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APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 2. Baixa ingestão de ferro: Dietas pobres (pouca carne ou vegetais ricos em ferro) Restrição alimentar 3. Aumento da demanda: Gravidez e crescimento rápido (crianças e adolescentes) 4. Má absorção intestinal: Doença celíaca Pós-gastrectomia Uso crônico de antiácidos Características no sangue: Hemácias pequenas e pálidas (microcítica, hipocrômica) b) Anemia megaloblástica (deficiência de B12 ou folato) Causa glóbulos vermelhos grandes e imaturos (megaloblastos) e alterações neurológicas no caso da B12. Causas da deficiência de vitamina B12: 1. Má absorção: Gastrite atrófica autoimune (anemia perniciosa – perda do fator intrínseco) Doença de Crohn Ressecções gástricas ou intestinais 2. Dieta restrita: Vegetarianos estritos Alcoolismo crônico Características no sangue: Hemácias grandes (macrocítica), alteração neurológica Causas da deficiência de ácido fólico (vitamina B9): 1. Baixa ingestão: Dieta pobre em vegetais crus 2. Aumento da demanda: Gravidez, lactação, crescimento 3. Má absorção intestinal: Doenças intestinais crônicas 4. Uso de medicamentos: Anticonvulsivantes, metotrexato, sulfassalazina Características no sangue: Hemácias grandes (macrocítica), sem sintomas neurológicos 3. FATORES DE RISCO Fatores comuns a todas as anemias carenciais: Dieta inadequada: pobre em ferro, B12 ou folato Baixo nível socioeconômico: dificuldade de acesso à alimentação rica em nutrientes Alcoolismo crônico: reduz a absorção e o uso de vitaminas S12P1: ANEMIAS CARENCIAIS Objetivos: Compreender a epidemiologia, etiologia das anemias carenciais; Entender os fatores de risco, fisiopatologia e as manifestações clínicas das anemias carenciais; Elucidar os tipos de anemias carenciais, complicações, e diagnóstico das anemias carenciais; Inferir o tratamento medicamentoso e não medicamentoso e a prevenção das anemias carenciais; ANEMIAS CARENCIAIS As anemias carenciais são aquelas causadas pela deficiência de nutrientes essenciais para a produção adequada de hemoglobina e de glóbulos vermelhos (hemácias), principalmente ferro, vitamina B12 e ácido fólico. 1. EPIDEMIOLOGIA Prevalência global: A anemia afeta cerca de 1,9 bilhão de pessoas no mundo. A anemia por deficiência de ferro (ferropriva) representa cerca de 50% dos casos globais de anemia. Mais prevalente em: Crianças menores de 5 anos Gestantes Mulheres em idade fértil (principalmente por perdas menstruais) Populações de baixa renda No Brasil: Segundo o Ministério da Saúde, a anemia por deficiência de ferro afeta até 40% das crianças e 25% das gestantes, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. 2. ETIOLOGIA DAS ANEMIAS CARENCIAIS a) Anemia ferropriva (deficiência de ferro) É a causa mais comum de anemia no mundo. Principais causas: 1. Perdas crônicas de sangue: Menstruação intensa Úlceras gástricas Sangramentos intestinais (ex: verminoses, câncer de cólon) APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 2. Anemia por Deficiência de Vitamina B12 (Cobalamina) Etapas da fisiopatologia: 1. Vitamina B12 é essencial para a síntese de DNA: A B12 participa da conversão da homocisteína em metionina e da regeneração do tetraidrofolato ativo. Sem B12 → a síntese de DNA é prejudicada, principalmente em células que se dividem rápido (como as da medula óssea). 2. Eritropoiese ineficaz: A falta de DNA funcional gera células grandes, imaturas e disfuncionais (megaloblastos) → muitas são destruídas na própria medula → citopenia no sangue (anemia, leucopenia, trombocitopenia). 3. Hemácias macrocíticas: As hemácias liberadas para o sangue são grandes (macrocitose), frágeis e com tempo de vida reduzido. 4. Acúmulo de homocisteína e ácido metilmalônico: A deficiência de B12 leva ao acúmulo dessas substâncias, especialmente ácido metilmalônico, que é neurotóxico. 5. Degeneração da medula espinhal (funículos posteriores e laterais): → Sintomas neurológicos, como parestesias, perda de reflexos, ataxia e demência, são característicos da deficiência de B12 e não ocorrem na deficiência de folato. 3. Anemia por Deficiência de Ácido Fólico (Vitamina B9) Etapas da fisiopatologia: 1. Ácido fólico é essencial para síntese de purinas e timidilato: Sem folato, a replicação do DNA é prejudicada, principalmente em tecidos com alta taxa de renovação (como a medula óssea). 2. Eritropoiese ineficaz com megaloblastose: Assim como na deficiência de B12, ocorre formação de megaloblastos, com citoplasma maduro e núcleo imaturo (dessincronia núcleo-citoplasmática). 