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l 1 ,1 li li 1, li ll li 1: l ,,... """" CONSCIENCIA CRITICA E FILOSOFIA Filosofia, que palavra acertada! Todo o nosso saber sempre permanecerá filosofia, isto é, um saber sempre em progresso, cujo grau superior ou inferior devemos apenas ao nosso amor à sabedoria, à nossa liberdade. Schelling THINKSTOCKJGETTY IMAGES A filosofia não é uma atividade solitária, pois filosofar é conversar. A tarefa do filósofo é impedir que esse diálogo acabe. 1 DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA O ser humana como sistema aberto Nos primeiros capítulos desta unidade, estudamos dois aspectos fundamentais e característicos da exis- tência humana e da convivência social - a cultura e o trabalho-, pertencentes à esfera do fazer e do saber fazer. Passemos agora a outro aspecto, mais ligado à esfera do saber propriamente dito: a consciência. Mão com esfera refletora (1935) - M.C. Escher (litografia). Coleção Particular. O ser humano é o único ser dotado de consciência reflexiva, ou seja, ele é capaz de investigar sua própria consciência. Nessa imagem, observamos um autorretrato refletido em uma esfera de vidro, o que pode ser entendido como o pensamento debruçando-se sobre si mesmo, movimento característico da filosofia. Talvez nada caracterize melhor debruçar sobre si mesma para tomar posse de seu próprio saber, avaliando sua consistência, seu limite e seu valor. O animal sabe. Mas, certamente, ele não sabe que sabe: de outro modo, teria há muito multiplica- do invenções e desenvolvido um sistema de cons- truções internas. Consequentemente, permanece fechado para ele todo um domínio do Real, no qual nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexi- vos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não só simples mudança de grau, mas mudança de na- tureza, que resulta de uma mudança de estado. CHARDIN, T. O fenômeno humano. p. 187. O processo contínuo de conscientização faz do ho- mem, portanto, um sistema aberto, fundamentalme11te relacionado com o mundo e consigo mesmo. O ser hu- mano pode voltar-se para dentro de si, investigando seu íntimo. E projetar-se para fora, investigando o universo. Assim, a conscientização faz do homem um ser dinâmico, eterno caminhante destinado à procura e ao encontro da realidade. Caminhante cuja estrada é feita da harmonia e do conflito com o ser, o saber e o fazer, dimensões essenciais da existência humana. Despertar da consciência crítica Vimos que a consciência pode centrar-se sobre o próprio sujeito, sondando a interioridade, ou sobre os objetos exteriores, sondando a alteridade (do la- tim alter, "outro"). Há, portanto, duas dimensões com- plementares no processo de conscientização: consciência de si, isto é, a concentração da cons- ciência nos estados interiores do sujeito, que exi- ge ref1exão. Alcança-se, por intermédio dela, a dimensão da interioridade, que se o ser humano do que a consciên- cia, isto é, o desenvolvimento dessa 11'11' A consciência é a última manifesta através do processo de fa- lar, criar, afirmar, propor, inovar; atividade mental que nos permite e a mais tardia evolução estar no mundo com algum sa- da vida orgânica e, ber, "com ciência''. Por isso, biólogos consequentemente, o que classificaram o homem atual como há de mais frágil nela." sapiens sapiens: o ser que sabe que Nietzsche sabe. Isso significa que o homem é capaz de fazer sua inteligência consciência do outro, isto é, a con- centração da consciência nos objetos exteriores, que exige atenção. Alcan- ça-se, por intermédio dela, a dimen- são da alteridade, que se manifesta através do processo de escutar, ab- sorver, reformular, rever, renovar; CAPÍTULO J C:cr. 0 c;en::;; o despertar da consciência críti- ''Só o homem, pelo isolamento e do alheamento. É processo dialético, que se move do eu ao mundo e do mundo ao eu. Do fazer ao saber. E do saber ao refazer, e assim por diante. ca (ou senso crítico) depende do pensamento, tem crescimento dessas duas dimen- consciência de si." sões da consciência: a reflexão so- bre si e a atenção sobre o mundo. Se apenas um desses aspectos se desenvolve, há uma deformação, um abalo no desenvolvimento da consciência crítica. Suponhamos, por exemplo, o crescimento só da consciência do outro. Essa atenção unilateral ao mundo, sem reflexão sobre si mesmo, conduzi- r 1 d e~ p ~~ r e: 1 e Li 1 d e 11 ti d é:l d e p e s s o é:l 1, à ex a 1 ta ç ão cl os objetos externos, ao alhear-ner1to. f)or outro lado, imaginemos o crescimento só da consciência de si. Essa reflexão em torno do eu, sem atenção sobre o mundo, conduziria ao isolamento, ao fechamento interior, ao labirinto narcisista. O escritor alemão Wolfgang Goethe (1749- -1832) rlizia que o homem só conhece o mun- do dentro de si se toma consciência de si mesmo dentro do mundo. Assim, o desenvolvimento da conscientização humana depende da superação do UNIDADE 1 =~::1 ACA[J E REEEXAíl Jaspers JVIodos da consciência