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Direito Administrativo - Introdução a Discricionariedade

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229 
Aulas Semana 10 
[26 e 27 de novembro] 
 
39 – Delegação de poderes administrativos 
A delegação de poderes (ou de competências) administrativos é um instituto do 
direito da organização administrativa que, em geral, se associa ao fenómeno da 
desconcentração de competências: na verdade, a delegação promove a distribuição ou 
repartição, por uma via administrativa, de competências que a lei confia, em primeira 
mão, a um órgão administrativo. 
A delegação de poderes é uma medida de desconcentração administrativa. Por esta razão, 
afigura-se incorreto o arranjo sistemático do RAL, consistente em regulamentar as 
delegações de competências do Estado nos municípios e nas entidades intermunicipais e 
dos municípios nas entidades intermunicipais e nas freguesias dentro de um título com a 
epígrafe descentralização administrativa: cf. artigos 116.º e segs.; na mesma linha, veja-se 
o Decreto-Lei n.º 30/2015, de 12 de fevereiro, sobre o regime de delegação de 
competências nos municípios e entidades intermunicipais no domínio de funções 
sociais (o preâmbulo do diploma apresenta a delegação como processo ou medida 
de execução de descentralização); de resto, a sugestão da lei conduz à situação 
absurda de se qualificar como ato de descentralização a delegação de competências dos 
municípios nas entidades intermunicipais. 
A delegação põe em marcha um processo de separação entre titularidade e 
exercício da competência: o órgão delegante não perde a competência que delega, mas o 
delegado passa a poder exercer a competência daquele. 
Numa perspetiva de feições pragmáticas, o Estatuto do Pessoal Dirigente indica, 
a delegação e a subdelegação de competências como “instrumentos privilegiados de 
gestão” e incentiva os titulares dos cargos de direção a promover a sua adoção, 
“enquanto meios que propiciam a redução de circuitos de decisão e uma gestão mais 
célere e desburocratizada”. 
A delegação de poderes que aqui se analisa é duplamente administrativa: por um 
lado, a delegação constitui um ato da Administração; por outro lado, o seu objeto é a 
transferência do exercício de poderes administrativos. 
 
 
 
 
230 
39.1 – Noção de delegação de poderes 
Definimos a delegação de poderes como o ato jurídico, baseado em expressa 
base legal, pelo qual um órgão administrativo transfere para outro órgão ou agente da 
mesma ou de outra pessoa coletiva pública ou para uma entidade particular o exercício 
de uma competência que lhe pertence. 
Vejamos esta definição em pormenor. 
 
a) Ato de delegação de poderes 
A delegação de poderes assenta num “ato jurídico”: pode tratar-se de um ato 
jurídico unilateral, ou seja, um ato administrativo, ou de um contrato administrativo. 
Afigura-se relevante a definição da natureza do ato de delegação, para se apurar 
a influência da vontade do delegado na instituição da delegação: quando esta resulta de 
um ato unilateral, a vontade do delegado não tem qualquer influência, e, na prática, a 
delegação é como que imposta ao delegado. Quando a lei estabelece que a delegação 
repousa num contrato, a delegação depende da vontade do delegado, que tem o poder de 
aceitar ou de recusar a delegação. 
Em princípio, a total dispensa da aceitação do órgão delegado só faz sentido nos 
casos em que existe, previamente, uma relação de supremacia-subordinação entre órgão 
delegante e órgão delegado (v.g., relação de hierarquia ou de superintendência). Além 
destes, deve ainda admitir-se a delegação unilateral em cenários em que uma relação de 
supremacia-subordinação não atenta contra o quadro de relacionamento originário entre 
os órgãos envolvidos (por esta razão, é de excluir a possibilidade de delegação unilateral 
de competências do Governo em entidades da administração autónoma ou entidades 
administrativas independentes). 
Na perspetiva do órgão delegante, a delegação apresenta-se, em regra, como um ato 
facultativo ou livre. Mas existem casos de delegação obrigatória. Um exemplo pode ver-
se no artigo 55.º, n.º 2, do CPA sobre a delegação do poder de direção do procedimento 
administrativo: nos termos do preceito, o órgão competente para a decisão final (que é o 
órgão a quem cabe a direção do procedimento, nos termos do n.º 1) “delega” em inferior 
hierárquico seu o poder de direção do procedimento, salvo disposição legal, regulamentar 
ou estatutária em contrário ou quando a isso obviarem as condições de serviço ou outras 
razões ponderosas, invocadas fundadamente no procedimento concreto ou em diretiva 
interna relativa a certos procedimentos. Embora admita exceções, a formulação da lei (“o 
órgão … delega”) não deixa dúvidas sobre o seu sentido imperativo. 
 
231 
Mesmo quando opera nas relações entre órgãos da mesma pessoa coletiva (trata-
se de relação jurídicas internas), o ato de delegação produz efeitos externos, porquanto 
habilita o órgão ou agente delegado a atuar num plano externo no exercício legítimo de 
competências que a lei não lhe confere. Quer dizer, apesar de, em si mesma, a relação 
de delegação poder projetar-se num plano subjetivo puramente interno, o ato jurídico de 
delegação introduz uma alteração no esquema legal de distribuição de competências, ao 
habilitar um órgão ou agente a desenvolver uma ação com efeitos externos. 
Pode mesmo dizer-se que o ato de delegação produz um efeito de carácter 
normativo, pois funciona como “norma de competência” em relação ao delegado. Mas a 
produção deste efeito não infirma a natureza concreta e individual do ato de delegação, 
quando considerado em si mesmo. Trata-se, pois, de um ato administrativo – ou, 
eventualmente, de um contrato administrativo – com recorte organizativo, que interfere, 
com fundamento na lei, no modelo legal originário de distribuição de competências. 
 
b) Habilitação legal (normativa) 
A delegação de poderes é um ato fundado numa lei (ato legislativo), sempre que 
a origem da competência delegada se encontre numa lei. Mas pode suceder que o 
fundamento da delegação se encontre num regulamento administrativo, se e quando o 
poder ou competência que é objeto da delegação tiver sido atribuído ao delegante por 
regulamento administrativo (recorde-se que a “competência é definida por lei ou por 
regulamento”: cf. artigo 36.º, n.º 1). 
O fundamento legal ou normativo não é, em termos dogmáticos, um elemento da 
noção de delegação. Contudo, importa considera-lo um elemento essencial da validade e 
da eficácia jurídica da delegação, para os efeitos previstos no artigo 36.º, n.º 2, quando 
neste preceito se ressalva a delegação (“sem prejuízo da delegação de poderes”). Ou 
seja, nesse contexto, o ato de delegação sem fundamento legal deve qualificar-se como 
ato nulo, por corresponder a uma renúncia ao exercício da competência. 
Deve notar-se que a nulidade do ato delegação sem fundamento legal não determina, por 
si só, a nulidade dos atos praticados pelo órgão que recebe a delegação (nula): estes atos 
provêm de órgão incompetente (por força da nulidade da delegação) e poderão ser apenas 
anuláveis (vício de incompetência). 
 Em termos formais, a “norma de habilitação” não tem de constar do mesmo 
diploma que contém a “norma atributiva do poder”. 
 
