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Água - Texto 2

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Água: a iminência da escassez
A ciência comprova a presença do homem na Terra há muitos milênios. No entanto, apenas nos últimos 40 anos o ser humano começou a demonstrar alguma preocupação com o ambiente em que vivemos. A Declaração de Estocolmo, de 1972, foi um dos primeiros documentos internacionais relacionados à preservação do meio ambiente e se transformou no embrião do direito ambiental de muitas nações.
Na década de 70, surgiram os primeiros estudos técnicos interdisciplinares, sistematizando as preocupações das comunidades científicas com relação aos recursos naturais e ao futuro das condições devida na Terra.
Em função desses estudos, que causaram impacto junto às autoridades, notadamente junto aos governos dos países desenvolvidos, diversas medidas foram sendo tomadas. Porém, quase 30 anos depois, pouco se conseguiu reverter ou pelo menos diminuir o ritmo de degradação.
Atualmente, às pesquisas científicas enfatizam como uma das principais preocupações o problema de escassez de água: vai faltar água, tanto é que vários países já estão passando por situações extremamente delicadas.
Depois de chegar ao limite de utilização da água superficial disponível, em muitas localidades, procurou-se usar a água do lençol freático e dos aqüíferos, perfurando milhares de poços. A exploração de águas subterrâneas de forma descontrolada, pode ocasionar abatimento dos solos de até mais de um metro e meio, em função da depleção da linha do freático, bem como expor os aqüíferos a um alto grau de vulnerabilidade, tornando-os suscetíveis a contaminações pontuais ou induzidas. Calcula-se que, somente na Índia, China, Estados Unidos, África do Norte e Arábia Saudita são retiradas, e não se renovam, mais de 160 bilhões de toneladas de água por ano. è a água necessária para produzir, no mínimo, 160 milhões de toneladas de grãos, suficientes para alimentar 480 milhões de pessoas. Ou seja, quase meio bilhão de pessoas são alimentadas por água que é retirada do solo de forma insustentável, predatória. Se não está sendo recomposta, esta água não é bem renovável, infinito, que não vai acabar. Não é bem natural, à disposição de todos. É água que vai acabar, que está acabando. É bem finito, cada vez mais escasso.
Nos Estados Unidos, as maiores depleções têm sido registradas no Central Valley, Califórnia, responsável por 50% da produção nacional de frutas e vegetais, e em Ogallala, um dos maiores aqüíferos do mundo. Além disso, na Flórida, o Pântano de Everglades teve sua área reduzida em quase 50%, devido ao uso de água para irrigação, principalmente. Este pântano, um ecossistema denominado " wetland " natural, funciona como filtro, como um sistema de solos filtrantes para as águas do rio Shark, do qual é captada a água que abastece 4 milhões de habitantes da região metropolitana de Miami.
Muitos países, há mais de 20 anos, já sentindo esta escassez, instituíram instrumentos de gestão sustentável da água para assegurar a integridade dos ecossistemas. Também garantiram aos cidadãos, condições de participar do gerenciamento dos recursos hídricos. Além disso, adequaram para a água um valor capaz de refletir os custos de sua provisão, sem deixar, eqüitativamente, de levar em conta as necessidades dos mais pobres e vulneráveis.
No Brasil, o princípio poluidor-pagador já está previsto na legislação brasileira, desde o Código das Água, de 1934. Nunca foi, porém, aplicado, porque a idéia geral é de que em nosso país água não pode falta. Afinal, somos uma das maiores reservas de água doce na humanidade. Temos mais de 12% da água potável do globo. Só que é uma água extremamente mal distribuída.
O índice considerado suficiente de água para a vida em comunidade, para o exercício moral das atividades humanas, sociais e econômicas, é de 2.500 m³ por habitante/ano. Abaixo de 1.500, a situação é considerada crítica. Dois estados do Brasil abaixo de 1.500 m³/habitante/ano: Paraíba e Pernambuco.
