Buscar

FIL-Consciência Crítica e Filosofia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

l 
1 
,1 
li 
li 
1, 
li 
ll 
li 
1: 
l 
,,... """" CONSCIENCIA CRITICA 
E FILOSOFIA 
Filosofia, que palavra acertada! Todo 
o nosso saber sempre permanecerá 
filosofia, isto é, um saber sempre em 
progresso, cujo grau superior ou inferior 
devemos apenas ao nosso amor à 
sabedoria, à nossa liberdade. 
Schelling 
THINKSTOCKJGETTY IMAGES 
A filosofia não é uma atividade solitária, pois 
filosofar é conversar. A tarefa do filósofo é 
impedir que esse diálogo acabe. 
1 
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA 
O ser humana como sistema aberto 
Nos primeiros capítulos desta unidade, estudamos 
dois aspectos fundamentais e característicos da exis-
tência humana e da convivência social - a cultura e o 
trabalho-, pertencentes à esfera do fazer e do saber 
fazer. Passemos agora a outro aspecto, mais ligado à 
esfera do saber propriamente dito: a consciência. 
Mão com esfera refletora (1935) - M.C. Escher (litografia). Coleção Particular. 
O ser humano é o único ser dotado de consciência reflexiva, ou seja, ele é 
capaz de investigar sua própria consciência. Nessa imagem, observamos um 
autorretrato refletido em uma esfera de vidro, o que pode ser entendido como 
o pensamento debruçando-se sobre si mesmo, movimento característico 
da filosofia. 
Talvez nada caracterize melhor 
debruçar sobre si mesma para tomar posse de seu 
próprio saber, avaliando sua consistência, seu limite 
e seu valor. 
O animal sabe. Mas, certamente, ele não sabe 
que sabe: de outro modo, teria há muito multiplica-
do invenções e desenvolvido um sistema de cons-
truções internas. Consequentemente, permanece 
fechado para ele todo um domínio do Real, no qual 
nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexi-
vos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não 
só simples mudança de grau, mas mudança de na-
tureza, que resulta de uma mudança de estado. 
CHARDIN, T. O fenômeno humano. p. 187. 
O processo contínuo de conscientização faz do ho-
mem, portanto, um sistema aberto, fundamentalme11te 
relacionado com o mundo e consigo mesmo. O ser hu-
mano pode voltar-se para dentro de si, investigando seu 
íntimo. E projetar-se para fora, investigando o universo. 
Assim, a conscientização faz do homem um ser 
dinâmico, eterno caminhante destinado à procura e 
ao encontro da realidade. Caminhante cuja estrada é 
feita da harmonia e do conflito com o ser, o saber e 
o fazer, dimensões essenciais da existência humana. 
Despertar da 
consciência crítica 
Vimos que a consciência pode centrar-se sobre o 
próprio sujeito, sondando a interioridade, ou sobre 
os objetos exteriores, sondando a alteridade (do la-
tim alter, "outro"). Há, portanto, duas dimensões com-
plementares no processo de conscientização: 
consciência de si, isto é, a concentração da cons-
ciência nos estados interiores do sujeito, que exi-
ge ref1exão. Alcança-se, por intermédio dela, a 
dimensão da interioridade, que se 
o ser humano do que a consciên-
cia, isto é, o desenvolvimento dessa 11'11' A consciência é a última 
manifesta através do processo de fa-
lar, criar, afirmar, propor, inovar; 
atividade mental que nos permite e a mais tardia evolução 
estar no mundo com algum sa- da vida orgânica e, 
ber, "com ciência''. Por isso, biólogos consequentemente, o que 
classificaram o homem atual como há de mais frágil nela." 
sapiens sapiens: o ser que sabe que Nietzsche 
sabe. Isso significa que o homem 
é capaz de fazer sua inteligência 
consciência do outro, isto é, a con-
centração da consciência nos objetos 
exteriores, que exige atenção. Alcan-
ça-se, por intermédio dela, a dimen-
são da alteridade, que se manifesta 
através do processo de escutar, ab-
sorver, reformular, rever, renovar; 
CAPÍTULO J C:cr. 0 c;en::;; 
o despertar da consciência críti- ''Só o homem, pelo isolamento e do alheamento. É processo 
dialético, que se move do eu ao mundo 
e do mundo ao eu. Do fazer ao saber. E 
do saber ao refazer, e assim por diante. 
ca (ou senso crítico) depende do pensamento, tem 
crescimento dessas duas dimen- consciência de si." 
sões da consciência: a reflexão so-
bre si e a atenção sobre o mundo. 
Se apenas um desses aspectos se 
desenvolve, há uma deformação, um abalo no 
desenvolvimento da consciência crítica. 
Suponhamos, por exemplo, o crescimento só 
da consciência do outro. Essa atenção unilateral 
ao mundo, sem reflexão sobre si mesmo, conduzi-
r 1 d e~ p ~~ r e: 1 e Li 1 d e 11 ti d é:l d e p e s s o é:l 1, à ex a 1 ta ç ão cl os 
objetos externos, ao alhear-ner1to. 
f)or outro lado, imaginemos o crescimento só da 
consciência de si. Essa reflexão em torno do eu, sem 
atenção sobre o mundo, conduziria ao isolamento, 
ao fechamento interior, ao labirinto narcisista. 
O escritor alemão Wolfgang Goethe (1749-
-1832) rlizia que o homem só conhece o mun-
do dentro de si se toma consciência de si mesmo 
dentro do mundo. Assim, o desenvolvimento da 
conscientização humana depende da superação do 
UNIDADE 1 =~::1 ACA[J E REEEXAíl 
Jaspers 
JVIodos da consciência 
Geralmente relacionamos a consciência ape-
nas à capacidade cognitiva, ou seja, à capacidade 
de apreensão intelectual de determinada realida-
de. No entanto, o ser humano se relaciona com a 
realidade através de m 1~J!t: ser1t1dos e rnúitiplas 
capacidades. Por isso. podemos distinguir alguns 
modos da consciência que estabelecem essa rela-
ção homem-mundo. 