232 
 Pela sua própria natureza, a norma de habilitação deve indicar os poderes 
delegáveis. Esta exigência não corresponde, contudo, a um imperativo de enumeração 
taxativa e densificada dos poderes delegáveis: a norma de habilitação pode identificar 
como objeto de delegação um “conjunto” ou “complexo” genérico de poderes (veja-se, 
por exemplo, a norma que autoriza os ministros a delegarem nos secretários de Estado 
“a competência relativa aos serviços, organismos, entidades e atividades deles 
dependentes”).Não se exclui a hipótese de não existir a indicação precisa dos poderes 
delegáveis, caso em que deve entender-se que o órgão se encontra habilitado a delegar 
qualquer um dos seus poderes ou competências. Exemplos desta situação encontram-se 
na norma do RAL segundo a qual “o presidente da câmara municipal pode delegar ou 
subdelegar competências nos vereadores” ou no preceito do Estatuto do Pessoal 
Dirigente que habilita os titulares dos cargos de direção superior de 1.º grau a “delegar 
em todos os níveis e graus de pessoal dirigente as suas competências próprias”. 
No que se refere à delegação regulada no CPA, estabelece-se que não pode ser objeto de 
delegação “a globalidade dos poderes do delegante”: artigo 45.º, alínea a). Isto quer dizer 
que um órgão administrativo não pode delegar todas as competências de que disponha, 
devendo sempre conservar o exercício de algumas delas. Mas isto não impede que, nos 
termos da lei, um órgão possa delegar qualquer das competências de que disponha. 
 
Apesar de não existir uma disposição legal a exigi-lo expressamente, a norma de 
habilitação também deve indicar os órgãos delegáveis, não se limitando, pois, a prever e 
permitir a delegação (para mais desenvolvimentos sobre este requisito, cf. infra). 
 
 c) Objeto da delegação 
A delegação efetua a transferência do exercício de uma competência do órgão 
administrativo delegante (competência de que este é titular, que lhe pertence, nos termos 
da lei). O objeto da transferência operada pela delegação é, pois, o “exercício” e não a 
“titularidade” da competência. O órgão delegante exerce, em seu próprio nome, uma 
competência alheia, que não lhe pertencia antes da delegação, nem passa a pertencer-lhe 
em virtude da delegação. 
O CPA alude à delegação de poderes como medida pelo qual o delegante permite uma 
certa atuação do delegado. Ora, na verdade, a delegação permite que o delegado 
desenvolva uma atuação que não poderia empreender sem a delegação. Subsiste aqui um 
momento permissivo. Mas a delegação não se confunde com uma autorização, pois não se 
 
233 
trata só de “permitir” que o delegado faça qualquer coisa, mas, em rigor, de lhe conferir 
(transmitir) o poder de fazer algo que não estava ao seu alcance fazer. 
 Em termos materiais, a delegação alberga conteúdos muito variados: o ponto de 
partida é, naturalmente, a competência do órgão delegante. 
O CPA refere-se ao órgão delegante como “órgão normalmente competente para 
decidir em determinada matéria”. Em coerência, acrescenta que a delegação permite que 
o delegado “pratique atos administrativos sobre a mesma matéria”. Quer dizer, o CPA 
regula a delegação de poderes de decisão, em especial, de poderes para a prática de atos 
administrativos (cf. artigo 148.º, sobre a definição de ato administrativo como decisão). 
Mas a delegação pode ter por objeto outras competências administrativas: v.g., 
poderes regulamentares, poderes genéricos de instrução e direção de procedimentos 
administrativos (cf. artigo 55.º) ou até atividades materiais ou de carácter técnico (v.g., 
limpeza das ruas, que é objeto de delegação dos municípios nas freguesias, ou inspeção 
de elevadores). 
Quando se processa entre órgãos de diferentes pessoas coletivas (v.g., entre o 
Estado e os municípios), a delegação de poderes é suscetível de envolver a vinculação 
do órgão delegado à prossecução de finalidades públicas – atribuições – da pessoa 
coletiva a que pertence o órgão delegante. Mas isso não altera o sentido da delegação de 
poderes que, mesmo neste caso, é um ato de transferência do exercício de competências, 
no qual devem ser “especificados” os poderes delegados. Além disso, ainda no mesmo 
caso, a delegação mantém-se como medida de desconcentração administrativa, que não 
desloca para o delegado as atribuições ou os fins públicos da pessoa coletiva que integra 
o órgão delegante. 
 
 d) Sujeitos da delegação 
A delegação processa-se no âmbito de relações entre órgãos administrativos 
(relações interorgânicas), entre órgãos administrativos e agentes da Administração ou 
entre órgãos administrativos e entidades particulares. 
Vejamos cada uma destas hipóteses. 
i) A situação mais comum é a da delegação envolver uma relação entre dois 
órgãos administrativos pertencentes à mesma pessoa coletiva de direito público ou ao 
mesmo ministério (por exemplo, delegação de competências da câmara municipal no 
presidente da câmara ou delegação de competências do ministro no diretor-geral). 
 
234 
No caso anterior, poderá ainda distinguir-se entre delegação hierárquica e delegação não 
hierárquica. Trata-se de expressões que apenas pretendem assinalar a existência, ou não, 
de uma prévia relação de hierarquia entre os órgãos delegante e delegado: neste sentido, 
será hierárquica uma delegação do ministro no diretor-geral ou do presidente da câmara 
num diretor de serviços e não hierárquica a delegação da câmara no presidente da câmara 
ou deste nos vereadores. 
 
