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1 2010 MONOGRAFIA EM ÁLGEBRA GRUPOS Três Lagoas 2010 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL Departamento de Ciências Exatas Campus de Três Lagoas 2 2010 INTRODUÇÃO Este trabalho monográfico foi feito para alunos universitários que busquem enriquecer o seu conhecimento em Álgebra, especialmente em grupos. Este trabalho foi dividido em quatro capítulos: Grupos e Subgrupos, Homomorfismo e Isomorfismo de Grupos, Grupos Cíclicos e Classes Laterais e Teorema de Lagrange. O trabalho foi realizado em sua maior parte com base na obra Álgebra Moderna de Hygino H. Domingues e Gelson Iezzi, fonte excelente para se estudar. Este trabalho é dedicado ao professor orientador Dr. Antonio Carlos Tamarozzi o qual me motivou a fazer este trabalho. Enfim, ficam meus agradecimentos a Deus e a todos que ajudaram diretamente e indiretamente para a realização dessa monografia. 3 2010 SUMÁRIO 1 - GRUPOS E SUBGRUPOS ............................................................................................. 4 1.1 - Conceito de Grupo .................................................................................................... 4 1.2 - Propriedades imediatas de um grupo ...................................................................... 5 1.3 - Grupos Finitos .......................................................................................................... 5 1.4 - Alguns Grupos Importantes ..................................................................................... 6 1.4.1 - Grupo Aditivo dos Inteiros (comutativo) ........................................................ 6 1.4.2 - Grupo Aditivo dos Complexos (comutativo) .................................................. 6 1.4.3 - Grupo Multiplicativo dos Racionais (comutativo) .......................................... 7 1.4.4 - Grupo Aditivo de Matrizes m x n (comutativo) .............................................. 7 1.4.5 - Grupos Lineares de Grau n (multiplicativo, Não Comutativo se ≥n 1 ) ....... 9 1.4.6 - Grupos Aditivos de Classes Restos (Comutativo) ........................................ 10 1.5 - Subgrupos ............................................................................................................... 12 2 - HOMOMORFISMOS E ISOMOSFISMOS ................................................................ 15 2.1 - Homomorfismo de Grupos .................................................................................... 15 2.2 - Proposições Sobre Homomorfismo de Grupos .................................................... 16 2.3 - Núcleo de um Homomorfismo .............................................................................. 17 2.4 - Isomorfismos de Grupos ........................................................................................ 19 3 - GRUPOS CÍCLICOS .................................................................................................... 22 3.1 - Potências e Múltiplos ............................................................................................. 22 3.2 - Grupos Cíclicos ...................................................................................................... 23 3.3 - Classificação dos Grupos Cíclicos ........................................................................ 24 4 - CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE .......................................... 26 4.1 - Classes Laterais ...................................................................................................... 26 4.2 - O Teorema de Lagrange ......................................................................................... 28 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 30 4 2010 1 - GRUPOS E SUBGRUPOS 1.1 - Conceito de Grupo Definição 1: Um sistema matemático constituído de um conjunto não vazio G e uma operação ( ) yxyx ∗, sobre G é chamado grupo se essa operação se sujeita aos seguintes axiomas: Associatividade ( ) ( )cbacba ∗∗=∗∗ , quaisquer que sejam Gcba ∈,, ; Existência de Elemento Neutro Existe um elemento Ge∈ tal que aaeea =∗=∗ , qualquer que seja Ga∈ ; Existência de Simétricos Para todo Ga∈ existe um elemento Ga∈' tal que eaaaa =∗=∗ '' . Se além disso, ainda se cumprir o axioma da Comutatividade abba ∗=∗ , quaisquer que sejam Gba ∈, O grupo recebe o nome de grupo comutativo ou abeliano. Mantidas as notações da definição, um grupo poderá ser indicado apenas por ( )∗,G , em que, para facilitar, o símbolo ∗ indica a operação sobre G . E, quando não houver possibilidade de confusão, até esse símbolo poderá ser omitido. Assim, será comum usarmos expressões como, por exemplo, “Seja G um grupo” ou “Consideremos um grupo G ” o que naturalmente pressupõe a operação subentendida. Outra maneira ainda de nos referirmos a um grupo ( )∗,G é dizer que “ G tem uma estrutura de grupo em relação à operação ∗ ”. 