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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 1 GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ ELMANO de FREITAS da Costa GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS SAMUEL ELÂNIO de Oliveira Júnior - DPF SECRETÁRIO DA SSPDS ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE LEONARDO D`Almeida Couto BARRETO - DPC DIRETOR-GERAL DA AESP|CE Francisca ASMENHA Cruz Furtado Torquato – Cel PM DIRETORA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE EVANDRO Queiroz de Assunção – Cel PM COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE TÚLIO Ítalo da Silva Oliveira – Perito Criminal COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – Maj PM SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE MÔNICA Pontes Rodrigues ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNCIA DA AESP|CE CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS POLICIAIS MILITARES - CFSD PM/2024 DISCIPLINA Introdução ao Estudo do Direito CONTEUDISTA Francisco Odélio Ferreira Butrago FORMATAÇÃO JOELSON Pimentel da Silva – 1º SGT PM • 2024 • Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO .......................................................................................................................................... 3 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................................................................................... 3 2. A SOCIEDADE ESTATAL ................................................................................................................................................................ 3 2.1 Formação do Estado e Divisão Dos Poderes ........................................................................................................................ 3 2.2 Supremacia da Constituição ................................................................................................................................................. 4 2.3 Norma Jurídica e Ordenamento Jurídico .............................................................................................................................. 4 2.5 Relações Jurídicas ................................................................................................................................................................. 5 3. DISCIPLINAS JURÍDICAS .............................................................................................................................................................. 5 3.1 Disciplinas Jurídicas Fundamentais ...................................................................................................................................... 6 3.2 Disciplinas Jurídicas Auxiliares ............................................................................................................................................. 6 4. SOCIABILIDADE HUMANA E OS INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOCIAL ................................................................................... 6 4.1 O Mundo Natural e o Mundo Cultural ................................................................................................................................. 7 4.2 Direito e Moral ..................................................................................................................................................................... 7 4.3 Direito e Justiça .................................................................................................................................................................... 7 4.4 Direito e Equidade ................................................................................................................................................................ 7 4.5 Teoria Tridimensional do Direito .......................................................................................................................................... 7 5. SIGNIFICAÇÕES DO DIREITO ....................................................................................................................................................... 8 5.1 Direito Natural x Direito Positivo.......................................................................................................................................... 8 5.2 Direito Objetivo x Direito Subjetivo ..................................................................................................................................... 9 5.3 Direito Substantivo x Direito Adjetivo .................................................................................................................................. 9 6. TEORIAS DO DIREITO .................................................................................................................................................................. 9 6.2 Positivo Normativo de Hans Kelsen ................................................................................................................................... 10 7. FONTES DO DIREITO ................................................................................................................................................................. 10 9. RAMOS DO DIREITO .................................................................................................................................................................. 11 9.1. Direito Público ................................................................................................................................................................... 11 9.2 Direito Privado ................................................................................................................................................................... 12 9.3. Direito Misto ..................................................................................................................................................................... 12 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................................ 12 ANEXO I ........................................................................................................................................................................................ 12 O Direito Natural e o Direito Positivo e seu Contexto Histórico: Lições de Norberto Bobbio ...................................................... 12 ANEXO II ....................................................................................................................................................................................... 16 Sociedade, Direito e controle social ............................................................................................................................................. 16 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................................ 19 Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 3 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O nosso ordenamento jurídico pátrio (conjunto de normas aplicáveis ao direito) tem o condão de regulamentar os comportamentos humanos e os padrões definidos para estes comportamentos que se coadunam em relações sociais entre pessoas e, a partir de então, passam a constituir a chamada relação jurídica que será regulamentada pela norma. A relação jurídica traz a aplicabilidade do direito ao caso concreto para dirimir conflitos de relações, a princípio, sociais surgidas em decorrência de interesses conflitantes. ENTÃO, O QUE É O DIREITO? Temos que a expressão direito, intuitivamentepoderes. Ademais, tal nação é o país do liberalismo (visto como a doutrina que determina os limites legais da atuação do Estado). Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 15 Thomas Hobbes era contrário ao common law e ele se indagava se era obrigatório observar o direito natural. De acordo com Hobbes era necessário considerá-lo conscientemente diante de si e de Deus, mas quando de frente aos outros seria apropriado respeitar o direito natural na medida em que o outro respeitara. Nessa esteira, temos, exempli gratia, o princípio do pacta sunt servanda e a norma de não matar. Sendo assim, seria razoável respeitar essa norma se o outro não quisesse matar, pois querendo, o normal seria matá-lo antes que ele cometesse o crime. É nesse mesmo sentido que funciona a emblemática do direito internacional, onde o Estado que agride jamais dirá que transgrediu o dever de não atacar, mas sim irá argumentar que está se defendendo de uma agressão advinda do outro país. Hobbes defendia que para que os homens parassem de lutar entre si e saíssem do estado de natureza era necessária a criação de um Estado, de uma força imensurável, o qual não é possível se opor. A partir do surgimento deste Estado, o direito natural perde seu valor para ceder espaço ao direito positivo. Nesse sentido podemos citar a definição de direito dado por Hobbes (apud BOBBIO, 1995, p.36): “Direito é o que aquele ou aqueles que detêm o poder soberano ordenam aos seus súditos, proclamando em público e em claras palavras que coisas eles podem fazer e quais não podem”. Ante o mencionado conceito de direito podemos extrair dois caracteres positivistas, quais sejam, o formalismo e o imperativismo. O formalismo dispõe que a definição do direito é dada fundada apenas na autoridade que põe as leis, sendo este um elemento estritamente formal. Já o imperativismo defende que o direito é um comando, explicado como um conjunto de leis, onde o poder soberano estipula o que pode ou não ser feito. 6. O legislador como o único capaz de produzir o direito na concepção absolutista e liberal O poder legislativo determina que as normas são iguais para todos, motivo que dificulta o abuso de poder por parte do judiciário. Nesses termos, se há uma arbitrariedade do juiz, somente as partes envolvidas serão atingidas. Entretanto, se o abuso é de iniciativa do poder legislativo, toda a sociedade ficará prejudicada. Para coibir a arbitrariedade dos legisladores, o pensamento liberal criou dois institutos: a separação dos poderes e a representatividade. A separação dos poderes dispõe que o poder legislativo será formado por um colegiado que age junto ao príncipe. Conquanto, a representatividade expõe que o legislador representa toda a população de um país. Este último marca a transição do ideal liberal para o democrático. Isto posto, Montesquieu e Cesare Beccaria são vistos como responsáveis pela conhecida monopolização do direito por parte do legislativo. Montesquieu defendia que a decisão do magistrado deveria ser uma reprodução exata da letra da lei, pois se o juízo decidisse com fundamento na equidade ou em demais fontes, o princípio da separação dos poderes seria violado, eis que existiriam dois legisladores, o próprio legislador e o juiz. Diz Montesquieu (apud BOBBIO, 1995, p. 40): “Se os juízes fossem o veículo das opiniões particulares dos juízes viveríamos numa sociedade sem saber com precisão que obrigações assumir”. Aqui, Montesquieu se referia ao instituto da segurança jurídica, no qual Beccaria também compartilhava desse ideal, conforme seus escritos em sua obra Dos Delitos e das Penas (BECCARIA, 2005, p. 44): “só as leis podem decretar as penas dos delitos, e esta autoridade só pode residir no legislador, que representa toda a sociedade unida por um contrato social; nenhum magistrado (que é parte da sociedade) pode, com justiça, infligir penas contra outro membro dessa mesma sociedade. Mas uma pena superior ao limite fixado pelas leis corresponde à pena justa mais uma outra pena; portanto, um magistrado não pode, sob qualquer pretexto de zelo ou de bem comum, aumentar a pena estabelecida para um cidadão delinquente”. Neste trecho, Beccaria dispõe acerca do principio da “estrita legalidade do direito penal”, tradução da máxima nullum crimen, nulla poena sine lege. Para o autor, o juiz tem o dever de impor penas de acordo com os limites legais. Outrossim, é vedado ao magistrado interpretar as normas. Aqui o autor dispõe a respeito da teoria do silogismo que é o pensamento no qual o juiz, ao aplicar as normas, deve fazer como aquele que chega a conclusão de um silogismo. Assim, o juiz não cria novas normas, somente deixa claro o que a lei dispõe em seu texto. 