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Resolução casos práticos de Direito Administrativo I Tópicos e conteúdos admissíveis (aflorados na aula). Caso Prático1 a) Órgãos singulares e colegiais: são órgãos “singulares” aqueles que têm apenas um titular; são “colegiais” os órgãos compostos por dois ou mais titulares. O órgão colegial na atualidade tem, no mínimo, três titulares (Presidente, Vogal e Secretário), e deve em regra ser composto por número ímpar de membros. Atribuições (conjunto de fins ou de interesses públicos que a lei incumbe uma determinada pessoa coletiva pública de prosseguir - tipos: atribuições múltiplas, como por exemplo, autarquias locais e atribuições especializadas, como os institutos públicos - IGESPAR – ou as empresas públicas - A Parpública) e Competências (artigos 36º-43º do CPA – conjunto dos poderes legalmente atribuídos a um órgão ou conjunto de poderes funcionais que a lei confere para a prossecução das atribuições das P.C.P. - v.g., autorizar, nomear, contratar, punir ou sancionar). Legitimação (qualificação específica para um órgão exercer um poder ou um a sua competência numa situação concreta). Fatores ou elementos de legitimação: a investidura do titular do órgão; a autorização para a prática de um ato (na relação entre a câmara municipal e a assembleia municipal – autorização constitutiva de legitimação); o impedimento do titular do órgão (art. 69.º do CPA); e a falta de quórum nos órgãos colegiais (“fração ou percentagem mínima do número legal de membros do órgão colegial cuja presença é necessária na reunião para que possam ser votadas as deliberações”), pelo que a falta de quórum implica a falta de legitimação do órgão para decidir na situação concreta. Art. 29.º do CPA – análise. Note-se que há leis, como a lei das autarquias locais, em que se distingue entre quórum de funcionamento (os órgãos só podem reunir com a presença da maioria do número legal do número legal dos seus membros) e quórum de deliberação. Há, assim, que destrinçar entre um quórum de funcionamento e um quórum de deliberação - os quais muitas vezes coincidem, mas podem ser diferentes, nomeadamente quando a lei se basta, para o órgão poder começar a funcionar, com um número de presenças inferior ao exigido para que o mesmo órgão possa deliberar. No CPA apenas está previsto o quórum de deliberação. As deliberações seriam nulas, nos termos do art. 161.º, n.º 2, h), do CPA. b) 1.º tópico: violação do art. 24.º/4, do CPA; 2.º tópico: violação do art. 24.º/3; 3.º tópico: violação do art. 25.º/1; 4.º tópico: violação dos arts. 26.º/1 (exceção no n.º 2) e do 31.º/1. c) Cfr. o Art. 31.º/2 e 3 (escrutínio secreto). Empate: art. 33.º do CPA. d) Cfr. o Art. 32.º. Não seria válida. Caraterísticas da competência: imodificabilidade, irrenunciabilidade e inalienabilidade, por serem poderes de ordem pública, funcionalizados à realização de interesses públicos, que têm base legal. A competência pode ser definida por lei e regulamento (art. 36.º/1). Sanção é a nulidade: art. 36.º/2. O Presidente pode reagir nos termos do art. 21.º/4 (esta norma tem também consagração no art. 55.º, n.º 1, e), do CPTA). e) Cfr. o Art. 21.º/3. Caso Prático2: 1.1 A distinção entre vinculação e discricionariedade. Vinculação e discricionariedade como momentos de complementaridade antagónica de uma mesma realidade, que se verificam em todos os actos administrativos. Aproximação à noção de discricionariedade, enquanto conceito amplo que aponta para um espaço de avaliação e decisão da responsabilidade da Administração, decorrente de uma indeterminação legal (conceitual ou estrutural) e susceptível apenas de um controlo atenuado pelo juiz, englobando, - as faculdades (diretas) de ação (indicadas pelo elemento deôntico de “pode”), - os espaços de apreciação na aplicação de conceitos imprecisos de tipo, - as prerrogativas administrativas de avaliação, que a lei processual designa agora como dimensões decisórias que impliquem a “formulação de valorações próprias do exercício da função administrativa” (artigo 71.º, n.º 2 do CPTA). 