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Marketing empreendedor novos rumos para o sucesso nos negócios de micro, pequenas e médias empresas Organizadores: Sérgio Moretti Fernando César Lenzi Fabríc ia Durieux Zucco MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 1 03/02/2012 17:41:43 Conselho editorial Dr. Ivo José Both (presidente) Drª. Elena Godoy Dr. Nelson Luís Dias Dr. Ulf Gregor Baranow Editor-chefe Lindsay Azambuja Editores-assistentes Ariadne Nunes Wenger Editor de arte Raphael Bernadelli Preparação de originais Tiago Krelling Marinaska Capa Stefany Projeto gráfico Stefany Diagramação Stefany Iconografia Danielle Scholtz Informamos que é de inteira re- sponsabilidade da autora a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal. Esta obra é utilizada como material didático nos cursos oferecidos pelo Grupo Uninter. 1ª edição, 2012 Av. Vicente Machado, 317 . 14º andar Centro . Cep 80420-010 . Curitiba . PR . Brasil Fone: (41) 2103-7306 www.editoraibpex.com.br editora@editoraibpex.com.br Marketing empreendedor: novos rumos para o sucesso nos negócios de micros, pequenas e médias empresas / organizadores Sérgio Moretti, Fernando César Lenzi, Fabrícia Durieux Zucco. – Curitiba: Ibpex, 2012. Bibliografia. ISBN 978-85-7838-925-3 1. Administração de empresas 2. Empreendedores 3. Marketing 4. Microempresas - Marketing 5. Pequenas e médias empresas - Marketing 6. Sucesso em negócios I. Lenzi, Fernando César. II. Zucco, Fabrícia Dirieux. 12-01089 CDD-658.0220688 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Micros, pequenas e médias empresas: Marketing empreendedor : Administração 658.0220688 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 2 03/02/2012 17:41:43 Sumário Prefácio, 5 Introdução, 7 Parte 1: Entender o mercado 1. O papel do marketing empreendedor nas empresas ............. 13 Sérgio Moretti e Fernando César Lenzi 2. O empreendedor de sucesso em marketing .......................... 33 Fernando César Lenzi e Sérgio Moretti 3. Inovação empreendedora das pequenas e médias empresas 57 Maria José Silvia e Emerson Wagner Mainardes Parte 2: Desenvolver ofertas de valor 4. Estratégias empreendedoras para produtos e serviços .......... 91 Edgar Monforte Merlo, Harrison Bachion Ceribeli e Benny Kramer Costa 5. Empreendedorismo e inovação das Pequenas e médias empresar no e-commerce .......................................................119 Jouliana Jordan Nohara, Claudia Rosa Acevedo e Milton de Abreu Campanário 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 3 03/02/2012 17:41:43 6. Marketing empreendedor para empresas de serviços .........149 Marcio Daniel Kiesel e Nelson Marcelo Santiago Parte 3: Atender aos clientes 7. O empreendedor na gestão de preços ................................ 183 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio e Sydney Manzione 8. Distribuição empreendedora para atender ao cliente .......... 211 Luciana Helena Crnkovic, Maria dos Remédios Antunes Magalhães e Claudia Terezinha Kniess 9. Gestão empreendedora no varejo ....................................... 247 Sérgio Silva Braga Júnior, Dirceu da Silva 10. Comunicação empreendedora de marketing ..................... 277 Fabrícia Durieux Zucco, Cristinav Schmitt Miranda e José Eduardo Storópoli Considerações finais Sérgio Moretti, Fernando César Lenzi e Fabrícia Durieux Zucco MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 4 03/02/2012 17:41:44 Prefácio A gestão eficaz de mercado proporciona, a qualquer empresa, um diferen- cial competitivo que auxilia na superação dos obstáculos e das dificuldades que muitos empreendedores enfrentam. Os índices de mortalidade dos negócios, de forma geral, estão relacionados a dois aspectos principais: competências gerenciais e desatenção às peculiaridades e às necessidades do mercado. O domínio desses fatores depende da atitude do empreende- dor diante dos desafios do dia a dia, das habilidades deste em superar os imprevistos e do seu conhecimento sobre as ferramentas e técnicas mais importantes; com isso, o empreendedor terá o pleno domínio das caracte- rísticas do mercado em que atua. O livro Marketing empreendedor procura fundamentar, em uma lingua- gem fácil e de maneira prática, consistente e direta, os principais fatores envolvidos na busca pelo sucesso empresarial, reforçando os aspectos de mercado que devem ser considerados para se obter a excelência empreen- dedora. Todos os capítulos foram desenvolvidos com o propósito de trazer o que de mais avançado existe nos campos acadêmico e gerencial, sendo ilustrados com casos práticos que fornecerão subsídios para a reflexão sobre os conceitos analisados. O resultado positivo no mercado não vem do casuísmo, mas sim do desenvolvimento de estratégias pensadas, deliberadas ou emergentes, que se consolidam em um planejamento com foco na visão de futuro da empresa. Um mercado como o que existe na atualidade, formado e vol- tado ao consumo, tem como principal característica um consumidor ou comprador empresarial muito bem informado e, principalmente, escolado nas boas práticas de marketing. Não é à toa que as empresas de destaque no mercado têm a capacidade de aprender constantemente com suas ações e se posicionam perante seus clientes de maneira diferenciada, o que ocasiona a valorização do negócio e da marca, além de gerar uma 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 5 03/02/2012 17:41:44 rentabilidade maior do negócio e um impacto econômico mais favorável para o ambiente empresarial. Nas decisões de negócio, as atitudes racionais e emocionais do empreen- dedor devem caminhar juntas, para que todos os detalhes sejam percebidos e todas as ações sejam planejadas e realizadas de forma constante e perió- dica. Perseverança é uma palavra-chave no jogo de qualquer empreende- dor, que deve saber quando insistir e quando desistir de um projeto, assim como obter e processar informações das mais variadas fontes, pois quanto maior o domínio do conhecimento do negócio e do mercado, melhores serão os seus resultados. Os organizadores desta obra, Sérgio Moretti, Fernando César Lenzi e Fabrícia Durieux Zucco, foram muito felizes em identificar profissionais de formação consolidada nas melhores universidades do país, mas também com experiência de mercado para oferecer todo o conhecimento acadêmico e prático necessário para que você consiga chegar aos melhores resultados desejados. O grupo de autores deste livro conseguiu sintetizar e esquematizar, nos capítulos que seguem, os principais fundamentos de mercado que possui uma empresa de sucesso. Nesse sentido, você poderá utilizar este material como um verdadeiro guia mercadológico para a sua empresa, analisando todos os pontos apresentados e colocando em prática todas as ações pro- postas pelos autores. Assim, desejo que você aproveite muito a oportunidade de tornar esta obra uma referência na sua vida empresarial e na sua carreira profissional. Nelson Marcelo Santiago Presidente do Banco de Fomento de Santa Catarina (Badesc) Mestre em Administração pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb) 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 6 03/02/2012 17:41:46 Introdução Este é um livro destinado aos empreendedores de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e aos profissionais de marketing que necessitam de uma visão direta e objetiva para desenvolver seus negócios.A obra foi concebida e estruturada para contemplar os principais tópicos de marketing, organi- zando-os em um esquema geral que tem mostrado resultados positivos em qualquer empreendimento, seja qual for o seu tamanho: Entender o mercado Desenvolver ofertas de valor Atender aos clientes Por essa razão, esta obra é dividida em três partes: Parte 1: Entender o mercado – a primeira fase do processo de marketing, na qual se busca a compreensão do contexto em que sua empresa se encontra e por que é recomendável obter elementos das variáveis externas e internas mais relevantes para o sucesso desta. Parte 2: Desenvolver ofertas de valor – a segunda fase refere-se à criação e à produção de ofertas – bens ou serviços – que sejam adequadas aos seus recursos e às necessidades dos seus clientes e, ainda, capazes de gerar lucros. Parte 3: Atender aos clientes – é a derradeira fase do processo de marketing, a qual se concentra em alinhar as ferramentas mais importantes para que as ofertas sejam disponibilizadas aos clientes, tendo como resultado a competição da empresa, em condições de igualdade, com os seus concorrentes. MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 7 03/02/2012 17:41:46 Alguns dos melhores profissionais em atividade, tanto no campo geren- cial quanto no campo acadêmico, foram desafiados a preparar o “estado da arte”, no que se refere ao marketing empreendedor, e a escrever os dez capítulos que compõem este livro. As informações sobre eles podem ser encontradas na seção “Nota sobre os autores”. Cada capítulo está estru- turado para oferecer, além do conteúdo principal, um resumo do assunto abordado, questões para reflexão e as referências utilizadas no desenvolvi- mento do conteúdo. No final do livro, você encontrará um índice remissivo para facilitar a busca pelos assuntos mais importantes. Os organizadores Prof. Dr. Sérgio Moretti, Prof. Dr. Fernando César Lenzi e Profª. Msc. Fabrícia Durieux Zucco 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 8 03/02/2012 17:41:46 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 9 03/02/2012 17:41:48 parte 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 10 03/02/2012 17:41:49 Entender o mercado Na primeira fase do processo de marketing, buscamos a compreensão do contexto em que sua empresa ou o seu projeto se encontram. Para isso, é recomendável obter elementos das variáveis externas e internas mais relevantes para o seu sucesso. Nesse contexto, esta parte é dividida da seguinte forma: ■ O Capítulo 1 – O papel do marketing empreen- dedor na empresa, de Sérgio Moretti e Fernando César Lenzi – trata das responsabilidades que o marketing pode ter nas empresas e como ele pode ajudar a atingir os resultados desejados. ■ O Capítulo 2 – O empreendedor de sucesso em marketing, de Fernando César Lenzi e Sérgio Moretti – mostra que o empreendedor de sucesso deve estar constantemente conectado ao mercado, colocando em prática algumas das orientações ou sugestões apontadas neste livro. ■ O Capítulo 3 – Inovação empreendedora das pequenas e médias empresas, de nossos colegas portugueses Maria José Silva e Emerson Wagner Mainardes – defende o argumento de que as pequenas e médias empresas (PMEs) devem conhecer os principais mitos e barreiras a serem enfrentados, bem como as principais razões para inovar, de forma a criar mais valor para os seus clientes e obter vantagens competitivas. MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 11 03/02/2012 17:41:51 capítu lo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 12 03/02/2012 17:41:51 O papel do marketing empreendedor nas empresas Fernando César Lenzi Sérgio Moretti MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 13 03/02/2012 17:41:51 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 14 03/02/2012 17:41:51 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti Introdução Este capítulo tem como finalidade introduzir, de forma objetiva, o papel que o marketing pode desempenhar nas empresas e como ele pode auxiliá-las a atingir os objetivos de vendas. A ideia que orientou este texto é a de transmitir, da maneira mais direta possível, os principais conceitos relacio- nados ao conhecimento que toda empresa deve ter de seu mercado e de seus compradores. Aos que desejarem aprofundar o conhecimento sobre essa importante atividade para o sucesso dos negócios, no fim do capítulo é listada uma bibliografia essencial sobre os principais tópicos estudados. O marketing é uma das disciplinas ligadas aos negócios mais estudadas ultimamente. Porém, muitas vezes, ele é confundido com a área da propa- ganda, que na verdade é uma das suas ferramentas mais conhecidas. Essa confusão é bastante comum, pois é por meio da comunicação, na qual a propaganda se insere, que o marketing se relaciona com o seu público. No entanto, ele é um conceito muito mais amplo: seu estudo e desenvolvimento têm aglutinado várias disciplinas, que se combinam e se relacionam em uma forma original de gerenciar negócios. O marketing também não é a atividade de vendas, embora ambos estejam estreitamente ligados. A sua principal função é vender, mas nor- malmente o marketing não está relacionado aos aspectos operacionais da venda em si, e sim com as atividades que facilitam a sua realização, como será visto mais adiante. 1.1 Marketing: ponte entre empresas e clientes Para tomar decisões acertadas em seus negócios, as empresas devem analisar um conjunto de situações relacionadas aos ambientes interno e externo. Esse é o foco dos estudos organizacionais, e não será tratado neste livro. Para efeito analítico, os profissionais de marketing costumam dividir o ambiente externo em: 15 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 15 03/02/2012 17:41:52 macroambiente, que é o cenário no qual se desenrolam as atividades rotineiras da sociedade. São as variáveis relacionadas aos ambientes econômico, tecnológico, sociocultural, político-legal e demográfico. O macroambiente tem uma dinâmica de longo prazo, sobre a qual as empresas têm pouca ou nenhuma influência – para elas, essas variáveis são virtualmente incontroláveis; mercado, que é o cenário em que se desenrolam as atividades pertinentes aos negócios das empresas. Esse ambiente é aquele em que elas desempenham o papel de vendedoras ou de compradoras de algum tipo de bem ou serviço. O mercado tem como agentes ou participantes principais os seguintes elementos: os fornecedores de matérias-primas, de insumos ou de serviços para os produtores de outros bens e serviços e, portanto, concorrentes entre si; e os compradores desses mesmos bens e serviços. Assim, o marketing deve lidar com um conjunto de ambientes que produzem situações para as quais não existem regras claramente definidas. Caso haja qualquer alteração em um de seus elementos, sua combinação pode ser alterada e, consequentemente, o resultado final de suas ações. Para dar conta desses desafios, é necessário investir tempo em planejamento. 1.2 Marketing: filosofia de negócios, de estratégia ou de operações? Uma empresa pode ter sua orientação voltada ao marketing e, nesse caso, ter uma filosofia de negócios de marketing, o que significa que suas opera- ções poderão sofrer uma orientação de fora para dentro, ou seja, a empresa levará em consideração a perspectiva do comprador em suas decisões. Todas as empresas, tendo ou não orientação para o marketing, devem pensar estrategicamente em como utilizar suas ferramentas e em como 16 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 16 03/02/2012 17:41:52 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti conciliar suas áreas para atingir plenamente seus objetivos. Quando a área de marketing participa ativamentedesse planejamento, costuma-se dar o nome de marketing estratégico a essa atividade, assim denominada por estar relacionada com as grandes decisões da empresa. Como na estraté- gia militar, as decisões de ataque ou de defesa são tomadas em função da posição ocupada pelas empresas diante de seus ambientes de negócios. À mais antiga atividade de marketing, cuja atuação ocorre no mercado em si, dá-se o nome de marketing operacional. Essa atividade ocupa-se em conciliar e executar as ações que foram planejadas anteriormente, com o intuito de alcançar os objetivos da empresa. Com base nessas premissas, uma das definições de marketing pode ser: Marketing é um conjunto de atividades desenvolvido pelas empresas, que possui como objetivos ganhar e manter clientes, de forma a gerar o melhor retorno possível do investimento. Assim, os profissionais de marketing devem coordenar uma série de atividades pertinentes à sua natureza: aquelas ligadas ao mercado em si e as que pertencem a outros setores da empresa, mas que são absolutamente necessárias para que obtenham sucesso. Para que essas atividades tenham a participação de todos os responsá- veis e o conhecimento de todos os interessados, as empresas, e a área de marketing em particular, utilizam o recurso de planejar suas atividades e transformar esse esforço em planos de ação. Estes têm diferentes escopos e alcances, mas englobam todos os setores relacionados com as ações de marketing, permitindo que os envolvidos tenham atuação coerente e se mantenham focados em seus objetivos. A direção-geral das empresas, por exemplo, planeja suas atividades para períodos determinados de tempo, em um plano corporativo ou estratégico ou, ainda, em um plano de negócios, com a finalidade de fornecer direcio- namento e objetivos de longo prazo para todas as unidades e atividades da empresa. 17 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 17 03/02/2012 17:41:52 O plano corporativo engloba os programas de todas as áreas da empresa e não deve ser confundido com o plano de marketing. Este último é um dos planos operacionais da empresa e sua duração é de curto prazo, normalmente um ano. Ele tem a responsabilidade de gerenciar os objetivos de rentabilidade, de participação, de vendas, de distribuição, de comunicação, entre outros mais específicos, para um produto ou para uma linha de produtos da empresa. Uma comparação muito útil é a de que o plano de marketing é um mapa que orienta todos na empresa em direção a seus objetivos. Contudo, um cuidado que precisamos tomar nessa comparação é o seguinte: o mapa não é o território, mas sim uma representação arranjada e racionalizada deste ou do cenário em que as ações ocorrem. Dessa forma, devemos bus- car a representação do território com mapas periódicos cada vez melhores. É bom lembrar também que toda vez que o território ou o cenário não forem condizentes com o mapa, este deve ser alterado. O território é o mais importante, pois somente ele é capaz de demonstrar o acerto ou o erro das decisões. Podemos dizer que um dos segredos do sucesso em marketing é acreditar que não se deve repetir estratégias em demasia, e que o mer- cado – os compradores – deve ser monitorado regularmente. Porém, falar sobre algo é mais fácil do que colocá-lo em prática. Assim, para que o que foi descrito anteriormente ocorra, é necessário muito plane- jamento, tanto nas grandes decisões realizadas pela empresa, envolvendo as direções a serem seguidas, como nas operações dos vários programas que tornarão possível à empresa atingir seus objetivos. Nesse contexto, o marketing bem-sucedido deve procurar: Escolher o melhor grupo de compradores, oferecendo-lhes o melhor produto ou serviço, ao melhor preço, no local onde é mais fácil adquiri-lo, utilizando, para isso, a comunicação mais eficaz. 18 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 18 03/02/2012 17:41:52 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti 1.3 As empresas com orientação de marketing são voltadas para o cliente Como foi visto até agora, as empresas dirigem seus negócios com os olhos voltados ao cliente, isto é, ao comprador. Os clientes têm necessidades que são atendidas pelas empresas, que devem saber como traduzir suas com- petências em melhores produtos e serviços para satisfazer essas demandas, ou seja, saber como criar um valor que seja reconhecido e diferenciado das ofertas dos concorrentes. A Figura 1.1 mostra como é árdua a competição pela atenção e pela preferência dos clientes. É preciso estarmos atentos ao fato de que os clien- tes buscam soluções para suas necessidades e que os concorrentes não são apenas aqueles que oferecem os mesmos tipos de produtos e serviços. De fato, disputa-se uma parcela – literalmente – da carteira dos clientes, do dinheiro disponível que eles têm para gastar. Assim, os concorrentes são, também, aqueles que vendem outros produtos e serviços que estão dentro do campo de interesse dos compradores. Figura 1.1 – Competição pelos clientes Soluções Clientes Empresa Concorrentes diretos Outros produtos/serviços 19 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 19 03/02/2012 17:41:52 Esse fato é agravado porque o acirramento da concorrência e o desen- volvimento por parte dos clientes de uma certa “cultura de comprador” fizeram com que, cada vez mais, as empresas desenvolvessem produtos e serviços com base em pesquisas e em opiniões de seus compradores. É necessário lembrarmos que, na atualidade, parcelas cada vez maiores da população têm acesso à informação e que, quanto mais camadas de menor renda tiverem acesso ao consumo, mais elas serão capazes de julgar o que lhes é mais favorável. Isso, aproximadamente, é o que significa a cultura de comprador. Assim, para reconhecer com maior precisão seus clientes, as empresas devem realizar o exercício de definir qual é o seu negócio. 1.4 Definindo o negócio da empresa Uma empresa não conseguirá ter sucesso em suas atividades se não puder definir claramente qual é o negócio em que atua. Seu correto posiciona- mento inclui um preciso diagnóstico do seu ramo de atividades e dos com- pradores que o compõem. O pensamento mais moderno sobre marketing mostra que, para se ter sucesso nos negócios, uma empresa deve entender claramente alguns pontos fundamentais, como os que seguem: Qual é o ramo de atividade da empresa? Quem são os seus clientes e os seus consumidores? Onde eles se encontram e por que compram o seu produto? Quais são e o que estão fazendo seus concorrentes? Quais são as suas principais competências? Como já falamos anteriormente, existe uma relação importante entre os fatores internos e externos da empresa. Ambos estão ligados pela missão da empresa e, ao mesmo tempo, definem a sua estratégia. A Figura 1.2 mostra como ocorre a relação entre a missão e o negócio da empresa. 20 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 20 03/02/2012 17:41:52 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti Figura 1.2 – Relação entre a missão e o negócio da empresa Posicionamento da empresa Missão Negócio Análise externaAnálise interna Valores Competências Ações no mercado Fonte: Adaptado de Hooley, Saunders e Piercy, 2001. Alguns termos dessa figura podem ser assim explicados: missão – É a razão de ser da empresa no mundo; é o seu propósito como instituição; valores – São as convicções fundamentais disseminadas na empresa, entre seus funcionários, e que servem como referência na gestão de seus empreendimentos; competências – São os saberes e as técnicas dominados pela empresa e que formam um conjunto de processos relativos aos seus negócios, possibilitando o desenvolvimentode diferenciais competitivos para os seus clientes. É necessário entender que uma empresa não pode ter uma missão clara se não tiver os fundamentos dos valores que a orientam, assim como as competências que lhe garantem competitividade. Isso ocorre porque ela 21 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 21 03/02/2012 17:41:52 não conseguirá ter uma atividade de sucesso em seu mercado se não tiver um bom posicionamento diante de seus clientes. Estabelecidos esses pontos fundamentais para o pensamento organiza- cional, são apresentados, a seguir, os aspectos gerais do mix de marketing. 