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Prévia do material em texto

Associação Carioca de Ensino Superior
Centro Universitário Carioca
	Unidade 1 – Introdução à Metodologia da Pesquisa
Tópico 1 – Breve histórico: a cartografia do conhecimento
Textos para leitura
	
	
SOBRE O OTIMISMO E A ESPERANÇA
	Era o ano de 1898. Todos falavam sobre o novo século que se aproximava, o século XX. Havia razões de sobra para otimismo. A humanidade estava prestes a ver realizada uma profecia feita 200 anos antes.
Qualquer que tenha sido o início desse mundo, é certo que o fim será glorioso e paradisíaco... Os homens farão com que sua situação nesse mundo seja cada vez mais confortável; prolongarão a sua existência e ficarão cada vez mais felizes.
	
Não havia nada de assombroso nessa profecia. Ela simplesmente enunciava aquilo em que todos acreditavam. Acreditavam que a história da humanidade era uma longa epopeia que se iniciara há milhões de anos. Seu começo fora insignificante. Insignificante é uma semente: ninguém suspeita da beleza e do tamanho da árvore que ela contém. Menor que uma ameba. Mas o tempo fez o seu trabalho. Novas formas vivas foram nascendo umas das outras, dramaticamente, umas desaparecendo, outras sobrevivendo, até que, finalmente, ao final desse processo tortuoso, um fruto maravilhoso: um homem belo, bom e inteligente. A semente se transformara em árvore de linda copa verde coberta de flores e frutos. Muitos frutos já haviam amadurecido, e os homens se haviam deliciado com o seu sabor. Mas a grande colheita estava por vir. A grande colheita seria no século XX.
	
	Por ocasião do septuagésimo aniversário do poeta Walt Whitman, Mark Twain lhe escreveu uma carta maravilhosa, o maior documento de otimismo que conheço:
Tendes vivido os setenta anos que são exatamente os maiores da história universal e os mais ricos em benefícios e progressos para os povos. Esses setenta anos têm feito muito mais no sentido de aumentar a distância entre o homem e os outros animais do que o conseguiu qualquer dos cinco séculos que os precederam. Quantas coisas tendes visto nascer! (...) Demorai, porém, um pouco mais, porque o mais grandioso ainda está por vir. Esperai trinta anos e, então, olhai para a terra com olhos de ver! Vereis maravilhas sobre maravilhas somadas àquelas a cujo nascimento vindes assistindo; e, em volta delas, claramente visto, havereis de ver-lhes o formidável Resultado – o homem quase que atingindo, enfim, seu total desenvolvimento e continuando ainda a crescer, visivelmente crescendo sob vossos olhos... Esperai até verdes surgir essa grande figura e surpreendei o brilho remoto do sol sobre seu lábaro; então, podereis partir satisfeito, ciente de terdes visto aquele para quem foi feita a terra, e com a certeza de que há de proclamar que o trigo humano é mais importante que o humano joio, e passará a organizar os valores humanos nessa base. 	
	 
