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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
1 
GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ 
 
ELMANO de FREITAS da Costa 
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ 
 
SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS 
 
SAMUEL ELÂNIO de Oliveira Júnior - DPF 
SECRETÁRIO DA SSPDS 
 
ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE 
 
LEONARDO D`Almeida Couto BARRETO - DPC 
DIRETOR-GERAL DA AESP|CE 
 
Francisca ASMENHA Cruz Furtado Torquato – Cel PM 
DIRETORA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE 
 
EVANDRO Queiroz de Assunção – Cel PM 
COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE 
 
TÚLIO Ítalo da Silva Oliveira – Perito Criminal 
COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE 
 
Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – Maj PM 
SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE 
 
MÔNICA Pontes Rodrigues 
ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNCIA DA AESP|CE 
 
 
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS POLICIAIS MILITARES - CFSD PM/2024 
 
DISCIPLINA 
Introdução ao Estudo do Direito 
 
CONTEUDISTA 
Francisco Odélio Ferreira Butrago 
 
FORMATAÇÃO 
JOELSON Pimentel da Silva – 1º SGT PM 
 
• 2024 • 
 
 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
2 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO .......................................................................................................................................... 3 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................................................................................... 3 
2. A SOCIEDADE ESTATAL ................................................................................................................................................................ 3 
2.1 Formação do Estado e Divisão Dos Poderes ........................................................................................................................ 3 
2.2 Supremacia da Constituição ................................................................................................................................................. 4 
2.3 Norma Jurídica e Ordenamento Jurídico .............................................................................................................................. 4 
2.5 Relações Jurídicas ................................................................................................................................................................. 5 
3. DISCIPLINAS JURÍDICAS .............................................................................................................................................................. 5 
3.1 Disciplinas Jurídicas Fundamentais ...................................................................................................................................... 6 
3.2 Disciplinas Jurídicas Auxiliares ............................................................................................................................................. 6 
4. SOCIABILIDADE HUMANA E OS INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOCIAL ................................................................................... 6 
4.1 O Mundo Natural e o Mundo Cultural ................................................................................................................................. 7 
4.2 Direito e Moral ..................................................................................................................................................................... 7 
4.3 Direito e Justiça .................................................................................................................................................................... 7 
4.4 Direito e Equidade ................................................................................................................................................................ 7 
4.5 Teoria Tridimensional do Direito .......................................................................................................................................... 7 
5. SIGNIFICAÇÕES DO DIREITO ....................................................................................................................................................... 8 
5.1 Direito Natural x Direito Positivo.......................................................................................................................................... 8 
5.2 Direito Objetivo x Direito Subjetivo ..................................................................................................................................... 9 
5.3 Direito Substantivo x Direito Adjetivo .................................................................................................................................. 9 
6. TEORIAS DO DIREITO .................................................................................................................................................................. 9 
6.2 Positivo Normativo de Hans Kelsen ................................................................................................................................... 10 
7. FONTES DO DIREITO ................................................................................................................................................................. 10 
9. RAMOS DO DIREITO .................................................................................................................................................................. 11 
9.1. Direito Público ................................................................................................................................................................... 11 
9.2 Direito Privado ................................................................................................................................................................... 12 
9.3. Direito Misto ..................................................................................................................................................................... 12 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................................ 12 
ANEXO I ........................................................................................................................................................................................ 12 
O Direito Natural e o Direito Positivo e seu Contexto Histórico: Lições de Norberto Bobbio ...................................................... 12 
ANEXO II ....................................................................................................................................................................................... 16 
Sociedade, Direito e controle social ............................................................................................................................................. 16 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................................ 19 
 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
3 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
O nosso ordenamento jurídico pátrio (conjunto de 
normas aplicáveis ao direito) tem o condão de regulamentar 
os comportamentos humanos e os padrões definidos para 
estes comportamentos que se coadunam em relações sociais 
entre pessoas e, a partir de então, passam a constituir a 
chamada relação jurídica que será regulamentada pela 
norma. 
 A relação jurídica traz a aplicabilidade do direito 
ao caso concreto para dirimir conflitos de relações, a 
princípio, sociais surgidas em decorrência de interesses 
conflitantes. 
 
ENTÃO, O QUE É O DIREITO? 
 
Temos que a expressão direito, intuitivamentepoderes. Ademais, tal nação é o país do liberalismo (visto 
como a doutrina que determina os limites legais da atuação 
do Estado). 
 
 
 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
15 
Thomas Hobbes era contrário ao common law e ele se 
indagava se era obrigatório observar o direito natural. De 
acordo com Hobbes era necessário considerá-lo 
conscientemente diante de si e de Deus, mas quando de 
frente aos outros seria apropriado respeitar o direito natural 
na medida em que o outro respeitara. 
Nessa esteira, temos, exempli gratia, o princípio do 
pacta sunt servanda e a norma de não matar. Sendo assim, 
seria razoável respeitar essa norma se o outro não quisesse 
matar, pois querendo, o normal seria matá-lo antes que ele 
cometesse o crime. É nesse mesmo sentido que funciona a 
emblemática do direito internacional, onde o Estado que 
agride jamais dirá que transgrediu o dever de não atacar, 
mas sim irá argumentar que está se defendendo de uma 
agressão advinda do outro país. 
Hobbes defendia que para que os homens parassem 
de lutar entre si e saíssem do estado de natureza era 
necessária a criação de um Estado, de uma força 
imensurável, o qual não é possível se opor. A partir do 
surgimento deste Estado, o direito natural perde seu valor 
para ceder espaço ao direito positivo. 
 
Nesse sentido podemos citar a definição de direito 
dado por Hobbes (apud BOBBIO, 1995, p.36): “Direito é o 
que aquele ou aqueles que detêm o poder soberano 
ordenam aos seus súditos, proclamando em público e em 
claras palavras que coisas eles podem fazer e quais não 
podem”. 
Ante o mencionado conceito de direito podemos 
extrair dois caracteres positivistas, quais sejam, o formalismo 
e o imperativismo. O formalismo dispõe que a definição do 
direito é dada fundada apenas na autoridade que põe as leis, 
sendo este um elemento estritamente formal. Já o 
imperativismo defende que o direito é um comando, 
explicado como um conjunto de leis, onde o poder soberano 
estipula o que pode ou não ser feito. 
 
6. O legislador como o único capaz de produzir o direito na 
concepção absolutista e liberal 
 
O poder legislativo determina que as normas são 
iguais para todos, motivo que dificulta o abuso de poder por 
parte do judiciário. Nesses termos, se há uma arbitrariedade 
do juiz, somente as partes envolvidas serão atingidas. 
Entretanto, se o abuso é de iniciativa do poder legislativo, 
toda a sociedade ficará prejudicada. 
Para coibir a arbitrariedade dos legisladores, o 
pensamento liberal criou dois institutos: a separação dos 
poderes e a representatividade. A separação dos poderes 
dispõe que o poder legislativo será formado por um 
colegiado que age junto ao príncipe. Conquanto, a 
representatividade expõe que o legislador representa toda a 
população de um país. Este último marca a transição do ideal 
liberal para o democrático. 
Isto posto, Montesquieu e Cesare Beccaria são vistos 
como responsáveis pela conhecida monopolização do direito 
por parte do legislativo. Montesquieu defendia que a decisão 
do magistrado deveria ser uma reprodução exata da letra da 
lei, pois se o juízo decidisse com fundamento na equidade ou 
em demais fontes, o princípio da separação dos poderes 
seria violado, eis que existiriam dois legisladores, o próprio 
legislador e o juiz. 
Diz Montesquieu (apud BOBBIO, 1995, p. 40): “Se os 
juízes fossem o veículo das opiniões particulares dos juízes 
viveríamos numa sociedade sem saber com precisão que 
obrigações assumir”. 
Aqui, Montesquieu se referia ao instituto da 
segurança jurídica, no qual Beccaria também compartilhava 
desse ideal, conforme seus escritos em sua obra Dos Delitos 
e das Penas (BECCARIA, 2005, p. 44): 
 
“só as leis podem decretar as penas dos delitos, e 
esta autoridade só pode residir no legislador, que 
representa toda a sociedade unida por um contrato 
social; nenhum magistrado (que é parte da 
sociedade) pode, com justiça, infligir penas contra 
outro membro dessa mesma sociedade. Mas uma 
pena superior ao limite fixado pelas leis 
corresponde à pena justa mais uma outra pena; 
portanto, um magistrado não pode, sob qualquer 
pretexto de zelo ou de bem comum, aumentar a 
pena estabelecida para um cidadão delinquente”. 
 
Neste trecho, Beccaria dispõe acerca do principio da 
“estrita legalidade do direito penal”, tradução da 
máxima nullum crimen, nulla poena sine lege. Para o autor, o 
juiz tem o dever de impor penas de acordo com os limites 
legais. Outrossim, é vedado ao magistrado interpretar as 
normas. 
Aqui o autor dispõe a respeito da teoria do silogismo 
que é o pensamento no qual o juiz, ao aplicar as normas, 
deve fazer como aquele que chega a conclusão de um 
silogismo. Assim, o juiz não cria novas normas, somente 
deixa claro o que a lei dispõe em seu texto. 
 
7. A manutenção do direito natural no século XVIII 
até os tempos hodiernos 
 
O jusnaturalismo sobreviveu e permaneceu forte no 
século XVIII, tanto que os escritores deste tempo apontavam 
que na hipótese de lacunas do direito positivo deveria o 
direito natural ser aplicado no caso, a fim de solucionar a 
lide. Assim, conclui-se que na omissão do direito positivo, o 
direito natural será usado. 
No mesmo sentido dispõe Hobbes (apud BOBBIO, 
1995, p.43): 
 
“Uma vez que é impossível promulgar leis gerais 
com as quais se possa prever todas as controvérsias 
a surgir, e são infinitas, evidencia-se que, em todo 
caso não contemplado pelas leis escritas, se deve 
surgir à lei da equidade natural, que ordena atribuir 
a pessoas iguais como iguais *…+”. 
 
Tal premissa que o direito natural será aplicado 
quando ausente o direito positivo permaneceu mesmo com 
a codificação, como, verbi gratia, no mencionado artigo 4º 
da LINDB e artigo 140 do Código de Processo Civil, ou seja, o 
ordenamento jurídico brasileiro também reconhece a 
legitimidade do direito natural e mais, utiliza desse direito na 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
16 
inexistência da norma positiva. 
 
Conclusão 
 
Constata-se então a importância do trabalho de 
Norberto Bobbio no que concerne ao direito natural e ao 
positivo, certificando que a lei natural resiste mesmo com a 
presença do direito positivo e da codificação. 
Nesse sentido, buscamos demonstrar a necessidade 
da coexistência da lei positiva e da lei natural, eis que o 
ordenamento jurídico não será capaz de listar todas as 
hipóteses que podem ocorrer com o cidadão. Ademais, 
acreditamos que nem é esse o objetivo da ordem jurídica. 
Por isso a indispensabilidade da permanência dos 
dois direitos, sendo que na falta do direito positivo, o 
magistrado será socorrido pelos ditames da lei natural. 
O desenvolvimento de ambos os direitos passaram 
por diversas mudanças de status de validade ao longo do 
tempo, mas o que é significativo é que tanto o direito 
natural, quanto o positivo, são imprescindíveis para a 
sociedade tal como é hoje. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos delitos e das penas. 3. ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 2005. 
BOBBIO, Norberto. Positivismo jurídico: lições de filosofia do 
direito, compiladas por Nello Morra; tradução e notas 
Márcio Puglesi, Esdon Bini, Carlos E. Rodrigues – São Paulo: 
Ícone, 1995. 
CRETELLA JÚNIOR, José. Direito romano moderno. 9. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2000. 
MASCARO, Allyson Leandro. Introdução à filosofia do direito: 
nos modernos aos contemporâneos. São Paulo: Atlas, 2002. 
MATOS, Andityas Soares de Moura Costa. Filosofia do Direito 
e Justiça na obra de Hans Kelsen. 2. ed. Belo Horizonte: Del 
Rey, 2006. 
REALE, Miguel. Lições preliminares do direito. 21. ed., rev. e 
aum. São Paulo: Saraiva, 1990. 
 
