feriados.
Pelo princípio da publicidade dos atos processuais, bem como do direito à informação, não pode haver atualmente nenhum processo que corra em segredo de justiça.
Acolheu-se entre nós o principio da liberdade das formas, considerando-se como válidos os atos processuais que, realizados de modo diverso, lhe preencham a finalidade essencial, salvo se dependerem de forma determinada expressamente exigida por lei.
A superveniência de férias interromperá o curso do prazo para a prática dos atos processuais.
Podem as partes, de comum acordo, reduzir ou prorrogar prazos processuais de qualquer natureza.
Resposta: alternativa "c"
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Disciplina: Direito Processual Civil Professor: Marcus Vinícius Aulas: 05 e 06 | Data: 19/02/2015
ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
TEORIA GERAL DO PROCESSO - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 3 e 4. Princípio da demanda e princípio dispositivo
Princípio da imparcialidade do juiz
Princípio da oralidade
Imediação 3 e 4. Princípio da demanda e princípio dispositivo
No exemplo da colisão entre "A" e "B", sabemos que nas ações que versem sobre acidente de trânsito, o procedimento a ser observado é sumário. Assim, quando o réu contestar, além dele se defender, pode formular pedido contraposto. Desse modo, imagine que ambas as partes formulem questões uma contra a outra e, ao final, igualmente não se chegue a uma conclusão. Portanto, no pedido principal de "A" contra "B", a sentença será de improcedência, bem como no pedido de "B" contra "A", a sentença também será de improcedência. Como resolver esse impasse? Solução: cada uma das partes arca com seu prejuízo.
Agora imagine que o juiz ao ler atentamente os autos constata que no semáforo havia fiscalização fotográfica. Suponha que o magistrado oficie ao órgão responsável, conquanto as partes não tenham requerido este meio de prova. O juiz pode de ofício na esfera civil e versando sobre interesses disponíveis requerer provas? Sim, nos termos do art. 130, CPC (poder-dever do juiz).
CPC, art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias
Ademais, no CPC também se aplica a verdade real, e não somente a verdade formal.
Observa-se que caso o juiz ordene produção de provas de ofício, tal comportamento não infringe o princípio da imparcialidade, uma vez que o escopo da norma é a justiça da decisão.Novo CPC de 2015
No sistema atual, vigora o princípio dispositivo, que permite as partes dispor do direito discutido, mas não permite dispor sobre o andamento do processo (modificar o procedimento).
Porém, no novo CPC, existe um artigo que amplia a aplicação do princípio dispositivo, possibilitando as partes dispor tanto do direito material quanto processual ("versando a causa sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-las as especificidades da causa").
5. Princípio da imparcialidade do juiz
O juiz deve ser equidistante dos litigantes, a fim de garantir que o julgamento seja justo (art. 134 e 135, CPC).
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Para o magistrado ser imparcial, não pode gerar para a parte possibilidade de escolher o juiz da sua causa - o juiz competente para a causa é aquele apurado de acordo com regras previamente estabelecidas no ordenamento jurídico.
Qual nome se dá ao juiz competente identificável por regras previamente existentes? É o JUIZ NATURAL.
Assim, NÃO se admite a criação de juízos supervenientes para julgamento de fatos pretéritos, os chamados juízos ou tribunais de exceção.
Pergunta: qual o Tribunal de exceção mais famoso para julgar crimes nazistas? Tribunal de Nuremberg.
Qual a dimensão do juiz natural?
Nos meados dos anos 90, quando um militar no exercício de suas atividades matava um civil, não era julgado pela justiça comum, mas pela militar. Há muitos anos tal regra era criticada pelo fundamento de corporativismo.
Ocorre, porém, que em 94/95 sobreveio uma lei nova alterando a competência dessa matéria, regulando a justiça comum (Tribunal do Júri) como a competente para a sobredita situação.
Observe que antes do advento da nova lei, a competência era da justiça militar. Sobrevindo a nova lei, passou a ser da competência do Tribunal do Júri.
Assim, toda vez que uma lei entra em vigor, essa lei encontra três tipos de processo: a) processos que ainda não começaram (serão regidos pela nova lei); b) processos concluídos (regidos pela antiga lei); c) processos em curso.
Sabemos que os fatos praticados antes da nova lei foram denunciados perante a justiça militar (processos ainda não concluídos). O que fazer com processos em curso? São mantidos perante a justiça militar? São remetidos para a justiça comum?
Os militares pediam para o processo continuar no juízo militar, sob fundamento do juiz natural. Por outro lado, a opinião pública optava pela justiça comum, uma vez que a lei processual se aplica imediatamente.
O STF decidiu que os processo que não foram sentenciados deveriam ser remetidos para a justiça comum, aplicando desde logo a lei superveniente.
Essa decisão não afronta o juiz natural?
O STF posicionou-se na seguinte premissa: o crime aconteceu antes da lei nova (e o princípio do juiz natural obriga a aplicação das normas antecedentes). Assim, em sintonia com o princípio do juiz natural, deve-se aplicar o art. 87, CPC que, conquanto esteja no diploma processual, é norma de teoria geral (de aplicação genérica), bem como esse dispositivo processual é de 1973 (se o crime fosse antes de 73 estaria prescrito) e, portanto, antes do cometimento do crime (1995).
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CPC, art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o
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órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matériaou
da hierarquia.