	
	Essa ideia grandiosa de progresso aparecera, talvez pela primeira vez e sob uma forma religiosa, no pensamento de Joaquim de Fiori, um monge herege que morreu por volta do ano de 1200. A sua heresia estava nisso: a teologia da Idade Média via o universo à semelhança da catedral gótica – uma hierarquia vertical da beleza estrutural incomparável, saída das mãos de Deus pronta, imóvel no tempo. Nela os movimentos eram todos verticais. Havia movimentos ascendentes, que levavam para o céu, e os movimentos descendentes, na direção do inferno. O universo era apenas um cenário físico para o grande drama espiritual da salvação. O destino dos homens, a sua salvação, estava acima, no alto, lugar da morada de Deus. Joaquim de Fiori pintou um mundo novo. O paraíso não está no alto. Ele se encontra no futuro. O espaço se transforma pelo poder do tempo. É como uma mulher em dores de parto. A história é o movimento do universo engravidado por Deus. Primeiro, o pai. Depois, o filho. Finalmente, o Espírito Santo. Ao final, o parto. O paraíso nasceria.
	 O universo medieval-Catedral Gótica desmoronou. Também o universo de Joaquim de Fiori, que se movia pelo poder de Deus. Os cientistas examinaram os céus e o encontraram cheio de estrelas e galáxias maravilhosas – mas nenhum sinal das moradas de Deus. Deus foi despejado de sua mansão nas alturas. Mas, sem o perceber, os homens o trouxeram para a terra e o fizeram morar num outro lugar, com um outro nome. Colocaram-no morando bem dentro da história e lhe deram o nome de Razão. A Razão é o poder divino que, dentro da história, e a despeito dos erros e descaminhos dos homens, faz com que ela atinja um final paradisíaco. Como não ser otimista vivendo num universo assim?
O marxismo foi a maior expressão dessa religião sem Deus. Buscou dar bases científicas ao otimismo. Daí o seu fascínio. Quem não deseja ter certezas felizes sobre o futuro? Eu gostaria de ter certeza de que minhas netas irão viver num mundo paradisíaco. Pois é precisamente isso que o marxismo proclamou: através de um processo tortuoso e sofrido de lutas, semelhante àquele descrito por Darwin, os homens haveriam de chegar a um mundo sem conflitos em que os contraditórios seriam reconciliados e seria possível, então, viver a fraternidade e a justiça, e os homens poderiam, finalmente, encontrar a felicidade: uma versão secular das visões messiânicas do profeta Isaías: o leão comendo a palha com o boi, os meninos brincando com as serpentes venenosas.
Ao fim do século XIX, as conquistas maravilhosas da ciência e da tecnologia, a racionalização da política através dos processos democráticos, o desenvolvimento da educação – tudo eram evidências que tornavam inevitável um otimismo sem limites. É o mundo maravilhosamente descrito pelos pintores impressionistas Monet e Renoir: a inocência, a alegria, os reflexos coloridos da natureza, a leveza, a despreocupação. As telas de Renoir e Monet são manifestações dessa alma feliz.
Mas essa viagem maravilhosa na direção da Cidade Santa, fulgurante no alto da montanha, numa curva do caminho, revelou um outro destino: a barbárie. O homem se tornou possuidor de um conhecimento científico infinitamente superior a todo o conhecimento acumulado pelo passado. Revelou-se a fragilidade da educação: os saberes e a ciência não produzem nem sabedoria nem bondade. Foi esse homem educado e conhecedor da ciência que produziu duas guerras mundiais. Aconteceram os campos de extermínio do nazismo e do comunismo, a criação de armas monstruosas e mortais, uma riqueza jamais sonhada ao lado de milhões morrendo de fome, matanças, a destruição da natureza e das fontes de vida, as cidades infernais, a violência, o terrorismo armado com armas produzidas e vendidas por empresas geradoras de progresso.
E, repentinamente, o maravilhoso Resultado anunciado por Mark Twain aparece de forma monstruosa na pintura de Dalí e de Picasso: o lado demoníaco do homem, anunciado pela psicanálise. 
Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança. Esperança é o oposto do otimismo. “Otimismo é quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperança é quando, sendo seca absoluta do lado de fora, continuam as fontes a borbulhar dentro do coração.” Camus sabia o que era esperança. Suas palavras: “E no meio do inverno, eu descobri que dentro de mim havia um verão invencível...” Otimismo é alegria “por causa de”: coisa humana, natural. Esperança é alegria “a despeito de”: coisa divina. O otimismo tem suas raízes no tempo. A esperança tem suas raízes na eternidade. O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre. A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango à beira do abismo. Hoje é tudo que temos ao nos aproximarmos do século XXI: morangos à beira do abismo, alegria sem razões. A possibilidade da esperança...
ALVES, Rubem. Concerto para corpo e alma. 4. Ed. Campinas: Papirus/Speculum, 1998.
ATIVIDADE 1
1. Leia todo o texto e anote as palavras desconhecidas. Consulte o dicionário e descubra o significado dessas palavras.
2. A seguir, trace uma linha, horizontal ou vertical, e coloque as datasque aparecem no texto. Deixe um longo espaço entre as datas. Chamaremos essa linha de “LINHA DO TEMPO”. 
3. Na linha do tempo, insira (em ordem cronológica) os nomes e as informações que indicam temporalidade. Colorimo-las para facilitar o seu trabalho. Pesquise na rede – ou em dicionários ou livros especializados – tudo que você inseriu na sua linha do tempo. Para facilitar o seu trabalho, leia o texto “As ciências - Breve história das ciências”, de Máttar Netto. 
4. Qual é o significado da palavra “otimismo”? E o de “esperança”? (Consulte o dicionário.)
5. Procure na Internet o significado de “morangos à beira do abismo” e responda à questão:
Qual o possível significado de “morangos à beira do abismo”?
6. Leia o trecho abaixo, extraído do texto, e responda ao que se segue:
“Deus foi despejado de sua mansão nas alturas. Mas, sem o perceber, os homens o trouxeram para a terra e o fizeram morar num outro lugar, com um outro nome. Colocaram-no morando bem dentro da história e lhe deram o nome de Razão. A Razão é o poder divino que, dentro da história, e a despeito dos erros e descaminhos dos homens, faz com que ela atinja um final paradisíaco.”
Explique, com suas palavras, o significado desse trecho. Consulte o texto complementar – Breve história das ciências –, de Máttar Neto, já inserto no 28horas. 
7. Pesquise os assuntos abaixo e, com suas palavras, redija um parágrafo para cada item (no máximo em 10 linhas cada um):
a) Iluminismo
b) O Método de Descartes/CARTESIANISMO
d) Positivismo
8. Elabore três argumentos sobre a afirmação: “Hoje não há razões para otimismo. Hoje só é possível ter esperança”.
�
	Roteiro
	Unidade 1 – Introdução à Metodologia da Pesquisa
Tópico 2
- Conhecimento empírico, científico, filosófico. Outros tipos de conhecimento.
- Texto para leitura: “O que é científico?” – Rubem Alves
- 
	