7. A manutenção do direito natural no século XVIII até os tempos hodiernos O jusnaturalismo sobreviveu e permaneceu forte no século XVIII, tanto que os escritores deste tempo apontavam que na hipótese de lacunas do direito positivo deveria o direito natural ser aplicado no caso, a fim de solucionar a lide. Assim, conclui-se que na omissão do direito positivo, o direito natural será usado. No mesmo sentido dispõe Hobbes (apud BOBBIO, 1995, p.43): “Uma vez que é impossível promulgar leis gerais com as quais se possa prever todas as controvérsias a surgir, e são infinitas, evidencia-se que, em todo caso não contemplado pelas leis escritas, se deve surgir à lei da equidade natural, que ordena atribuir a pessoas iguais como iguais *…+”. Tal premissa que o direito natural será aplicado quando ausente o direito positivo permaneceu mesmo com a codificação, como, verbi gratia, no mencionado artigo 4º da LINDB e artigo 140 do Código de Processo Civil, ou seja, o ordenamento jurídico brasileiro também reconhece a legitimidade do direito natural e mais, utiliza desse direito na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 16 inexistência da norma positiva. Conclusão Constata-se então a importância do trabalho de Norberto Bobbio no que concerne ao direito natural e ao positivo, certificando que a lei natural resiste mesmo com a presença do direito positivo e da codificação. Nesse sentido, buscamos demonstrar a necessidade da coexistência da lei positiva e da lei natural, eis que o ordenamento jurídico não será capaz de listar todas as hipóteses que podem ocorrer com o cidadão. Ademais, acreditamos que nem é esse o objetivo da ordem jurídica. Por isso a indispensabilidade da permanência dos dois direitos, sendo que na falta do direito positivo, o magistrado será socorrido pelos ditames da lei natural. O desenvolvimento de ambos os direitos passaram por diversas mudanças de status de validade ao longo do tempo, mas o que é significativo é que tanto o direito natural, quanto o positivo, são imprescindíveis para a sociedade tal como é hoje. REFERÊNCIAS BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos delitos e das penas. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. BOBBIO, Norberto. Positivismo jurídico: lições de filosofia do direito, compiladas por Nello Morra; tradução e notas Márcio Puglesi, Esdon Bini, Carlos E. Rodrigues – São Paulo: Ícone, 1995. CRETELLA JÚNIOR, José. Direito romano moderno. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. MASCARO, Allyson Leandro. Introdução à filosofia do direito: nos modernos aos contemporâneos. São Paulo: Atlas, 2002. MATOS, Andityas Soares de Moura Costa. Filosofia do Direito e Justiça na obra de Hans Kelsen. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. REALE, Miguel. Lições preliminares do direito. 21. ed., rev. e aum. São Paulo: Saraiva, 1990. ANEXO II Sociedade, Direito e controle social Revista Jus Navigandi Disponível em: https://jus.com.br/artigos/20736/socied ade-direito-e-controle-social. Acesso em 22.02.2022. O direito não tem existência por si só. Ele existe no meio sociale em função da sociedade, não sendo seu único instrumento de organização e harmonia, mas, merece lugar de destaque, pois é o que possui maior pretensão de efetividade, manifestando-se como um corolário inafastável. Resumo O homem é um ser social e político, vivendo em grupos, em sociedades. É natural que no seio destes grupos haja conflitos, desentendimentos e interesses divergentes. No entanto, o homem sente necessidade de segurança e busca a harmonia social. Para que a sociedade subsista é necessário que os conflitos sejam resolvidos e para tanto, o homem dispôs de vários meios com o intuito de controlar as ações humanas e trazer um equilíbrio à sociedade. São os instrumentos de controle social. O Direito, criação humana, é um destes instrumentos, cujo principal objetivo é viabilizar a existência em sociedade, trazendo paz, segurança e justiça. PALAVRAS CHAVES:1. Sociologia jurídica. 2. Direito. 3. Sociedade. 4. Controle social. 1. A sociabilidade humana O homem é um ser social e precisa estar em contato com seus semelhantes e formar associações. Ele se completa no outro. Somente da interação social é possível o desenvolvimento de suas potencialidades e faculdades. Ele precisa buscar no outro as experiências ou faculdades que não possui e, mais, há a necessidade de passar seu conhecimento adiante. Dessa interação, há crescimento, desenvolvimento pessoal e social. Conforme Battista Mondin (1986, p.154) o homem é um ser sociável, pois tem a "propensão para viver junto com os outros e comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver com eles as mesmas emoções e os mesmos bens." Segundo o mesmo autor, ele também é um ser político. A politicidade é "o conjunto de relações que o indivíduo mantém com os outros, enquanto faz parte de um grupo social." Vários estudiosos tentam explicar o impulso associativo do ser humano. Platão (428-348 a.C.) interpreta a dimensão social do homem como um fenômeno contingente. Para ele o homem é um ser etéreo, é essencialmente alma e se realiza em sua plenitude e perfeição, alcançando a felicidade ao contemplar as idéias. Estas se localizam em um mundo denominado "topos uranos", ou lugar celeste. Para esta atividade não necessita de ninguém, cada alma se basta, existindo e se realizando por conta própria, independentemente das outras. Mas, por causa de uma grande culpa, que não é explicada em sua teoria, as almas perderam sua condição original de espiritualidade absoluta e caíram na Terra, sendo obrigadas a assumir um corpo físico para expurgar suas culpas e purificar-se. Esse corpo físico funcionaria como um limitador de suas potencialidades e faculdades, impedindo-as de se sentirem completas por si só. Desse modo, as almas corporificadas precisam se associar para suprir suas carências e limitações. Segundo Platão, portanto, a sociabilidade é uma consequência da corporeidade e dura apenas enquanto as almas estiverem ligadas ao corpo físico, material. Aristóteles (384-322 a.C), de maneira oposta, entende que a sociabilidade é uma propriedade essencial do homem. Na sua visão, o homem é constituído de corpo e de alma, essencialmente. E, por esta constituição, não pode se auto- realizar, sendo necessário criar vínculos sociais para satisfazer suas próprias necessidades e vontades. É a Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 17 natureza do homem que o impulsiona a querer associar-se e interagir com os demais. Por este motivo, considerava o homem fora da sociedade um ser superior ou inferior à condição humana: "O homem é, por sua natureza, um animal político. “Aquele que, por natureza, não possui estado, é superior ou mesmo inferior ao homem, quer dizer: ou é um deus ou mesmo um animal” (de sua obra: A política). Santo Tomás de Aquino (1225-1274), como Aristóteles, considerava o homem um ser naturalmente sociável: "O homem é, por natureza, animal social e político, vivendo em multidão, ainda mais que todos os outros animais, o que evidencia pela natural necessidade." (S.Th, I, 96, 4). Afirma ainda que a vida fora da sociedade é exceção, se enquadrando em três hipóteses: a mala fortuna, quando um indivíduo, acidentalmente, por um infortúnio passa a viver em isolamento, como é o caso de um náufrago, por exemplo; a corruptionaturae, quando por alienação mental ou anomalia, o homem é desprovido de razão e busca viver distanciado dos demais; e a excellentianaturae, que é a hipótese do homem isolar-se buscando a comunhão com Deus e o seu aperfeiçoamento espiritual. Durante a época moderna surgem os contratualistas, destacando os nomes de Spinoza, Hobbes, Locke, Leibnitz, Vico e Rousseau. Existe uma gama enorme e variada de teorias contratualistas que buscam explicações para o impulso associativo do homem, com diferentes explicações e teses. Há, no entanto, um ponto em comum entre eles. Todas negam o impulso associativo natural, concluindo que somente a vontade humana justifica a existência em sociedade. A sociedade, portanto, é uma criação humana e se tem sua base firmada em um contrato, que pode ser alterado ou desfeito. Hobbes, por exemplo, com suas idéias apresentadas na obra "Leviatã", defendia que o homem é um ser mau e antissocial por natureza, enxergando seus semelhantes como concorrentes a serem dominados ou destruídos. O constante estado de guerra, de conflitos e brutalidade teria levado os homens a firmarem um contrato entre si, transferindo o poder de se autogovernar, seus direitos e liberdades ao Estado, que deveria impor ordem e segurança a todos. Rousseau, por sua vez, em "O contrato social", afirma que o homem, ao revés do entendimento de Hobbes, é essencialmente bom e livre. A sociedade e o aparecimento da propriedade privada é que o corrompe, dando início aos inúmeros conflitos sociais. A solução encontrada por ele para extirpar os conflitos seria a organização de um Estado que só se guie pela vontade geral, e não pelos interesses particulares. O instrumento pelo qual se perfaz essa sociedade é o contrato social, pelo qual cada indivíduo transfere ao Estado a sua pessoa, todos os seus direitos e suas coisas. Ante o exposto, entendemos que a sociedade é fruto da própria natureza humana, de uma necessidade natural de interação. O homem tem necessidade material e espiritual de conviver com seus semelhantes, de se desenvolver e de se completar. No entanto, essa interdependência recíproca não exclui a participação da consciência ou da vontade humana. Consciente de que necessita da vida social o indivíduo procura melhorá-la e torná-la mais viável. A sociedade, em suma, seria o produto de um impulso natural conjugado com a vontade e consciência humana. 2. Sociedade e interação O conceito de sociedade apresenta inúmeras controvérsias devido ao seu amplo aspecto. O vocábulo pode ser utilizado de diversas formas e com vários sentidos, tais como o de nação e o de grupo social. Em termos gerais podemos definir sociedade como um grupo de pessoas que interagem entre si. Deste conceito podemos deduzir três características da sociedade: a multiplicidade de pessoas, a interação entre elas e a previsão de comportamento. Para a formação da sociedade não basta que existam várias pessoas reunidas, uma aglomeração de indivíduos, mas que elas interajam, que desenvolvam ações conjuntas, que tenham reações aos comportamentos uns dos outros, que desenvolvam diálogos sociais. Ela se faz por um amplo relacionamento humano. Dessa interação é possível prever comportamentos, situações e condutas que poderão se manifestar no seio do grupo, sejam elas lícitas ou ilícitas. Conforme ensina Betioli (2008, p.7): "A interação, por seu turno, pressupõe uma previsão de comportamento, ou de reações ao comportamento dos outros. (...) Cada um age orientando-se pelo provável comportamento do outro e tambémpela interpretação que faz das expectativas do outro com relação a seu comportamento." Segundo Paulo Nader, a interação social, basicamente, vai se realizar de três formas: a cooperação, a competição e o conflito. Vejamos: "Na cooperação, as pessoas estão movidas por um mesmo objetivo e valor e por isso conjugam o seu esforço. Na competição há uma disputa, uma concorrência, em que as partes procuram obter o que almejam, uma visando à exclusão da outra. (...) O conflito se faz presente a partir do impasse, quando os interesses em jugo não logram uma solução pelo diálogo e as partes recorrem à luta, moral ou física, ou buscam a mediação da justiça." (2007, p.25) Vivendo em um mesmo ambiente e possuindo os mesmos instintos e necessidades, é natural que surjam diversos conflitos entre as pessoas e que necessitam de uma solução. Para que a sociedade subsista é imprescindível que se resolvam estes conflitos de interesses. As pessoas têm a necessidade de buscar a segurança, a justiça e a realização do bem comum. Diante disto surge a necessidade de criar instrumentos que controlem ou que regulamentem a vida social. 