Consciência mítica 
O termo mito tem diversos significados. Pode signi-
ficar: uma ideia falsa, como quando se diz "o mito nazis-
ta da superioridade racial dos germânicos"; uma crença 
exagerada no talento de alguém, como em "Elvis Presley 
foi o maior mito da música popular mundial"; ou ainda 
algo irreal e supersticioso, como o "mito do saci-pererê''. 
Quando falamos em mito em sentido antropoló-
gico, aquele que nos interessa aqui, queremos nos 
referir às narrativas e ritos tradicionais, integrantes da 
cultura de um povo, principalmente entre as popu-
lações primitivas e antigas, que utilizam elementos 
simbólicos para explicar a realidade e dar sentido à 
vida humana. Para o especialista romeno em história 
das religiões Mircea Eliade (1907-1986): "O mito conta 
uma história sagrada: ele relata um acontecimento 
ocorrido no tempo primordial (. .. ).O mito narra como, 
graças às façanhas dos entes sobrenaturais, uma reali-
dade passou a existir" (ELIADE, Mito e realidade. p. 11 ). 
Por meio dos mitos, os homens procuravam ex-
plicar a realidade e, a partir dessa explicação, criavam 
meios para, por exemplo, se proteger dos males que 
os ameaçavam. Por intermédio de ritos sagrados, afir-
mavam e renovavam suas alianças com os seres so-
brenaturais e, com isso, produziam uma sensação de 
amparo diante dos perigos da vida. 
Detalhe de O rapto de Helena (1631) - Guido Reni. Museu do Louvre, Paris. 
O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) notou a semelhança entre 
os sonhos de seus pacientes e os mitos. Também percebeu que mitos de 
culturas distintas eram bastante parecidos entre si. Assim, formulou a teoria 
segundo a qual os mitos seriam manifestações de arquétipos (modelos) que 
surgem do inconsciente coletivo da humanidade. 
~ 
1 
1 
1 
1 
l 
' 
Embora não fosse um conhecimento do tipo 
racional, conforme veremos adiante, a consciên-
cia mítica mostrava-se operativa, isto é, trazia re-
sultados, transmitindo valores e normas de con-
duta desejados pelas sociedades. Nesse sentido, 
as lendas míticas de vá rios povos são ricas em 
metáforas e reflexões sobre os homens e sua con-
dição no mundo. 
Consciência religiosa 
A consciência religiosa comr:i(lrti!ha com a 
c o n s c 1éne1 n 1T1 1 t : e ri u e 1 e rn e 1 : l u u o s o b r e 1v1t1 ! 1 cl 1, a 
crença em um pocier su ritcl 1stu é, 
a divindade. No entanto, é urna consciência que, 
historicamente, conviveu, dialogou edebateu com 
a razão filosófica e científica. Sua diferença em re-
lação a esses saberes está na crença em verdades 
reveladas pela fé religiosa, enquanto a filosofia e a 
ciência se élpoiam sobretudo na razão pa1·a alcm-
çar o conhecimento. 
Os longos debates travados entre os defensores 
da fé e os da razão, durante a Idade 
'' 
o 
ao contexto das experiências individuais, singulares. 
Ou seja, são aquelas "leituras de mundo" guiadas pelo 
conjunto de experiências de cada indivíduo e que, 
dessa forma, só podem ser "decifradas" a partir de 
suas vivências subjetivas. 
Em ambos os casos, a intuição tem um caráter 
sincrético, isto é, representa uma aglutinação de ele-
mentos indistintos que, posteriormente, podem ser 
desdobrados em uma análise. Quando isso se der, es-
taremos entrando no conhecimento racional. 
0 filósofo f Jegel C011SidClcJ qlli..1 flc1 tléS ÇJI c:lllcJeS 
formas de compreensão do mundo, que seriam a 
religião, a arte e a filosona. A diferença entre elas 
estaria no seu modo de consciência: enquanto a 
religião apreende o mundo pela fé, a arte o faz pre-
dominantemente pela intuição, e a fllosona, pelo 
conhecimento racio11éll. 
A consciência racional busca a compreensão da 
realidade por meio de certos princípios estabeleci-
dos pela razão, como, por exem-
tem razoes que a 
Média, não conseguiram conciliar 
satisfatoriamente esses dois ter-
mos. No período seguinte, a discus-
são prosseguiu entre os filósofos. 
razôo desconhece." 
plo, o de causa e efeito (todo 
efeito deve ter a sua causa). Essa 
busca racional se caracteriza-
O francês René Descartes (1596-
-1650), por exemplo, colocava a ênfase na razão, en-
quanto o também francês Pascal fazia o contrapon-
to ao afirmar que "o coração tem razões que a razão 
desconhece" (PASCAL, Pensamentos. p. 107), isto é, 
existem outras possibilidades de conhecimento das 
quais a razão não participa. 
Consciência intuitiva 
A intuição é uma forma de consciência que pode 
ser apontada como um saber imediato, ou seja, que 
ocorre como um insight. Desse modo, a intuição dis-
tingue-se do conhecimento formal, reíletido, que se 
constrói através de argumentos. 
l lnsight: termo inglês que d. esigna a compreensão repentina de um problema ou situação 
É possível falar na existência de uma intuição 
sensível e uma intuição intelectual. O fllósofo grego 
Aristóteles se referia à intuição intelectual como o 
conhecimento imediato de algo universalmente vá-
lido e evidente, que, posteriormente, poderia ser de-
monstrado por meio de argumentos. Já a intuição 
sensível seria um conhecimento imediato restrito 
Pascal ria por pretender alcançar uma 
adequação entre pensamento e 
realidade, isto é, entre explicação e aquilo que se 
procura explicar. 