Conhecimento empírico, científico, filosófico. Outros tipos de conhecimento.
Tipos de Conhecimento Humano�
 “Conhecimento é reconduzir o desconhecido a algo conhecido”.					 						Friedrich Dorsch 
OS TIPOS DE CONHECIMENTO HUMANO
Conhecer
É incorporar um conceito novo, original sobre um fato ou fenômeno qualquer. É uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. No processo de conhecimento o sujeito se apropria, de certo modo, do objeto conhecido. Pelo conhecimento o homem penetra nas diversas áreas da realidade para dela tomar posse.
O conhecimento não nasce do vazio e sim das experiências que acumulamos em nossa vida cotidiana, através de experiências, de leituras de livros, dos relacionamentos interpessoais etc.
CONHECIMENTO EMPÍRICO (Conhecimento do Senso Comum; Conhecimento Popular). 
É o conhecimento "do povo", obtido ao acaso, após ensaios e tentativas que pode resultar em acertos ou erros.
Subjetivo: baseado em achismo e emoções;
Assistemático: baseia-se na organização particular das experiências próprias do sujeito;
Superficial: conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente porque diz que viu, que sentiu algo;
 Falível e inexato: pois se conforma com aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto;	
Generalizador: tende a reunir numa só opinião ou numa só ideia coisas e fatos julgados semelhantes.
CONHECIMENTO RELIGIOSO (Conhecimento Teológico)
É o conjunto de verdades ao qual as pessoas chegaram, não com o auxílio de sua inteligência, mas a partir da aceitação dos dados da relação divina, do sobrenatural, a partir da fé.
Valorativo: apoia-se em doutrinas que contém proposições sagradas;
Inspiracional: conhecimento revelado pelo sobrenatural;
Não verificável: a fé está sempre implícita; 
Infalível e exato: é indiscutível; as verdades religiosas são consideradas infalíveis e exata.
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
	É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento 	especulativo 	sobre fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos 	fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da 	ciência.
Valorativo: baseia-se em estado de ânimo e emoções;
Não verificável: as hipóteses não podem ser confirmadas nem refutadas;
Racional: consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados;
Sistemático: suas hipóteses e enunciados visam uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. 
Para refletir...
O que é científico?
 
(ALVES, Rubem. O que é científico? Psychiatry On-line Brazil (4) Janeiro 1999. Disponível em: <- http://www.polbr.med.br/arquivo/arquivo_99.htm> Acesso 10.10.2010.
  