Mas a delegação pode processar-se igualmente entre órgãos administrativos de 
diferentes pessoas coletivas de direito público – ilustra esta última hipótese a delegação 
de competências do ministro da tutela no presidente do conselho diretivo de um instituto 
público ou, nos termos do RAL, a delegação de competências dos órgãos de Estado nos 
órgãos das autarquias locais ou das entidades intermunicipais ou dos órgãos dos 
municípios nos órgãos das freguesias ou das entidades intermunicipais; 
Como vimos acima, a delegação que opera entre órgãos de pessoas coletivas diferentes 
pode envolver a vinculação do órgão delegado à realização das atribuições da pessoa 
coletiva a que pertence o órgão delegante. Mas isto não descaracteriza a delegação como 
ato que promove a transferência do exercício de competências do órgão delegante para o 
delegado. A delegação dá origem, também neste caso, a uma relação jurídica entre órgãos 
administrativos: as competências transferidas para o delegado pertencem a um órgão de 
outra pessoa coletiva. 
 
ii) Entre um órgão administrativo e um “agente” da Administração – a referência 
ao conceito de “agente da Administração” surge, aqui, para indicar a possibilidade, que 
existe por vezes, de a delegação ser efetuada em titulares de cargos públicos que não 
dispõem legalmente de competências próprias (por não se encontrarem investidos de 
competências não são órgãos administrativos) – eis o que sucede com a delegação de 
competências de órgão colegial no respetivo presidente, nos termos do artigo 44.º, n.º 4 
do CPA, com a delegação de competências dos ministros nos secretários de Estado ou 
com a delegação de competências do presidente da câmara nos vereadores: em todos 
estes casos, os delegados são, em termos gerais, agentes da Administração, e titulares de 
cargos públicos, mas só surgem investidos de competências por força da delegação, pois 
não têm competências próprias. 
O conceito genérico de “agente da Administração” ainda integra no seu âmbito 
os trabalhadores da Administração Pública. De resto, é a esta categoria que o CPA se 
refere quando alude a “agente” como “aquele que, a qualquer título, exerça funções 
 
235 
públicas ao serviço da pessoa coletiva, em regime de subordinação jurídica”. Neste 
âmbito, “agente” é pois um trabalhador da pessoa coletiva pública, quer dizer, um 
trabalhador da Administração Pública, qualquer que seja a natureza jurídica do vínculo 
de emprego – a afirmação de princípio no sentido da possibilidade de delegação de 
poderes decisórios em trabalhadores de entidades públicas não se limita aos vinculados 
por contrato de trabalho em funções públicas; a delegação de poderes em trabalhadores 
com contrato detrabalho (regime do direito privado) encontra-se prevista na legislação: 
assim, por exemplo, a Lei Orgânica do Banco de Portugal habilita o conselho de 
administração a delegar poderes em “trabalhadores do Banco”; nos Estatutos da 
Autoridade da Concorrência, admite-se a subdelegação de poderes do conselho de 
administração “em trabalhadores”. 
iii) Entre um órgão administrativo e uma entidade particular – a delegação de 
poderes também pode operar entre o órgão de uma pessoa coletiva pública, na condição 
de delegante, e uma entidade particular, na condição de delegatária de poderes públicos; 
trata-se da figura que a doutrina designa “delegação privada”. Mesmo que conexa com a 
concessão (v.g., concessão de serviços públicos), a delegação de poderes públicos em 
entidades particulares autonomiza-se ou destaca-se daquela (ver infra). 
Como vimos acima, os sujeitos da delegação devem estar indicados na norma de 
habilitação: a indicação do órgão delegante impõe-se pela natureza das coisas; o mesmo 
já não se aplica quanto à indicação do órgão delegado, mas, ainda assim, supõe-se que a 
escolha dos órgãos ou agentes delegáveis é matéria de teor normativo e não deve ser 
relegada para uma liberdade de escolha dos órgãos delegantes. 
Mas pode suceder que a lei de habilitação não determine os órgãos delegáveis – 
de resto, em relação à subdelegação, é o próprio CPA a prescindir da indicação dos 
órgãos subdelegáveis. Com efeito, nos termos do artigo 46.º, n.º 2, “o subdelegante pode 
subdelegar as competências que lhe tenham sido subdelegadas”, mas não há qualquer 
indicação sobre quais os órgãos a quem pode o subdelegante subdelegar competências. 
No cenário da falta de indicação legal, parece defensável o entendimento de que 
o órgão delegante ou subdelegante pode delegar (ou subdelegar) apenas em órgãos ou 
agentes que estejam perante aquele em condição de subalternidade (v.g., relação de 
hierarquia) ou de clara subordinação jurídica. 
Afigura-se-nos duvidoso que, no silêncio da lei, o órgão delegante disponha de 
uma liberdade de escolha sobre quem vai exercer competências que a lei lhe confere. 
Neste sentido, a abertura legal, que resulta da não indicação do órgão delegável, deve 
 
236 
ser considerada como medida de gestão e de divisão interna do trabalho entre órgãos 
superiores e órgãos subordinados. 
 
e) Relação de delegação 
A delegação institui uma relação jurídica nova entre delegante e delegado, que 
neutraliza ou suspende, no respetivo âmbito (poderes delegados), a eventual relação 
(v.g., relação hierárquica) existente antes da delegação: assim, o órgão delegante que 
seja superior hierárquico do delegado perde o poder de dar ordens a este último sobre o 
exercício da competência delegada. 
Sem prejuízo do exposto, a natureza e o tipo de relação jurídica preexistente 
entre os órgãos envolvidos na delegação podem não ser indiferentes quanto aos 
contornos e à conformação da relação de delegação: assim, por exemplo, se delegante e 
delegado são órgãos autónomos entre si, não deve admitir-se, em princípio, a delegação 
por ato unilateral. Por outro lado, nos casos da delegação efetuadas por órgãos do 
Estado nos municípios ou nas entidades intermunicipais, importa ter presente o artigo 
4.º, n.º 5, da Carta Europeia da Autonomia Local, onde se estabelece que, em caso de 
delegação de poderes por uma autoridade central, “as autarquias locais devem gozar, na 
medida do possível, de liberdade para adaptar o seu exercício às condições locais”, o 
que pode pôr em causa o princípio da supremacia jurídica do delegante. 
 
f) Síntese sobre a figura da delegação de poderes administrativos 
Em termos sistemáticos, a “operação de delegação” pressupõe e inclui os passos 
ou momentos seguintes: i) atribuição normativa de um poder ou competência a um 
órgão administrativo (cf. artigo 47.º, n.º 1, sobre o conceito de “norma atributiva do 
poder delegado”); ii) habilitação normativa conferida a esse órgão para efetuar a 
delegação de poderes ou competências específicas que lhe estejam atribuídas e 
indicação dos órgãos delegáveis; iii) prática do ato de delegação ou celebração do 
contrato de delegação; iv) exercício dos poderes delegados pelo órgão delegado. 
 
 
 
 
 
 
 
237 
39.2 – Delegação e figuras próximas 
A delegação é uma figura típica, com traços característicos e com os momentos 
que acabam de ser assinalados, que a distinguem de figuras próximas (veja-se, a este 
respeito, a referência do artigo 36.º, n.º 2, alude a “figuras afins” da delegação). 
 