Para o racionalismo grego, de Platão a Aris-
tóteles e outros, conhecer significava entender 
as causas. ( ... ) Para se conseguir definir o mundo 
em termos de causas, é essencial desenvolver 
a ideia de uma cadeia unilinear (. .. ) é necessá-
rio supor uma série de princípios: o princípio 
de identidade (A = A), o princípio de não con-
tradição (é impossível algo ser A e não ser A ao 
mesmo tempo) e o princípio do terceiro excluído 
(ou A é verdadeiro ou A é falso e não há tercei-
ra possibilidade). A partir desses três princípios 
derivamos o modelo típico do pensamento ra-
cional ocidental. 
ECO, U. Interpretação e superinterpretação. p. 31 e 32. 
O conhecimento racional é comum à ciência e 
à filosofia. Esses dois campos do saber racional se 
mantiveram bem ligados por muitos séculos, mas, 
principalmente, a partir da revolução c"1entífica, no 
século XVII, foram se distinguindo e hoje guardam 
características próprias. No entanto, permanecem 
atuais os diálogos entre filosona e ciência. 
1 
1 
l 
11 
1 j: 
i 
Senso comum: o 
De maneira geral, os vários modos da consciência 
coexistem, em maior ou menor grau, quando emi-
timos algum juízo sobre a realidade. Isso nos leva a 
fazer outra distinção em relação a certo tipo de saber. 
Em uma conversa diária com as pessoas é co-
mum surgirem opiniões sobre os mais variados 
assuntos. Muitas dessas opiniões frequentemente 
conseguem um consenso, isto é, obtêm a concor-
dância da maioria das pessoas de um grupo. Essas 
opiniões podem também se tornar concepções 
aceitas por diversos segmentos de uma sociedade. 
Esse conjunto de opiniões, aceitas como ver-
dadeiras, mas sem fundamentação de sua valida-
de, recebe o nome de senso comum. O filósofo 
belga Chaim Perelman (1912-1984) define o senso 
comum como uma série de crenças admitidas por 
g A ciência desenvolveu métodos científicos, 
'!l baseados em experimentações, que permitem a 
5 "' observação dos dados empíricos e a sua organi-
~ zação em teorias, para buscar o que é universal 
~ 
' em relação ao fenômeno ou objeto investigado. 
Devido ao acúmulo de conhecimento já alcan-
çado pela humanidade, o trabalho dos cientistas 
tende cada vez mais à especialização do saber. 
A filosofia se distingue da ciência por ser 
mais teórica e não condicionar o objeto de sua 
análise a um laboratório de experimentações. A 
f:lnsotlé~ ta1r1hfi1T1 11é1o p1err11c1e ur11 séiber tc3ci es-
t1cci,-·ili,,1ado, e m ur11 ccmhccirnt:'11t.o cwc 1·csl}3 
te a visão de cor1Ju11to Por i:,so, D l_fülOCJO L'~1trc 
filosofia e ciência é fundamer1tal, pois um lado 
complementa o outro. Nesse diálogo, a filosofla 
pode valer-se dos resultados alcançados pela 
ciência e questioná-los de uma forma globat. 
Enquanto a ciência procura, principalmente, 
compreender o que são as crnsas, ou sejc\ for-
necer a chave de compreensão da realidade, a 
filosofia, por meio da razão crítica, é capaz de "es-
tranhar" essa realidade cotidianamente e, assim, 
proceder à reflexão em busca de seus funda-
mentos, percebendo o que ela é e propondo o 
que ela deveria ser. Em outras palavras, a filosofia 
não busca somente a descrição objetiva da reali-
dade, mas avalia e questiona essa realidade. 
Le Penseur de Rodin dans /e pare du Docteur Linde à Lübeck ( 1907) 
- Edvard Munch. Apesar de suas diferenças, ciência e filosofia têm 
um aspecto em comum: o desenvolvimento da consciência racional. 
Como esses dois campos do saber se complementam? 
determinado grupo social, cujos membros acredi-
tam ser compartilhadas por todas as pessoas. 
Muitas das concepções do senso comum de um 
povo ou de um grupo social podem ser encontradas em 
frases feitas ou em provérbios populares, por exemplo: 
Deus ajuda quem cedo madruga. 
Querer é poder. 
Filho de peixe peixinho é. 
Repetidas irrefletidamente no cotidiano, algumas 
dessas noções podem esconder ideias falsas, parciais 
ou preconceituosas. Outras, no entanto, podem reve-
lar profunda reflexão sobre a vida - o que cha-
mamos "sabedoria popular". 
Mas o que caracteriza basicamente as noções 
pertencentes ao senso comum não é a sua verda-
1 
1 
f 
de ou falsidade. É a falta de fundamentação críti-
ca. Isto é, as pessoas não sabem o porquê dessas 
noções. Trata-se, portanto, de um conhecimento 
adquirido sem uma base crítica, precisa, coerente 
e sistemática. 
No senso comum, ou seja, no entendimento 
médio, próprio à maioria das pessoas, os modos 
da consciência se encontram geralmente emara-
nhados de forma que suas noções se caracterizam 
por uma aglutinação acrítica de juízos, provenien-
tes tanto da intuição como do campo racional ou 
religioso Acrítica quer dizer que falta o reconhe-
c1mer1to exalo da 01iCJE:''r11 dos clcme11lCJ'> llt' e urn-
põem essas noções ou cor1hcci111c 11Los 
Como resultado, pode ocorrer cl co11sd~]l'ação 
de um dado conjunto de formulações teór·icas 
que servirão como base de orientação para a vida 
prática da pessoa como se fossem definitivas. 