ANEXO II 
 
Sociedade, Direito e controle social 
 
Revista Jus Navigandi 
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/20736/socied 
ade-direito-e-controle-social. Acesso em 22.02.2022. 
 
O direito não tem existência por si só. Ele existe no 
meio sociale em função da sociedade, não sendo seu único 
instrumento de organização e harmonia, mas, merece lugar 
de destaque, pois é o que possui maior pretensão de 
efetividade, manifestando-se como um corolário inafastável. 
 
Resumo 
 
O homem é um ser social e político, vivendo em 
grupos, em sociedades. É natural que no seio destes grupos 
haja conflitos, desentendimentos e interesses divergentes. 
No entanto, o homem sente necessidade de segurança e 
busca a harmonia social. Para que a sociedade subsista é 
necessário que os conflitos sejam resolvidos e para tanto, o 
homem dispôs de vários meios com o intuito de controlar as 
ações humanas e trazer um equilíbrio à sociedade. São os 
instrumentos de controle social. O Direito, criação humana, é 
um destes instrumentos, cujo principal objetivo é viabilizar a 
existência em sociedade, trazendo paz, segurança e justiça. 
 
PALAVRAS CHAVES:1. Sociologia jurídica. 2. Direito. 3. 
Sociedade. 4. Controle social. 
 
1. A sociabilidade humana 
 
O homem é um ser social e precisa estar em contato 
com seus semelhantes e formar associações. 
Ele se completa no outro. Somente da interação social 
é possível o desenvolvimento de suas potencialidades e 
faculdades. Ele precisa buscar no outro as experiências ou 
faculdades que não possui e, mais, há a necessidade de 
passar seu conhecimento adiante. Dessa interação, há 
crescimento, desenvolvimento pessoal e social. 
Conforme Battista Mondin (1986, p.154) o homem é 
um ser sociável, pois tem a "propensão para viver junto com 
os outros e comunicar-se com eles, torná-los participantes 
das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver 
com eles as mesmas emoções e os mesmos bens." Segundo 
o mesmo autor, ele também é um ser político. A politicidade 
é "o conjunto de relações que o indivíduo mantém com os 
outros, enquanto faz parte de um grupo social." 
Vários estudiosos tentam explicar o impulso 
associativo do ser humano. Platão (428-348 a.C.) interpreta a 
dimensão social do homem como um fenômeno 
contingente. Para ele o homem é um ser etéreo, é 
essencialmente alma e se realiza em sua plenitude e 
perfeição, alcançando a felicidade ao contemplar as idéias. 
Estas se localizam em um mundo denominado "topos 
uranos", ou lugar celeste. Para esta atividade não necessita 
de ninguém, cada alma se basta, existindo e se realizando 
por conta própria, independentemente das outras. Mas, por 
causa de uma grande culpa, que não é explicada em sua 
teoria, as almas perderam sua condição original de 
espiritualidade absoluta e caíram na Terra, sendo obrigadas a 
assumir um corpo físico para expurgar suas culpas e 
purificar-se. 
Esse corpo físico funcionaria como um limitador de 
suas potencialidades e faculdades, impedindo-as de se 
sentirem completas por si só. Desse modo, as almas 
corporificadas precisam se associar para suprir suas 
carências e limitações. Segundo Platão, portanto, a 
sociabilidade é uma consequência da corporeidade e dura 
apenas enquanto as almas estiverem ligadas ao corpo físico, 
material. 
Aristóteles (384-322 a.C), de maneira oposta, entende 
que a sociabilidade é uma propriedade essencial do homem. 
Na sua visão, o homem é constituído de corpo e de alma, 
essencialmente. E, por esta constituição, não pode se auto-
realizar, sendo necessário criar vínculos sociais para 
satisfazer suas próprias necessidades e vontades. É a 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
17 
natureza do homem que o impulsiona a querer associar-se e 
interagir com os demais. Por este motivo, considerava o 
homem fora da sociedade um ser superior ou inferior à 
condição humana: "O homem é, por sua natureza, um 
animal político. 
 
“Aquele que, por natureza, não possui estado, é 
superior ou mesmo inferior ao homem, quer dizer: 
ou é um deus ou mesmo um animal” (de sua obra: 
A política). 
 
Santo Tomás de Aquino (1225-1274), como 
Aristóteles, considerava o homem um ser naturalmente 
sociável: "O homem é, por natureza, animal social e político, 
vivendo em multidão, ainda mais que todos os outros 
animais, o que evidencia pela natural necessidade." (S.Th, I, 
96, 4). Afirma ainda que a vida fora da sociedade é exceção, 
se enquadrando em três hipóteses: a mala fortuna, quando 
um indivíduo, acidentalmente, por um infortúnio passa a 
viver em isolamento, como é o caso de um náufrago, por 
exemplo; a corruptionaturae, quando por alienação mental 
ou anomalia, o homem é desprovido de razão e busca viver 
distanciado dos demais; e a excellentianaturae, que é a 
hipótese do homem isolar-se buscando a comunhão com 
Deus e o seu aperfeiçoamento espiritual. 
Durante a época moderna surgem os contratualistas, 
destacando os nomes de Spinoza, Hobbes, Locke, Leibnitz, 
Vico e Rousseau. Existe uma gama enorme e variada de 
teorias contratualistas que buscam explicações para o 
impulso associativo do homem, com diferentes explicações e 
teses. Há, no entanto, um ponto em comum entre eles. 
Todas negam o impulso associativo natural, concluindo que 
somente a vontade humana justifica a existência em 
sociedade. A sociedade, portanto, é uma criação humana e 
se tem sua base firmada em um contrato, que pode ser 
alterado ou desfeito. 
Hobbes, por exemplo, com suas idéias apresentadas 
na obra "Leviatã", defendia que o homem é um ser mau e 
antissocial por natureza, enxergando seus semelhantes como 
concorrentes a serem dominados ou destruídos. O constante 
estado de guerra, de conflitos e brutalidade teria levado os 
homens a firmarem um contrato entre si, transferindo o 
poder de se autogovernar, seus direitos e liberdades ao 
Estado, que deveria impor ordem e segurança a todos. 
Rousseau, por sua vez, em "O contrato social", afirma 
que o homem, ao revés do entendimento de Hobbes, é 
essencialmente bom e livre. A sociedade e o aparecimento 
da propriedade privada é que o corrompe, dando início aos 
inúmeros conflitos sociais. A solução encontrada por ele para 
extirpar os conflitos seria a organização de um Estado que só 
se guie pela vontade geral, e não pelos interesses 
particulares. O instrumento pelo qual se perfaz essa 
sociedade é o contrato social, pelo qual cada indivíduo 
transfere ao Estado a sua pessoa, todos os seus direitos e 
suas coisas. 
Ante o exposto, entendemos que a sociedade é fruto 
da própria natureza humana, de uma necessidade natural de 
interação. O homem tem necessidade material e espiritual 
de conviver com seus semelhantes, de se desenvolver e de 
se completar. No entanto, essa interdependência recíproca 
não exclui a participação da consciência ou da vontade 
humana. Consciente de que necessita da vida social o 
indivíduo procura melhorá-la e torná-la mais viável. A 
sociedade, em suma, seria o produto de um impulso natural 
conjugado com a vontade e consciência humana. 
 
2. Sociedade e interação 
 
O conceito de sociedade apresenta inúmeras 
controvérsias devido ao seu amplo aspecto. O vocábulo pode 
ser utilizado de diversas formas e com vários sentidos, tais 
como o de nação e o de grupo social. Em termos gerais 
podemos definir sociedade como um grupo de pessoas que 
interagem entre si. 
Deste conceito podemos deduzir três características 
da sociedade: a multiplicidade de pessoas, a interação entre 
elas e a previsão de comportamento. Para a formação da 
sociedade não basta que existam várias pessoas reunidas, 
uma aglomeração de indivíduos, mas que elas interajam, que 
desenvolvam ações conjuntas, que tenham reações aos 
comportamentos uns dos outros, que desenvolvam diálogos 
sociais. Ela se faz por um amplo relacionamento humano. 
Dessa interação é possível prever comportamentos, 
situações e condutas que poderão se manifestar no seio do 
grupo, sejam elas lícitas ou ilícitas. 
Conforme ensina Betioli (2008, p.7): "A interação, por 
seu turno, pressupõe uma previsão de comportamento, ou 
de reações ao comportamento dos outros. (...) Cada um age 
orientando-se pelo provável comportamento do outro e 
tambémpela interpretação que faz das expectativas do 
outro com relação a seu comportamento." 
Segundo Paulo Nader, a interação social, 
basicamente, vai se realizar de três formas: a cooperação, a 
competição e o conflito. Vejamos: "Na cooperação, as 
pessoas estão movidas por um mesmo objetivo e valor e por 
isso conjugam o seu esforço. Na competição há uma disputa, 
uma concorrência, em que as partes procuram obter o que 
almejam, uma visando à exclusão da outra. (...) O conflito se 
faz presente a partir do impasse, quando os interesses em 
jugo não logram uma solução pelo diálogo e as partes 
recorrem à luta, moral ou física, ou buscam a mediação da 
justiça." (2007, p.25) 
Vivendo em um mesmo ambiente e possuindo os 
mesmos instintos e necessidades, é natural que surjam 
diversos conflitos entre as pessoas e que necessitam de uma 
solução. Para que a sociedade subsista é imprescindível que 
se resolvam estes conflitos de interesses. As pessoas têm a 
necessidade de buscar a segurança, a justiça e a realização 
do bem comum. Diante disto surge a necessidade de criar 
instrumentos que controlem ou que regulamentem a vida 
social. 
 
3. Instrumentos de controle social 
 
Existem diversos meios que servem para regular a 
condutas dos membros da sociedade visando à harmonia da 
vida social. Entre eles podemos destacar a religião, a moral, 
as regras de trato social e, obviamente, o Direito. 
 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
18 
Paulo Nader (2007, p.31) afirma que "o mundo 
primitivo não distinguiu as diversas espécies de 
ordenamentos sociais. O Direito absorvia questões afetas ao 
plano da consciência, própria da moral e da religião, e 
assuntos não pertinentes à disciplina e equilíbrio da 
sociedade, identificados hoje por usos sociais". 
No entanto, é certo que hoje não podemos confundir 
as diferentes esferas normativas. Cada instrumento de 
controle social possui uma faixa de atuação, um objetivo 
específico. 
A faixa de atuação do Direito é regrar a conduta 
social, visando à ordem e ao bem comum. Por este motivo, 
ele irá disciplinar apenas os fatos sociais mais relevantes para 
o convívio social. Ele irá disciplinar, principalmente, as 
relações de conflitos e, quanto às relações de cooperação e 
competição, somente onde houver situação potencialmente 
conflituosa. 
Betioli ressalta que: "O direito não visa ao 
aperfeiçoamento interior do homem; essa meta pertence à 
moral. 
Não pretende preparar o ser humano para uma vida 
supraterrena, ligada a Deus, finalidade buscada pela religião. 
“Nem se preocupa em incentivar a cortesia, o cavalheirismo 
ou as normas de etiqueta, campo específico das regras de 
trato social, que procuram aprimorar o nível das relações 
sociais.” (2008, p.8-9) 
Há vários pontos de divergência entre direito e 
religião. Legaz e Lacambra apontam duas diferenças 
estruturais: a alteridade e a segurança. Segundo o autor 
(1961, p.419), "a alteridade, essencial ao direito, não é 
necessária à religião". O próximo, o semelhante é um 
elemento circunstancial e não um elemento essencial na 
idéia religiosa. O mais importante é a prática do bem. A 
religião é uma relação entre o homem e Deus e não entre o 
homem e os demais. Para o Direito, no entanto, o que 
importa é o comportamento humano e social. 
A segunda diferença estrutural diz respeito à 
segurança. Para a religião a segurança é algo inatingível e 
espiritual, porquanto que para o direito, se alcança a partir 
da certeza ordenadora. 
Em relação às diferenças existentes entre o direito e a 
moral, podemos apontar algumas das distinções feitas por 
Paulo Nader (2007, p.40-44). Segundo o autor, "o direito se 
manifesta mediante um conjunto de regras que definem a 
dimensão da conduta exigida, que especificam a fórmula do 
agir". Ao contrário da moral que possui diretrizes mais gerais. 
As normas jurídicas possuem uma "estrutura 
imperativo-atributiva, isto é, ao mesmo tempo em que 
impõem um dever jurídico a alguém, atribuem um poder ou 
direito subjetivo a outrem". A moral, por sua vez, com uma 
estrutura mais simples, impõe apenas deveres. 
Enquanto a moral se preocupa com a vida interior das 
pessoas, como a consciência, o direito cuida, em primeiro 
plano, das ações humanas. O animus do agente só será 
considerado quando necessário. 
Além disso, a moral, bem como todas as demais 
regras sociais, se distingue do direito, pois carece de 
coercibilidade e de heteronomia. O direito, ao revés, é 
imposto independentemente de vontade de sujeição e 
possui formas de garantir o respeito e obediência a seus 
preceitos. 
 
