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AULA 4 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E COLABORATIVA Profª Marilene S. S. Garcia A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 2 TEMA 1 – INTRODUÇÃO A presente aula tem como objetivo trabalhar questões que alinham a aprendizagem colaborativa e a metodologia de projetos. É fundamental relacionar com mais profundidade esses dois assuntos, principalmente porque os projetos são considerados práticas bastante reconhecidas e disseminadas, de forma que passam por processos de aperfeiçoamento contínuos no âmbito educacional, expandindo-se para os contextos além da escola, no mundo profissional. Pensar em projetos já nos remete, em primeira linha, a um trabalho colaborativo em diferentes medidas e graus, os quais variam em dimensão, natureza, meta, participantes, processos avaliativos e validades. Enfim, o projeto de natureza colaborativa educa não só em termos de desenvolvimento de habilidades, conteúdos e práticas que levem à aprendizagem, desenvolvendo, por exemplo, a comunicação, formas de compartilhamento, pesquisa e soluções criativas, mas também em termos de posturas socioemocionais, como respeito a opiniões divergentes, reconhecimento e escuta do outro, negociação de pontos divergentes, entre outros aspectos que não só enriquecem as técnicas e os processos de ensino e aprendizagem, como também estendem-se a valores de cidadania, responsabilidade e respeito. TEMA 2 – O QUE É UM PROJETO A proposta de execução de um projeto em ambiente educacional reúne uma série de elementos que o definem como uma atividade que leva à aprendizagem, reunindo pressupostos de uma metodologia ativa e engajadora. Um projeto pode ter alguns elementos-chave, imprescindíveis para sua execução, como mostra a Figura 1: Figura 1 – Elementos-chave de um projeto educacional A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 3 Fonte: elaborado pela autora. A finalidade dos projetos implica sempre produzir algum diferencial de aprendizagem a partir de um questionamento, de um desafio, promovendo ações para o desenvolvimento de habilidades importantes para o século XXI, como o uso de linguagens e formatos variados, comunicação digital, compartilhamento, entre outros. O que está na essência de um projeto educacional? Para responder a essa questão, algumas ações devem ser destacadas: • professores e alunos devem se desafiar a construir conjuntamente algo novo na forma de pensar a aprendizagem participativa e colaborativa; • deve haver envolvimento em uma problemática real, capaz de ter soluções com as condições e recursos disponíveis. Ela pode ser relativa à maturidade dos alunos, ao grau de conhecimento prévio, entre outros; • utilizar o que já se domina, fazendo arranjos criativos para a demanda identificada. Esse processo demanda exploração de novos recursos, formatos e linguagens; • entender focos, ritmos, prazos e os trabalhos interativo, comunicativo e responsável; • aprofundar-se em novos letramentos para a construção das mensagens, como resultados do projeto; • utilizar formas que possam avaliar as proposições nascidas dos projetos, identificando pontos fortes e fracos, bem como o seu aprimoramento. Partir de algum questionamento Captar o interesse dos alunos de estudar novos assuntos Dar voz e escuta aos alunos ter início- desenvolvimento e fechamento A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 4 Para Bender (2015), os projetos podem ser trabalhados em quase todas as disciplinas escolares.1 Ainda segundo o autor, há dados de pesquisa que asseguram que a metodologia de projetos educacionais amplia a motivação. TEMA 3 – TERMOS USADOS E SUAS DEFINIÇÕES NA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS Os projetos são muito variados, porém, trazem alguns termos comuns, os quais reproduzimos no Quadro 1: Quadro 1 – Termos da aprendizagem baseada em projetos Fonte: adaptado de Bender, 2015, p. 16-17. 1 Bender (2015) reconhece que, dentre os projetos educacionais pesquisados, há uma ênfase em disciplinas como ciências e matemática. Termos para aprendizagem baseada em projetos Descritivo Âncora Base para formular a pergunta do projeto, pode ser, por exemplo, uma notícia de jornal, um vídeo interessante, uma situação política, de forma a preparar a reflexão sobre o problema a ser tratado no projeto. Artefatos São elementos desenvolvidos ao longo do projeto e que podem representar possíveis soluções para o referido problema. O termo artefato tem a ver com os diferentes formatos de solução, podendo ser um aplicativo, um vídeo, um objeto de aprendizagem, uma animação. Desempenho autêntico É o entendimento de que a aprendizagem como resultado do projeto se origina de cenários do mundo real, ou mesmo pode representar coisas que se espera que sejam realizadas no mundo real. Brainstorming Normalmente utilizado para que alunos e professores possam realizar um plano para executar as tarefas, quais são as ações necessárias para isso, e de que forma serão praticadas. Nesse caso, os alunos devem ser treinados a conhecer essa metodologia de brainstorming com os professores ou por outros meios, por exemplo, vídeos no Youtube, vídeos descritivos etc. Questão matriz Trata-se do questionamento principal que direciona o projeto, de forma que