Rubem Alves
 
Colega aposentado com todas as credenciais e titulações. Fazia tempo que a gente não se via. Entrou no meu escritório sem bater e sem se anunciar. E nem disse bom-dia. Foi direto ao assunto. "- Rubão, estou escrevendo um livro em que conto o que aprendi através da minha vida. Mas eles dizem que o que escrevo não serve. Não é científico. Rubão: o que é científico?" Havia um ar de indignação e perplexidade na sua pergunta. Uma sabedoria de vida tinha de ser calada: não era científica. As inquisições de hoje, não é mais a igreja que faz.
 
Não sou filósofo. Eles sabem disso e nem me convidam para seus simpósios eruditos. Se me convidassem eu não iria. Faltam-me as características essenciais. Nietzsche, bufão, fazendo caçoada, cita Stendhal sobre as características do filósofo: " Para se ser um bom filósofo é preciso ser seco, claro e sem ilusões. Um banqueiro que fez fortuna tem parte do caráter necessário para se fazer descobertas em filosofia, isto é, para ver com clareza dentro daquilo que é." 
 
Não sou filósofo porque não penso a partir de conceitos. Penso a partir de imagens. Meu pensamento se nutre do sensual. Preciso ver. Imagens são brinquedos dos sentidos. Com imagens eu construo estórias.
 
E foi assim que, no preciso momento em que meu colega formulou sua pergunta perplexa, chamadas por aquela pergunta augusta, apareceram na minha cabeça imagens que me contam uma estória:
 
"Era uma vez uma aldeia às margens de um rio, rio imenso cujo lado de lá não se via, as águas passavam sem parar, ora mansas, ora furiosas, rio que fascinava e dava medo, muitos haviam morrido em suas águas misteriosas, e por medo e fascínio os aldeões haviam construído altares às suas margens, neles o fogo estava sempre aceso, e ao redor deles se ouviam as canções e os poemas que artistas haviam composto sob o encantamento do rio sem fim.
 
O rio era morada de muitos seres misteriosos. Alguns repentinamente saltavam de suas águas, para logo depois mergulhar e desaparecer. Outros, deles só se viam os dorsos que se mostravam na superfície das águas. E havia as sombras que podiam ser vistas deslizando das profundezas, sem nunca subir à superfície. Contava-se, nas conversas à roda do fogo, que havia monstros, dragões, sereias, e iaras naquelas águas, sendo que alguns suspeitavam mesmo que o rio fosse morada de deuses. E todos se perguntavam sobre os outros seres, nunca vistos, de número indefinido, de formas impensadas, de movimentos desconhecidos, que morariam nas profundezas escuras do rio.
 
Mas tudo eram suposições. Os moradores da aldeia viam de longe e suspeitavam - mas nunca haviam conseguido capturar uma única criatura das que habitavam o rio: todas as suas magias, encantações, filosofias e religiões haviam sido inúteis: haviam produzido muitos livros mas não haviam conseguido capturar nenhuma das criaturas do rio. 
 
Assim foi, por gerações sem conta. Até que um dos aldeões pensou um objeto jamais pensado. (O pensamento é uma coisa existindo na imaginação antes dela se tornar real. A mente é útero. A imaginação a fecunda. Forma-se um feto: pensamento. Aí ele nasce...). Ele imaginou um objeto para pegar as criaturas do rio. Pensou e fez. Objeto estranho: uma porção de buracos amarrados por barbantes. Os buracos eram para deixar passar o que não se desejava pegar: a água. Os barbantes eram necessários para se pegar o que se deseja pegar: os peixes. Ele teceu uma rede.Todos se riram dele quando ele caminhou na direção do rio com a rede que tecera. Riram-se dos buracos dela. Ele nem ligou. Armou a rede como pode e foi dormir. No dia seguinte, ao puxar a rede, viu que nela se encontrava, presa, enroscada, uma criatura do rio: um peixe dourado.
 
Foi aquele alvoroço. Uns ficaram com raiva. Tinham estado tentando pegar as criaturas do rio com fórmulas sagradas, sem sucesso. Disseram que a rede era objeto de feitiçaria. Quando o homem lhes mostrou o peixe dourado que sua rede apanhara eles fecharam os olhos e o ameaçaram com a fogueira.
 