1.5 O mix de marketing O mix de marketing é composto pelo marketing, ou melhor, pelos 4Ps do marketing, que são: produto, preço, distribuição e comunicação. Nenhum dos outros três elementos do mix poderia existir se não houvesse o primeiro P, ou seja, um produto ou serviço a ser oferecido. O Capítulo 6 deste livro tratará mais especificamente sobre o marketing de serviços. O produto é a razão de ser dos outros 3Ps, assim como a sua referência principal. Por essa razão, os cuidados em relação a esse elemento devem ser o principal foco da empresa, pois é ele que fornecerá os principais elementos de diferenciação, que tornarão a empresa mais competitiva. Sua importância estratégica também é determinada pelo impacto que sua atuação causa nos processos empresariais, envolvendo muitos outros departamentos, desde sua elaboração até o seu consumo: pesquisa e desenvolvimento (P&D), produção, marketing, compras, logística e distribuição, vendas etc. A Parte 3 deste livro é dedicada ao aprofundamento sobre a questão do mix de marketing, e mostra aos empreendedores algumas formas de conquistar o mercado. 1.6 Segmentação: a chave do sucesso Para vender produtos e serviços, o melhor meio é identificar segmentos no mercado e trabalhar com foco no atendimento dos que melhor se adaptam ao seu negócio e aos seus recursos. Assim, segmentar os seus potenciais compradores significa estabelecer com eles canais de comunicação que possibilitarão a economia de muito tempo e dinheiro. Por exemplo: se for 22 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 22 03/02/2012 17:41:53 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti preciso comunicar-se com todo o Brasil, é necessário haver uma grande equipe de vendas e/ou de representantes e, ainda, utilizar a mídia nacional, que tem um custo muito maior. Identificar segmentos de mercado significa dividir os compradores por características que os tornam diferentes e agrupá-los por necessidades semelhantes. Esse processo parece complicado, mas não é. Por exemplo: mulheres e homens – nesse caso, as diferenças têm como base o gênero, mas facilmente podem ser percebidas necessidades semelhantes em cada grupo. Aqui, ocorre o princípio da segmentação. Os livros de marketing propõem vários modelos de segmentação, os quais são muito parecidos entre si. Nesta obra será utilizado o mais popular de todos: o modelo de Kotler (1999). A primeira providência que deve ser tomada, como já se viu, é entender em que mercado se está e o que se oferece para ele. Na sequência (Quadro 1.1), apresentamos um modelo que pode ser utilizado para esse objetivo. Esse modelo tem como base um pro- duto ou serviço vendido no varejo e serve para “enquadrar” os compradores. Quadro 1.1 – Identificando o mercado e organizando o comprador Quem constitui o mercado? Clientes do varejo e consumidores finais. O que o mercado compra? O que, de fato, o cliente leva com ele? Por que o mercado compra? Qual o benefício desejado pelos compradores? Quem participa da compra? A decisão é de uma ou mais pessoas ou áreas? Como o mercado compra? Processos necessários para concretizar a venda. Quando o mercado compra? Ocasiões e sazonalidade. Onde o mercado compra? Em que locais o consumidor adquire a oferta? Fonte: Adaptado de Kotler, 1999. A seguir, comentamos cada um dos casos para facilitar o entendimento: quem constitui o mercado? – No caso proposto, o mercado é formado pelo comprador final e pelo intermediário, que 23 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 23 03/02/2012 17:41:53 é o varejo; há, neste capítulo, o exemplo de uma fábrica de chocolates. Se a venda é realizada diretamente para o consumidor final, então o trabalho é simplificado. o que o mercado compra? – É a forma pela qual o comprador adquire a oferta. Assim, se ele deseja comprar uma furadeira, a forma final é a ferramenta em si; se ele deseja descansar em uma viagem, paga por um quarto em um hotel. por que o mercado compra? – Refere-se aos benefícios esperados pelo comprador para os bens ou serviços adquiridos. No exemplo da furadeira, o cliente compra a capacidade de fazer furos e consertar objetos para si mesmo, bem como para realizar serviços para outros. No caso do hotel, o consumidor não deseja o quarto, mas sim o descanso, e é isso de fato o que ele está comprando. quem participa da compra? – Todos os envolvidos em uma transação, de forma direta ou indireta. No caso da venda de uma peça para uma fábrica, por exemplo, com certeza será necessário falar com o responsável por ela e com o encarregado da compra. É importante, então, estar preparado para convencer o primeiro de que a peça é boa, e o segundo de que o preço vale a pena. Agora, tratando-se da venda de um pacote de viagem para uma família, muitas pessoas participam dessa decisão, e aí existe a necessidade de se estar preparado para resolver necessidades distintas de marido e mulher ou de pais e filhos. como o mercado compra? – Refere-se aos processos que devem ser acionados para concretizar uma venda. Por exemplo: se os compradores só realizam as transações por meio de crédito, ou de financiamento bancário, ou mesmo se o cliente só paga no prazo de 60 a 90 dias. quando o mercado compra? – São as ocasiões ou as sazonalidades a que a oferta está sujeita. Por exemplo: produtos de Páscoa, de Carnaval, de Natal, de Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Dia dos Namorados, além de produtos escolares, 24 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 24 03/02/2012 17:41:53 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti para férias etc. Nenhum deles é vendido o ano todo – pelo menos não da mesma forma –, pois as vendas estarão concentradas em períodos ou em ocasiões específicas. onde o mercado compra? – Para o caso de bens tangíveis, são os pontos de venda dos produtos (pontos de compra, do ponto de vista do consumidor). No caso dos serviços, são os locais onde se entrega a oferta, como agências de viagens, salões de beleza, hotéis, escritórios de contabilidade, entre outros. Atualmente, a internet desempenha um papel importante no caso dos serviços, pois funciona como um canal de vendas e de entrega, simultaneamente, como é o caso da venda de softwares, de música, de DVDs e de publicações em geral. Sabendo como o mercado é composto, podemos pensar nas formas de segmentá-lo, ou seja, de dividi-lo e, posteriormente, agrupá-lo para facilitar o contato com os compradores. O Quadro 1.2 irá ajudá-lo a pensar em formas de como proceder nessa atividade. Dependendo do tamanho do negócio, podem ser utilizadas várias dimensões para o caso. Quadro 1.2 – Dimensões possíveis de segmentação Geográfico Região, cidade, bairro, rua ou local Demográfico Estado civil, renda, formação, religião, etnia, torcida de clube Psicográfico Estilo de vida ou personalidade Comportamental Ocasiões, benefícios, usos e atitudes Assim, por exemplo, é possível atender, somente na cidade de São Paulo, mulheres solteiras com formação universitária, com idade entre 23 e 30 anos, que tenham umestilo de vida agitado e que gostem de novidades. Com base nesse esquema, é possível buscar algumas características básicas dos tipos de compradores que podem surgir para um negócio. 25 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 25 03/02/2012 17:41:53 1.7 Clientes e compradores Antes de começarmos a desenvolver esse tema, é muito importante que fiquem estabelecidas algumas definições úteis, que seguem o jargão do mercado, ou seja, a forma como são mais utilizadas no mundo dos negócios. As empresas produtoras de bens contam com dois tipos básicos de compra- dores de seus produtos: compradores organizacionais e consumidores finais. A característica primordial dos compradores organizacionais é que eles compram produtos para transformá-los ou revendê-los para outros com- pradores. Eles constituem os chamados mercados organizacionais, indus- triais ou B2B (business to business). Lidar com esses clientes implica usar as ferramentas de marketing de forma a atender algumas características que os diferenciam dos consumidores finais: eles são poucos e compram em grandes quantidades, estão localizados em regiões específicas, possuem compradores profissionais e tendem a ser bem menos impulsivos em suas compras. Por outro lado, os consumidores finais compram o produto para suprir determinada necessidade. O que os diferencia dos compradores organizacio- nais é que compram por motivos pessoais, e não comerciais. Normalmente, eles utilizam o varejo – bares, restaurantes, lojas, supermercados, padarias etc. – como locais de compra. Por essa razão, o conhecimento sobre os clientes varejistas é fundamental para se ter uma boa presença diante deles. 1.8 Objetivos do marketing Até este momento, analisamos as questões que levam ao estabelecimento da posição ou da situação em que a empresa se encontra em seu negócio. No entanto, sem responder ao questionamento a seguir, não podemos estabelecer um objetivo: se não se sabe onde está, como saber aonde se quer chegar? Dá-se o nome de objetivo ao ponto em que se quer chegar. Assim, as questões ligadas a esse conceito incluem: aonde?, quanto? e o quê? 26 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 26 03/02/2012 17:41:53 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti A maneira de se alcançar esses objetivos denomina-se estratégia. A questão fundamental ligada aos objetivos é o como? Os demais capítulos deste livro aprofundarão tanto as questões estra- tégicas quanto as táticas para se atingir os objetivos. É muito importante que não sejam colocados “todos os ovos em uma mesma cesta”, ou seja, é preciso ter sempre disponíveis informações que permitam uma tomada de decisões mais equilibrada. Isso significa que, quando estivermos pensando em participação de mercado ou em volume de vendas, também devemos ter em mente a lucratividade, comparando sempre o esforço despendido para se atingir um determinado volume, assim como o seu custo. É importante não esquecer que esforços de marketing custam dinheiro, seja em comunicação, seja com um novo vendedor, seja em despesas de vendas para realizar uma projeção de volume e/ou de participação. Assim, é necessário refletir bastante antes de se decidir “vender a qualquer custo”. Por isso, os objetivos sempre devem ser estabelecidos sem perder de vista que não é a venda em si o que interessa, mas o excedente entre receitas e despesas. Alguns objetivos são aqueles ligados às áreas e aos canais de vendas, ao total de vendas de um produto ou ao portfólio de produtos, tais como: volume de vendas, participação no mercado, média de vendas por cliente, número de visitas versus vendas realizadas, margem de contribuição e lucro final. Síntese Neste capítulo, procuramos, em uma linguagem direta e objetiva, fornecer uma visão geral sobre o papel do marketing nos negócios empreendedores. Assim, julgamos mais adequado, em vez de um resumo tradicional, apre- sentar dez princípios de marketing, com base em Hiam (1999), que sempre devem ser levados em consideração na condução dos negócios. Eles servem como uma revisão sobre o que foi visto neste capítulo: 27 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 27 03/02/2012 17:41:53 1. os clientes não estão ouvindo você – Você está mais interessado em vender do que os clientes em comprar; portanto, esforce-se para ser visto comunicando-se e, para se tornar relevante para eles, gerando valor. 2. os outros também estão gritando para seus clientes – Lembre-se de que seus clientes também compram outros tipos de produtos e serviços, não somente os seus. Certifique-se de que conhece bem os hábitos de compra des seus clientes. 3. o restante da organização pensa que você é “doido” – Talvez você seja o único da organização que defenda a perspectiva do cliente e queira gastar a “suada” receita em ações que ninguém sabe se darão resultados. A única saída para essa questão é desenvolver bons argumentos e se certificar disso, para obter resultados defensáveis. 4. você não pode executar nada sem as outras áreas da organização – Relacionamento afinado com as outras áreas da empresa e compartilhamento dos sucessos são ideias-chave para esse princípio. 5. se não obtiver sucesso, você está “frito” – Não há saída se não conseguir bons resultados. 6. é dando que se recebe – Embora no Brasil essa expressão esteja associada a “maracutaias”, a negócios escusos, aqui se trata de sempre buscar uma forma de parecer relevante para os clientes, por meio de promoções e de descontos, quando necessários. 7. ser bom é pouco; busque ser o melhor – Sobreviver no mercado é para profissionais. Trata-se de um campo muito competitivo e que, por qualquer descuido, seu concorrente, ou mesmo o cliente, “prega-lhe uma peça”. 8. pratique um marketing criativo – Copiar pode parecer uma boa ideia em uma ou outra ocasião, mas você não sobreviverá se não tiver ideias próprias para agradar seus clientes. 28 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 28 03/02/2012 17:41:53 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti 9. procure usar todas as ferramentas de análise possíveis – Todo profissional de marketing é um pouco artista, mas deve saber dosar essa sua faceta com o seu lado executivo, principalmente quando for necessário planejar ações e resultados. 10. marketing é tudo! – Você não precisa falar isso para todos, mas pode ter certeza de que a empresa precisa dos clientes para continuar existindo, e quem deve cuidar disso é você. Questões para reflexão e discussão 1. Discuta os conceitos de marketing apresentados com base em sua experiência. 2. Qual a sua opinião sobre o atendimento das necessidades dos clientes? Existe algum limite para isso? 3. Qual a diferença entre o cliente pessoa jurídica (com Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ) e o consumidor (com Cadastro de Pessoa Física – CPF)? 4. Quais são as ferramentas mais importantes do marketing? 5. Você concorda que, nos negócios, o marketing é tudo? Justifique sua resposta. Referências ACEVEDO, C. R. (Org.). Fundamentos de marketing. Itu: Ottoni, 2009. AIDAR, M. M. Empreendedorismo. São Paulo: Thomson Learning, 2007. (Coleção Debates em Administração). 29 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 29 03/02/2012 17:41:53 CAMPOMAR, M. C.; IKEDA, A. A. O planejamento de marketing e a confecção de planos: dos conceitos a um novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2006. CHINEM, R. Marketing e divulgação da pequena empresa: como o pequeno e o micro empresário podem chegar à mídia. 5. ed. São Paulo: Senac, 2002. DAY, G. A empresa orientada para o mercado: compreender, atrair e manter clientes valiosos. Porto Alegre: Bookman, 2001. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformandoideias em negócios. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. FARAH, O. E.; CAVALCANTI, M.; MARCONDES, L. P. (Org.). Empreendedorismo estratégico: criação e gestão de pequenas empresas. São Paulo: Cengage Learning, 2008. GIULIANI, A. C. (Org.). Marketing contemporâneo: novas práticas de gestão. São Paulo: Saraiva, 2006. HIAM, A. Marketing: o jeito divertido de aprender. Rio de Janeiro: Campus, 1999. (Série Para Dummies). HIAM, A.; SCHEWE, C. D. The Portable MBA in Marketing. New York: John Wiley & Sons, 1999. HOOLEY, G. J.; SAUNDERS, J. A.; PIERCY, N. F. Estratégia de marketing e posicionamento competitivo. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2001. KOTLER, P. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. São Paulo: Futura, 1999. LENZI, F. C.; KIESEL, M. D. (Org.). O empreendedor de visão. São Paulo: Atlas, 2009. LODISH, L.; MORGAN, H. L.; KALLIANPUR, A. Empreendedorismo e marketing: lições do curso de MBA da Wharton School. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. MAXIMIANO, A. C. A. Administração para empreendedores: fundamentos da criação e da gestão de novos negócios. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. 30 capítulo 1 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 30 03/02/2012 17:41:53 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti McDONALD, M. Planos de marketing: como criar e implementar planos eficazes. Rio de Janeiro: Campus, 2004. MENDES, J. Manual do empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009. MORETTI, S. L. A.; CAMPANÁRIO, M. A. Mercados organizacionais. In: ACEVEDO, C. R. (Org.). Fundamentos de marketing. São Paulo: Ottoni, 2009. Cap. 5. RICHERS, R. Marketing: uma visão brasileira. 8. ed. São Paulo: Elsevier, 2000. _____. Surfando as ondas do mercado. 5. ed. São Paulo: RR&CA, 1996. URDAN, F. T.; URDAN, A. T. Gestão do composto de marketing. São Paulo: Atlas, 2006. 31 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 31 03/02/2012 17:41:54 capítu lo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 32 03/02/2012 17:41:54 O empreendedor de sucesso em marketing Fernando César Lenzi Sérgio Moretti MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 33 03/02/2012 17:41:54 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 34 03/02/2012 17:41:54 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti Introdução O empreendedor que deseja ter sucesso em seu negócio deve ficar constan- temente conectado ao mercado, colocando em prática todas as orientações ou sugestões apontadas nos estudos deste livro. Por isso, a intenção deste capítulo é identificar os pontos fundamentais do seu desempenho como empreendedor, a fim de que você possa ter contato com os princípios mercadológicos para uma gestão eficaz da sua empresa ou da sua carreira. Podemos notar que uma empresa ou uma carreira sempre têm uma estreita ligação com o mercado, que exige um constante estado de alerta para a realidade atual e futura. Por essa razão, é preciso ter atenção redo- brada aos princípios mercadológicos, para não ser dominado por proble- mas pelos quais muitas empresas passam e que as levam a um índice de mortalidade preocupante – por volta de 60% até o terceiro ano –, mas que podem ser contornados com ações simples, porém certeiras, do empreen- dedor que está à frente do negócio. 2.1 Problemas mais comuns enfrentados pelas empresas* Os problemas mais comuns de uma empresa que passa por dificuldades estão associados a fatores controláveis, ou seja, situações que dependem essencialmente da atuação do empreendedor ao buscar uma solução. Portanto, é fundamental conhecermos esses fatores para evitá-los e para sabermos como trabalhar melhor essas ações, que podem evitar uma série de transtornos para um empreendimento. A seguir, apresentamos uma relação dessas situações, a fim de que sejam aproveitadas para se refletir sobre como uma empresa lida com essas * As Seções 2.1 e 2.2 foram adaptadas de Lenzi (2010a). 35 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 35 03/02/2012 17:41:54 questões na atualidade, ou, se a empresa ainda não existe, sobre como se pretende lidar com ela. Aproveite o espaço “Comentário do leitor”, antes dos “Comentários dos autores”, para registrar a sua opinião. 2.1.1 Falta de capital de giro Pergunta: O que leva uma empresa a apresentar falta de capital de giro? Comentário do leitor: ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Comentário dos autores: Essa é uma situação muito comum e que, por vezes, é associada apenas ao mau gerenciamento do fluxo de caixa. De fato, esse é um dos principais fatores, mas não o único. A ineficiência do gerenciamento mercadológico também é um fator muito comum, ou seja, caso se mantenha o foco apenas nos aspectos financeiros da empresa, serão evitados investimentos de mercado que podem ajudar o seu cliente a conhecer melhor os produtos da empresa e a aumentar o seu volume de vendas. Além disso, é essencial ter uma política de preços que contemple a cobertura de custos, mas que esteja associada a um equilíbrio de vendas necessário para que se obtenha um fluxo financeiro mínimo para a empresa prosperar. Por isso, é importante ficar atento, pois vender tudo a prazo pode ser uma política de vendas favorável para atrair clientes, mas pode ser prejudicial para a lucratividade da empresa. 2.1.2 Falta de clientes Pergunta: Por que é comum ver empresas reclamando da falta de clientes? 36 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 36 03/02/2012 17:41:54 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti Comentário do leitor: ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Comentário dos autores: Esse fator é muito frequente nas empresas que encerram suas atividades. Tal fato se deve à falta de atenção dispensada aos desejos do cliente. Por isso, não se deve perder de vista, nem por um segundo, a atenção aos detalhes sobre os consumidores: seus hábitos, seus desejos e suas opiniões. Mesmo em épocas de “vacas gordas”, não se pode deixar de dar atenção ao que estes pensam da sua empresa, de seus produtos ou serviços. As empresas que alcançam sucesso sabem que um mínimo de atenção aos clientes traz resultados de longo prazo, sobre- tudo em termos de fidelidade. Eles acabam pagando mais para continuar sendo clientes de empresas que oferecem atenção às suas sugestões e aos seus desejos. 2.1.3 Estoque encalhado Pergunta: Como uma empresa chega ao ponto de ter um grande volume de estoque encalhado? Comentário do leitor: ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Comentário dos autores: Manter altos níveis de estoque pode trazer van- tagens em termos de valor de compra de determinado produto ou de determinada matéria-prima. Entretanto, mantê-lo parado significa falta de movimentação do dinheiro, uma vez que os recursos investidos em 37 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 37 03/02/2012 17:41:54 estoques encalhadospoderiam ser utilizados em outros investimentos mais adequados. Porém, é importante saber que a falta de produtos também é prejudicial. Em todo caso, a causa desses problemas é a falta de planeja- mento. Portanto, a atenção deve ser redobrada, no sentido de dimensionar as ações de mercado para atrair clientes e de se empenhar em manter um nível de estoque adequado à oferta do produto no mercado. 