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Estruturas Algébricas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Ana Paula Teles de Oliveira Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Subgrupos e homomorfismo de grupos • Subgrupos e homomorfismo de grupos • Homomorfismo de Grupos · Nesta Unidade, estudaremos alguns subconjuntos do grupo denominados subgrupos. Estudaremos também algumas aplicações de grupos, denominados homomorfismos. Sobre esses assuntos, veremos algumas propriedades. Ao término deste estudo, esperamos que você consiga distinguir subgrupos e homomorfismo de grupos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Para um bom aproveitamento da aula, realize a leitura integral do conteúdo teórico, acompanhando e refazendo os exemplos resolvidos. Quando aparecer alguma dúvida, entre em contato com seu(sua) tutor(a) utilizando a ferramenta Mensagens ou o Fórum de Dúvidas. ORIENTAÇÕES Subgrupos e homomorfi smo de grupos UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos Contextualização História da formação do conceito do polinômio Vimos que um grupo é um conjunto com uma operação com certas propriedades. Um subgrupo é um subconjunto do grupo que também é um grupo. O conceito de subgrupo aparece nos trabalhos de Galois sobre o grupo de permutações. Como já contamos essa história e continuaremos falando nesta unidade sobre grupos e subgrupos, falaremos da história do conceito de polinômio. Você se lembra do conjunto dos polinômios? Pois bem, o conjunto dos polinômios com a operação adição é um grupo. Alguns subgrupos desse grupo são os complexos, reais e racionais com a operação adição. Discorreremos sobre como foi a formalização do conceito dos polinômios. Durante muito tempo, a notação para indicação de expoente foi se modificando até chegar aos nossos dias. Podemos citar Diophanto, no século IV, que utilizava termos como quadrado, cubo, quadrado-quadrado, quadrado-cubo, cubo-cubo, para representar as potências quadrado, cubo, quarta, quinta, sexta, respectivamente. No século XV, Nicolas Chuquet utilizou uma notação para expoente diferente da Diophanto para descrever expressões. Como exemplo, podemos citar 123 para a representação 12x3, ou ainda, 71m 1* para a representação de 7-1. Porém, quem inicialmente apresentou o conceito de polinômios foi Simon Stevin. Em 1585, ele escreveu um livro em que utiliza uma notação para a representação de várias potências de uma variável. Para representar x, x2, x3, etc. ele utilizava 1 , 2 , 3 , etc. Por exemplo, o polinômio 2 x3 + x2 + 5x + 4 seria representado por: 2 3 +1 2 +5 1 +4 0 Neste livro, essas expressões aparecem como multinômios. Ali encontramos como operar dois multinômios. Ao compará-los com os números, Simon Stevin percebeu várias propriedades semelhantes – inclusive como tirar o máximo divisor comum de dois multinômios. É importante destacar que Stevin, ao considerar os multinômios como novos objetos matemáticos, estudou as operações entre eles. Outro fator relevante é que esses foram os primeiros passos para que a resolução de equações dependesse do grau da equação, e não dos valores dos coeficientes numéricos, como se acreditava. Esses destaques foram importantes para a álgebra abstrata. *Alguns matemáticos, para representar a operação subtração, utilizavam a letra m, pois a mesma era a inicial da palavra latina minus. 