Nesse procedimento comum e cotidiano, eleva-
mos à categoria de "verdades delinilivase aiJsolu 
tas" conhecimentos provisórios e parciais. 
Em virtude da ausência da razão crítica, o sen-
so comum torna-se um campo favorável ao de-
senvolvimento do fenômeno da ideologia, como 
explicaremos a seguir. 
Ideologia: a dissimulação 
dos interesses 
A palavra ideologia pode assumir diversos sig-
nificados. Criada pelo filósofo francês Destutt de 
Tracy (1754-1836), queria dizer ciência das ideias, 
compreendendo o estudo da origem e do desen-
volvimento das ideias. Posteriormente, o termo 
passou a significar as ideias próprias de certos 
grupos sociais e políticos. Assim é que se fala em 
ideologia liberal, ideologia de esquerda, ideologia 
burguesa etc. 
Por influência do pensamento de Karl Marx, 
a palavra ideologia tornou-se largamente utili-
zada na filosofia e nas ciências sociais, adquirin-
do um significado crítico e negativo. De acordo 
com essa vertente, ideologia seria não apenas 
um conjunto de ideias que elaboram uma com-
preensão da realidade, mas também um conjun-
to de ideias que dissimulam essa realidade, por-
que mostram as coisas de forma apenas parcial 
ou distorcida em relação ao que realmente são. 
O que se buscaria ocultar ou dissimular na 
realidade poderia ser, por exemplo, o domínio de 
uma classe social sobre outra. Neste caso, a ideo-
logia teria funções como a de preservar a domi-
nação de classes apresentando uma explicação 
apaziguadora para as diferenças sociais. Seu ob-
jetivo seria evitar um conflito aberto entre opres-
sores e oprimidos. 
A ideologia seria, portanto, uma forma de cons-
ciência da realidade, mas uma consciência parcial 
e ilusória, baseada na criação de conceitos e pre-
conceitos como instrumentos de dominação. 
Para a filósofa brasileira Marilena Chaui, a no-
ção de ideologia apresenta, de forma resumida, 
os Sf'guintcs traços 
a11tc:'1icmddde -·· ,1 ideoloç1ia fu1K10nc1 '~'-)illü 
um conJLmto ele 1c.ie1as, 1·1orn1as e valores des-
tinados a fixar e prescrever, de antemão, os 
modos de pensar, sentir e agir das pessoas. Em 
razão de sua anterioridade, a ideologia prede-
termina o pensamento e a ação, desprezando 
a história e a prática na qual cada pessoa se 
insere, vive e produz; 
generalização - a ideologia tem como finali-
dade produzir um consenso coletivo, um sen-
so comum (aceitação geral) em torno de certas 
teses e valores. Com isso, generaliza para toda 
a sociedade aquilo que corresponde aos inte-
resses específicos dos grupos ou classes domi-
nantes. O "bem de alguns" é difundido como 
se fosse o "bem comum". Além disso, a gene-
ralização visa ocultar a origem dos interesses 
sociais específicos que nascem da divisão da 
sociedade em classes; 
lacuna - a ideologia desenvolve-se sobre 
uma lógica construída na base de lacunas, de 
omissões, de silêncios e de saltos. Uma lógica 
montada para ocultar em vez de revelar, fal-
sear em vez de esclarecer, esconder em vez 
de descobrir. A eficiência de uma ideologia 
depende de sua capacidade para ocultar sua 
origem, sua lacuna e sua finalidade. Suas "ver-
dades" devem parecer naturais, plenamente 
justificadas, válidas para todos os homens e 
para todo o sempre. 
A lógica ideológica só pode manter-se pela 
ocultação de sua gênese, isto é, a divisão social das 
classes, pois sendo missão das ideologias dissimular 
a existência dessa divisão, uma ideologia que reve-
lasse sua própria origem se autodestru\r\a. 
CHAUI, M. Ideologia e educação. p. 25. 
CAPÍTULO J [nnsc1~m1;1 rnnt:;1 1' fdoc;1;!1" 
.,. '-' .,. -?"::. IDEOLOGIA 
entendida como 
dissimulação da 
realidade 
é caracterizada pela 
generaliza~o · ,,~ 
'' -- . i, ,-,;,::«'>;"~.:::t' 
que 
"'"' ~. ~ ,,._ "".,, i _,., ~ .. 
i 
1 
L_ 
Por outro lado, de acordo com a análise fei-
ta pelo fllósofo marxista húngaro Gyórgy Lukács 
(1885-1971 ), a característica fundamental da ideo-
logia seria o fato de ela se prestar à orientação da 
vida prática dos indivíduos, ou seja, de fornecer a 
base para a resolução dos problemas práticos da 
vida em sociedade. Nesse sentido, a ideologia teria 
uma função operativa e existiria desde o momento 
em que os homens vivem em coletividade. Ou seja, 
Lukács destaca que a ideologia não tem necessa-
riamente o caráter dissimulador da luta de classes, 
pois não seria um fenômeno apenas das sociedades 
divididas em classes. 
Apenas quando o conflito social passa a fazer 
parte da realidade é que a ideologia se volta à reso-
lução dos problemas gerados por esse conflito, ma-
nifestando-se então como instrumento de classe. 