Geralmente relacionamos a consciência ape- nas à capacidade cognitiva, ou seja, à capacidade de apreensão intelectual de determinada realida- de. No entanto, o ser humano se relaciona com a realidade através de m 1~J!t: ser1t1dos e rnúitiplas capacidades. Por isso. podemos distinguir alguns modos da consciência que estabelecem essa rela- ção homem-mundo. Consciência mítica O termo mito tem diversos significados. Pode signi- ficar: uma ideia falsa, como quando se diz "o mito nazis- ta da superioridade racial dos germânicos"; uma crença exagerada no talento de alguém, como em "Elvis Presley foi o maior mito da música popular mundial"; ou ainda algo irreal e supersticioso, como o "mito do saci-pererê''. Quando falamos em mito em sentido antropoló- gico, aquele que nos interessa aqui, queremos nos referir às narrativas e ritos tradicionais, integrantes da cultura de um povo, principalmente entre as popu- lações primitivas e antigas, que utilizam elementos simbólicos para explicar a realidade e dar sentido à vida humana. Para o especialista romeno em história das religiões Mircea Eliade (1907-1986): "O mito conta uma história sagrada: ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial (. .. ).O mito narra como, graças às façanhas dos entes sobrenaturais, uma reali- dade passou a existir" (ELIADE, Mito e realidade. p. 11 ). Por meio dos mitos, os homens procuravam ex- plicar a realidade e, a partir dessa explicação, criavam meios para, por exemplo, se proteger dos males que os ameaçavam. Por intermédio de ritos sagrados, afir- mavam e renovavam suas alianças com os seres so- brenaturais e, com isso, produziam uma sensação de amparo diante dos perigos da vida. Detalhe de O rapto de Helena (1631) - Guido Reni. Museu do Louvre, Paris. O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) notou a semelhança entre os sonhos de seus pacientes e os mitos. Também percebeu que mitos de culturas distintas eram bastante parecidos entre si. Assim, formulou a teoria segundo a qual os mitos seriam manifestações de arquétipos (modelos) que surgem do inconsciente coletivo da humanidade. ~ 1 1 1 1 l ' Embora não fosse um conhecimento do tipo racional, conforme veremos adiante, a consciên- cia mítica mostrava-se operativa, isto é, trazia re- sultados, transmitindo valores e normas de con- duta desejados pelas sociedades. Nesse sentido, as lendas míticas de vá rios povos são ricas em metáforas e reflexões sobre os homens e sua con- dição no mundo. Consciência religiosa A consciência religiosa comr:i(lrti!ha com a c o n s c 1éne1 n 1T1 1 t : e ri u e 1 e rn e 1 : l u u o s o b r e 1v1t1 ! 1 cl 1, a crença em um pocier su ritcl 1stu é, a divindade. No entanto, é urna consciência que, historicamente, conviveu, dialogou edebateu com a razão filosófica e científica. Sua diferença em re- lação a esses saberes está na crença em verdades reveladas pela fé religiosa, enquanto a filosofia e a ciência se élpoiam sobretudo na razão pa1·a alcm- çar o conhecimento. Os longos debates travados entre os defensores da fé e os da razão, durante a Idade '' o ao contexto das experiências individuais, singulares. Ou seja, são aquelas "leituras de mundo" guiadas pelo conjunto de experiências de cada indivíduo e que, dessa forma, só podem ser "decifradas" a partir de suas vivências subjetivas. Em ambos os casos, a intuição tem um caráter sincrético, isto é, representa uma aglutinação de ele- mentos indistintos que, posteriormente, podem ser desdobrados em uma análise. Quando isso se der, es- taremos entrando no conhecimento racional. 0 filósofo f Jegel C011SidClcJ qlli..1 flc1 tléS ÇJI c:lllcJeS formas de compreensão do mundo, que seriam a religião, a arte e a filosona. A diferença entre elas estaria no seu modo de consciência: enquanto a religião apreende o mundo pela fé, a arte o faz pre- dominantemente pela intuição, e a fllosona, pelo conhecimento racio11éll. A consciência racional busca a compreensão da realidade por meio de certos princípios estabeleci- dos pela razão, como, por exem- tem razoes que a Média, não conseguiram conciliar satisfatoriamente esses dois ter- mos. No período seguinte, a discus- são prosseguiu entre os filósofos. razôo desconhece." plo, o de causa e efeito (todo efeito deve ter a sua causa). Essa busca racional se caracteriza- O francês René Descartes (1596- -1650), por exemplo, colocava a ênfase na razão, en- quanto o também francês Pascal fazia o contrapon- to ao afirmar que "o coração tem razões que a razão desconhece" (PASCAL, Pensamentos. p. 107), isto é, existem outras possibilidades de conhecimento das quais a razão não participa. Consciência intuitiva A intuição é uma forma de consciência que pode ser apontada como um saber imediato, ou seja, que ocorre como um insight. Desse modo, a intuição dis- tingue-se do conhecimento formal, reíletido, que se constrói através de argumentos. l lnsight: termo inglês que d. esigna a compreensão repentina de um problema ou situação