1.2 a existência de uma situação de indeterminação concessora de discricionariedade resulta da interpretação das leis habilitadoras (tendo em conta, designadamente, o tipo de tarefa e a função do poder discricionário e a ligação entre conceitos imprecisos na hipótese e faculdades de acção na estatuição legal). Para percebermos o significado desta ideia é necessário termos em atenção a estrutura da norma atributiva de poderes discricionários. Tipicamente, a norma é constituída por duas partes: uma hipótese e uma estatuição. A hipótese, que fixa os pressupostos da atuação da administração, contém uma descrição típica de uma situação da vida (recorta uma situação da vida social: “se houver perigo de ruina… em caso de perigo de saúde pública…perante condições meteorológicas adversas…); a estatuição inclui as medidas ou providências que o destinatário deve adotar perante a verificação, em concreto, dessa situação (trata-se da consequência: “pode a autoridade administrativa ordenar a demolição….proceder à destruição de bens alimentares apreendidos….suspender a circulação rodoviária) – trata-se, portanto, da escolha do conteúdo do ato e das consequências jurídicas. Entre a estatuição e a hipótese há um elemento de ligação que define o sentido do dever (devido, autorizado, proibido). O elemento de ligação entre a hipótese e a estatuição (functor deôntico): o devido (deve), o permitido/autorizado (pode) e o proibido. Ora, não há dúvida de que estamos perante a concessão de poder discricionário quando a norma jurídico-administrativa tiver uma natureza facultativa, isto é, quando o elemento de ligação for um “pode”, caso em que estaremos perante normas autorizativas (elemento deôntico “pode”, o que significa que a autoridade administrativa pode fazer A, como pode não fazer A); ou quando a estatuição compreender medidas em alternativa (A, B ou C). Nestas situações de indeterminações estruturais, a discricionariedade é essencialmente um problema de escolha do conteúdo, uma vez que o que está em causa é: a) Utilizar ou não utilizar a medida contida na estatuição – norma autorizativa (A ou não A), havendo aqui discricionariedade de decisão; b) Escolher uma das medidas pré-ordenadas na estatuição – norma com medidas ou faculdades alternativas (A, B ou C), havendo aqui discricionariedade de escolha (discricionariedade como escolha de soluções) Podemos, por isso, dizer que este é o âmbito natural da discricionariedade – não dúvidas de que ela existe nestes casos. 2. A natureza do poder discricionário A partir das considerações feitas, podemos agora acentuar os aspectos relevantes que caracterizam o poder discricionário: 2.1 Por força do subprincípio da precedência de lei, a discricionariedade é uma concessão legislativa, determinada por interpretação da norma, e não um poder originário da Administração. É uma concessão legislativa à AP de um poder próprio para encontrar a melhor solução na decisão de casos concretos. Princípio da competência que rege a atuação pública (“aquilo que não for permitido, é proibido”) contrasta com o princípio da liberdade e autonomia, que rege a actuação dos particulares (“aquilo que não é proibido, é permitido”). 2.2 A discricionariedade exprime a autonomia do poder administrativo, que tem legitimidade própria no contexto das restantes funções do Estado. A discricionariedade foi construída no contexto da teoria do ato administrativo, isto é, em relação às decisões individuais e concretas de aplicação de normas legais. 2.3 Apesar de constituir um instrumento de engrandecimento do poderda AP, a discricionariedade não é um “mal necessário” que deva ser reduzido ao mínimo possível, desempenha um papel positivo, quer para a realização do interesse público, quer para a protecção dos direitos e interesses dos particulares — as funções de adaptação, técnica, de planeamento, de cooperação económica e de gestão exigem discricionariedade autêntica. Por isso, hoje proliferam diversos tipos especiais: a discricionariedade regulamentar; no direito do urbanismo, a discricionariedade de planeamento (maior liberdade conformadora da Administração, perante normas-fim, através de conceitos indeterminados); no direito fiscal, a admissibilidade da concretização administrativa dos conceitos legais indeterminados para quantificação da matéria colectável; no direito administrativo da economia, a discricionariedade atribuída à AP para estímulo e incentivo aos agentes económicos, no contexto da execução de directivas político-estratégicas de governo. 