Subdelegação de poderes – Mais do que próxima, a subdelegação de poderes é 
uma figura equiparada à delegação de poderes, com a diferença estrutural consistente no 
facto de a delegação envolver, na posição de delegante, o órgão titular legal da 
competência, ao passo que a subdelegação envolve, na posição de subdelegante, o órgão 
ou agente delegado. 
O artigo 46.º, n.º 1, acolhe a regra segundo a qual “o delegante pode autorizar o 
delegado a subdelegar” (salvo disposição legal em contrário). Quer isto dizer que o 
CPA, por si mesmo, habilita o órgão delegante a autorizar o delegado a subdelegar – em 
regra, a autorização da subdelegação consta do despacho de delegação. Sem esta 
autorização, o delegado não pode subdelegar (delegatus non potest delegare). 
Assim, o Ministro “A”, habilitado a delegar a competência “X” no diretor-geral “B” 
pode, nos termos do artigo 46.º, n.º 1, do CPA, autorizar o diretor-geral a subdelegar a 
referida competência no diretor regional “C”. Sem a autorização do Ministro, a 
subdelegação não é possível. 
Por sua vez, por força do disposto no CPA (artigo 46.º, n.º 2), o subdelegado 
pode subdelegar as competências que lhe tenham sido subdelegadas, salvo disposição 
legal em contrário ou reserva expressa do delegante ou subdelegante. Assim, se a lei não 
estabelecer coisa diferente ou se o delegante ou subdelegante não excluírem de forma 
expressa uma tal possibilidade, qualquer subdelegante pode subdelegar as competências 
que lhe tenham sido subdelegadas. 
Retomando o exemplo anterior: o diretor regional “C” encontra-se legalmente autorizado 
a subdelegar. Como sabemos, a lei não indica quais os órgãos ou agentes que podem 
beneficiar de subdelegação do diretor regional – na nossa interpretação, a subdelegação 
apenas se apresenta possível em órgãos ou agentes dependentes ou subordinados do órgão 
subdelegante. 
A letra da lei não se apresenta inequívoca, mas parece que “todo” ou “qualquer” 
subdelegado dispõe do poder legal de subdelegar, nos termos do n.º 2 do artigo 46.º. 
 
 
238 
Coadjuvação – Embora se trate de uma figura com uma delimitação não muito 
precisa, há muitas referências legais à coadjuvação como relação entre dois órgãos ou 
entre órgãos e agentes da Administração Pública: entre outros casos, há referências 
legais a relações de coadjuvação entre os ministros e os secretários de Estado (v.g., “o 
Ministro da Defesa Nacional é coadjuvado no exercício das suas funções pelo Secretário 
de Estado Adjunto e da Defesa Nacional”), entre o presidente da câmara e os vereadores 
(“o presidente da câmara municipal é coadjuvado pelos vereadores no exercício das suas 
funções”), entre o presidente ou o diretor de entidades e serviços da Administração e os 
seus (normalmente dois) vice-presidentes ou subdiretores, com a função de coadjuvar 
aquele. Tendo em consideração estes dados legais, a coadjuvação pode definir-se como 
a relação entre dois órgãos ou entre um órgão e um agente da Administração em cujo 
âmbito o órgão principal (“coadjuvado”) pode encarregar o órgão ou o agente com a 
incumbência legal de o auxiliar (“coadjutor”) de quaisquer tarefasespecíficas ou 
genéricas integradas nas funções que lhe estão confiadas, sem envolver a transferência 
da responsabilidade pelo exercício destas mesmas funções. 
A coadjuvação não se confunde com a delegação, pois o coadjutor não exerce, 
em nome próprio, a competência do órgão principal; auxilia, coadjuva, o órgão principal 
no exercício das funções e competências deste. Quer dizer, para o exercício de uma 
função ou competência, que atribui apenas a um órgão – órgão principal –, a lei institui 
figuras auxiliares, precisamente com a função de “ajudar” o órgão principal, nos termos 
e com a amplitude que este define. 
A coadjuvação pode conviver, e convive muitas vezes, com a delegação: por 
exemplo, o presidente da câmara pode definir que o vereador “A” o coadjuva nas tarefas 
de licenciamento de obras particulares e, simultaneamente, delegar no referido vereador 
as competências para tomar decisões sobre certas licenças (não todas). 
Discorda-se da compreensão da coadjuvação como uma relação que se estabelece entre 
dois órgãos a que a lei atribui competências iguais, que podem ser exercidas 
indiferentemente por qualquer deles (neste sentido, cf. Acórdão do STA, de 23/6/2005, 
proc. 557/04). Na nossa interpretação, o coadjutor, enquanto tal, não exerce competências 
em nome próprio; ajuda o órgão principal a exercer as suas competências. 
 
Delegação de assinatura – Neste caso, o dito “órgão delegante” não transfere o 
exercício da competência para outro órgão; aquele órgão (v.g., um diretor-geral) limita-
se a autorizar um seu subalterno ou coadjutor a assinar, em seu nome e em sua 
 
239 
representação, atos que lhe são imputados de forma exclusiva. A “delegação” de firma 
ou de assinatura é percetível no texto do ato, que, em regra, alude à circunstância de o 
“delegado” assinar “pelo” titular da competência (“pelo diretor-geral”). Nos termos do 
artigo 9.º, n.º 3, do Estatuto do Pessoal Dirigente, “a delegação de assinatura da 
correspondência ou de expediente necessário à mera instrução dos processos é possível 
em qualquer trabalhador em funções públicas”. 
A delegação de assinatura é admitida quando prevista por lei. Quando não seja 
este o caso, a sua admissibilidade suscita dúvidas, tendo em consideração que a alínea 
g) do n.º 1 do artigo 151.º do CPA exige, como menção formal obrigatória do ato 
administrativo a assinatura do autor do ato ou do presidente do órgão colegial de que 
emane. 
 
Delegação legal de poderes – Nos termos da definição apresentada, a delegação 
é um ato ou um contrato da Administração: a delegação processa-se, por conseguinte, 
num plano administrativo, opera por força de um ato da Administração Pública. Neste 
sentido, a delegação (administrativa) não abrange as hipóteses de “transferência legal do 
exercício de competências”, ou seja, de delegação legal de poderes. 
Com efeito, por vezes, a lei confere uma competência a um determinado órgão 
administrativo, mas, simultaneamente, “considera” essa mesma competência delegada 
noutro órgão. Eis o que sucede com as delegações previstas: 
– No artigo 38.º, 3, da LQIP: “considera-se delegada nos conselhos diretivos dos 
institutos públicos dotados de autonomia financeira a competência para autorização de 
despesas que, nos termos da lei, só possam ser autorizadas pelo membro do Governo da 
tutela, sem prejuízo de este poder, a qualquer momento, revogar ou limitar tal delegação 
de poderes”. 
– No artigo 132.º do RAL: “consideram-se delegadas nas juntas de freguesia as 
seguintes competências das câmaras municipais: a) Gerir e assegurar a manutenção de 
espaços verdes; b) Assegurar a limpeza das vias e espaços públicos, sarjetas e 
sumidouros; c) Manter, reparar e substituir o mobiliário urbano instalado no espaço 
público, com exceção daquele que seja objeto de concessão; d) Gerir e assegurar a 
manutenção corrente de feiras e mercados…”. 
Em geral, a delegação legal constitui uma alternativa à “transferência legal de 
competências”: esta figura representa a deslocação, por força de uma norma jurídica, 
das competências que pertenciam a um órgão para outro órgão; as competências passam 
 