Outros ficaram alegres e trataram de aprender a arte de fazer redes. Os tipos mais variados de redes foram inventados. Redondas, compridas, de malhas grandes, de malhas pequenas, umas para serem lançadas, outras para ficarem à espera, outras para serem arrastadas. Cada rede pegava um tipo diferente de peixe.
 
Os pescadores-fabricantes de redes ficaram muito importantes. Porque os peixes que eles pescavam tinham poderes maravilhosos para diminuir o sofrimento e aumentar o prazer. Havia peixes que se prestavam para ser comidos, para curar doenças, para tirar a dor, para fazer voar, para fertilizar os campos e até mesmo para matar. Sua arte de pescar lhes deu grande poder e prestígio e eles passaram a ser muito respeitados e invejados.
 
Os pescadores-fabricantes de redes se organizaram numa confraria. Para se pertencer à confraria era necessário que o postulante soubesse tecer redes e que apresentasse, como prova de sua competência, um peixe pescado com as redes que ele mesmo tecera. 
 
Mas uma coisa estranha aconteceu. De tanto tecer redes, pescar peixes e falar sobre redes e peixes, os membros da confraria acabaram por esquecer a linguagem que os habitantes da aldeia haviam falado sempre e ainda falavam. Puseram, no seu lugar, uma linguagem apropriada às suas redes e os seus peixes, e que tinha de ser falada por todos os seus membros, sob pena de expulsão. 
 
A nova linguagem recebeu o nome de ictiolalês (do grego "ichthys" = peixe + "lalia"= fala ). Mas, como bem disse Wittgenstein, alguns séculos depois " os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo". O meu mundo é aquilo sobre o que posso falar. A linguagem estabelece uma ontologia. Os membros da confraria, por força dos seus hábitos de linguagem, passaram a pensar que somente era real aquilo sobre que eles sabiam falar, isto é, aquilo que era pescado com redes e falado em ictiolalês. Qualquer coisa que não fosse peixe, que não fosse apanhado com suas redes, que não pudesse ser falado em ictiolalês, eles recusavam e diziam: "Não é real".
 
Quando as pessoas lhes falavam de nuvens eles diziam: " Com que rede esse peixe foi pescado?" A pessoa respondia: "Não foi pescado, não é peixe." Eles punham logo fim à conversa: "Não é real". O mesmo acontecia se as pessoas lhes falavam de cores, cheiros, sentimentos, música, poesia, amor, felicidade. Essas coisas, não há redes de barbante que as peguem. A fala era rejeitada com o julgamento final: " Se não foi pescado no rio com rede aprovada não é real."
 
As redes usadas pelos membros da confraria eram boas? Muito boas.
 
Os peixes pescados pelos membros da confraria eram bons? Muito bons.
 
As redes usadas pelos membros da confraria se prestavam para pescar tudo o que existia no mundo? Não. Há muita coisa no mundo, muita coisa mesmo, que as redes dos membros da confraria não conseguem pegar. São criaturas mais leves, que exigem redes de outro tipo, mais sutis, mais delicadas. E, no entanto, são absolutamente reais. Só que não nadam no rio.
 
Meu colega aposentado com todas as credenciais e titulações: mostrou para os colegas um sabiá que ele mesmo criara. Fez o sabiá cantar para eles e eles disseram: "Não foi pego com as redes regulamentares; não é real; não sabemos o que é um sabiá; não sabemos o que é o canto de um sabiá..."
 
Sua pergunta está respondida, meu amigo: o que é científico? 
 
Resposta: é aquilo que caiu nas redes reconhecidas pela confraria dos cientistas. Cientistas são aqueles que pescam no grande rio... 
 
Mas há também os céus e as matas que se enchem de cantos de sabiás...Lá as redes dos cientistas ficam sempre vazias.
Atividade
Elabore um breve comentário sobre o texto lido.
� O texto acima, intitulado "Tipos de Conhecimentos Humano" foi extraído das seguintes referências bibliográficas:
CERVO, Amado Luiz, BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 5ª São Paulo: Prentice Hall, 2002.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
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