2.1.4 Produção menor ou maior que a venda Pergunta: Qual a principal causa de uma empresa ter um volume de pro- dução menor ou maior que o de venda? Comentário do leitor: ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Comentário dos autores: Assim como no item anterior, produzir menos ou mais do que se vende é um problema de planejamento. Porém, nesse caso em especial, toda produção deve ser programada dentro de uma ação efetiva de mercado que identifique o volume de venda possível, dentro de uma necessidade do seu mercado-alvo. Por isso, é essencial que se rea- lize um exercício de projeção de cenários de vendas para alavancar uma produção equivalente, a fim de que não falte o produto no mercado nem sobrem estoques. 2.1.5 Produto ou serviço com preço baixo Pergunta: Por que algumas empresas estão sempre preocupadas em vender seus produtos apenas pelo preço mais baixo enquanto outras conseguem vender produtos semelhantes por preços mais elevados? 38 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 38 03/02/2012 17:41:54 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti Comentário do leitor: ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Comentário dos autores: Esse é um caso típico de empreendedor que não consegue agregar valor aos seus produtos. Ter custos baixos é muito bom para o desempenho da empresa, mas um produto de baixo custo pode ter um preço mais elevado se apresentar um diferencial aos olhos do cliente. Portanto, se o consumidor identificar um diferencial do produto A em relação ao produto B, poderá pagar um valor mais elevado por produtos semelhantes. Por isso, cabe ao empreendedor ficar atento à percepção do mercado em relação a seus produtos e serviços. Enfim, dentro do ambiente de problemas pelos quais as empresas pas- sam, os cinco pontos mencionados neste capítulo demonstram, de forma consistente, o cuidado que se deve ter como empreendedor para evitar problemas que dependem apenas de sua atuação. Para tanto, na sequência veremos que é possível perceber a importância de estar sempre conectado ao ambiente mercadológico. 2.2 A importância da busca de soluções Empreendedores de sucesso estão sempre conscientes quanto aos aspectos de mercado, dos mais básicos aos mais complexos. É natural ter certa dificuldade de trabalhar no ambiente mercadológico, sem que já se tenha vivenciado experiências positivas ou negativas nesse meio. Contudo, não podemos ficar esperando as coisas acontecerem; afinal, empreendedores de sucesso estão sempre à frente do seu tempo. As soluções para um desempenho empreendedor nas ações mercado- lógicas não são atos impossíveis ou utópicos, mas exigem esforço e dedi- cação. Para tanto, sugerimos as seguintes ações para iniciar ou incrementar a atuação mercadológica: 39 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 39 03/02/2012 17:41:54 estar sempre conectado com o que há de mais atual – Não se pode ficar trancado dentro da empresa – é preciso ler, participar de cursos e de reuniões, visitar feiras e eventos da sua área. A partir do momento em que se está convivendo com a realidade, estimula-se o potencial criativo, o que reverterá em ações de inovação para a empresa. observar em outros setores o que pode ser aproveitado no seu segmento de negócios – As melhores soluções nem sempre serão encontradas apenas em seu meio; a inovação de ações mercadológicas passa pela observação e pelo entendimento do que outros setores estão desenvolvendo e do que se pode adaptar dessas experiências à sua realidade. unir-se a outras empresas para buscar soluções conjuntas – Recomenda-se a participação em movimentos associativos; além disso, a união com outras empresas favorece a busca de soluções conjuntas para problemas semelhantes e estimula as ações de inovação pelo envolvimento com o que existe de mais moderno no meio. Para tanto, deve-se procurar associações empresariais, câmaras de dirigentes lojistas, sindicatos patronais etc. ficar sempre atento à concorrência – É importante sempre ter no seu ângulo de visão o que os seus concorrentes estão fazendo, ou seja, ficar atento ao desempenho e ao reflexo das ações deles quanto aos clientes. Assim, sabe-se o que deve ser melhorado em relação ao que acontece no seu ambiente, antecipando-se a possíveis problemas de perda de clientes. ouvir os seus clientes e ser “apaixonado” por eles – Deve-se estar sempre atento ao que o seu cliente pensa sobre a sua empresa e os seus produtos e serviços. Sendo assim, é essencial sistematizar essa ação, conversando com os clientes ou aplicando pesquisas constantes, que permitam saber se é preciso melhorar ou o que pode ser feito para antecipar seus desejos. 40 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 40 03/02/2012 17:41:54 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti Com essas ações simples, podemos dar início ao desenvolvimento de uma ação empreendedora eficaz para se ter sucesso com uma empresa. Porém, é recomendável desenvolver-se cada vez mais como empreendedor para se chegar a um estágio pleno de desenvolvimento e para ter sempre uma constância de resultados positivos. Para tanto, apresentamos, a seguir, uma série de questões que podem ajudá-lo a ter um desenvolvimento empreendedor ainda melhor. 2.3 As soluções empreendedoras* As soluções aqui apresentadas estão voltadas ao entendimento do tema empreendedorismo, sob o ponto de vista técnico e científico, e aplicadas à prática do dia a dia do empreendedor. Dessa forma, este deve se localizar e se posicionar nesse contexto teórico-prático para aprender e aplicar na sua vida as recomendações dos diversos estudos já realizados. A origem da identificação dos indivíduos empreendedores é atribuída a Schumpeter (1982), que apontava a figura do empresário como fator do desenvolvimento econômico em relação ao crédito e à nova combinação dos meios de produção. Ele apontava também que o empreendimento é o resultado de novas combinações de recursos, e que os empresários são os responsáveis por realizá-las. Schumpeter (1982, p. 57-63) descreve, ainda, como parte integrante da personalidade do empresário, o sonho e a vontade de achar um reino particular; a vontade de conquistar; o impulso para lutar, para provar sua superioridade para com os outros, para ter sucesso não pelos frutos, mas pelo próprio sucesso, pela alegria de criar, de mandar fazer as coisas, ou simplesmente exercendo sua energia e sua criatividade. É um tipo de profissional que procura a dificuldade, a mudança, que se delicia com aventuras e para quem o ganho pecuniário é mesmo a expressão muito exata do sucesso. * Seção adaptada de Lenzi, Kiesel e Zucco (2010). 41 MARKETING EMPREENDEDOR- MIOLO.indd 41 03/02/2012 17:41:54 A ação empreendedora é associada também à criatividade, à energia, à realização pessoal, à superioridade e ao poder, no sentido de capacidade de fazer. Por essa razão, é correto afirmar que o empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, pois, além de ser capaz de identificar oportunidades de mercado, possui uma aguçada sensibilidade financeira e de negócios capaz de transformar uma ideia em um fato econômico em seu benefício. Ele busca tanto atender os desejos dos seus futuros consumidores como satisfazer as suas necessidades de realização profissional. (Leite, 1998, p. 117) Uma definição clássica de empreendedor encontra-se no estudo de Filion, citado por Lima (2011, p. 4), quando diz que um empreendedor é uma pessoa imaginativa caracterizada pela capacidade de estabelecer e de atingir objetivos. Ela mantém um alto grau de vivacidade de espírito para detectar oportunidades. Enquanto se mantém aprendendo sobre possíveis oportunidades e tomando decisões de risco moderado dirigidas à inovação, continua desempenhando um papel empreendedor. Filion, (citado por Lima, 2011, p. 4), afirma também que existe diferença entre o empreendedor e o proprietário-dirigente de uma empresa: Um empreendedor está principalmente interessado na inovação; já o proprietário-dirigente é alguém que possui e que administra [...] [uma empresa]. Um empreendedor pode ser um proprietário-diri- gente e este pode também ser um empreendedor. Uma pessoa pode ser ainda um ou outro, dependendo de suas características comportamentais relativas à sua maneira de lidar com pessoas e às atividades da empresa. Uma consideração importante sobre o que caracteriza um empreende- dor foi feita por Drucker (1986, p. 27), quando este diz que “nos Estados Unidos, por exemplo, o empreendedor é frequentemente definido como aquele que começa o seu próprio, novo e pequeno negócio”. Na sequência, porém, o mesmo autor relata um exemplo e chega à seguinte constatação: 42 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 42 03/02/2012 17:41:55 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti O casal que abre mais uma confeitaria, ou mais um restaurante de comida mexicana no subúrbio americano, certamente estará assu- mindo riscos. Mas, será que eles são empreendedores? Tudo que fazem já foi feito muitas vezes antes. Eles apostam na popularidade crescente de comer fora, na vizinhança. Por outro lado, eles não criam uma nova satisfação para o consumidor, e nem uma nova demanda para este. Visto sob esta perspectiva, é claro que eles não são empreendedores, mesmo que o seu negócio seja novo. (Drucker, 1986, p. 28) Analisando essas considerações, fica evidente que não basta apenas ter um negócio próprio para ser caracterizado como empreendedor. Existe um conjunto de competências inerentes aos empreendedores que devem ser desenvolvidas e praticadas. Além disso, considerando a amplitude do enfoque, a ação parece permear todos os fatores condicionantes que levam uma empresa ao sucesso. McClelland (1972) realiza uma abordagem voltada aos empreendedores com base na realização. Pessoas com alta necessidade de realização são aquelas que procuram constantemente mudanças em suas vidas, estabe- lecem metas realistas e realizáveis, e se colocam em situações competiti- vas. Seus estudos comprovaram que a carência de realização é a primeira característica identificada entre os empreendedores malsucedidos. Por isso, a necessidade de realização é o que impulsiona as pessoas a iniciarem e a construírem um empreendimento. McClelland (1972) defende também que uma sociedade que tenha um nível elevado de realização produzirá um maior número de empresários ativos, que, por sua vez, produzirão um desenvolvimento econômico mais rápido. Com base nos estudos do autor citado, foram desenvolvidas, em alguns países, pesquisas para identificar as principais características comportamen- tais presentes nos empreendedores de maior sucesso. As características mais comuns identificadas neles foram as seguintes: busca de oportunida- des; iniciativa; persistência; comprometimento; exigência de qualidade e de eficiência; disposição para correr riscos calculados; estabelecimento de metas; busca de informações; planejamento e monitoramento sistemático; persuasão; rede de contatos; independência e autoconfiança. 43 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 43 03/02/2012 17:41:55 A teoria de McClelland (1972) é fundamentada na motivação psicoló- gica, impulsionada por três necessidades básicas: 1. necessidade de realização – O indivíduo deve colocar à prova seus limites, além de realizar um bom trabalho, que mensure as suas realizações pessoais. Sendo assim, como foi dito anteriormente, pessoas com alta necessidade de realização são aquelas que procuram constantemente mudanças em suas vidas, estabelecem metas realistas e realizáveis e se colocam em situações competitivas. 2. necessidade de afiliação – Ocorre quando existe alguma evidência sobre a preocupação em estabelecer, em manter ou em restabelecer relações emocionais positivas com outras pessoas. 3. necessidade de poder – É caracterizada, principalmente, pela forte preocupação em exercer autoridade sobre os outros e em executar ações grandiosas. Considerando o significativo conjunto de definições na literatura sobre empreendedorismo, segundo os dados a seguir, podem ser organizadas as principais características e competências de empreendedores; com isso, é possível entender porque grande parte dos estudos aponta a relação do empreendedor com diversas ações necessárias para um resultado empre- sarial efetivamente positivo e duradouro. Os tipos mais comuns de ações, no dia a dia de uma empresa, podem ser: ação de preparação – Estágio inicial de planejamento da execução de tudo o que será estabelecido como prioritário. Preparar as pessoas e os recursos envolvidos evitará que surpresas desagradáveis e previsíveis possam prejudicar os resultados que tanto se espera alcançar. ação de organização – A preparação permite que o ambiente seja organizado de forma que os procedimentos ocorram sem tumulto e com recursos eficazmente direcionados aos resultados esperados. 44 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 44 03/02/2012 17:41:55 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti ação de avaliação – Na execução de qualquer procedimento, é fundamental que haja uma avaliação constante dos resultados, para verificar se o caminho escolhido é o mais correto para o momento. ação de correção – Caso algum problema ocorra dentro de uma ação de avaliação constante, é necessário realizar uma ação corretiva de imediato, antes que os resultados negativos se sobreponham aos positivos e tudo seja perdido. ação constante – Significa que o processo descrito anteriormente é sempre retomado, ou seja, as ações devem ser constantemente retroalimentadas. As competências empreendedoras, juntamente com as ações do dia a dia, levam às sete regras essenciais para que se tenha uma ação e uma atitude empreendedora, com foco nos resultados efetivamente sonhados e desejados. 2.4 Perfil empreendedor * Tomando como base o Quadro 2.1, é possível chegar a um perfil empreen- dedor. Para isso, deve-se analisar as afirmativas seguintes e atribuir uma nota correspondente a cada uma delas. É preciso responder as afirmações como de fato se pensa, e não com base em um modelo idealizado. Ao final do exercício, você poderá tabular os resultados e identificar como está o seu perfil empreendedor na atuali- dade e de que forma ele pode evoluir ainda mais. * Seção adaptada de Lenzi (2010c).45 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 45 03/02/2012 17:41:55 Quadro 2.1 – Perfil do empreendedor 1 2 3 4 5 Quando necessito de informações, dedico-me pessoalmente a obtê-las, buscando em fontes confiáveis. Sou organizado e planejo constantemente minhas ações antes de executá-las. Exercito constantemente minha criatividade, elaborando projeções para meu empreendimento ou para minha carreira. Quando não consigo atingir algo que desejava, reavalio o que aconteceu para buscar alternativas de melhoria. Sou dedicado a tudo o que faço e mantenho o foco naquilo que é prioritário para obter sucesso. Concentro minha energia naquilo que é essencial e não a gasto desnecessariamente em questões secundárias. Tenho bem definidos todos os meus objetivos e todas as minhas metas pessoais e profissionais, e revejo-os constantemente. Mantenho uma rede de relacionamentos adequada àquilo que pretendo atingir em termos de objetivos profissionais. Avalio todos os resultados que alcanço para poder adequar-me constantemente. Tenho metas desafiadoras para minha vida pessoal e para minha empresa, e planejo a forma de alcançá-las. (continua) 46 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 46 03/02/2012 17:41:55 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti 1 2 3 4 5 Quando enfrento um desafio, procuro pessoas do meu relacionamento para auxiliar, se necessário. Tenho uma apurada visão de futuro sobre como desejo ver minhas ações concretizadas. Consigo influenciar outras pessoas para que sejam parceiras em meus projetos, viabilizando os resultados projetados. Estou sempre disposto a quebrar regras e a superar obstáculos já enraizados no mercado, mantendo a ética empresarial. Total de pontos: _______ (Some todos os pontos assinalados) Fonte: Lenzi, 2010c. 2.4.1. Resultados e processamento Agora, é preciso verificar o resultado do seu perfil empreendedor com base nas questões respondidas. Lembre-se de que isso não se trata de um teste psicológico: ele é apenas uma reflexão de como você tem agido diante de algumas situações do seu dia a dia. Portanto, sempre que possível, deve-se rever todas essas atitudes para se obter um melhor resultado. Para avaliar a sua evolução, refaça o teste em cinco semanas. de 14 a 30 pontos – Você deve evoluir em seu perfil empreendedor. Tudo indica que você ainda procura evitar (Quadro 2.1 – conclusão) 47 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 47 03/02/2012 17:41:55 problemas ou não tem foco no que realiza. Lembre-se de que agir não é simplesmente sair fazendo tudo de qualquer jeito. Para se tornar um bom empreendedor, procure se capacitar e tomar atitudes mais positivas diante de problemas ou de situações adversas que se apresentarem. Comece já a praticar ações empreendedoras. de 31 a 55 pontos – Você parece estar no meio do caminho, mas lembre-se de que este pode ser de evolução ou de regressão. Portanto, olhe sempre para frente e busque ainda mais recursos pessoais para agir, tendo em vista a concepção do que os empreendedores de sucesso fazem. Continue praticando ações empreendedoras. de 56 a 70 pontos – Você parece ter um bom perfil como empreendedor. Parabéns! No entanto, com isso, o seu compromisso aumenta, ou seja, além de ter esse perfil, você deverá atuar como multiplicador da ideia, buscando estimular seus pares a evoluir nesse meio. Sempre ajude outras pessoas, para ser um líder de mudanças. Continue sempre se capacitando para não ficar para trás, e praticando intensamente comportamentos empreendedores. 2.5 Sete princípios para o sucesso empreendedor * Como forma de consolidar o teste de perfil empreendedor realizado ante- riormente, e para que você tenha uma orientação de como seguir o caminho dos empreendedores de sucesso, apresentamos, a seguir, os sete princípios para se chegar ao sucesso e para conseguir se manter em uma posição diferenciada no mercado: * Seção adaptada de Lenzi (2010b). 48 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 48 03/02/2012 17:41:55 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti 1. estabelecer uma visão de longo prazo – Visualizar as suas realizações. Se você conseguir determinar o que deseja para o futuro, todas as suas ações estarão fundamentadas na sua real intenção de chegar ao sucesso. Quem tem visão de longo prazo, tem perspectiva do caminho a seguir. Não perca tempo – visualize suas realizações futuras. 2. definir seus objetivos e suas metas mensuráveis com prazos realistas – Determinar o que se deseja alcançar em termos de resultados. Para isso, saiba qual é a sua visão de futuro. Procure escrever seus objetivos, relacionando-os com prazos determinados e com critérios para medir se eles foram alcançados. Esse princípio é fundamental para acompanhar o próprio desempenho. 3. realizar um planejamento do seu negócio ou da sua carreira – Planejar sempre. Os objetivos e as metas traduzem a sua visão de futuro em resultados efetivos. Por isso, o planejamento é indispensável para que suas estratégias sejam organizadas dentro do que você pretende alcançar, devendo ser constantemente atualizado e revisado para uma maior eficácia das ações propostas. 4. manter o foco naquilo que é prioritário – Concentrar ações em prioridades para a empresa e para a sua carreira. Fazer com que as necessidades básicas do empreendimento sejam sempre supridas. Ter foco é crucial para o cumprimento dos objetivos e das metas, dentro de um planejamento adequado, para se chegar à sua visão de futuro. 5. canalizar sua energia para o que é importante – Direcionar esforços e energia para o foco que o levará à sua visão de futuro. É com base neste princípio que serão realizados os primeiros passos no caminho do sucesso, transformando o planejamento em ações efetivas. Não adianta estabelecer objetivos e metas se, no meio do caminho, houver desperdícios de energia ou distorções de foco. 49 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 49 03/02/2012 17:41:55 6. criar uma rede de relacionamentos permanente – Manter sempre uma variedade de contatos e de parceiros essenciais para seu crescimento, pois eles são o alicerce de muitas realizações. A rede de relacionamentos deve ser mantida e desenvolvida por toda a sua vida e a do seu empreendimento, permitindo uma alimentação constante de novos contatos; 7. avaliar constantemente os seus resultados – Analisar todos os aspectos, formando um ciclo em seu negócio. O princípio consiste em observar cada passo e reprogramar, caso necessário, certas atividades de acordo com os resultados desejados e alcançados. Portanto, para se tornar um empreendedor de sucesso, alguns requisitos são essenciais, como se pode observar na Figura 2.1: Fiqura 2.1 – Empreendedor de sucesso Planejamento Foco Energia Visão Objetivos e metas Rede de relacionamentos Resultados Fonte: Adaptado de Lenzi, 2010b. 50 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 50 03/02/2012 17:41:55 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti 2.6. Estudo de caso: Cachorro-quente prensado O estudo de caso apresentado neste capítulo diz respeito a uma situação bem comum no segmento das empresas de pequeno porte. Terminada a leitura deste, você deve responder às questões propostas no fim do estudo e comparar as suas respostas com as opiniões de amigos, colegas, parceiros de negócios e pessoas de sua confiança. Em uma cidade de médio porte, no interior do estado, havia um ven- dedor de cachorro-quente chamado Pedro, que há anos trabalhava nesse segmento. Ele mantinha a sua carrocinha com uma freguesia constante, o que mal dava para sustentarsua família. Um dia, motivado pela necessi- dade de buscar um aumento nas vendas, teve uma ideia: colocou em sua carrocinha uma placa com os dizeres: “Temos cachorro-quente prensado”. Isso possibilitou o aumento das vendas. Decorridas três semanas, Pedro colocou outra placa: “Temos hambúr- guer”, passando a vender ainda mais. Diante desse crescimento, conseguiu comprar um trailer e instalou um belo letreiro luminoso, o que atraiu ainda mais clientela. Com a melhora da sua condição de vida, conseguiu, inclusive, subsidiar os estudos de seu filho na universidade da capital. Passado algum tempo, o filho retornou à cidade e não trouxe boas notícias. No mercado, todos comentavam sobre uma crise que se aproxi- mava e era preciso estar preparado para uma possível recessão. As pessoas teriam menos dinheiro para gastar; consequentemente, comprariam menos. Dessa forma, as empresas venderiam menos e deveriam cortar seus gastos e adequar sua produção a essa redução. O pai, assustado com esse possível cenário, no dia seguinte apagou o luminoso. Procurando adequar sua produção a esse quadro, começou a comprar apenas metade dos pães que normalmente comprava. Resolveu, então, parar de vender cachorro-quente prensado e hambúrguer, visto que estes tinham preços mais elevados. Assim, tanto a produção quanto as vendas diminuíram. No fim de algumas semanas, chegou à seguinte conclusão: “Meu filho tinha razão, a crise veio mesmo e as pessoas passaram a comprar menos”. 