2.4 Note-se que a discricionariedade é um espaço funcional e materialmente jurídico, onde a administração tem de, em maior ou menor grau, concretizar a lei (o fim legal), actuando segundo princípios jurídicos (igualdade, imparcialidade, justiça, proporcionalidade, boa fé, que implicam ainda a racionalidade e a proibição do arbítrio) e estritamente vinculada pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. 2.5 O poder discricionário é um poder de escolha ou de avaliação, implicando uma responsabilidade própria que se reflecte directamente na fixação dos efeitos da decisão. O que abrange? Pode haver discricionariedade quanto à tomada ou não da decisão (o “an”), quanto ao conteúdo da decisão e meios a utilizar (o “quid”), quando ao momento da tomada da decisão (o “quando”), quanto ao modo de produção dos efeitos jurídicos da decisão (o “quomodo”) – AFONSO QUEIRÓ. Portanto, a discricionariedade, em sentido amplo, pode incluir todos os espaços de escolha conferidos por lei aos órgãos administrativos (espaços de escolha organizativos, procedimentais e formais), mas, em sentido estrito, a discricionariedade diz respeito às escolhas substantivas, isto é, ao conteúdo das decisões. 3. O problema do âmbito ou extensão da discricionariedade. Frequentemente, as normas legais fazem uso de conceitos cujo conteúdo não é de antemão determinável, deixando uma margem de imprecisão que tem de ser vencida pelo intérprete. Conceitos como interesse público, bem comum, equilíbrio do mercado, conveniência de serviço, soluções e medidas estruturais adequadas, perigo para a saúde pública. A questão que se coloca é a de saber se a AP também dispõe de poderes discricionários naquelas situações em que a lei utiliza conceitos indeterminados, designadamente na estatuição da norma, mas também na hipótese da norma (o “Tatbestand”, o que se pode revelar altamente problemático, já que aí a autoridade administrativa pode definir os pressupostos da sua actuação e, em último termo, da decisão final). A análise do caso concreto – em especial a distinção, no contexto dos conceitos indeterminados, entre conceitos classificatórios, conceitos imprecisos de tipo e conceitos subjectivos. Para tanto, é necessário analisar as categorias de conceitos utilizados para verificar se existe discricionariedade. Tradicionalmente, as primeiras posições eram bem estremadas: por um lado, as teorias do controlo total (RUPP), que negavam a existência de discricionariedade na aplicação de conceitos legais indeterminados (o que significa que o preenchimento de conceitos indeterminados era visto como um problema de interpretação que podia ser refeito totalmente pelos tribunais) e, por outro, as teorias da discricionariedade (LAUN), que afirmavam que toda a indeterminação legal implicava discricionariedade, estando excluído o controlo intrínseco pelo juiz (reexame), ou seja, o juiz ficava impedido de reconstruir o juízo valorativo do conceito empreendido pela AP. Atualmente, tais construções evoluíram para posições moderadas: as teorias da discricionariedade admitem a existência de alguns conceitos legais indeterminados susceptíveis de controlo intrínseco pelo juiz (reexame) e as teorias do controlo total reconhecem conceitos concessores de discricionariedade na estatuição da norma e aceitam, em relação a casos circunscritos de conceitos indeterminados na hipótese legal, a existência de uma margem de livre apreciação, isto é, a recondução da situação concreta ao esquema fixado por interpretação, que o juiz deve respeitar (teoria da folga ou margem de apreciação – OTTO BACHOF). A operação da subsunção devidamente enquadrada pode deixar alguma margem ou folga de apreciação (“em caso de inundação grave…; em caso de perigo para o trânsito…) – quem está em condições de melhor interpretar e saber se há perigo ou é grave é a AP, cujos serviços exercem funções especializadas e se encontram no terreno perante a autoria das circunstâncias concretas. De enorme relevância é, também, a teoria da prerrogativa de avaliação (WOLFF): o tribunal não pode refazer a interpretação feita pela AP quando ela exija uma apreciação especial dos factos, designadamente quanto a aspetos técnicos e ou valorativos que envolva ou quanto à sua evolução futura (no fundo, não faz sentido substituir um juízo técnico e/ou deontológico da Administração por outro