6 7 Subgrupos e homomorfi smo de grupos Subgrupos Sabemos que um grupo é um conjunto não vazio com algumas propriedades, e que todo conjunto tem subconjuntos. A nossa atenção nesta unidade será voltada aos subconjuntos do grupo que possuem a mesma estrutura do grupo. Esses subconjuntos são denominados subgrupos. Consideremos os conjuntos numéricos. Alguns dos que estudamos durante a nossa vida escolar são os conjuntos dos números naturais, representados por N, o dos números inteiros, representados por Z, dos números reais, representados por R. Sabemos que o conjunto dos números naturais é um subconjunto dos inteiros que, por sua vez, é um subconjunto dos reais: N ⊂ Z ⊂ R Ao estudarmos grupos, vimos alguns grupos aditivos, (Z,+) e (R,+), que possuíam o mesmo elemento neutro, o número 0. Por outro lado, vimos que N não era um grupo aditivo. Você consegue lembrar o motivo? Assim, dizemos que N não é subgrupo em (R, +), mas Z é um subgrupo de (R,+). Vejamos o conceito de um subgrupo: Seja (G,*) um grupo, dizemos que um subconjunto não vazio H de G é um subgrupo de G, se H com a mesma operação de G for um grupo; portanto, H é subgrupo de G se, e somente se, as seguintes condições são válidas: I) A operação * é fechada em H, ou seja, para quaisquer que sejam aH, bH ∈ H, têm-se aH * bH ∈ H; II) A operação * é associativa, ou seja, para quaisquer que sejam aH, bH, cH ∈ H, têm-se (aH*bH)*cH=aH*(bH*cH); III) O conjunto H possui elemento neutro, ou seja, existe eH ∈ H, tal que eH*aH = aH*eH = aH para todo aH ∈ H; IV) Todo elemento de H possui elemento inverso em H, ou seja, para todo aH ∈ H existe aH’ ∈ H, tal que aH*aH’ = aH’*aH = eH. Ao olharmos essas condições e as relacionarmos com as condições para um conjunto ser grupo, podemos fazer os seguintes questionamentos: 1) Será que o elemento neutro eH de H é necessariamente o mesmo elemento neutro e de G? Realmente isso é verdade. Para verificarmos, basta tomarmos a ∈ H ⊂ G, temos: a *eH = a 7 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos como a ∈ G existe o elemento inverso a’ ∈ G. Operando a’ na igualdade acima, temos: a’ *(a *eH) = a’*a (a’ *a) *eH = e e * eH = e eH = e. Portanto, o elemento neutro de H é o mesmo elemento neutro e de G. Importante! Um subgrupo H terá pelo menos o elemento neutro de G! Importante! 2) Será que o elemento inverso aH’ de um elemento a de H é necessariamente igual ao elemento inverso a’ de G? Essa reposta é verdadeira. Para tanto, seja aH’ o elemento inverso de a, temos: a * aH’ = eH Pois eH = e. a * aH’ = e. Como o G pode ser um grupo não abeliano, temos: aH’ * a = eH aH’ * a = e. Portanto, o elemento inverso de H será o mesmo de G. Ao retomarmos o conceito de subgrupo, notamos que para mostrar que H⊂G é um subgrupo será necessário que verifiquemos as quatro condições citadas anteriormente. Você se lembra de como, ao estudarmos grupos na unidade II, foi extenso verificarmos (C, +)? Ou ainda o (GL2(R),.)? Observamos que para grupos considerávamos 3 condições, mas para subgrupos precisamos verificar 4 condições, o que pode ser bem trabalhoso, dependendo do grupo em questão. Outra maneira de verificar se um conjunto será subgrupo é utilizando a próxima proposição, que diminui pela metade a quantidade de condições. Por esse motivo, iremos demonstrá-la. Proposição 1: seja G um grupo e H um subconjunto não vazio de G, H é um subgrupo de G se, e somente se, são satisfeitas as seguintes condições: a) A operação * é fechada em H, ou seja, para quaisquer que sejam a, b ∈ H, têm-se a * b ∈ H; 8 9 b) Para todo elemento de H o seu elemento inverso é elemento de