O art. 87 tem três partes:
a competência para o processamento e julgamento da ação é determinada no momento da propositura da ação (princípio da perpetuatio jurisdictionis);
são irrelevantes as alterações de fato e de direito supervenientes (princípio da perpetuatio jurisdictionis);
exceções a perpetuatio jurisdictionis: salvo se alterarem a competência em razão de matéria ou hierarquia.
Esse raciocínio fez jurisprudência em mais dois casos.
Antes de 1996, quando duas pessoas não se casavam, mas estabeleciam união estável, não havia regulamentação. Disso resultava que a competência não era da vara da família, mas da vara civil. Em 96, a união estável adquiriu status de família, passando ser competente a vara de família.
Outro caso era referente aos acidentes de trabalho (ação indenizatória). Até 2004, as ações versando sobre direito de trabalho do empregado contra empregador era competente a vara cível. Com o advento da EC/45, a competência passou a ser da justiça do Trabalho.
A Constituição outorgada de 1967, alterada pela EC 1/69, se referia ao princípio do juiz natural. Mas, ao compararmos a redação dela (ninguém será sentenciado senão pelo juiz competente) com a redação da CF atual (ninguém será processado ou sentenciado senão pelo juiz competente), vemos que houve alteração.
Os processualistas, devido a esta alteração, dizem que surgiu o princípio do promotor natural.
O Juiz Natural visa garantir a imparcialidade do julgamento. E qual a ratio do promotor natural? Visa assegurar a imparcialidade do promotor? Obviamente que não.
Em uma pequena cidade do interior, ocorreu um crime em que um filho de um usineiro foi sequestrado.
O promotor natural do caso era o promotor da cidade do interior, mas como o crime teve uma repercussão nacional, o PGJ designou uma equipe de promotores da capital para processar especificamente esse crime, afastando o promotor competente.
Assim, como esse fato se desencadeou no momento da formação da constituinte (assembleia nacional), os parlamentares optaram pela inclusão da expressão "processado" na CF 1988.
Os processualistas, então, entendem que esse princípio visa limitar os poderes do PGJ, impedindo que ele afaste os promotores competentes, causando desprestígio à instituição.
Até hoje existe controvérsia sobre a adoção do princípio do promotor natural. O STF, nos acórdãos mais recentes, vem seguindo a tendência de acolhimento do princípio do promotor natural.
ATENÇÃO: para o concurso do MP, recomenda-se sustentar a tese pelo acolhimento do promotor natural.
6. Princípio da oralidade
Hoje em dia, oralidade não significa que o processo se rege pela forma oral, mas sim que está relacionado à colheita de provas.
Existem dois sistemas de colheita de prova: o sistema francês e o sistema alemão.
O sistema francês parte do pressuposto de que o juiz que colhe a prova fica tão envolvido com a causa, que acaba por resultar na ausência da imparcialidade para julgamento. Na França há dois juízes - o juiz de instrução (mais novo), que colhe a prova, e o juiz de sentença (que julga).
No extremo oposto, o sistema alemão diz que o juiz mais habilitado a julgar é aquele que colheu a prova, pois, colhendo-a, pode perceber certas situações (ex.: titubear da testemunha). Portanto, para este sistema há uma vinculação entre o ato de colher prova e o ato de julgar.
Com efeito, nós adotamos o SISTEMA ALEMÃO de colheita de provas (sistema da oralidade).
Portanto, oralidade significa que o juiz do processo deve estar o mais próximo possível da colheita de prova.
Deste princípio em tela, decorrem quatro subprincípios:
Imediação
Cabe ao juiz colher a prova de forma direta, sem intermediários. Exceção: carta precatória ou carta rogatória.
Identidade física do juiz (art. 132, CPC)
Segundo esse subprincípio, o juiz (titular ou substituto) que concluir a audiência de instrução e julgamento deve julgar o processo.
CPC, art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.
Contudo, este artigo tem uma deficiência de redação (não basta concluir a audiência).
Isso porque, a melhor hermenêutica é a de que o juiz que colher a prova oral (oitiva de testemunha ou
depoimento oral), em audiência, deve julgar o processo.
Ao estabelecer que o juiz fica vinculado aos autos, traduz a ideia de que mesmo sendo transferido de vara ou
comarca, este magistrado deve sentenciar o feito.
Vejamos um exemplo prático.
Imagine que foram arroladas duas testemunhas para determinada audiência, mas somente uma comparece.
Pergunta: ouve somente a que compareceu ou ouve ambas em outro momento?
A primeira providência a ser tomada é perguntar para aquele que arrolou a testemunha ausente se vai insistir na oitiva dela. Caso desista, ouve-se a testemunha que compareceu.
No entanto, se houver insistência na oitiva da testemunha faltante, deve-se adiar a audiência e marcar data futura para ouvir as duas em conjunto. Assim deve proceder por duas razões:
se já for ouvida a testemunha que compareceu, o juiz substituto já está vinculado (vai ter que voltar para ouvir a segunda testemunha).
menor probabilidade de violação da regra que diz que uma testemunha não pode tomar conhecimento do depoimento da outra (cisão da prova).
Obs.: alguns juízes poderiam utilizar esse princípio com finalidade obscura. Imagine um processo complexo que está em fase de oitiva de testemunha. O juiz, muito "audacioso", marca suas férias no período em que designou a audiência de instrução, o que resultará na vinculação do juiz substituto.
Ademais, o mesmo art. 132 estabelece algumas circunstâncias que desvinculam o juiz (rol taxativo):
- convocado: é aquele temporariamente afastado de suas funções jurisdicionais para auxiliar os órgãos de direção do Tribunal. Ex.: juiz assessor do Presidente do TJ.