juízo técnico/deontológico do juiz). Portanto, a concessão de poderes discricionários à AP pode resultar de situações de abertura ou indeterminação das normas, quer se encontrem: no lado da estatuição da norma, formulada como preceito de possibilidade ou como faculdade de ação, ou no lado da hipótese, através da utilização de conceitos indeterminados. Mais especificamente, quanto ao problema de saber se os conceitos indeterminados utilizados pela lei concedem, ou não, um espaço discricionário, temos que excluir: a) os conceitos classificatórios, que são conceitos determináveis por remissão para juízos de experiência comum (“urgência imperiosa”) ou de uso de institutos jurídicos (“propriedade”, “funcionário público”, “parecer”), ou de conceitos de ciências exactas ou em relação aos quais se verifique um consenso científico (“substância tóxica”, “plataforma eletrónica”) — porque aí a indeterminação normativa não existe ou se resolve por via interpretativa (hermenêutica). São aquilo que se pode chamar de false friends e, portanto, não concedem poderes discricionários. Pelo contrário, conferem discricionariedade os: b) conceitos subjetivos (“abastecimento adequado dos mercados”, “ordem pública”, “conveniência de serviço”, “interesse nacional”), que, pela sua extrema abertura ou vastidão, em regra associada a faculdades de acção concedidas pelo legislador, têm de ser entendidos como “delegações no poder administrativo”. c) conceitos imprecisos tipo, que remetem a AP para juízos de valor da sua própria responsabilidade (há “margem de livre apreciação”, “prerrogativa de avaliação” ou um “espaço de decisão” próprio da Administração): 1) utilização pela lei de conceitos indeterminados de valor no âmbito de juízos sobre aptidões pessoais (“juristas de reconhecido mérito”) ou de avaliações técnicas especializadas (“reabilitação de qualidade do edificado; “terreno com aptidão agrícola”; “adequada integração no respeito pela volumetria e morfologia existentes na zona”; “incapacidade permanente para o trabalho”); 2) decisões que implicam juízos com elementos determinantes de prognose (“perigo para a saúde pública”; “perigo para o trânsito”; “necessidades do mercado”; “ameaça de ruína”); 3) casos que obriguem a ponderação de interesses complexos (v.g., decisão sobre a localizaçãode um aeroporto, de uma co-incineradora, de uma ponte ou de uma barragem); 4) decisões com consequências políticas (v.g., a autorização para a realização de uma oferta pública de aquisição de ações de um banco em fase de reprivatização; a recusa de um visto para a entrada no país de uma personalidade de relevo internacional ou de concessão de asilo). 4. No caso prático em apreço, relativo à opção entre o procedimento de concurso público – procedimento regra ou preferencial – e os procedimentos de concurso aberto a candidatos especialmente qualificados ou de ajuste directo, parece estar sobretudo em causa o recurso, na hipótese, a verdadeiros conceitos subjectivos (interesse nacional) e a conceitos imprecisos tipo que remetem para avaliações técnicas especializadas, implicando ainda com juízos de prognose e com a ponderação de interesses complexos (se a estratégia definida para o sector o exigir ou quando a situação económico-financeira da empresa o recomendar) associados, na estatuição, a faculdades (directas) de acção (indicadas pelo elemento deôntico “pode”) – o processo da reprivatização referido no número anterior poderá – mitigadas por conceitos subjectivos – a título excepcional. 5. Os problemas da discricionariedade colocam-se no quadro das relações tripolares “Legislador-Administração-Juiz”. Na zona da discricionariedade (de apreciação ou de decisão) há uma repartição de competências entre a Administração e o juiz: a autoria dos actos e a inerente responsabilidade pela prossecução do interesse público cabem à AP; a fiscalização da conformidade ou compatibilidade da actuação administrativa com as normas legais e os princípios jurídicos a que está submetida (“juridicidade”) compete aos tribunais. Contudo, estes não julgam da conveniência e oportunidade (do “mérito”) dessa atuação. Assim, o dispõe o artigo 3.º, n.