É possível falar na existência de uma intuição sensível e uma intuição intelectual. O fllósofo grego Aristóteles se referia à intuição intelectual como o conhecimento imediato de algo universalmente vá- lido e evidente, que, posteriormente, poderia ser de- monstrado por meio de argumentos. Já a intuição sensível seria um conhecimento imediato restrito Pascal ria por pretender alcançar uma adequação entre pensamento e realidade, isto é, entre explicação e aquilo que se procura explicar. Para o racionalismo grego, de Platão a Aris- tóteles e outros, conhecer significava entender as causas. ( ... ) Para se conseguir definir o mundo em termos de causas, é essencial desenvolver a ideia de uma cadeia unilinear (. .. ) é necessá- rio supor uma série de princípios: o princípio de identidade (A = A), o princípio de não con- tradição (é impossível algo ser A e não ser A ao mesmo tempo) e o princípio do terceiro excluído (ou A é verdadeiro ou A é falso e não há tercei- ra possibilidade). A partir desses três princípios derivamos o modelo típico do pensamento ra- cional ocidental. ECO, U. Interpretação e superinterpretação. p. 31 e 32. O conhecimento racional é comum à ciência e à filosofia. Esses dois campos do saber racional se mantiveram bem ligados por muitos séculos, mas, principalmente, a partir da revolução c"1entífica, no século XVII, foram se distinguindo e hoje guardam características próprias. No entanto, permanecem atuais os diálogos entre filosona e ciência. 1 1 l 11 1 j: i Senso comum: o De maneira geral, os vários modos da consciência coexistem, em maior ou menor grau, quando emi- timos algum juízo sobre a realidade. Isso nos leva a fazer outra distinção em relação a certo tipo de saber. Em uma conversa diária com as pessoas é co- mum surgirem opiniões sobre os mais variados assuntos. Muitas dessas opiniões frequentemente conseguem um consenso, isto é, obtêm a concor- dância da maioria das pessoas de um grupo. Essas opiniões podem também se tornar concepções aceitas por diversos segmentos de uma sociedade. Esse conjunto de opiniões, aceitas como ver- dadeiras, mas sem fundamentação de sua valida- de, recebe o nome de senso comum. O filósofo belga Chaim Perelman (1912-1984) define o senso comum como uma série de crenças admitidas por g A ciência desenvolveu métodos científicos, '!l baseados em experimentações, que permitem a 5 "' observação dos dados empíricos e a sua organi- ~ zação em teorias, para buscar o que é universal ~ ' em relação ao fenômeno ou objeto investigado. Devido ao acúmulo de conhecimento já alcan- çado pela humanidade, o trabalho dos cientistas tende cada vez mais à especialização do saber. A filosofia se distingue da ciência por ser mais teórica e não condicionar o objeto de sua análise a um laboratório de experimentações. A f:lnsotlé~ ta1r1hfi1T1 11é1o p1err11c1e ur11 séiber tc3ci es- t1cci,-·ili,,1ado, e m ur11 ccmhccirnt:'11t.o cwc 1·csl}3 te a visão de cor1Ju11to Por i:,so, D l_fülOCJO L'~1trc filosofia e ciência é fundamer1tal, pois um lado complementa o outro. Nesse diálogo, a filosofla pode valer-se dos resultados alcançados pela ciência e questioná-los de uma forma globat. Enquanto a ciência procura, principalmente, compreender o que são as crnsas, ou sejc\ for- necer a chave de compreensão da realidade, a filosofia, por meio da razão crítica, é capaz de "es- tranhar" essa realidade cotidianamente e, assim, proceder à reflexão em busca de seus funda- mentos, percebendo o que ela é e propondo o que ela deveria ser. Em outras palavras, a filosofia não busca somente a descrição objetiva da reali- dade, mas avalia e questiona essa realidade. Le Penseur de Rodin dans /e pare du Docteur Linde à Lübeck ( 1907) - Edvard Munch. Apesar de suas diferenças, ciência e filosofia têm um aspecto em comum: o desenvolvimento da consciência racional. Como esses dois campos do saber se complementam? determinado grupo social, cujos membros acredi- tam ser compartilhadas por todas as pessoas. Muitas das concepções do senso comum de um povo ou de um grupo social podem ser encontradas em frases feitas ou em provérbios populares, por exemplo: Deus ajuda quem cedo madruga. Querer é poder. Filho de peixe peixinho é. Repetidas irrefletidamente no cotidiano, algumas dessas noções podem esconder ideias falsas, parciais ou preconceituosas. Outras, no entanto, podem reve- lar profunda reflexão sobre a vida - o que cha- mamos "sabedoria popular". Mas o que caracteriza basicamente as noções pertencentes ao senso comum não é a sua verda- 1 1 f de ou falsidade. É a falta de fundamentação críti- ca. Isto é, as pessoas não sabem o porquê dessas noções. Trata-se, portanto, de um conhecimento adquirido sem uma base crítica, precisa, coerente e sistemática. No senso comum, ou seja, no entendimento médio, próprio à maioria das pessoas, os modos da consciência se encontram geralmente emara- nhados de forma que suas noções se caracterizam por uma aglutinação acrítica de