- licenciado: o entendimento predominante é que só se desvincula caso a licença for por um tempo considerável. Ex.: licença maternidade (seis meses) desvincula, mas licença paternidade não (5 dias).
- afastado: é aquele juiz posto em disponibilidade.
Obs.: Férias desvincula o juiz? O entendimento predominante que FÉRIAS não é instrumento hábil para desvincular o magistrado do feito. Contudo, segundo o Min. Lewandowsky, férias se equipara ao afastamento do juiz.
- promovido: promoção na carreira.
- aposentado: curiosamente, no CPC de 1939, a aposentadoria não desvinculava o juiz.
Pergunta: o que ocorre se há um juiz vinculado e a causa for sentenciada por outro magistrado? Há NULIDADE RELATIVA da sentença, devendo ser alegada pelo prejudicado na primeira oportunidade (apelação), sob pena de preclusão (não é cognoscível de ofício e não enseja ação rescisória).
Concentração e 6.4 Irrecorribilidade em separado das interlocutórias - próxima aula.
JURISPRUDÊNCIA
REsp 1376460 / RS
Relator (a) Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
Órgão Julgador - T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento - 23/09/2014
Data da Publicação/Fonte - DJe 30/09/2014
Ementa
RESPONSABILIDADE CIVIL. ESCOLA MATERNAL PARTICULAR. FALECIMENTO DE MENOR POR ASFIXIA MECÂNICA PROVENIENTE DE ASPIRAÇÃO DE ALIMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RECURSO ESPECIAL DOS AUTORES. 1. ALEGAÇÃO DE SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. 2. COMPENSAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA. SÚMULA 306/STJ. EXIGÊNCIA DO SALDO REMANESCENTE APÓS A COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. RECURSOS ESPECIAIS DAS RÉS. 3. OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. 4. PRESTADOR DE SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ARTS. 14 DO CDC E 933 DO CC. 5. ALEGAÇÃO DE INADEQUADA VALORAÇÃO DE PROVA QUANTO AO NEXO CAUSAL E À CULPA DAS RÉS. REEXAME DE CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICO-PROBATÓRIAS. DESCABIMENTO. SÚMULA 7/STJ. 6. REDUÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. IMPOSSIBILIDADE. 7. PENSIONAMENTO AOS PAIS. CABIMENTO. 8. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOSDOS ADVOGADOS DOS RÉUS. FALTA DE INTERESSE RECURSAL.
A despeito da interposição de embargos de declaração, a alegação quanto à necessidade da redistribuição dos ônus sucumbenciais ante a sucumbência mínima dos autores não foi enfrentada pelo Colegiado estadual, ressentindo-se o recurso especial, no ponto, do indispensável prequestionamento (Súmula 211/STJ).
Restando vencedores em maior parte do pedido, cabe aos autores o saldo remanescente da verba honorária, após a compensação (Súmula 306/STJ).
A remoção para outra comarca do juiz que instruiu o feito é motivo legítimo para que a causa seja sentenciada por outro magistrado, sem que isso represente ofensa ao princípio da identidade física do julgador.
No caso, o serviço prestado pela escola maternal foi defeituoso, a qual tem o dever de zelar pela segurança das crianças no período em que estão sob seus cuidados, de modo que, frustrada essa expectativa, deve a instituição responder objetivamente pelos danos ocorridos, em consonância com o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor e 933 do Código Civil, sendo prescindível perquirir acerca da existência da culpa.
Embora fosse desnecessário enfrentar a questão sob a ótica da responsabilidade subjetiva, concluiu o Tribunal de origem, ao interpretar as provas produzidas no processo, pela existência de conduta negligente por parte dos prepostos da escola, estabelecendo o seu nexo causal com a morte do menor, por asfixia mecânica proveniente de aspiração de alimento, quando ele contava com apenas 5 meses de vida, não podendo tais questões serem reexaminadas em âmbito de recurso especial, ante o óbice da Súmula n. 7 desta Corte.
É possível a intervenção deste Superior Tribunal para reduzir ou aumentar o valor indenizatório do dano moral apenas nos casos em que o quantum arbitrado pelo acórdão recorrido se mostrar irrisório ou exorbitante, situação que não se faz presente no caso em tela, diante da sua fixação em R$ 200.000,00.
Segundo a jurisprudência deste Tribunal, em se tratando de família de baixa renda, é devido aos pais o pensionamento pela morte de filho menor, equivalente a 2/3 do salário mínimo desde os 14 até os 25 anos de idade e, a partir daí, reduzida para 1/3 do salário até a data em que a vítima completaria 65 anos.
Como consequência do provimento parcial da apelação dos autores pelo Tribunal local, restou configurada a procedência integral do pedido inicial, razão pela qual as rés não têm interesse recursal na pretensão de elevação da verba honorária fixada em seu favor na sentença que posteriormente veio a ser reformada.
Recursos especiais das rés improvidos, e provido, parcialmente, o dos autores.
QUESTÃO
FCC - 2014 - TRT - 24§ REGIÃO (MS) - Juiz do Trabalho Substituto
"O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte"; "O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide,
salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos a seu sucessor". Esses dois enunciados referem-se, respectivamente, aos princípios: a) da obrigatoriedade da jurisdição e da identidade física do juiz b) da eventualidade e da vinculação compulsória do juiz à causa.
da adstrição e da vinculação obrigatória do juiz à causa.
da adstrição ou congruência e da identidade física do juiz.
da obrigatoriedade da jurisdição e da eventualidade jurisdicional.