H, ou seja, a’ ∈ H para todo a ∈ H. Faremos aqui uma demonstração dividida em duas partes: A primeira consiste em considerar H um subgrupo de G, então as condições a) e b) são satisfeitas. Na segunda, consideraremos como verdadeira as condições a) e b), então H é um subgrupo de G. Suponhamos que H é um subgrupo de G. Como H é subgrupo, então, a operação * de G é fechada em H, sendo verdadeira a condição a). A condição b) é satisfeita, pois vimos no segundo questionamento que o elemento inverso em H é o mesmo elemento inverso em G. Logo, são verificas as condições a) e b). Agora consideremos que são válidas as condições a) e b). Mostraremos que são válidas as condições para H ser subgrupo de G, então temos: • condição i) é valida, pois sabemos que a operação é fechada pela condição a); • condição ii) como os elementos de H são elementos de G, e em G vale a propriedade associativa, então vale a propriedade associativa em H; • condição iii) para mostrarmos que o elemento neutro e está em H, consideremosa ∈ H, por b) temos a’ ∈ H, então: a * a’ = e ∈ H; • condição iv) basta considerar a condição b). Portanto, H é um subgrupo de G Após a demonstração dessa proposição, podemos verificar que um conjunto de G será um subgrupo também, utilizando o conceito ou a preposição. Porém, utilizaremos a proposição por termos somente duas condições para verificar. Vejamos alguns exemplos: • (Z, +) é um subgrupo de (R, +), pois a adição é uma operação fechada em Z. Além do mais, os elementos inversos dos elementos de Z também são elementos de Z, pois -a ∈ Z para todo a ∈ Z; • N não é um subgrupo de (R, +), isso decorre por não valer a condição b), como por exemplo: 3 ∈ N, porém -3 ∉ N; • Seja 2Z= {x ∈ Z | x = 2m, m ∈ Z}, isto é, 2Z é o conjunto dos números pares; então, (2Z, +) é um subgrupo de (Z, +). Para verificarmos essa afirmação, consideramos a, b ∈ 2Z, tal que a = 2r e b = 2s. Temos: a + b = 2r + 2s = 2 (r+s) ∈ 2Z Logo, a adição é uma operação fechada em 2Z. Temos: –a = - (2r) = 2(-r) ∈ 2Z, para todo a ∈ 2Z 9 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos Logo, o elemento inverso –a pertence a 2Z. Portanto, 2Z é um subgrupo de Z. • Podemos generalizar o exemplo anterior, fixando n como um número inteiro. Temos (nZ, +) um subgrupo de (Z,+) – tente utilizar a proposição para conferir esse fato. • Se G é um grupo, temos os conjuntos {e} e G subgrupos de G, denominados subgrupos triviais. É importante destacar que o elemento inverso do elemento neutro é ele mesmo. Por que isso é verdade? Importante! Todo grupo possui subgrupos. Os subgrupos triviais. Importante! • Seja H ⊂ M2(R), tal que: H M a dR = + ={ ( )| }2 0( )a bc d Observamos que a + d = 0 se, e somente se, d = - a. Então, (H,+) é um subgrupo de (M2(R), +). Para verificarmos essa afirmação, consideremos A, B ∈ H, tal que A Bea e c g-a -e b f( () )= = Temos: + == = = = = H a a + e a + e b + f b + f (-a) + (-e) - (a + e) e c c + g c + g g-a -e b f( ( ( () ) ) ) ∈ A + B = Portanto, a adição é fechada em H. Vejamos se o inverso de A está em H, temos: -A = a-c -b-a( )∈ H Como as duas condições são verificadas, H é um subgrupo de M2(R). • Sejam H1, ..., Hn subgrupos de G, então: 10 11 ∩ ∩H1 Hn... Esse é um subgrupo de G, de fato, se a, b ∈ H1∩ ...∩ Hn por definição da interseção de conjuntos, os elementos a e b pertencem a cada subgrupo Hi, 1≤ i ≤ n . Como a operação * é fechada em cada subgrupo, temos: a * b ∈ Hi, 1≤ i ≤ n Logo, a * b ∈ H1∩ ...∩ Hn Portanto, a operação * é fechada em H1∩ ...