3. Hemácias macrocíticas e frágeis: Hemácias aumentadas, com membranas frágeis, que se rompem mais facilmente → anemia hemolítica leve associada. 4. Ausência de sintomas neurológicos: Ao contrário da B12, o folato não está envolvido na manutenção da bainha de mielina → sem manifestações neurológicas. Uso de medicamentos: anticonvulsivantes, metotrexato, antiácidos Gestação e lactação: aumentam a demanda nutricional Idosos e crianças pequenas: maior risco de deficiências alimentares Fatores de risco específicos Ferropriva: Sangramentos (menstruação intensa, úlceras), parasitoses, desmame precoce Deficiência de B12: Vegetarianismo estrito, anemia perniciosa, gastrectomia, Crohn Deficiência de B9: Gravidez, uso de álcool, baixa ingestão de vegetais, medicamentos. 4. FISIOPATOLOGIA A anemia carencial resulta da produção inadequada de hemácias funcionais, por falta de componentes fundamentais da eritropoiese: 1. Anemia Ferropriva (deficiência de ferro) Etapas do processo fisiopatológico: 1. Falta de ferro = falta de hemoglobina: O ferro é essencial para a formação do grupo heme da hemoglobina, a proteína que transporta oxigênio nas hemácias. Sem ferro → não há produção adequada de hemoglobina. Resultando na redução do transporte de oxigênio para os tecidos 2. Produção de hemácias microcíticas e hipocrômicas: A medula tenta produzir hemácias, mas sem hemoglobina suficiente, as células formadas são menores (microcitose) e mais pálidas, com pouca coloração, indicando baixa concentração de hemoglobina (hipocromia). 3. Redução da capacidade de transporte de oxigênio: Hemácias malformadas e em menor quantidade → hipóxia tecidual → sintomas como cansaço, palidez, dispneia. 4. Aumento compensatório de eritropoietina (EPO): Os rins percebem a falta de oxigênio e aumentam a liberação de eritropoietina → tentativa de estimular a medula óssea a produzir mais hemácias. 5. Sobrecarga cardíaca: Para compensar a hipóxia, o coração aumenta a frequência e o débito → pode evoluir para hipertrofia cardíaca se a anemia for crônica. APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA Causas principais: Sangramentos crônicos (ex: menstruação intensa, úlceras, parasitoses) Dieta pobre em ferro Gestação (aumento da demanda) Má absorção (ex: doença celíaca, gastrectomia) Características: Hemácias microcíticas (pequenas) e hipocrômicas (pouco coradas) Sintomas: cansaço, palidez, queda de cabelo, pica (vontade de comer terra, gelo) 6.2 Anemia Megaloblástica por Deficiência de Vitamina B12 (Cobalamina) A vitamina B12 é fundamental para a síntese de DNA e a manutenção do sistema nervoso. Causas principais: Anemia perniciosa (autoimune) Gastrectomia, doença de Crohn Dieta vegetariana restrita Alcoolismo Características: Hemácias macrocíticas (grandes) e megaloblastos na medula Sintomas neurológicos: formigamento, desequilíbrio, perda de memória 6.3 Anemia Megaloblástica por Deficiência de Ácido Fólico (Vitamina B9) Também leva à formação de megaloblastos, mas sem sintomas neurológicos. Causas principais: Dieta pobre em vegetais crus Gravidez e lactação (aumento da demanda) Uso de medicamentos(metotrexato, anticonvulsivantes) Alcoolismo Características: Hemácias grandes (macrocíticas) Sintomas como fraqueza, glossite, irritabilidade, diarreia Consequência final comum a todas: Independentemente do nutriente ausente, o resultado é sempre uma produção inadequada de hemácias normais, o que leva à redução da capacidade de transporte de oxigênio e aos sintomas de anemia. Tipo Mecanismo principal Destaques clínicos Ferropriva Falta de ferro → ↓ hemoglobina Palidez, fadiga, unhas fracas, pica Megaloblástica B12 Falta de B12 → ↓ DNA nas células- tronco Palidez, anemia + sintomas neurológicos Megaloblástica B9 Falta de ácido fólico → ↓síntese de DNA Palidez, glossite, sem sintomas neurológicos 5. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sintomas gerais (comuns a todas as anemias): Cansaço (fadiga) Palidez da pele e mucosas Tontura Dor de cabeça Taquicardia (coração acelerado) Falta de ar aos esforços Fraqueza Sintomas específicos: Ferropriva: Unhas em forma de colher (coiloníquia), queda de cabelo, pica (vontade de comer terra, gelo); Deficiência de B12: Alterações neurológicas: formigamento, perda de memória, dificuldade para caminhar; Deficiência de B9: Irritabilidade, glossite (língua lisa e vermelha), sem alterações neurológicas 6. TIPOS DE ANEMIAS CARENCIAIS As anemias carenciais são classificadas de acordo com a deficiência nutricional que as provoca, sendo as principais: 6.1 Anemia Ferropriva (por deficiência de ferro) É a mais comum do mundo e resulta da diminuição da produção de hemoglobina, já que o ferro é essencial para o grupo heme. APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA 9. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO A) Anemia Ferropriva (deficiência de ferro) Objetivo: repor os estoques de ferro e normalizar a produção de hemoglobina. Mecanismo de ação: O ferro é necessário para a síntese do grupo heme da hemoglobina, essencial no transporte de oxigênio. Ao repor o ferro, a medula óssea retoma a produção normal de hemácias funcionais. Tratamento: Sulfato ferroso (via oral) – padrão ouro no SUS Dose: 100–200 mg de ferro elementar por dia (adulto) Crianças: 3–5 mg/kg/dia de ferro elementar Ferro IV (parenteral) intravenoso – em casos de intolerância ou má absorção Ex.: Carboximaltose férrica, hidróxido férrico sacarose Duração: Pelo menos 3 meses após a normalização da hemoglobina para repor os estoques de ferro. Efeitos colaterais: Náuseas, dor abdominal, constipação ou fezes escurecidas B) Anemia por Deficiência de Vitamina B12 (cobalamina) Objetivo: repor os estoques e corrigir os sintomas hematológicos e neurológicos. Mecanismo de ação: a vitamina B12 atua como cofator em reações de síntese de DNA e mielina. Sua reposição restaura a replicação celular normal, permitindo a produção eficaz de hemácias e a recuperação neurológica. Tratamento: Cianocobalamina IM (mais comum no SUS): 1.000 µg por semana por 1 mês, depois 1x/mês por 3–6 meses ou indefinidamente Via oral (em casos leves ou manutenção): 1.000–2.000 µg/dia Duração: Casos como anemia perniciosa requerem tratamento para toda a vida. 7. COMPLICAÇÕES DAS ANEMIAS CARENCIAIS Gerais (todas as anemias): Hipóxia tecidual → fadiga, taquicardia, intolerância ao esforço Aumento da carga cardíaca → hipertrofia ventricular, risco de insuficiência cardíaca Retardo no crescimento em crianças Maior risco de infecções Específicas por tipo: Ferropriva: Déficit cognitivo em crianças, parto prematuro, baixo peso ao nascer Deficiência de B12: Neuropatia periférica, degeneração da medula espinhal, demência Deficiência de B9: Má-formação fetal (ex: defeitos do tubo neural), abortos. 8. DIAGNÓSTICO DAS ANEMIAS CARENCIAIS a) História clínica e exame físico: Dieta pobre? Sangramentos? Cirurgias gástricas? Sintomas neurológicos? b) Exames laboratoriais básicos: Exame Achados característicos Hemograma completo Redução de Hb, hematócrito, VCM (micro ou macro) Índices hematimétricos • VCM baixo na ferropriva (microcítica) • VCM alto nas megaloblásticas (macrocítica) RDW Aumentado (anisocitose – variação no tamanho das hemácias) Reticulócitos Normal ou reduzido (baixa resposta da medula) c) Exames específicos para carência: Nutriente Exames específicos Resultado típico Ferro Ferritina, ferro sérico, transferrina Ferritina baixa Vitamina B12 Dosagem de B12, ácido metilmalônico B12 e ácido fólico baixos Ácido fólico Dosagem sérica de folato Folato baixo APG 3º PERÍODO ACADÊMICA: AMANDA MARTINS COSTA C) Anemia por Deficiência de Ácido Fólico (vitamina B9) Objetivo: normalizar a eritropoiese e prevenir complicações gestacionais. Mecanismo de ação: o ácido fólico é essencial para a síntese de purinas e timidilato — componentes do DNA. Sua reposição permite a normalização da divisão celular e da eritropoiese. Tratamento: Ácido fólico oral: Adultos: 5 mg/dia por 4 a 6 semanas Gestantes (prevenção de defeitos do tubo neural/ má-formações): 0,4 a 0,8 mg /dia Casos especiais (uso de anticonvulsivantes): até 15 mg/dia 10. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO a) Mudanças na alimentação: Ferro: Carnes vermelhas, vísceras (fígado), feijão, lentilha, vegetais verde-escuros Vitamina B12: Carnes, ovos, leite e derivados (somente de origem animal Ácido fólico: folhas verdes cruas, feijão, frutas cítricas, cereais integrais. Dica: combinar ferro com vitamina C (ex: suco de laranja) melhora a absorção. Evitar chá preto/café junto das refeições, pois inibem a absorção de ferro. b) Tratamento de causas secundárias: Eliminar parasitas intestinais Controlar sangramentos ginecológicos, digestivos ou urinários Corrigir doenças que causam má absorção intestinal 11. PREVENÇÃO DAS ANEMIAS CARENCIAIS Ações gerais: Educação alimentar nas UBS e escolas Fortificação de alimentos: Farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico (política pública) Suplementação preventiva: Gestantes: ácido fólico (400–800 mcg/dia) + ferro oral a partir da 20ª semana Crianças de 6 a 24 meses: sulfato ferroso (orientado pelo pediatra) Monitoramento nutricional: Grupos de risco: gestantes, lactantes, crianças, idosos, vegetarianos