4. O direito como instrumento de controle social 
 
Como vimos o direito não é o único instrumento 
responsável pela organização e pela harmonia da sociedade, 
uma vez que as demais normas de conduta também 
contribuem para o sucesso das relações sociais. No entanto, 
merece lugar de destaque, pois é o que possui maior 
pretensão de efetividade, manifestando-se como um 
corolário inafastável da sociedade. 
Émile Durkheim (1960, p.17) ressalta que "a 
sociedade sem o direito não resistiria, seria anárquica, teria o 
seu fim. O direito é a grande coluna que sustenta a 
sociedade. Criado pelo homem, para corrigir a sua 
imperfeição, o direito representa um grande esforço para 
adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida." 
A necessidade de uma convivência ordenada impõe-
se como condição para a subsistência da sociedade. O direito 
corresponde a essa exigência ordenando as relações sociais 
através de normas obrigatórias de organização e 
comportamento humano. 
Miguel Reale (2006, p.62) define o direito como 
sendo "a ordenação das relações de convivência". 
Telles jr. (2001, p.381), neste mesmo sentido, 
conceitua-o como "a disciplina da convivência". 
Por sua vez, Paulo Nader (2007, p. 76), em sua 
brilhante definição, assim considera: "direito é um conjunto 
de normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo 
Estado, para a realização da segurança, segundo os critérios 
de justiça". 
Do conceito de Paulo Nader podemos perceber três 
grandes distinções entre o direito e as demais regras de trato 
social. A primeira diferença repousa no fato do direito ser a 
única norma que emana do Estado. A segunda, pelo fato de 
ser impositivo, imperativo. Não há margem de liberdade 
para escolher se irá ou não se adequar aos seus preceitos. 
Por último, temos a contratualistas, que exerce intimidação 
sobre os destinatários das normas jurídicas. Sendo assim, 
podemos depreender que o indivíduo que não se adéqua ou 
não realiza atos de acordo com o ordenamento jurídico 
vigente poderá ser submetido a uma punição. 
 
5. Conclusões 
 
Do exposto, podemos concluir pela mútua 
dependência entre direito e sociedade. Não pode haver 
sociedade sem direito e não há direito sem sociedade. Não 
poderia existir sociedade sem uma ordem mínima, sem guias 
e direcionamentos. Há a necessidade de se limitar a esfera 
de conduta de cada indivíduo de modo que sua liberdade de 
atuação não gere conflitos sociais. Da mesma forma que não 
se concebe o homem sem o convívio social, também não se 
concebe uma sociedade sem regras, sem o direito. 
O direito, por sua vez, não tem existência por si só. 
Ele existe no meio social e em função da sociedade. O 
indivíduo isolado não carece de direito. 
 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
19 
Desta forma, ele modifica a sociedade no sentido de 
impor condutas e comportamentos, mas também é 
influenciado por ela, através da cultura, dos usos e costumes 
e pela evolução temporal. 
Dante Alighieri, em sua obra "Da Monarquia", assim 
conclui: "o direito é uma porção real e pessoal, de homem 
para homem que, conservada, conserva a sociedade, 
corrompida, corrompe-a". 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALIGHIERI, Dante. Da Monarquia, São Paulo: Martin Clarim, 
2003 
ARISTÓTELES. A política, São Paulo: Martin Clarim, 2006 
BETIOLI, Antônio Bento. Introduçãoao direito: lições de 
propedêutica jurídica tridimensional, 
10ª ed., São Paulo: Saraiva 2008 
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: 
Ed. Universidade de Brasília, 1997 
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico, São 
Paulo: Cia. Editora Nacional, 1960 
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo de 
direito, 8ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 
1978 
LEGAZ Y LACAMBRA, Luiz. Filosofia Del derecho, 2ª ed., 
Barcelona: Bosch, 1961 
MONDIN, Battista. O homem, quem é ele, São Paulo: 
Paulinas, 1986 
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito, 28ª ed., Rio 
de Janeiro: Forense, 2007 
POLETTI, Ronaldo. Introdução ao direito, 4ª ed., São Paulo: 
Saraiva 2010 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito, 27ª ed., São 
Paulo: Saraiva 2006 
TELLES JÚNIOR, Goffredo. Iniciação na ciência do direito, São 
Paulo: Saraiva, 2001. 
Manual de introdução ao direito / Jean Patrício da Silva. – 
Cabedelo, PB: [s.n], 2014.1.a nós, 
outorga a ideia do que é certo, correto, justo equânime e 
consequentemente, que é acessível a todos. 
O Direito por si, não se limita a apresentar e classificar 
regras, mas tem como objetivo analisar e estabelecer 
princípios para normatizar os fenômenos sociais, tais como, 
os negócios jurídicos; a propriedade; o casamento, etc. 
Enfeixa ainda, o estudo e a compreensão das normas 
postas pelo Estado ou pela natureza do Homem. 
Temos uma dualidade bastante interessante: o direito 
posto pelo Estado, ou seja, o ordenamento jurídico pátrio ou 
direito positivo (positivismo) e por outro lado, a norma que 
se sobreleva e obriga independentemente de qualquer lei 
imposta, o idealismo, cuja maior manifestação é o chamado 
direito natural ou jusnaturalismo. O sentido do que é justo 
independe da lei. 
A ciência do Direito é ampla e complexa, necessitando 
do instruendo uma compreensão dos termos técnicos, 
parâmetros e idiossincrasias que envolvem este mundo que 
faz parte diretamente e de forma muito presente do mister 
policial militar. Ser fiscal da Lei é uma tarefa bem complexa, e 
obriga os operadores ter um amplo entendimento das 
legislações que norteiam a vida em sociedade, e que 
regulam a atividade policial. 
Assim, a disciplina de Introdução ao Estudo do Direito 
se destina a dar ao iniciante na ciência jurídica as noções e os 
princípios jurídicos fundamentais, indispensáveis ao 
raciocínio jurídico, bem como noções sociológicas, históricas 
e filosóficas necessárias à compreensão do direito na 
totalidade de seus aspectos. 
Toda ciência, para ser bem estudada, precisa ser 
dividida, ter as suas partes claramente discriminadas. A 
primeira divisão que encontramos na história da Ciência do 
Direito é a feita pelos romanos, entre Direito Público e 
Direito Privado, segundo o critério da utilidade pública ou 
particular da relação: o primeiro diria respeito às coisas do 
Estado, enquanto que o segundo seria pertinente ao 
interesse de cada um. 
Considerando a sua condição de matéria do curso 
jurídico e da maioria dos cursos de formação de agentes 
responsáveis pela aplicação da Lei, deve ser entendida como 
disciplina autônoma, pois desempenha função exclusiva, que 
não se confunde com a de qualquer outra. A disciplina visa a 
fornecer ao iniciante uma visão global do Direito, que não 
pode ser obtida através do estudo isolado dos diferentes 
ramos da árvore jurídica. 
O futuro Soldado da Polícia Militar do Ceará terá a 
oportunidade de conhecer a disciplina, especialmente, antes 
do estudo de outros ramos do direito público, privado e 
misto que dela são decorrentes. 
Funciona como um elo entre a cultura geral, obtida 
no curso médio, e a cultura específica do direito. Ao encetar 
os primeiros estudos de uma ciência, é comum ao estudante 
sentir-se atônito, com muitas dificuldades, em face dos 
novos conceitos e métodos, da nova terminologia e diante 
do próprio sistema que desconhece. 
Na síntese do pensamento de Paulo Nader (2011), a 
presente disciplina constitui assim um sistema de ideias 
gerais, reprise-se, em contraponto com as especificidades 
dos demais segmentos do Direito, em que se busca a 
significação de figuras como a relação jurídica, fato jurídico, 
lei, justiça, e, na atual evolução da Ciência Jurídica, a 
participação da jurisprudência naqueles conceitos. 
 
2. A SOCIEDADE ESTATAL 
 
Sociedade é todo complexo de relação do homem 
com seus semelhantes. É um grupo derivado de acordos de 
vontades de seus membros que buscam, mediante o vínculo 
associativo, um interesse comum, atuando solidariamente. A 
sociedade pode ser organicista e mecanicista. Na sociedade 
organicista, o homem é um ser político, gregário, que cria as 
circunstâncias para a sua sobrevivência. Já a sociedade 
mecanicista não reconhece mais do que uma mera soma de 
partes, o que não gera nenhuma realidade suscetível de 
subsistir fora ou acima dos indivíduos. 
O Estado é um ente abstrato, com personalidade 
jurídica de direito público, entendido como uma organização 
politicamente organizada. Cria e faz cumprir a norma em 
sociedade. Todas as pessoas, capazes e incapazes, são 
destinatárias da norma jurídica, desde que submetidas à 
ordem jurídica a que pertence à norma que se quer aplicar. 
A doutrina moderna de Bonavides (2004), em seu 
estudo de ciência política, tem direcionado o Estado em três 
dimensões: Sociológica (analisa o Estado do ponto de vista 
social), Política (a consecução dos meios empregados para a 
promoção do bem-estar social) e Jurídica (a estrutura 
normativa, a partir das constituições até a legislação 
ordinária). 
 
2.1 Formação do Estado e Divisão Dos Poderes 
 
É na Constituição que o Estado assenta alicerces à sua 
legitimidade, autolimita o exercício dos seus poderes, 
distribui competências, reconhece e proclama direitos, 
consagra valores, formula princípios e exara regras com que 
rege relações humanas fundamentais. E opera tudo isso na 
constante busca de unidade e identidade do corpo social, 
sob a égide da justiça, da segurança jurídica, das liberdades e 
das garantias institucionais. O Estado é uma das formas de 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
4 
sociedade, para a promoção da ordem jurídica. A sociedade 
vem primeiro; o Estado, depois. 
Aristóteles foi o primeiro a conceber a teoria da 
tripartição dos poderes, na Grécia antiga. No entanto, a 
França conheceu o gênio de Montesquieu, na sua obra “Do 
Espírito das Leis”. Distingue, Montesquieu, em cada Estado 
três tipos de Poderes: O Poder Legislativo, o Poder Executivo 
e o Poder Judiciário. Cada um desses poderes 
correspondendo, seguindo o pensador francês, 
determinadas funções. Através do Poder Legislativo, fazem-
se as leis para determinada época, bem como aperfeiçoam 
ou ab-rogam as que já se acham feitas. Com o Poder 
Executivo, ocupa-se da paz e da guerra, envia e recebe 
embaixadores, estabelece a segurança e previne as invasões. 
O terceiro Poder, o Judiciário, a faculdade de punir os crimes 
e julgar os dissídios de ordem civil. 
O inglês John Locke, menos afamado que 
Montesquieu, no tocante à separação dos poderes, assinalou 
também um quarto poder: a prerrogativa. Como poder 
estatal que promove o bem comum onde a lei for omissa ou 
lacunosa. 
 