51 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 51 03/02/2012 17:41:56 Em outra área da cidade, outro vendedor de cachorro-quente observou que a sua freguesia começou a aumentar. Por esse motivo resolveu instalar um luminoso com os dizeres: “Temos cachorro-quente prensado e hambúr- guer”. Consequentemente, tanto vendas quanto os seus lucros cresceram. Síntese Considerando as ideias abordadas neste capítulo, é fundamental que se continue exercitando atitudes empreendedoras para que o desempenho em marketing seja apropriado à realidade do mercado. Em outras palavras, para que os resultados sejam efetivos e concretos do ponto de vista merca- dológico, é preciso manter o empenho e a dedicação sempre conectados ao mundo dos negócios. De forma geral, mesmo quando se tem o domínio da área empresarial, a prática dos sete princípios empreendedores fará com que sempre se tenha um lugar diferenciado entre as demais empresas que ainda estão preocupadas apenas em sobreviver. Os sete princípios, asso- ciados às sete regras empreendedoras, podem fazer a diferença na vida pessoal, profissional e empresarial. Por isso, revê-las de forma associada poderá fortalecer as práticas diárias. Questões para reflexão e discussão 1. Em termos de perfil empreendedor, o que faltou para que o vendedor de cachorro-quente pudesse manter seu ritmo de crescimento até a informação da crise de mercado? 2. O que levou a empresa a mudar seu desempenho de uma hora para outra, indo do sucesso à falência? Até que ponto a informação do filho prejudicou o desempenho da empresa? 52 capítulo 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 52 03/02/2012 17:41:56 Fernando César Lenzi Sérgio Moretti 3. O que o empreendedor (vendedor de cachorro-quente) deveria ter feito antes de alterar suas estratégias de venda e de oferta de produtos? 4. Quais ações o empreendedor poderia colocar em prática para que a sua empresa revertesse o quadro negativo e voltasse a ter resultados favoráveis? Quadro 2.2 – Princípios e regras empreendedoras Sete princípios para o sucesso Sete regras empreendedoras 1. Estabeleça uma visão de longo prazo; 2. Defina seus objetivos e suas metas, de forma mensurável e com prazos realistas; 3. Realize um planejamento do seu negócio ou da sua carreira; 1. O seu sucesso depende apenas de você; 2. Sonhe diariamente com os detalhes da sua empresa; 3. Transforme uma parte do seu sonho em realidade; 4. Mantenha o foco naquilo que é prioritário; 5. Canalize sua energia para o que é importante; 6. Crie uma rede de relacionamentos permanente; 7. Avalie constantemente seus resultados. 1. Tenha humildade para pedir ajuda quando precisar; 2. Se estiver com um problema, resolva-o em vez de se lamentar; 3. Nunca troque uma ação por uma desculpa; 4. Olhe sempre para frente e de cabeça erguida. Fonte: Adaptado de Lenzi, 2010b.. 53 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 53 03/02/2012 17:41:56 Referências COOLEY, L. Entrepreneurship Training and the Strengthening of Entrepreneurial Performance. Final Report. Contract n. DAN- -5314-C-00-3074-00. Washington: Usaid, 1990. DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. São Paulo: Pioneira, 1986. DUTRA, J. S. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. São Paulo: Atlas, 2004. FILION, L. J. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários de pequenos negócios. RAUSP – Revista de Administração da USP, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 5-28, abr./jun. 1999. FLEURY, A. C. C.; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências: um quebra-cabeça caleidoscópio da indústria brasileira. 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Brasília, 2001. 55 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 55 03/02/2012 17:41:56 capítu lo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 56 03/02/2012 17:41:56 Inovação empreendedora das pequenas e médias empresas* * Trechos deste capítulo foram extraídos de Silva (2007). Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 57 03/02/2012 17:41:56 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 58 03/02/2012 17:41:56 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes Introdução Empreendedorismo, inovação e pequenas e médias empresas (PMEs) sempre andaram juntos. Atualmente, as PMEs – por intermédio das quais constantemente surgem produtos, serviços e processos inovadores – assu- mem especial importância para o desenvolvimento econômico e social das regiões e dos países, devido à sua capacidade de gerar emprego e riqueza. A flexibilidade de atuação, que normalmente caracteriza esses tipos de empresa, facilita a sua adaptabilidade às necessidades do mercado e o aparecimento de inovações com o desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos. Nesse contexto, as PMEs e os empreendedores que as dirigem precisam conhecer quais são os principais mitos e barreiras para o crescimento que devem enfrentar, e quais são as principais razões para inovar, de modo que suas empresas possam atingir os seus objetivos com eficiência, criando mais valor para os seus clientes e obtendo mais e maiores vantagens competitivas. Tendo em vista uma perspectiva orientada para a inovação das PMEs, este capítulo tem como objetivos: estimular e difundir uma cultura de inovação em PMEs; conhecer as competências de inovação em PMEs; identificar os principais mitos e as barreiras à inovação em PMEs; conhecer as principais razões para inovar em PMEs; identificar os fatores críticos de sucesso no âmbito da inovação em PMEs. A inovação e o empreendedorismo são temas importantes da atualidade socioeconômica e, também, política. Constatou-se que o sucesso das PMEs, no longo prazo, depende de uma aposta inequívoca na inovação e em um processo de reinvenção constante de ideias, produtos, processos e modelos de negócio. Cada empresa implementa as melhores práticas e iniciativas, visando ao desenvolvimento de processos de inovação. Daí decorre que o processo empreendedor caminha lado a lado com a inovação, uma vez que 59 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 59 03/02/2012 17:41:56 o empreendedorismo possibilita que ideias inovadoras se transformem em iniciativas empresariais bem-sucedidas. 3.1 Importância atual da inovação e do empreendedorismo Conforme observado por Silva (2007), o empreendedorismo deve ser con- siderado um fenômeno relacionado às dinâmicas econômica, social e polí- tica. Para a autora, tanto o empreendedorismo como a inovação devem ser considerados motores da competitividade e do crescimento econômico, potencializando a criação de postos de trabalho e o desenvolvimento. Esse pensamento vai de encontro ao proposto por Audretsch, Carree e Thurik (2001), para os quais as novas empresas promovem o crescimento econô- mico e se tornam veículos indispensáveis para ampliar a competitividade e a inovação.* Nas palavras da autora, as novas empresas revitalizam os setores tra- dicionais e criam novos negócios que dinamizam a economia. Segundo Reynolds et al. (2002), as novas empresas revelam-se um importante fator de desenvolvimento econômico de uma região e de um país. Assim, um país que pretende obter crescimento econômico e, ao mesmo tempo, ser moderno e dinâmico, necessita de um elevado índice de criação de empre- sas para aproveitar eficazmente as novas oportunidades que surgem do mercado e da inovação. Nesse sentido, torna-se importante desenvolver iniciativas que estimu- lem o empreendedorismo e a inovação. Essas iniciativas deverão fomentar as culturas empreendedora e de inovação, de modo que se pontencialize as capacidades e se desenvolvam as competências. No entanto, pode- mos perguntar: De que forma se podem potencializar as competências empreendedoras e de inovação? Como transmitir às pessoas a motivação, * Nesse sentido, ver também Wennekers e Thurik (1999). 60 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 60 03/02/2012 17:41:56 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes os conhecimentos e as habilidades para desenvolver um projeto, um pro- duto, um negócio ou uma empresa? A resposta a essas questões poderá estar no conhecimento adquirido pelos empreendedores; será mais fácil empreender iniciativas se eles busca- rem uma formação adequada. Uma aprendizagem contínua irá ajudá-los a descobrir e a identificar suas capacidades e suas potencialidades na área, a proporcionar o conhecimento necessário para o desenvolvimento de com- petências empreendedoras e de inovação, bem como a adquirir conheci- mentos que possibilitem o desenvolvimento de novos produtos e de novos conceitos de negócio. Além disso, essa mentalidade empreendedora poten- cializará uma nova postura dos indivíduos nas organizações em particular, e na sociedade em geral, contribuindo para a construção de um país mais competitivo por meio de empresas inovadoras (Silva, 2007). Com isso, as principais questões sobre as PMEs são as seguintes: As PMEs inovam? As PMEs possuem capacidade para inovar? A inovação faz parte do mundo das PMEs? Se essas perguntas forem feitas a diversos empreendedores, provavel- mente só aqueles que trabalham com tecnologias mais avançadas dirão que a inovação faz parte do seu dia a dia. E os demais? A resposta provável é que a inovação seja uma “coisa” de empresas grandes ou de empresas que trabalham com tecnologias avançadas. Então, podemos nos perguntar: Será que uma empresa qualquer, independentemente do seu tamanho, não está capacitada para inovar? Essas dúvidas que invadem as mentes de empreendedores de todas as áreas são explicadas por um único motivo: grande parte deles não sabe exa- tamente o que é inovar, e poucos sabem exatamente o que é uma inovação. Essas constatações demonstram a importância de se esclarecer o que é a inovação empresarial, especialmente a que tem foco na realidade das PMEs. 61 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 61 03/02/2012 17:41:56 3.2 Mitos e inovação empresarial em PMEs Em uma era de informação e de comunicação, o conceito de inovação surge associado ao advento de novas tecnologias (de informação, de bio- tecnologia e de novos materiais, por exemplo) e ao desenvolvimento com base tecnológica. Na maior parte dos estudos e dos casos sobre inovação empresarial, tende-se a associar a noção de inovação às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou à ideia de tecnologia material, que compreende a aquisição de novos equipamentos com vistas à introdução de novos produtos ou de novos processos. Esses são apenas alguns dos mitos que envolvem a questão, visto que, tradicionalmente, encontram-se cinco mitos associados ao conceito de inovação em PMEs, como será exposto na sequência. Mito 1: Inovar é inventar Inovação não é necessariamente invenção. Inovação consiste em criar ou introduzir algo de novo na empresa ou no mercado, enquanto invenção correspondeao processo de criação de algo novo, mas que pode não ser economicamente útil. Em um momento posterior, poderemos verificar se existe uma efetiva aceitação da invenção e se esta dará origem a uma inovação de sucesso. Portanto, inovação é sinônimo de produzir e de explorar com sucesso uma novidade (invenção). Um exemplo disso consiste no desenvolvimento da tecnologia de micro-ondas, originária de uma empresa norte-americana de equipamentos de defesa Raytheon para fins militares. Anos mais tarde, identificou-se a oportunidade de negócios do desenvolvimento dessa tecnologia para uso doméstico. Mito 2: Inovar é uma função técnica do departamento de pesquisa e desenvolvimento (P&D) Silva (2007, p. 17) diz que “Inovação não é somente uma função técnica do departamento de P&D. A inovação consiste em um processo não linear, evolucionário, complexo e interativo 62 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 62 03/02/2012 17:41:57 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes de aprendizagem e de relacionamentos entre os membros da empresa e entre estes e o ambiente que a rodeia”. Por exemplo: o desenvolvimento de novas bicicletas com amortecedores, visando à prática de “bicicleta todo terreno” (BTT), ou, como é mais conhecida, mountain bike: a invenção foi feita por um usuário que praticava a modalidade, e só mais tarde a empresa assimilou essa inovação, dando origem a um novo tipo de bicicleta. Mito 3: Inovar corresponde a um avanço de conhecimento científico Segundo Silva (2007, p. 17), “Inovação não corresponde necessariamente a um avanço de conhecimento científico; consiste em pôr em prática novas ideias na organização sob a forma de novos produtos, processos e soluções de problemas”. A inovação ocorre também sob a forma de melhorias tecnologicamente significativas. Desse modo, as PMEs procuram dar respostas às necessidades de mercado e às solicitações dos seus clientes. Recentemente, uma PME de produtos congelados percebeu que, cada vez mais, existem mulheres no mercado de trabalho, o que produz várias oportunidades para a empresa, com a introdução e o desenvolvimento de novos produtos que visam a facilitar a vida das famílias nas quais a mulher e o homem trabalham fora. Com isso, a empresa lançou novos produtos e refeições congeladas. Mito 4: Inovar é um privilégio das grandes empresas Conforme Silva (2007), as grandes empresas tendem a inovar bastante devido ao seu poder econômico e aos grandes investimentos em pesquisa. Contudo, isso não é privilégio somente destas, uma vez que as PMEs possuem um conjunto de especificidades que lhes possibilita serem mais inovadoras do que as grandes empresas. Tal fato ocorre porque: elas são mais flexíveis e mais aptas a adotarem a inovação e a empreenderem novas iniciativas, uma vez que a estrutura da 63 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 63 03/02/2012 17:41:57 PME permite rápidas adaptações da sua linha de produção ou de suas operações no caso da fabricação de um novo modelo ou de um novo produto; elas estão mais atentas às mudanças de atitudes de consumo, de preferências e de valores dos consumidores, uma vez que estão mais perto dos consumidores/usuários. Por exemplo: uma empresa que desenvolveu uma prática inovadora apostando na venda de camisas feitas sob medida. Mito 5: Inovar é criar algo novo Inovar não é somente fazer algo nunca visto antes, mas também garantir uma melhora significativa no que já existe. Quanto aos resultados do processo de inovação, distinguem-se três categorias: 1. inovações incrementais – Correspondem a uma pequena melhora dos processos, dos produtos ou dos serviços de uma empresa. Normalmente, “ocorrem mais ou menos continuamente de acordo com a taxa de inovação da empresa ou do setor” (Silva, 2007, p. 20). Por exemplo: o aperfeiçoamento do aparelho de fax, que hoje permite a impressão em papel normal. 2. inovações radicais – Segundo Silva (2007, p. 20), “Correspondem a eventos descontínuos e resultantes da atividade de investigação e de desenvolvimento das empresas, das universidades e dos organismos públicos; são inovações de extrema importância para a criação de novos produtos e para a expansão de novos mercados”. Um exemplo desse tipo de inovação é a introdução de um sistema just in time em uma PME, visando à otimização e à eficiência da empresa. 3. inovações revolucionárias – Correspondem a melhoras significativas ou ao desenvolvimento de novos processos, produtos ou serviços na empresa, recorrendo-se a tecnologias fundamentalmente diferentes ou novas. Um exemplo disso é a tecnologia wireless application protocol (WAP), que permite a 64 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 64 03/02/2012 17:41:57 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes transmissão de dados digitais sem fio, como entre um celular e a internet. As PMEs, por estarem mais perto do mercado e por possuírem maior flexibilidade, estão mais aptas a desenvolver as inovações incrementais do que as inovações radicais ou revolucionárias. No entanto, essas empresas poderão fazer uso das tecnologias revolucionárias para dinamizarem o seu negócio. Por exemplo: uma PME, que explora um parque de campismo, implementou a tecnologia WAP no espaço desse parque, oferecendo aos seus usuários acesso à internet nas tendas e barracas. Portanto, conhecendo-se os mitos que envolvem o termo inovação nas PMEs, surge a questão: O que é inovação em PMEs? Ela ocorre quando existe uma busca por inovar sistematicamente, e a empresa procura a reinvenção constante dos seus modelos de negócio. Para isso, é necessário que ela esteja atenta às evoluções do meio que a circunda. Assim, a PME realiza uma sondagem de mercado e procura perceber a evolução das sociedades, encontrando inúmeras mudanças de atitudes e de preferências dos consumi- dores no ato de consumo. A PME que perceber e antecipar essas mudanças pode então adotar estratégias mais ofensivas e um posicionamento mais competitivo. Por exemplo: as primeiras empresas que lançaram serviços de entregas e de limpeza em domicílio, serviços de babysitting, serviços de cuidados continuados com os idosos etc. Na realidade, o conceito de inovação não se restringe às cinco dimensões mencionadas anteriormente, mas remete a uma variedade que extrapola grandemente a fronteira da tecnologia material e de P&D. A inovação abrange três visões: a inovação como processo, a inovação como atitude e a inovação como resultado do processo (Silva, 2003). 65 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 65 03/02/2012 17:41:57 3.3 Inovação como processo* Na primeira visão, a inovação como processo, o termo inovação empresarial define-se como um processo não linear, evolucionário, complexo e interativo de aprendizagem e de relacionamentos entre a empresa e o meio em que esta se insere. Nesse sentido, e de acordo com a síntese realizada por Silva (2003), podem-se destacar quatro tipos de aprendizagem: 1. Aprendizagem pela própria experiência no processo de produção, o learning by doing (Arrow, 1984) – para que se possa compreender melhor esse tipo de aprendizagem, tomamos como exemplo o desenvolvimento do layout fabril em células. Visando à flexibilização do sistema produtivo, a PME poderá realizar a adoção de células de manufatura. Destacam-se aí as seguintes potenciais vantagens a serem obtidas: redução do tamanho dos lotes de fabricação, de estoques, de refugos, de tempos de fabricação; e melhoras em termos de flexibilidade da empresa em atender às contínuas mudanças de mercado. 2. Aprendizagem na comercialização e no uso de produtos, deequipamentos e de inputs (entradas), o learning by using (Rosenberg, 1982) – nesse caso, a inovação provém do usuário. Por exemplo: os novos modelos de carrinhos de bebê, com características multifuncionais, como amortecedores e três rodas, o que torna o carrinho mais silencioso e mais fácil de conduzir. Esse tipo de inovação provém da necessidade sentida e manifestada pelas mães. 3. Aprendizagem resultante da busca de novas soluções tecnológicas nas instituições de P&D e outras, o learning by searching (Malerba, 1992) – é a busca pela solução técnica nas unidades externas de pesquisa e desenvolvimento, por exemplo. * As seções 3.3, 3.4, 3.5 e 3.7 foram adaptadas de Silva (2007). 66 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 66 03/02/2012 17:41:57 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes 4. Aprendizagem pela interação com fontes externas, o learning by interacting (Lundvall, 1988; 1992) – essa quarta situação pode ser demonstrada pela interação entre a empresa e os outros parceiros de negócio (fornecedores e concorrentes), os quais criam condições para o desenvolvimento do conhecimento e, por consequência, dos parâmetros para as inovações modificadoras do ambiente econômico. 3.4 Inovação como atitude Com relação à inovação como atitude, são ressaltadas determinadas com- petências, quais sejam: capacidade de criar e de imaginar o que não existe – O dirigente de uma PME imaginou a fabricação de um papel higiênico de cor negra; atualmente, a empresa fabrica papel higiênico nas cores da moda e vende para quem tem preocupações estéticas com o banheiro. capacidade de criar algo novo e economicamente útil – Significa passar da invenção à inovação, possibilitando a sua comercialização com sucesso; é o caso de inúmeros inventores que se tornaram empreendedores. Um exemplo clássico são os computadores pessoais, fabricados na década de 1970 pela Apple, que era uma PME e se tornou uma gigante mundial. capacidade de adotar a novidade – É a capacidade de aceitar algo novo, que pode ser uma sugestão de um membro da própria empresa. Por exemplo: em uma pequena empresa de arranjos de flores, a funcionária da limpeza sugeriu a composição de um arranjo com determinadas flores para oferecer à prima em seu aniversário; a empresa começou a comercializar esse tipo de arranjo, com um preço acessível dirigido à classe baixa que, atualmente, é o produto estrela da empresa. 67 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 67 03/02/2012 17:41:57 capacidade de questionar a rotina sobre o modo como tudo se faz na PME, visando à melhora e à otimização dos processos – O exemplo mais evidente disso é o método Toyota de fabricação, que repensou a linha de produção que foi criada pela Ford. introduzir sistematicamente melhoras – Isso se verifica no desenvolvimento de novas gerações de produtos, dando origem a um ciclo contínuo de vendas. Um exemplo é o caso das sucessivas gerações de telefones celulares e de filmadoras. Essas inovações sistemáticas também podem ser desenvolvidas por PMEs. identificar um novo conhecimento tecnológico – Com o desenvolvimento de novas tecnologias, a PME analisará se pode desenvolver novas ideias. O exemplo disso é o já referido desenvolvimento da tecnologia de micro-ondas, que, inicialmente, tinha fins militares, transformando-se posteriormente em uma oportunidade de desenvolvimento para uso doméstico. reconhecer e avaliar oportunidades de mercado – O envelhecimento da população constitui uma oportunidade de mercado para muitas PMEs que concentram seus esforços no desenvolvimento de produtos orientados para esse segmento. Por exemplo: alimentos mais ricos em cálcio, produtos de higiene associados à solução dos problemas de incontinência, entre outros. desenvolver redes empreendedoras e participar delas – De forma a aumentar a capacidade de aprendizagem contínua e interativa, empresas apostam em partilhar os conhecimentos, desenvolvendo redes de inovação abertas, em que todos os parceiros se beneficiam do conhecimento. 