∩ Hn. Como a ∈ H1∩ ...∩ Hn e cada Hi, 1≤ i ≤ n é subgrupo, temos: a’ ∈ Hi, 1≤ i ≤ n Logo, a’ ∈ H1∩ ...∩ Hn Portanto, o elemento inverso de a está em H1∩ ...∩ Hn. Verificando assim que H1∩ ...∩ Hn é um subgrupo de G. • Você se lembra do grupo simétrico Sn? Citaremos alguns subgrupos desse grupo. Primeiramente, considere um cubo, Figura 1: Figura 1: Cubo Observemos a simetria do cubo, esse poliedro é formado por 8 vértices equidistantes, mesma distância, e cada 4 vértices formam um quadrado, possuindo assim 6 faces. Considerando as 4 diagonais do cubo, Figura 2, podemos fazer rotações do espaço que levam o cubo nele mesmo. Essas rotações serão a operação em questão. 11 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos Figura2: As 4 diagonais do cubo Esse grupo é um subgrupo trivial de S4. Para mais detalhes, acesse o material intitulado: Grupos e Simetria. Ex pl or O mesmo processo pode ser feito com outros poliedros simétricos como o tetraedro, que possui quatro vértices e 4 faces, Figura 3: Figura 3: Tetraedro Considerando 2 eixos de simetrias, em que o primeiro liga duas arestas não adjacentes pelos seus pontos médios, Figura 4a, e o outro liga o vértice ao centro da face oposta, Figura 4b, teremos um subgrupo de S4, que não é um subgrupo trivial. A B Figura 4: Eixos de simetria do tetraedro. 12 13 Existem outros resultados que podem auxiliar a encontrar os subgrupos de um grupo. Não nos aprofundaremos nesse assunto por falta de tempo, mas queremos citar o teorema de Lagrange1, utilizado para grupos fi nitos. Por esse teorema sabemos que se H é subgrupo de G, então a ordem de H divide a ordem de G. GARCIA, A.; LEQUAIN, Y. Teoria Básica dos Grupos. In: Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2002. GONÇALVES, A. Grupos. In: Introdução à Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2003. Ex pl or Até este momento, estudamos grupos e subgrupos. Podemos também fazer uma aplicação de um grupo em outro, mas em nosso curso focalizaremos nas aplicações que também preservam a estrutura grupo. Esse assunto será tratado na próxima seção. Homomorfismo de Grupos As aplicações de uma estrutura algébrica em outra estrutura semelhante que a preserva são denominadas de homomorfismos. Como estudamos grupos, estaremos voltados aos homomorfismos de grupos. Considere os grupos (G, *), (J, Δ) e a aplicação f: G → J, dizemos que f é um homomorfismo, Figura 5, se f(x * y) = f(x) Δ f(y) para todo x, y ∈ G. Figura 5: Representação do homomorfismo de grupos f: G→F, onde (G,*) e (J, Δ). Vejamos alguns exemplos: • A função Id: (G, *)→(G, *) definida por Id(g) = g é um homomorfismo de grupo denominado homomorfismo identidade – observemos que Id é um homomorfismo bijetor; • A função f: (Z, +) → (Z, +) definida por f(x) = 3 x, sejam x, y ∈ Z, temos 13 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos f(x + y) = 3 (x + y) = 3x + 3y = f(x) + f(y) Logo, f é um homomorfismo – mostraremos que f é injetora. Para tanto, sejam x, y ∈ Z, tal que f(x) = f(y), temos: f(x) = f(y) 3x = 3y x=y Portanto f é injetora. Observemos que o conjunto imagem de f é o 3Z, ou seja, os múltiplos de 3. Como im f ≠ Z, temos que f não é sobrejetora; • A aplicação f: (R, +) → (R-{0}, .) definida por f(x) = 2x, sejam x, y ∈ R, temos: f(x+y) = 2x+y = 2x . 