 2.2 Supremacia da Constituição 
 
Segundo Bonavides (2004), desde o início, o Estado 
constitucional ostenta três distintas modalidades essenciais. 
A primeira é o Estado Constitucional da separação de 
Poderes (Estado Liberal), a segunda, o Estado constitucional 
dos direitos fundamentais (Estado Social), a terceira, o 
Estado constitucional Democrático participativo (Estado 
Democrático-Participativo). 
Constituição é a lei fundamental de um Estado. É um 
conjunto de normas principiológicas que regem o Estado. A 
Constituição é um conjunto de normas pertinentes à 
organização do poder, a distribuição da competência, ao 
exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da 
pessoa humana, tanto individuais como sociais. Em apertada 
síntese, a constituição organiza o estado e o submete a 
limites frente ao cidadão. 
Na verdade, o primeiro documento oficial que se tem 
conhecimento relativo a uma Carta Política foi a Magna Carta 
Magna do Rei João sem Terra, em 1215, na Inglaterra. Daí 
surgiu constituições que tiveram influência e serviram de 
referência para as Constituições Contemporâneas, quais 
sejam: em 1772 na Suécia, em 1787 nos Estados Unidos e em 
1791 na França. 
No Brasil, o Poder Constituinte tem o poder de 
elaborar e modificar normas constitucionais. É o instrumento 
ou meio legítimo de se estabelecer à Constituição, a forma 
de Estado, a organização e a estrutura da sociedade política. 
O Poder Constituinte pertence ao povo, embora possa 
ser exercido por representantes especiais. O Poder Originário 
é o poder de elaborar uma constituição e tem duas formas 
básicas: Outorgada – É o estabelecimento de uma 
constituição por quem autolimitao poder (Constituições de 
1824, 1937, 1967 e 1969); Promulgada – Elaborada pela 
Assembleia Nacional Constituinte – É a materialização do 
Poder Constituinte e nasce da deliberação da representação 
popular (Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1988). 
2.3 Norma Jurídica e Ordenamento Jurídico 
 
Conhecer o Direito é conhecer as normas jurídicas em 
seu encadeamento lógico e sistemático. As normas jurídicas 
são o ponto culminante do processo de elaboração do 
direito e o ponto de partida operacional da dogmática 
jurídica, cuja função é a de sistematizar e descrever a ordem 
jurídica vigente. As normas ou regras jurídicas estão para o 
direito de um povo, assim como as células para o organismo 
vivo. 
Ordenamento jurídico é um contexto de normas com 
relações particulares entre si. Aqui as regras jurídicas 
constituem sempre uma totalidade, um sistema de regras de 
conduta. As normas jurídicas nunca existem isoladamente, 
mas sempre em um contexto de normas com relações 
particulares entre si. Esse contexto de normas costuma ser 
chamado de ordenamento jurídico. 
 
2.4 Lei de introdução às normas do direito brasileiro 
 
Tem-se na LINDB, (anteriormente denominada Lei de 
Introdução ao Código Civil (LICC), uma norma jurídica que 
visa regulamentar outras normas, composta por apenas 30 
artigos nos quais aborda a vigência da lei, a aplicação da 
norma jurídica no tempo e no espaço e as fontes do direito, 
tendo como objetivo orientar a aplicação do código civil, 
diminuindo controvérsias que foram surgindo desde a sua 
primeira edição, em 1916. 
 Ela não é parte do Código Civil, disciplinando a 
aplicação das leis em todos os âmbitos do direito, exceto 
quando já existe uma lei específica para tal. Assim, a LINDB 
tem a função de orientar sobre como interpretar ou aplicar 
as normas, respeitando regras básicas, como a vigência. 
 
Na LINDB, há o reconhecimento pela doutrina de 
norma sobre normas, uma vez que tem função 
essencial de dispor sobre o funcionamento das 
normas e dos atos no Direito brasileiro de maneira 
prévia e introdutória. 
Ademais, as disposições da LINDB são essenciais 
para a compreensão do funcionamento do 
ordenamento pátrio. 
 
O artigo primeiro da LINDB trata da vigência e 
aplicabilidade da Lei Brasileira. 
 
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a 
vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois 
de oficialmente publicada. 
§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade 
da lei brasileira, quando admitida, se inicia três 
meses depois de oficialmente publicada. 
§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). 
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova 
publicação de seu texto, destinada a correção, o 
prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores 
começará a correr da nova publicação. 
 
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor 
consideram-se lei nova. 
 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
5 
Destaca-se o que aduz o Art. 3º - Ninguém se escusa 
de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 
 
O que Significa dizer que, ao transgredir a lei, 
ninguém pode se justificar afirmando que o 
praticou porque não sabia que era ilegal. Isso 
porque, em nosso ordenamento Jurídico, o 
conhecimento da lei decorre de sua publicação, que 
é o marco para que se repute conhecida por todos. 
No entanto, existem casos que embora a conduta 
vá de encontro com a lei, o agente é isento de 
culpa. 
 
A lei apresenta como características básicas: 
 
 generalidade ou impessoalidade; 
 obrigatoriedade e imperatividade; 
 permanência ou persistência; 
 autorizante. 
 
Além disso, cabe a ela legislar sobre alguns assuntos, 
como detalhamos a seguir. 
 
Vigência 
 
A vigência estabelece o período de validade da 
norma, ou seja, trata-se do tempo da publicação e 
revogação. No texto de toda lei deve ter a data de vigência. 
 
Validade 
 
A lei precisa estar compatível com o sistema jurídico. 
Contrário a isso e descumprindo as regras de validade, ela 
pode ser considerada inconstitucional ou ilegal. 
 
Vigor 
Quando a lei passa a ter obrigatoriedade. 
 
Conflitos de lei no espaço 
 
A LINDB atua para resolver conflitos entre leis 
brasileiras e estrangeiras, em casos de má interpretação no 
texto das leis. 
 
Conflitos de lei no tempo 
 
A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro 
estabelece uma regra para que haja a organização entre as 
novas leis e as antigas, ou seja, há uma norma geral de 
funcionamento. 
 
Critérios hermenêuticos 
 
Atua quando o Legislativo precisa de uma 
interpretação, pois o legislador não consegue prever a 
totalidade dos fatos. 
 
 
 
 
É salutar trazer a baila, que o então Presidente da 
República, Michel Temer, sancionou com vetos o PL 
7.448/2017, transformando-a na Lei 13.655/2018, que 
introduziu 10 novos artigos na Lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro (LINDB). 
 A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 
(LINDB) passou por mudanças recentes. A Lei nº 
13.655/2018, acrescentou novas diretrizes interpretativas 
voltadas à aplicação do direito público no Brasil, para 
garantir a eficiência e a segurança jurídica. 
Destarte, as mudanças incluem dez novos artigos, que 
trazem novidades para o Direito em geral, sobretudo, 
inaugurando novas discussões sobre a responsabilidade 
pessoal dos gestores públicos, em decorrência dos seus atos 
praticados. 
As mudanças incluem, em destaque: 
Novas diretrizes para decisões administrativas (artigo 
20). 
O direito à transição adequada quando da criação de 
novas situações jurídicas passivas para os particulares (artigo 
23). 
Um regime jurídico geral para negociação entre 
autoridades públicas e particulares (artigo 26). 
A proibição de invalidação de atos por mudança de 
orientação (artigo 24). 
A compensação, dentro dos processos, de benefícios 
ou prejuízos injustos gerados para os envolvidos (artigo 27), 
dentre outras. 
 
2.5 Relações Jurídicas 
 
São as relações jurídicas que dão movimento ao 
direito. Em sentido amplo, os acontecimentos que 
instauram, modificam ou extinguem relações jurídicas. 
Segundo ensinamento de Miguel Reale (2002), 
“quando uma relação de homem para homem se submete 
ao modelo normativo instaurado pelo legislador, essa relação 
é reconhecida como sendo jurídica.” 
Quando o direito, atribuído a uma pessoa um direito 
subjetivo e impondo a outra um dever jurídico ou uma 
sujeição, vem disciplinar relações da vida social estaremos 
diante de uma relação jurídica. 
As relações jurídicas se formam pela iniciativa das 
normas jurídicas em fatos sociais, consoante irá ser 
assinalado mais à frente, quando estudarmos a Teoria 
Tridimensional do indigitado renomado jurista. Importante 
frisar que as relações jurídicas fundamentais decorrem da lei, 
que estabelecem direitos fundamentais. 
Um exemplo de relação jurídica é de um contrato 
assinado entre partes capazes, acerca de um objeto lícito e 
possível, que gera dever entre as partes e recebe a tutela do 
Estado Juiz. 
 
3. DISCIPLINAS JURÍDICAS 
 
Ao ser objeto de estudo de diferentes disciplinas 
afins, mais frequentemente denominadas ciências jurídicas, 
o direito não perde a sua unidade fundamental. O Direito 
descansa sempre sobre uma determinada concepção do 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Msg/VEP/VEP-212.htm
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2151854
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2151854
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2151854
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Lei/L13655.htm
http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/Del4657compilado.htm
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
6 
homem e da sociedade, de suas relações recíprocas e, por 
conseguinte, também sobre um determinado sistema de 
valores, consoante já estudado. 
O conhecimentoda vida humana, por seu lado, 
pressupõe experiência e reflexão filosófica, enquanto que os 
dados referentes à realidade social são fornecidos pela 
sociologia. A análise do homem e da sociedade deve ser uma 
tarefa permanente a ser desenvolvida pelo estudioso do 
Direito, conhecimento essencial para o Policial Militar. 
As disciplinas jurídicas dividem-se em duas classes: as 
fundamentais e as auxiliares. A Ciência do Direito, Filosofia 
do Direito e a Sociologia do Direito, integram o primeiro 
grupo, enquanto que a História do Direito e o Direito 
Comparado, entre outras, compõem o segundo. 
 
3.1 Disciplinas Jurídicas Fundamentais 
 
Ciência do Direito – A visão que a ciência do direito 
oferece é limitada, não suficiente para revelar ao espírito 
integral do direito, porém, serve de referência à totalidade 
dos estudos desenvolvidos sobre o direito. Também 
chamada de dogmática jurídica, esta disciplina aborda o 
Direito vigente em determinada sociedade e as questões 
referentes à sua interpretação e aplicação. O seu real papel é 
o de revelar o ser do Direito, aquele que é obrigatório. 
 
Filosofia do Direito – A filosofia surgiu na Grécia 
antiga e, por este motivo, é natural que se inicie justamente 
ali, no berço das especulações mais profundas sobre o 
comportamento e o espírito humano. Enquanto os 
conhecimentos científicos e filosóficos do direito se obtêm 
pela seleção e emprego de métodos adequados de pesquisa, 
o vulgar é adquirido pela vivência e participação da dinâmica 
social. É a noção que o leigo possui, oriunda da leitura 
assistemática ou de simples informações. Pois bem, se a 
Ciência do Direito se limita a descrever e sistematizar o 
Direito Vigente, a Filosofia do Direito transcende o plano 
meramente normativo, para questionar o critério de justiça 
adotada nas normas jurídicas. De um lado, a Ciência do 
Direito responde a indagação o que é de Direito? De outro, a 
Filosofia do Direito responde à pergunta o que é o Direito? 
Esta é uma disciplina sobre os fundamentos do Direito. 
Nesse contexto temos a própria Filosofia Geral aplicada 
diretamente ao objeto do Direito. 
 