3. Instrumentos de controle social Existem diversos meios que servem para regular a condutas dos membros da sociedade visando à harmonia da vida social. Entre eles podemos destacar a religião, a moral, as regras de trato social e, obviamente, o Direito. Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 18 Paulo Nader (2007, p.31) afirma que "o mundo primitivo não distinguiu as diversas espécies de ordenamentos sociais. O Direito absorvia questões afetas ao plano da consciência, própria da moral e da religião, e assuntos não pertinentes à disciplina e equilíbrio da sociedade, identificados hoje por usos sociais". No entanto, é certo que hoje não podemos confundir as diferentes esferas normativas. Cada instrumento de controle social possui uma faixa de atuação, um objetivo específico. A faixa de atuação do Direito é regrar a conduta social, visando à ordem e ao bem comum. Por este motivo, ele irá disciplinar apenas os fatos sociais mais relevantes para o convívio social. Ele irá disciplinar, principalmente, as relações de conflitos e, quanto às relações de cooperação e competição, somente onde houver situação potencialmente conflituosa. Betioli ressalta que: "O direito não visa ao aperfeiçoamento interior do homem; essa meta pertence à moral. Não pretende preparar o ser humano para uma vida supraterrena, ligada a Deus, finalidade buscada pela religião. “Nem se preocupa em incentivar a cortesia, o cavalheirismo ou as normas de etiqueta, campo específico das regras de trato social, que procuram aprimorar o nível das relações sociais.” (2008, p.8-9) Há vários pontos de divergência entre direito e religião. Legaz e Lacambra apontam duas diferenças estruturais: a alteridade e a segurança. Segundo o autor (1961, p.419), "a alteridade, essencial ao direito, não é necessária à religião". O próximo, o semelhante é um elemento circunstancial e não um elemento essencial na idéia religiosa. O mais importante é a prática do bem. A religião é uma relação entre o homem e Deus e não entre o homem e os demais. Para o Direito, no entanto, o que importa é o comportamento humano e social. A segunda diferença estrutural diz respeito à segurança. Para a religião a segurança é algo inatingível e espiritual, porquanto que para o direito, se alcança a partir da certeza ordenadora. Em relação às diferenças existentes entre o direito e a moral, podemos apontar algumas das distinções feitas por Paulo Nader (2007, p.40-44). Segundo o autor, "o direito se manifesta mediante um conjunto de regras que definem a dimensão da conduta exigida, que especificam a fórmula do agir". Ao contrário da moral que possui diretrizes mais gerais. As normas jurídicas possuem uma "estrutura imperativo-atributiva, isto é, ao mesmo tempo em que impõem um dever jurídico a alguém, atribuem um poder ou direito subjetivo a outrem". A moral, por sua vez, com uma estrutura mais simples, impõe apenas deveres. Enquanto a moral se preocupa com a vida interior das pessoas, como a consciência, o direito cuida, em primeiro plano, das ações humanas. O animus do agente só será considerado quando necessário. Além disso, a moral, bem como todas as demais regras sociais, se distingue do direito, pois carece de coercibilidade e de heteronomia. O direito, ao revés, é imposto independentemente de vontade de sujeição e possui formas de garantir o respeito e obediência a seus preceitos. 4. O direito como instrumento de controle social Como vimos o direito não é o único instrumento responsável pela organização e pela harmonia da sociedade, uma vez que as demais normas de conduta também contribuem para o sucesso das relações sociais. No entanto, merece lugar de destaque, pois é o que possui maior pretensão de efetividade, manifestando-se como um corolário inafastável da sociedade. Émile Durkheim (1960, p.17) ressalta que "a sociedade sem o direito não resistiria, seria anárquica, teria o seu fim. O direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem, para corrigir a sua imperfeição, o direito representa um grande esforço para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida." A necessidade de uma convivência ordenada impõe- se como condição para a subsistência da sociedade. O direito corresponde a essa exigência ordenando as relações sociais através de normas obrigatórias de organização e comportamento humano. Miguel Reale (2006, p.62) define o direito como sendo "a ordenação das relações de convivência". Telles jr. (2001, p.381), neste mesmo sentido, conceitua-o como "a disciplina da convivência". Por sua vez, Paulo Nader (2007, p. 76), em sua brilhante definição, assim considera: "direito é um conjunto de normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para a realização da segurança, segundo os critérios de justiça". Do conceito de Paulo Nader podemos perceber três grandes distinções entre o direito e as demais regras de trato social. A primeira diferença repousa no fato do direito ser a única norma que emana do Estado. A segunda, pelo fato de ser impositivo, imperativo. Não há margem de liberdade para escolher se irá ou não se adequar aos seus preceitos. Por último, temos a contratualistas, que exerce intimidação sobre os destinatários das normas jurídicas. Sendo assim, podemos depreender que o indivíduo que não se adéqua ou não realiza atos de acordo com o ordenamento jurídico vigente poderá ser submetido a uma punição. 5. Conclusões Do exposto, podemos concluir pela mútua dependência entre direito e sociedade. Não pode haver sociedade sem direito e não há direito sem sociedade. Não poderia existir sociedade sem uma ordem mínima, sem guias e direcionamentos. Há a necessidade de se limitar a esfera de conduta de cada indivíduo de modo que sua liberdade de atuação não gere conflitos sociais. Da mesma forma que não se concebe o homem sem o convívio social, também não se concebe uma sociedade sem regras, sem o direito. O direito, por sua vez, não tem existência por si só. Ele existe no meio social e em função da sociedade. O indivíduo isolado não carece de direito. Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 19 Desta forma, ele modifica a sociedade no sentido de impor condutas e comportamentos, mas também é influenciado por ela, através da cultura, dos usos e costumes e pela evolução temporal. Dante Alighieri, em sua obra "Da Monarquia", assim conclui: "o direito é uma porção real e pessoal, de homem para homem que, conservada, conserva a sociedade, corrompida, corrompe-a". REFERÊNCIAS ALIGHIERI, Dante. Da Monarquia, São Paulo: Martin Clarim, 2003 ARISTÓTELES. A política, São Paulo: Martin Clarim, 2006 BETIOLI, Antônio Bento. Introduçãoao direito: lições de propedêutica jurídica tridimensional, 10ª ed., São Paulo: Saraiva 2008 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997 DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico, São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1960 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo de direito, 8ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1978 LEGAZ Y LACAMBRA, Luiz. Filosofia Del derecho, 2ª ed., Barcelona: Bosch, 1961 MONDIN, Battista. O homem, quem é ele, São Paulo: Paulinas, 1986 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito, 28ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007 POLETTI, Ronaldo. Introdução ao direito, 4ª ed., São Paulo: Saraiva 2010 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito, 27ª ed., São Paulo: Saraiva 2006 TELLES JÚNIOR, Goffredo. Iniciação na ciência do direito, São Paulo: Saraiva, 2001. Manual de introdução ao direito / Jean Patrício da Silva. – Cabedelo, PB: [s.n], 2014.1.a nós, outorga a ideia do que é certo, correto, justo equânime e consequentemente, que é acessível a todos. O Direito por si, não se limita a apresentar e classificar regras, mas tem como objetivo analisar e estabelecer princípios para normatizar os fenômenos sociais, tais como, os negócios jurídicos; a propriedade; o casamento, etc. Enfeixa ainda, o estudo e a compreensão das normas postas pelo Estado ou pela natureza do Homem. Temos uma dualidade bastante interessante: o direito posto pelo Estado, ou seja, o ordenamento jurídico pátrio ou direito positivo (positivismo) e por outro lado, a norma que se sobreleva e obriga independentemente de qualquer lei imposta, o idealismo, cuja maior manifestação é o chamado direito natural ou jusnaturalismo. O sentido do que é justo independe da lei. A ciência do Direito é ampla e complexa, necessitando do instruendo uma compreensão dos termos técnicos, parâmetros e idiossincrasias que envolvem este mundo que faz parte diretamente e de forma muito presente do mister policial militar. Ser fiscal da Lei é uma tarefa bem complexa, e obriga os operadores ter um amplo entendimento das legislações que norteiam a vida em sociedade, e que regulam a atividade policial. Assim, a disciplina de Introdução ao Estudo do Direito se destina a dar ao iniciante na ciência jurídica as noções e os princípios jurídicos fundamentais, indispensáveis ao raciocínio jurídico, bem como noções sociológicas, históricas e filosóficas necessárias à compreensão do direito na totalidade de seus aspectos. Toda ciência, para ser bem estudada, precisa ser dividida, ter as suas partes claramente discriminadas. A primeira divisão que encontramos na história da Ciência do Direito é a feita pelos romanos, entre Direito Público e Direito Privado, segundo o critério da utilidade pública ou particular da relação: o primeiro diria respeito às coisas do Estado, enquanto que o segundo seria pertinente ao interesse de cada um. Considerando a sua condição de matéria do curso jurídico e da maioria dos cursos de formação de agentes responsáveis pela aplicação da Lei, deve ser entendida como disciplina autônoma, pois desempenha função exclusiva, que não se confunde com a de qualquer outra. A disciplina visa a fornecer ao iniciante uma visão global do Direito, que não pode ser obtida através do estudo isolado dos diferentes ramos da árvore jurídica. O futuro Soldado da Polícia Militar do Ceará terá a oportunidade de conhecer a disciplina, especialmente, antes do estudo de outros ramos do direito público, privado e misto que dela são decorrentes. Funciona como um elo entre a cultura geral, obtida no curso médio, e a cultura específica do direito. Ao encetar os primeiros estudos de uma ciência, é comum ao estudante sentir-se atônito, com muitas dificuldades, em face dos novos conceitos e métodos, da nova terminologia e diante do próprio sistema que desconhece. Na síntese do pensamento de Paulo Nader (2011), a presente disciplina constitui assim um sistema de ideias gerais, reprise-se, em contraponto com as especificidades dos demais segmentos do Direito, em que se busca a significação de figuras como a relação jurídica, fato jurídico, lei, justiça, e, na atual evolução da Ciência Jurídica, a participação da jurisprudência naqueles conceitos. 