juízos, provenien- tes tanto da intuição como do campo racional ou religioso Acrítica quer dizer que falta o reconhe- c1mer1to exalo da 01iCJE:''r11 dos clcme11lCJ'> llt' e urn- põem essas noções ou cor1hcci111c 11Los Como resultado, pode ocorrer cl co11sd~]l'ação de um dado conjunto de formulações teór·icas que servirão como base de orientação para a vida prática da pessoa como se fossem definitivas. Nesse procedimento comum e cotidiano, eleva- mos à categoria de "verdades delinilivase aiJsolu tas" conhecimentos provisórios e parciais. Em virtude da ausência da razão crítica, o sen- so comum torna-se um campo favorável ao de- senvolvimento do fenômeno da ideologia, como explicaremos a seguir. Ideologia: a dissimulação dos interesses A palavra ideologia pode assumir diversos sig- nificados. Criada pelo filósofo francês Destutt de Tracy (1754-1836), queria dizer ciência das ideias, compreendendo o estudo da origem e do desen- volvimento das ideias. Posteriormente, o termo passou a significar as ideias próprias de certos grupos sociais e políticos. Assim é que se fala em ideologia liberal, ideologia de esquerda, ideologia burguesa etc. Por influência do pensamento de Karl Marx, a palavra ideologia tornou-se largamente utili- zada na filosofia e nas ciências sociais, adquirin- do um significado crítico e negativo. De acordo com essa vertente, ideologia seria não apenas um conjunto de ideias que elaboram uma com- preensão da realidade, mas também um conjun- to de ideias que dissimulam essa realidade, por- que mostram as coisas de forma apenas parcial ou distorcida em relação ao que realmente são. O que se buscaria ocultar ou dissimular na realidade poderia ser, por exemplo, o domínio de uma classe social sobre outra. Neste caso, a ideo- logia teria funções como a de preservar a domi- nação de classes apresentando uma explicação apaziguadora para as diferenças sociais. Seu ob- jetivo seria evitar um conflito aberto entre opres- sores e oprimidos. A ideologia seria, portanto, uma forma de cons- ciência da realidade, mas uma consciência parcial e ilusória, baseada na criação de conceitos e pre- conceitos como instrumentos de dominação. Para a filósofa brasileira Marilena Chaui, a no- ção de ideologia apresenta, de forma resumida, os Sf'guintcs traços a11tc:'1icmddde -·· ,1 ideoloç1ia fu1K10nc1 '~'-)illü um conJLmto ele 1c.ie1as, 1·1orn1as e valores des- tinados a fixar e prescrever, de antemão, os modos de pensar, sentir e agir das pessoas. Em razão de sua anterioridade, a ideologia prede- termina o pensamento e a ação, desprezando a história e a prática na qual cada pessoa se insere, vive e produz; generalização - a ideologia tem como finali- dade produzir um consenso coletivo, um sen- so comum (aceitação geral) em torno de certas teses e valores. Com isso, generaliza para toda a sociedade aquilo que corresponde aos inte- resses específicos dos grupos ou classes domi- nantes. O "bem de alguns" é difundido como se fosse o "bem comum". Além disso, a gene- ralização visa ocultar a origem dos interesses sociais específicos que nascem da divisão da sociedade em classes; lacuna - a ideologia desenvolve-se sobre uma lógica construída na base de lacunas, de omissões, de silêncios e de saltos. Uma lógica montada para ocultar em vez de revelar, fal- sear em vez de esclarecer, esconder em vez de descobrir. A eficiência de uma ideologia depende de sua capacidade para ocultar sua origem, sua lacuna e sua finalidade. Suas "ver- dades" devem parecer naturais, plenamente justificadas, válidas para todos os homens e para todo o sempre. A lógica ideológica só pode manter-se pela ocultação de sua gênese, isto é, a divisão social das classes, pois sendo missão das ideologias dissimular a existência dessa divisão, uma ideologia que reve- lasse sua própria origem se autodestru\r\a. CHAUI, M. Ideologia e educação. p. 25. CAPÍTULO J [nnsc1~m1;1 rnnt:;1 1' fdoc;1;!1" .,. '-' .,. -?"::. IDEOLOGIA entendida como dissimulação da realidade é caracterizada pela generaliza~o · ,,~ '' -- . i, ,-,;,::«'>;"~.:::t' que "'"' ~. ~ ,,._ "".,, i _,., ~ .. i 1 L_ Por outro lado, de acordo com a análise fei- ta pelo fllósofo marxista húngaro Gyórgy Lukács (1885-1971 ), a característica fundamental da ideo- logia seria o fato de ela se prestar à orientação da vida prática dos indivíduos, ou seja, de fornecer a base para a resolução dos problemas práticos da vida em sociedade. Nesse sentido, a ideologia teria uma função operativa e existiria desde o momento em que os homens vivem em coletividade. Ou seja, Lukács destaca que a ideologia não tem necessa- riamente o caráter dissimulador da luta de classes, pois não seria um fenômeno apenas das sociedades divididas em classes. Apenas quando o conflito social passa a fazer parte da realidade é que a ideologia se volta à reso- lução dos problemas gerados por esse conflito, ma- nifestando-se então como instrumento de classe. Assim, o fato de que uma ideologia burguesa oculte ou