deve ser claramente explicitada e muito motivadora, despertando muito interesse de participar nos alunos. Aprendizagem expedicionária Trata-se de uma forma de realizar projetos que necessitam de deslocamentos na forma de excursões ou viagens, ou seja, idas a comunidades distantes para explorar locais e espaços para a execução do projeto. Voz e escolha do aluno Esse aspecto enfatiza a voz e o poder de decisão dos alunos frente a escolhas necessárias que devem ser feitas ao longo do projeto. Isso melhora a autoestima dos alunos e faz com que eles fiquem sempre envolvidos nos eventos do projeto. Ferramentas tecnológicas As ferramentas digitais tecnológicas devem facilitar o trabalho dos alunos de forma mais colaborativa, com o uso de aplicativos e suas funcionalidades que podem ser adequadas ao trabalho de projetos: pesquisas; publicações; checagem de fontes etc. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 5 Entende-se que todos esses elementos reunidos podem desencadear ações mais focadas em resultados de projetos, pois eles são bem abrangentes e com foco em possibilidades de práticas pedagógicas. No entanto, deve-se salientar que nem todos os projetos precisam, necessariamente, atender a esses termos, ficando à escolha por conta do principal objetivo do projeto e dos recursos que se vai utilizar. TEMA 4 – A PRÁTICA DE PROJETOS No caso do foco da colaboração, quando se trabalha com projetos na escola, adiciona-se a essa ideia a questão do trabalho em conjunto, da atividade em grupo, do uso de processos educacionais para que cheguem ao seu objetivo, extraindo de cada um de seus colaboradores, de aprendizes, o melhor que podem fazer, cooperativamente e colaborativamente, em termos de liderança, conhecimentos prévios, habilidades em geral, letramentos, comunicação interna ao grupo e externa a ele, interação, produção de mensagens em diferentes formatos e suportes, entre outros aspectos que qualificam a ação colaborativa. O desenvolvimento de projeto demanda também uma conduta ressignificada do professor. Assim, Behrens (1996, citada por Behrens, 2014) assevera: [...] a metodologia de projeto demanda por parte do professor orientador oportunizar situações de inovação e criatividade envolvendo discentes, favorecendo, dessa maneira, o processo dediálogo e construção do conhecimento, aliada ao posicionamento crítico, criativo e transformador. Assim, a metodologia de projetos implica mudança de ação docente, pois requer uma proposta que tenha foco a aprendizagem significativa, conectada com os interesses dos alunos e articulada com problemas reais que se apresentam na sociedade. (Behrens, 1996, p. 39, citada por Behrens, 2014, p. 105) Nesse caso, pode-se alinhar a aprendizagem baseada em projetos com a aprendizagem significativa, inserida nas práticas colaborativas. Assim, para Bender (2015): A aprendizagem baseada em projetos é um modelo de ensino que consiste em permitir que os alunos confrontem as questões e os problemas do mundo real que consideram significativos, determinando como abordá-los e, então, agindo cooperativamente na busca de soluções. (Bender, 2015, p. 9) Já Behrens (2014) e Moran, Masetto e Behrens (2000), buscando organizar os elementos que atuam no desenvolvimento e na aplicação de projetos em ambiente educacional, elaboraram um inventário de pressupostos que organizam A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 6 a implantação de projetos em sala de aula, englobando todas as suas fases, do início ao fim. Seus elementos são os seguintes: • programa de aprendizagem: o que se elege como foco de aprendizagem, a partir de etapas, prazos e recursos; • contrato didático com os alunos: trata-se da discussão dos aspectos propostos no programa de aprendizagem e de que forma os alunos poderão se alinhar a partir de seus discernimentos e escolhas. Constitui-se em um trabalho dialógico, crítico e com uso da reflexão; • discussão e levantamento da problematização do tema com os alunos: parte-se para o foco que busca enxergar a problematização e formas de encontrar soluções. É a fase desafiadora, e procura envolver os alunos no projeto; • contextualização: entende o entorno da questão, em que momento, em que contexto e o que está envolvido historicamente; • aulas teóricas exploratórias: o professor focaliza curadoria de conteúdos e habilidades necessárias para poder tratar do projeto específico. Essas aulas podem também ser conduzidas pelos alunos, desde que mostrem domínio da pesquisa e sejam orientados pelos professores; • pesquisa individual referente ao problema: essa etapa tem o objetivo de focar conteúdos que facilitarão o entendimento do problema, como levantamentos históricos e estatísticos, reportagens e textos previamente produzidos, que devem enriquecer o referencial de assuntos, beneficiando o coletivo; • produção individual: essa parte seria uma forma de atuação cooperativa no projeto colaborativo, em que as habilidades e os conhecimentos específicos são valorizados para o cumprimento de parte das tarefas. A produção individual bem-feita fortalece a solução criativa coletiva; • discussão crítica: essa parte trata do encontro dos pontos divergentes para que se chegue à convergência de ideias e se inicie a construção da solução conjunta e colaborativa; • produção