2. A SOCIEDADE ESTATAL Sociedade é todo complexo de relação do homem com seus semelhantes. É um grupo derivado de acordos de vontades de seus membros que buscam, mediante o vínculo associativo, um interesse comum, atuando solidariamente. A sociedade pode ser organicista e mecanicista. Na sociedade organicista, o homem é um ser político, gregário, que cria as circunstâncias para a sua sobrevivência. Já a sociedade mecanicista não reconhece mais do que uma mera soma de partes, o que não gera nenhuma realidade suscetível de subsistir fora ou acima dos indivíduos. O Estado é um ente abstrato, com personalidade jurídica de direito público, entendido como uma organização politicamente organizada. Cria e faz cumprir a norma em sociedade. Todas as pessoas, capazes e incapazes, são destinatárias da norma jurídica, desde que submetidas à ordem jurídica a que pertence à norma que se quer aplicar. A doutrina moderna de Bonavides (2004), em seu estudo de ciência política, tem direcionado o Estado em três dimensões: Sociológica (analisa o Estado do ponto de vista social), Política (a consecução dos meios empregados para a promoção do bem-estar social) e Jurídica (a estrutura normativa, a partir das constituições até a legislação ordinária). 2.1 Formação do Estado e Divisão Dos Poderes É na Constituição que o Estado assenta alicerces à sua legitimidade, autolimita o exercício dos seus poderes, distribui competências, reconhece e proclama direitos, consagra valores, formula princípios e exara regras com que rege relações humanas fundamentais. E opera tudo isso na constante busca de unidade e identidade do corpo social, sob a égide da justiça, da segurança jurídica, das liberdades e das garantias institucionais. O Estado é uma das formas de Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 4 sociedade, para a promoção da ordem jurídica. A sociedade vem primeiro; o Estado, depois. Aristóteles foi o primeiro a conceber a teoria da tripartição dos poderes, na Grécia antiga. No entanto, a França conheceu o gênio de Montesquieu, na sua obra “Do Espírito das Leis”. Distingue, Montesquieu, em cada Estado três tipos de Poderes: O Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. Cada um desses poderes correspondendo, seguindo o pensador francês, determinadas funções. Através do Poder Legislativo, fazem- se as leis para determinada época, bem como aperfeiçoam ou ab-rogam as que já se acham feitas. Com o Poder Executivo, ocupa-se da paz e da guerra, envia e recebe embaixadores, estabelece a segurança e previne as invasões. O terceiro Poder, o Judiciário, a faculdade de punir os crimes e julgar os dissídios de ordem civil. O inglês John Locke, menos afamado que Montesquieu, no tocante à separação dos poderes, assinalou também um quarto poder: a prerrogativa. Como poder estatal que promove o bem comum onde a lei for omissa ou lacunosa. 2.2 Supremacia da Constituição Segundo Bonavides (2004), desde o início, o Estado constitucional ostenta três distintas modalidades essenciais. A primeira é o Estado Constitucional da separação de Poderes (Estado Liberal), a segunda, o Estado constitucional dos direitos fundamentais (Estado Social), a terceira, o Estado constitucional Democrático participativo (Estado Democrático-Participativo). Constituição é a lei fundamental de um Estado. É um conjunto de normas principiológicas que regem o Estado. A Constituição é um conjunto de normas pertinentes à organização do poder, a distribuição da competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais. Em apertada síntese, a constituição organiza o estado e o submete a limites frente ao cidadão. Na verdade, o primeiro documento oficial que se tem conhecimento relativo a uma Carta Política foi a Magna Carta Magna do Rei João sem Terra, em 1215, na Inglaterra. Daí surgiu constituições que tiveram influência e serviram de referência para as Constituições Contemporâneas, quais sejam: em 1772 na Suécia, em 1787 nos Estados Unidos e em 1791 na França. No Brasil, o Poder Constituinte tem o poder de elaborar e modificar normas constitucionais. É o instrumento ou meio legítimo de se estabelecer à Constituição, a forma de Estado, a organização e a estrutura da sociedade política. O Poder Constituinte pertence ao povo, embora possa ser exercido por representantes especiais. O Poder Originário é o poder de elaborar uma constituição e tem duas formas básicas: Outorgada – É o estabelecimento de uma constituição por quem autolimitao poder (Constituições de 1824, 1937, 1967 e 1969); Promulgada – Elaborada pela Assembleia Nacional Constituinte – É a materialização do Poder Constituinte e nasce da deliberação da representação popular (Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1988). 2.3 Norma Jurídica e Ordenamento Jurídico Conhecer o Direito é conhecer as normas jurídicas em seu encadeamento lógico e sistemático. As normas jurídicas são o ponto culminante do processo de elaboração do direito e o ponto de partida operacional da dogmática jurídica, cuja função é a de sistematizar e descrever a ordem jurídica vigente. As normas ou regras jurídicas estão para o direito de um povo, assim como as células para o organismo vivo. Ordenamento jurídico é um contexto de normas com relações particulares entre si. Aqui as regras jurídicas constituem sempre uma totalidade, um sistema de regras de conduta. As normas jurídicas nunca existem isoladamente, mas sempre em um contexto de normas com relações particulares entre si. Esse contexto de normas costuma ser chamado de ordenamento jurídico. 2.4 Lei de introdução às normas do direito brasileiro Tem-se na LINDB, (anteriormente denominada Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), uma norma jurídica que visa regulamentar outras normas, composta por apenas 30 artigos nos quais aborda a vigência da lei, a aplicação da norma jurídica no tempo e no espaço e as fontes do direito, tendo como objetivo orientar a aplicação do código civil, diminuindo controvérsias que foram surgindo desde a sua primeira edição, em 1916. Ela não é parte do Código Civil, disciplinando a aplicação das leis em todos os âmbitos do direito, exceto quando já existe uma lei específica para tal. Assim, a LINDB tem a função de orientar sobre como interpretar ou aplicar as normas, respeitando regras básicas, como a vigência. Na LINDB, há o reconhecimento pela doutrina de norma sobre normas, uma vez que tem função essencial de dispor sobre o funcionamento das normas e dos atos no Direito brasileiro de maneira prévia e introdutória. Ademais, as disposições da LINDB são essenciais para a compreensão do funcionamento do ordenamento pátrio. O artigo primeiro da LINDB trata da vigência e aplicabilidade da Lei Brasileira. Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. § 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 5 Destaca-se o que aduz o Art. 3º - Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. O que Significa dizer que, ao transgredir a lei, ninguém pode se justificar afirmando que o praticou porque não sabia que era ilegal. Isso porque, em nosso ordenamento Jurídico, o conhecimento da lei decorre de sua publicação, que é o marco para que se repute conhecida por todos. No entanto, existem casos que embora a conduta vá de encontro com a lei, o agente é isento de culpa. A lei apresenta como características básicas: generalidade ou impessoalidade; obrigatoriedade e imperatividade; permanência ou persistência; autorizante. Além disso, cabe a ela legislar sobre alguns assuntos, como detalhamos a seguir. Vigência A vigência estabelece o período de validade da norma, ou seja, trata-se do tempo da publicação e revogação. No texto de toda lei deve ter a data de vigência. Validade A lei precisa estar compatível com o sistema jurídico. Contrário a isso e descumprindo as regras de validade, ela pode ser considerada inconstitucional ou ilegal. Vigor Quando a lei passa a ter obrigatoriedade. Conflitos de lei no espaço A LINDB atua para resolver conflitos entre leis brasileiras e estrangeiras, em casos de má interpretação no texto das leis. Conflitos de lei no tempo A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro estabelece uma regra para que haja a organização entre as novas leis e as antigas, ou seja, há uma norma geral de funcionamento. Critérios hermenêuticos Atua quando o Legislativo precisa de uma interpretação, pois o legislador não consegue prever a totalidade dos fatos. É salutar trazer a baila, que o então Presidente da República, Michel Temer, sancionou com vetos o PL 7.448/2017, transformando-a na Lei 13.655/2018, que introduziu 10 novos artigos na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) passou por mudanças recentes. A Lei nº 13.655/2018, acrescentou novas diretrizes interpretativas voltadas à aplicação do direito público no Brasil, para garantir a eficiência e a segurança jurídica. Destarte, as mudanças incluem dez novos artigos, que trazem novidades para o Direito em geral, sobretudo, inaugurando novas discussões sobre a responsabilidade pessoal dos gestores públicos, em decorrência dos seus atos praticados. As mudanças incluem, em destaque: Novas diretrizes para decisões administrativas (artigo 20). O direito à transição adequada quando da criação de novas situações jurídicas passivas para os particulares (artigo 23). Um regime jurídico geral para negociação entre autoridades públicas e particulares (artigo 26). A proibição de invalidação de atos por mudança de orientação (artigo 24). A compensação, dentro dos processos, de benefícios ou prejuízos injustos gerados para os envolvidos (artigo 27), dentre outras. 2.5 Relações Jurídicas São as relações jurídicas que dão movimento ao direito. Em sentido amplo, os acontecimentos que instauram, modificam ou extinguem relações jurídicas. Segundo ensinamento de Miguel Reale (2002), “quando uma relação de homem para homem se submete ao modelo normativo instaurado pelo legislador, essa relação é reconhecida como sendo jurídica.” Quando o direito, atribuído a uma pessoa um direito subjetivo e impondo a outra um dever jurídico ou uma sujeição, vem disciplinar relações da vida social estaremos diante de uma relação jurídica. As relações jurídicas se formam pela iniciativa das normas jurídicas em fatos sociais, consoante irá ser assinalado mais à frente, quando estudarmos a Teoria Tridimensional do indigitado renomado jurista. Importante frisar que as relações jurídicas fundamentais decorrem da lei, que estabelecem direitos fundamentais. Um exemplo de relação jurídica é de um contrato assinado entre partes capazes, acerca de um objeto lícito e possível, que gera dever entre as partes e recebe a tutela do Estado Juiz. 3. DISCIPLINAS JURÍDICAS Ao ser objeto de estudo de diferentes disciplinas afins, mais frequentemente denominadas ciências jurídicas, o direito não perde a sua unidade fundamental. O Direito descansa sempre sobre uma determinada concepção do http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Msg/VEP/VEP-212.htm http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2151854 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2151854 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2151854 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Lei/L13655.htm http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/Del4657compilado.htm Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 6 homem e da sociedade, de suas relações recíprocas e, por conseguinte, também sobre um determinado sistema de valores, consoante já estudado. O conhecimentoda vida humana, por seu lado, pressupõe experiência e reflexão filosófica, enquanto que os dados referentes à realidade social são fornecidos pela sociologia. A análise do homem e da sociedade deve ser uma tarefa permanente a ser desenvolvida pelo estudioso do Direito, conhecimento essencial para o Policial Militar. As disciplinas jurídicas dividem-se em duas classes: as fundamentais e as auxiliares. A Ciência do Direito, Filosofia do Direito e a Sociologia do Direito, integram o primeiro grupo, enquanto que a História do Direito e o Direito Comparado, entre outras, compõem o segundo. 