2y = f(x) . f(y) portanto, f é um homomorfismo. Observemos que a imagem de f é sempre um número positivo, portanto não são todos os elementos de R-{0}, ou seja, não é um homomorfismo sobrejetor. • A função f: (Z, +) → (C – {0}, .) definida por f(x) = ix. Sejam x, y ∈ R, temos: f(x+y) = ix+y = ix . iy = f(x) . f(y) logo f é um homomorfismo. Ao fazemos alguns cálculos: f(0) = i0 = 1, f(1) = i, f(2) = i2 = -1, f(3) = i3 = i2 . i = -i. f(4) = i4 = i2 . i2 = 1 f(5) = i5 = i4 . i = i Concluímos que f não é injetor, pois f(1) = f(5). Também f não é sobrejetora, pois a im f = {-1, 1, -i, i} ≠ C-{0}. • A função f: (R2, +) → (M2(R),+) definida por f((a, b)) = a -b b a( ) Sejam x, y ∈ R2, tais que x = (c, d) e y = (r, s), temos: x + y = (c,d) + (r, s) = (c+r, d+s) Assim, 14 15 f(x+y) = f((c+r, d+ s)) = c + r c + r c -d c + r c + r s r d + s d + s d c - (d + s) (-d) + (-s) r -s ( ( ( ) ) ) = f((c, d)) + f((r, s)) = f(x) + f(y) Logo f é um homomorfismo. Esse homomorfismo é injetor, como mostramos a seguir: Sejam x, y ∈ R2, tais que se f(x) = f(y), onde x = (c, d) e y = (r, s). Como f(x) = f(y), temos: f((c, d)) = f((r,s)) Então, =c r d sc r -d -s( () ) Assim, c = r d = s -d = -s Ou seja, (c, d) = (r, s). Portanto, x = y. Porém f não é sobrejetora. Observamos que 1 2 1 2( ) ∈ M2(R), mas 1 2 1 2( ) ∉ Im f. Existem alguns resultados interessantes sobre o homomorfismo que abordaremos neste momento. A primeira proposição fala o que ocorre ao aplicar um homomorfismo no elemento neutro do grupo. Proposição 2: considere os grupos (G, *) e ( J, Δ) com seus respectivos elementos neutros eG e eJ, se f: G → J é um homomorfismo de grupo, então f(eG) = eJ. Demonstração: Para a demonstração dessa Proposição, utilizaremos o conceito de elemento neutro e do homomorfismo de grupos. Temos: = = = = = = ) (+ 15 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos f(eG) = f(eG * eG) = = f(eG)Δ f(eG) Como f(eG) = f(eG)Δ eJ, temos: f(eG)Δ eJ = f(eG)Δ f(eG) Logo, f(eG)= eJRepresentamos a proposição 2 na Figura 6. G eG eJ Jƒ Figura 6: Representação de f(eG) = eJ. Entendeu esse resultado? Para tanto, vejamos uma maneira de aplicá-lo. Consideremos f: (R, +) → (R-{0}, .), definida por f(x) = 2x. Anteriormente provamos que f é homomorfismo de grupo. Sabemos que o elemento neutro em (R, +) é o número 0 e o elemento neutro em (R-{0}, .) é o número 1. Então, a proposição afirma que f(0) = 1. Será que é realmente válido? Verifique se essa afirmação é verdadeira! A próxima proposição fala sobre quando um homomorfismo é aplicado em um elemento inverso. Proposição 3: Considere os grupos (G, *) e ( J, Δ). Se f: G → J é um homomorfismo de grupo, então f(a’) = (f(a))’. Demonstração: Para demonstrarmos, utilizaremos a Proposição 2, os conceitos de elementos neutros, elemento inverso e homomorfismo de grupos. Temos: eJ = f(eG) = = f (a * a’) = f(a) Δ f(a’) Logo eJ = f(a) Δ f(a’) Como eJ = f(a)Δ(f(a))’, temos f(a) Δ f(a’) = f(a)Δ(f(a))’ Portanto, f(a’) = (f(a))’. 16 17 Representamos essa proposição na Figura 7. G a ƒ(a) Jƒ a’ (ƒ(a))’ Figura 7: Representação f(a’) = f(a)’ Exemplificamos essa proposição com o homomorfismo f: (R, +) → (R-{0}, .) definida por f(x) = 2x. O elemento inverso de 5 em (R, +) é – 5 e o elemento inverso de a em (R-{0}, .) será 1/a. Assim a proposição afirma que: f f ( ) ( ) − = =5 1 5 1 25 Será que realmente isso acontece? Confira se isso é realmente válido! Ao trabalharmos com o conceito de função, enunciamos alguns conjuntos, como, por exemplo, o conjunto imagem da função. O próximo resultado falará sobre o conjunto imagem de um homomorfismo. Propriedade: Considere os grupos (G, *) e ( J, Δ). Se f: G → J é um homomorfismo de grupo, então Im f = { j ∈ J| j = f(g) para algum g ∈ G} é um subgrupo de J. Demonstração: Utilizaremos a Proposições 1, 3 e o conceito de homomorfismo para demonstrarmos. Sejam i, j ∈ Im f, tal que i = f(h) para algum h ∈ G j = f(g) para algum g ∈ G. Vejamos se a operação Δ é fechada em Im f. Assim, i Δ j = f(h) Δ f(g) = = f(h* g) f é homomorfi smo de grupos!!! 