Assim, o fato de que uma ideologia burguesa 
oculte ou mostre parcialmente a realidade se origi-
naria, por um lado, de sua própria incapacidade de 
ver a realidade de forma mais plena e, por outro, da 
necessidade, comum a todas as classes dominantes, 
de tornar "universais" os seus valores particulares, a 
fim de garantir a estabilidade da ordem social que 
lhe interessa. Por isso, outro pensador marxista, o 
italiano Antônio Gramsci (1891-1937), se refere à 
ideologia como sendo o "cimento" que garante um 
tipo de coesão social. 
A crítica de uma ideologia pode ser feita pelo 
exercício de "estranhamento" da realidade em ques-
tão. Nesse exercício, os elementos que compõem 
determinada realidade devem deixar de ser vistos 
UNIDADE 1 SER HUMANO AÇÃO E REFLEXÃO 
que 
como dados naturais, universais, óbvios, eterna-
mente válidos, para serem analisados, relativizados, 
examinados com senso crítico, compreendidos como 
construções histórico-sociais. Desse modo, pode-
mos dizer que "ao mesmo tempo que se iludem, os 
indivíduos inquietos podem questionar suas próprias 
ilusões. Tropeçando nas distorções do conhecimen-
to, os seres humanos insistem em reagir contra elas. 
Conhecer é um anseio que não se dissipa com a 
constatação das colossais dificuldades encontradas 
no caminho do conhecimento" (KONDER, Leandro. A 
questão da ideologia. p. 259). 
A esse respeito, o poeta e dramaturgo alemão Ber-
tolt Brecht (1898-1956) se expressa dizendo: 
Nós pedimos com insistência: 
Não digam nunca: isso é natural! 
Diante dos acontecimentos de cada dia. 
Numa época em que 
reina a confusão. 
Em que corre sangue, 
Em que se ordena a desordem, 
Em que o arbitrário tem 
força de lei, 
Em que a humanidade 
se desumaniza. 
Não digam nunca: 
isso é natural! 
PEIXOTO, F. Brecht. Vida e obra. p. 126. 
1 
i, 
i 
oc 
< 
z 
i= 
2 
o 
o 
iS 
z 
< 
u 
parte de um que instiga 
CAPÍTULO 3. 
Retirantes (e. 1944), 
da série Retirantes 
- Candido Portinari, 
óleo sobre tela. Museu 
de Arte de São Paulo 
Assis Chateaubriand/ 
MASP. Sensibiliza e 
emociona este trágico 
retrato de família 
de excluídos, vítima 
da seca nordestina. 
Já a banalização 
da miséria e da 
violência pelos meios 
de comunicação de 
massa dessensibiliza 
as pessoas e promove 
o cinismo, servindo à 
ideologia dominante. 
1 
1 ! 
! 
i 
, , 
1. 
r. 
1 
1 
1 
1 
i ' 
1 
l 
Alienação, ideologia e razão 
Nas sociedades marcadas pela alienação e 
por ideologias desenvolve-se a chamada razão 
instrumental, ou seja, uma razão que se toma 
simples instrumento para se atingir algum fim. 
É um tipo de razão calculadora, que mede prin-
cipalmente utilidades e resultados. Está voltada 
para ser um instrumento de poder e dominação. 
Razão instrumental: expres•,ao utili?élda por filósofos 
da Esrnia l1ar1kfu:t. ríolacJdr·nente Theodor Adorno 
( i 902- i 969) <, l\íax 11orkhe1mer ( 189)-197 31 
De acordo com Jurgen Habermas, filósofo 
alemão contemporâneo, a nossa sociedade se 
caracterizaria por uma "colonização" da vida 
humana por essa lógica da razão instrumen-
FILOSOFIA 
Do 
tal, que rege o processo de produção material. 
Caberia à filosofia (razão crítica) compreen-
der como ocorre esse processo, bem comoquestionar essa "colonização", em nome do 
livre desenvolvimento do ser humano e da 
razão, que não pode ser confundida com a 
racionalidade puramente instrumental. 
A arte, por sua vez, procura denunciar essa 
"coloniL:ação'', que leva ao automatismo da 
vida cotidiana, não pela análise teórica, mas 
sobretudo através do conhecimento intuiti-
vo, que apreende e apresenta essa realidade 
através da literatura, das artes plásticas, da 
música, da dança e do teatro. 
A filosofia contribui para despertar a curiosidade e o senso crítico, procurando enxergar realidades para além das opiniões do senso comum. 
A exigência de clareza e de livre crítica é própria do percurso filosófico. Antes de Descartes, essa recusa da 
opinião (da doxa, em grego) e a busca da explicação e da verdade (a teoria) já eram encontradas nos diálogos 
socráticos, escritos pelo grego Platão no século IV a.C. Exercitando o senso crítico do interlocutor, esses diálogos 
tinham importante papel educativo. Eles mostravam a precariedade das opiniões do senso comum de sua época. 
UNIDADE 1 '1I:H HllMANíl Al,:Afl E FHJlFX1\11 
' 
·~ 
'. ' 
t 
Primeiro foi o espanto, depois o despertar crítico e 
a decepção. O ser humano queria uma explicação para 
o mundo, uma ordem para o caos. Ele queria, enfim, a 
verdade. Essa busca da verdade tornou-o cada vez mais 
exigente com o conhecimento que adquiria e transmitia. 
Ambicioso, o homem sentia uma necessidade crescente 
de entender e explicar de ma-
significa sabedoria. Assim, filosofia tem o sentido eti-
mológico de "amor à sabedoria". 
Conforme a tradição histórica, a criação da pala-
vra filosofia é atribuída ao grego Pitágoras, que viveu 
no século VI a.C. Certa vez, perguntado pelo príncipe 
Leonte sobre qual era a natureza da sua sabedoria, 
Pitágoras disse: "sou apenas 
um filósofo". Com essa res-neira clara, coerente e precisa. 