Resposta: alternativa "d"
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Disciplina: Direito Processual Civil Professor: Marcus Vinícius Aulas: 07 e 08 | Data: 25/02/2015
ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
TEORIA GERAL DO PROCESSO - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Princípio da oralidade
Concentração
Irrecorribilidade em separado das interlocutórias
Princípio do duplo grau de jurisdição
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Jurisdição
Ação
Concentração
Em regra, a audiência de instrução (colheita de provas) é UNA e INDIVISÍVEL.
Contudo, é possível que a audiência não possa ser concluída no mesmo dia. Nesse caso, admite-se que o juiz marque uma data subsequente para continuá-la (esta data subsequente é apenas uma continuação, e não uma segunda audiência). Ex.: "designo a continuação da audiência para o dia x".
Por que esse princípio é decorrência da oralidade? A audiência concentrada permite que a colheita de prova seja mais próxima do juiz, possibilitando melhor sua compreensão.
Irrecorribilidade em separado das interlocutórias
O recurso de agravo contra as decisões interlocutórias NÃO tem efeito suspensivo.
Em que medida esse princípio favorece a oralidade?
Sabemos que o princípio da oralidade preconiza que o juiz deve estar o mais próximo possível da colheita de provas. Assim, se eventuais recursos tivessem efeito suspensivo, o processo ficaria paralisado e o tempo entre colheita de prova e o julgamento seriam prolongados, o que deturparia o objetivo do princípio.Novo CPC
Continua adotando o sistema alemão, porém, com algumas mudanças:
o princípio da imediação será mitigado, pois atribuirá ao advogado a possibilidade de questionar diretamente a testemunha (no atual CPC, o juiz faz a intermediação entre advogado e testemunha).
torna de fato, em regra, irrecorríveis as decisões interlocutórias: porque acaba no novo CPC o recurso de agravo retido (não acaba, porém, o agravo de instrumento). O agravo de instrumento caberá contra decisões expressamente previstas num determinado rol limitado, sob pena de preclusão; ao passo que as decisões irrecorríveis não estão sujeitas à preclusão (havendo razões de apelação ou contrarrazões de apelação, possibilita-se reapresentar as insatisfações ao Tribunal que não puderam ser apreciadas em virtude das matérias atinentes às decisões interlocutórias irrecorríveis durante o processo).
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7. Princípio do duplo grau de jurisdição
Este princípio NÃO é expressamente previsto no nosso ordenamento.
Com efeito, a noção deste princípio é implícita na CF, uma vez que ela cria juízos e tribunais para examinar recursos contra as decisões dos juízos (regra).
Em razão dessa regra não ser expressa, nosso ordenamento admite hipóteses (exceções) em que não há o duplo grau. São exemplos:
Ex1.: ações de competência originária do STF;
Ex2.: embargos infringentes da Lei de Execução Fiscal: contra a sentença do juiz não cabe apelação, mas embargos infringentes AO PRÓPRIO juiz que prolatou a sentença.
Por fim, o STF NÃO declarou a inconstitucionalidade dos embargos infringentes na execução fiscal em razão dessa falta de previsão expressa do princípio do duplo grau.
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Processo Civil foi desenvolvido em torno de quatro institutos:
- JURISDIÇÃO;
- AÇÃO;
- EXCEÇÃO OU DEFESA;
- PROCESSO.
No século XIX, o processo civil surge a partir da ideia que os conflitos NÃO devem ser resolvidos pelos próprios indivíduos, sob pena de resultados parciais e que, portanto, a melhor solução é levá-los ao poder judiciário (JURISDIÇÃO). Ocorre, porém, que a jurisdição é inerte, necessitando assim ser provocada pelo interessado por meio da AÇÃO. Nesse sentido, como todo conflito de interesses pressupõe duas pessoas (ataque e contra- ataque), surgiu a ideia da defesa (EXCEÇÃO). Por fim, para que o juiz possa dizer o direito é preciso observar uma série de atos sucessivos, que ocorre por meio do PROCESSO.
Jurisdição
O que separa a jurisdição das demais funções do Estado são duas características:
substitutividade: o Estado substitui as partes na solução dos conflitos para que esta solução seja imparcial.
definitividade: somente as decisões judiciais se tornam, a partir de certo momento, imutáveis, pois se revestem da coisa julgada material.
Ação
Sendo o Processo Civil uma ciência relativamente nova, há ainda muitas palavras equívocas (com mais de umsignificado) - e "ação" é um exemplo de palavra equívoca.
Com efeito, ação em sentido amplo é o direito de obter uma resposta fundamentada do Poder Judiciário para todos os requerimentos a ele dirigidos. Nesse sentido amplo, o direito de ação é ABSOLUTO / INCONDICIONADO, ou seja, mesmo não sendo preenchidas as condições da ação, deve haver alguma resposta fundamentada do Judiciário.
Assim, podemos distingui-las em ação em sentido amplo (ação em nível constitucional) e ação em sentido estrito (ação em nível processual).
Por outro lado, ação em sentido estrito pode ser agrupada em três categorias:Obs.: no século XIX, prevalecia a TEORIA IMANENTISTA: ação e direito material eram categorias que se imiscuíam (processo civil e direito material eram conjugados).
TEORIA CONCRETISTA
Só há ação quando houver ao final uma sentença de procedência. Assim, se a sentença for de improcedência ou de extinção sem julgamento do mérito NÃO há ação -"só tem ação que tem razão".
TEORIA ABSTRATISTA PURA
Haverá ação em sentido estrito qualquer que seja o resultado.