No Estado de São Paulo, em média, a situação é boa, pois a disponibilidade de água por habitante/ano é de 2.900 m³, isto é, 400 a mais que o índice considerado bom. E quase o dobro do mínimo, que é de 1.500 m³ por habitante/ano, porém, ao decompor por região hidrográfica, são encontradas quatro regiões em situação crítica. A do Alto Tietê, com apenas 200 m³/habitante/ano, ou seja, 1/7 do mínimo, a região do Turvo Grande, com 900 m³ e a do Mogi, com 1.500 m³/habitante/ano.
Evidentemente, há outras maneiras de se medir a disponibilidade de água. Uma delas consiste em comparar a vazão dos rios, na estiagem, com o volume de água que é utilizado, o que permite calcular qual a porcentagem da água que está comprometida. Pelo critério da vazão mínima, constata-se que 66% do volume de água já estão sendo utilizados na região do Tietê-Sorocaba. Na região do mogi-Guaçu, 84% e na do Piracicaba-Capivari-Jundiaí, 95%. A Região Metropolitana de São Paulo, no Alto do Tietê, precisa de 400%, ou seja, quatro vezes mais água do que dispõe. Como não se pode usar o que não existe, é necessário buscar água em outra bacia, através do Sistema Cantareira, que retira água do Atibaia e do Jaguari, na Bacia do Piracicaba. Sem esta água, não haverá condições de abastecer as 17 milhões de pessoas que vivem na região metropolitana de São Paulo.
Hoje, em todo o país se discute a questão da cobrança pelo uso da água. Esta discussão não é, sem embargo, decorrente da tomada de consciência, pela maioria da população, da escassez de água, da necessidade de reservar e bem gerir este elemento vital e escasso. Pode-se dizer que não é uma preocupação original. É uma discussão decorrente de uma preocupação derivada. Derivada da conveniência de se aprovar uma lei estadual, tendo em vista que o governo federal está em vias de completar a aprovação da legislação federal. Já aprovou a lei que prevê a criação da Agência Nacional das Águas. Junto com ela, vem a provação da cobrança pelo uso da água, em nível federal, de uma forma que não nos convém inteiramente. Primeiro, porque a lei federal não prevê um fundo, como termos em São Paulo o Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FEHIDRO. Os recursos arrecadados vão para o caixa geral da União. Em segundo lugar, a lei federal não prevê a obrigatoriedade de serem aplicados estes recursos no Estado em que foram arrecadados. Ela apenas diz que preferencialmente serão aí aplicados. Sabemos que as necessidades em saneamento dos outros estados são muito maiores do que em São Paulo. Por isso, é razoável pressupor que esse dinheiro vai sair daqui e dificilmente voltará.
Além disso, cada comitê poderá priorizar a cobrança de quem polui e cobrar muito menos dos que simplesmente captam água. Ou ainda, cobrar apenas dos que poluem. Isto é muito importante: sobre taxar o poluidor e sob taxar o usuário que não polui, consome água. No México, quando se iniciou a cobrança pelo uso da água, metade dos recursos arrecadados advinha a cobrança pelo uso da água, metade dos recursos arrecadados advinham da cobrança de quem capta e a outra metade, daqueles que poluem a água, ou seja, usam a água para nela jogar seus afluentes. Nos anos seguintes, a proporção foi mudando. Diminuíram os valores cobrados de quem capta, e aumentaram os de polui. Hoje, 90% dos recursos arrecadados advêm de quem polui, é só 10% de quem capta água.
É exatamente neste ponto que fica claro caráter direcionador da lei de cobrança pelo uso da água: não é um simples instrumento arrecadatório. É um instrumento de gestão. Melhor do que ter os recursos cobrados de quem polui, para investir na reversão da degradação por ele causada, é induzir quem polui a deixar de fazê-lo.
Por fim, cabe lembrar algumas observações do Ministério da Saúde, os quais mostram que para cada dólar aplicado em saneamento ( em esgoto recolhido e tratado, em água tratada ) economizam-se 5 dólares, nos 10 anos seguintes, em postos de saúde, em atendimento médico e em hospitais. Investir em saneamento é investir em saúde preventiva e economizar em saúde curativa.

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