5 2010 1.2 - Propriedades imediatas de um grupo Seja ( )∗,G um grupo; valem as seguintes propriedades • A unicidade do elemento neutro de ( )∗,G ; • A unicidade do simétrico de cada elemento de G ; • ( ) aa ='' , qualquer que seja Ga∈ ; • ( ) ''' abba ∗=∗ e, portanto (raciocinando por indução), que ( ) 1121 ' aaaaaa nnn ′∗∗′∗′=∗∗∗ − , ( )1≥∀ n ; • Todo elemento de G é regular para a operação ∗ , ou seja: Se yaxa ∗=∗ (ou ayax ∗=∗ ) onde Gyx ∈, , então yx = . No grupo G , a equação ( )baxbxa =∗=∗ tem conjunto solução unitário. bax ∗′= ( ) ( ) bbebaabaa =∗=∗′∗=∗′∗ Portanto, bax ∗′= . 1.3 - Grupos Finitos Um grupo ( )∗,G em que o conjunto G é finito chama-se grupo finito. Nesse caso, o número de elementos de G é chamado ordem do grupo (notação ( )Go ) e a tábua da operação ∗ se denomina tábua do grupo. Diga-se de passagem, o primeiro matemático a usar tábuas para representar grupos foi o inglês Arthur Cayley (1821-1899). Cayley, que valorizava sobre modo os aspectos formais da matemática, foi provavelmente o precursor do estudo abstrato da teoria dos grupos. Outra realização importante desse matemático foi a introdução das matrizes na matemática. Exemplo: É fácil verificar que { }1,1−=G é um grupo multiplicativo. Sua ordem obviamente é 2 e sua tábua: • 1 -1 1 1 -1 -1 -1 1 6 2010 1.4 - Alguns Grupos Importantes 1.4.1 - Grupo Aditivo dos Inteiros (comutativo) É o sistema formado pelo conjunto dos inteiros e a adição usual sobre esse conjunto. A adição usual é uma operação sobre Z , associativa e comutativa. Mas, há um elemento neutro para ela (o número 0), e o oposto a− de um elemento a ∈Z também pertence a esse conjunto. 1.4.2 - Grupo Aditivo dos Complexos (comutativo) A soma de dois números complexos biaz += e dicw += é definida por ( ) ( ) ( ) ( ) zw biadic ibdac idbcawz += +++= +++= +++=+ Logo, é comutativa. Vamos verificar se ( )+,C é grupo abeliano. Seja fiep += , vamos verificar se ocorre a associatividade. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )pwz ifdecbia ifebieca ifdbeca fieidbcapwz ++= +++++= +++++= +++++= +++++=++ Logo, é associativa. Podemos afirmar que existe o elemento neutro que é i000 += . Por fim, para todo complexo biaz += , o número complexo ( ) ( ) biaibaz −−=−+−=− é seu oposto, o que pode ser verificado diretamente sem nenhuma dificuldade. Veja: ( ) 000 =+=−−+=−+ ibiabiazz Onde 0 zero é o elemento neutro da operação +. 7 2010 1.4.3 - Grupo Multiplicativo dos Racionais (comutativo) Sistema formado pelo conjunto dos racionais não nulos sobre esse conjunto. O conjunto Q* é fechado em relação à multiplicação, ou seja, o produto de dois números racionais não nulos também é diferente de zero.A multiplicação usual é associativa em Q* q pa = . Sejam , s rb = e u tc = ( ) ( )cba u t s r q p u t s r q pcba ∗∗= ⋅⋅=⋅ ⋅=∗∗ O número 1 é elemento neutro da multiplicação, obviamente é diferente de zero. Vejamos: a q p q paea ==⋅=∗=∗ 11 aeaea ∗==∗∴ Se 0≠a , então ∗∈∀ Qa existe ∗− ∈ Q1a que é o inverso de a . Logo, aaeaa ∗==∗ −− 11 Na prática, considerando q pa = temos p qa =−1 . Assim: e p q q paa ==⋅=∗ − 11 Vimos, então que ( )⋅∗ ,Q é um grupo. Contra-exemplo: O sistema formado pelo conjunto ∗Z e a multiplicação de números inteiros não é um grupo, embora o produto de dois inteiros não nulos seja sempre um inteiro não nulo. Ocorre que nenhum inteiro a, salvo 1 e -1, tem inverso em ∗Z . 1.4.4 - Grupo Aditivo de Matrizes m x n (comutativo) Nas considerações a serem feitas aqui indicaremos por K , indistintamente, um dos seguintes conjuntos, Z, Q, R ou C e por ( )mxnM K o conjunto das matrizes sobre K com 8 2010 m linhas e n colunas. Isso posto mostraremos que ( )mxnM K é um grupo aditivo. Para isso, lembremos primeiro que a adição de matrizes em ( )mxnM K é definida da seguinte maneira: Se = mnm n aa aa A 1 111 e = mnm n bb bb B 1 111 então ++ ++ =+ mnmnmm nn baba baba BA 11 111111 e, portanto, trata-se de uma operação sobre o conjunto ( )mxnM K . Essa adição cumpre os axiomas exigidos pela definição 1, o que é fácil de provar: Associatividade: ( ) ( ) CBACBA ++=++ Comutatividade: ABBA +=+ Existência de Elemento Neutro: é a matriz 0 0 0 0 0 mxn = Existência de Opostos: qualquer que seja a matriz 11 1 1 n m mn a a A a a = Tomando-se 11 1 1 n m mn a a A a a − = Que obviamente também é uma matriz de ( )mxnM K , temos: 11 11 1 1 1 1 ( ) 0 n n mxn m m mn mn a a a a A A a a a a − − + − = = − − 9 2010 Portanto ( ( ), )mxnM K + é um grupo aditivo abeliano quando K ou= Z, Q, R C . 