3.1 Disciplinas Jurídicas Fundamentais Ciência do Direito – A visão que a ciência do direito oferece é limitada, não suficiente para revelar ao espírito integral do direito, porém, serve de referência à totalidade dos estudos desenvolvidos sobre o direito. Também chamada de dogmática jurídica, esta disciplina aborda o Direito vigente em determinada sociedade e as questões referentes à sua interpretação e aplicação. O seu real papel é o de revelar o ser do Direito, aquele que é obrigatório. Filosofia do Direito – A filosofia surgiu na Grécia antiga e, por este motivo, é natural que se inicie justamente ali, no berço das especulações mais profundas sobre o comportamento e o espírito humano. Enquanto os conhecimentos científicos e filosóficos do direito se obtêm pela seleção e emprego de métodos adequados de pesquisa, o vulgar é adquirido pela vivência e participação da dinâmica social. É a noção que o leigo possui, oriunda da leitura assistemática ou de simples informações. Pois bem, se a Ciência do Direito se limita a descrever e sistematizar o Direito Vigente, a Filosofia do Direito transcende o plano meramente normativo, para questionar o critério de justiça adotada nas normas jurídicas. De um lado, a Ciência do Direito responde a indagação o que é de Direito? De outro, a Filosofia do Direito responde à pergunta o que é o Direito? Esta é uma disciplina sobre os fundamentos do Direito. Nesse contexto temos a própria Filosofia Geral aplicada diretamente ao objeto do Direito. Sociologia do Direito - A Sociologia do Direito é a disciplina que examina o fenômeno jurídico do ponto de vista social, a fim de observar a adequação da ordem jurídica aos fatos sociais. As relações entre a sociedade e o Direito, que formam o núcleo de seus estudos, podem ser investigadas sob os seguintes aspectos principais: a) adaptação do Direito à vontade social; b) cumprimento pelo povo das leis vigentes pelo legislador e os efeitos sociais provocados pelas leis; c) correspondência entre os objetivos visados pelo legislador e os efeitos sociais provocados pelas leis. 3.2 Disciplinas Jurídicas Auxiliares História do Direito – O homem, em seu permanente trabalho de aperfeiçoamento do mundo cultural, submete os objetos materiais e espirituais a novas formas e conteúdos, visando ao seu melhor aproveitamento, a sua melhor adaptação aos novos valores e aos fatos da época. Esse patrimônio não resulta do esforço isolado de uma geração, pois corresponde à soma das experiências vividas no passado e no presente. As pesquisas científicas de hoje, são os acréscimos ao trabalho de ontem. A História do Direito é uma disciplina jurídica que tem por escopo a pesquisa e a análise dos institutos jurídicos do passado. O seu estudo pode limitar-se a uma ordem nacional, abranger o direito de um conjunto de povos identificados pela mesma linguagem ou formação, ou se estender o plano mundial. Direito Comparado – O direito comparado é o pensamento tentado sobre o direito de um mundo dividido. É um ramo da ciência jurídica, tendo Aristóteles, na Antiguidade, realizado um estudo comparado das Constituições gregas, depois com Montesquieu, o das instituições políticas inglesas. Porém, foi com a obra de Lambert, que a função do direito comparado se solidificou i, através de uma série de estudos na França e nos demais países europeus, metodologicamente rigorosos, comparativos do direito. A Disciplina Direito Comparado tem por objeto o estudo comparativo de ordenamentos jurídicos de diferentes Estados, dentro do propósito de revelar as novas conquistas alcançadas em determinado ramo da árvore jurídica e que podem orientar legisladores. Tal estudo não pode prender-se apenas às leis e aos códigos. Em havendo identidade na realidade social, a experiência jurídica de um Estado poderá ser aproveitada por outro. Aqui se encontra um dos principais aspectos do estudo do Direito Comparado. 4. SOCIABILIDADE HUMANA E OS INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOCIAL Pode-se dizer ser a vida social constituída de uma rede de relações sociais que podem ser caracterizadas como sendo de aproximação (casamento, família), afastamento (divórcio, reclusão) ou oposição (conflitos entre indivíduos) e mistas (direito dos contratos). O direito é o símbolo visível da solidariedade social. O direito é o único controle social que tem mais possibilidade de garantir a ordem, a paz e a segurança, viabilizando, assim, uma sociedade sadia em todas as suas etapas de sua evolução. Constitui-se em um verdadeiro contendor social externo dos impulsos naturais, e indesejáveis, do homem, mormente quando estipula sanções a condutas vedadas. Da natureza do agrupamento social depende a natureza do direito, que a reflete e a rege. Do tipo de sociedade depende a ordem jurídica, destinada a satisfazer as suas necessidades, dirimir possíveis conflitos de interesses, assegurar a sua continuidade, atingir as suas Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 7 metas e garantir a paz social. Diferentemente dos outros instrumentos de controle social, como as normas de trato social, a moral e até mesmo a religião, o direito agrega um elemento exterior que obriga a todos a adoção de uma conduta desejada ou a não prática da conduta indesejada, normalmente trazendo uma reprimenda em caso de comportamento que vá de encontro ao disciplinamento legal. O dever do Direito pode ser exigido em juízo, diferentemente dos deveres dos outros instrumentos de controle social, como as normas de trato social, a moral e a religião, que não são exigíveis em juízo, tendo apenas reflexo interno, de foro íntimo. 4.1 O Mundo Natural e o Mundo Cultural O conhecimento da existência do ser oferece ao homem a base da experimentação e, portanto, a possibilidade de fazer ciência. Só o homem faz ciência, porque só a ele é dado investigar a natureza. Mundo natural é o mundo na natureza, do que existe por si só, ao qual o homem está incorporado. O homem é um ser, ao lado de outros seres e distingue-se dos demais por ser dotado de inteligência, qualidade que lhe permitiu criar o seu próprio mundo – o Mundo Cultural, que faz parte do mundo da produção de bens. A natureza é a fonte do ser humano. Sobre ela o homem se debruça inclusive para especular a própria existência. O homem permanece vinculado a dois mundos: o mundo natural e o mundo cultural. Ao primeiro, como parte da realidade universal, onde a verdade reside na essência, sendo que esta não se lhe manifesta; ao segundo, aparece como seu criador, submetendo-se, todavia, as suas regras, como é o exemplo do Direito. 4.2 Direito e Moral A análise comparativa entre a ordem moral e a jurídica é importante não apenas quando indica os pontos de distinção, mas também quando destaca os focos de convergência. Direito e moral são instrumentos de controle social que não se excluem, antes, se completam e mutuamente se influenciam. O direito, malgrado distinguir-se da moral, é grandemente influenciado por esta, de quem recebe valiosa substância. A norma moral é a norma ética, pois se funda num juízo de valor, expressando-se na experiência humana, no mundo exterior, através da atividade de assimilação de conceitos, que é atividade interna. Direito e Moral estão numa constanterelação de complementação, haja vista vez que a legitimidade de um ordenamento jurídico é aferida quando não conflitar com os princípios morais (HABERMAS, 2003). O direito é heterônomo, ou seja, dirige-se a todos, atribuindo-lhes direitos e deveres, no que revela o seu caráter atributivo, é, em síntese, a sujeição ao querer alheio; determina o dever ser; é um meio de realização da justiça, que é o seu fim; delimita as regras morais determinam nossos deveres com relação a nós mesmos. Diferencia-se substancialmente dos outros instrumentos de controle social por ser dotado de coercibilidade. Já a moral é autônoma, porque submete apenas a pessoa, na sua individualidade interior, é o dever ser; preocupa-se com o que é bom; é um fim em si mesmo, ao regular a conduta do homem na esfera da sua consciência; é incoercível. 4.3 Direito e Justiça O direito é o veículo para a realização da justiça, enquanto que a justiça é a meta da ordem jurídica. A ideia de justiça que nós temos é herança da cultura clássica grega e romana, da primeira em sentido filosófico e da segunda no sentido jurídico. Platão entende que a justiça é virtude suprema; o equilíbrio e a harmonia constituem as suas notas fundamentais. Aristóteles definiu a justiça como equilíbrio e proporção, discernindo justiça distributiva e justiça corretiva, respectivamente em função de critério de proporção e de igualdade. “A justiça é frequentemente considerada a mais elevada forma de excelência moral”. “A justiça, e só a justiça, entre todas as formas de virtude, é o bem dos outros”. Para Ulpiano (Apud Nader, 2011, p.105), jurisconsulto romano, a sua definição de justiça, numa acepção sem amarras temporais, consiste na “constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu”. O termo “seu” deve ser entendido em diversos aspectos; do patrimonial ao espiritual; do pessoal ao coletivo, como, por exemplo, o salário equivalente ao trabalho e a pena proporcional ao crime. De acordo com o brocardo que bem define essa proximidade entre direito e justiça, atribuído a São Tomás de Aquino, lex iniusta non est lex, isto é, a lei injusta não é lei. 4.4 Direito e Equidade Alguns juristas aproximam direito e equidade. Para os romanos o direito é sempre o que é bom e equitativo. Equidade é o princípio que em função da razão pode flexibilizar, moderar ou modificar a aplicação da lei, quando se evidencia excessivo rigor, inadequação ou injustiça. Uns entendem a equidade como noção moral, igualdade de direitos e justiça, consideram-na como o sentimento do justo, provocado no juiz pelo caso sub júdice; ou ainda, como noções de humanidade, clemência, moderação e mitigação. Outros preferem definir equidade em sentido mais técnico, a adaptação do direito ao fato, o ‘meio de corrigir a lei’. De toda forma, no direito brasileiro, a equidade somente está autorizada quando vier expressamente prevista em lei. 4.5 Teoria Tridimensional do Direito Uma concepção integral do fenômeno jurídico encontramos formulada na Teoria Tridimensional do Direito, especialmente na chamada fórmula de Reale. O principal Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 8 nome de nossa filosofia do direito atual, e de todos os tempos, é o de Miguel Reale (1910), que alcançou projeção mundial, entre outros filósofos. Para REALE: “O fenômeno jurídico explica-se através da relação recíproca, simultânea e dialética entre norma, fato social e valor”. Fato – fato social, realidade. Valor – valoração, juízo de valor, percepção sob critério ético. Norma – lei ou norma de conduta obrigatória. Fato, valor e norma não existem separados um dos outros, mas coexistem formando uma unidade em constante ebulição. Segundo tal teoria, o Direito, que se expressa por meio de normas, mas estas são apenas a última face do fenômeno jurídico, o qual somente pode surge comungado com as outras duas dimensões: o Fato Social e o Valor. Para exemplificar com aplicações práticas da teoria, podemos ressaltar que algumas condutas que eram tipificadas como crime acabam deixando de ser criminalizadas e vice-versa. O adultério deixou de ser crime no Brasil em 2005 e em 2012 tivemos a sanção da Lei 12.737/2012 (Batizada de Lei Carolina Dieckmann) que foi a criminalização de várias condutas em relação aos crimes virtuais e delitos informáticos, devido o espaço amplo que a Rede Mundial de Computadores (Internet) e das redes sociais no cenário mundial. Importante frisar que, em contraponto, existe uma corrente que alega que a presente teoria é falha e não corresponde com a realidade, com o argumento de que existem normas que a população discorda ou mesmo sequer teve qualquer participação, reforçando nesta tese que a teoria confunde valoração social com valoração jurídica. 