240 
a pertencer ao órgão que beneficia da transferência, passam a ser competências próprias 
deste órgão; por conseguinte, ocorre aqui uma transferência da titularidade das 
competências. Diferentemente, no caso de delegação legal, a lei efetua diretamente uma 
delegação de competências em favor de um determinado órgão (v.g., conselho diretivo 
de um instituto público), mantendo, porém, a titularidade da competência na esfera de 
outro órgão (v.g., ministro). Com esta solução, de transferência de exercício de uma 
competência, a lei institui diretamente entre os dois órgãos uma relação de delegação, 
permitindo, em princípio, ao órgão delegante a recuperação do exercício dos poderes 
delegados (por avocação ou revogação da delegação) – determinar o nascimento de 
uma relação de delegação parece ser o propósito que justifica a delegação legal, em vez 
da transferência legal de competências. 
Poderá suceder que a delegação legal não seja automaticamente eficaz, ficando a 
sua eficácia jurídica dependente de um ato complementar, integrativo de eficácia – eis o 
que sucede no caso da delegação legal previsto no artigo 132.º do RAL, cuja eficácia 
depende da celebração de um acordo de execução. 
Concessão (de serviços públicos ou concessão de gestão de infraestruturas 
públicas) – A delegação de poderes ou competências apresenta afinidades estruturais 
com a figura da concessão administrativa (de serviços públicos ou de gestão de 
infraestruturas públicas): trata-se, em ambos os casos, de atos que representam um 
fenómeno translativo, que assinala a transferência de um “poder” da Administração, ao 
qual se associa uma cisão entre titularidade e exercício; como sucede com o delegado, o 
concessionário é investido no poder de exercer uma competência ou uma tarefa que se 
mantém na titularidade da Administração Pública. Este perfil de proximidade justifica 
que a concessão administrativa se possa considerar uma figura afim da delegação, por 
exemplo, para os efeitos previstos no artigo 36.º, n.º 2, do CPA. 
Classicamente, a distinção entre as figuras reside em dois itens principais: i) os 
sujeitos, que, no caso da delegação, seriam ambos órgãos ou agentes da Administração 
Pública, ao passo que, no caso da concessão, o concessionário seria uma entidade 
particular; ii) o objeto, que no caso da delegação seriam competências administrativas 
(prática de atos jurídicos) e, no caso da concessão, seriam atividades de recorte técnico, 
prático ou operacional desenvolvidas com uma finalidade lucrativa (v.g., gestão de um 
aeroporto, exploração de uma autoestrada). Existem hoje desvios que põem em causa o 
rigor desta distinção: há casos de concessões de serviços públicos atribuídas a entidade 
públicas assim como há delegações de competências administrativas em benefício de 
 
241 
entidades particulares (“delegação privada de poderes públicos”); por outro lado, a 
delegação enquadra a transferência de competências técnicas e operacionais, como 
sucede com a previsão legal da delegação na freguesia de competências municipais em 
matéria de gestão e manutenção de espaços verdes. Sem prejuízo de uma certa perda da 
pureza da distinção clássica, parece de manter o critério de base em que assenta essa 
distinção, na parte em que liga a concessão a uma transferência de exercício de uma 
atividade administrativa de recorte técnico ou operacional suscetível de exploração 
económica, que confere ao concessionário a oportunidade de obtenção de um lucro. 
Diferentemente, a delegação continua a ser especialmente vocacionada para representarum fenómeno de transferência do exercício de competências de natureza jurídica. 
 
39.3 – Regulamentação da delegação de poderes no CPA 
A delegação de poderes (no âmbito de competências de decisão) “para a prática 
de atos administrativos” e de “atos de administração ordinária” está regulamentada nos 
artigos 44.º a 50.º do CPA. 
A regulamentação do CPA tem uma validade geral, mas, sobretudo na parte em 
que estabelece diretrizes quanto às condições legais da delegação, o regime do CPA não 
pode excluir soluções divergentes de leis especiais: assim, por exemplo, uma lei pode 
habilitar um órgão da Administração a delegar a globalidade dos seus poderes, contra o 
disposto no artigo 45.º, n.º 1. 
 
a) Referenciação e delimitação do âmbito da figura regulamentada 
A delegação de poderes regulada no CPA depende de uma “lei de habilitação”. 
Trata-se de uma exigência inscrita no artigo 44.º, n.º 1 do CPA. Fica assim claro que o 
CPA não tem o propósito de assumir, em geral, a condição de lei de habilitação. Do que 
se trata é de estabelecer um regime para uma figura jurídica que outras normas, fora do 
CPA, permitem mobilizar. 
Em grande medida, o artigo 44.º, n.º 1, limita-se a “referenciar” a figura da 
delegação regulada no CPA e a deixar algumas indicações sobre a mesma, quanto aos 
respetivos sujeitos (órgãos e agentes, da mesma ou de diferente pessoa coletiva) e objeto 
(competência para a prática de atos administrativos). 
Ali se identificam os traços da figura específica de delegação que o CPA regula, 
nos seguintes termos: delegação de competências para a prática de atos administrativos 
que, nos termos de uma lei de habilitação, pode ser efetuada por órgãos administrativos 
 
242 
em órgãos ou agentes da mesma pessoa coletiva ou em órgãos ou agentes de outra 
pessoa coletiva. 
 