17 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos Logo i Δ j = f(h*g), com h*g ∈ G. Assim i Δ j ∈ Im f, ou seja, a operação Δ é fechada em Im f. Falta verificar que o elemento inverso de i, representado por i’, pertence a Im f. Como i = f(h), temos i’ = (f(h))’ = f(h’). Proposição 3: f(a’) = (f(a))’. Portanto, Im f é um subgrupo do grupo J. Ilustremos essa propriedade com o seguinte homomorfismo f: (Z, +) → (Z, +) definida por f(x) = 3 x. Observemos que Im f = 3 Z. Anteriormente, deixamos para você conferir que para n um número inteiro qualquer, temos (nZ, +) como um subgrupo de (Z,+), portanto, (Im f, +) é um subgrupo de (Z,+). Neste momento, estudaremos um conjunto denominado núcleo de um homomorfismo. Consideremos os grupos (G, *) e ( J, Δ) e eJ o elemento neutro de J. Seja f: G → J um homomorfismo de grupo, denominamos o conjunto N(f) = { g ∈ G | f(g) = eJ } como núcleo de f. Importante! O conjunto N(f) é não vazio! Não se esqueça que eG ∈ N(f) Importante! Vejamos alguns exemplos de N(f): Consideremos o homomorfismo f: (R, +) → (R-{0}, .) definida por f(x) = 2x. Para encontrarmos o N(f), precisamos encontrar os elementos em que a imagem será o elemento neutro de R-{0}. Como 1 é o elemento neutro, basta resolvermos a equação 2x = 1. Dessa forma, concluímos que o núcleo de f é o conjunto unitário: N(f) = {0} Agora apresentaremos um exemplo em que N(f) não é um conjunto unitário. Seja o homomorfismo f: (Z, +) → (C – {0}, .) definida por f(x) = ix. Para encontrarmos o núcleo de f, é necessário encontrar quais os números inteiros em 18 19 que a imagem será o elemento neutro em C-{0}. Como 1 é elemento neutro de C-{0}, precisamos resolver a seguinte equação: ix = 1. Assim, concluímos que o núcleo de f é o conjunto N(f) = {..., - 8, -4, 0, 4, 8... } = 4 Z É interessante verificar que esse núcleo de f é um subgrupo do domínio de f, como é representado pela próxima proposição. Proposição 4: sejam os grupos (G, *) e ( J, Δ) e f: G → J um homomorfismo de grupos, então N(f) é um subgrupo de G. Demonstração: Para demonstrarmos que N(f) é um subgrupo de G, utilizaremos a proposição 2, ou seja, verificaremos que a operação * é fechada em G e, se o elemento a pertence a N(f) então, o elemento inverso de a também pertence a N(f). Provaremos que a operação * é fechada: sejam a, b ∈ N(f), então f(a) = eJ e f(b) = eJ. Como f é homomorfismo, temos: f(a*b) = f(a) * f(b) = eJ Δ eJ = eJ Portanto, a*b ∈ N(f), ou seja, a operação * é fechada. Seja a ∈ N(f), vejamos se a’ ∈ N(f). Temos: f(a’) = (f(a))’ = eJ’ = eJ Logo, a’ ∈ N(f). Demonstrando, assim, que N(f) é um subgrupo de G. Nos exemplos anteriores, escrevemos os núcleos do homomorfismo f. Observamos que realmente N(f) são exemplos de subgrupo de G. O estudo de homomorfismo de grupo é extenso, não nos aprofundaremos neste momento por falta de tempo. O principal objetivo ao estudar esse tópico é entender que o homomorfismo de grupo injetor e sobrejetor possui uma importância tão grande que o homomorfismo com essa característica é denominado isomorfismo. Quando existe um isomorfismo de grupos, dizemos que os dois grupos são isomorfos, ou seja, os dois grupos possuem a mesmas propriedades, e não é necessário fazer distinção entre eles. Essa é uma grande ferramenta em estudos na física e na química. Para aprofundamento, basta acessar os livros indicados na bibliografia. 