68 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 68 03/02/2012 17:41:57 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes 3.5 Inovação como resultado do processo Os resultados do processo de inovação são entendidos como a capacidade inovadora empresarial, que integra os diversos componentes resultantes do processo de inovação de uma empresa, a saber: inovação no produto, inovação no processo, inovação organizacional e inovação de marketing. Assim, a capacidade inovadora empresarial compreende a criação e o lan- çamento de novos produtos ou processos e as melhoras tecnologicamente significativas introduzidas neles; inclui também as novas formas de negócio, de organização do trabalho, de gestão das empresas e de relacionamentos internos e externos. Um exemplo pode contribuir para a compreensão sobre esse modo de ver a inovação: imagine a concepção de um novo tecido, que incorpora novas fibras e potencializa um outro tipo de tecido, que permite que os ternos não amassem, que se ajustem à temperatura ambiente, que seja lavável sem deformar e, ainda, que exale um aroma agradável. Um panorama muito simplificado das áreas em que a inovação con- tribui para a competitividade das empresas encontra-se representado no Quadro 3.1. Quadro 3.1 – Áreas de inovação empresarial Áreas Variáveis Inovação no produto Novos materiais, novas funcionalidades. Elementos intangíveis do produto. Inovação no processo Novos métodos de produção. Flexibilidade. Inovação organizacional Novos modelos de negócio. Novas formas de relacionamento. Inovação de marketing Novo design e/ou embalagem do produto. Novos modelos de distribuição e de promoção. 69 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 69 03/02/2012 17:41:57 O Quadro 3.1 sugere uma classificação que se enquadra na linha de pen- samento de Schumpeter (1942), segundo o qual a inovação compreende: a introdução de novos produtos, de novos métodos de produção e de novos mercados; a descoberta de novas fontes de matérias-primas ou de semi- produtos; e o estabelecimento de novas formas de organização. 3.5.1 Inovação no produto A principal fonte de inovação ainda se encontra nos produtos ou serviços. Com base neles, podem ser produzidas inovações nos processos e na orga- nização. Sobre essa questão, Silva (2007, p. 19, grifo do original) assevera: A inovação [...] [no] produto abarca não só a criação e [o] lança- mento de produtos novos, como também as melhorias tecnologi- camente significativas introduzidas [neles] (nos produtos) (OECD, 2005). [O conceito de produto é lato, abarcando os bens e os ser- viços.] A inovação no produto consiste na introdução de funciona- lidades radicalmente novas, na utilização de novos materiais ou de novos produtos intermédios ou, ainda, na introdução de elementos intangíveis no produto, designadamente através do design, da moda, da marca, para além de outras utilizações/introduções específicas, inerentes ao setor de atividade em que a empresa se insere. Como exemplo, podemos citar o aparelho de DVD. Essa foi uma inova- ção que conduziu ao fim da era do videocassete e deu início à era dos filmes em formato digital. Porém, uma inovação no produto não precisa, necessa- riamente, ser radical como no exemplo citado, pois inovações incrementais em produtos, em geral, fazem tanto sucesso quanto os novos produtos que surgem no mercado. Um exemplo bem-sucedido de inovação incremental em um produto é a embalagem PET. Alguns nem se lembram mais disso, mas, antigamente, para comprar refrigerantes a pessoa devia guardar em casa os cascos de vidro que serviamde embalagem para a bebida. Toda vez que o indivíduo ia ao supermercado para comprar o produto, exigia-se que ele levasse os cascos vazios para realizar a troca por vasilhames cheios. Atualmente, as pessoas não guardam mais os cascos, afinal, a embalagem 70 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 70 03/02/2012 17:41:57 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes é de plástico e vai para o lixo após o consumo. O produto é o mesmo; o que mudou foi somente a embalagem, mas com grandes vantagens. 3.5.2 Inovação em processos A automatização vem contribuindo para a inovação dos processos, uma vez que os desenvolvimentos tecnológicos permitem formas de produção, armazenamento e distribuição cada vez mais eficazes, reduzindo custos e aumentando a competitividade das empresas. No entanto, ideias simples também contribuem para a inovação de processos; afinal, o objetivo aqui é encontrar soluções para os problemas na produção de produtos e/ou serviços. Por exemplo: os métodos de produção da Toyota revolucionaram o mercado automotivo, constituindo-se uma inovação radical na forma de fabricação dos veículos. Além disso, ajustes na produção que venham a reduzir ou eliminar gargalos também são formas de inovações incrementais relacionadas aos processos. Conforme Silva (2007), a inovação em processos diz respeito à forma como os produtos ou serviços são produzidos. Assim, segundo o Inquérito Comunitário à Inovação (Community Innovation Survey, em inglês), a inova- ção nos processos consiste na “adoção de métodos de produção novos ou significativamente melhorados, incluindo novos métodos de distribuição de produtos” (CIS, 2008; 2010, p. 3). Esse documento também esclarece que: estes métodos podem envolver alterações no equipamento, na organização da produção, ou uma combinação destas mudanças e podem resultar da aplicação de novos conhecimentos. Tais métodos podem ter como objetivo a produção ou a distribuição de produ- tos tecnologicamente novos ou melhorados, que não possam ser produzidos com base em métodos de produção convencionais. Ou podem ter como objetivo o aumento de eficiência da produção ou distribuição de produtos existentes. (CIS, 2008; 2010, p. 3) 71 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 71 03/02/2012 17:41:58 Dessa forma, o resultado da inovação no processo pode ter um impacto significativo na produção, na qualidade dos produtos e na redução dos custos de produção e de distribuição. 3.5.3 Inovação organizacional Segundo a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD, 2005), a “inovação organizacional ocorre no componente orga- nizacional e consiste na introdução de novas práticas de gestão, de novos processos administrativos e no desenvolvimento de cooperação com outras empresas ou com estruturas de competência técnica” (grifo do original). Nesse caso, a inovação pode envolver formas alternativas de trabalho (o “teletrabalho”, por exemplo), modelos de relacionamento entre departamen- tos (como equipes multidisciplinares), a formação de parcerias colaborativas (quando duas ou mais empresas se unem para desenvolver um ou mais projetos), entre outros modos de inovação organizacional. Esse tipo de inovação é evidente em empresas de tecnologia e informá- tica, especialmente em indústrias criativas, nas quais os formatos de gestão mais tradicionais não se adequam à realidade da empresa. A inovação organizacional pode ser radical, como é o caso das empresas nas quais os trabalhadores praticamente se tornaram virtuais, ou mesmo incremental, quando elas desenvolvem práticas próprias para gerenciar seu negócio, caso muito comum entre as PMEs de modo geral. 3.5.4 Inovação em marketing A inovação em marketing corresponde à implementação de um novo con- ceito ou de uma nova estratégia, diferentemente dos métodos de marketing até então existentes na empresa. Esse tipo de inovação contempla alterações no design ou na embalagem do produto, na distribuição e na promoção dos produtos ou, ainda, na política de preços, aspectos que possibilitam o 72 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 72 03/02/2012 17:41:58 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes aumento da penetração dos bens e serviços da empresa no mercado atual ou em novos mercados (CIS, 2008, p. 13). Esse modo de inovação é o que tem ganhado mais espaço entre os gestores empresariais. Com o aumento da concorrência entre as empresas, conquistar e manter clientes tem se constituído a diferença entre sobreviver ou não no mercado atual. Nesse contexto, a criatividade no marketing tem produzido inovações constantes. Muitos empresários, donos de PMEs, entendem o marketing como comunicação (propaganda). Essa percepção faz com que os empreende- dores acreditem não possuírem condições financeiras para utilizá-la (cam- panhas nos meios de comunicação), o que é fruto da falta de conhecimento. O marketing tem se revelado como a melhor forma de as PMEs estarem em contato constante com os clientes; além disso, alternativas de baixo custo têm feito sucesso, como as homepages, os cartões de fidelidade, o telemarketing, entre outras. Assim, inovar no marketing pode ser a chave para diferenciar produtos e serviços. 3.6 Inovar: sim ou não? Depois do que foi analisado, os empreendedores ainda podem ficar com algumas dúvidas: Como surge uma oportunidade para inovação? Que dificuldades o empreendedor enfrenta? Por que insistir em inovar? Foi considerando essas questões que este item foi elaborado. Para se ter oportunidades de inovar de forma sistemática, segundo Drucker (1986), deve-se estar atento às sete fontes informais e não planejadas de novas ideias. As quatro primeiras são de origem interna à empresa, e as restantes são de origem externa. Em seguida, e recorrendo aos exemplos apresentados por Freire (2000, p. 102-104), são expostas essas sete fontes de oportunidades de inovação: 1. o inesperado – O sucesso e o fracasso de um novo produto ou negócio surgem de forma imprevista. Por exemplo: quando a empresa farmacêutica Pfizer percebeu que o composto 73 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 73 03/02/2012 17:41:58 anti-hipertensor que testava teve um efeito secundário imprevisto – a ereção masculina –, decidiu reformular a aplicação final para um novo composto e lançou com bastante sucesso o Viagra. 2. a incongruência – Quando algo não faz sentido na ótica tradicional do negócio, tal fato não deve ser ignorado, sob pena de não se aproveitar uma oportunidade de mercado. Por exemplo: apesar de os telefones celulares terem sido concebidos para a comunicação por voz, foi constatado que muitos clientes se entretinham brincando com suas teclas. Foi então que a Nokia teve a ideia de incorporar jogos eletrônicos aos aparelhos. 3. as mudanças operacionais – Surgem, por exemplo, do imperativo de reduzir estoques, o que faz com que seja necessário rever os processos operacionais da empresa. 4. as mudanças estruturais – Visam o acompanhar as mudanças da estrutura da indústria e do mercado. Por exemplo: a internet promoveu a comercialização eletrônica (e-commerce), revolucionando as formas de comercialização tradicionais. 5. as alterações dos fatores demográficos – Podem produzir novas oportunidades e, proporcionalmente, novas ideias. Por exemplo: a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida têm um duplo impacto na estrutura de ensino de um país. 6. as mudanças de percepção dos consumidores – As alterações de percepção que as pessoas têm de si mesmas e do mundo são uma preciosa fonte de novas ideias. Por exemplo: a criação da Body Shop (fabricante de produtosnaturais para beleza) veio ao encontro dos desejos das consumidoras femininas, que têm preocupações ambientais e com os animais. 7. a emergência de um novo conhecimento – É uma grande fonte de novas ideias, mas, por vezes, a aplicação desse novo conhecimento em produtos e serviços inovadores nem sempre é percebida pelos clientes de forma clara e imediata. Foi o caso dos carros movidos a álcool no Brasil, que, do insucesso 74 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 74 03/02/2012 17:41:58 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes inicial, atualmente se tornaram um imperativo na indústria automobilística nacional, após o desenvolvimento do motor flex e do início das preocupações ambientais da sociedade. Assim, a inovação pode acontecer em qualquer lugar e em qualquer tempo. O empreendedor com uma visão apurada pode encontrar oportuni- dades de inovação nos momentos mais insuspeitos. Portanto, um requisito para inovar é estar atento e olhar de modo mais distante e abrangente do que fazem as outras pessoas, no estilo “olhar a solução e não o problema”. Uma PME liderada por um empreendedor que desenvolve esse senso de oportunidade demonstra estar a um passo à frente de seus competidores, podendo ser este o diferencial entre permanecer ou não no mercado. Porém, a inovação apresenta um conjunto de dificuldades que com- plicam a vida do empreendedor inovador. De acordo com um estudo rea- lizado em Portugal por Conceição e Ávila (2001), as principais barreiras à inovação são: custos demasiado elevados; falta de financiamento; falta de pessoal qualificado; riscos excessivos; organização rígida; clientes pouco receptivos; falta de informação sobre tecnologia; regulamentação e normas; falta de informação sobre os mercados. Adicionalmente, destacam-se duas outras barreiras à inovação: 1. o mercado – Não existe produto até que as necessidades do cliente e as capacidades tecnológicas se encontrem. O êxito de um negócio reside na identificação de uma boa oportunidade de mercado, com base em uma necessidade manifesta ou latente. 75 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 75 03/02/2012 17:41:58 2. as mentalidades – O mais difícil na inovação não é encontrar novas ideias, mas, sim, combater as antigas. Existem, então, muitas barreiras que impedem a inovação, e isso deve ser do conhecimento dos empreendedores. Nesse sentido, inovar nem sempre é fácil, especialmente pelos motivos mencionados anteriormente. As barreiras podem ser vistas sob dois prismas: um é o que impede as PMEs de serem inovadoras; o outro são os problemas que o empreendedor deve resolver para tornar a empresa uma fonte de inovações. Nesse con- texto, um empreendedor pode dizer a si mesmo: “Isso não é para mim”, e deixar a oportunidade passar. Entretanto, outro pode indagar-se: “Se eu conseguir resolver isso, estarei um passo à frente dos meus concorrentes”. Dessa forma, é preciso sempre olhar os dois lados da moeda, pois, se ino- var fosse uma tarefa fácil, todo empreendedor a realizaria. Por isso, somente os persistentes e os visionários enxergam a inovação como uma forma de se diferenciar em um mercado com produtos e serviços cada vez mais similares. Uma alternativa que sugerimos é a consolidação de parce- rias entre empresas, pois, assim, os riscos da inovação são divididos. Dessa forma, a busca por cooperação pode ser a chave para romper as tradicionais barreiras à inovação. Apesar das dificuldades relatadas, inovar vale a pena, especialmente no âmbito das PMEs, no qual uma inovação pode fazer muita diferença. Segundo Silva (2007, p. 21-22, grifo do orginal), “as razões que levam as empresas a inovar são de ordem diversa e decorrem de vários motivos. [Como exemplos,] [...] apresentam-se algumas das principais razões [...]: para sobreviver; para competir; porque faz parte da estratégia da empresa; para renascer/ressurgir [...]”. Para uma empresa, é muito importante inovar, pois isso possibilita a sua sobrevivência no curto prazo, assim como a competição entre ela e as concorrentes. Por um lado, inovar faz parte da estratégia de muitas empre- sas, fato que é aceito por todos os membros, da direção-geral até a base da hierarquia. Por outro, para outras empresas inovar significa renascer ou ressurgir; por exemplo uma: PME têxtil ressurgiu porque, após vários anos 76 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 76 03/02/2012 17:41:58 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes de estagnação, decidiu aventurar-se na fabricação de novos tecidos com funcionalidades muito distintas. Nesse contexto, de acordo com Silva (2007, p. 22, grifo do original), uma alternativa para o sucesso a longo prazo das empresas depende de uma aposta inequívoca na inovação e num processo de reinvenção constante de ideias, produtos, processos e modelos de negócio. Cada empresa implementa as melhores práticas, visando [ao] desenvolvimento de processos de inovação. Essas práticas tornam-se, para a empresa, em fatores críticos de sucesso na promoção da inovação. A obtenção de vantagens competitivas, por meio da inovação, depende de uma base consistente de fatores críticos de sucesso que, de acordo com a OECD (2005) e Trienekens, Uffelen e Omta (2008), englobam o produto, o processo, a organização e o marketing, tal como pode ser verificado no Quadro 3.2. Quadro 3.2 – Fatores críticos de sucesso na inovação Fatores Variáveis de análise Inovação no produto Atributos do produto. Variáveis de produtos. Inovação no processo Superioridade do processo. Suporte da gestão de topo e habilidades. Inovação organizacional Estratégia. Comunicação. Inovação de marketing Oportunidade de mercado. Meio envolvente. Fonte: Adaptado de OECD, 2005, e Trienekens, Uffelen e Omta, 2008.. Considerando o que foi apresentado no Quadro 3.2, percebem-se algu- mas pistas de como inovar em PMEs. Esses exemplos contribuem para o 77 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 77 03/02/2012 17:41:58 entendimento de que a inovação não é algo impossível e de que todas as empresas têm a oportunidade de inovar. 3.7 Casos reais de inovação Como já comentado, na atualidade a inovação revela-se como um fator importante, que possibilita às empresas um posicionamento competitivo, potencializando o seu sucesso e contribuindo estrategicamente para sua diferenciação e para seu crescimento (Trienekens; Uffelen; Omta, 2008). Segundo Silva (2007, p. 22), Em Portugal, há vários casos reconhecidos de boas práticas no mundo empresarial, porque apostaram na excelência e na inovação. O sucesso da Critical Software, da Paulo de Oliveira S.A., da água Frize ou do papel higiênico preto da Renova são apenas alguns exemplos do que se faz bem em Portugal. Empresas que iniciaram como PMEs mantiveram durante muitos anos esse mesmo escalão dimensional; porém, anos mais tarde, devido ao sucesso de suas inovações e à reinvenção constante dos seus modelos de negócios, atualmente são empresas de médio ou grande porte. Pelo sucesso dessas empresas, é importante destacar as suas inovações. A Critical Software, que iniciou suas atividades com três professores do ensino superior, é hoje uma empresa com sede em Coimbra, mas com clien- tes localizados em todos os continentes, e opera nos setores de aeronáutica, bancos, defesa, espaço, indústria pesada, setor público e telecomunicações. Na longa lista de clientes da empresa, destacam-se a Agência Espacial Europeia, a Agência Espacial Norte-Americana (National Aeronautics and Space Administration – Nasa), a Marinha Portuguesa, a Portugal Telecom e, recentemente, a Agência Espacial Japonesa (Jaxa).Segundo o adminis- trador da empresa, Gonçalo Quadros, “inovar é uma atitude, é o resultado da cultura da empresa. A inovação resulta do respeito pelas ideias de todos, 78 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 78 03/02/2012 17:41:58 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes pelo saber conjunto”. Com isso, percebe-se que, nessa empresa, a inovação é uma prioridade do mais alto nível. Outra empresa – a Paulo de Oliveira S.A. – iniciou e manteve suas ativi- dades durante muitos anos como PME. Sediada em Covilhã, Portugal, teve sempre, como estratégia, o acompanhamento das tendências da moda e a antecipação das necessidades dos clientes. Assim, por meio da utilização de redes de contatos de relacionamentos externos, a empresa procura ter um conhecimento profundo das tendências da moda, buscando satisfazer as necessidades dos clientes. Sendo interna, a inovação é feita de forma continuada e sistemática, tendo como resultado a criação de novas coleções de própria autoria, bem como novas soluções tecnologicamente inovadoras (fibras que não enrugam e fibras antimanchas, entre outras). No caso da água Frize, para além da inovação do produto, temos um bom exemplo de comunicação. A campanha publicitária, que contou com o ator Pedro Tochas, fez milagres, e a inovação foi amplamante percebida pelos clientes. Esse exemplo demonstra que as PMEs devem apostar na transmissão da mensagem sobre a proposta de valor dos seus produtos ou serviços, utilizando uma política de comunicação que seja perceptível aos seus potenciais clientes. Essa campanha de marketing pode utilizar as ferramentas mais acessíveis às PMEs, como a internet, as campanhas de fidelização (cartões de fidelidade) e os folhetos promocionais, entre outros. Entretanto, o marketing mais eficaz para PMEs é, sem dúvida, a propaganda “boca a boca”; nada melhor do que a indicação do produto feita por clien- tes reais para clientes potenciais. As PMEs têm esta vantagem: estão mais próximas de seus clientes, o que contribui para o desenvolvimento de um relacionamento forte e duradouro. Portanto, nelas o melhor marketing é aquele que aproxima os clientes atuais da empresa, sendo que os esforços devem ser voltados a esse objetivo, o que tende a alavancar as inovações realizadas por ela. Já a Renova iniciou como PME e sempre procurou a inovação sistemá- tica. Ao lançar o papel higiênico de cor negra, introduziu uma inovação no mercado para quem tem preocupações estéticas com a decoração do banheiro; ele se destina, principalmente, a hotéis e a restaurantes de luxo. Trata-se de uma ideia que o administrador da Renova, Paulo Pereira da 79 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 79 03/02/2012 17:41:58 Silva, teve em Las Vegas, enquanto assistia a um espectáculo de circo com panos negros esvoaçantes. A empresa já recebeu encomendas de 52 países. De acordo com o administrador, é “um desafio para a empresa conseguir tirar partido dessas manifestações de interesse que nos chegam um pouco por todo o mundo”. A Renova já patenteou esse novo papel higiênico em vários países com o objetivo de preservar a mais-valia do produto, mas as diferentes legislações dos países não impedem que, em breve, surjam outros concorrentes com o mesmo produto. Ainda que essa ideia tenha surgido de forma espontânea, a Renova caracteriza-se por concretizar processos de inovação em uma base sistemática. O seu sucesso deve-se à constante inovação e às arrojadas campanhas de marketing que, aliás, permitiram-lhe a entrada com êxito na Espanha e na França. A Renova é líder na venda de guardanapos na Espanha e é a terceira marca mais vendida neste mercado, que representa 39% do volume de negócios da empresa. Está também presente no mercado francês, com 11% do volume de negócios da marca. Em suma, cada caso é visto de forma especial, mas todos têm em comum a excelência resultante das boas práticas de inovação, como as seguintes: a inovação resulta de um trabalho criativo, empreendido em uma base sistemática, na qual o empenho é uma constante, o que faz do sucesso uma realidade; a inovação é assumida como prioridade estratégica no nível hierárquico mais elevado; existe um conhecimento profundo das necessidades dos clientes e das tendências de mercado; a divulgação dos produtos inovadores no mercado envolve a ação direta da empresa e uma boa política de comunicação; a utilização de redes de contatos e de relacionamentos externos. As empresas que apostam nessas práticas de inovação consolidam a sua posição competitiva no presente, assim como criam bases para o seu desenvolvimento no futuro. 