b) Delegação como transferência de exercício de competências 
O CPA não se compromete em termos categóricos com uma teoria determinada 
sobre a natureza da delegação. Mas parece claro que a referência da lei se afeiçoa 
especialmente bem à teoria que apresenta a delegação como medida que promove a 
transferência de exercício da competência – o delegante, normalmente competente para 
decidir em determinada matéria, pode permitir que outro órgão ou agente pratique atos 
administrativos sobre a mesma matéria, o mesmo é dizer pode permitir que outro órgão 
exerça a sua competência. 
O CPA não responde à questão de saber se existe um dever do órgão delegante exercer a 
“sua” competência (dever de decidir e de praticar atos administrativos abrangidos pela 
delegação) quando para tal seja solicitado por um particular, que desconhece a delegação 
ou que, em qualquer caso, dirige um requerimento ao delegante e não ao delegado. 
Sobre este assunto, atente-se ao disposto no artigo 67.º do CPTA, sobre os pressupostos 
do pedido (ao tribunal) de condenação à pratica de ato administrativo. Nos termos da 
alínea a) do n.º 1, essa condenação pode ser pedida quando, tendo sido apresentado 
requerimento que constitua o órgão competente no dever de decidir: “não tenha sido 
proferida decisão dentro do prazo legalmente estabelecido”. 
Ora, nos termos do n.º 2 do mesmo preceito do CPTA, naquele caso, “a falta de resposta a 
requerimento dirigido a delegante é imputada ao delegado, mesmo que a este não tenha 
sido remetido o requerimento”. Assim, se o ministro “A” delegou a competência “X” no 
secretário de Estado “B”, o requerimento apresentado ao Ministro no sentido da prática 
de um ato no âmbito daquela competência “X” é considerado requerimento dirigido ao 
órgão competente e, por isso mesmo, constitui o ministro no dever de decidir. Trata-se de 
uma solução de sentido prático, que não deixa de se afeiçoar à conceção da delegação 
como ato de transferência de exercício da competência. 
 
c) O CPA como lei de habilitação 
Com um outro alcance normativo surgem os n.
os
 3 e 4 do mesmo artigo 44.º, que 
se perfilam já como normas de habilitação. 
Assim, diretamente por força do CPA, os órgãos competentes para decidir em 
determinada matéria ficam habilitados (“podem sempre”) a permitir que o seu imediato 
inferior hierárquico, adjunto ou substituto pratiquem “atos de administração ordinária” 
 
243 
nessa matéria. Uma habilitação com o mesmo alcance é conferida aos órgãos colegiais 
em relação aos respetivos presidentes (salvo havendo lei de habilitação específica que 
estabeleça uma particular repartição de competências entre os diversos órgãos: eis o que 
sucede, por exemplo, no âmbito municipal, com a repartição de competências entre a 
câmara municipal e o presidente da câmara). 
A lei não indica o que deve entender-se por atos de administração ordinária no 
âmbito da matéria em que um órgão é competente para decidir, mas tudo aponta para 
assim se considerarem os atos instrumentais e os atos de execução de uma “competência 
decisória”. Nestes termos, pelo menos em regra, esta delegação não tem como objeto a 
competência para a prática de atos administrativos – o que, em rigor, faz dela uma 
figura que se afasta da delegação de poderes “referenciada” no n.º 1 do artigo 44.º. 
No sentido de que os atos de administração ordinária não são atos administrativos milita o 
tipo de associação que a lei estabelece entre cada um desses conceitos (na parte final dos 
n
os
. 1 e 3 do artigo 44.º) e “a competência (do delegante) para decidir em determinada 
matéria” a que alude o segmento inicial dos mesmos nos. 1 e 3 do artigo 44.º. A lei acolhe 
a ideia segundo a qual “a competência para decidir em determinada matéria” abrange ou 
inclui poderes para a prática de atos administrativos + atos de administração ordinária. 
 
d) Poderes indelegáveis 
Sob a epígrafe poderes indelegáveis, o artigo 45.º estabelece que “não podem ser 
objeto de delegação”, designadamente: 
i) A globalidade dos poderes do delegante – exclui-se que o órgão delegante se 
despoje, por via da delegação, do exercício de todos os seus poderes. Mas, como se viu 
acima, esta proibição não exclui que a lei configure todos os poderes de um órgão como 
poderes delegáveis. Neste caso, o órgão pode delegar qualquer poder de que disponha; o 
que não pode é delegar todos os seus poderes. 
ii) Os poderes suscetíveis de serem exercidos sobre o próprio delegado – trata-se 
de uma proibição compreensível: o delegante não pode delegar o poder que ele próprio 
pode exercer sobre o delegado, como, por exemplo, o poder de dirigir instruções sobre o 
modo como os poderes delegados devem ser exercidos. 
iii) Poderes a exercer pelo delegado fora do âmbito da respetiva competência 
territorial – a proibição legal aplica-se, neste caso, em relação à delegação em favor de 
órgãos que têm competência numa área territorial delimitada; assim, por exemplo, um 
diretor geral não poderá delegar num diretor regional competências de âmbito nacional. 
 
244 
Embora o círculo de poderes indelegáveis definido no artigo 45.º se compreenda 
e faça sentido, deve observar-se que o mesmo conhece um sentido proibitivo que opera 
em relação aos órgãos administrativos, mas já não em relação ao legislador, que, em lei 
especial, pode acolher soluções opostas às que aqui se proíbem. 
Além dos referidos no CPA, a lei pode definir outras categorias de poderes 
indelegáveis: eis o que sucede, por exemplo, com a competência para aplicação de 
sanções disciplinares, indelegável nos termos do artigo 197.º, n.º 6, da Lei Geral do 
Trabalho em Funções Públicas. 
 
e) Requisitos do ato de delegação 
O ato de delegação de competências tem de cumprir os requisitos do artigo 47.º, 
em matéria de especificação e de publicidade. 
De acordo com o n.º 1, o ato de delegaçãodeve especificar (enunciar de forma 
específica, objetiva e clara), os poderes delegados ou subdelegados, ou enumerar quais 
os atos que o delegado ou subdelegado pode praticar. Trata-se aqui de uma exigência de 
especificação do ato de delegação. Além disso, e ainda de acordo com o mesmo 
preceito, o ato de delegação deve mencionar a norma atributiva do poder delegado 
(norma de competência) e aquela que habilita o órgão a delegar (norma de habilitação). 
A falta dos elementos de especificação ou de menção obrigatória conduzem à 
invalidade do ato de delegação – trata-se de um caso de anulabilidade, pelo que o ato de 
delegação que desrespeita as exigências referidas é inválido, mas eficaz. 
 A eficácia jurídica da delegação (ou subdelegação) depende da sua publicitação 
nos termos legais. O n.º 2 do artigo 47.º remete para o disposto no artigo 159.º – com a 
epígrafe termos da publicação obrigatória, deste decorre que o ato de delegação deve 
ser publicado no Diário da República ou na publicação oficial da entidade pública a que 
pertence o órgão delegante. Além desta forma oficial de publicitação, sem a qual não 
produz efeitos, o ato de delegação tem ainda de ser publicitado na Internet, no sítio 
institucional da entidade em causa. O prazo de 30 dias a que se refere o artigo 159.º 
conta-se desde o momento da prática do ato de delegação e sugere que este caduca se 
não for publicado no referido prazo. 
 
f) Poderes do delegante 
A delegação está na origem de uma relação jurídica entre os órgãos delegante e 
delegado. Em geral, trata-se de uma relação caracterizada pela supremacia jurídica do 
 