Caso fosse acolhida essa teoria, desapareceria a diferença entre ação em sentido amplo e ação em sentido estrito.
ATENÇÃO: as teorias anteriores estão superadas.
TEORIA ABSTRATISTA ECLÉTICA (teoria adotada)
É interessante saber que o grande defensor dessa teoria foi o jurista italiano Tulio Liebman, que nasceu no século XX.
Nos idos de 1930, Liebman começa a passar dificuldades em seu país, pois passou a ser perseguido pelo então "imperador" Mussolini. Tal fato desencadeou sua fuga para o Brasil, vindo a residir na cidade de São Paulo.
Na USP, formou um grupo de estudo. Aqui no Brasil, o processo civil ainda era incipiente. Naturalmente se agruparam novas "cabeças" como Amaral Santos, Frederico Marques, Alfredo Buzzaid e Cândido Dinamarco.
A influência desse processualista italiano no ordenamento jurídico pátrio é substancial. Isso se deve, pois é ele o autor da TEORIA ABSTRATISTA ECLÉTICA.
Esta teoria preconiza que há ação quando houver o direito a uma resposta de mérito.
Mas o que é mérito? Mérito é o mesmo que pedido (pretensão formulada em juízo). Ex.: sentença de mérito (o juiz apreciou o pedido).
Nesse sentido, as sentenças de procedência e de improcedência são sentenças de mérito. Em ambos os casos há o exercício do direito de ação.
No entanto, quando o juiz extingue o processo sem julgamento de mérito, não há o direito de ação em sentido estrito.
Porque essa teoria é chamada de abstratista?
Sabemos que a teoria concretista adverte a existência de ação, desde que resulte em sentença de procedência.
Em oposição, a teoria abstratista não condiciona a existência da ação à efetiva existência do direito material (em uma sentença de improcedência há ação, mas não o direito).
Por que essa teoria é chamada de eclética?
Denomina-se eclética, porque essa teoria é intermediária entre a concretista e a abstrativista pura (é o meio termo).
Com efeito, para se ter direito a uma resposta de mérito, deve haver o preenchimento de determinadas condições da ação. Assim, quem não preenche as condições é chamado de CARECEDOR DE AÇÃO, pois não terá resposta de mérito.
Portanto, não é correto dizer que o "juiz extinguiu a ação sem julgamento de mérito", pois nesses casos nem há ação (não apreciou o mérito) - correto: "o juiz extinguiu o processo sem julgamento de mérito".
Também não é tecnicamente certo dizer "irei propor uma ação". Pelo sistema brasileiro, só temos certeza absoluta de que temos o direito de ação, desde que ao final o juiz analise o mérito (até então a demanda poderia ser extinta sem julgamento do mérito). Desse modo, o correto é dizer "irei propor uma demanda", que é sinônimo de petição inicial.
Pergunta-se: é possível haver ação sem processo? Não. Não tem como o juiz dar uma resposta de mérito sem um processo.
Mas é possível haver processo sem ação? Sim. Pode haver um processo em que o juiz verifique não haver direito a uma resposta de mérito.
Portanto, não havendo o preenchimento das condições da ação, não há resolução de mérito, portanto não há ação.
Superada essas questões, passemos a outra.
Sabemos que existem três tipos de processos no nosso ordenamento. A cada tipo de processo, corresponde a uma atividade do juiz. São eles:
processo de conhecimento: é aquele que serve para o juiz dizer quem tem o direito.
processo de execução: já se sabe quem tem razão (é aquele munido de título executivo), mas o adversário não satisfaz o direito do exequente. Portanto, nesse processo o juiz deve satisfazer o direito do credor.
c) processos cautelares: serve para proteger os outros dois processos acima (é processo acessório).
Alguns críticos de Liebman perguntaram: como ficaria a tese da teoria abstrativista eclética na seara das execuções? Há resposta de mérito na execução? - próxima aula.
JURISPRUDÊNCIA
REsp 1300505 / PA
Relator (a) Ministro ARI PARGENDLER (1104)
Órgão Julgador - T1 - PRIMEIRA TURMA
Data do Julgamento - 21/08/2014
Data da Publicação/Fonte - DJe 01/09/2014
Ementa
PROCESSO CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. SENTENÇA ILÍQUIDA. A sentençailíquida proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município e as respectivas autarquias e fundações de direito público está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; a exceção contemplada no § 2° do art. 475 do Código de Processo Civil supõe, primeiro, que a condenação ou o direito controvertido tenham valor certo e, segundo, que o respectivo montante não exceda de 60 (sessenta) salários mínimos. Recurso especial provido.
QUESTÃO
FCC - 2014 - DPE-PB - Defensor Público Em relação à ação, é correto afirmar:
Os elementos da ação são as partes, o pedido e a causa de pedir, servindo para identificá-la e não se confundindo com suas condições.
Se os elementos da ação forem idênticos, ter-se-á a configuração de continência ou conexão, conforme a natureza da demanda.
Se os elementos da ação forem semelhantes, ter-se-á a caracterização de litispendência ou coisa julgada.
O direito de ação em sentido estrito é incondicionado, por decorrer do direito de acesso à justiça.
As condições da ação constituem matéria de ordem pública e, assim, devem ser arguidas pela parte, não podendo ser reconhecidas de ofício pelo juiz.