Essa busca do saber fez nascer , I' Há algum tempo eu me apercebi de que, posta, desejava esclarecer 
que não detinha a posse da 
sabedoria. Assumia a posi-
ção de ''cJlndtltt' du SdUl'r ··. 
alguém que procure'! a salw 
doria, que busca a verdade. 
a filosofia. Por isso, dizia Aristó-
teles: "Quando pergunta e se 
espanta, o homem tem uma 
sensação de ignorância. Para 
escapar dessa ignorância ele 
começa a filosofar''. 
Espanto: usamos aqui esse termo 
com o sentido de admiração e 
inquietação diante do mundo e das 
pessoas. A primeira virtude do filó-
' sofo, dizia Platão, é o espanto (thou 
1 
mázein, em grego), a curiosidade 
insaciável, a capacidade de admirar 
e problematizar as coisas. 
desde meus primeiros anos, recebera muitas 
falsas opinines mmn verdadeirm1 P de a,ue 
necesscírio tentor urno vez ern 
minha vida, me desfazer de todas as opiniões 
a que até então dera crédito, e começar tudo 
Com o decorrer do tem-
po, entretanto, a palavra 
filosofia foi perdendo o sig-
nificado original. Na própria 
novamente desde os fundamentos." Grécia Antiga passou a de-
o~:-.;{~H tf-~j; 
signar não apenas o amor 
A palavra filosofia é formada por dois termos 
gregos: filos, que traduz a ideia de amor, e sofla, que 
ou a procura da sabedoria, 
mas um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce 
do uso metódico da razão, da investigação racional, 
na busca do conhecimento. 
SENSO CRf TICO SENSO COMUM ) 
promove o contrastando com o 
que 
envolve a 
superação do 
isolamento e do 
alheamento 
por meio da 
consciência de si consciência do outro 
que exige que exige 
-· ' 
REFLEXÃO ATENÇÃO 
que 
éo 
saber das opiniões 
e pode revelar 
noções 
incoerentes, 
imprecisas 
e assistemáticas 
sabedoria popular 
folclores, em sentido . 
amplo: ' 
folk (povo)+ lore 
(saber etim. germ.) 
li 
. 
l 
Extensão do conhecimento filosófü::L1 
O saber filosófico designava, desde a Grécia 
Antiga, a totalidade do conhecimento racional 
desenvolvido pelo homem. Abrangia, portanto, 
os mais diversos tipos de conhecimento, que 
hoje entendemos como pertencentes à mate-
mática, à astronomia, à física, à biologia, à lógica, 
à ética e a outras áreas do saber. Enfim, todo o 
conjunto dos conhecimentos racionais integra-
va o universo do saber filosófico. À filosofia inte-
ressava cor1hecer toda a realidade sem dividi lcJ 
cm objetos específicos de estudo. 
Na história do pensamento ocidental, esse signifl-
cado amplo e universalista do saber füosóflco man-
teve-se, de modo geral, até a Idade Média. Poucas 
áreas separaram-se da füosofla, como o fez a teologi_a, 
por exemplo, que se desenvolveu em estudo especí-
flco a respeito de Deus. 
Durante a Idade Moderna, entretanto, o vas-
to campo filosófico entrou num processo de 
redução. A realidade a ser conhecida passou a 
ser dividida, recortada, despertando estudos es-
pecializados. Era a separação entre ciência e 
filosofia. 
Gradativamente, foram conquistando au-
tonomia muitas ciências particulares, que se 
desprenderam do tronco comum da árvore do 
saber filosófico. Ao se constituírem por um pro-
cesso de especialização, essas ciências passaram 
a direcionar suas investigações a certos campos 
delimitados da realidade, e o fazem ainda hoje 
de forma cada vez mais "localizada". Exemplos 
dessas ciências são a matemática, a física, a quí-
mica, a biologia, a antropologia, a psicologia, a 
sociologia etc. 
Os dias atuais caracterizam-se como a "era 
dos especialistas". Para os críticos dessa especia-
lização do mundo científico, ela conduz a uma 
pulverização do saber, à perda de uma visão mais 
ampla do cor1hccimento, a uma restrição mental 
sisternática. Nesse contexto, a filosofia passou a 
ter o papel, entre outros, de buscar a unidade 
do saber, de examinar a validade dos métodos e 
critérios adotados pelas ciências. Isto é, passou a 
desenvolver o trabalho de reflexão sobre os co-
nhecimentos alcançados por todas as ciências, 
além da procura de respostas, por exemplo, ao 
sentido e ao valor da vida. 
Assim, encontramos trabalhos filosóficos vol-
tados ao estudo geral do ser, do conhecimento 
e do valor das coisas. Em termos mais específi-
cos, situam-se dentro do campo filosófico aque-
les estudos que se referem a temas tais como 
teoria do conhecimento, fundamentos do saber 
científico, lógica, política, ética e estética. Esses 
temas são estudados em detalhes nas próximas 
unidades deste livro. 
TÓPICOS PRINCIPAIS . 
Ser humano e consciência: o processo de cons-
cientização faz do ser humano um sistema aberto, relacio-
nado com o mundo (alteridade) e consigo mesmo (interio-
ridade). Somos eternos caminhantes destinados à procura 
e ao encontro da realidade. 
Consciência crítica: depende do crescimento har-
monioso das duas dimensões do processo de conscienti-
zação, a saber, a consciência de si (interioridade, reflexão) e 
a consciência do outro (alteridade, atenção). 
Senso comum: "série de crenças admitidas por deter-
minado grupo social e que seus membros acreditam se-
rem compartilhadas por todos os homens" (C. Perelman). 
Filosofia: do grego filos (amor) e sofia (sabedoria), a 
palavra passou a designar, na Grécia Antiga, um tipo de 
saber que nasce do uso metódico da razão, da investiga-
ção racional. 