º 1 do CPTA: os tribunais administrativos, em cumprimento do princípio da separação e interdependência dos poderes, “julgam do cumprimento pela Administração das normas e princípios jurídicos que a vinculam e não da conveniência ou oportunidade da sua atuação”. Deste modo: a) o exercício de poderes discricionários é susceptível de fiscalização, mas não de reexame pelo juiz: além do desvio de poder (utilização da competência para fim diverso do fim legal, designadamente para prosseguir interesse privado) e do erro de facto (se a AP baseou a sua decisão em factos inexistentes ou falseados) são controláveis, igualmente, o erro manifesto de apreciação (quando se torna evidente que a AP valorou erradamente ou qualificou juridicamente, de forma incorrecta, os factos) e, em geral, a compatibilidade da “vontade decisória” com os princípios jurídicos constitucionais que regem a actividade administrativa. De elevada relevância é a fundamentação da decisão administrativa, que permite controlar os “motivos” em que se funda a escolha do conteúdo da decisão. b) O controlo da discricionariedade é atenuado. Contudo, o juiz pode condenar a Administração na prática de actos administrativos, bem como na adopção ou abstenção de comportamentos ou na realização de prestações, mas só na medida em que tal resulte de uma imposição legal ou de um princípio jurídico nas circunstâncias específicas da situação concreta – a vinculação jurídica pode resultar da “redução da discricionariedade a zero”, quando, apesar de haver à partida um espaço de valoração ou decisão próprio da Administração, a apreciação do caso concreto permita identificar uma única solução como juridicamente possível. Caso Prático n.º 3 Tópicos 1 – Aproximação ao conceito de discricionariedade. 2 – Natureza jurídica: a discricionariedade como uma concessão legislativa à Administração de um poder próprio na decisão de casos concretos. 3 – Âmbito do poder discricionário (hipótese, estatuição, elemento de ligação; teorias da discricionariedade, do controlo total e da folga ou margem de apreciação; conceitos classificatórios, subjetivos e imprecisos tipo). 4 – Vinculação e discricionariedade como momentos de complementaridade antagónica de uma mesma realidade, que se verificam nas decisões administrativas. Numa análise atenta, verifica-se que são utilizados conceitos subjetivos, como “a título excecional”, mitigados com conceitos indeterminados de valor no âmbito de avaliações técnicas especializadas e de juízos de prognose (“quando ocorra grave perigo para o trânsito rodoviário” ou “se realizem obras urgentes”), tratando-se da utilização de conceitos indeterminados na hipótese da norma – o problema da administração determinar os pressupostos da sua própria atuação. Entre a hipótese e a estatuição da norma observa-se a existência de faculdades (diretas) de ação (indicadas pelo elemento deôntico “pode”). Na estatuição, a utilização de conceitos subjetivos, tratando-se de medidas de carácter proibitivo temporário. 5 – O controlo do poder discricionário. Independentemente do meio processual, o controlo (atenuado) pelo juiz da conformidade ou compatibilidade dessa atuação administrativa com as normas e os princípios jurídicos que a vinculam. O exercício de poderes discricionários é suscetível de fiscalização (mas não de reexame) pelo juiz: além do desvio de poder e do erro de facto, são controláveis o erro manifesto de apreciação e, em geral, a compatibilidade da “vontade decisória” com os princípios jurídicos constitucionais da actividade administrativa. Obrigatoriedade de fundamentação dos actos administrativos como importante garantia jurídica. No caso em apreço, em causa está o erro de facto (1.º argumento da empresa); o erro manifesto de apreciação e a violação do princípio da proporcionalidade (2.º argumento da empresa). Caso Prático n.º 4 Tópicos 1 – Aproximação ao conceito de discricionariedade. 2 – Natureza jurídica: a discricionariedade como uma concessão legislativa à Administração de um poder próprio na decisão de casos concretos. 3 – Âmbito do poder discricionário. 