1.4.5 - Grupos Lineares de Grau n (multiplicativo, Não Comutativo se ≥n 1) Indicaremos agora por K , indistintamente, um dos conjuntos ouQ, R C e por ( )nM K o conjunto das matrizes de ordem n sobre k . Tratando-se de um caso particular do exemplo anterior, ( )nM K é um grupo aditivo. No que se refere a multiplicação de matrizes, porém, a situação é diferente. Lembremos que a multiplicação de matrizes (linhas por colunas) é definida da seguinte maneira: Se ( )ijA a= e ( )ijB b= , então: ( )ijA B c⋅ = , em que 1 ( , 1, 2, , ) n ij ik kj k c a b i j n = = ⋅ =∑ Para essa operação vale a associatividade, como é bem conhecido. Mas, ela conta com um elemento neutro que é a matriz idêntica de ordem n: 1 0 0 0 1 0 0 0 1 nI = Mas sempre há matrizes para as quais não há a matriz inversa: por exemplo, a matriz nula. 0 0 0 0 0 n = Cujo produto por uma matriz qualquer é ela mesma, portanto diferente de nI . Para saber quais matrizes de ordem n têm inversa, recorremos ao seguinte teorema da teoria dos determinantes: “Uma matriz ( )nA M K∈ é inversível se, e somente se, det( ) 0A ≠ ”. Como o conjunto das matrizes inversíveis, que indicaremos por ( )nGL K , inclui a matriz identidade nI , cujo determinante é igual a 1 e 10 2010 det( ) det( ) det( ) 0, , ( )nA B A B A B GL K⋅ = ⋅ ≠ ∀ ∈ então ( ( ), )nGL K ⋅ é um grupo. Esse grupo não é comutativo quando 1n ≥ , pois, por exemplo, se 1 1 1 n A B ⋅ = e 1 1 1 B A n ⋅ = O grupo ( ( ), )nGL K ⋅ é chamado, respectivamente, grupo linear racional, real ou complexo, de grau n , conforme K ou= Q, R C . 1.4.6 - Grupos Aditivos de Classes Restos (Comutativo) Para qualquer inteiro 1m > , o conjunto das classes de resto módulo m , ou seja, ______ {0, 1, 2, , 1}m m= −Z é o conjunto quociente de Z pela relação de congruência módulo m . Vamos mostrar que ( , )m +Z é grupo comutativo vale a associatividade, pois, temos: ( ) ( )a b c a b c+ + = + + Enquanto a Comutatividade, temos: a b b a+ = + Existência do Elemento Neutro que é o 0m = . Logo, 0 0a a a+ = + = Portanto, 0 é o elemento neutro dessa operação. A classe _______ m a− é o oposto de ma ∈Z na adição módulo m , pois ( ) 0a m a a m a m+ − = + − = = Uma vez que 0(mod )m m≡ . Então a m a− = − . Vale notar que a ordem desse grupo é m . Exemplo 1: Construir a tábua do grupo 4( , )+Z . + 0 1 2 3 0 0 1 2 3 1 1 2 3 0 11 2010 2 2 3 0 1 3 3 0 1 2 Observação: 4( , )+Z é comutativo, pois a tábua de operação é simétrica. 4( , )+Z existe elemento neutro, pois a linha e a coluna de 0 são fundamentais. 4( , )+Z todos elementos tem elementos simétricos, pois onde aparece o elemento neutro 0 , temos que ij jia a= . Portanto , 4( , )+Z é grupo abeliano. Exemplo 2: +Z ; multiplicação. Não é grupo. Não existe elementos inversos de 1 1 1, /x x x x e x x− − −+∀ ∈ ⋅ = = ⋅Z o elemento neutro, 1e = . Só existirá inversos para 1 e -1. Para 2 o inverso é 1 2 , mas 1 2 + ∉Z Exemplo 3: { / é par}A x x= ∈Z ; adição. ( , )A + é grupo, pois ocorre a associatividade para os números pares inteiros. Existe o elemento neutro 0 que é par, pois seja a A∈ , temos: 0 0a a a+ = + = Seja, 2 ,a x x= ∈Z Temos o oposto de a , de forma geral, é oposto de todos os elementos de A , que é a− , pois x∈Z . Logo, ( ) 2 2 0a a x x+ − = − = Exemplo 4: Mostre que R dotado da operação ∗ tal que 3 33x y x y∗ = + é um grupo abeliano. Dem: ( , )∗R Vamos mostrar primeiro que é um grupo. Enquanto, a associatividade, temos: 3 3 3 3 3 33 3( ) ( ) ( ) ( )x y z x y z x y z x y z∗ ∗ = + + = + + = ∗ ∗ 12 2010 Existe elemento neutro e , de tal forma que x e e x x∗ = ∗ = 0e = . Logo, 3 3 3 3 30 0x x x x∗ = + = = Todos os números reais têm opostos para essa operação. Vejamos: 3 3 3 3 3 33( ) ( ) 0 0x x x x x x∗ − = + − = − = = Logo, ( )x x e∗ − = Portanto, ( , )∗R é um grupo. Vamos mostrar agora que esse grupo é abeliano. Logo, comutatividade 3 3 3 33 3x y x y y x y x∗ = + = + = ∗ Portanto, ( , )∗R é um grupo abeliano. Exemplo 5: Construa a tábua da operação ∗ sobre { , , }G e a b= , sabendo que ( , )G ∗ é um grupo. ∗ e a b e e a b a a b e b b e a Esse grupo também é abeliano. 1.5 - Subgrupos Definição 2: Seja ( , )G ∗ um grupo. Diz-se que um subgrupo não vazio H G⊂ é um subgrupo de G se: • H é fechado para a operação ∗ (isto é, se ,a b H∈ então ( )a b H∗ ∈ ); • ( , )H ∗ também é um grupo (aqui o símbolo ∗ indica a restrição da operação de G aos elementos de H ). Se e indica o elemento neutro de G , então obviamente { }e é um subgrupo de G . É imediato também, que o próprio G é um subgrupo de si mesmo. Esses dois subgrupos, ou seja, { }e e G , são chamados subgrupos triviais de G . 13 2010 Proposição: Seja ( , )G ∗ um grupo. Para que uma parte não vazia H G⊂ seja um subgrupo de G , é necessário e suficiente que ( )a b∗ seja um elemento de H sempre que a e b pertencerem a esse conjunto. Demonstração: ( )⇒ Indiquemos por e e he , respectivamente, os elementos neutros de G e H . Como h h h he e e e e∗ = = ∗ Todo elemento do grupo é regular em relação à ∗ , então he e= . Tomaremos agora um elemento b H∈ e indicaremos por b′ e hb′ seus simétricos em G e H , respectivamente. Como, porém, h hb b e e b b′ ′∗ = = = ∗ Então hb b′ ′= (novamente pelo fato de todos os elementos do grupo serem regulares para sua operação). Por fim, se ,a b H∈, então ha b H′∗ ∈ , uma vez que, por hipótese, ( , )H ∗ é um grupo. Mas, hb b′ ′= e, portanto, a b H′∗ ∈ . ( )⇐ Como, por hipótese, H não é vazio, podemos considerar um elemento 0x H∈ . Juntando esse fato à hipótese: 0 0x x e H′∗ = ∈ . Considerando agora um elemento b H∈ , da hipótese e da conclusão anterior segue que: e b b H′ ′∗ = ∈ Mostraremos agora que H é fechado para a operação ∗ . De fato, se, ,a b H∈ , então, levando em conta a conclusão anterior, ,a b H′∈ . De onde (novamente usando a hipótese): ( )a b a b H′ ′∗ = ∗ ∈ Falta mostrar a associatividade em H , mas isso é trivial, pois se , ,a b c H∈ , então , ,a b c G∈ e, portanto, ( ) ( )a b c a b c∗ ∗ = ∗ ∗ (já que essa propriedade vale em G ). 