UNIDADE 1 SEH 
Filosofia e a especialização do conhecimento: 
na Antiguidade, o saber filosófico designava a totalidade 
do conhecimento racional (astronomia, física, lógica, bio-
logia, ética etc.). Com a especialização do conhecimento 
científico, o campo filosófico foi se restringindo cada vez 
mais (lógica, teoria do conhecimento, ética, valores, esté-
tica, política etc.), mas a filosofia passou a ter o papel de 
reflexão dos conhecimentos alcançados e de recuperação 
da unidade do saber. 
Ideologia: ideias próprias de certos grupos sociais e 
políticos. Por um lado, pode atuar como uma forma de 
consciência da realidade,mas uma consciência parcial e 
ilusória, que se baseia na criação de conceitos e precon-
ceitos como instrumentos de dominação. Nesse caso, seus 
traços gerais são: anterioridade, generalização e lacuna. 
Por outro lado, ela pode se prestar à orientação da vida 
prática dos indivíduos, ou seja, de fornecer a base para a 
resolução dos problemas práticos da vida em sociedade. 
1 
J 
t 
1 
r 
Análise e entendimento 
O desenvolvimento da consciência 
1. Segundo o filósofo jesuíta de origem francesa Teilhard 
Chardin (1881-1955): "O animal sabe. Masl certamen-
te1 ele não sabe que sabe ( ... ). Consequentemente! 
permanece fechado para ele todo um domínio do 
Real1 no qual nos movemos'.' Com base nesse raciocí-
nio, em que diferiria o ser humano do animal7 
2. Para que serve, respectivamente, a atenção e a ref1e-
xão? Quando as exercitamos? 
3. O despertar da consciência crítica depende do cres-
cimento harmônico da consciência de si e da cons-
ciência do outro. Comente essa afirmação. 
4. Identifique que modo da consciência (mítica, reli-
giosa, intuitiva, racional) expressa cada frase abaixo. 
Justifique. 
a) Os antibióticos combatem as infecções porque 
evitam que as bactérias se reproduzam. 
b) A fúria de Netuno levantou ondas imensas, des-
truindo a embarcação. 
c) Algo me diz que ele está mentindo. 
d) Esta casa está abençoada por Deus. 
Senso comum, ideologia e filosofia 
5. Algumas noções do senso comum escondem ideias 
falsas, parciais ou preconceituosas, enquanto outras 
revelam profunda ref1exão sobre a vida. Como você 
explica essa contradição? 
6. Por que se pode dizer que o senso comum é um ter-
reno favorável ao desenvolvimento de ideologias? 
7. Qual o sentido original do termo filosofia? Explique. 
8. Releia a frase citada de Descartes neste capítulo. Que 
relação você pode estabelecer entre essa declaração 
do filósofo, o senso comum e a filosofia? 
Vivenciar e refletir 
1 . Consciência crítica 
2. O exercício do "estranhamento11 
"Não digam nunca: isso é natural!". Discuta com seus 
colegas o sentido desse verso de Brecht. 
3. O despertar da filosofia 
Que é e par·a que serve a f11osofia7 Reílita sobre o 
tema e o apresente a seus colegas 
4. A era dos especialistas 
No mundo científico atual existem inúmeros espe-
cialistas para cada setor do conhecimento. Debata o 
seguinte tema: "Vantagens e desvantagens da espe-
cialização extrema". 
5. Consciência e rnusica 
Pesquise, em grupo, letras de música relacionadas a 
um dos assuntos abordados no capítulo, como por 
exemplo: consciência, ideologia, intuição etc. Em se-
guida, crie uma letra inspirando-se em sua pesquisa. 
6. Consciência de si 
Escolha alguns momentos de sua vida que você 
considera marcantes. Depois, para cada um dos mo-
mentos escolhidos, redija um texto e selecione uma 
imagem para ilustrá-lo. 
Navegando pela internet 
Leia o verbete Ideologia (disponível em: <http//www. 
usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ 
ideolog/index.html> ), na Enciclopédia virtual de Econo-
mia Política e Urbanismo, produzida pela Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP 
Em seguida, crie um desenho ou uma fotomontagem 
relacionando a noção de ideologia com uma das se-
guintes palavras: crítica, utopia, hegemonia, liberalismo, 
social-democracia, neoliberalismo, estágios de desenvol-
vimento, democracia, racionalismo ou ideologia da elite. 
Textos filosóficos 
Encontre situações que expressem as seguintes No texto a seguir, o filósofo brasileiro Roland Cor-
atitudes: a) consciência de si; b) consciência do ou- bisier (1914-2005) ressalta a importância do ato de 
tro; c) consciência crítica. Escreva pelo menos uma perguntar. Esse ato, tão "banal e cotidiano''. nos dis-
frase para cada uma. Depois compartilhe-as com tingue, essencialmente, de todos os demais seres 
seus colegas. { B ~~s. Por isso, está na raiz da atividade filosófica. 
i.. I 8 L 1 O T t: C. l~ - F A :~:11 ;~, 7 : 
--.,,.,_,,,~.,,_..,~ .... ,."'.,',:, ... '.,.,' ,':::j CAPÍTULO J L.rmsc:én:1a ' 
Metaphysical vision of New York (1975) - Giorgio de Chirico. Coleção 
particular. A existência humana parece ser um enigma indecifrável, ao 
mesmo tempo fascinante e assustador. Com a filosofia, as questões mais 
profundas do ser humano podem ser percebidas e discutidas. 