19 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos Exemplos: 1) Considere o grupo G na tábua a seguir. Determine os subgrupos de G com dois ou três elementos. Δ e a b c d f e e a b c d f a a b c d f e b b c d f e a c c d f e a b d d f e a b c f f e a b c d Fonte: Adaptado de DOMINGUES, IEZZI, 2013 Para que um conjunto H seja um subgrupo de G, é necessário que Δ seja fechada em H e H seja um grupo. Logo, os subgrupos de G com dois e três elementos são {e, c} e {e, b, d}. 2) Seja f : Z2 → Z2 tal que f((x,y)) = (x – y, 0), mostre que f é um homomorfismo dos grupos aditivos Z2. Para mostrarmos que f é um homomorfismo de grupos, é necessário que verifiquemos que f preserva a estrutura do grupo aditivo Z2. Para tanto, sejam a, b ∈ Z2, tal que a = (a1, a2), b = (b1, b2), temos: f(a+b) = f((a1, a2)+(b1, b2)) = f ((a1 + b1, a2 + b2)) = (a1 + b1- (a2 + b2), 0) = (a1 - a2, 0) + (b1 - b2,0) = f((a1, a2)) + f((b1, b2)) = f(a) + f(b) Fonte: Adaptado de DOMINGUES, IEZZI, 2013 3) Determine o N(f) da função f definida no exercício 2. Seja (x,y) ∈ N(f), então f((x,y)) =(0,0). Como f((x,y)) = (x – y, 0), temos: x - y = 0 x = y Logo, N(f) = { (x, y) ∈ Z2| x = y}. 4) Determine 2 subgrupos do grupo aditivo Z2, que não sejam os subgrupos triviais. Como a f definida no exercício 2 é um homomorfismo de Z2 em Z2, pela teoria estudada, temos que N(f) e Im f são subgrupos de Z2. Então N(f) = { (x, y) ∈ Z2| x = y} e Im f = { (x, y) ∈ Z2| y = 0} são subgrupos de Z2. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Nesta unidade, estudamos subgrupos e homomorfismo de grupos. Para que você possa ampliar e aprofundar seus conhecimentos sobre exemplos de subgrupos, indicamos aqui algumas leituras. Livros Elementos de Álgebra Abstrata ALENCAR FILHO, E. 3. ed. São Paulo: Nobel, 1982. Álgebra Moderna DOMINGUES, H.H.; IEZZI, G. São Paulo: Atual, 2003. Elementos de Álgebra GARCIA, A.; LEQUAIN, Y. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2002. Introdução à Álgebra GONÇALVES, A. . Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2003. Tópicos de Álgebra HEIRSTEIN, I, N. . São Paulo: Editora da Universidade e Polígono, 1970. Iniciação às estruturas algébricas MONTEIRO, L. H. J. 6. ed. São Paulo: Nobel, 1973. Leitura Subgrupo de rotações do cubo e do tetraedro: SILVA, A. R. B.; MURAKAMI, L. S. I. Grupos e Simetria. Disponívelem: http://www.ime.usp.br/~cpq/main/arquivos/outros/Andre%20Ricardo%20Belotto%20da%20Silva.pdf 21 UNIDADE Subgrupos e homomorfismo de grupos Referências ALENCAR FILHO, E. Elementos de Álgebra Abstrata. 3. ed. São Paulo: Nobel, 1982. DOMINGUES, H.H.; IEZZI, G. Álgebra Moderna. São Paulo: Atual, 2003. GARCIA, A.; LEQUAIN, Y. Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2002. GONÇALVES, A. Introdução à Álgebra. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2003. HEIRSTEIN, I, N. Tópicos de Álgebra. São Paulo: Editora da Universidade e Polígono, 1970. MONTEIRO, L. H. J. Iniciação às estruturas algébricas. 6. ed. São Paulo: Nobel, 1973. Webgrafia SILVA, A. R. B.; MURAKAMI, L. S. I. Grupos e Simetria. Disponível em: http://www.ime.usp.br/~cpq/main/arquivos/outros/Andre%20 Ricardo%20Belotto%20da%20Silva.pdf Acesso em: 22 jul. 2015. 22
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