14 2010 Exemplo 1: Como Z é subgrupo de R , em relação a operação de adição, temos que (Z,+) é subgrupo de (R,+) . A operação é fechada em Z e em R . Exemplo 2: O conjunto ∗Q onde a operação de multiplicação que forma o grupo , )∗ ⋅(Q é subgrupo de ∗ ⋅(R , ) . 15 2010 2 - HOMOMORFISMOS E ISOMOSFISMOS 2.1 - Homomorfismo de Grupos Definição 1: Dá-se o nome de homomorfismo de um grupo G ∗( , ) num grupo ,J ⋅(J ) a toda aplicação :f G J→ tal que, quaisquer que sejam ,x y G∈ . ( ) ( ) ( )f x y f x f y∗ = ⋅ Nessas condições, para simplificar a linguagem, nos referiremos a :f G J→ como homomorfismo de grupos. Quando se tratar do mesmo grupo, o que pressupões J G= e a mesma operação, então a aplicação f será chamada de homomorfismo de G . Se um homomorfismo é uma aplicação injetora, então é chamado de homomorfismo injetor. E se for uma aplicação sobrejetora, de homomorfismo sobrejetor. O caso que f é bijetora corresponde ao conceito de Isomorfismo e será estudado separadamente. Exemplo 1: A aplicação :f ∗→Z C definida por ( ) mf m i= é um homomorfismo de grupos. É preciso notar, primeiro, que em casos como esse as operações são usuais e devem ser pressupostas. Portanto, Z é um grupo aditivo e ∗C um grupo multiplicativo. Como ( )( ) ( ) ( )m n m nf m n i i i f m f n++ = = ⋅ = ⋅ Fica provado que se trata de homomorfismo. Esse homomorfismo não é injetor. Para mostrar isso basta um contra-exemplo. De fato, 4(4) 1f i= = e 0(0) 1f i= = . Também não é sobrejetor, pois Im( ) {1, , 1, }f i i ∗= − − ≠ C . 16 2010 Exemplo 2: Seja a um número inteiro dado. A aplicação :f →Z Z definida por ( )f m am= é um homomorfismo de Z . Esse homomorfismo só não é injetor quando 0a = e só é sobrejetor quando 1a = . Quanto à primeira afirmação, basta observar que ( ) ( ) ( ) ( )f m n a m n a m a n f m f n+ = + = + = + Se 0a = , então, para todo m∈Z , e, portanto, f não é injetora nem sobrejetora. Supomos 0a ≠ e ( ) ( )f m f n= , isto é, am an= , cancelando-se a (o que é possível, pois 0a ≠ ), obtém-se m n= , isso mostra que f é injetora neste caso. Se 1a = , então f é a aplicação idêntica de Z e, portanto é sobrejetora. Se 1a ≠ então f não é sobrejetora, porque Im( ) {0, , 2 , 3 , }f a a a= ± ± ± ≠ Z . 2.2 - Proposições Sobre Homomorfismo de Grupos Sejam G e J grupos multiplicativos cujos elementos neutros indicaremos sempre por e e u , respectivamente, e :f G J→ um homomorfismo de grupos. Proposição 1: ( )f e u= Dem: Obviamente e e e⋅ = (pois e é o elemento neutro de G ) e ( ) ( )u f e f e⋅ = (pois ( )f e J∈ e u é o elemento neutro de J ). Levando-se em conta isso e a hipótese de que f é um homomorfismo: ( ) ( ) ( ) ( ) ( )f e f e f e e f e u f e⋅ = ⋅ = = ⋅ ( ) ( ) ( ) ( )f e f e u f e f e u∴ ⋅ = ⋅ ⇒ = Onde utilizamos o fato que ( )f e é um elemento regular. Proposição 2: Se a é um elemento qualquer de G , então 1 1( ) [ ( )]f a f e− −= Dem: Usaremos aqui a proposição anterior: 1 1 1( ) ( ) ( ) ( ) ( ) [ ( )]f a f a f a a f e u f a f a− − −⋅ = ⋅ = = = ⋅ 1 1( ) ( ) ( ) [ ( )]f a f a f a f a− −∴ ⋅ = ⋅ Como ( )f a é regular segue que 1 1( ) [ ( )]f a f a− −= 17 2010 Corolário 1: 1 1( ) ( ) [ ( )]f a b f a f b− −⋅ = ⋅ Proposição 3: Se H é um subgrupo de G , então ( )f H é um subgrupo de J . Dem: Lembremos primeiro que ( ) { ( ) / }f H f x x H= ∈ . i) Como e H∈ , porque H é um subgrupo de G , então ( ) ( )f e u f H= ∈ e, portanto, ( )f H ≠ ∅ . ii) Sejam , ( )c d f H∈ . Então ( )f a c= e ( )f b d= , para convenientes elementos ,a b H∈ . Logo, 1 1 1 1( ) [ ( )] ( ) ( ) ( )c d f a f b f a f b f a b− − − −⋅ = ⋅ = ⋅ = ⋅ . Como 1a b H−⋅ ∈ , pois, por hipótese, H é um subgrupo de G , então 1 ( )c d f H−⋅ ∈ . Proposição 4: Sejam ,G J e L grupos. Se :f G J→ e :g J L→ são homomorfismos de grupos, então o mesmo se pode dizes de :g f G L→ . Dem: Se ,a b G∈ , então: ( )( ) ( ( )) ( ( ) ( )) ( ( )) ( ( )) ( )( ) ( )( )g f a b g f a b g f a f b g f a g f b g f a g f b⋅ = ⋅ = ⋅ = ⋅ = ⋅ g f∴ é homomorfismo de G a L . Corolário 2: Se f e g são homomorfismos (sobre) injetores, então g f também é um homomorfismo injetor (sobrejetor). Dem: Imediata. É só lembrar que a composta de duas funções injetoras (sobrejetoras) também é injetora (sobrejetora). 