Resposta: alternativa "a"
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Disciplina: Direito Processual Civil Professor: Marcus Vinícius Aulas: 09 e 10 | Data: 26/02/2015
ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Ação
Condições da ação
Legitimidade "ad causam"
Possibilidade jurídica do pedido
Interesse de agir
Alguns críticos de Liebman perguntaram: como ficaria a tese da teoria abstratista eclética na seara das execuções? Há resposta de mérito na execução? Sim, pois há pedido no processo de execução.
De modo comparativo, veja que no processo de conhecimento o juiz diz o direito através da sentença de mérito. Por outro lado, no processo de execução já há a certeza do direito, entretanto, pede-se que o juiz faça (satisfaça) - isso ocorre por meio da prática de atos satisfativos (penhora, arresto, hasta pública etc).
Portanto, a resposta de Liebman é a seguinte: não devemos confundir.
Isso porque, a teoria abstratista eclética diz que há ação sempre que houver direito a uma resposta de mérito, que é gênero(inclui sentenças e atos concretos), direito este mais abrangente que uma sentença de mérito (espécie de resposta no processo de conhecimento). Portanto, no processo de execução há mérito sob a forma de atos concretos, em que pese NÃO se tenha sentença de mérito (própria do processo de conhecimento).
Condições da ação
São determinados requisitos que devem ser preenchidos para que o autor obtenha uma ação.
O preenchimento ou não das condições da ação é MATÉRIADE ORDEM PÚBLICA, cabendo ao juiz de ofício examiná-las.
No atual CPC prevalece o sistema tríplice das condições da ação: (i) legitimidade ad causam; (ii) possibilidade jurídica do pedido e (iii) interesse de agir.
Essas condições devem ser preenchidas para que ao final haja uma resposta de mérito.
Quem sustentou as condições da ação foi Liebman. Ocorre, todavia, que no fim da sua vida, ele escreveu um livro sustentando que essas condições da ação poderiam ser resumidas em duas: legitimidade e interesse de agir (a possiblidade jurídica poderia ser absorvida pelo interesse de agir).Novo CPC
No novo CPC, as condições da ação serão apenas duas: legitimidade e interesse de agir (não se fala mais em possibilidade jurídica do pedido).
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CARREIRAS JURÍDICAS
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Legitimidade "ad causam"
Consiste na assertiva de que ninguém pode em nome próprio postular ou defender direito alheio (as partes somente podem ir a juízo para defender direito próprio). Todavia, há exceções expressamente previstas para esta regra.
Considerando as exceções, temos dois tipos de legitimidade:
Legitimidade ordinária: defesa dos próprios interesses (regra).
Legitimidade extraordinária ou substituição processual: defesa de interesses alheios (exceção).
Ex: no caso da ação de alimentos, a mãe NÃO tem legitimidade extraordinária em relação ao filho, que é apenas representado ou assistido. Portanto, quem figura no polo ativo é o filho (é caso de legitimidade ordinária).
Na legitimidade ordinária, há coincidência entre aquele que é parte e titular do direito, simultaneamente.
Por outro lado, no campo da legitimidade extraordinária haverá uma dissociação entre aquele que figura como parte e o titular do direito: existe a figura do sujeito que atua como parte, mas não é o titular do direito (chamado de substituto); e existe a figura do sujeito que é o titular do direito discutido, mas não figura como parte no processo (chamado de substituído).
No campo da legitimidade ordinária, quando proferida a sentença de mérito e não couber mais recurso, a coisa julgada só atinge as partes (é a regra).
Ao revés, no campo da legitimidade extraordinária, há um sujeito que não é parte, mas é atingido pela coisa julgada material (substituído) - isso é natural, pois é ele que será afetado pelo resultado.
Portanto, podemos afirmar que a coisa julgada material atinge tanto o substituto como o substituído, além da parte adversa.
Quando do estudo da intervenção de terceiros, haverá a análise da assistência.
Na assistência litisconsorcial, o assistente litisconsorcial (substituído) ingressa num processo que não é parte, mas pode ser atingido pela coisa julgada material (assim, a assistência litisconsorcial só existe no campo da legitimidade extraordinária).
Quais são as hipóteses de legitimidade extraordinária?
Ex1.: No começo do século XX, havia um regime de bens que era o regime dotal - na idade de casar, abria-se a casa para eventuais pretendentes para a filha. Quando não aparecia nenhum interessado, oferecia-se um dote, que era um conjunto de bens instituído em favor da mulher (proprietária do dote), mas o marido, em nome próprio, realizava a administração e a defesa judicial dos bens. Era o típico caso de legitimidade extraordinária.
Assim, se os bens fossem esbulhados, o marido em nome próprio defenderia o direito dotal pertencente à mulher (legitimidade extraordinária). Em sendo essa sentença de mérito, e não cabendo mais recurso, a coisa julgada
atingiria o marido e mulher. Caso a mulher quisesse participar do processo, poderia requerer seu ingresso na qualidade de ASSISTENTE LITISCONSORCIAL.
Ex2.: Imagine um bem com três proprietários ("A", "B" e "C") em condomínio, cada um com uma fração ideal de 1/3. Suponha que "D" invade o imóvel. O CC diz que qualquer condômino pode ir a juízo em defesa da coisa comum. Quando "A" propuser a reivindicatória sozinho, propõe só em face do seu 1/3 ou de todo o imóvel? De todo o imóvel. O CC autoriza alguém que tem apenas a terça parte de um bem proponha a ação defendendo o bem inteiro - portanto, "A" será legitimado ordinário em relação à sua parte e legitimado extraordinário em relação ao restante. Sendo "B" e "C" substituídos, os três são atingidos pela coisa julgada. Em contrapartida, se em qualquer momento "B" e "C" quiserem ingressar no processo podem fazê-lo, através da ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL.