mostre parcialmente a realidade se origi- naria, por um lado, de sua própria incapacidade de ver a realidade de forma mais plena e, por outro, da necessidade, comum a todas as classes dominantes, de tornar "universais" os seus valores particulares, a fim de garantir a estabilidade da ordem social que lhe interessa. Por isso, outro pensador marxista, o italiano Antônio Gramsci (1891-1937), se refere à ideologia como sendo o "cimento" que garante um tipo de coesão social. A crítica de uma ideologia pode ser feita pelo exercício de "estranhamento" da realidade em ques- tão. Nesse exercício, os elementos que compõem determinada realidade devem deixar de ser vistos UNIDADE 1 SER HUMANO AÇÃO E REFLEXÃO que como dados naturais, universais, óbvios, eterna- mente válidos, para serem analisados, relativizados, examinados com senso crítico, compreendidos como construções histórico-sociais. Desse modo, pode- mos dizer que "ao mesmo tempo que se iludem, os indivíduos inquietos podem questionar suas próprias ilusões. Tropeçando nas distorções do conhecimen- to, os seres humanos insistem em reagir contra elas. Conhecer é um anseio que não se dissipa com a constatação das colossais dificuldades encontradas no caminho do conhecimento" (KONDER, Leandro. A questão da ideologia. p. 259). A esse respeito, o poeta e dramaturgo alemão Ber- tolt Brecht (1898-1956) se expressa dizendo: Nós pedimos com insistência: Não digam nunca: isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão. Em que corre sangue, Em que se ordena a desordem, Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza. Não digam nunca: isso é natural! PEIXOTO, F. Brecht. Vida e obra. p. 126. 1 i, i oc < z i= 2 o o iS z < u parte de um que instiga CAPÍTULO 3. Retirantes (e. 1944), da série Retirantes - Candido Portinari, óleo sobre tela. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand/ MASP. Sensibiliza e emociona este trágico retrato de família de excluídos, vítima da seca nordestina. Já a banalização da miséria e da violência pelos meios de comunicação de massa dessensibiliza as pessoas e promove o cinismo, servindo à ideologia dominante. 1 1 ! ! i , , 1. r. 1 1 1 1 i ' 1 l Alienação, ideologia e razão Nas sociedades marcadas pela alienação e por ideologias desenvolve-se a chamada razão instrumental, ou seja, uma razão que se toma simples instrumento para se atingir algum fim. É um tipo de razão calculadora, que mede prin- cipalmente utilidades e resultados. Está voltada para ser um instrumento de poder e dominação. Razão instrumental: expres•,ao utili?élda por filósofos da Esrnia l1ar1kfu:t. ríolacJdr·nente Theodor Adorno ( i 902- i 969) <, l\íax 11orkhe1mer ( 189)-197 31 De acordo com Jurgen Habermas, filósofo alemão contemporâneo, a nossa sociedade se caracterizaria por uma "colonização" da vida humana por essa lógica da razão instrumen- FILOSOFIA Do tal, que rege o processo de produção material. Caberia à filosofia (razão crítica) compreen- der como ocorre esse processo, bem comoquestionar essa "colonização", em nome do livre desenvolvimento do ser humano e da razão, que não pode ser confundida com a racionalidade puramente instrumental. A arte, por sua vez, procura denunciar essa "coloniL:ação'', que leva ao automatismo da vida cotidiana, não pela análise teórica, mas sobretudo através do conhecimento intuiti- vo, que apreende e apresenta essa realidade através da literatura, das artes plásticas, da música, da dança e do teatro. A filosofia contribui para despertar a curiosidade e o senso crítico, procurando enxergar realidades para além das opiniões do senso comum. A exigência de clareza e de livre crítica é própria do percurso filosófico. Antes de Descartes, essa recusa da opinião (da doxa, em grego) e a busca da explicação e da verdade (a teoria) já eram encontradas nos diálogos socráticos, escritos pelo grego Platão no século IV a.C. Exercitando o senso crítico do interlocutor, esses diálogos tinham importante papel educativo. Eles mostravam a precariedade das opiniões do senso comum de sua época. UNIDADE 1 '1I:H HllMANíl Al,:Afl E FHJlFX1\11 ' ·~ '. ' t Primeiro foi o espanto, depois o despertar crítico e a decepção. O ser humano queria uma explicação para o mundo, uma ordem para o caos. Ele queria, enfim, a verdade. Essa busca da verdade tornou-o cada vez mais exigente com o conhecimento que adquiria e transmitia. Ambicioso, o homem sentia uma necessidade crescente de entender e explicar de ma- significa sabedoria. Assim, filosofia tem o sentido eti- mológico de "amor à sabedoria". Conforme a tradição histórica, a criação da pala- vra filosofia é atribuída ao grego Pitágoras, que viveu no século VI a.C. Certa vez, perguntado pelo príncipe Leonte sobre qual era a natureza da sua sabedoria, Pitágoras disse: "sou apenas um filósofo". Com essa res-neira clara, coerente e precisa. Essa busca do saber fez nascer , I' Há algum tempo eu me apercebi de que, posta, desejava esclarecer que não detinha a posse da