2.3 - Núcleo de um Homomorfismo 18 2010 Definição 2: Seja :f G J→ um homomorfismo de grupos. Se u indica o elemento neutro de J , o seguinte subconjunto de G será chamado núcleo de f e denominado por ( )N f . ( ) { / ( ) }N f x G f x u= ∈ = Exemplo 3: Procuremos o núcleo do homomorfismo de grupos :f ∗→Z C definido por ( ) mf m i= (ver exemplo 1). Como o elemento neutro da multiplicação em ∗C é o número 1, então basta resolver a equação 1mi = Mas, 1mi = 4 ,m k k= ∈Z , pois 4 2 2 2( ) ( 1) 1 1m k k k ki i i= = = − = = Logo, ( ) {0, 4, 8, 12, }N f = ± ± ± Proposição 5: Seja :f G J→ um homomorfismo de grupos. Então i) ( )N f é um subgrupo de G; ii) f é um homomorfismo injetor se, e somente se, ( ) { }N f e= . Dem: i) Como ( )f e u= , então ( )e N f∈ e, portanto, ( )N f ≠ ∅ . Por outro lado, se , ( )a b N f∈ então ( ) ( )f a f b u= = e, portanto: 1 1 1 1( ) ( ) ( ) ( ) [ ( )]f a b f a f b f a f b u u u− − − −⋅ = ⋅ = ⋅ = ⋅ = Isso mostra que 1, ( )a b N f− ∈ . ii) ( )⇒ Por hipótese , f é injetor e temos de mostrar que o único elemento de ( )N f é elemento neutro de G . Para isso, vamos tomar ( )a N f∈ e demonstrar que necessariamente a e= . De fato, como ( )a N f∈ , então ( )f a u= . Mas, devido à proposição 1, ( )f e u= . Portanto, ( ) ( )f a f e= . Como, porém, f é injetora, por hipótese então a e= . ( )⇐ Sejam 1 2,x x G∈ elementos tais que 1 2( ) ( )f x f x= . Multiplicando-se cada membro dessa igualdade por 12[ ( )]f x − , obtém-se 11 2( ) [ ( )]f x f x u −⋅ = . Mas, 1 11 2 1 2( ) [ ( )] ( )f x f x f x x − −⋅ = ⋅ . Portanto, 11 2( )f x x u −⋅ = o que mostra que 1 1 2( ) ( ) { }x x N f e −⋅ ∈ = . Então 11 2x x e −⋅ = e, portanto, 1 2x x= , de onde f é injetor, como queríamos provar. Exemplo 1: Verifique em cada caso se f é um homomorfismo: a) :f →Z Z dada por ( )f x kx= , sendo Z o grupo aditivo dos inteiros e k um inteiro dado. É um homomorfismo, pois ( ) ( ) ( ) ( )f x y k x y kx ky f x f y+ = + = + = + ( ) ( ) ( )f x y f x f y∴ + = + b) :f →R R dada por ( ) 1f x x= + , sendo R o grupo aditivo dos reais. Não é homomorfismo. Logo, ( ) 1 1 ( ) ( ) ( )f x y x y x y f x y f x f y+ = + + = + + = + ≠ + ( ) ( ) ( )f x y f x f y∴ + ≠ + 19 2010 c) *:f +→Z R dada por ( ) 2 xf x = , em que Z é grupo aditivo e *+R é grupo multiplicativo. É um homomorfismo, pois ( ) 2 2 2 ( ) ( )x y x yf x y f x f y++ = = ⋅ = ⋅ ( ) ( ) ( )f x y f x f y∴ + = ⋅ Exemplo 2: Determine os homomorfismos injetores e sobrejetores: a) Temos :f →Z Z dada por ( )f x kx= , sendo Z um grupo aditivo dos inteiros. Logo, podemos afirmar que temos um homomorfismo injetor, se 0k ≠ Vejamos, 1 2 1 2( ) ( )f x f x kx kx= ⇒ = . Cancelando, k inteiro, temos 1 2x x= que é injetor. Mas, o homomorfismo não é sobrejetor, pois Im( )f k= ≠Z Z. b) Verificamos que não é um homomorfismo. Logo, não será homomorfismo injetor (sobrejetor). c) Dado *:f +→Z R com ( ) 2 xf x = , em que Z é grupo aditivo e *+R é grupo multiplicativo. f é injetor e sobrejetor Injetor: ( ) ( ) 2 2x yf x f y= ⇒ = . Pelo teorema fundamental da aritmética (TFA) temos: x y= Agora, mostraremos que f é sobrejetora. Dado *y +∈R e tomando 2logx y= temos 2log 2( ) (log ) 2 yf x f y y= = = Exemplo 3: Determine o núcleo de cada homomorfismo: a) De :f →Z Z dada por ( )f x kx= sendo Z um grupo aditivo dos inteiros. ( ) { / ( ) 0}N f x f x= ∈ =Z Logo, temos que determinar: 0kx = Se 0k = então ( )N f = Z Se 0k ≠ então ( ) {0}N f = b) Não tem núcleo, pois a aplicação não é um homomorfismo. c) *:f +→Z R dada por ( ) 2 xf x = , em que Z é grupo aditivo e *+R é grupo multiplicativo. ( ) { / ( ) 1}N f x f x= ∈ =Z Logo, 02 1 2 2x x= ⇒ = ⇒ pelo (TFA) 0x = ( ) {0}N f∴ = 2.4 - Isomorfismos de Grupos Definição 3: Seja :f G J→ um homomorfismo de grupos. Se f for também uma bijeção, então f será chamado de isomorfismo do grupo G no grupo J . Neste caso, diz-se que f é um isomorfismo de grupos. 20 2010 Se G J= e a operação é a mesma, f é um isomorfismo de G . Exemplo 4: A função logarítmica (não importa a base) *log : + →R R é um isomorfismo de grupo. Sendo *+R um grupo multiplicativo e R um grupo aditivo, temos: log( ) log( ) log( )x y x y⋅ = + Logo, é um homomorfismo. Mas, log é uma função bijetora então implica em isomorfismo de grupos. Proposição 6: Se :f G J→ é um isomorfismo de grupos, então 1 :f J G− → também é um isomorfismo de grupos: Dem: lembremos primeiro que, como foi provado no nosso estudo de álgebra, o fato de f ser uma bijetora, só que obviamente de J em G . Assim, falta demonstrar que 1f − conserva as operações (mais uma vez aqui indicadas multiplicavelmente). Para isso, tomemos 1 2,y y J∈ . Como f é sobrejetora, 1 1( )y f x= e 2 2( )y f x= , para convenientes elementos 1 2,x x G∈ . Daí, 1 1 1 1 1( ) ( ( ))f y f f x x − −= = e, analogamente 1 2 2( )f y x − = . Então: 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2( ) ( ( ) ( )) ( ( )) ( ) ( )f y y f f x f x f f x x x x f y f y − − − − −⋅ = ⋅ = ⋅ = ⋅ = ⋅ Exemplo 1: Mostre que : 2f →Z Z dada por ( ) 2f n n= , n∀ ∈Z , é um isomorfismo do grupo aditivo Z no grupo aditivo 2Z . Dem: Mostraremos primeiro que f é um homomorfismo, vejamos: Sejam ,n p∈Z temos: ( ) 2 ( ) 2 2 ( ) ( )f n p n p n p f n f p+ = + = + = + Logo, f é um homomorfismo Agora, provamos que f é um isomorfismo. f será isomorfismo se ocorrer uma bijeção. Logo, se ( ) ( )f n f p= temos 2 2n p= cancelando o 2 de ambos os lados, temos: n p= Logo, temos um homomorfismo injetor. Agora, ( ) 2 pf n f = Logo, ( ) 2 2 2 p pf n f p = = ⋅ = ( )f n p∴ = Por sua vez, temos um homomorfismo sobrejetor. Portanto, f é um isomorfismo. Exemplo 2: Mostre que *:f →Z C dada por ( ) mf x i= onde m é número inteiro não é um isomorfismo. Dem: O homomorfismo f não será isomorfismo, pois não é injetor. Logo, (0) 1 (4)f f= = 21 2010 Portanto, não é isomorfismo. 