Sociologia do Direito - A Sociologia do Direito é a 
disciplina que examina o fenômeno jurídico do ponto de 
vista social, a fim de observar a adequação da ordem jurídica 
aos fatos sociais. As relações entre a sociedade e o Direito, 
que formam o núcleo de seus estudos, podem ser 
investigadas sob os seguintes aspectos principais: a) 
adaptação do Direito à vontade social; b) cumprimento pelo 
povo das leis vigentes pelo legislador e os efeitos sociais 
provocados pelas leis; c) correspondência entre os objetivos 
visados pelo legislador e os efeitos sociais provocados pelas 
leis. 
 
 
 
3.2 Disciplinas Jurídicas Auxiliares 
 
História do Direito – O homem, em seu permanente 
trabalho de aperfeiçoamento do mundo cultural, submete os 
objetos materiais e espirituais a novas formas e conteúdos, 
visando ao seu melhor aproveitamento, a sua melhor 
adaptação aos novos valores e aos fatos da época. Esse 
patrimônio não resulta do esforço isolado de uma geração, 
pois corresponde à soma das experiências vividas no passado 
e no presente. 
As pesquisas científicas de hoje, são os acréscimos ao 
trabalho de ontem. A História do Direito é uma disciplina 
jurídica que tem por escopo a pesquisa e a análise dos 
institutos jurídicos do passado. O seu estudo pode limitar-se 
a uma ordem nacional, abranger o direito de um conjunto de 
povos identificados pela mesma linguagem ou formação, ou 
se estender o plano mundial. 
 
Direito Comparado – O direito comparado é o 
pensamento tentado sobre o direito de um mundo dividido. 
É um ramo da ciência jurídica, tendo Aristóteles, na 
Antiguidade, realizado um estudo comparado das 
Constituições gregas, depois com Montesquieu, o das 
instituições políticas inglesas. Porém, foi com a obra de 
Lambert, que a função do direito comparado se solidificou i, 
através de uma série de estudos na França e nos demais 
países europeus, metodologicamente rigorosos, 
comparativos do direito. 
A Disciplina Direito Comparado tem por objeto o 
estudo comparativo de ordenamentos jurídicos de diferentes 
Estados, dentro do propósito de revelar as novas conquistas 
alcançadas em determinado ramo da árvore jurídica e que 
podem orientar legisladores. Tal estudo não pode prender-se 
apenas às leis e aos códigos. 
Em havendo identidade na realidade social, a 
experiência jurídica de um Estado poderá ser aproveitada 
por outro. Aqui se encontra um dos principais aspectos do 
estudo do Direito Comparado. 
 
4. SOCIABILIDADE HUMANA E OS INSTRUMENTOS DE 
CONTROLE SOCIAL 
 
Pode-se dizer ser a vida social constituída de uma 
rede de relações sociais que podem ser caracterizadas como 
sendo de aproximação (casamento, família), afastamento 
(divórcio, reclusão) ou oposição (conflitos entre indivíduos) e 
mistas (direito dos contratos). O direito é o símbolo visível da 
solidariedade social. O direito é o único controle social que 
tem mais possibilidade de garantir a ordem, a paz e a 
segurança, viabilizando, assim, uma sociedade sadia em 
todas as suas etapas de sua evolução. Constitui-se em um 
verdadeiro contendor social externo dos impulsos naturais, e 
indesejáveis, do homem, mormente quando estipula sanções 
a condutas vedadas. 
Da natureza do agrupamento social depende a 
natureza do direito, que a reflete e a rege. Do tipo de 
sociedade depende a ordem jurídica, destinada a satisfazer 
as suas necessidades, dirimir possíveis conflitos de 
interesses, assegurar a sua continuidade, atingir as suas 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
7 
metas e garantir a paz social. Diferentemente dos outros 
instrumentos de controle social, como as normas de trato 
social, a moral e até mesmo a religião, o direito agrega um 
elemento exterior que obriga a todos a adoção de uma 
conduta desejada ou a não prática da conduta indesejada, 
normalmente trazendo uma reprimenda em caso de 
comportamento que vá de encontro ao disciplinamento 
legal. O dever do Direito pode ser exigido em juízo, 
diferentemente dos deveres dos outros instrumentos de 
controle social, como as normas de trato social, a moral e a 
religião, que não são exigíveis em juízo, tendo apenas reflexo 
interno, de foro íntimo. 
 
4.1 O Mundo Natural e o Mundo Cultural 
 
O conhecimento da existência do ser oferece ao 
homem a base da experimentação e, portanto, a 
possibilidade de fazer ciência. Só o homem faz ciência, 
porque só a ele é dado investigar a natureza. Mundo natural 
é o mundo na natureza, do que existe por si só, ao qual o 
homem está incorporado. O homem é um ser, ao lado de 
outros seres e distingue-se dos demais por ser dotado de 
inteligência, qualidade que lhe permitiu criar o seu próprio 
mundo – o Mundo Cultural, que faz parte do mundo da 
produção de bens. 
A natureza é a fonte do ser humano. Sobre ela o 
homem se debruça inclusive para especular a própria 
existência. O homem permanece vinculado a dois mundos: o 
mundo natural e o mundo cultural. Ao primeiro, como parte 
da realidade universal, onde a verdade reside na essência, 
sendo que esta não se lhe manifesta; ao segundo, aparece 
como seu criador, submetendo-se, todavia, as suas regras, 
como é o exemplo do Direito. 
 
4.2 Direito e Moral 
 
A análise comparativa entre a ordem moral e a 
jurídica é importante não apenas quando indica os pontos de 
distinção, mas também quando destaca os focos de 
convergência. Direito e moral são instrumentos de controle 
social que não se excluem, antes, se completam e 
mutuamente se influenciam. 
O direito, malgrado distinguir-se da moral, é 
grandemente influenciado por esta, de quem recebe valiosa 
substância. A norma moral é a norma ética, pois se funda 
num juízo de valor, expressando-se na experiência humana, 
no mundo exterior, através da atividade de assimilação de 
conceitos, que é atividade interna. 
Direito e Moral estão numa constanterelação de 
complementação, haja vista vez que a legitimidade de um 
ordenamento jurídico é aferida quando não conflitar com os 
princípios morais (HABERMAS, 2003). 
O direito é heterônomo, ou seja, dirige-se a todos, 
atribuindo-lhes direitos e deveres, no que revela o seu 
caráter atributivo, é, em síntese, a sujeição ao querer alheio; 
determina o dever ser; é um meio de realização da justiça, 
que é o seu fim; delimita as regras morais determinam 
nossos deveres com relação a nós mesmos. Diferencia-se 
substancialmente dos outros instrumentos de controle social 
por ser dotado de coercibilidade. 
Já a moral é autônoma, porque submete apenas a 
pessoa, na sua individualidade interior, é o dever ser; 
preocupa-se com o que é bom; é um fim em si mesmo, ao 
regular a conduta do homem na esfera da sua consciência; é 
incoercível. 
 
4.3 Direito e Justiça 
 
O direito é o veículo para a realização da justiça, 
enquanto que a justiça é a meta da ordem jurídica. A ideia 
de justiça que nós temos é herança da cultura clássica grega 
e romana, da primeira em sentido filosófico e da segunda no 
sentido jurídico. Platão entende que a justiça é virtude 
suprema; o equilíbrio e a harmonia constituem as suas notas 
fundamentais. 
Aristóteles definiu a justiça como equilíbrio e 
proporção, discernindo justiça distributiva e justiça corretiva, 
respectivamente em função de critério de proporção e de 
igualdade. “A justiça é frequentemente considerada a mais 
elevada forma de excelência moral”. “A justiça, e só a justiça, 
entre todas as formas de virtude, é o bem dos outros”. 
Para Ulpiano (Apud Nader, 2011, p.105), jurisconsulto 
romano, a sua definição de justiça, numa acepção sem 
amarras temporais, consiste na “constante e firme vontade 
de dar a cada um o que é seu”. 
 
 
O termo “seu” deve ser entendido em diversos 
aspectos; do patrimonial ao espiritual; do pessoal ao 
coletivo, como, por exemplo, o salário equivalente ao 
trabalho e a pena proporcional ao crime. 
De acordo com o brocardo que bem define essa 
proximidade entre direito e justiça, atribuído a São Tomás de 
Aquino, lex iniusta non est lex, isto é, a lei injusta não é lei. 
 
4.4 Direito e Equidade 
 
Alguns juristas aproximam direito e equidade. Para os 
romanos o direito é sempre o que é bom e equitativo. 
Equidade é o princípio que em função da razão pode 
flexibilizar, moderar ou modificar a aplicação da lei, quando 
se evidencia excessivo rigor, inadequação ou injustiça. 
Uns entendem a equidade como noção moral, 
igualdade de direitos e justiça, consideram-na como o 
sentimento do justo, provocado no juiz pelo caso sub júdice; 
ou ainda, como noções de humanidade, clemência, 
moderação e mitigação. Outros preferem definir equidade 
em sentido mais técnico, a adaptação do direito ao fato, o 
‘meio de corrigir a lei’. 
De toda forma, no direito brasileiro, a equidade 
somente está autorizada quando vier expressamente 
prevista em lei. 
 
4.5 Teoria Tridimensional do Direito 
 
Uma concepção integral do fenômeno jurídico 
encontramos formulada na Teoria Tridimensional do Direito, 
especialmente na chamada fórmula de Reale. O principal 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
8 
nome de nossa filosofia do direito atual, e de todos os 
tempos, é o de Miguel Reale (1910), que alcançou projeção 
mundial, entre outros filósofos. Para REALE: “O fenômeno 
jurídico explica-se através da relação recíproca, simultânea e 
dialética entre norma, fato social e valor”. Fato – fato social, 
realidade. Valor – valoração, juízo de valor, percepção sob 
critério ético. Norma – lei ou norma de conduta obrigatória. 
Fato, valor e norma não existem separados um dos outros, 
mas coexistem formando uma unidade em constante 
ebulição. 
Segundo tal teoria, o Direito, que se expressa por 
meio de normas, mas estas são apenas a última face do 
fenômeno jurídico, o qual somente pode surge comungado 
com as outras duas dimensões: o Fato Social e o Valor. 
Para exemplificar com aplicações práticas da teoria, 
podemos ressaltar que algumas condutas que eram 
tipificadas como crime acabam deixando de ser 
criminalizadas e vice-versa. O adultério deixou de ser crime 
no Brasil em 2005 e em 2012 tivemos a sanção da Lei 
12.737/2012 (Batizada de Lei Carolina Dieckmann) que foi a 
criminalização de várias condutas em relação aos crimes 
virtuais e delitos informáticos, devido o espaço amplo que a 
Rede Mundial de Computadores (Internet) e das redes 
sociais no cenário mundial. 
Importante frisar que, em contraponto, existe uma 
corrente que alega que a presente teoria é falha e não 
corresponde com a realidade, com o argumento de que 
existem normas que a população discorda ou mesmo sequer 
teve qualquer participação, reforçando nesta tese que a 
teoria confunde valoração social com valoração jurídica. 
 