sabedoria. Assumia a posi- ção de ''cJlndtltt' du SdUl'r ··. alguém que procure'! a salw doria, que busca a verdade. a filosofia. Por isso, dizia Aristó- teles: "Quando pergunta e se espanta, o homem tem uma sensação de ignorância. Para escapar dessa ignorância ele começa a filosofar''. Espanto: usamos aqui esse termo com o sentido de admiração e inquietação diante do mundo e das pessoas. A primeira virtude do filó- ' sofo, dizia Platão, é o espanto (thou 1 mázein, em grego), a curiosidade insaciável, a capacidade de admirar e problematizar as coisas. desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opinines mmn verdadeirm1 P de a,ue necesscírio tentor urno vez ern minha vida, me desfazer de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo Com o decorrer do tem- po, entretanto, a palavra filosofia foi perdendo o sig- nificado original. Na própria novamente desde os fundamentos." Grécia Antiga passou a de- o~:-.;{~H tf-~j; signar não apenas o amor A palavra filosofia é formada por dois termos gregos: filos, que traduz a ideia de amor, e sofla, que ou a procura da sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce do uso metódico da razão, da investigação racional, na busca do conhecimento. SENSO CRf TICO SENSO COMUM ) promove o contrastando com o que envolve a superação do isolamento e do alheamento por meio da consciência de si consciência do outro que exige que exige -· ' REFLEXÃO ATENÇÃO que éo saber das opiniões e pode revelar noções incoerentes, imprecisas e assistemáticas sabedoria popular folclores, em sentido . amplo: ' folk (povo)+ lore (saber etim. germ.) li . l Extensão do conhecimento filosófü::L1 O saber filosófico designava, desde a Grécia Antiga, a totalidade do conhecimento racional desenvolvido pelo homem. Abrangia, portanto, os mais diversos tipos de conhecimento, que hoje entendemos como pertencentes à mate- mática, à astronomia, à física, à biologia, à lógica, à ética e a outras áreas do saber. Enfim, todo o conjunto dos conhecimentos racionais integra- va o universo do saber filosófico. À filosofia inte- ressava cor1hecer toda a realidade sem dividi lcJ cm objetos específicos de estudo. Na história do pensamento ocidental, esse signifl- cado amplo e universalista do saber füosóflco man- teve-se, de modo geral, até a Idade Média. Poucas áreas separaram-se da füosofla, como o fez a teologi_a, por exemplo, que se desenvolveu em estudo especí- flco a respeito de Deus. Durante a Idade Moderna, entretanto, o vas- to campo filosófico entrou num processo de redução. A realidade a ser conhecida passou a ser dividida, recortada, despertando estudos es- pecializados. Era a separação entre ciência e filosofia. Gradativamente, foram conquistando au- tonomia muitas ciências particulares, que se desprenderam do tronco comum da árvore do saber filosófico. Ao se constituírem por um pro- cesso de especialização, essas ciências passaram a direcionar suas investigações a certos campos delimitados da realidade, e o fazem ainda hoje de forma cada vez mais "localizada". Exemplos dessas ciências são a matemática, a física, a quí- mica, a biologia, a antropologia, a psicologia, a sociologia etc. Os dias atuais caracterizam-se como a "era dos especialistas". Para os críticos dessa especia- lização do mundo científico, ela conduz a uma pulverização do saber, à perda de uma visão mais ampla do cor1hccimento, a uma restrição mental sisternática. Nesse contexto, a filosofia passou a ter o papel, entre outros, de buscar a unidade do saber, de examinar a validade dos métodos e critérios adotados pelas ciências. Isto é, passou a desenvolver o trabalho de reflexão sobre os co- nhecimentos alcançados por todas as ciências, além da procura de respostas, por exemplo, ao sentido e ao valor da vida. Assim, encontramos trabalhos filosóficos vol- tados ao estudo geral do ser, do conhecimento e do valor das coisas. Em termos mais específi- cos, situam-se dentro do campo filosófico aque- les estudos que se referem a temas tais como teoria do conhecimento, fundamentos do saber científico, lógica, política, ética e estética. Esses temas são estudados em detalhes nas próximas unidades deste livro. TÓPICOS PRINCIPAIS . Ser humano e consciência: o processo de cons- cientização faz do ser humano um sistema aberto, relacio- nado com o mundo (alteridade) e consigo mesmo (interio- ridade). Somos eternos caminhantes destinados à procura e ao encontro da realidade. Consciência crítica: depende do crescimento har- monioso das duas dimensões do processo de conscienti- zação, a saber, a consciência de si (interioridade, reflexão) e a consciência do outro (alteridade, atenção). Senso comum: "série de crenças admitidas por deter- minado grupo social e que seus membros acreditam se- rem compartilhadas por todos os homens" (C. Perelman). Filosofia: do grego filos (amor) e sofia (sabedoria), a palavra passou a designar, na Grécia Antiga, um tipo de saber que nasce do uso metódico da razão, da