22 2010 3 - GRUPOS CÍCLICOS 3.1 - Potências e Múltiplos Definição 1: Seja G um grupo multiplicativo. Se a G∈ e m é um número inteiro, a potência m-ésima de a , ou potência de a de expoente m , é o elemento de G denotado por ma , onde m m vezes a a a a= ⋅ ⋅ ⋅ se 0m > , 0a e= e 1( )m ma a− −= se 0m < . Uma consequência imediata dessa definição é que, para todo inteiro m , vale me e= . Exemplo 1: No grupo multiplicativo *5Z das classes de resto módulo 5, seja 2a = . Então 0 1 2 32 1, 2 2, 2 2 2 4, 2 4 2 3,= = = ⋅ = = ⋅ = 1 2 1 3 12 3; (2 ) 3 3 9 4; (2 ) 9 3 27 2;− − −= = ⋅ = = = ⋅ = = Proposição 1: Seja G um grupo multiplicativo. Se m e n são números inteiros e a G∈ , então: i) m n m na a a +⋅ = ii) 1( )m ma a− −= iii) ( )m n m na a ⋅= Dem: i) Demonstraremos pelo seguinte raciocínio, pois 0n ≥ e 0m n+ ≥ será por indução sobre n . Vejamos: Para 0 0n = temos: 0 0m m m ma a a e a a+⋅ = ⋅ = = Logo, é verdadeiro. Suponhamos por indução para todo 0n ≥ temos que: m k m ka a a +⋅ = com n k= . Vamos provar para 1n k= + ; Multiplicando a na hipótese de indução temos: 1 1 1m k m k m k m k m k m ka a a a a a a a a a a a a a a+ + +⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ = Portanto, é válido para n∀ ∈N tal que: m n m na a a +⋅ = ii) Considerando G um grupo multiplicativo, seja a G∈ . 0m m m ma a a a e− −⋅ = = = m ma a e−∴ ⋅ = Logo, 1 1( )m m m ma a a ea −⋅ = ⋅ = . Assim, 1( )m m m ma a a a− −⋅ = ⋅ Como todo elemento do grupo é regular Logo, 1( )m ma a− −= iii) Por indução sobre n , para 1n ≥ temos: 1 1( )m m ma a a ⋅= = que é válido. Suponhamos por indução que para n k= , 1n∀ ≥ temos 23 2010 ( )m k m ka a ⋅= Vamos provar para 1n k= + 1 1 1 ( 1)( ) ( ) ( )m k m k m m k m m k m m ka a a a a a a+ ⋅ ⋅ ⋅ + ⋅ += ⋅ = ⋅ = = Logo, é válido que ( )m n m na a ⋅= Definição 2: Seja G um grupo aditivo. Se a G∈ e m é um número inteiro, o múltiplo m-ésimo de a é o elemento de G denotado por m a⋅ definido da seguinte maneira: • Se 0m ≥ ; 0 a e⋅ = (elemento neutro de G ) ( 1)m a m a a⋅ = − ⋅ + , se 1m ≥ • Se 0m < ; [( ) ]m a m a⋅ = − − ⋅ Proposição 2: Seja G um grupo aditivo. Se m e n são números inteiros e a G∈ , então: i) ( )m a n a m n a⋅ + ⋅ = + ⋅ ; ii) ( ) ( )m a m a− ⋅ = − ⋅ ; iii) ( ) ( )n m a n m a⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ . Essa proposição não será demonstrada porque são axiomas dos números reais. i) É a propriedade distributiva. ii) É a regra de sinais na multiplicação, pois o produto de um fator negativo com outro fator positivo é negativo. iii) É a propriedade associativa para a multiplicação. Obs: Neste tópico, vimos que o grupo multiplicativo está relacionado com potências e o grupo aditivo com múltiplos. 3.2 - Grupos Cíclicos Se a é elemento de um grupo G , denotaremos por [ ]a o subconjunto de G formado pelas potências inteiras de a , ou seja, [ ] { / }ma a m= ∈Z . Esse subconjunto de G nunca é vazio, pois e , o elemento neutro de G , pertence a ele, uma vez que 0e a= . Proposição 3: i) O subconjunto [ ]a é um subgrupo de G ; ii) Se H é um subgrupo de G ao qual a pertence, então [ ]a H⊂ . Dem: i) Como já observamos, [ ]a ≠ ∅ . Sejam, pois u e v elementos de [ ]a . Então nu a= e nv a= , para convenientes inteiros m e n . Daí, 1 1( )m n m n m nu v a a a a a− − − −⋅ = ⋅ = = . Isso mostra que 1 [ ]u v a−⋅ ∈ . De onde, [ ]a é um subgrupo de G . ii) Se a H∈ , então toda potência de a também pertence a H e, portanto, [ ]a H⊂ . 24 2010 Definição 3: Um grupo multiplicativo G será chamado grupo cíclico se, para algum elemento a G∈ , se verificar a igualdade [ ]G a= . Nessas condições, o elemento a é chamado gerador do grupo G . Obs: Podemos dizer que um grupo multiplicativo G é cíclico significa dizer que { / }G m a m= ⋅ ∈Z , para algum a G∈ . E no caso aditivo significa que G inclui um elemento a tal que { / }G m a m= ⋅ ∈Z . Exemplo: O grupo aditivo Z é cíclico, pois todos os seus elementos são múltiplos de 1 ou de -1. De fato, { 1/ }m m= ⋅ ∈Z Z ou { ( 1) / }m m= ⋅ − ∈Z Z . Portanto, [1] [ 1]= = −Z Podemos concluir que os números 1 e -1 são únicos geradores de Z . Proposição 4: Todo subgrupo de um grupo cíclico é também cíclico. Não iremos demonstrar, mas, veremos um exemplo prático desse resultado. Exemplo: Devido à proposição anterior, pode-se garantir que um subconjunto não vazio H ⊂ Z é um subgrupo de ( , )+Z se, e somente se, [ ]H m= , para algum inteiro m H∈ . Portanto, os subgrupos de Z são: [0] {0}= , [1] [ 1]= − = Z , [2] [ 2] {0, 2, 4, }= − = ± ± , [3] [ 3] {0, 3, 6, }= − = ± ± , [4] [ 4] {0, 4, 8, }= − = ± ± , etc. 3.3 - Classificação dos Grupos Cíclicos Seja [ ]G a= um grupo cíclico. Se ocorrer o caso que 1raa≠ sempre que 1r ≠ e se cumpre a condição que uma aplicação :f G→Z definida por ( ) rf r a= é um isomorfismo de grupos. Logo, esses grupos são chamados de grupos cíclicos infinitos. Se o caso em que r sa a= ocorre para algum par de inteiros distintos, r e s . Esses grupos são chamados de grupos cíclicos finitos. Proposição 5: Seja a um elemento de período 0h > de um grupo G . Então ma e= se, e somente se, |h m . Dem: ( )⇒ Devemos usar o algoritmo euclidiano com m como dividendo e h como divisor: (0 )m hq r r h= + ≤ < Então: ( )m h qr h qr h q r q r r re a a a a a a e a e a a+= = = ⋅ = ⋅ = ⋅ = ⋅ = Ou seja, ra e= . Como não se pode ter 0r > , pois isso contraria a hipótese de que o período de a é h , então 0r = e, portanto, m hq= . De onde, |h m . ( )⇐ Se |h m , então m hq= , para algum q∈Z . Então: ( )m hq h q qa a a e e= = = = 25 2010 Exemplo 1: Verifique se 12Z é um grupo cíclico em relação à adição. 