5. SIGNIFICAÇÕES DO DIREITO O termo “direito” tem sua origem no latim directus, que significa aquele que segue regras predeterminadas. O conceito denota direcionamento ou obrigatoriedade de um comportamento. No entanto a palavra direito pode receber diversos empregos dependendo do contexto da oração, como: “não é direito abusar da boa-fé alheia”, “saúde é direito de todos”, “o direito brasileiro proíbe o roubo”, “todos têm o direito de votar”, dentre outros, permitindo um contexto largo. Ao mesmo tempo em que o direito pode apresentar o significado de justiça, de bem jurídico justo, também tem o significado de norma e de poder/dever. Como estudantes, podemos perceber o direito no aspecto científico, onde o direito não é apresentado como norma ou a justiça, mas sim como uma ciência jurídica. Num sentido figurado, o direito aponta estar de acordo com a Lei, sendo uma das razões que fundamentam o entendimento de que o Direito é a ciência do dever ser. Para Pontes de Miranda, citado por Nader, o direito é um fenômeno de adaptação. “Direito não é outra coisa que processo de adaptação”. “Direito é processo de adaptação social, que consiste em se estabelecerem regras de conduta, cuja incidência independe da adesão daqueles a que a incidência da regra jurídica possa interessar”. No contexto histórico, diversas definições de direito foram delineadas: “Direito é a arte do bom e do justo” (Celso, jurista Romano); “O direito é o conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pela sociedade” (Hugo Grócio – século XVII); “Direito é o conjunto das condições segundo as quais o arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio dos outros, de acordo com a lei geral de liberdade” (Emanuel Kant – século XVIII); “Direito é a política da força” (Ihering – século XIX); “Ordenação coercitiva da conduta humana” (Kelsen); “Direito é o conjunto de normas de conduta social imposto coercitivamente pelo Estado, para realização da segurança, segundo os critérios de justiça” (Paulo Nader); “Direito é a concretização da ideia de justiça na pluridiversidade de seu dever ser histórico, tendo a pessoa como fonte de todos os valores” (Miguel Reale); “Direito é a norma de conduta social obrigatória para a consecução da justiça” (Pedrosa). Especificamente para Kant (Apud Nader, 2011, p.73), “os juristas ainda estão à procura de uma definição para o Direito”. A seguir iremos estudar algumas concepções que não são necessariamente excludentes entre si, conforme veremos. 5.1 Direito Natural x Direito Positivo O direito natural não depende de lei alguma, sendo evidente, espontâneo, por isso é autônomo, como por exemplo, o nascimento. Tem por fundamento os princípios fundamentais de uma determinada sociedade. Pela teoria do direito natural, existem dois direitos fundamentais, superiores a qualquer legislação: o direito à vida (não ser submetido à tortura, maus-tratos nas prisões, no lar, no trabalho, etc.) e o direito à liberdade (não ser preso arbitrariamente, não ser seqüestrado nem encarcerado injustamente, etc.). Notadamente no exercício da atividadepolicial nos deparamos muitas das vezes com casos que possam excepcionar estes direitos naturais (hoje já positivados), necessitando que o PM saiba agir de acordo com o regramento legal. As normas jurídicas, ao contrário, são postas pela vontade humana; enquanto as normas que são dadas pela natureza são anteriores a qualquer manifestação volitiva. Na expressão direito natural estão os princípios atribuídos a Deus, à razão, ou decorrentes da natureza das coisas. Independem de convenção ou legislação e seriam informativos ou condicionantes das leis positivas, adequados aos respectivos momentos históricos. Já o Direito Positivo é o que é real, certo, fora de qualquer dúvida; o direito só pode ser positivo na medida em que é sancionado pelo poder público (direito legislado). É o direito válido e eficaz, podendo ser escrito ou não. A positividade, então, se reflete na garantia assegurada pela ordem jurídica, ou seja, é o caminho à segurança jurídica de uma sociedade. O direito positivo é o que submete a todos, num dado momento e lugar, atual ou pretérito, sendo por isso, contingente e variável. A doutrina conceitua direito positivo como um sistema de normas vigentes, obrigatórias, aplicáveis coercitivamente por órgãos institucionalizados, tendo a forma de leis. Uma vez normatizado, não admite Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 9 qualquer alteração, salvo pelas vias próprias que serviram à sua edição (proposta de emenda ou de nova norma que revoga expressamente a anterior) ou, excepcionalmente, através de formas previstas em lei, como, por exemplo, na suscitação de vícios de inconstitucionalidade em determinadas normas. O direito positivo resulta de um ato de vontade, sendo por isso heterônomo por ser imposto pelo Estado (lei). 5.2 Direito Objetivo x Direito Subjetivo Quando consideramos o direito como regra obrigatória, ou como um conjunto de regras obrigatórias, entendemo-lo como direito objetivo, ou seja, o direito em sentido objetivo. É a compreensão do direito como norma obrigatória. É o direito em vigor, sendo o Direito Positivo uma espécie de Direito Objetivo, consubstanciado em regras de condutas obrigatórias e garantidas pelo Estado. É objetivo porque é posto pelo Estado ou admitido em sua ordem jurídica, bem como pelos costumes e por instrumentos válidos, como o caso dos contratos. Por sua vez, o Direito Subjetivo pode ser entendido como a prerrogativa ou faculdade outorgada, por lei ou por contrato, a uma pessoa, para praticar certo ato. É subjetivo por ser o direito de uma pessoa. Assim, o direito à propriedade se refere ao direito que tem determinada pessoa a determinada coisa (direito subjetivo), que é protegido e tutelado pelo Estado nos termos da Carta Magna e do Código Civil (direito objetivo). Quando nasce o direito à indenização, no exemplo de Paulo Nader (2011, p. 80-81), o autor tem um direito subjetivo, haja vista a ofensa a uma norma de direito objetivo e positivada. A noção de direito subjetivo é correlata à de dever jurídico, não substituído, pois, direito sem dever, nem este sem aquele. É o direito de exigir ou pretender, pois não cabe ao titular do direito subjetivo adotar atos de coação para a satisfação do seu interesse, salvo nos casos previstos em lei. Subjetivo é o direito cujo exercício é uma prerrogativa ou uma possibilidade do seu titular de exigir uma conduta de outrem, consistente na satisfação de um interesse próprio ou de terceiro. É o direito subjetivo que confere a possibilidade de agir, tratando-se de uma garantia constitucional, à disposição de toda pessoa que se julgar lesada ou ameaçada. 5.3 Direito Substantivo x Direito Adjetivo O Direito Substantivo é entendido como o conjunto das regras criadas pelo Estado que normatiza a vida em sociedade, definindo as relações jurídicas. Constitui-se no chamado direito material. O Direito Substantivo (Material) é o que define as condutas e as relações concretas das pessoas em sociedade, e as submete à sua ação. Em contraponto temos a concepção de Direito Adjetivo (Processual), que consiste nas regras de direito processual que regulam a existência dos processos, bem como o modo destes se iniciarem, se desenvolverem e terminarem. O direito formal ou "adjetivo" diz respeito à processualística, ou seja, à forma pela qual se aplica o direito material. Instrumentaliza como efetivar, manter, tornar válidos ou recuperar os direitos previstos no âmbito do Direito Substantivo (Material). São autônomos entre si. Enquanto o Direito Material estabelece as normas que regulam as relações jurídicas entre as pessoas, o Direito Processual é instrumental, serve de instrumento para a viabilização do acesso ao Poder Judiciário. Para a ação policial é imprescindível o conhecimento do Direito Material, até porque é extremamente necessário saber quais condutas são tidas como delitos penais e tornam obrigatória a intervenção policial, dentre outras nuanças Já, em relação do Direito Adjetivo, é importante que o policial tenha um bom conhecimento, mas não precisa entender de forma completa como se dá a processualística jurídica. Tarefa de Casa: Assistir “O mercador de Veneza”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=i0VbIO4mtFg. 6. TEORIAS DO DIREITO As Teorias do Direito são correntes de cunho filosófico que visam situar o Direito na sociedade, especialmente, em relação à moral e à validade das normas. Destarte, para entendermos melhor como se deu a evolução histórica do fenômeno jurídico, importante estudarmos os modelos principais, seus pontos divergentes e suas transformações, a fim de debatermos o desenvolvimento do Direito enquanto ciência autônoma e técnica de regulação social, considerando a história do pensamento jurídico e sua relação com as sociedades modernas. 2.1 Jusnaturalismo A ideia remonta do Direito Natural, já estudado, sendo umas das teorias mais antigas. Sustenta que o direito advém da natureza das coisas, da natureza humana ou ainda da religião ou da razão, tidos como aspectos naturais. O pensamento jusnaturalista originou-se na Grécia como expressão universal e igualitária da natureza humana. Por consequente, prescinde de lei promulgada e criada pelo homem. Por volta do século XIII, pela influência de São Tomás de Aquino, nasceu o jusnaturalismo teológico, ou transcendental, conferindo ao direito natural uma ordem eterna do universo, com origem em Deus. Tal entendimento angariava muita coerência na época, pela influência exponencial da religião na condução das Leis que regulavam a vida em sociedade. Com o iluminismo, esta corrente foi perdendo força e aceitação, surgindo o jusnaturalismo moderno que baseando a teoria na natureza da razão humana. A justiça era o imperativo que norteava e legitimava o respeito ao direito natural. Não estava adstrito ao direito escrito ou estatal, mas sim acima do próprio Estado. Tratava-se de algo natural como uma concepção universal e inerente à natureza humana. Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 10 Entende-se que o direito natural deve prevalecer ante ao direito posto, caso este fira a concepção daquele. Radbruch, filósofo do direito do século XX, em defesa a esta tese advogava em nome do direito natural que: “a lei extremamente injusta não é lei”. Verifica-se que o jusnaturalismo está caracterizado por duas teses, uma de concepção ética e filosófica, que defende a existência de uma concepção de justiça e de princípios morais universalmente válidos e acessíveis à razão humana e outra relativa à concepção do que se entende por Direito, segundo a qual uma norma em desacordo com esta compreensão não pode ter amparo jurídico. Em contraponto ao jusnaturalismo, afirma-se que os conflitos são carregados de subjetividades e dificilmente podemos ter uma decisão racionalque alcance todos os aspectos da moralidade e da justiça de forma universal e ampla, bem como que o plano metafísico e superior em que repousa esta teoria dificilmente poderia legitimar uma decisão judicial, tendo em vista a relatividade dos conceitos e a carga de subjetividade. 