investiga- ção racional. UNIDADE 1 SEH Filosofia e a especialização do conhecimento: na Antiguidade, o saber filosófico designava a totalidade do conhecimento racional (astronomia, física, lógica, bio- logia, ética etc.). Com a especialização do conhecimento científico, o campo filosófico foi se restringindo cada vez mais (lógica, teoria do conhecimento, ética, valores, esté- tica, política etc.), mas a filosofia passou a ter o papel de reflexão dos conhecimentos alcançados e de recuperação da unidade do saber. Ideologia: ideias próprias de certos grupos sociais e políticos. Por um lado, pode atuar como uma forma de consciência da realidade,mas uma consciência parcial e ilusória, que se baseia na criação de conceitos e precon- ceitos como instrumentos de dominação. Nesse caso, seus traços gerais são: anterioridade, generalização e lacuna. Por outro lado, ela pode se prestar à orientação da vida prática dos indivíduos, ou seja, de fornecer a base para a resolução dos problemas práticos da vida em sociedade. 1 J t 1 r Análise e entendimento O desenvolvimento da consciência 1. Segundo o filósofo jesuíta de origem francesa Teilhard Chardin (1881-1955): "O animal sabe. Masl certamen- te1 ele não sabe que sabe ( ... ). Consequentemente! permanece fechado para ele todo um domínio do Real1 no qual nos movemos'.' Com base nesse raciocí- nio, em que diferiria o ser humano do animal7 2. Para que serve, respectivamente, a atenção e a ref1e- xão? Quando as exercitamos? 3. O despertar da consciência crítica depende do cres- cimento harmônico da consciência de si e da cons- ciência do outro. Comente essa afirmação. 4. Identifique que modo da consciência (mítica, reli- giosa, intuitiva, racional) expressa cada frase abaixo. Justifique. a) Os antibióticos combatem as infecções porque evitam que as bactérias se reproduzam. b) A fúria de Netuno levantou ondas imensas, des- truindo a embarcação. c) Algo me diz que ele está mentindo. d) Esta casa está abençoada por Deus. Senso comum, ideologia e filosofia 5. Algumas noções do senso comum escondem ideias falsas, parciais ou preconceituosas, enquanto outras revelam profunda ref1exão sobre a vida. Como você explica essa contradição? 6. Por que se pode dizer que o senso comum é um ter- reno favorável ao desenvolvimento de ideologias? 7. Qual o sentido original do termo filosofia? Explique. 8. Releia a frase citada de Descartes neste capítulo. Que relação você pode estabelecer entre essa declaração do filósofo, o senso comum e a filosofia? Vivenciar e refletir 1 . Consciência crítica 2. O exercício do "estranhamento11 "Não digam nunca: isso é natural!". Discuta com seus colegas o sentido desse verso de Brecht. 3. O despertar da filosofia Que é e par·a que serve a f11osofia7 Reílita sobre o tema e o apresente a seus colegas 4. A era dos especialistas No mundo científico atual existem inúmeros espe- cialistas para cada setor do conhecimento. Debata o seguinte tema: "Vantagens e desvantagens da espe- cialização extrema". 5. Consciência e rnusica Pesquise, em grupo, letras de música relacionadas a um dos assuntos abordados no capítulo, como por exemplo: consciência, ideologia, intuição etc. Em se- guida, crie uma letra inspirando-se em sua pesquisa. 6. Consciência de si Escolha alguns momentos de sua vida que você considera marcantes. Depois, para cada um dos mo- mentos escolhidos, redija um texto e selecione uma imagem para ilustrá-lo. Navegando pela internet Leia o verbete Ideologia (disponível em: <http//www. usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ ideolog/index.html> ), na Enciclopédia virtual de Econo- mia Política e Urbanismo, produzida pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP Em seguida, crie um desenho ou uma fotomontagem relacionando a noção de ideologia com uma das se- guintes palavras: crítica, utopia, hegemonia, liberalismo, social-democracia, neoliberalismo, estágios de desenvol- vimento, democracia, racionalismo ou ideologia da elite. Textos filosóficos Encontre situações que expressem as seguintes No texto a seguir, o filósofo brasileiro Roland Cor- atitudes: a) consciência de si; b) consciência do ou- bisier (1914-2005) ressalta a importância do ato de tro; c) consciência crítica. Escreva pelo menos uma perguntar. Esse ato, tão "banal e cotidiano''. nos dis- frase para cada uma. Depois compartilhe-as com tingue, essencialmente, de todos os demais seres seus colegas. { B ~~s. Por isso, está na raiz da atividade filosófica. i.. I 8 L 1 O T t: C. l~ - F A :~:11 ;~, 7 : --.,,.,_,,,~.,,_..,~ .... ,."'