245 
delegante, o qual dispõe de poderes sobre a própria relação de delegação, bem como 
sobre os atos praticados pelo órgão delegado. Trata-se dos poderes seguintes: 
i) Emissão de diretivas e instruções vinculativas – O delegante tem o poder de 
emitir diretivas ou instruções vinculativas relativas ao modo como devem ser exercidos 
os poderes delegados (artigo 49.º, n.º 1). O exercício da competência delegada encontra-
se, pois, submetido à orientação do delegante. As diretivas e as instruções são 
vinculativas, o que significa que o órgão delegado tem de atender ou de considerar o 
que nas mesmas se dispõe. O incumprimento das diretivas e instruções comporta 
consequências no plano da relação de delegação (v.g., por perder a confiança no 
delegado, o delegante poderá revogar a delegação). Contudo, a violação das diretivas e 
das instruções não provoca a invalidade dos atos praticados pelo delegado. 
ii) Avocação – A avocação consiste num ato do delegante pelo qual este faz 
saber ao órgão delegado que vai retomar o exercício da competência delegada para a 
prática de atos determinados. Encontra-se prevista na primeira parte do n.º 2 do artigo 
49.º. Uma vez que a delegação consiste na transferência do exercício da competência, 
enquanto a mesma estiver em vigor, e salvo decisão contrária do delegante, não coexiste 
uma dupla possibilidade de exercício (pelo delegante e pelo delegado) da competência 
delegada. A avocação permite ao delegante recuperar o exercício de um ou alguns 
poderes delegados, mantendo a delegação quanto aos poderes não avocados. A figura 
tem a função de advertir o delegado para a necessidade de não praticar atos no âmbito 
das competências avocadas. A lei não regula a forma da avocação, podendo esta resultar 
de qualquer forma de comunicação (e-mail, sms, telefone). 
Se o delegante exercer a (sua) competência sem avocação, o ato praticado não é 
inválido, uma vez que o sentido da avocação se esgota em prevenir o risco da prática 
eventualmente simultânea de dois atos contraditórios sobre a mesma matéria. Inválido 
será, isso sim, o ato que o delegado venha a praticar após a avocação, visto que esta 
extingue a delegação no âmbito dos poderes avocados. 
A prática de atos pelo delegante sem avocação poderia corresponder a uma invalidade por 
falta de legitimação para o exercício da competência. A existir uma invalidade, este seria 
efetivamente o vício. Parece-nos, contudo, que, neste caso, não há qualquer invalidade, a 
qual, como é sabido, depende da ofensa a um princípio ou norma jurídica aplicável (cf. 
artigo 163.º, n.º 1): ora, a prática de atos pelo delegante sem avocação não corresponde à 
infração de qualquer norma jurídica. O artigo 49.º, n.º 2, atribui ao delegante o poder de 
avocar, mas nada acrescenta sobre o modo como deve exercer esse poder. 
 
246 
 
iii) Revogação e anulação da delegação – O delegante pode, a qualquer 
momento, fazer cessar a delegação mediante revogação: cf. artigo 50.º, alínea a). A 
delegação constitui, pois, um ato livremente revogável. 
O mesmo preceito do CPA atribui ao delegante o poder de anulação do ato de 
delegação. Em geral, a anulação tem como fundamento a invalidade (cf. artigo 165.º, n.º 
2). Percebe-se o rigor técnico-jurídico da lei – ao pressupor a distinção entre revogação 
e anulação –, mas, neste caso, tamanho rigor poderia ser dispensado, em face do poder 
livre de revogação. 
 iv) Anulação, revogação e substituição dos atos praticados pelo delegado – 
Conforme resulta do n.º 2 do artigo 49.º, o delegante tem o poder de anular, de revogar 
e de substituir os atos praticados pelo delegado, ao abrigo da delegação de competências 
(cf. ainda artigos 169.º, n.º 4). Pode exercer qualquer destes poderes oficiosamente, por 
iniciativa própria, ou, quando a lei o estabelecer, a pedido dos interessados, mediante 
recurso administrativo especial (cf. infra). 
 
g) Poderes e responsabilidade própria do delegado 
O órgão delegado detém, naturalmente, o poder de exercício da competência 
delegada. 
Apesar de não ser o titular da competência, cabe ao delegado a responsabilidade, 
no plano jurídico, decorrente dos atos que pratica. Ou seja, o delegado é o responsável 
pelas consequências dos atos que pratica no âmbito da delegação. 
A formulação do artigo 44.º, n.º 5 – “os atos praticados ao abrigo de delegação 
ou subdelegação de poderes valem como se tivessem sido praticados pelo delegante ou 
subdelegante” –, além de enigmática, sugere um resultado que não se verifica. Na 
verdade, ao contrário do que ali se sugere, os atos do delegado “não valem” como se 
tivessem sido praticados pelo delegante. Pelo contrário, valem (seja lá o que for o que 
isto quer dizer!) como atos do próprio delegado. 
É possível que o legislador tenha tido o propósito de assinalar que os atos do delegado 
são impugnáveis nos tribunais nos mesmos termos em que seriam se praticados pelo 
delegante. Mas isto não precisava de ser dito, já que atualmente a regra é de que todos os 
atos administrativos são imediatamente impugnáveis nos tribunais. 
 
 
 
247 
h) Atos praticados pelo delegado ao abrigo da delegação 
i) Exigências formais relativas aos praticados pelo delegado – O CPA impõe 
que os atos praticados ao abrigo da delegação mencionem a qualidade de delegado no 
uso da delegação; cf. artigos 48.º e 151.º, n.º 1, alínea a), do CPA. Com esta exigência, 
visa-se que os destinatários dos atos do delegado fiquem a saber que se trata de atos 
praticados ao abrigo de uma competência delegada. A inobservância (ou a observância 
defeituosa) desta exigência formal não determina a invalidade dos atos do delegado, 
“mas os interessados não podem ser prejudicados no exercício dos seus direitos pelo 
desconhecimento da existência da delegação” (artigo 48.º, n.º 2). 
Nos termos do artigo 60.º, n.º 4, do CPTA, “não são oponíveis ao interessado eventuais 
erros contidos na notificação ou na publicação, no que se refere a (…) eventual erro ou 
omissão quanto à existência de delegação ou subdelegação de poderes”. Assim, suponha-
se que uma leiestabelece que as decisões do delegado têm de ser impugnadas junto do 
delegante no prazo de 15 dias. Se o delegado não menciona esta qualidade, o destinatário 
do ato não pode ser prejudicado por se ter esgotado aquele prazo. 
 