5. SIGNIFICAÇÕES DO DIREITO 
 
O termo “direito” tem sua origem no latim directus, 
que significa aquele que segue regras predeterminadas. O 
conceito denota direcionamento ou obrigatoriedade de um 
comportamento. No entanto a palavra direito pode receber 
diversos empregos dependendo do contexto da oração, 
como: “não é direito abusar da boa-fé alheia”, “saúde é 
direito de todos”, “o direito brasileiro proíbe o roubo”, 
“todos têm o direito de votar”, dentre outros, permitindo um 
contexto largo. Ao mesmo tempo em que o direito pode 
apresentar o significado de justiça, de bem jurídico justo, 
também tem o significado de norma e de poder/dever. Como 
estudantes, podemos perceber o direito no aspecto 
científico, onde o direito não é apresentado como norma ou 
a justiça, mas sim como uma ciência jurídica. Num sentido 
figurado, o direito aponta estar de acordo com a Lei, sendo 
uma das razões que fundamentam o entendimento de que o 
Direito é a ciência do dever ser. 
Para Pontes de Miranda, citado por Nader, o direito é 
um fenômeno de adaptação. “Direito não é outra coisa que 
processo de adaptação”. “Direito é processo de adaptação 
social, que consiste em se estabelecerem regras de conduta, 
cuja incidência independe da adesão daqueles a que a 
incidência da regra jurídica possa interessar”. 
No contexto histórico, diversas definições de direito 
foram delineadas: “Direito é a arte do bom e do justo” 
(Celso, jurista Romano); “O direito é o conjunto de normas 
ditadas pela razão e sugeridas pela sociedade” (Hugo Grócio 
– século XVII); “Direito é o conjunto das condições segundo 
as quais o arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio 
dos outros, de acordo com a lei geral de liberdade” (Emanuel 
Kant – século XVIII); “Direito é a política da força” (Ihering – 
século XIX); “Ordenação coercitiva da conduta humana” 
(Kelsen); “Direito é o conjunto de normas de conduta social 
imposto coercitivamente pelo Estado, para realização da 
segurança, segundo os critérios de justiça” (Paulo Nader); 
“Direito é a concretização da ideia de justiça na 
pluridiversidade de seu dever ser histórico, tendo a pessoa 
como fonte de todos os valores” (Miguel Reale); “Direito é a 
norma de conduta social obrigatória para a consecução da 
justiça” (Pedrosa). 
Especificamente para Kant (Apud Nader, 2011, p.73), 
“os juristas ainda estão à procura de uma definição para o 
Direito”. 
A seguir iremos estudar algumas concepções que não 
são necessariamente excludentes entre si, conforme 
veremos. 
 
5.1 Direito Natural x Direito Positivo 
 
O direito natural não depende de lei alguma, sendo 
evidente, espontâneo, por isso é autônomo, como por 
exemplo, o nascimento. Tem por fundamento os princípios 
fundamentais de uma determinada sociedade. 
 
Pela teoria do direito natural, existem dois direitos 
fundamentais, superiores a qualquer legislação: o direito à 
vida (não ser submetido à tortura, maus-tratos nas prisões, 
no lar, no trabalho, etc.) e o direito à liberdade (não ser 
preso arbitrariamente, não ser seqüestrado nem 
encarcerado injustamente, etc.). Notadamente no exercício 
da atividadepolicial nos deparamos muitas das vezes com 
casos que possam excepcionar estes direitos naturais (hoje já 
positivados), necessitando que o PM saiba agir de acordo 
com o regramento legal. 
As normas jurídicas, ao contrário, são postas pela 
vontade humana; enquanto as normas que são dadas pela 
natureza são anteriores a qualquer manifestação volitiva. Na 
expressão direito natural estão os princípios atribuídos a 
Deus, à razão, ou decorrentes da natureza das coisas. 
Independem de convenção ou legislação e seriam 
informativos ou condicionantes das leis positivas, adequados 
aos respectivos momentos históricos. 
Já o Direito Positivo é o que é real, certo, fora de 
qualquer dúvida; o direito só pode ser positivo na medida 
em que é sancionado pelo poder público (direito legislado). É 
o direito válido e eficaz, podendo ser escrito ou não. A 
positividade, então, se reflete na garantia assegurada pela 
ordem jurídica, ou seja, é o caminho à segurança jurídica de 
uma sociedade. 
O direito positivo é o que submete a todos, num dado 
momento e lugar, atual ou pretérito, sendo por isso, 
contingente e variável. A doutrina conceitua direito positivo 
como um sistema de normas vigentes, obrigatórias, 
aplicáveis coercitivamente por órgãos institucionalizados, 
tendo a forma de leis. Uma vez normatizado, não admite 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
9 
qualquer alteração, salvo pelas vias próprias que serviram à 
sua edição (proposta de emenda ou de nova norma que 
revoga expressamente a anterior) ou, excepcionalmente, 
através de formas previstas em lei, como, por exemplo, na 
suscitação de vícios de inconstitucionalidade em 
determinadas normas. 
O direito positivo resulta de um ato de vontade, 
sendo por isso heterônomo por ser imposto pelo Estado (lei). 
 
5.2 Direito Objetivo x Direito Subjetivo 
 
Quando consideramos o direito como regra 
obrigatória, ou como um conjunto de regras obrigatórias, 
entendemo-lo como direito objetivo, ou seja, o direito em 
sentido objetivo. É a compreensão do direito como norma 
obrigatória. 
É o direito em vigor, sendo o Direito Positivo uma 
espécie de Direito Objetivo, consubstanciado em regras de 
condutas obrigatórias e garantidas pelo Estado. É objetivo 
porque é posto pelo Estado ou admitido em sua ordem 
jurídica, bem como pelos costumes e por instrumentos 
válidos, como o caso dos contratos. 
Por sua vez, o Direito Subjetivo pode ser entendido 
como a prerrogativa ou faculdade outorgada, por lei ou por 
contrato, a uma pessoa, para praticar certo ato. É subjetivo 
por ser o direito de uma pessoa. Assim, o direito à 
propriedade se refere ao direito que tem determinada 
pessoa a determinada coisa (direito subjetivo), que é 
protegido e tutelado pelo Estado nos termos da Carta Magna 
e do Código Civil (direito objetivo). 
Quando nasce o direito à indenização, no exemplo de 
Paulo Nader (2011, p. 80-81), o autor tem um direito 
subjetivo, haja vista a ofensa a uma norma de direito 
objetivo e positivada. 
A noção de direito subjetivo é correlata à de dever 
jurídico, não substituído, pois, direito sem dever, nem este 
sem aquele. É o direito de exigir ou pretender, pois não cabe 
ao titular do direito subjetivo adotar atos de coação para a 
satisfação do seu interesse, salvo nos casos previstos em lei. 
Subjetivo é o direito cujo exercício é uma prerrogativa 
ou uma possibilidade do seu titular de exigir uma conduta de 
outrem, consistente na satisfação de um interesse próprio ou 
de terceiro. É o direito subjetivo que confere a possibilidade 
de agir, tratando-se de uma garantia constitucional, à 
disposição de toda pessoa que se julgar lesada ou ameaçada. 
 
5.3 Direito Substantivo x Direito Adjetivo 
 
O Direito Substantivo é entendido como o conjunto 
das regras criadas pelo Estado que normatiza a vida em 
sociedade, definindo as relações jurídicas. Constitui-se no 
chamado direito material. O Direito Substantivo (Material) é 
o que define as condutas e as relações concretas das pessoas 
em sociedade, e as submete à sua ação. 
Em contraponto temos a concepção de Direito 
Adjetivo (Processual), que consiste nas regras de direito 
processual que regulam a existência dos processos, bem 
como o modo destes se iniciarem, se desenvolverem e 
terminarem. O direito formal ou "adjetivo" diz respeito à 
processualística, ou seja, à forma pela qual se aplica o direito 
material. Instrumentaliza como efetivar, manter, tornar 
válidos ou recuperar os direitos previstos no âmbito do 
Direito Substantivo (Material). 
São autônomos entre si. Enquanto o Direito Material 
estabelece as normas que regulam as relações jurídicas entre 
as pessoas, o Direito Processual é instrumental, serve de 
instrumento para a viabilização do acesso ao Poder 
Judiciário. 
Para a ação policial é imprescindível o conhecimento 
do Direito Material, até porque é extremamente necessário 
saber quais condutas são tidas como delitos penais e tornam 
obrigatória a intervenção policial, dentre outras nuanças Já, 
em relação do Direito Adjetivo, é importante que o policial 
tenha um bom conhecimento, mas não precisa entender de 
forma completa como se dá a processualística jurídica. 
Tarefa de Casa: Assistir “O mercador de Veneza”. 
Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=i0VbIO4mtFg. 
 
6. TEORIAS DO DIREITO 
 
As Teorias do Direito são correntes de cunho filosófico 
que visam situar o Direito na sociedade, especialmente, em 
relação à moral e à validade das normas. Destarte, para 
entendermos melhor como se deu a evolução histórica do 
fenômeno jurídico, importante estudarmos os modelos 
principais, seus pontos divergentes e suas transformações, a 
fim de debatermos o desenvolvimento do Direito enquanto 
ciência autônoma e técnica de regulação social, 
considerando a história do pensamento jurídico e sua 
relação com as sociedades modernas. 
 
2.1 Jusnaturalismo 
 
A ideia remonta do Direito Natural, já estudado, 
sendo umas das teorias mais antigas. Sustenta que o direito 
advém da natureza das coisas, da natureza humana ou ainda 
da religião ou da razão, tidos como aspectos naturais. 
O pensamento jusnaturalista originou-se na Grécia 
como expressão universal e igualitária da natureza humana. 
Por consequente, prescinde de lei promulgada e criada pelo 
homem. Por volta do século XIII, pela influência de São 
Tomás de Aquino, nasceu o jusnaturalismo teológico, 
ou transcendental, conferindo ao direito natural uma ordem 
eterna do universo, com origem em Deus. Tal entendimento 
angariava muita coerência na época, pela influência 
exponencial da religião na condução das Leis que regulavam 
a vida em sociedade. 
Com o iluminismo, esta corrente foi perdendo força e 
aceitação, surgindo o jusnaturalismo moderno que baseando 
a teoria na natureza da razão humana. A justiça era o 
imperativo que norteava e legitimava o respeito ao direito 
natural. Não estava adstrito ao direito escrito ou estatal, mas 
sim acima do próprio Estado. Tratava-se de algo natural 
como uma concepção universal e inerente à natureza 
humana. 
 
 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
10 
Entende-se que o direito natural deve prevalecer ante 
ao direito posto, caso este fira a concepção daquele. 
Radbruch, filósofo do direito do século XX, em defesa a esta 
tese advogava em nome do direito natural que: “a lei 
extremamente injusta não é lei”. 
Verifica-se que o jusnaturalismo está caracterizado 
por duas teses, uma de concepção ética e filosófica, que 
defende a existência de uma concepção de justiça e de 
princípios morais universalmente válidos e acessíveis à 
razão humana e outra relativa à concepção do que se 
entende por Direito, segundo a qual uma norma em 
desacordo com esta compreensão não pode ter amparo 
jurídico. 
Em contraponto ao jusnaturalismo, afirma-se que os 
conflitos são carregados de subjetividades e dificilmente 
podemos ter uma decisão racionalque alcance todos os 
aspectos da moralidade e da justiça de forma universal e 
ampla, bem como que o plano metafísico e superior em que 
repousa esta teoria dificilmente poderia legitimar uma 
decisão judicial, tendo em vista a relatividade dos conceitos e 
a carga de subjetividade. 
 