4 – Vinculação e discricionariedade como momentos de complementaridade antagónica de uma mesma realidade, que se verificam nas decisões administrativas. In casu, vinculação em relação aos aspectos das alíneas a) e d); discricionariedade relativamente aos aspectos das alíneas b) e c). Numa análise mais atenta, verifica-se que, na alínea c), são utilizados conceitos subjetivos, como “interesse para o município”, mitigados com conceitos indeterminados de valor no âmbito de avaliações técnicas especializadas (“qualidade ambiental do projecto”); na alínea b), registam-se conceitos indeterminados de valor no âmbito de avaliações técnicas especializadas e de ponderação de interesses complexos (“aspeto exterior e a inserção urbana e paisagística das edificações”). Entre a hipótese e a estatuição da norma observa-se a existência de faculdades (diretas) de ação (indicadas pelo elemento deôntico “pode”). 5 – O controlo do poder discricionário. Independentemente do meio processual, o controlo (atenuado) pelo juiz da conformidade ou compatibilidade dessa atuação administrativa com as normas e os princípios jurídicos que a vinculam. O exercício de poderes discricionários é suscetível de fiscalização (mas não de reexame) pelo juiz: além do desvio de poder e do erro de facto, são controláveis o erro manifesto de apreciação e, em geral, a compatibilidade da “vontade decisória” com os princípios jurídicos constitucionais da actividade administrativa. Obrigatoriedade de fundamentação dos actos administrativos como importante garantia jurídica. O juiz pode condenar a Administração na prática de atos administrativos (bem como na adoçãoou abstenção de comportamentos), desde que tal resulte necessariamente de uma imposição legal ou de um princípio jurídico na situação concreta. Caso Prático n.º 5 Tópicos 1 – Aproximação ao conceito de discricionariedade. 2 – Natureza jurídica: a discricionariedade como uma concessão legislativa à Administração de um poder próprio na decisão de casos concretos. 3 – Âmbito do poder discricionário. 4 – Vinculação e discricionariedade como momentos de complementaridade antagónica de uma mesma realidade, que se verificam nas decisões administrativas. In casu, vinculação segura em relação aos aspectos das alíneas a) e d); discricionariedade aparente relativamente aos aspectos das alíneas b) e c). Numa análise mais atenta, verifica-se que, na alínea b), os conceitos “circunstâncias imperiosas e propriedade” podem ser tidos como conceitos classificatórios, que não conferem discricionariedade; já os conceitos de “defesa pessoal e razões profissionais” podem, no limite, ser tidos como conceitos indeterminados de valor no âmbito de juízos sobre aptidões pessoais. No âmbito do licenciamento de uso e porte de arma, o juízo sobre a idoneidade do requerente pode exigir avaliações técnicas especializadas sobre aptidões pessoais [c)]. Entre a hipótese e a estatuição da norma observa-se a existência de faculdades (diretas) de ação (indicadas pelo elemento deôntico “pode”). 5 – O controlo do poder discricionário. Independentemente do meio processual, o controlo (atenuado) pelo juiz da conformidade ou compatibilidade dessa atuação administrativa com as normas e os princípios jurídicos que a vinculam. O exercício de poderes discricionários é suscetível de fiscalização (mas não de reexame) pelo juiz: além do desvio de poder e do erro de facto, são controláveis o erro manifesto de apreciação e, em geral, a compatibilidade da “vontade decisória” com os princípios jurídicos constitucionais da actividade administrativa. Obrigatoriedade de fundamentação dos actos administrativos como importante garantia jurídica. O juiz pode condenar a Administração na prática de actos administrativos (bem como na adoção ou abstenção de comportamentos), desde que tal resulte necessariamente de uma imposição legal ou de um princípio jurídico na situação concreta (o contencioso administrativo português é de jurisdição plena). Caso Prático6: a) Enquadrar nos conceitos de órgão administrativo e competência. Caraterísticas da competência e critérios de definição de competência. A competência territorial. O problema dos conflitos de competência territorial – Cfr. e analise os Arts. 40.º e 39.º. b) Legitimação (qualificação específica para um órgão exercer um poder ou um a sua competência numa situação concreta). A falta de quórum nos órgãos colegiais (“fração ou percentagem mínima do número legal de membros do órgão colegial cuja presença é necessária na reunião para que possam ser votadas as deliberações”) implica a falta de legitimação do órgão para decidir na situação concreta. Art. 29.