.,',:, ... '.,.,' ,':::j CAPÍTULO J L.rmsc:én:1a ' Metaphysical vision of New York (1975) - Giorgio de Chirico. Coleção particular. A existência humana parece ser um enigma indecifrável, ao mesmo tempo fascinante e assustador. Com a filosofia, as questões mais profundas do ser humano podem ser percebidas e discutidas. Homem: o ser que pergunta Normalmente perguntamos sem refletir sobre o próprio perguntar, sem indagar pelo significado dessa operação da inteligência que se acha na raiz de todo conhecimento e de toda ciência. E ao per- guntar por perguntar, convertemos essa operação, que nos parece tão banal, tão quotidiana, em tema filosófico, a partir do momento em que passamos a considerá-la do ponto de vista da crítica radical. Se compararmos, nesse aspecto, o comportamento humano com o do animal, verificaremos que o animal não pergunta, não indaga, limitando-se a responder. Mas, por que o animal não pergunta? Não per- gunta porque não precisa perguntar. E por que não precisa perguntar? Porque, para viver e reproduzir- -se, dispõe do instinto que o torna capaz de fazer, embora inconsciente e sonambulicamente, tudo o que é necessário para sobreviver e assegurar a so- brevivência de sua espécie. O animal não pergunta, limita-se a responder a estímulos e provocações do contexto em que se en- 5 6 UNIDADE 1 SLn Hurv;f\1![] i'\ÇÁíl L HEFLEXArJ contra, a responder imediatamente, fugindo do perigo, quando é ameaçado, e atacando a presa quando está com fome. Em contraste, o homem pergunta. E, por que pergunta? Porque precisa pergun- tar. Mas, por que precisa perguntar? Precisa perguntar porque não sabe e precisa saber, saber o que é o mundo em que se encon- tra e no qual deve viver. Para poder viver, e viver é conviver, com as coisas e com os ou- tros homens, precisa saber como as coisas e os outros homens se comportam, pois sem esse conhecimento não poderia orientar sua conduta em relação às coisas e aos homens. Para o ser humano o conhecimento não é facultativo, mas indispensável, uma vez que sua sobrevivência dele depende. Ora, que está na origem do conhecimen- to, tanto filosófico quanto científico? Na ori- gem desse conhecimento está a capacida- de, ou melhor, a necessidade de perguntar, de indagar, o que são as coisas e o que é o homem. CORBISIER, Roland. Introdução à filosofia, t. 1. p. 125-127. • PARA ENTENDER O TEXTO 1. Baseando-se no texto, responda: por que o ani- mal, para viver, não precisa perguntar? 2. Em contraste com o animal, por que o homem precisa perguntar? 3. Qual é a contradição irônica entre o que diz Cor- bisier a respeito do ser humano e a classificação biológica da espécie humana? 4. Comente a seguinte afirmação: apesar de pouco praticado, perguntar é um ato inteligente e muito importante numa conversação. É a melhor maneira de confirmar que o que a pessoa está entendendo é realmente o que quis dizer o outro. Por meio de per- guntas, a pessoa também mostra sua atenção, sua curiosidade, seu interesse e seu respeito pelo que faz, sente e pensa seu interlocutor. Não fica apenas preocupada em exibir seus próprios conhecimentos, ou esconder sua ignorância, e aprende mais. Por isso há quem diga que fazer perguntas é mais importan- te que dar respostas. DE OLHO NA UNIVERSIDADE 1. (Udesc) Afirma-se, comumente, que as principais ca- racterísticas da filosofia são a reflexão e a atitude crí- tica. Nesse horizonte, estabeleça a diferença entre a filosofia e o senso comum. Para saber mais •NA INTERNET • Consciência mundial <http://www.youtu be.c:mn/watc:h ?v=zJyvvjv _S6l_ü> Vídeo da palestra "Consciência Mundial: por um conceito de desenvolvimento para o século XX''. com a participação do pensador Edgar Morin. •NOS FILMES • Brilho eterno de uma mente sem lembranças(2004, EUA, direção: Michel Gondry) Um jovem descobre que sua ex-namorada se sub- meteu a um procedimento para apagá-lo da memó- ria e decide fazer o mesmo. Durante o procedimento, no entanto, ele se dá conta de que ainda a ama. •Fahrenheit 451 (1966, Reino Unido, direção: Fran- çois Truffaut) Em um futuro opressor, a principal tarefa dos bombeiros é atear fogo em todos os livros que en- contrarem. Um bombeiro, no entanto, começa a questionar os verdadeiros interesses por trás disso. •Mais estranho que a ficção (2006, EUA, direção: Marc Forster) Harold Crick é um auditor fiscal com uma vida tediosa. De repente, ele se descobre personagem principal de uma narração que afeta sua vida e que somente ele é capaz de escutar. • Mississipi em chamas (1988, EUA, direção: Alan Parker) Clássico sobre o racismo nos Estados Unidos dos anos 1960 que denuncia o problema da intolerância . ·Os últimos rebeldes (1992, EUA, direção: Thomas Carter) Apresenta a ascensão do nazismo e a ideologiza- ção da consciência da juventude alemã. ·Quero ser John Malkovich (1999, EUA, direção: Spike Jonze) Um titereiro descobre um portal que leva literal- mente à cabeça de uma estrela de cinema: o ator John Malkovich. •Sociedade dos poetas mortos (1989, EUA, dire- ção: Peter Weir) Por trás de um enredo bastante previsível, aborda uma questão fundamental: em uma sociedade como a nossa, de que espaço podemos dispor para a ex- pressão do que há de mais humano em nós, nossas dúvidas, perguntas essenciais? Qual o lugar do "inútil''. da poesia, da arte e da filosofia? CAPÍTULO 3 c~ns:i2nc12
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