6.2 Positivo Normativo de Hans Kelsen 
 
O positivismo jurídico tem sua base no Direito 
Positivo. Dentre as correntes da filosofia do direito, esta 
resguarda muita força na concepção atual, especialmente 
por ser bem concreta e palpável, podendo ser identificada de 
forma objetiva no meio social. Repousa a validade da Lei na 
autoridade dos legisladores e ampara sua validade na ciência 
jurídica, com juízos de fato e não de valor (subjetivos). 
A presente teoria separa o Direito da Moral e baseia a 
força do Direito no Estado, podendo ser delimitado de forma 
objetiva. Por consequência, tem validade obrigatória 
(heterônoma), tendo que ser suportado e respeitado por 
todos. A norma é tida por justa por ter sido legislada e criada 
pela autoridade competente. 
Assim, a norma jurídica pressupõe uma legitimidade 
em si mesma, devendo o Estado Juiz fazer valer o Direito 
Posto. 
Nessa teoria a estrutura da ordem jurídica é entendida 
como autossuficiente e as decisões judiciais devem ser 
espelhos da aplicação da legislação vigente. O positivismo 
alberga também o respeito ao Princípio da Separação dos 
Poderes, onde o Juiz não poderia invadir a esfera do 
legislador, que em tese representa a vontade da maioria. 
Hans Kelsen entende que uma norma repousa sua 
validade na norma superior e todo o ordenamento jurídico 
na “Norma Hipotética Fundamental”, onde uma Lei só terá 
validade se não ferir a norma superior. Ilustrando o 
entendimento ao autor, segue a ilustração abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL 
 
 
Fonte: https://direitoaojus.blogspot.com/2017/07/piramide-de-
kelsen.html 
 
Percebe-se na figura que uma norma é jurídica quando 
ela pertence validamente ao sistema jurídico escalonado e 
hierarquizado, que é validado em si mesmo. 
 
Tarefa da Casa: Acessar o podcast: Norma Jurídica. 
Disponível em: https://podcasts.google.com/feed/aH 
R0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy8xNTFlN2EzNC9wb2RjYXN0L
3Jzcw/episode/ZjU5YmQ2MjUtMWI0OC00NTdmLThlOWMt
NTBhNmE5MTliMDg5?hl=ptBR&ved=2ahUKEwiFs4vBz7HqA
hUaHLkGHd3QD3kQjrkEegQIChAE&ep=6 
 
7. FONTES DO DIREITO 
 
Paulo Nader (2011) conceitua lei, costumes e 
princípios gerais do direito da seguinte forma: A lei é uma 
forma moderada de produção do Direito Positivo. É ato do 
Poder Legislativo, que estabelece normas de acordo com os 
interesses sociais. O processo legislativo é estabelecido de 
acordo com a Constituição Federal e se desdobra nas 
seguintes etapas: apresentação do projeto, exame das 
comissões, discussão e aprovação, revisão, sanção, 
promulgação e publicação. Costume é uma prática gerada 
espontaneamente pelas forças sociais e ainda, de forma 
inconsciente. A lei é direito que aspira à efetividade e o 
costume é norma efetiva que aspira à validade. É cediço, que 
o direito escrito já absorveu a quase totalidade das normas 
consuetudinárias. Os princípios gerais do direito garantem, 
em última instância, o critério de julgamento. Dirige-se aos 
destinatários do direito em geral, ou seja, aos homens da 
sociedade. 
 
 
 
 
 
 
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11 
8. HIERARQUIZAÇÃO DAS LEIS 
 
Normas jurídicas são padrões de conduta social 
imposta pelo Estado, para que seja possível a convivência 
dos homens em sociedade. São fórmulas de agir, 
determinações que fixam as pautas do comportamento 
interindividual. Em síntese, norma jurídica é a conduta social 
ou o modelo imposto de organização social. 
Dentro da classificação das normas jurídicas 
encontram-se as hierarquias das leis, quais sejam: Normas 
Constitucionais – Constituição Federal, Constituições 
Estaduais e Emendas às Constituições; Normas 
Infraconstitucionais – Leis Ordinárias, Leis Complementares e 
Leis Delegadas; Atos com Força de Lei – Medidas Provisórias, 
Decretos Legislativos e Resoluções do Legislativo; Atos 
Administrativos Normativos – Portarias, Regulamentos, 
Decretos, Decretos-Lei, Regimentos, Certidões, Despachos, 
Homologações, Autorizações, Permissões, etc. 
Especificamente quanto às normas constitucionais, 
não podemos olvidar do conceito de Bloco de 
Constitucionalidade, importado do direito francês, e já 
reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal. Refere-se a 
normas materialmente constitucionais que se encontram 
fora do texto magno, como, por exemplo, os acordos 
internacionais que sejam aprovados em cada casa legislativa 
do Congresso Nacional em dois turnos de votação, com 3/5 
de votos favoráveis dos respectivos membros, na forma do § 
3º, Art. 5º, da CF/1988. 
Importante frisar que quanto à extensão territorial as 
normas podem ser federais, estaduais e municipais. 
 
9. RAMOS DO DIREITO 
 
9.1. Direito Público 
 
É o que predomina o interesse público; relação de 
subordinação. Pode ser interno e externo. Paulo Dourado de 
Gusmão (2003) faz a seguinte classificação: 
 
Interno 
 
É a parte do direito em que predomina o interesse 
público, principalmente, o do Estado. É direito de 
subordinação e divide-se em: 
 
 Direito Constitucional – é o direito organizador do 
Estado e de seu governo, disciplinador das 
relações entre governantes e governados, e dos 
direitos fundamentais dos cidadãos; 
 Direito Administrativo – é o que organiza e 
disciplina a Administração Pública e os serviços 
públicos; 
 Direito Eleitoral – é a que disciplina a escolha dos 
governantes pelos governados, estabelecendo as 
condições para ser eleitor e as de elegibilidade, a 
data das eleições, a forma do voto e de sua 
apreciação; 
 
 
 Direito Penal (Comum e Especial) – é um sistema 
de normas que define e enumera os crimes e as 
respectivas penas, bem como prescreve medidas 
preventivas aplicáveis; 
 Direito Processual (Comum e Especial) – é o que 
disciplina o processo judicial, a sequencia de atos 
destinados a obter a sentença definitiva; 
 Direito Judiciário – é o que organiza o Judiciário e 
disciplina o seu funcionamento; 
 Direito Penitenciário – é o que tem por objeto a 
execução da pena e a recuperação social do 
delinquente. É o ramo do direito repressivo que 
disciplina a forma que deve ser cumprida a pena 
de prisão, ou seja, a execução da pena imposta 
pelo juiz da sentença criminal; 
 Direito Tributário – é o conjunto de normas que 
disciplina a arrecadação para que o Estado possa 
gerenciar suas atividades em prol da sociedade; 
 Direito Político – é o que compreende a estrutura 
política do Estado, o direito eleitoral e os partidos 
políticos; 
 Direito Financeiro – é o que disciplina e organiza 
as finanças públicas. É o conjunto de normas que 
disciplinam a gestão e a distribuição de meios 
econômicos que necessitam o Estado e outros 
entes públicos para o cumprimento de suas 
atividades; 
 Direito Disciplinar – é o direito repressivo 
destinado a obter maior eficiência, disciplina, 
decoro e produtividade no serviço público, nos 
parlamentos e nas Forças Armadas e Forças 
Auxiliares; 
 Direito Contravencional – é o direito que pune as 
faltas ou desobediências sem muita gravidade; 
 Direito Internacional Privado – é o direito que 
indica a legislação de direito privado (nacional ou 
estrangeira) aplicável a casos em que há dúvida 
quanto à lei que o rege. 
 
Externo 
 
Rege as relações com outros países (comerciais e 
culturais – políticas e econômicas). Divide-se em: 
 
 Direito Internacional – é o direito constituído de 
regras consuetudinárias e pactuadas que regem as 
relações entre Estados soberanos, impondo-lhes 
também o respeito aos direitos humanos; 
 Direito Penal Internacional – é direito 
convencional, estabelecido por tratados, que rege 
a repressão de delitos que afetam as relações 
internacionais ou que atentam contraos direitos 
humanos e a civilização; 
 Direito Diplomático – é o que estabelece a 
competência da autoridade para celebrar ou 
denunciar tratado ou para nomear agentes 
diplomáticos, organização do Ministério das 
Relações Exteriores e da carreira diplomática; 
 
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
12 
 Direito Espacial – é o direito que disciplina a 
utilização e a exploração do espaço extra-
atmosférico e dos corpos celestes. São feitas 
atualmente por satélites, espaçonaves, 
laboratórios orbitais, sondas e estações orbitais, 
etc. 
 
9.2 Direito Privado 
 
É o direito que predomina o interesse privado e em 
que as partes se apresentam em pé de igualdade. Divide-se 
em: 
 
 Direito Civil – é o que regula as relações jurídicas 
entre pessoas, empresas ou similares, com ou sem 
a natureza patrimonial, consideradas em situações 
de igualdade; 
 Direito Comercial – é o que regula as relações 
jurídicas que nascem do exercício do comércio; 
 Direito Privado Disciplinar – é o que tem por 
fontes estatutos de clubes, de associações, de 
instituições ou de sociedades (civis ou comerciais), 
prevendo penas (exclusão de sócios, suspensão de 
associados, multa, etc.), aplicáveis a seus 
associados; 
 
9.3. Direito Misto 
 
É o direito constituído por normas e princípios de 
direito público e de direito privado ou, ainda, de direito 
nacional e de direito internacional. 
 
 Direito Marítimo – é o conjunto de regras de 
direito público e de direito privado que disciplina 
o transporte, a navegação e o comércio marítimo. 
Tem normas de direito administrativo (organização 
de portos), de direito disciplinar (aplicação de 
penalidades aos tripulantes das embarcações) e 
de direito privado (direito comercial marítimo); 
 Direito Aeronáutico – é o conjunto de normas que 
regem o transporte aéreo na atmosfera, aplicável 
às aeronaves, às suas tripulações, aos aeroportos 
e ao espaço aéreo; 
 Direito Econômico – é o direito que controla a 
produção e a circulação de riquezas. Trata das 
relações econômicas ligadas à produção (agrícola 
e industrial); 
 Direito do Trabalho – é o direito que rege as 
relações jurídicas entre assalariados e patrões e 
estabelece as condições de trabalho, salário e 
assistência, vantagens e prerrogativas do 
trabalhador; 
 Direito Sindical – é o direito que tem por objeto o 
exercício de atividades profissionais, disciplina o 
poder normativo e de representação dos 
sindicatos; 
 Direito Agrário – é o direito rural. Rege a 
produção agropecuária e a propriedade industrial-
rural; 
 Direito Falimentar – é o complexo de normas 
protetoras do crédito no caso de insolvência do 
comerciante. 
 
REFERÊNCIAS 
 
AQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro. 12 
ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2004. 
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 5 ed. São Paulo: 
Malheiros, 2004. 
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do 
Direito. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. 
FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do 
direito: técnica, decisão, dominação. 11ª ed.. São Paulo: GEN 
| Atlas, 2019. 
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia entre facticidade e 
validade. Volumes I e II. 2ª ed. Trad. Flávio 
BenoSiebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. 
LUIZ, Valter Correia. Introdução ao Estudo do Direito. 2 ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 1996. 
MASCARO, Alysson Leandro. Introdução do Estudo do 
Direito. 6ª ed. rev. atual. ampliada. São Paulo: GEN | ATLAS, 
2019. 
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 8 ed. São 
Paulo: Atlas, 2000. 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 33 ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2011. 
______. Filosofia do Direito. 14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2004. 
PAUPÉRIO, A. Machado. Introdução ao Estudo do Direito. 3 
ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 
PEDROSA, Henrique E. Introdução Didática ao Direito. 2 ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 2004. 
PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. 13 ed. 
Rio de Janeiro: Atlas, 2001. 
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27 ed, São 
Paulo: Saraiva, 2002 (10 tir., 2011). 
SILVA, Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: 
Forense, 1990. 5 v. 
 