80 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 80 03/02/2012 17:41:59 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes 3.8 Estudo de caso: A empresa Expert Ltda. Tradicionalmente, as PMEs não são consideradas inovadoras, o que não significa que não inovam, mas sim que não sabem exatamente o que é inovar. É o caso da empresa Expert (nome fictício). O fundador e sócio-proprietário da empresa, o sr. João, quando perguntado a respeito de inovação, afirmou categoricamente que sua empresa não inovava. Por quê? Porque é uma pequena empresa fabricante de produtos têxteis. Contudo, devemos perguntar: Será que essa empresa realmente não inova? Após conhecer a organização, observamos situações interessantes. Deparamo-nos com a primeira dessas situações na produção da empresa. Foi uma situação até engraçada. As costureiras estavam produzindo calças masculinas para serem usadas no dia a dia. Reparamos que, quando uma das costureiras estava finalizando o bolso de trás da calça, ela fazia uma costura mais reforçada e colocava uma espécie de cartão flexível na parte interna do bolso. Achamos isso estranho e perguntamos ao sr. João o por- quê desse bolso tão diferente. Ele, então, respondeu: Ah, isto foi sugestão de uma de nossas costureiras. Ela percebeu que seu marido usava sempre a carteira no bolso de trás da calça, só que a carteira ficava dobrada e amassava os documentos e cartões que estavam dentro. Foi aí que ela sugeriu fazermos os bolsos de trás da calça mais rígidos e mais resistentes, para que os homens que colocam a carteira no bolso de trás tenham seus documentos e cartões menos amassados e que não aconteçam estragos na calça por causa desse uso. Tenho de te confessar, tem sido um sucesso, as lojas gostaram da ideia. Achamos o fato interessante. Sabe que nunca havíamos pensado nisso? Continuamos conhecendo a empresa e observando tudo o que faziam e como as coisas aconteciam nela. Verificamos que o layout era desenhado para que todos os setores ficassem muito próximos, sem uma separação clara entre eles. Perguntamos ao sr. João como funcionava tal layout, visto que não conseguíamos diferenciar um departamento do outro – parecia tudo uma coisa só. Ele nos explicou que foi uma mudança feita por ele, pois 81 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 81 03/02/2012 17:41:59 antes cada departamento era separado por divisórias e por paredes, e cada pessoa trabalhava sem ver as demais, o que trazia problemas. Quando estava todo mundo separado, eu via as brigas entre os departamentos. Como isso podia acontecer? Somos uma empresa com 19 funcionários e aconteciam brigas entre o pessoal de vendas, do financeiro, do estoque, da produção. Todo dia vinha alguém reclamar de outro departamento. Como estava todo mundo sepa- rado, quando aconteciam problemas com os clientes, um departa- mento colocava a culpa no outro. Era assim todos os dias. Até que me aborreci. Mandei arrancar as divisórias, derrubar as paredes. Fiz de tudo uma coisa só. Sabe o que me surpreendeu?Primeiro, dimi- nuíram as brigas. Depois, eles começaram a se ajudar. É frequente um funcionário de um departamento dar dicas a outro de outro departamentos. Quando não houve mais paredes para protegê-los, os departamento pararam de falar mal uns dos outros e começaram a trabalhar de modo mais cooperativo. Realmente, pudemos sentir um clima amistoso: para quem não é da empresa, parece uma confusão só, mas as pessoas com quem falamos não enxergavam dessa maneira, pois entendem como a empresa funciona. Procuramos, então, compreender como funciona todo o processo. O gerente geral, sr. José, braço direito do sr. João, explicou-nos que eles têm representantes em diversos lugares do país, que passam os pedidos por e-mail ao Departamento de Vendas, o qual envia primeiro o pedido para o Financeiro, que avalia o crédito do cliente. Se tudo estiver certo, o pedido vai para a produção. O pedido pronto segue para o estoque, que o despa- cha para o cliente. É um processo simples, lógico, sem grandes problemas. Apesar dessas explicações, vimos que o processo não é bem esse. O pessoal de vendas verifica o crédito do cliente logo que chega o pedido. Se houver problemas, já se prepara para conversar com o Financeiro, pro- curando argumentar a favor do cliente, se a venda realmente valer a pena; caso contrário, o pedido volta para o representante. Se houver chances de de o pedido ser aprovado, o departamento já avisa a equipe da produção para providenciar as matérias-primas e para começar a produzir. Além disso, agenda com o pessoal do estoque a entrega do pedido. Ou seja, vimos 82 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 82 03/02/2012 17:41:59 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes que o departamento de vendas, como é característico dessa área, assume a liderança do processo, tentando ganhar tempo e tendo como foco a entrega do pedido o mais rápido possível. Para finalizar nossa visita, perguntamos ao sr. João como é o relacio- namento com os clientes. Ele nos contou que a empresa ainda está muito distante de seus clientes, e que quem realmente a conhece são os represen- tantes. Como estes não são exclusivos da empresa, o sr. João receia perder os clientes caso perca os representantes. Se o representante deixa de vender para a Expert e passa a vender os produtos de outra empresa, os clientes tendem a deixar de comprar da Expert para comprarem do concorrente; afinal, para eles, a Expert é o representante. Compreendemos a preocupação do sr. João, mas perguntamos o que ele pretendia fazer. Esta foi a resposta dele: Venho pensando nisso há um bom tempo. Sou pequeno, não con- sigo competir com grandes empresas ou produtos chineses baratos. Mas tenho uma clientela boa, afinal, montei uma boa equipe de representantes e pago uma comissão acima do mercado. Para você ter uma ideia, alguns representantes ganham mais do que eu. Mas isso não me incomoda. Eles fazem a parte mais difícil e importante: conquistar e manter os clientes. E complementou: Por outro lado, estou planejando abrir lojas próprias, com a minha marca. Essa ideia não é nada original. Está todo mundo fazendo isso. Mas as minhas lojas terão algo de diferente. Vou te explicar: uma pessoa compra uma determinada roupa na minha loja. Aviso que, após 12 meses, ela pode voltar à minha loja e devolver a roupa, ganhando assim um bom desconto na compra de uma peça da coleção nova. Vai ser um desconto atraente, para que todo ano os clientes da loja voltem e comprem novamente. Com relação às roupas velhas, minha ideia é fazer doações para pessoas carentes. Vou divulgar tudo isso com uma campanha de comunicação. Acho que a ideia vai dar certo, não acha? 83 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 83 03/02/2012 17:41:59 Ficamos impressionados com a visão do empresário. Vimos que ele tem encontrado soluções para permanecer no mercado têxtil, que está cada vez mais competitivo. Despedimo-nos e lhe desejamos sucesso; afinal, ele e sua equipe nos mostraram que a Expert vem trilhando um bom caminho! Síntese Neste capítulo, foi realizada uma abordagem geral e resumida de um tema vasto e muito discutido na atualidade: a inovação em PMEs. Foram aqui abordadas aqui as principais questões a respeito da inovação que, tradicio- nalmente, é um assunto tabu entre as PMEs. Procurou-se, principalmente, esclarecer que a inovação pode acontecer em qualquer empresa, de qual- quer tamanho e em qualquer setor. Além disso, buscou-se desmistificar a inovação como algo revolucionário. As inovações podem ser radicais ou incrementais. No entanto, deve-se ter em mente que a inovação não é algo fácil de se realizar e que não é qualquer empresa que o consegue. Por esse motivo, costuma ser um fator crítico de sucesso para determinadas PMEs, que veem a inovação como uma alternativa de sobrevivência em um mercado competitivo, com inú- meros concorrentes e clientes exigentes. No entanto, esses desafios são justamente o que uma empresa necessita para crescer e se desenvolver. Por isso, o segredo para uma PME inovar pode ser trilhar caminhos ainda não percorridos. Questões para discussão e reflexão 1. Apesar de o sr. João negar, a Expert demonstra ser inovadora. Quais são as evidências disso? 2. Quais tipos de inovação (radical ou incremental) são encontrados na empresa? Explique. 84 capítulo 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 84 03/02/2012 17:41:59 Maria José Silva Emerson Wagner Mainardes 3. Há inovação do produto? Por quê? 4. Há inovação em processos? Explique. 5. Há inovação organizacional? Quais são as evidências? 6. Há inovação em marketing? Explique. 7. O que você sugeriria ao sr. João para inovar: a) em produtos. b) em processos. c) na gestão organizacional. d) em marketing. Referências ARROW, K. J. Economic Welfare and the Allocation of Economic Resources for Invention. Collected Papers, Oxford, v. 4, p. 104-119, 1984. AUDRETSCH, D. 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Small Business Economics, v. 13, n. 1, p. 27-55, Aug. 1999. 87 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 87 03/02/2012 17:41:59 parte 2 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 88 03/02/2012 17:42:01 Desenvolver ofertas de valor Esta segunda parte do livro trata do empenho necessário para se criar e produzir ofertas – bens ou serviços – adequadas aos recursos e às necessidades dos clientes. A primeira lição é que estes devem perceber claramente o valor que foi ganho a cada compra. A segunda, e mais importante, é que as ofertas sejam capazes de produzir lucros. Trata-se da estratégia “ganha-ganha”, ou seja, tanto os clientes quanto as empresas saem no lucro. Assim, esta parte é dividida da seguinte forma: ■ O Capítulo 4 – Estratégias empreendedoras para pro- dutos e serviços, de Edgard Monforte Merlo, Harrison Bachion Ceribeli e Benny Kramer Costa – mostra a importância da análise do ciclo de vida dos produtos (CVP) para se determinar o potencial do portfólio de ofertas e as estratégias das empresas. ■ No Capítulo 5 – Empreendedorismo e inovação das pequenas e médias empresas no e-commerce, de Jouliana Jordan Nohara, Claudia Rosa Acevedo e Milton de Abreu Campanário – é analisado o fato de o comércio eletrônico não ser mais uma opção, mas sim um imperativo para o sucesso e até para a sobre- vivência das empresas. ■ No Capítulo 6 – Marketing empreendedor para empre- sas de serviços, de Marcio Daniel Kiesel e Nelson Marcelo Santiago – são apresentadas as caraterísticas do marketing para empresas do setor de serviços. Os autores defendem que os motores da economia, na atualidade, são acionados pela área de serviços, que estão em toda parte e representam algo em torno de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 89 03/02/2012 17:42:03 capítu lo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 90 03/02/2012 17:42:03 Estratégias empreendedoras para produtos e serviços Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribeli Benny Kramer Costa MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 91 03/02/2012 17:42:03 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 92 03/02/2012 17:42:03 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa Introdução Um importante modelo para a análise das estratégias mais relacionadas ao sucesso e adequadas ao período de existência dos produtos é o que se denomina análise do ciclo de vida dos produtos (CVP). Ela abrange quatro fases, pelas quais passam as ofertas lançadas no mercado desde a sua introdução até o declínio das vendas. A seguir, discutiremos cada uma delas. 4.1 O CVP e suas quatro fases A primeira fase dessa análise – a introdução – é a que envolve os maiores riscos. Inicialmente, há um grande desconhecimento das potencialidades do produto por parte dos distribuidores, do varejo e dos clientes, seja no nível de mercado, seja no nível das funcionalidades oferecidas por ele. Além disso, quando os produtos são introduzidos, a taxa de crescimento de suas vendas inicialmente tende a ser lenta. Esse aspecto é particularmente importante para o segmento de varejo, pois o risco da não comercialização de novos produtos implica a ocorrência de maiores custos de estocagem e, até mesmo, de práticas de demarcação de preços, quando os produtos ofertados não são de interesse do público consumidor. Isso pode ser explicado pelo fato de os clientes não estarem habituados a consumir um determinado produto, devido a novidade deste no mercado. Além disso, muitos potenciais clientes podem ainda não ter informações suficientes sobre as funcionalidades e sobre o desempenho do novo produto, o que pode ser revertido com o tempo, à medida que mais informações forem divulgadas no mercado. Na segunda fase, denominada de crescimento, as vendas tendem a apresentar um crescimento acelerado. Sendo assim, a empresa deve ter desenvolvida e preparada uma estrutura de operações que seja capaz de atender ao aumento na demanda que ocorre nessa etapa do CVP. Nesse caso, o principal desafio, do ponto de vista do atendimento dos canais de 93 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 93 03/02/2012 17:42:04 distribuição, é o fornecimento de um volume adequado a custos competi- tivos, para atender à demanda crescente. Na terceira fase, que representa a maturidade dos produtos no mer- cado, as vendas tendem a se estabilizar. Aqui cabe a ressalva de que, atual- mente, ao contrário do que acontecia há 20 anos, os produtos não mais permanecem longos períodos na fase de maturidade, logo alcançando a quarta fase. A quarta fase representa o declínio do produto, que ocorre em inter- valos de tempo cada vez menores (Bulte, 1998). Um desafio de gestão para os canais de varejo, nessa etapa, é o desenvolvimento de estratégias de marketing voltadas à obtenção de boas margens de rentabilidade e de extensão da vida do produto perante o consumidor. O papel do forneci- mento de serviços adicionais, nesse período, é fundamental, porque pode servir como agregador de valor para o cliente. O Gráfico 4.1 ilustra as fases do CVP. Gráfico 4.1 – Fases do CVP Introdução Crescimento Maturidade Declínio tempo ven da s Fonte: Nunes, 2008. 94 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 94 03/02/2012 17:42:04 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa Desse modo, podemos verificar que, no competitivo contexto moderno, os produtos tendem a alcançar rapidamente a fase de declínio, e isso ocorre devido a alguns fatores, tais como: muitas empresas passaram a forçar a redução do ciclo de vida dos produtos, por meio da utilização de materiais menos duráveis na sua fabricação, fazendo com que os consumidores sejam obrigados a comprar novos produtos em um intervalo de tempo menor (Park, 2004); o desenvolvimento de uma cultura denominada de materialismo crescente, na qual os clientes têm maior propensão a comprar (Bulte, 1998); lançamentos consecutivos de produtos com melhorias incrementais, reduzindo o ciclo de vida daqueles lançados anteriormente (Nataraajan, 2000); maior desenvolvimento tecnológico por parte das empresas, que conseguem lançar, simultaneamente, uma grande variedade de produtos com características bastante distintas entre si, aumentando as opções dos consumidores (Bulte, 1998). Nessa última fase, as vendas começam a cair, geralmente por causa dolançamento de novas tecnologias, que possibilitam às empresas o lan- çamento de produtos que oferecem maior valor aos clientes, afetando de maneira negativa as vendas dos que já estão obsoletos. Nesse sentido, quando os produtos atingem a fase de declínio, as empre- sas podem optar por desenvolver neles melhorias incrementais, promo- vendo pequenas alterações em determinados aspectos e relançando-os no mercado. As empresas podem optar, ainda, por desenvolver mudanças radicais nos produtos, as quais, diferentemente das incrementais, estão relaciona- das a alterações no conceito do produto, o que aumenta, assim, os riscos envolvidos (Roussel; Saad; Bohlin, 1992). Dessa forma, caso a empresa opte por realizar melhorias nos produtos, tanto incrementais como radicais, o ciclo de vida deles pode adquirir uma 95 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 95 03/02/2012 17:42:04 nova configuração e vendas podem voltar a crescer. A Figura 4.1 ilustra as quatro possibilidades de inovação que dão origem a novos produtos. Figura 4.1 – Diferentes graus de inovação I Nova tecnologia Mesmos atributos II Nova tecnologia Novos atributos III Mesma tecnologia Mesmos atributos IV Mesma tecnologia Novos atributos Fonte: Adaptado de Veryzer Junior, 1998. Como se verifica, podem ocorrer mudanças nas tecnologias empregadas na fabricação dos produtos, sem, no entanto, ocorrer mudanças signifi- cativas nas suas funcionalidades (Quadrante I). Do mesmo modo, podem ser desenvolvidas mudanças nos produtos sem que haja mudanças nas tecnologias de produção empregadas, incluindo, nesse caso, as chama- das melhorias incrementais (Quadrante IV). Além disso, novas tecnologias podem ser utilizadas para desenvolver novos produtos, dando origem a mudanças radicais (Quadrante II). Nesse sentido, pode-se verificar que as mudanças ou as melhorias nos produtos devem ser analisadas sob três óticas diferentes: a) a ótica da estratégia de produtos e serviços, que inclui as funcionalidades dos pro- dutos atuais e dos produtos potenciais, do ponto de vista dos consumi- dores; b) a ótica da produção, que inclui as tecnologias empregadas no processo produtivo; e c) a ótica do marketing, que considera os esforços de melhoria de curto prazo (aspectos táticos) nas características de con- sumo e no composto de comercialização. Todos esses aspectos reforçam a importância da integração entre os departamentos de estratégia, marke- ting e produção, para que seja elaborada a estratégia final dos produtos e serviços de uma empresa. 96 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 96 03/02/2012 17:42:04 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa 4.2 Processo de inovação e de lançamento de novos produtos e serviços no mercado O conceito de novo produto ou serviço está intimamente ligado à intro- dução de aspectos inovadores, os quais eram antes desconhecidos pelo consumidor. Um produto novo ou inovador também deve ser útil, ou seja, as inovações incorporadas devem ter alguma utilidade para o cliente final (Rogers, 2003). Nesse sentido, pode-se classificar um novo produto ou serviço como sendo aquele que apresenta algum aspecto inovador e que tenha utilidade potencial para os consumidores. Segundo Hagen e Lodha (2004), a inovação está intimamente relacio- nada ao sucesso da estratégia de uma organização. Para Noke e Radnor (2004), existe uma correlação positiva entre os esforços de inovação de uma empresa e seu sucesso de mercado. Nesse sentido, organizações que buscam inovação tendem a apresentar bons resultados no mercado compe- titivo. Entretanto, deve-se lembrar também que inovar implica alguns riscos, visto que os esforços relacionados ao processo de pesquisa e desenvolvi- mento (P&D) de novos produtos muitas vezes não resultam em produtos de sucesso de mercado. Por outro lado, empresas que planejam de maneira cuidadosa os investi- mentos em P&D tendem a alcançar bons resultados. Um exemplo disso são as indústrias farmacêuticas, que investem durante 10, 15, ou até mesmo 20 anos na pesquisa de novos medicamentos e buscam obter, após desen- volvimento do produto, o retorno sobre desse investimento. O primeiro passo para organizações que buscam inovar é analisar, de maneira detalhada, a aceitabilidade, a viabilidade e a vulnerabilidade dos projetos, utilizando-se de diferentes perspectivas organizacionais para a fil- trar aqueles com maior possibilidade de sucesso (Slack; Chambers; Johnston, 2002). Além disso, é essencial conhecer o mercado consumidor, em qualquer processo de inovação, pelo uso de ferramentas de gestão que incorporem nos produtos os atributos valorados pelos consumidores. Adler (1995) explica que a integração também é essencial nos processos de inovação e destaca que, quanto maior o grau de inovação dos produtos e 97 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 97 03/02/2012 17:42:04 processos, maior será o nível ótimo de coordenação entre os departamentos de design e de manufatura. Cabe ressaltar que, à medida que as organiza- ções passam a buscar maior grau de inovação, elas tendem a sair de uma situação em que não existe nenhuma coordenação interdepartamental e ir para uma situação em que são formados times interdepartamentais com foco na inovação (Adler, 1995). O Quadro 4.1 ilustra os cinco níveis de coordenação que podem existir entre departamentos distintos das empresas. Quadro 4.1 – Coordenação interdepartamental e esforços de inovação Pré-projeto Design de produtos e projetos Manufatura Sem coordenação interdepartamental Sem integração entre design e manufatura. O Departamento de Manufatura deve apenas executar o projeto proveniente do Departamento de Design (“produzir o que veio do outro lado do muro”). A equipe de manufatura realiza modificações no projeto, sem avisar o pessoal do design. Estabelecimento de padrões Desenvolvimento de regras que devem ser respeitadas pelos departamentos, separadamente. Os engenheiros de manufatura utilizam as regras desenvolvidas na fase anterior para garantir a produtibilidade dos itens desenhados ou buscam desenvolver conhecimentos de manufatura nos engenheiros de design, evitando que os itens desenhados sejam de difícil produção. Investimentos em flexibilidade produtiva, com o armazenamento de capacidades produtivas desenvolvidas em projetos anteriores para estabelecer mudanças incrementais. (continua) 98 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 98 03/02/2012 17:42:04 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa Pré-projeto Design de produtos e projetos Manufatura Elaboração de planos Integração informal entre dois departamentos, com o objetivo de discutir problemas de coordenação. Os engenheiros de manufatura têm o direito de vetar os desenhos encaminhados pelo Departamento de Design, caso algumas regras previamente estabelecidas do desenho de projetos não sejam respeitadas. Alguns itens não resolvidos nas fases anteriores são listados como exceções, sendo desenvolvidos planos para a resolução dessas exceções. Ajuste mútuo Criação de comitês que integram regularmente as equipes de manufatura e de design. Estabelecimento de pontos, durante a fase de desenho dos produtos e processos, nos quais o design é revisado pelos engenheiros de remanufatura. A equipe de manufatura realiza modificações no projeto e modificações de engenharia,que são repassadas para o departamento de design. Formação de times interdepartamentais Equipes de trabalho constituídas por engenheiros da manufatura e do design. Os engenheiros de remanufatura trabalham em conjunto com os engenheiros de design, dando conselhos sobre como garantir a produtibilidade dos itens desenhados. Alguns designers são deslocados até a manufatura para acompanhar o processo de fabricação e realizar as modificações necessárias nos desenhos. Fonte: Adaptado de Adler, 1995. Tendo sido exposto o que é inovação, e delimitados alguns cuidados que as empresas devem tomar caso optem por uma estratégia de lançamento de novos produtos, passamos ao detalhamento do processo de desenvol- vimento de novas ofertas para o mercado (Figura 4.2). (Quadro 4.1 – conclusão) 99 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 99 03/02/2012 17:42:04 Figura 4.2 – Processo de decisão no desenvolvimento de novos produtos ou serviços Desenvolvimento da estratégia de marketing Análise do negócio Desenvolvimento do produto/serviço Geração de ideias Seleção de ideias Desenvolvimento e teste do conceito Teste de mercado Comercialização no mercado Fonte: Adaptado de Kotler, 2000. 