0 1 2 3 121 {1 , 1 , 1 , 1 , } {0, 1, 2, 3, 4, ,11}〈 〉 = = = Z ¨ Portanto, 1〈 〉 gera o 12Z , logo é cíclico. Exemplo 2: Quem são os geradores de 12Z . Sabemos que é um grupo cíclico, então sabemos que 1 é gerador. 0 {0}〈 〉 = 121〈 〉 = Z 2 {0, 2, 4, 6, 8,10}〈 〉 = 3 {0, 3, 6, 9}〈 〉 = 4 {0, 4, 8}〈 〉 = 125 {0, 5,10, 3, 8, 1, 6,11, 4, 9, 2, 7}〈 〉 = = Z 6 {0, 6}〈 〉 = 127 {0, 7, 2, 9, 4, 1,1 0, 5, 3, 6, 8, 9}〈 〉 = = Z 8 {0,10, 8, 6, 4, 2}〈 〉 = 129 {0, 1, 2, 3, ,11}〈 〉 = = Z Portanto os geradores de 12Z são 1, 5, 7 e 11 26 2010 4 - CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE 4.1 - Classes Laterais Proposição 1: i) A relação R sobre G definida por “ aRb se, e somente se, 1a b H− ∈ ” é uma relação de equivalência. ii) Se a G∈ , então a classe de equivalência determinada por a é o conjunto { / }aH ah h H= ∈ . Dem: i) Como 1e a a H−= ∈ , então aRa e, portanto, vale a reflexividade. Se aRb então 1a b H− ∈ , mas sendo H um subgrupo de G , então 1 1 1( )a b b a H− − −= ∈ . Isso mostra que bRa e, portanto, que a simetria também se verifica para R . Suponhamos que aRb e bRc , então 1a b− , 1b c− daí, 1 1 1 1 1 1( )( )a b b c a b bc a ec a c H− − − − − −= = = ∈ Logo, aRc , de onde a transitividade é válida. ii) Seja a a classe de equivalência do elemento a . Se x a∈ , então xRa , ou seja, 1x a H− ∈ . Portanto 1x a h− = , para um elemento h H∈ . Mas 1x ah−= e, portanto, x aH∈ , uma vez que 1h H− ∈ . Por outro lado, se x aH∈ , então x ah= , para algum h H∈ . Daí, 1 1x a h H− −= ∈ e, portanto, xRa , de onde, x a∈ . Segue que a aH= . Definição 1: Para cada a G∈ , a classe de equivalência aH definida pela relação R introduzida na proposição 1 é chamada classe lateral à direita, módulo H , determinada por a . Uma decorrência imediata da proposição anterior é que o conjunto das classes laterais à direita, módulo H , determina uma partição em G , ou seja: A) Se a G∈ , então aH ≠ ∅ B) Se ,a b G∈ , então aH bH= ou aH bH∩ =∅ C) A união de todas as classes laterais é igual a G . O conjunto quociente de G por essa relação, denotado por /G H é o conjunto das classes laterais ( )aH a G∈ . Um dos elementos desse conjunto é o próprio H , pois H eH= . De maneira análoga se demonstra que a relação R definida por “ aRb se, e somente se, 1ab H− ∈ ” também é uma relação de equivalência sobre o grupo G . Só que, neste caso, a classe de equivalência de um elemento a G∈ é o subconjunto { / }Ha ha h H= ∈ , chamado classe lateral à esquerda, módulo H, determinada por a . É claro que, se G for comutativo, então aH Ha= , para qualquer a G∈ . 27 2010 Exemplo 1: No grupo multiplicativo {1, 1, , }G i i= − − das raízes quárticas da unidade, considere o subgrupo {1, 1}H = − . As classes laterais são: 1 {1 1,1 ( 1)} {1, 1}H = ⋅ ⋅ − = − ( 1) {( 1) 1, ( 1) ( 1)} { 1,1}H− = − ⋅ − ⋅ − = − { 1, ( 1)} { , }iH i i i i= ⋅ ⋅ − = − ( ) {( ) 1, ( ) ( 1)} { , )}i H i i i i− = − ⋅ − ⋅ − = − Logo, 1 ( 1)H H= − e ( )iH i H= − Portanto, / {1 , }G H H iH= Essas duas classes laterais unidas coincidem com o grupo G . Exemplo 2: Seja G o grupo aditivo 6Z . Para facilitar, escreveremos os elementos de 6Z sem os traços, ou seja, 6 {0,1,2,3,4,5}=Z . Considerando o subgrupo {0,3}H = , temos: 0 {0,3}H H+ = = 1 {1,4}H+ = 2 {2,5}H+ = A reunião dessas 3 classes é igual a G . Portanto, / { ,1 , 2 }G H H H H= + + . Exemplo 3: Considere o grupo multiplicativo ∗R dos números reais e H o subgrupo formado pelos números reais estritamente positivos, ou seja, { / 0}H x x∗= ∈ >R . Como aH H= , se 0a > e { / 0}aH x x∗= ∈ <R , se 0a < então / H∗R é formado por duas classes: a dos números reais maiores que zero e a dos números reais menores que zero. Proposição 2: Seja H um subgrupo de G . Então duas classes laterais quaisquer módulo H têm a mesma cardinalidade. Dem: Dadas duas classes laterais aH e bH , temos que mostrar que é possível construir uma aplicação bijetora :f aH bH→ . Lembrando a forma geral dos elementos dessas classes, é natural definir f da seguinte maneira: ( )f ah bh= , para qualquer h H∈ . Sem maiores dificuldades, prova-se que f é injetora e sobrejetora. De fato: (Injetora) Se 1,h h H∈ e 1( ) ( )f ah f ah= , então 1bh bh= , como, porém, todo elemento de G é regular, então 1h h= . (Sobrejetora) Seja y bH∈ . Então y bh= , para algum h bH∈ . Tomando-se x ah aH= ∈ , então ( ) ( )f x f ah bh y= = = . Em particular, todas as classes têm a mesma cardinalidade de H eH= ( e = elemento neutro). Obviamente, se G é um grupo finito, então o conjunto /G H também é finito. O número de classes distintas do conjunto /G H é chamado índice de H em G é denotado por ( : )G H . Então, no exemplo 1, ( : ) 2G H = , no exemplo 2, ( : ) 3G H = , no exemplo 3, ( : ) 2G H = . 