ANEXO I 
 
O Direito Natural e o Direito Positivo e seu Contexto 
Histórico: Lições de Norberto Bobbio 
 
Revista 163 – Âmbito Jurídico. 
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revi 
sta-163/o-direito-natural-e-o-direito-positivo-e-seu-
contexto-historico-licoes-de-norberto-bobbio. Acesso em 
20.02.2022. 
 
Resumo: Este artigo tem por fito demonstrar a 
evolução do direito natural e do positivo descrita pelo autor 
Norberto Bobbio em sua obra O positivismo jurídico: lições 
de filosofia do direito. Nesse sentido, busca-se evidenciar 
que no transcorrer dos diferentes períodos históricos, ambos 
os direitos tiveram seu estado de eficácia alterado, porém, a 
norma natural e a positiva, continuam imprescindíveis no 
presente quadro de desenvolvimento social. 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
13 
Palavras-chave: direito natural; direito positivo; contexto 
histórico; Norberto Bobbio. 
 
Introdução 
 
Conhecer a evolução jurídica possibilita explorar as 
diversas exigências sociais que possui cada época. A 
sociedade e o Estado usaram do direito natural e do positivo 
de diferentes modos até as mencionadas normas alcançarem 
a posição que possuem atualmente na ordem jurídica pátria: 
na ausência do direito positivo, o juiz utilizará da norma 
natural na solução do caso concreto. 
Para tanto, procuramos através de Norberto Bobbio, 
importante filósofo e jurista italiano, estudioso do direito 
natural e do direito positivo, demonstrar que o corpo social 
não está desprotegido de normas jurídicas, eis que na 
hipótese de omissão legislativa o magistrado fará uso da lei 
natural. 
Assim, no primeiro capítulo tratamos de definir a 
normal natural e a positiva, expondo a definição de notáveis 
autores que estudam o tema ora tratado. No segundo 
capítulo buscamos evidenciar a posição do direito natural e 
do direito positivo em fases históricas diferentes, mostrando 
como os direitos eram vistos de acordo com cada período. 
Já no terceiro capítulo mudamos de foco, com o 
objetivo de apresentar a relação do magistrado com tais 
direitos na aplicação da lei no caso concreto. O quarto 
capítulo discorre acerca do direito romano no que concerne 
à norma positiva e natural. 
Nessa mesma linha, o capítulo quinto procura 
demonstrar a posição da Inglaterra no tocante às normas em 
questão. O sexto capítulo aponta a necessidade de que o 
legislador seja o único a dizer direito, sendo que mencionada 
atribuição decorre da representação que faz do Estado e do 
povo. Já o sétimo capítulo dispõe sobre a presença das 
normas em estudo no século XVIII até os tempos atuais. 
Dito isto, esperamos que o presente trabalho seja de 
grande valia para aqueles que buscam através de Norberto 
Bobbio conhecer o contexto histórico que cerca a lei positiva 
e a lei natural. 
 
1. O conceito do direito natural e do direito positivo 
 
Conhecer as definições dos mencionados direitos é 
imprescindível para compreender como se desenvolveram 
ao longo da história. Nessa perspectiva, para Andityas Soares 
de Moura Costa Matos (2006, p. 191) o direito natural é: 
 
“a doutrina idealista do direito que enxerga ao lado, 
ou melhor, acima do direito positivo algumas 
normas imutáveis e de observância obrigatória, 
postas por uma autoridade supra-humana (que 
seria a natureza, Deus ou a razão humana, como 
veremos adiante. As normas jusnaturais se dão a 
conhecer por meio das leis naturais que, em 
conjunto, formam o que se chama de ordem 
natural”. 
 
 
 
Nessa mesma linha, diz Hans Kelsen (apud MATOS, 
2006, p. 191): “As normas imutáveis da doutrina do direito 
natural apenas podem ser as leis naturais”. 
Diante dessas considerações o direito natural pode 
ser definido como aquele estabelecidopor algo que se 
encontra em uma posição superior ao do homem, como, por 
exemplo, a natureza ou Deus. Tal direito é imutável e possui 
eficácia universal, isto é, tem validade em todo lugar. 
Conquanto, o direito positivo é conhecido como o 
pensamento que dispõe a superioridade da norma escrita 
sobre a não escrita (direito natural). A norma positiva é posta 
pelo homem, possui eficácia limitada, sendo válida somente 
nos locais nos quais a observa, bem como, é constantemente 
alterada. 
Os positivistas defendem que o direito positivo é o 
único capaz de dizer o direito, conforme menciona Tércio 
Sampaio Ferraz Júnior em seu livro Introdução ao estudo do 
direito: técnica, decisão, denominação (apud MATOS, 2006, 
p. 189): “A tese de que só existe um direito, o positivo nos 
termos expostos, é o fundamento do chamado positivismo 
jurídico *…+”. 
Explanadas tais reflexões, passaremos ao estudo dos 
fatos históricos que torneiam os referidos direitos. 
 
2. A evolução do direito natural e do direito positivo nos 
diferentes momentos históricos 
 
No período clássico, o direito natural não 
preponderava sobre o direito positivo. O direito natural era 
intitulado como direito comum, já o positivo era chamado de 
especial ou particular de uma determinada sociedade. 
Nesta época, o direito positivo se sobressaia em 
relação ao natural nos casos onde houvesse controvérsias 
entre eles, lógica resultante da máxima: o especial prevalece 
sobre o geral. Um exemplo disso é a obra de Sófocles, 
Antígona, onde o decreto de Creonte estava acima do direito 
natural, ou seja, do direito não escrito, posto pelos Deuses. 
 
Porém, na Idade Média, o cenário inverte, eis que o 
direito natural passaria a ser visto como superior ao direito 
positivo. O direito natural já não era mais entendido como 
direito comum, mas sim como a lei do próprio Deus. 
Ressalta-se que, mesmo encontrando-se o direito positivo 
numa escala inferior ao natural, o direito positivo continuava 
sendo considerado como uma espécie direito. 
Já no modernismo a situação novamente muda, uma 
vez que o direito positivo passa a ser conhecido como direito 
no sentido próprio, ou seja, todo o direito é reduzido ao 
positivo e o direito natural não é mais visto como um direito. 
Nessa esteira, o acréscimo do adjetivo “positivo” à palavra 
“direito” já não fazia nenhum sentido, era um pleonasmo. 
Assim, nasce o positivismo jurídico que nada mais é que a 
doutrina que alega que não existe outro direito, senão o 
positivo. 
 
 
 
 
 
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
14 
3. O juiz como objeto de estudo no que concerne à 
formação do direito antes e depois do Estado Moderno 
 
A formação do Estado Moderno, que surge após o fim 
da era medieval, está intrinsecamente relacionada à 
passagem do período jusnaturalista ao juspositivista. 
Norberto Bobbio (1995, p. 21) define o Estado como: “a 
associação perpétua de homens livres, reunidos em um 
conjunto com o fito de gozar os próprios direitos e buscar a 
utilidade comum”. 
Na Idade Média, a sociedade era pluralista, ou seja, 
representada por uma diversidade de agrupamentos sociais, 
onde cada grupo possuía seu ordenamento. Nessa época, o 
direito era fruto da população civil e não do Estado. 
Entretanto, no modernismo, a população era monista, 
isto é, o Estado possuía para si todos os poderes existentes. 
Dentre esses poderes podemos citar aquele de criar o 
direito, sendo a instituição estatal a única capaz de pô-lo, 
sem qualquer concorrência. Isso acontece através das leis ou 
por meio do controle que o Estado exercita nas normas de 
formação consuetudinária (direito fundado nos costumes). 
Esse fenômeno é conhecido como processo de 
monopolização da produção jurídica por parte do Estado. 
Como já visto, o direito nem sempre foi determinado 
pelo Estado. Podemos mencionar a título de exemplo, o 
direito natural que não se origina da do domínio estatal. 
O Estado primitivo não se importava em criar as leis, 
deixando a elaboração destas a cargo do desenvolvimento 
social e também para o juiz, que ficava incumbido de 
solucionar os conflitos e decidir as normas que seriam 
aplicadas. Nessa baila, o juiz é responsável pela transição do 
direito não estatal para o estatal, bem como, pela migração 
do ideal dualista (direito natural e direito positivo) para o 
monista (somente o direito positivo). 
Nesse sentido, para Norberto Bobbio (1995, p. 28) o 
direito é: 
 
“quando, surgindo um conflito entre dois sujeitos, 
intervém um terceiro (juiz nomeado ou arbítrio 
escolhido pelas partes) que estabelece uma regra 
(que provavelmente se tornará um “precedente”, 
isto é, será aplicada também em outros casos) 
segundo a qual a controvérsia será resolvida. Se, em 
uma dada sociedade, não há intervenção deste 
“terceiro”, não se pode falar em direito em senso 
estrito: dir-se-á que aquela sociedade vive segundo 
usos, costumes (mores) etc”. 
 
De se registrar que antes da formação do Estado 
Moderno o juiz não estava necessariamente obrigado a 
julgar as lides usando das normas emanadas do legislativo, 
sendo assim, o juiz podia escolher qual lei seria aplicada no 
caso concreto, podendo extraí-la dos costumes ou daquelas 
originárias dos juristas ou, até mesmo, fazendo uso da 
equidade; ou seja, podia o juiz utilizar do direito natural. 
Todas essas alternativas que continha o juiz constituem as 
fontes do direito. 
 
 
 
No Brasil as fontes do direito são aquelas previstas no 
artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro (LINDB), quais sejam, a analogia, os costumes e os 
princípios gerais de direito, sendo que tais institutos formam 
as formas de integração da norma jurídica. 
No entanto, com o advento do Estado Moderno, o juiz 
deixa de possuir essa autonomia no julgamento dos 
conflitos, posto que se torna órgão do Estado. O juiz agora é 
obrigado a usar das normas elaboradas pelo legislador ou, no 
caso das leis consuetudinárias ou normas do direito natural, 
estas seriam submetidas ao aval do Estado. 
Nesses termos, na época moderna, o direito positivo, 
aquele estabelecido e confirmado pelo Estado, passa a ser 
considerado como o único e verdadeiro direito, sendo 
aplicado em juízo. 
 
4. O direito natural e direito positivo no direito romano 
 
Durante a idade Média, a sociedade era pluralista, 
sendo assim, todo coletividade tinha um ordenamento 
próprio. Tal ordenamento era subordinado ao direito 
romano. A posteriori, os reinos obtinham sua independência 
e passavam a se titularizarem como possuidores do poder de 
elaborar seus próprios direitos. 
A ordem jurídica romana que na era medieval era 
conhecida como direito comum, termo esse relacionado à 
definição do direito natural estipulado pelos gregos e pelos 
romanos, tem seu fim com a codificação nos séculos XVIII e 
início do XIX, onde o direito comum foi totalmente integrado 
pelo direito positivo. 
 
5. O common law e statute law na Inglaterra 
 
O common law equivale as normas consuetudinárias 
do direito natural, já o statute law representa o direito 
estatutário ou legislativo. Salienta-se que a common law não 
é o direito comum de raiz romana, no qual vimos 
anteriormente, mas um direito consuetudinário de origem 
inglesa, proveniente das relações entre os povos e 
recepcionado pelos juízes escolhidos pelo rei. Após, 
o common law se torna um direito de elaboração jurídica, eis 
que é utilizado pelos juízes para a solução das controvérsias 
individuais. Já o statute law é interposto pelo poder 
soberano (rei ou, em um segundo momento, pelo rei e pelo 
parlamento). 
 
É curioso o fato que na Inglaterra o direito positivo 
não sobressaiu ao direito natural, mesmo quando a 
monarquia medieval passou à monarquia moderna. No 
referido país, o direito estatutário tinha eficácia enquanto 
não contrariava as normas do direito comum. 
A monarquia aqui nunca foi ilimitada pela razão que 
na Inglaterra foi desenvolvido a teoria da separação dos

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