100 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 100 03/02/2012 17:42:05 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa Como pode ser observado na Figura 4.2, o lançamento de um novo produto no mercado passa por oito etapas, que se iniciam com a geração de novas ideias, por meio de ferramentas como o brainstorming (“tempes- tade de ideias”). Nessa primeira etapa, as pessoas devem colaborar com ideias, sem que sejam desenvolvidas quaisquer análises mais detalhadas sobre a viabilidade destas. Para que o processo de geração de ideias seja bem-sucedido, Leonard-Barton (1995) destaca a necessidade de haver criatividade nas empresas, característica que é definida pelo autor como um processo de desenvolvimento e de comunicação de novas ideias que são realmente úteis. A criatividade é um processo que envolve o pensamento divergente entre os membros de um grupo, sendo necessário um esforço para que haja convergência, no sentido de identificar as ideias mais relevantes e úteis. Segundo Leonard-Barton (1995), o processo que representa a criativi- dade em grupo e que pode ser relacionado às duas primeiras etapas do modelo de Kotler (2000), representado na Figura 4.2, pode ser dividido em cinco etapas: 1. preparação, na qual as pessoas que farão parte do grupo são selecionadas de modo que elas tragam conhecimentos relevantes e que possam ser compartilhados e sintetizados por todos os membros da equipe. 2. surgimento da oportunidade de inovação, quando ocorrem condições que produzem necessidades, as quais serão atendidas com um novo conhecimento. 3. desenvolvimento de pensamento divergente entre os membros do grupo, de maneira a produzir um conjunto de opiniões e de alternativas diferentes. 4. tempo de incubação, quando os indivíduos devem refletir sobre as alternativas desenvolvidas anteriormente. 5. desenvolvimento de pensamento convergente, quando as alternativas inválidas são descartadas e as ideias relevantes, e possivelmente úteis, são selecionadas. 101 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 101 03/02/2012 17:42:05 Essas cinco etapas ocorrem em qualquer processo de criatividade, uma vez que não são rígidas, e também no sentido de que, caso haja necessi- dade, o grupo possa voltar às fases iniciais e começar um novo ciclo cria- tivo. Para garantir que esse processo ocorra, deve haver um gerenciamento, desde a primeira fase, na escolha dos indivíduos que farão parte do grupo (Leonard-Barton, 1995). O grupo deve ser formado por indivíduos diferentes, com o objetivo de aumentar a diversidade entre os membros, para que haja uma “erosão criativa”, que ocorre quando há a discussão de ideias divergentes, de forma a se buscar a convergência na forma de uma nova ideia relevante e útil. Essa diversidade é responsável por quebrar a congruência de pensamentos de um grupo homogêneo, produzindo novas alternativas (Leonard-Barton, 1995). Após o surgimento de várias ideias, estas passam por um processo de filtro, de modo que sejam selecionadas aquelas com maior potencial de sucesso de mercado. A Figura 4.3 ilustra esse processo de avaliação de alternativas para a seleção de ideias. Figura 4.3 – Seleção de ideias Redução do número de ideias Filtros de avaliação Fonte: Adaptado de Slack, Chambers e Johnston, 2002. 102 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 102 03/02/2012 17:42:05 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa Selecionada uma ideia, passa-se para a terceira etapa do processo de lançamento de novos produtos ou serviços, na qual é desenvolvido um conceito de mercado, que é uma versão mais elaborada de uma ideia, que traduz para a realidade dos consumidores os aspectos relacionados à ideia inicial (Kotler, 2000). Depois que esse conceito é desenvolvido, ele deve ser testado perante os consumidores, por meio de pesquisas de mercado, de modo que se veri- fique a sua aceitação e se identifique possíveis mudanças. Após a definição do conceito final, inicia-se o desenvolvimento de um plano estratégico de marketing para o produto ou serviço. Esse plano deve conter as seguintes partes (Kotler, 2000): tamanho, estrutura e comportamento do mercado-alvo e posicionamento do produto/serviço, bem como metas de vendas, de participação de mercado e de lucro para os primeiros anos; preço planejado, estratégia de distribuição, orçamento de marketing para o produto nos primeiros anos, além de estratégias de promoção e de comunicação; metas de vendas e de lucratividade para o longo prazo, assim como possíveis alterações no mix de marketing do produto/ serviço ao longo do tempo. Finalizando-se o plano estratégico, inicia-se uma análise do negócio, que inclui aspectos financeiros, como lucratividade, vendas e custos totais envolvidos. Essa etapa tem como objetivo a identificação da viabilidade econômica do produto ou serviço ao longo do tempo. As últimas três fases do modelo de Kotler (2000) estão relacionadas ao desenvolvimento do produto/serviço, ao teste de mercado e à poste- rior comercialização em larga escala. Slack, Chambers e Johnston (2002) explicam que o teste de mercado é útil à medida em que os custos de abandonar um projeto aumentam consideravelmente, quando a empresa desenvolve uma estrutura para produzir em larga escala. Caso seja identi- ficado que o produto ou serviço não conseguiu motivar os consumidores, a empresa abandona o projeto antes de investir em uma estrutura de pro- dução em escala. 103 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 103 03/02/2012 17:42:05 Neste momento, ressaltamos que as empresas devem sempre evitar a acomodação natural que ocorre após o lançamento de um produto total- mente inovador no mercado, tendo em vista que muitas organizações pio- neiras no desenvolvimento de produtos totalmente novos não conseguiram manter, no longo prazo, a vantagem de terem sido as primeiras. Isso se deve ao fato de que diversas empresas, que não investem quan- tias significativas no desenvolvimento de novos produtos, optam por investir em tecnologias relacionadas à engenharia reversa, isto é, esperam que outras empresas lancem os produtos no mercado para, então, desmontar o produto concorrente, com o objetivo de estudá-lo e aperfeiçoá-lo. Por isso, as empresas inovadoras devem sempre buscar o aperfeiçoa- mento de suas próprias tecnologias, demodo que antecipem quaisquer alterações que possam ser desenvolvidas em seus próprios produtos. 4.3 Estratégias de lançamento de produtos ou serviços e comportamento do consumidor Gracht, Vennemann e Darkow (2010), ao realizarem uma revisão das formas de gestão da inovação, apresentaram a seguinte tipificação, com base em quatro gerações de administração: 1. inovação baseada em tecnologia – Esse tipo de administração baseia-se em centros de desenvolvimento tecnológico. 2. inovação baseada na demanda – Nessa segunda geração de administração, utiliza-se uma abordagem de orientação de mercado com base nas demandas emergentes dos consumidores. 3. inovação híbrida – Nessa terceira geração, ocorre a combinação das duas gerações anteriores, com o desenvolvimento de centros de tecnologia com base nas demandas dos clientes. 4. redes de inovação abertas –Neste formato, as organizações incorporam as pressões do aprendizado (decorrentes de mudanças ambientais e das incertezas presentes) 104 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 104 03/02/2012 17:42:05 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa e as necessidades de inovação para que se tornem mais empreendedoras. Ao abordarem especificamente o problema do lançamento de produtos, Walker, Boyd e Larréché (1996) afirmam que as empresas podem optar por realizar três possíveis estratégias: 1. pioneirismo – As empresas deste grupo são aquelas que investem muito em P&D de novos produtos, buscando ser sempre as primeiras do seu segmento a lançarem novidades para o mercado consumidor. 2. seguidores rápidos – Essas empresas esperam que as pioneiras do setor lancem os produtos novos para, posteriormente, copiarem ou melhorarem as inovações das concorrentes. 3. entrantes tardios – As empresas que optaram por esta estratégia, geralmente não investem muito em P&D, além de não se preocuparem tanto em copiar rapidamente os lançamentos dos produtos concorrentes. Pelo contrário, elas esperam a passagem da fase de introdução do ciclo de vida do novo produto ou serviço e, então, entram no mercado, copiando ou melhorando os produtos concorrentes. A estratégia da empresa que é a primeira a lançar o novo produto ou serviço no mercado tem como vantagem o fato de que muitos consumi- dores optam por comprar das pioneiras do setor (Kotler, 2000). Entretanto, como desvantagem, podemos mencionar o risco de se lançar um produto que não obtenha boa aceitação no mercado. A estratégia de seguidores rápidos tem, como principal vantagem, o baixo custo envolvido para copiar ou melhorar determinada inovação, se comparado ao custo de desenvolvimento dos produtos inovadores. No entanto, as empresas com essa estratégia podem não conseguir superar a vantagem competitiva alcançada pela empresa pioneira do setor, tendo de se contentar, muitas vezes, com o segundo lugar em participação de mercado. 105 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 105 03/02/2012 17:42:05 Quanto à estratégia de entrantes tardios, ela tem como principal vanta- gem o risco reduzido, uma vez que essas empresas não entram na corrida pela inovação e, assim, não correm o risco de investir em produtos que não terão retorno no longo prazo. Por outro lado, essa estratégia tem como ponto negativo a vantagem conquistada pelas empresas que lançaram o produto antes, tendo, assim, de se contentar com participações reduzidas de mercado. Para finalizar a discussão sobre estratégias de lançamento de inovações, é importante pontuar que, conforme citado anteriormente, ser a primeira empresa a lançar um produto no mercado não é garantia de sucesso no longo prazo. Dessa forma, as empresas pioneiras devem sempre investir em inovações incrementais, ou até mesmo radicais, em seus produtos ou serviços, de forma a antecipar possíveis investidas de concorrentes quanto a esses aspectos. Depois de entender as estratégias relacionadas ao lançamento de novos produtos no mercado, deve-se enfocar o estudo do comportamento do consumidor em relação às inovações introduzidas no mercado. De acordo com Rogers (2003), os consumidores podem ser reunidos em cinco grupos distintos, com base em suas respostas às inovações dos produtos e serviços lançados no mercado: 1. inovadores – Os consumidores que fazem parte deste segmento são aqueles que buscam adquirir uma inovação assim que ela é lançada no mercado. Normalmente, são consumidores que possuem poder aquisitivo elevado, uma vez que muitos produtos novos são lançados inicialmente a um preço premium, ou seja, mais caros que os já disponíveis. Esses consumidores desempenham um importante papel para as empresas inovadoras, na medida em que são os responsáveis por divulgar as inovações introduzidas no mercado. 2. adotantes iniciais – Normalmente, são os consumidores que ocupam papel de referência em seus grupos sociais, sendo, portanto, muito críticos em relação a qualquer inovação. São aqueles que, passada a euforia inicial, analisam as inovações 106 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 106 03/02/2012 17:42:06 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa e, ao adotarem ou rejeitarem os novos produtos ou serviços, influenciam outros consumidores a fazerem o mesmo. As empresas devem preocupar-se com eles antes mesmo de lançarem determinado produto ou serviço, pois, caso a inovação não seja aprovada pelos consumidores deste grupo, provavelmente também não terá boa aceitação pelos dos demais. 3. maioria inicial – São aqueles consumidores que, influenciados pelos indivíduos do grupo de adotantes iniciais, formam uma massa crítica de adotantes da inovação. Eles demoram mais em sua decisão devido ao fato de esperarem até que outros consumidores já tenham uma opinião formada. 4. maioria tardia – Grupo formado pelos consumidores que demoram aceitar e a buscar produtos novos, uma vez que preferem a esperar por preços mais acessíveis. Somente adotam a inovação depois que de perceberem que grande parte dos demais consumidores já a aprovou. 5. retardatários – Segmento de consumidores que tendem ao conservadorismo excessivo, evitando quaisquer inovações. Só aderem a uma inovação quando ela não é mais considerada assim, ou seja, quando já passou a fazer parte do cotidiano da população em geral. É importante ressaltar que os consumidores que fazem parte deste grupo, assim como aqueles do grupo dos adotantes tardios, muitas vezes assumem essa postura por falta de recursos financeiros. 4.4 Estratégias de mix de produtos Neste tópico, serão analisados os conceitos relacionados a um mix de produ- tos que determinada organização pode desenvolver, assim como as estraté- gias que podem ser utilizadas para a ampliação da participação de mercado. Um mix de produtos é o conjunto de todos os itens que determinada organização oferece ao mercado, sendo que podem ou não estar associados 107 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 107 03/02/2012 17:42:06 a uma mesma linha de produtos (Kotler, 2000). Esta pode ser conceituada como o conjunto de todos os itens de um mix de produtos que possuem as mesmas características essenciais ou básicas. Por exemplo: uma empresa pode trabalhar com uma linha de computadores, outra de televisores, outra de aparelhos de DVD etc. Quanto mais linhas de produtos uma empresa possui, maior é a abran- gência de seu mix de vendas. Por outro lado, quanto mais opções são oferecidas aos consumidores em cada linha de produto, maior é a profundi- dade do seu mix (Kotler, 2000). Por exemplo: uma empresa pode trabalhar apenas com a produção de telefones celulares e de computadores,tendo, portanto, uma abrangência de tamanho 2 (duas famílias diferentes de itens). No entanto, essa empresa pode oferecer três marcas diferentes de celulares, cada uma com dez variáveis de modelos (profundidade de tamanho 30) e apenas uma marca de computadores, porém, com 15 opções de modelos (profundidade de tamanho 15). Definidos esses conceitos, deve-se enfocar agora as possibilidades que as organizações podem ter para ampliar seu mix de produtos. Nesse sentido, conforme explica Kotler (2000), uma empresa pode expandir seu mix de vendas tanto na dimensão abrangência quanto na dimensão profundidade. Quando a empresa busca diversificar os produtos oferecidos, ou seja, criar novas famílias de produtos, ela adotará uma estratégia de ampliação da abrangência de seu portfólio de vendas. Como exemplo, pode-se ima- ginar uma empresa especializada em computadores que passa a produzir também calculadoras científicas. Por outro lado, quando a empresa opta por ampliar as marcas disponíveis para cada linha de produtos, ou ampliar as opções de itens dentro de uma determinada linha, ela adotará a estratégia de ampliação da profundidade de seu mix de vendas. Optando por aumentar a profundidade de seu mix de produtos, a orga- nização pode seguir três direções (Kotler, 2000): 1. Criar uma marca de produtos com preços mais elevados do que aqueles relacionados às marcas já existentes em sua linha de itens, 108 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 108 03/02/2012 17:42:06 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa como forma de alcançar consumidores dispostos a pagar mais por determinados produtos. 2. Criar uma marca de produtos com preços mais reduzidos do que aqueles relacionados às marcas já existentes em sua linha de itens, de forma a atingir os consumidores mais sensíveis aos preços. 3. Aumentar a variedade dos produtos disponíveis em determinada marca de uma linha, desenvolvendo embalagens com novas quantidades, novos aromas, novos sabores e novas funcionalidades. Uma empresa que trabalha com produtos de higiene pessoal e que tem em seu mix de produtos uma linha de xampus comercializada com a marca SempreMacio, pode ampliar suas vendas desenvolvendo uma marca de xampus com preços mais baixos ou mais elevados do que aqueles dos produtos dessa marca. Entretanto, a empresa pode também ampliar as fragrâncias dos xampus dessa marca, criar embalagens maiores ou meno- res ou, ainda, desenvolver outros tipos de xampus para diferentes tipos de cabelos. Todas essas ações são voltadas para a ampliação dos produtos da marca que a organização já havia introduzido no mercado. Ressalta-se, porém, que as decisões estratégicas relativas à ampliação do mix de produtos das organizações devem levar em consideração tanto a análise de aspectos internos (competências da organização) quanto a análise de fatores externos, que conduzem ao desenvolvimento de oportunidades de mercado ou de ameaças (Glaister; Falshaw, 1999). Uma ferramenta que pode ser utilizada para a análise das diversas linhas de produtos disponibilizadas por determinada empresa é a matriz Boston Consulting Group (BCG), mostrada na Figura 4.4. 109 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 109 03/02/2012 17:42:06 Figura 4.4 – Matriz BCG Produtos estrela Produtos pontos de interrogação Produtos vacas leiteiras Produtos animais de estimação Participação de mercado Cr es cim en to do m er ca do Fonte: Adaptado de Grant, 2002; Hendersen, 1984, e Kotler, 2000. Por meio dessa ferramenta de análise, é possível identificar as linhas de produtos que mais produzem fluxo de caixa – as vacas leiteiras –, visto que possuem elevada participação de mercado em um segmento com baixo crescimento. Esses produtos, além de não terem necessidade de investimentos elevados, geram recursos que podem ser investidos em outras linhas de produtos. Existem também os produtos pontos de interrogação, que possuem baixa participação de mercado em um segmento que apresenta crescimento elevado. Nesse caso, a empresa deve analisar se deve investir nessas linhas de produtos, com o intuito de alcançar maior participação de mercado, ou se deve abandoná-las, quando a expectativa de sucesso não for alta. Existem também os produtos estrela, que alcançam elevada participa- ção de mercado em segmentos com grande crescimento. Esses produtos exigem muitos investimentos, de forma a reforçar a participação de mer- cado alcançada. 110 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 110 03/02/2012 17:42:06 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa É necessário observar que existem produtos que não alcançam elevada participação de mercado e fazem parte de um segmento com baixo cresci- mento: são os produtos animais de estimação. Estes devem ser eliminados do mix de produtos da organização, a não ser que exista algum motivo estratégico para mantê-los no portfólio de vendas, uma vez que podem, por exemplo, incentivar a venda de outros produtos mais lucrativos. Finalizando a discussão sobre o mix e as linhas de produtos, é importante destacar que existem diversas outras ferramentas que também auxiliam na gestão do mix de vendas da organização, como a classificação ABC e a matriz McKinsey, igualmente úteis à matriz BCG na avaliação do mix de produtos. 