6.2 Positivo Normativo de Hans Kelsen O positivismo jurídico tem sua base no Direito Positivo. Dentre as correntes da filosofia do direito, esta resguarda muita força na concepção atual, especialmente por ser bem concreta e palpável, podendo ser identificada de forma objetiva no meio social. Repousa a validade da Lei na autoridade dos legisladores e ampara sua validade na ciência jurídica, com juízos de fato e não de valor (subjetivos). A presente teoria separa o Direito da Moral e baseia a força do Direito no Estado, podendo ser delimitado de forma objetiva. Por consequência, tem validade obrigatória (heterônoma), tendo que ser suportado e respeitado por todos. A norma é tida por justa por ter sido legislada e criada pela autoridade competente. Assim, a norma jurídica pressupõe uma legitimidade em si mesma, devendo o Estado Juiz fazer valer o Direito Posto. Nessa teoria a estrutura da ordem jurídica é entendida como autossuficiente e as decisões judiciais devem ser espelhos da aplicação da legislação vigente. O positivismo alberga também o respeito ao Princípio da Separação dos Poderes, onde o Juiz não poderia invadir a esfera do legislador, que em tese representa a vontade da maioria. Hans Kelsen entende que uma norma repousa sua validade na norma superior e todo o ordenamento jurídico na “Norma Hipotética Fundamental”, onde uma Lei só terá validade se não ferir a norma superior. Ilustrando o entendimento ao autor, segue a ilustração abaixo: NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL Fonte: https://direitoaojus.blogspot.com/2017/07/piramide-de- kelsen.html Percebe-se na figura que uma norma é jurídica quando ela pertence validamente ao sistema jurídico escalonado e hierarquizado, que é validado em si mesmo. Tarefa da Casa: Acessar o podcast: Norma Jurídica. Disponível em: https://podcasts.google.com/feed/aH R0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy8xNTFlN2EzNC9wb2RjYXN0L 3Jzcw/episode/ZjU5YmQ2MjUtMWI0OC00NTdmLThlOWMt NTBhNmE5MTliMDg5?hl=ptBR&ved=2ahUKEwiFs4vBz7HqA hUaHLkGHd3QD3kQjrkEegQIChAE&ep=6 7. FONTES DO DIREITO Paulo Nader (2011) conceitua lei, costumes e princípios gerais do direito da seguinte forma: A lei é uma forma moderada de produção do Direito Positivo. É ato do Poder Legislativo, que estabelece normas de acordo com os interesses sociais. O processo legislativo é estabelecido de acordo com a Constituição Federal e se desdobra nas seguintes etapas: apresentação do projeto, exame das comissões, discussão e aprovação, revisão, sanção, promulgação e publicação. Costume é uma prática gerada espontaneamente pelas forças sociais e ainda, de forma inconsciente. A lei é direito que aspira à efetividade e o costume é norma efetiva que aspira à validade. É cediço, que o direito escrito já absorveu a quase totalidade das normas consuetudinárias. Os princípios gerais do direito garantem, em última instância, o critério de julgamento. Dirige-se aos destinatários do direito em geral, ou seja, aos homens da sociedade. Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 11 8. HIERARQUIZAÇÃO DAS LEIS Normas jurídicas são padrões de conduta social imposta pelo Estado, para que seja possível a convivência dos homens em sociedade. São fórmulas de agir, determinações que fixam as pautas do comportamento interindividual. Em síntese, norma jurídica é a conduta social ou o modelo imposto de organização social. Dentro da classificação das normas jurídicas encontram-se as hierarquias das leis, quais sejam: Normas Constitucionais – Constituição Federal, Constituições Estaduais e Emendas às Constituições; Normas Infraconstitucionais – Leis Ordinárias, Leis Complementares e Leis Delegadas; Atos com Força de Lei – Medidas Provisórias, Decretos Legislativos e Resoluções do Legislativo; Atos Administrativos Normativos – Portarias, Regulamentos, Decretos, Decretos-Lei, Regimentos, Certidões, Despachos, Homologações, Autorizações, Permissões, etc. Especificamente quanto às normas constitucionais, não podemos olvidar do conceito de Bloco de Constitucionalidade, importado do direito francês, e já reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal. Refere-se a normas materialmente constitucionais que se encontram fora do texto magno, como, por exemplo, os acordos internacionais que sejam aprovados em cada casa legislativa do Congresso Nacional em dois turnos de votação, com 3/5 de votos favoráveis dos respectivos membros, na forma do § 3º, Art. 5º, da CF/1988. Importante frisar que quanto à extensão territorial as normas podem ser federais, estaduais e municipais. 9. RAMOS DO DIREITO 9.1. Direito Público É o que predomina o interesse público; relação de subordinação. Pode ser interno e externo. Paulo Dourado de Gusmão (2003) faz a seguinte classificação: Interno É a parte do direito em que predomina o interesse público, principalmente, o do Estado. É direito de subordinação e divide-se em: Direito Constitucional – é o direito organizador do Estado e de seu governo, disciplinador das relações entre governantes e governados, e dos direitos fundamentais dos cidadãos; Direito Administrativo – é o que organiza e disciplina a Administração Pública e os serviços públicos; Direito Eleitoral – é a que disciplina a escolha dos governantes pelos governados, estabelecendo as condições para ser eleitor e as de elegibilidade, a data das eleições, a forma do voto e de sua apreciação; Direito Penal (Comum e Especial) – é um sistema de normas que define e enumera os crimes e as respectivas penas, bem como prescreve medidas preventivas aplicáveis; Direito Processual (Comum e Especial) – é o que disciplina o processo judicial, a sequencia de atos destinados a obter a sentença definitiva; Direito Judiciário – é o que organiza o Judiciário e disciplina o seu funcionamento; Direito Penitenciário – é o que tem por objeto a execução da pena e a recuperação social do delinquente. É o ramo do direito repressivo que disciplina a forma que deve ser cumprida a pena de prisão, ou seja, a execução da pena imposta pelo juiz da sentença criminal; Direito Tributário – é o conjunto de normas que disciplina a arrecadação para que o Estado possa gerenciar suas atividades em prol da sociedade; Direito Político – é o que compreende a estrutura política do Estado, o direito eleitoral e os partidos políticos; Direito Financeiro – é o que disciplina e organiza as finanças públicas. É o conjunto de normas que disciplinam a gestão e a distribuição de meios econômicos que necessitam o Estado e outros entes públicos para o cumprimento de suas atividades; Direito Disciplinar – é o direito repressivo destinado a obter maior eficiência, disciplina, decoro e produtividade no serviço público, nos parlamentos e nas Forças Armadas e Forças Auxiliares; Direito Contravencional – é o direito que pune as faltas ou desobediências sem muita gravidade; Direito Internacional Privado – é o direito que indica a legislação de direito privado (nacional ou estrangeira) aplicável a casos em que há dúvida quanto à lei que o rege. Externo Rege as relações com outros países (comerciais e culturais – políticas e econômicas). Divide-se em: Direito Internacional – é o direito constituído de regras consuetudinárias e pactuadas que regem as relações entre Estados soberanos, impondo-lhes também o respeito aos direitos humanos; Direito Penal Internacional – é direito convencional, estabelecido por tratados, que rege a repressão de delitos que afetam as relações internacionais ou que atentam contraos direitos humanos e a civilização; Direito Diplomático – é o que estabelece a competência da autoridade para celebrar ou denunciar tratado ou para nomear agentes diplomáticos, organização do Ministério das Relações Exteriores e da carreira diplomática; Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 12 Direito Espacial – é o direito que disciplina a utilização e a exploração do espaço extra- atmosférico e dos corpos celestes. São feitas atualmente por satélites, espaçonaves, laboratórios orbitais, sondas e estações orbitais, etc. 9.2 Direito Privado É o direito que predomina o interesse privado e em que as partes se apresentam em pé de igualdade. Divide-se em: Direito Civil – é o que regula as relações jurídicas entre pessoas, empresas ou similares, com ou sem a natureza patrimonial, consideradas em situações de igualdade; Direito Comercial – é o que regula as relações jurídicas que nascem do exercício do comércio; Direito Privado Disciplinar – é o que tem por fontes estatutos de clubes, de associações, de instituições ou de sociedades (civis ou comerciais), prevendo penas (exclusão de sócios, suspensão de associados, multa, etc.), aplicáveis a seus associados; 9.3. Direito Misto É o direito constituído por normas e princípios de direito público e de direito privado ou, ainda, de direito nacional e de direito internacional. Direito Marítimo – é o conjunto de regras de direito público e de direito privado que disciplina o transporte, a navegação e o comércio marítimo. Tem normas de direito administrativo (organização de portos), de direito disciplinar (aplicação de penalidades aos tripulantes das embarcações) e de direito privado (direito comercial marítimo); Direito Aeronáutico – é o conjunto de normas que regem o transporte aéreo na atmosfera, aplicável às aeronaves, às suas tripulações, aos aeroportos e ao espaço aéreo; Direito Econômico – é o direito que controla a produção e a circulação de riquezas. Trata das relações econômicas ligadas à produção (agrícola e industrial); Direito do Trabalho – é o direito que rege as relações jurídicas entre assalariados e patrões e estabelece as condições de trabalho, salário e assistência, vantagens e prerrogativas do trabalhador; Direito Sindical – é o direito que tem por objeto o exercício de atividades profissionais, disciplina o poder normativo e de representação dos sindicatos; Direito Agrário – é o direito rural. Rege a produção agropecuária e a propriedade industrial- rural; Direito Falimentar – é o complexo de normas protetoras do crédito no caso de insolvência do comerciante. REFERÊNCIAS AQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro. 12 ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2004. BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 5 ed. São Paulo: Malheiros, 2004. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 11ª ed.. São Paulo: GEN | Atlas, 2019. HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia entre facticidade e validade. Volumes I e II. 2ª ed. Trad. Flávio BenoSiebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. LUIZ, Valter Correia. Introdução ao Estudo do Direito. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. MASCARO, Alysson Leandro. Introdução do Estudo do Direito. 6ª ed. rev. atual. ampliada. São Paulo: GEN | ATLAS, 2019. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2000. NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 33 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. ______. Filosofia do Direito. 14 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. PAUPÉRIO, A. Machado. Introdução ao Estudo do Direito. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. PEDROSA, Henrique E. Introdução Didática ao Direito. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Administrativo. 