Ex: Imagine que "A" e "B" estão em juízo disputando um bem em poder de "B". A coisa é litigiosa a partir da citação válida (art. 219, CPC). No curso do processo, quando a coisa ainda é litigiosa, aparece "C" querendo comprar o bem. É possível a venda do bem? É possível a alienação da coisa litigiosa? Sim. O art. 42 do CPC dispõe sobre a alienação da coisa litigiosa no sentido de que tal alienação NÃO altera a legitimidade entre as partes. Isso significa que mesmo que seja vendida a coisa litigiosa, o que é possível, a ação continuará correndo entre as partes originárias. Com efeito, o §1° permite que haja a substituição do alienante para o adquirente, mas é necessária a autorização do autor (o que dificilmente acontece). Desse modo, sendo possível a alienação de coisa litigiosa, havendo uma sentença procedente, como seria o procedimento? O §3° determina que a sentença proferida entre as partes originárias estende os seus efeitos ao adquirente. Logo, depois da venda, "B" permaneceu em juízo em nome próprio defendendo direito alheio (passou da figura de legitimado ordinário para a figura de legitimado extraordinário). Logo, sendo "C" um substituído, será atingido pela coisa julgada, podendo inclusive ingressar no processo na qualidade de ASSISTENTE LITISCONSORCIAL.
Pergunta-se: quando MP, pessoas jurídicas de direito público, Defensoria e associações manejam ACP na defesa de interesses coletivos, que tipo de legitimidade tem esses entes?
Predomina o entendimento de que a legitimidade desses entes é EXTRAORDINÁRIA (atuam no juízo em nome próprio defendendo direito alheio). Por quê? Razão pela qual quando propõem tais ações, fazem para defender interesse não da instituição impetrante, mas para a tutela de um interesse difuso e coletivo.
Possibilidade jurídica do pedido
Só é possível ter resposta de mérito de uma pretensão, desde que ela não afronte o ordenamento, sob pena de extinção do processo sem julgamento de mérito por impossibilidade jurídica do pedido.
CUIDADO: a expressão "possibilidade jurídica do pedido" dá destaque ao pedido, como se somente ele tivesse que ser analisado. No entanto, o magistrado deve observar a causa de pedir, bem como as partes (ex.: o juiz lê só o pedido da petição inicial: "por isto posto, condene o réu a pagar 5 mil reais" - pedido juridicamente possível. Mas, lendo a causa de pedir, descobre-se que a dívida é oriunda de jogo de azar).
Conquanto essa condição chame "possibilidade jurídica do pedido", ela só pode ser examinada pela leitura completa da petição inicial. Portanto, para se verificar a possibilidade jurídica, devemos analisar os três elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido.
Interesse de agir
Tradicionalmente, a doutrina diz que o interesse de agir é composto pelo binômio: (i) necessidade e (ii) adequação. Portanto, faltará interesse de agir quando a propositura da ação for desnecessária ou inadequada.
necessidade
Ex.: credor de dívida vincenda: não há necessidade de intervenção do Judiciário, pois a dívida pode ser quitada até o seu vencimento. Porém, a partir do momento que devedor está em mora surge o interesse de agir.
adequação
Ex.: portador de um título executivo não pode entrar com uma ação monitória (deve promover uma execução).
Alguns autores ao decompor o interesse de agir mencionam um terceiro elemento: a utilidade*.
*c) utilidade: porém, para o professor, a utilidade não seria um terceiro elemento, pois esta é compreendida pelo elemento necessidade.
Superada a identificação das condições da ação. Vejamos a seguinte questão.
Questão: como o juiz da causa deve examinarse as condições da ação estão preenchidas?
Imagine uma ação de cobrança de "A" contra "B". Na petição inicial o autor descreve os fatos para formular o pedido (ação de cobrança em razão de prestação de serviço no valor de 5 mil reais). A petição inicial contém uma versão dos fatos que, no momento do seu ingresso, não se sabe se verdadeira ou não.
Assim, vamos chamar a primeira de versão de "abstrata", pois não passou pelo crivo probatório.
Pelo que consta na inicial estão preenchidas as condições da ação? Sim, pois as partes são legítimas, o pedido é possível (prestação de serviço) e há interesse de agir (inadimplemento).
Depois do "cite-se", o réu apresenta sua contestação, na qual pode confirmar a versão do autor ou impugná-la, apresentando outra versão (ex.: não é dívida de prestação de serviço, mas de jogo).
Desse modo, somente resta ao juiz realizar a produção de provas. Imagine que colhidas as provas, o juiz conclua que a dívida era de jogo.
O juiz deve julgar improcedente o pedido ou julgar extinto o processo sem julgamento de mérito pela impossibilidade jurídica do pedido?
Para dirimir essa dúvida, há teorias a respeito das condições da ação - próxima aula.
JURISPRUDÊNCIA
REsp 1268478 / RS
Relator (a) Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Órgão Julgador - T4 - QUARTA TURMA
Data do Julgamento - 18/12/2014
Data da Publicação/Fonte - DJe 03/02/2015
Ementa
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. CREDISCORE. INTERESSE DE AGIR. DEMONSTRAÇÃO DE QUE A RECUSA DE CRÉDITO SE DEU EM RAZÃO DA FERRAMENTA DE SCORING, ALÉM DO REQUERIMENTO NA INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL POR ESTE E A SUA NEGATIVA OU OMISSÃO.