º do CPA – análise. Pode a lei distinguir entre quórum de funcionamento (os órgãos só podem reunir com a presença da maioria do número legal do número legal dos seus membros) e quórum de deliberação. Há, assim, que destrinçar entre um quórum de funcionamento e um quórum de deliberação - os quais muitas vezes coincidem, mas podem ser diferentes, nomeadamente quando a lei se basta, para o órgão poder começar a funcionar, com um número de presenças inferior ao exigido para que o mesmo órgão possa deliberar. No CPA apenas está previsto o quórum de deliberação. No caso em apreço, a deliberação seria nula, nos termos do art. 161.º, n.º 2, h), do CPA. c) e d) Análise da figura da delegação de competências Noção: ato pelo qual um órgão administrativo, especificamente autorizado pela lei, permite que a sua competência para a prática de atos jurídicos seja exercida por outro órgão, da mesma pessoa coletiva. Com base no regime jurídico estabelecido nos artigos 44.º a 50.º do CPA, conclui-se que delegação tem a natureza jurídica de uma concessão constitutiva, na medida em que o ato do delegante qualifica o delegado para o exercício, em nome próprio, de uma competência alheia. Relação entre Câmara (órgão delegante) e o Presidente (órgão delegado); e entre o Presidente (órgão delegante) e o Vereador (subdelegado). A Subdelegação é muito relevante porque alivia os órgãos dirigentes do excesso de poderes e responsabilidades que se concentram nas suas mãos. Regime jurídico da delegação de competências: 1 – A possibilidade da delegação de poderes depende de a lei a prever – habilitação ou autorização legal (art. 44.º/1). Sem essa autorização, a delegação corresponde à renúncia de competências, pelo que é nula (art. 36.º/2). 2 – A delegação carece, para se tornar operativa, de um ato de delegação de poderes (art. 44.º/1), praticado pelo delegante. 3 – A lei admite a possibilidade de uma competência delegada ser subdelegada (art. 46.º). Em princípio, não é necessária autorização da lei, o que é necessário é que a lei não proíba uma subdelegação e que o delegante tenha autorizado o delegado a subdelegar. 4 – Do ponto de vista do conteúdo, o delegante deve especificar os poderes que são delegados, mencionar a norma atributiva do poder delegado e aquela que habilita o órgão a delegar (art. 47.º/1). Visa-se, assim, impedir “delegações genéricas” - art. 45.º a). 5 – Os atos de delegação e de subdelegação estão sujeitos a publicação, nos termos do art. 47.º, n.º 2, sob pena de ineficácia. 6 – A lei exige que o subdelegado faça menção da sua qualidade no uso de subdelegação (art. 48.º). Esta exigência é importante para se determinar os meios de reação contra o autor dos atos jurídicos praticados. d) Como se estabelece a relação entre o delegante e o delegado? O ato de delegação cria entre o delegante e o delegado uma relação jurídica nova: 1) A delegação cria para o delegado o poder-dever de exercer a competência delegada; 2) Por sua vez, o órgão delegante pode emitir diretivas ou instruções vinculativas para o delegado sobre o modo como devem ser exercidos os poderes delegados (art. 49.º/1). Note-se que isso não significa determinar o conteúdo do ato a praticar, que é escolhido pelo delegado; 3) O órgão delegante tem o poder de avocar, bem como o de anular, revogar ou substituir o ato praticado pelo delegado ao abrigo da delegação (art. 49.º/2). Com a avocação, preclude-se a competência do órgão delegado, mas apenas em relação ao caso abrangido (ou seja, trata-se de avocação da decisão na matéria delegada); 4) O órgão delegante tem o poder de revogar os atos do delegado, como vimos, mas também o poder de revogar o próprio ato de delegação – art. 50.º a). Mas além disso, a delegação pode extinguir-se por anulação e por caducidade. Por força da caducidade, os efeitos da delegação esgotam-se, desde logo em razão da mudança de titulares do órgão delegante – art. 50.º, b). Isso é assim porque, entre nós, a delegação de competências é considerada um ato intuitus personae, isto é, um ato funcionalmente alicerçado numa relação de confiança pessoal entre o delegante e o delegado; 5) Uma última nota tem que ver com as impugnações administrativas: nos termos do art. 199.º/2, cabe recurso para o delegante dos atos praticados pelo delegado, mas desde que haja expressa previsão legal.
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