coletiva: implica o trabalho efetivamente colaborativo em que se reúnem as produções individuais para o atingimento do propósito do projeto; • produção final: trata-se da fase de finalização, em que se busca contemplar os acessos, necessidades e um modo criativo de se propor uma A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 7 solução. Essa produção final deve ser divulgada entre todos da classe para que se passe à avaliação coletiva; • avaliação de aprendizagem: trata-se da fase de feedback avaliativo ao longo do processo de implantação do projeto. Portanto, é de característica contínua e gradual. É necessário acompanhar as performances individuais e coletivas; • avaliação coletiva: nesse momento, o professor colhe as impressões coletivas sobre a experiência de projeto e propõe novas atividades para melhorar o que não foi bem avaliado no processo, ao mesmo tempo em que coleta as sugestões de todos. TEMA 5 – DESAFIOS DOS PROFESSORES AO ADOTAR METODOLOGIAS DE PROJETOS COLABORATIVOS A implantação de projetos colaborativos no ambiente educacional exige uma série de medidas preparatórias e organizacionais, as quais darão mais chances de sucesso de implantação, desenvolvimento e finalização aos projetos. É necessário, antes de tudo, alinhar processos colaborativos decorrentes de outras atividades e trabalhar competências socioemocionais que equilibrem conflitos e dificuldades de relacionamentos. O professor deve estar sempre atento ao nível de envolvimento e de satisfação dos alunos, orientando-os e fazendo o monitoramento de todas as etapas. O espírito competitivo ocorrerá naturalmente entre as diferentes equipes, mas ele não deve ser maior do que o atingimento das metas estabelecidas e a satisfação de apresentar uma solução rica e adequada à meta a ser atingida. As primeiras conduções da metodologia de projetos colaborativos poderão criar uma certa insegurança no professor, pois é uma abordagem que dá espaço para o que não foi programado, para o imprevisto. Porém, ao replicá-lo, as novas experiências poderão ser mais consistentes e inovadoras, tanto na perspectiva do professor quanto na dos alunos Dessa forma, ainda poderemos alinhar algumas orientações para que esses desafios possam ser enfrentados com mais sucesso pelo professor: • inserir nos planos de ensino a proposta de projetos que poderão ser trabalhados no âmbito de toda escola, em algumas séries ou até mesmo em disciplinas específicas ou de forma interdisciplinar; A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 8 • ter e manter uma base dialógica já estabelecida entre professores e alunos e um clima favorável para desenvolver pesquisas em favor dos projetos; • ter acesso a bases de documentos da biblioteca física ou digital de forma a poder estimular os alunos a fazer consultas e ampliar suas referências; • ter em conta o tempo que os alunos levam para fazer as tarefas, dentro e fora da escola; • compreender que o processo do projeto é maior do que o seu desfecho em termos das aprendizagens que são trabalhadas em seu decorrer; • entender que os projetos colaborativos devem demandar uma forma também diferenciada de qualificar a avaliação, que está mais focada no fazer do projeto, na organização, na aquisição de novas habilidades; • trabalhar a superação de conflitos e o domínio de opiniões que possam ocorrer em seu percurso colaborativo. Contudo, esses desafios devem ser entendidos como uma forma de mudança e aprofundamento das estratégias de trabalho do professor, aumentando sua autoestima e ressignificando a sua atuação como educador. Os projetos fazem com que o professor caminhe lado a lado com os alunos. Como considerações finais desta aula, enfatizamos que a construção e a aplicação de projetos colaborativos está alinhada aos processos da aprendizagem significativa, principalmente por que levanta precedentes de conhecimentos dos alunos na escolha da temática e na problematização, valorizando tais conhecimentos. Outro aspecto a destacar é o de preparação dos alunos para o enfrentamento de questões emergentes, no sentido de trabalhar habilidades socioemocionais, interpessoais, de respeito a opiniões, relativas a ter voz e escuta e de criatividade, produzindo aprendizagens que sejam imprescindíveis para a vida. Os projetos colaborativos são parte das metodologias ativas e devem ser propostos, idealmente, focando problemáticas reais, as quais podem conduzir à motivação e ao engajamento maior dos alunos. A luno: E T E LV IN A R IB E IR O LIM A E m ail: ct.etelribeiro@ hotm ail.com 9 REFERÊNCIAS BEHRENS, M. A. Formação continuada dos professores e a prática pedagógica. Curitiba: Champagnat,1996. _____. Metodologia de projetos: aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa visão complexa. In: TORRES, P. L. (Org.). Complexidade: redes e conexões do conhecimento. Curitiba: SENAR, 2014. (Coleção Agrinho). Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2019. BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Tradução de Fernando S. Rodrigues. Porto Alegre: Penso, 2015. MARQUES, E. S. A.; CARVALHO, M. V. C. Prática educativa bem-sucedida na escola: reflexões com base em L. S. Vigotski e Baruch de Espinosa. In: Revista Brasileira de Educação, v. 22, n. 71, 2017. 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