A Segunda Seção do STJ no julgamento do REsp 1.419.697/RS, submetido ao regime dos recursos repetitivos definiu que no tocante ao sistema scoring de pontuação, "apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados considerados (histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas" (REsp 1419697/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/11/2014, DJe 17/11/2014).
Há interesse de agir para a exibição de documentos sempre que o autor pretender conhecer e fiscalizar documentos próprios ou comuns de seu interesse, notadamente referentes a sua pessoa e que estejam em poder de terceiro, sendo que "passou a ser relevante para a exibitória não mais a alegação de ser comum o documento, e sim a afirmação de ter o requerente interesse comum em seu conteúdo" (SILVA, Ovídio A. Batista da. Do processo cautelar. Rio de Janeiro: Forense, 2009, fl. 376).
Nessa perspectiva, vem a jurisprudência exigindo, em algumas circunstâncias, sob o aspecto da necessidade no interesse de agir, a imprescindibilidade de, ao menos, uma postura ativa do interessado em obter determinado direito (informação ou benefício), antes do ajuizamento da ação pretendida.
Com relação ao Crediscore, o interesse de agir na cautelar de exibição de documentos exige, no mínimo, que o requerente comprove que a recusa do crédito almejado se deu em razão da pontuação que lhe foi atribuída pela dita ferramenta de scoring. Somado a isso, deverá, ainda, demonstrar que houve requerimento ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo à instituição responsável pelo sistema de pontuação para permitir, inclusive, que o fornecedor exerça o seu dever de informação e, ao mesmo tempo, que o consumidor realize o controle dos dados considerados e as respectivas fontes para atribuição da nota (CDC, art. 43 e Lei n. 12.414/2011, art. 5°), podendo retificá-los ou restringi-los caso se tratem de informações sensíveis ou excessivas que venham a configurar abuso de direito.
No caso em apreço, o recorrente assinalou em sua inicial que, apesar de ter realizado requerimento ao serviço "fale conosco", não houve a disponibilização do extrato contendo a pontuação do consumidor. Assim, correto o entendimento do magistrado de piso que, em razão da falta de interesse de agir, extinguiu o feito sem julgamento do mérito, uma vez que, como visto, não é o mero fato de ser o Crediscore uma ferramenta probabilística para avaliação do risco de concessão de crédito que, por si só, enseja a cautelar exibitória de documentos, sem o preenchimento dos demais requisitos específicos para o ajuizamento da ação.
Recurso especial a que se nega provimento.
QUESTÃO
FCC - 2015 - TRT - Região (PE) - Juiz do Trabalho Substituto
Considerados os princípios fundamentais do processo civil,
não se admite a ação meramente declaratória quando já houver ocorrido a violação do direito, porque falta interesse de agir
para propor a ação é necessário ter interesse e legitimidade, porém isso não se exige para contestá-la.
quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará apenas anulável o ato se, realizado de outro modo, alcançar a finalidade.
quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.
salvo quando houver interesse de fato ou de direito, ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio.
Resposta: alternativa "d"
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Disciplina: Direito Processual Civil Professor: Marcus Vinícius Aulas: 11 e 12 | Data: 04/03/2015
ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Ação
Elementos da ação
Partes
Causa de pedir
Pedido
Superada a identificação das condições da ação, vejamos a seguinte questão.
Questão: como o juiz da causa deve examinar se as condições da ação estão preenchidas?
Imagine uma ação de cobrança de "A" contra "B". Na petição inicial o autor descreve os fatos para formular o pedido (ação de cobrança em razão de prestação de serviço no valor de 5 mil reais). A petição inicial contém uma versão dos fatos que, no momento do seu ingresso, não se sabe se verdadeira ou não.
Assim, vamos chamar a primeira de versão de "abstrata", pois não passou pelo crivo probatório.
Pelo que consta na inicial estão preenchidas as condições da ação? Sim, pois as partes são legítimas, o pedido é possível (prestação de serviço) e há interesse de agir (inadimplemento).
Depois do "cite-se", o réu apresenta sua contestação (na qual pode confirmar a versão do autor ou impugná-la) apresentando outra versão (ex.: não é dívida de prestação de serviço, mas de jogo).
Desse modo, somente resta ao juiz realizar a produção de provas. Imagine que colhidas as provas, o juiz conclua que a dívida era de jogo. Qual tipo de sentença será proferida?
juiz deve julgar improcedente o pedido ou julgar extinto o processo sem julgamento de mérito pela impossibilidade jurídica do pedido?
Para dirimir essa dúvida, há teorias a respeito das condições da ação.
- TEORIA DA ASSERÇÃO
Asserção significa "afirmação/alegação": as condições só podem ser verificadas em virtude do que é afirmado.
Essa teoria diz que o preenchimento ou não pode ser verificado ao longo de todo o processo. Ocorre que para examinar as condições, o juiz só pode levar em conta a versão abstrata, uma vez que aquilo que ficar provado de forma concreta diz respeito ao mérito. Essa teoria tem o intuito de separar as condições da ação e o mérito. As condições da ação somente são aferíveis em abstrato, pelo que é alegado.
Assim, para saber se estão preenchidas as condições no exemplo formulado, a versão alegada refere-se a serviços de prestação de serviço (as condições estão preenchidas). O provado em concreto é mérito (dívida de jogo). Logo, a sentença é de IMPROCEDÊNCIA.
Intensivo Modular Diurno CARREIRAS JURÍDICAS
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De acordo com essa teoria, serão raros os casos de carência de ação, porque para que ocorra carência, a falta de condição deveria ser verificada desde

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