ii) Anulação, revogação e substituição dos atos do delegado pelo delegante – O 
delegante detém um “poder de revisão” dos atos do delegado: estes atos podem ser 
anulados, revogados ou substituídos pelo delegante (cf. artigo 49.º, n.º 2). 
O artigo 169.º, n.º 4, acrescenta que a revogação e a anulação dos atos do 
delegado apenas pode ocorrer “enquanto vigorar a delegação” (este limite aplica-se 
igualmente à substituição, por força do artigo 173.º, n.º 1). Quer dizer, a competência do 
delegante para revogar, anular ou substituir atos do delegado esgota-se (caduca) com a 
extinção da delegação. 
Os atos do delegado estão, assim, expostos a uma apreciação pelo delegante, o 
qual, cumprindo as regras gerais, está em condições de determinar a revogação (fundada 
em razões de mérito, conveniência ou oportunidade), a anulação (fundamento em 
invalidade) ou a substituição de atos do delegado: neste último caso, o delegante não se 
limita a determinar a cessação ou destruição dos efeitos do ato do delegado; vai mais 
longe do que proceder à eliminação do ato do delegado, e pratica um novo ato em 
substituição daquele (sem necessidade de avocação). 
Nos termos do artigo 169.º, n.º 1, a revogação e a anulação podem resultar, em 
geral, da iniciativa do órgão competente ou, a pedido dos interessados, mediante 
reclamação ou recurso administrativo. Assim, o delegante está em condições de exercer 
por iniciativa própria o seu poder de revisão sobre os atos do delegado. Contudo, já não 
 
248 
se aplica, neste caso, a regra geral de que pode fazê-lo na sequência de recurso proposto 
pelos interessados. 
iii) Impugnação dos atos do delegado – Os atos do delegado podem ser objeto 
de reclamação para o próprio delegado (artigo 191.º, n.º 1). Além disso, nos casos 
expressamente previstos em lei, pode haver recurso administrativo especial para o 
delegante dos atos praticados pelo delegado. Na falta de expressa disposição legal, os 
interessados não têm o direito procedimental de apresentar recurso para o delegante. 
Um caso de expressa previsão legal de recurso pode ver-se no artigo 34.º, n.º 2, do RAL: 
“das decisões tomadas pelo presidente da câmara municipal ou pelos vereadores no 
exercício de competências delegadas ou subdelegadas cabe recurso para a câmara 
municipal, sem prejuízo da sua impugnação contenciosa”. 
Nos casos em que o preveja, a lei esclarecerá se o recurso administrativo para o 
delegante é necessário ou facultativo – vem a propósito sublinhar que, de acordo com o 
artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 4/2015, de 7 de janeiro (diploma de aprovação do CPA), as 
impugnações administrativas só são necessárias quando previstas em lei que utilize uma 
das seguintes expressões: “a) a impugnação administrativa em causa é «necessária»; b) 
do ato em causa «existe sempre» reclamação ou recurso; c) a utilização da impugnação 
administrativa «suspende» ou «tem efeitos suspensivo» dos efeitos do ato impugnado”. 
Sendo o recurso facultativo, do ato do delegado pode haver recurso para o 
delegante, mas também impugnação do mesmo junto do tribunal (cf. artigo 59.º, n.º 5, 
do CPTA). Sendo o recurso necessário, só pode haver impugnação judicial após a 
decisão do delegante sobre o recurso administrativo. 
 
g) Extinção da delegação 
O artigo 50.º prevê duas formas de extinção da delegação: a revogação e a 
anulação, por um lado, e a caducidade, por outro. 
Sobre a revogação e a anulação, já nos pronunciámos (cf. supra). 
Por seu lado, a caducidade pode surgir como consequência do esgotamento dos 
efeitos da delegação (v.g., delegação para decidir sobre pedidos de autorização durante 
o mês de julho) ou em virtude da mudança dos titulares dos órgãos delegante ou 
delegado – trata-se, neste último caso, de um corolário do caráter pessoal (intuitu 
personae) da delegação de poderes, a qual pressupõe uma relação de confiança entre os 
titulares dos órgãos delegante e delegado. Assim, por força desta determinação legal, a 
 
249 
exoneração de um ministro determina a caducidade de todas as delegações que o mesmo 
tenha feito. 
 
 40 – Outras relações interorgânicas 
 Entre os órgãos de uma pessoa coletiva de direito público existem relações e 
processos de relacionamento que não se subsumem nas hipóteses anteriores. 
 Eis o que sucede nos seguintes casos: 
 i) Relações de cooperação e de coordenação procedimental – os órgãos de uma 
pessoa coletiva têm, em muitos casos, de se articular entre si, no desenvolvimento de um 
procedimento, em vista do exercício de competências conjuntas (v.g., despachos 
conjuntos) ou do exercício conjugado de competências separadas (v.g., conferências 
procedimentais) ou da obtenção de auxílio ou colaboração (auxílio administrativo); 
 ii) Relações decorrentes da separação legal entre a iniciativa e a decisão 
procedimental – em muitos casos, a lei atribui a um órgão a competência para pôr em 
marcha um procedimento administrativo (mediante proposta) tendente à emissão de 
uma decisão por outro órgão administrativo; 
 iii) Relações de controlo e de supervisão – fora da hierarquia, há relações de 
supremacia entre órgãos administrativos da mesma pessoa coletiva, por exemplo, 
quando a lei atribui a um órgão a competência para autorizar ou aprovar atos a praticar 
por outro; exemplo de um órgão em posição de supremacia sobre outro é a assembleia 
municipal em relação à câmara municipal (sobre as competências de apreciação e 
fiscalização da assembleia municipal, cf. artigo 25.º do RAL). 
 
41 – Relações dentro de órgãos administrativos 
 As relações a que aludimos nas páginas anteriores processam-se entre órgãos 
(“interorgânicas”). Todavia, no caso de órgãos colegiais, pode discernir-se uma outra 
categoria de relações, que se desenrolam dentro dos órgãos (“intraorgânicas”): por 
exemplo, relações jurídicas entre o presidente e todos os outros ou uma parte dos outros 
membros do órgão colegial; entre cada um dos membros do órgão, titulares dos 
designados “direitos orgânicos” (v.g., direito de apresentar propostas, direito de voto), e 
os outros membros ou o presidente deste. Além de feições variadas, estas relações 
apresentam, em certos órgãos, traços marcados de tensão e com dimensão conflitual 
(v.g., presidente que recusa conceder a palavra a um membro). 
FIM DA MATÉRIA 
 
250 
Aulas Semana 11 
[3 e 4 de dezembro] 
Não foi lecionada matéria [Congresso Internacional de Direito Administrativo e Dia da 
Faculdade] 
 
 
Aulas Semana 12 
[10 e 11 de dezembro] 
Esclarecimentos e resolução de dúvidas. 
 
 
Aulas Semana 13 
[17 e 18 de dezembro] 
Esclarecimentos e resolução de dúvidas.

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