13 ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2001. REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27 ed, São Paulo: Saraiva, 2002 (10 tir., 2011). SILVA, Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1990. 5 v. ANEXO I O Direito Natural e o Direito Positivo e seu Contexto Histórico: Lições de Norberto Bobbio Revista 163 – Âmbito Jurídico. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revi sta-163/o-direito-natural-e-o-direito-positivo-e-seu- contexto-historico-licoes-de-norberto-bobbio. Acesso em 20.02.2022. Resumo: Este artigo tem por fito demonstrar a evolução do direito natural e do positivo descrita pelo autor Norberto Bobbio em sua obra O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. Nesse sentido, busca-se evidenciar que no transcorrer dos diferentes períodos históricos, ambos os direitos tiveram seu estado de eficácia alterado, porém, a norma natural e a positiva, continuam imprescindíveis no presente quadro de desenvolvimento social. Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 13 Palavras-chave: direito natural; direito positivo; contexto histórico; Norberto Bobbio. Introdução Conhecer a evolução jurídica possibilita explorar as diversas exigências sociais que possui cada época. A sociedade e o Estado usaram do direito natural e do positivo de diferentes modos até as mencionadas normas alcançarem a posição que possuem atualmente na ordem jurídica pátria: na ausência do direito positivo, o juiz utilizará da norma natural na solução do caso concreto. Para tanto, procuramos através de Norberto Bobbio, importante filósofo e jurista italiano, estudioso do direito natural e do direito positivo, demonstrar que o corpo social não está desprotegido de normas jurídicas, eis que na hipótese de omissão legislativa o magistrado fará uso da lei natural. Assim, no primeiro capítulo tratamos de definir a normal natural e a positiva, expondo a definição de notáveis autores que estudam o tema ora tratado. No segundo capítulo buscamos evidenciar a posição do direito natural e do direito positivo em fases históricas diferentes, mostrando como os direitos eram vistos de acordo com cada período. Já no terceiro capítulo mudamos de foco, com o objetivo de apresentar a relação do magistrado com tais direitos na aplicação da lei no caso concreto. O quarto capítulo discorre acerca do direito romano no que concerne à norma positiva e natural. Nessa mesma linha, o capítulo quinto procura demonstrar a posição da Inglaterra no tocante às normas em questão. O sexto capítulo aponta a necessidade de que o legislador seja o único a dizer direito, sendo que mencionada atribuição decorre da representação que faz do Estado e do povo. Já o sétimo capítulo dispõe sobre a presença das normas em estudo no século XVIII até os tempos atuais. Dito isto, esperamos que o presente trabalho seja de grande valia para aqueles que buscam através de Norberto Bobbio conhecer o contexto histórico que cerca a lei positiva e a lei natural. 1. O conceito do direito natural e do direito positivo Conhecer as definições dos mencionados direitos é imprescindível para compreender como se desenvolveram ao longo da história. Nessa perspectiva, para Andityas Soares de Moura Costa Matos (2006, p. 191) o direito natural é: “a doutrina idealista do direito que enxerga ao lado, ou melhor, acima do direito positivo algumas normas imutáveis e de observância obrigatória, postas por uma autoridade supra-humana (que seria a natureza, Deus ou a razão humana, como veremos adiante. As normas jusnaturais se dão a conhecer por meio das leis naturais que, em conjunto, formam o que se chama de ordem natural”. Nessa mesma linha, diz Hans Kelsen (apud MATOS, 2006, p. 191): “As normas imutáveis da doutrina do direito natural apenas podem ser as leis naturais”. Diante dessas considerações o direito natural pode ser definido como aquele estabelecidopor algo que se encontra em uma posição superior ao do homem, como, por exemplo, a natureza ou Deus. Tal direito é imutável e possui eficácia universal, isto é, tem validade em todo lugar. Conquanto, o direito positivo é conhecido como o pensamento que dispõe a superioridade da norma escrita sobre a não escrita (direito natural). A norma positiva é posta pelo homem, possui eficácia limitada, sendo válida somente nos locais nos quais a observa, bem como, é constantemente alterada. Os positivistas defendem que o direito positivo é o único capaz de dizer o direito, conforme menciona Tércio Sampaio Ferraz Júnior em seu livro Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, denominação (apud MATOS, 2006, p. 189): “A tese de que só existe um direito, o positivo nos termos expostos, é o fundamento do chamado positivismo jurídico *…+”. Explanadas tais reflexões, passaremos ao estudo dos fatos históricos que torneiam os referidos direitos. 2. A evolução do direito natural e do direito positivo nos diferentes momentos históricos No período clássico, o direito natural não preponderava sobre o direito positivo. O direito natural era intitulado como direito comum, já o positivo era chamado de especial ou particular de uma determinada sociedade. Nesta época, o direito positivo se sobressaia em relação ao natural nos casos onde houvesse controvérsias entre eles, lógica resultante da máxima: o especial prevalece sobre o geral. Um exemplo disso é a obra de Sófocles, Antígona, onde o decreto de Creonte estava acima do direito natural, ou seja, do direito não escrito, posto pelos Deuses. Porém, na Idade Média, o cenário inverte, eis que o direito natural passaria a ser visto como superior ao direito positivo. O direito natural já não era mais entendido como direito comum, mas sim como a lei do próprio Deus. Ressalta-se que, mesmo encontrando-se o direito positivo numa escala inferior ao natural, o direito positivo continuava sendo considerado como uma espécie direito. Já no modernismo a situação novamente muda, uma vez que o direito positivo passa a ser conhecido como direito no sentido próprio, ou seja, todo o direito é reduzido ao positivo e o direito natural não é mais visto como um direito. Nessa esteira, o acréscimo do adjetivo “positivo” à palavra “direito” já não fazia nenhum sentido, era um pleonasmo. Assim, nasce o positivismo jurídico que nada mais é que a doutrina que alega que não existe outro direito, senão o positivo. Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 14 3. O juiz como objeto de estudo no que concerne à formação do direito antes e depois do Estado Moderno A formação do Estado Moderno, que surge após o fim da era medieval, está intrinsecamente relacionada à passagem do período jusnaturalista ao juspositivista. Norberto Bobbio (1995, p. 21) define o Estado como: “a associação perpétua de homens livres, reunidos em um conjunto com o fito de gozar os próprios direitos e buscar a utilidade comum”. Na Idade Média, a sociedade era pluralista, ou seja, representada por uma diversidade de agrupamentos sociais, onde cada grupo possuía seu ordenamento. Nessa época, o direito era fruto da população civil e não do Estado. Entretanto, no modernismo, a população era monista, isto é, o Estado possuía para si todos os poderes existentes. Dentre esses poderes podemos citar aquele de criar o direito, sendo a instituição estatal a única capaz de pô-lo, sem qualquer concorrência. Isso acontece através das leis ou por meio do controle que o Estado exercita nas normas de formação consuetudinária (direito fundado nos costumes). Esse fenômeno é conhecido como processo de monopolização da produção jurídica por parte do Estado. Como já visto, o direito nem sempre foi determinado pelo Estado. Podemos mencionar a título de exemplo, o direito natural que não se origina da do domínio estatal. O Estado primitivo não se importava em criar as leis, deixando a elaboração destas a cargo do desenvolvimento social e também para o juiz, que ficava incumbido de solucionar os conflitos e decidir as normas que seriam aplicadas. Nessa baila, o juiz é responsável pela transição do direito não estatal para o estatal, bem como, pela migração do ideal dualista (direito natural e direito positivo) para o monista (somente o direito positivo). Nesse sentido, para Norberto Bobbio (1995, p. 28) o direito é: “quando, surgindo um conflito entre dois sujeitos, intervém um terceiro (juiz nomeado ou arbítrio escolhido pelas partes) que estabelece uma regra (que provavelmente se tornará um “precedente”, isto é, será aplicada também em outros casos) segundo a qual a controvérsia será resolvida. Se, em uma dada sociedade, não há intervenção deste “terceiro”, não se pode falar em direito em senso estrito: dir-se-á que aquela sociedade vive segundo usos, costumes (mores) etc”. De se registrar que antes da formação do Estado Moderno o juiz não estava necessariamente obrigado a julgar as lides usando das normas emanadas do legislativo, sendo assim, o juiz podia escolher qual lei seria aplicada no caso concreto, podendo extraí-la dos costumes ou daquelas originárias dos juristas ou, até mesmo, fazendo uso da equidade; ou seja, podia o juiz utilizar do direito natural. Todas essas alternativas que continha o juiz constituem as fontes do direito. No Brasil as fontes do direito são aquelas previstas no artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), quais sejam, a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, sendo que tais institutos formam as formas de integração da norma jurídica. No entanto, com o advento do Estado Moderno, o juiz deixa de possuir essa autonomia no julgamento dos conflitos, posto que se torna órgão do Estado. O juiz agora é obrigado a usar das normas elaboradas pelo legislador ou, no caso das leis consuetudinárias ou normas do direito natural, estas seriam submetidas ao aval do Estado. Nesses termos, na época moderna, o direito positivo, aquele estabelecido e confirmado pelo Estado, passa a ser considerado como o único e verdadeiro direito, sendo aplicado em juízo. 4. O direito natural e direito positivo no direito romano Durante a idade Média, a sociedade era pluralista, sendo assim, todo coletividade tinha um ordenamento próprio. Tal ordenamento era subordinado ao direito romano. A posteriori, os reinos obtinham sua independência e passavam a se titularizarem como possuidores do poder de elaborar seus próprios direitos. A ordem jurídica romana que na era medieval era conhecida como direito comum, termo esse relacionado à definição do direito natural estipulado pelos gregos e pelos romanos, tem seu fim com a codificação nos séculos XVIII e início do XIX, onde o direito comum foi totalmente integrado pelo direito positivo. 5. O common law e statute law na Inglaterra O common law equivale as normas consuetudinárias do direito natural, já o statute law representa o direito estatutário ou legislativo. Salienta-se que a common law não é o direito comum de raiz romana, no qual vimos anteriormente, mas um direito consuetudinário de origem inglesa, proveniente das relações entre os povos e recepcionado pelos juízes escolhidos pelo rei. Após, o common law se torna um direito de elaboração jurídica, eis que é utilizado pelos juízes para a solução das controvérsias individuais. Já o statute law é interposto pelo poder soberano (rei ou, em um segundo momento, pelo rei e pelo parlamento). É curioso o fato que na Inglaterra o direito positivo não sobressaiu ao direito natural, mesmo quando a monarquia medieval passou à monarquia moderna. No referido país, o direito estatutário tinha eficácia enquanto não contrariava as normas do direito comum. A monarquia aqui nunca foi ilimitada pela razão que na Inglaterra foi desenvolvido a teoria da separação dos