28 2010 Devido ao fato de 1aH Ha−→ é uma aplicação bijetora, como já observamos, então o índice de H em G é o mesmo, quer se considerem classes laterais à direita ou à esquerda, módulo H . 4.2 - O Teorema de Lagrange Proposição 3: (Teorema de Lagrange): Seja H um subgrupo de um grupo finito G . Então ( ) ( ) ( : )o G o H G H= e, portanto, ( ) / ( )o H o G . Dem: Suponhamos ( : )G H r= e seja 1 2/ { , , , }rG H a H a H a H= . Então devido à proposição 1, 1 2 rG a H a H a H= ∪ ∪ ∪ e i ja H a H∩ =∅ , sempre que i j≠ . Mas, devido à proposição 2, o número de elementos de cada uma das classes laterais é igual ao número de elementos de H , ou seja, é igual a ( )o H . Portanto, ( ) ( ) ( ) ( )o G o H o H o H= + + + em que o número de parcelas é ( : )r G H= . De onde: ( ) ( : ) ( )o G G H o H= e ( ) / ( )o H o G . Corolário 1: Seja G um grupo finito. Então a ordem (período) de um elemento a G∈ divide a ordem de G e o quociente é ( : )G H , em que [ ]H a= . Dem: Basta lembrar que a ordem de a é igual à ordem de [ ]a o que, devido ao Teorema de Lagrange: ( ) ( : ) ([ ])o G G H o a= . Corolário 2: se a é um elemento de um grupo finito G , então ( )o Ga e= (elemento neutro do grupo). Dem: Seja h a ordem de a . Portanto, h é o menor inteiro estritamente positivo tal que ha e> (elemento neutro do grupo). Mas devido ao corolário anterior: ( ) ( )o G G H h= : em que [ ]H a= . Portanto ( ) ( : ) ( : ) ( : )( )o G G H h h G H G Ha a a e e= = = = . Corolário 3: Seja G um grupo finito cuja ordem é um número primo. Então G é cíclico e os únicos subgrupos de G são os triviais, ou seja, { }e e o próprio G . Dem: Seja ( )p o G= . Como 1p > , o grupo G possui um elemento a diferente do elemento neutro. Assim, se [ ]H a= , pelo Teorema de Lagrange garante que ( ) /o H p . Logo, ( ) 1o H = ou p e, portanto, { }H e= ou H G= . Como a primeira dessas hipóteses é impossível, então G H= e, portanto, G é cíclico. Por outro lado, se J é um subgrupo de G , então, ainda devido ao Teorema de Lagrange, ( ) / ( )o J o G . Daí, ( ) 1o J = ou p e, portanto, { }J e= ou J G= . Exemplo 1: Determine todas as classeslaterais de {0, 3, 6, 9}H = no grupo aditivo 12Z . Logo, vamos encontrar as classes laterais, módulo H . 0 {0, 3, 6, 9}H H+ = = 1 {1, 4, 7,10} 1H H+ = = + 2 {2, 5, 8,11} 2H H+ = = + 29 2010 Portanto, 12 / { ,1 , 2 }H H H H= + +Z Exemplo 2: Determine todas as classes laterais de 4Z no grupo aditivo Z . Lembrando que 4 {0, 4, 8, 12, }= ± ± ± Z . Temos que 0∈Z vamos verificar se será uma classe lateral módulo 4Z 0 4 {0, 4, 8, 12, }+ = ± ± ± Z 1 4 { , 3,1,5,9,13, }+ = − Z 2 4 { , 2,2,6,10,14, }+ = − Z 3 4 { , 1,3,7,11,15, }+ = − Z Podemos concluir que a união destas 4 classes resulta no conjunto dos Z . Portanto, / 4 {4 ,1 4 ,2 4 ,3 4 }= + + +Z Z Z Z Z Z . Exemplo 3: Sendo {0, , 2 , }H m m= ± ± , m∈Z , um subgrupo do grupo aditivo Z , mostre que {0, 1, , 1} mm − = Z é o conjunto das classes laterais de H . Logo, ( : )H m=Z . Dem: Vamos mostrar que mZ é o conjunto das classes laterais de H . Sendo ( : )H m=Z . Teremos m classes laterais de H . 0 {0, , 2 , } 0H m m+ = ± ± = 1 {1, 1, 2 1, } 1H m m+ = ± + ± + = 2 {2, 2, 2 2, } 2 1 { 1, 1, 2 1, } 1 H m m m H m m m m m m + = ± + ± + = − + = − ± + − ± + − = − Portanto, mZ é o conjunto das classes laterais de H . Exemplo 4: Considerando Z como subgrupo do grupo aditivo Q , descreva as classes (-1)+Z e 1 2 +Z . m∀ ∈Z , temos ( 1) ( 1) 1m m+ − = + − = − =Z Z ( 1)∴ + − =Z Z Agora, 1 1 2 1/ / 2 2 2 nn n n+ + = + ∈ = ∈ Z Z Z 1 2 1, 2 2 n n+∴ + = ∈Z Z 30 2010 BIBLIOGRAFIA L. H. Jacy Monteiro: Elementos de Álgebra – c 1969, Livros Técnicos e Científicos. Editora, Rio de Janeiro. GARCIA, Arnaldo. Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro: Projeto Euclides, 2006 – 03 ex. DOMINGUES, Hygino H. e IEZZI, Gelson. Álgebra Moderna, 4 ed. São Paulo: Editora Atual, 2003. Abramo Hefez Curso de Álgebra, V.1 – Editora SBM, Rio de Janeiro, 2002. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 1 - GRUPOS E SUBGRUPOS 1.1 - Conceito de Grupo 1.2 - Propriedades imediatas de um grupo 1.3 - Grupos Finitos 1.4 - Alguns Grupos Importantes 1.4.1 - Grupo Aditivo dos Inteiros (comutativo) 1.4.2 - Grupo Aditivo dos Complexos (comutativo) 1.4.3 - Grupo Multiplicativo dos Racionais (comutativo) 1.4.4 - Grupo Aditivo de Matrizes m x n (comutativo) 1.4.5 - Grupos Lineares de Grau n (multiplicativo, Não Comutativo se ) 1.4.6 - Grupos Aditivos de Classes Restos (Comutativo) 1.5 - Subgrupos 2 - HOMOMORFISMOS E ISOMOSFISMOS 2.1 - Homomorfismo de Grupos 2.2 - Proposições Sobre Homomorfismo de Grupos 2.3 - Núcleo de um Homomorfismo 2.4 - Isomorfismos de Grupos 3 - GRUPOS CÍCLICOS 3.1 - Potências e Múltiplos 3.2 - Grupos Cíclicos 3.3 - Classificação dos Grupos Cíclicos 4 - CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE 4.1 - Classes Laterais 4.2 - O Teorema de Lagrange BIBLIOGRAFIA
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