Homem: o ser que pergunta 
Normalmente perguntamos sem refletir sobre 
o próprio perguntar, sem indagar pelo significado 
dessa operação da inteligência que se acha na raiz 
de todo conhecimento e de toda ciência. E ao per-
guntar por perguntar, convertemos essa operação, 
que nos parece tão banal, tão quotidiana, em tema 
filosófico, a partir do momento em que passamos a 
considerá-la do ponto de vista da crítica radical. 
Se compararmos, nesse aspecto, o comportamento 
humano com o do animal, verificaremos que o animal 
não pergunta, não indaga, limitando-se a responder. 
Mas, por que o animal não pergunta? Não per-
gunta porque não precisa perguntar. E por que não 
precisa perguntar? Porque, para viver e reproduzir-
-se, dispõe do instinto que o torna capaz de fazer, 
embora inconsciente e sonambulicamente, tudo o 
que é necessário para sobreviver e assegurar a so-
brevivência de sua espécie. 
O animal não pergunta, limita-se a responder a 
estímulos e provocações do contexto em que se en-
5 6 UNIDADE 1 SLn Hurv;f\1![] i'\ÇÁíl L HEFLEXArJ 
contra, a responder imediatamente, fugindo 
do perigo, quando é ameaçado, e atacando 
a presa quando está com fome. 
Em contraste, o homem pergunta. E, 
por que pergunta? Porque precisa pergun-
tar. Mas, por que precisa perguntar? Precisa 
perguntar porque não sabe e precisa saber, 
saber o que é o mundo em que se encon-
tra e no qual deve viver. Para poder viver, e 
viver é conviver, com as coisas e com os ou-
tros homens, precisa saber como as coisas e 
os outros homens se comportam, pois sem 
esse conhecimento não poderia orientar sua 
conduta em relação às coisas e aos homens. 
Para o ser humano o conhecimento não é 
facultativo, mas indispensável, uma vez que 
sua sobrevivência dele depende. 
Ora, que está na origem do conhecimen-
to, tanto filosófico quanto científico? Na ori-
gem desse conhecimento está a capacida-
de, ou melhor, a necessidade de perguntar, 
de indagar, o que são as coisas e o que é o 
homem. 
CORBISIER, Roland. Introdução à 
filosofia, t. 1. p. 125-127. 
• PARA ENTENDER O TEXTO 
1. Baseando-se no texto, responda: por que o ani-
mal, para viver, não precisa perguntar? 
2. Em contraste com o animal, por que o homem 
precisa perguntar? 
3. Qual é a contradição irônica entre o que diz Cor-
bisier a respeito do ser humano e a classificação 
biológica da espécie humana? 
4. Comente a seguinte afirmação: apesar de pouco 
praticado, perguntar é um ato inteligente e muito 
importante numa conversação. É a melhor maneira 
de confirmar que o que a pessoa está entendendo é 
realmente o que quis dizer o outro. Por meio de per-
guntas, a pessoa também mostra sua atenção, sua 
curiosidade, seu interesse e seu respeito pelo que 
faz, sente e pensa seu interlocutor. Não fica apenas 
preocupada em exibir seus próprios conhecimentos, 
ou esconder sua ignorância, e aprende mais. Por isso 
há quem diga que fazer perguntas é mais importan-
te que dar respostas. 
DE OLHO NA UNIVERSIDADE 
1. (Udesc) Afirma-se, comumente, que as principais ca-
racterísticas da filosofia são a reflexão e a atitude crí-
tica. Nesse horizonte, estabeleça a diferença entre a 
filosofia e o senso comum. 
Para saber mais 
•NA INTERNET 
• Consciência mundial 
<http://www.youtu be.c:mn/watc:h ?v=zJyvvjv _S6l_ü> 
Vídeo da palestra "Consciência Mundial: por um 
conceito de desenvolvimento para o século XX''. com 
a participação do pensador Edgar Morin. 
•NOS FILMES 
• Brilho eterno de uma mente sem lembranças(2004, EUA, direção: Michel Gondry) 
Um jovem descobre que sua ex-namorada se sub-
meteu a um procedimento para apagá-lo da memó-
ria e decide fazer o mesmo. Durante o procedimento, 
no entanto, ele se dá conta de que ainda a ama. 
•Fahrenheit 451 (1966, Reino Unido, direção: Fran-
çois Truffaut) 
Em um futuro opressor, a principal tarefa dos 
bombeiros é atear fogo em todos os livros que en-
contrarem. Um bombeiro, no entanto, começa a 
questionar os verdadeiros interesses por trás disso. 
•Mais estranho que a ficção (2006, EUA, direção: 
Marc Forster) 
Harold Crick é um auditor fiscal com uma vida 
tediosa. De repente, ele se descobre personagem 
principal de uma narração que afeta sua vida e que 
somente ele é capaz de escutar. 
• Mississipi em chamas (1988, EUA, direção: Alan 
Parker) 
Clássico sobre o racismo nos Estados Unidos dos 
anos 1960 que denuncia o problema da intolerância . 
·Os últimos rebeldes (1992, EUA, direção: Thomas 
Carter) 
Apresenta a ascensão do nazismo e a ideologiza-
ção da consciência da juventude alemã. 
·Quero ser John Malkovich (1999, EUA, direção: 
Spike Jonze) 
Um titereiro descobre um portal que leva literal-
mente à cabeça de uma estrela de cinema: o ator 
John Malkovich. 
•Sociedade dos poetas mortos (1989, EUA, dire-
ção: Peter Weir) 
Por trás de um enredo bastante previsível, aborda 
uma questão fundamental: em uma sociedade como 
a nossa, de que espaço podemos dispor para a ex-
pressão do que há de mais humano em nós, nossas 
dúvidas, perguntas essenciais? Qual o lugar do "inútil''. 
da poesia, da arte e da filosofia? 
CAPÍTULO 3 c~ns:i2nc12

Continue navegando