4.5. Estudo de caso: Inovação em uma indústria brasileira de equipamentos agrícolas A empresa Beta é uma indústria brasileira de equipamentos agrícolas, fundada em 1960, que produz e comercializa equipamentos, tanto no mercado nacional quanto em outros países como Colômbia, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Uruguai, Guatemala, Argentina, Bolívia, República Dominicana, Jamaica, El Salvador, México, Cuba, Guadalupe, Costa do Marfim, Moçambique e África do Sul. Para preservar a organização estu- dada, utilizamos um nome fictício, o qual não tem relação com o nome real da empresa em questão. Quanto ao mercado de equipamentos agrícolas, cabe destacar a concor- rência extremamente acirrada, pois nesse segmento atuam desde pequenas empresas nacionais até grandes multinacionais. Inicialmente, a empresa Beta produzia apenas carregadoras e planta- doras de cana e colhedoras de cana inteira. Entretanto, acompanhando as tendências de mercados estrangeiros, na década de 1970 a empresa lançou a primeira colhedora de cana picada no Brasil, conseguindo, dessa forma, alcançar grande participação de mercado. Além disso, nessa mesma década, 111 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 111 03/02/2012 17:42:06 a empresa ampliou sua linha de produtos, lançando veículos de transbordo e de movimentação de cana-de-açúcar. Continuando seu processo de expansão e de inovação, a empresa Beta lançou, na década de 1990, a carregadora de cana mais leve do mercado e alguns equipamentos destinados à produção de amendoim, entre eles a carreta de secagem, o arrancador e o transbordo. A partir do ano 2000, a empresa Beta começou a perder participação de mercado, visto que algumas concorrentes, principalmente multinacionais, desenvolveram novas tecnologias que aumentavam a produtividade de seus próprios equipamentos em relação ao desempenho alcançado pelas máquinas da empresa Beta. Passando por uma situação financeira bastante delicada, essa empresa percebeu que a melhor solução seria investir mais em pesquisa e desenvol- vimento, de maneira a descobrir tecnologias que conseguissem se igualar e até ultrapassar a produtividade alcançada pelos equipamentos concorrentes. Depois de três anos de pesquisa, em 2003, a empresa lançou no mer- cado uma plantadorade cana com um sistema de plantio mecanizado, além de uma nova colhedora de cana, que possuía um sistema de colheita altamente produtivo. No entanto, ao contrário do que era esperado pelos executivos da organização, a empresa Beta conseguiu recuperar apenas uma fatia da participação de mercado perdida anteriormente. Assim, os executivos da Beta perceberam que somente conseguiriam recuperar a elevada participação de mercado que a empresa possuía antes se novas tecnologias continuassem a ser desenvolvidas, o que levou ao aumento do investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos na organização. Em 2009, após anos de pesquisa, ela lançou no mercado uma colhe- dora de cana com elevada produtividade, a qual possuía um sistema de colheita com elevada tecnologia e, ao mesmo tempo, com baixo custo de manutenção. Segundo a própria empresa: É a primeira colhedora de cana com tração 6x4, feita para trabalhar com alta estabilidade, tração e baixo custo. Além disso, 112 capítulo 4 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 112 03/02/2012 17:42:06 Edgard Monforte Merlo Harrison Bachion Ceribel i Benny Kramer Costa o revolucionário sistema de colheita da máquina, aliado aos pneus de alta flutuação, garante na produção segurança, estabilidade e rendimento em terrenos acidentados, arenosos, úmidos ou não sistematizados. A capacidade de “copiar” o solo, suas ondulações e irregularidades, permite uma colheita mais uniforme e eficiente, contribuindo também para reduzir o efeito de compactação do solo. Para finalizar, o novo sistema desenvolvido evita a sobrecarga dos sistemas de operação de todo o equipamento, agindo como um suavizador dos impactos, evitando trincas estruturais, aumentando a vida útil da máquina e trazendo melhor relação custo/benefício ao investimento. Com o lançamento da nova colhedora, a empresa conseguiu novamente alavancar suas vendas, ganhando participação de mercado e voltando a crescer após dez anos. Síntese Este capítulo discorreu sobre as questões relacionadas à estratégia de pro- dutos. Foram abordados aspectos relativos ao CVP e às diferentes estraté- gias que as empresas podem adotar em cada uma das fases desse ciclo. Da mesma forma, foram tratados os processos de inovação e de lançamento de novos produtos ou serviços no mercado, bem como temas relacionados às estratégias de lançamento de novos produtos ou serviços que as empresas podem adotar, e ao comportamento do consumidor diante das inovações introduzidas no mercado. Foram apresentados, também, conceitos rela- cionados ao mix de produtos das organizações, assim como as estratégias que estas podem adotar para ampliar o mix de vendas disponibilizado ao consumidor. 113 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 113 03/02/2012 17:42:06 Questões para reflexão e discussão 1. A empresa Beta trabalha com inovações radicais ou incrementais? Explique. 2. Como pode ser definida a estratégia de inovação adotada pela empresa Beta? Justifique. 3. Analisando o conceito de ciclo de vida dos produtos, em qual fase a colhedora de cana Beta estava antes da implementação da nova tecnologia de colheita? Qual foi o comportamento da empresa para reverter essa situação? 4. Como você analisaria a postura de inovação da empresa Beta? Algumas mudanças poderiam ser sugeridas? Os resultados alcançados foram satisfatórios? Justifique sua resposta. Referências ADLER, P. S. Interdepartamental Interdependence and Coordination: the Case of Design Manufacturing Interface. Organization Science, v. 6, n. 2, p. 147-167, Mar./Apr. 1995. BEHARA, R. S.; CHASE, R. B. Service Quality Deployment: Quality Service by Design. In: SARIN, R. V. (Ed.). Perspective in Operations Management: Essays in Honor of Elwood S. Buffa. Norwell, MA: Kluwer Academic Press, 1993. p. 87-101. BULTE, C. 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As empresas, independentemente do seu tamanho, dos seus recursos ou da sua excelên- cia, não podem estar alheias às mudanças, afirmava a autora. Essas considerações mostraram-se proféticas no cenário do desenvolvi- mento do comércio eletrônico no início do século XXI, pois a expansão do faturamento dos negócios eletrônicos vem demonstrando uma dinâmica ímpar, superando em muito o crescimento da atividade econômica. No Brasil, de acordo com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net, 2007), a expansão do e-commerce no segmento business to consumer (B2C) teve um crescimento anual de mais de 50%. Em 2005, o crescimento do volume das vendas no segmento business to business (B2B) foi de 37%. No ano seguinte, o acréscimo no volume das vendas foi de 36,4% e, no primeiro trimestre de 2007, a mesma fonte de dados apresentava um crescimento de 43,5% em relação ao mesmo período (Camara-e.net, 2007). Uma análise superficial dos dados apresentados já é uma prova do dinamismo e da crescente relevância do comércio eletrônico no Brasil. Em 2009, pela primeira vez no Brasil, o segmento B2C apresentou uma expansão de 30%, enquanto o PIB do país ficou estagnado. Visto como um “pote de ouro potencial para crescimento e expansão dos negócios” (MacGregor; Vrazalic, 2006, p. 1), o comércio eletrônico, em função de seu crescimento explosivo, tornou-se fonte de vantagem competitiva para as empresas, exatamente como previsto nos anos 1990. Por isso, os empreendedores, ao fornecerem insumos ou produtos para as empresas ou para o consumidor final, devem estar cientes do grande potencial do comércio eletrônico. Na tentativa de promover a adesão das pequenas e médias empresas (PMEs) ao comércio eletrônico, a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) e o Serviço Brasileiro de 121 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 121 03/02/2012 17:42:09 Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) desenvolvem seminários anuais abordando as vantagens e as dificuldades de seu funcionamento, como apontadas pelos empresários, com vistas a melhorar os serviços dos empreendedores nesse setor. Considerando esse cenário, serão apresentadas as especificidades do modelo de avaliação do espaço virtual e dos seus elementos constitutivos. Abordamos, na sequência do capítulo, os benefícios e as dificuldades que as PMEs enfrentam para participar do comércio eletrônico. Uma seção tem como foco os elementos necessários para a estruturação e a abertura de um ponto de vendas eletrônico. Um estudo de caso elucida as vantagens da aderência ao comércio eletrônico, completando a exposição. Tratamos de uma empresa brasileira do setor de manutenção, reparos e operações (MRO) que, ao superar os obstáculos, aliando-se a uma grande empresa e aderindo ao e-commerce, expandiu o seu volume de vendas em 100% ao ano, por quatro anos con- secutivos. Essa organização ganhou uma vantagem competitiva no seu ramo de atividades, distanciou-se das outras empresas da área ramo e é a principal fornecedora de muitas empresas de grande porte no país. 5.1 Mercados de competição e modelo de avaliação do espaço virtual O primeiro artigo sobre e-commerce, publicado em 1994, por Rayport e Sviokla, diferencia claramente dois mercados de competição: o físico e o informacional ou virtual. Para os autores, o primeiro – que constitui uma junção entre um conteúdo (atributos do produto/serviço ofertado), um contexto (maneira de organizar o conteúdo) e uma infraestrutura (o que possibilita a transação comercial) – distingue-se do segundo, no qual esses elementos podem ser gerenciados em separado. A dissociação dos elementos constituintes do sistema de valor (ou da identificação mercadológica) proporciona condições de a empresa se espe- cializar em um dos elementos e provoca ameaça de inserção vitoriosa de 122 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 122 03/02/2012 17:42:09 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário novos entrantes em um segmento no qual há empresas solidamente estru- turadas no mercado físico. Rayport e Sviokla (1994) enfatizam assim a relevância dessa nova forma de realizar negócios, afirmando que os gestores das empresas estariam diante de dois desafios: reconhecer o potencial pleno das transações no espaço mercadológico do comércio eletrônico de maneira coerente; escolher os melhores recursos para competir nessa nova esfera de atividades. Entre os recursos para gerenciar o mercado virtual e para competir com sucesso, em primeiro plano encontra-se o website da empresa. Os pesquisadores do comércio eletrônico dedicam-se à análise dos atributos necessários aos websites das empresas virtuais e ao estudo de suas funções. Entre vários modelos teóricos de websites, escolheu-se o desenvolvido por Angehrn (1997), denominado de modelo de informação, comunicação, transação e distribuição (ICDT). Esse modelo segmenta o espaço merca- dológico virtual em quatro áreas (espaços ou canais) distintas, que, por corresponderem a objetivos estratégicos diferentes, devem ser tratadas de maneiras diversas. Cada um desses espaços é importante e deve estar presente em um website empresarial. Os espaços são: 1. espaço de informação virtual – Ambiente de visibilidade, no qual a empresa fornece informações sobre si, seus produtos e seus preços. Esse canal de informação é de mão única, ou seja, somente a empresa fornece informações. Representa a vitrine da organização e aponta os caminhos a serem percorridos pelos interessados em se comunicar com a empresa. 2. espaço de comunicação virtual – Refere-se à comunicação, ou seja, é o espaço em que se estabelecem relacionamentos e trocas de ideias e opiniões relacionadas aos negócios. Pode representar desde um simples canal de chat até um sofisticado espaço de encontro dos membros da comunidade virtual, em 3D, que evita limitações físicas ou geográficas. 123 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 123 03/02/2012 17:42:09 3. espaço de distribuição virtual – Refere-se à entrega do serviço. Esse canal de distribuição apresenta restrições quanto aos tipos de produtos que podem ser entregues, e está restrito a produtos ou serviços que podem ser parcial ou totalmente digitalizados. 4. espaço de transação virtual – Refere-se à negociação. Esse canal não transfere mercadorias ou serviços, mas somente informações sobre pedidos, acordos e pagamentos. Esses espaços podem ser visualizados na Figura 5.1. Figura 5.1 – Espaço virtual de negócios Espaço do mercado tradicional Espaço de Informação Virtual (EIV) Novos canais para os agentes econômicos acessarem a empresa. Informaçõessobre produtos e serviços (preços, produtos etc.). Espaço de Comunicação Virtual (ECV) Novos canais para relacionamento com os agentes econômicos. Troca de ideias, formação de opinião (negociação, intermediação etc.). Espaço de Transações Virtuais (ETV) Novos canais para os agentes econômicos iniciarem e executarem transações de negócios (pedidos, ordens de pagamentos etc.). Espaço de Distribuição Virtual (EDV) Novos canais para os agentes econômicos distribuírem produtos e serviços (entrega de bens digitais, software, serviço de tele consultas etc.). Fonte: Adaptado de Angehrn, 1997. 124 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 124 03/02/2012 17:42:09 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário Ainda para Angehrn (1997), esses quatro espaços virtuais devem ser tra- tados separadamente, pois correspondem a objetivos estratégicos diferentes, requerem variados tipos de investimentos e de ajustes organizacionais e contribuem para determinar a forma de utilização da internet nos ambien- tes de negócio. Esse modelo é utilizado para se realizar o diagnóstico da maturidade das estratégias de transações via internet, servindo também para detectar oportunidades oferecidas pelas organizações, assim como para melhorar a comunicação e os processos internos da empresa. Com isso, fica claro que a empresa deverá recorrer pelo menos ao espaço de informação virtual, no qual disponibilizará informações sobre seus produtos e preços, tornando-se visível aos mercados local, regional, nacional e mundial. 5.2 Benefícios e barreiras de entrada das PMEs no comércio eletrônico As vantagens competitivas, objetivos primordiais das empresas, são pro- duzidas e modificas a cada momento. Elas abarcam a geração e a difusão do conhecimento e a visão sobre a importância da pesquisa e do desen- volvimento (P&D), exigindo uma postura proativa, na qual a superação das condições do ambiente de negócios é um elemento fundamental. Também envolve o acompanhamento das modificações nas formas de competição, a demanda, o investimento, o esforço, o tempo e a persistência. Uma das mudanças revolucionárias, ocasionadas pelo avanço substan- cial da tecnologia das comunicações e da eletrônica, é o novo modelo de negócios associado ao comércio eletrônico. Os negócios eletrônicos ajudam as empresas a solucionarem os seus problemas de uma forma melhor, mais rápida e mais eficiente. Desde a disseminação da informação, passando pelo maior valor adicionado a produtos e serviços dos consumidores, os negó- cios eletrônicos modificam a maneira de viver, de trabalhar e de competir. De acordo com Ward (1999), para a maior parte das empresas do século XXI, a questão não é se devem aspirar à participação nos negócios 125 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 125 03/02/2012 17:42:09 eletrônicos, mas quão agressivamente devem orientar-se por essa estra- tégia. Já Wilder (1999) vai mais longe ainda, afirmando que os negócios eletrônicos não são mais uma alternativa, mas um imperativo. Os benefícios do e-business e/ou e-commerce são claros: as empresas conseguem obter vantagens competitivas com a redução dos custos de comunicação e de transações, com melhores serviços ao consumidor, pro- porcionados pelas facilidades do comércio eletrônico. A participação no novo ambiente de negócios traz muitos benefícios potenciais para as PMEs, ainda que existam barreiras a essa entrada (Stockdale; Standing, 2004). Essa questão será examinada na sequência do nosso trabalho, a fim de realizarmos uma comparação com o caso pesquisado. 5.2.1 Benefícios De acordo com Dembla, Palvia e Balaji (2007), a internet permite às peque- nas empresas entrar no domínio dos grandes negócios e competir com eles. Apesar de os benefícios terem sido mencionados na literatura em relação à participação das PMEs no comércio eletrônico, objetivamente estamos tratando de oportunidades abertas para todas as empresas, independen- temente do seu porte. Existe um maior rol de benefícios, propiciados pela adesão ao comércio eletrônico, para as grandes empresas, o qual não pode ser atribuído às PMEs. Entre esses benefícios, podemos citar a redução dos custos de administração e a melhora na administração da cadeia de supri- mentos. Esses benefícios serão especificados a seguir: as informações sobre a empresa e seus produtos encontram-se no site – O site promove a visibilidade da empresa, sendo possível, em um mesmo local, obter informações sobre a organização, os produtos, as promoções oferecidas etc. O interesse aqui é dos consumidores, da empresa e dos demais participantes no comércio eletrônico. Um atributo importante, nesse item, é a confiança a ser estabelecida e mantida para o sucesso dos negócios (Brun et al., 2002; Weil; Vitale, 2001). 126 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 126 03/02/2012 17:42:09 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário Inegavelmente, as grandes empresas, conhecidas no mercado pela qualidade dos seus produtos e serviços, estão em posição de vantagem. custo de transações mais baixo – Os custos de procurar e de comprar ou vender são mais baixos. O processamento eletrônico, o pagamento on-line, a execução e o acompanhamento dos pedidos são mais baratos e mais eficientes (Brun et al., 2002; Tumolo, 2001). acesso à mais ampla variedade de mercados – Para os compradores, representa o aumento da base de procura e o potencial de encontrar melhores preços e produtos. Os fornecedores podem ampliar os seus mercados-alvo, alcançando um nível global (Brun et al., 2002, Tumolo, 2001). conveniência na interação com os parceiros – Acesso 24 horas por dia, atendendo à disposição de tempo do consumidor e dos fornecedores (Deeter-Schmeltz et al., 2001). atualização da informação – O comércio eletrônico proporciona condições para a imediata troca de informações sobre especificações de novos produtos, assim como sobre preços. A elaboração e a distribuição de catálogos impressos são mais demoradas e caras (Baron et al., 2000; Tumolo, 2001). melhoras no serviço ao consumidor – O comércio virtual proporciona condições para a personalização do atendimento ao consumidor. Assim, a empresa pode anunciar produtos e serviços específicos e atender aos pedidos dos interessados. Além disso, pelo perfil de compras do consumidor, a empresa pode oferecer produtos ou serviços que melhor atendam às expectativas dos seus clientes (Tumolo, 2001). diferenciação dos produtos e serviços (customização) – A visibilidade dos produtos e serviços oferecidos nos mercados do comércio eletrônico possibilita que as empresas se diferenciem da concorrência e atendam melhor o seu mercado-alvo (Brun et al., 2002; Korchak; Rodman, 2001). 127 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 127 03/02/2012 17:42:10 maior potencial para parcerias – A distância geográfica do consumidor ou do fornecedor torna-se menos relevante. Assim, a comunicação via e-mail e programas de multimídia melhora a base de suporte das relações entre consumidores e fornecedores (Hurwitz Grupo Report, 2000; Tumolo, 2001). capacidade de participar da cadeia de suprimentos das grandes empresas – Já que a maior parte das grandes empresas está transacionando ou, pelo menos, tem a sua base de suprimentos fundamentada no mercado eletrônico, a participação das PMEs proporciona a oportunidade para estas ganharem espaço na cadeia de suprimentos das grandes empresas (Korchak; Rodman, 2001). 5.2.2 Barreiras Na revisão da literatura sobre as barreiras de entradadas PMEs no mercado eletrônico, Stockdale e Standing (2004) conseguiram identificar oito bar- reiras principais, que eles dividiram em dois grupos: externas e internas. As duas espécies são tratadas especificamente na sequência. 5.2.2.1 Barreiras externas Stockdale e Standing (2004) entendem que “as barreiras externas estão fora do alcance da capacidade de superação das PMEs, apesar de que a sua compreensão pode contribuir para a elaboração de estratégias mais eficientes”. São elas: falta de compreensão sobre as necessidades das PMEs – Especialistas em software e em comportamento do mercado não entendem as necessidades das PMEs e podem exigir grandes somas de dinheiro para o seu trabalho, o que está além dos recursos disponíveis destas empresas para participarem do comércio eletrônico. Elas raramente empenharão recursos sem 128 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 128 03/02/2012 17:42:10 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário uma clara identificação dos retornos do investimento em tempo e em dinheiro (Korchak; Rodman, 2001). falta de padrões tecnológicos comuns – A não adoção do mesmo padrão tecnológico para as plataformas de comunicação entre compradores e vendedores impede o desenvolvimento do mercado eletrônico. Essa variedade pode deter a participação não apenas das PMEs, mas também das grandes empresas que não desejarem empenhar recursos em software ou em treinamento antes de poderem identificar os retornos de seus investimentos (Howarth, 2002). competência eletrônica do setor – Muitas PMEs trabalham em um ambiente de negócios em que um setor não encoraja a inovação, e há poucos incentivos para os primeiros entrantes nas transações eletrônicas (Stockdale; Standing, 2004). 5.2.2.2 Barreiras internas As barreiras internas estão relacionadas às variáveis que são de controle interno da empresa e dependem de sua estrutura, estratégia e organização (Stockdale; Standing, 2004, p. 308). São elas: identificação dos benefícios da entrada no e-commerce – raramente as PMEs podem ser beneficiadas por serem as primeiras entrantes. Suas ações, em geral, são respostas às modificações em seu ambiente externo de trabalho e não há incentivos para que ela corra riscos. Sua adesão ao mercado virtual está condicionada à presença e à percepção de benefícios imediatos que possam encorajá-las, antes do surgimento dos benefícios de longo prazo (Korchak; Rodman, 2001). compreensão do ambiente eletrônico de negócios – Muitas vezes, as PMEs não entendem a natureza do comércio eletrônico e a sua interação com as demais maneiras de comercializar; no entanto, esse pensamento, de acordo com Porter (2001), não 129 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 129 03/02/2012 17:42:10 está circunscrito apenas ao âmbito das PMEs. Segundo Stockdale e Standing (2004), o importante para estas é compreender que a internet não é um substituto à sua atuação normal, mas apenas um recurso a mais que pode melhorar o seu desempenho. comércio global – A capacidade de atuar no mercado global está associada aos negócios eletrônicos. Embora o mercado eletrônico global abranja as condições para a entrada nos negócios em escala global, ele contém muitos fatores que podem refrear essa atividade. Entre essas dificuldades, podemos mencionar os problemas com a linguagem, o desconhecimento da legislação sobre o comércio exterior e as diferenças culturais, entre outras. Elas não são insuperáveis, mas exigem identificação e compreensão (Peppard, 1999). integração na cadeia de suprimentos – As PMEs raramente se concebem como parte de uma grande cadeia de suprimentos (ou cadeia de valor). Elas tendem a subestimar as facilidades proporcionadas pelo comércio eletrônico; contudo, o compartilhamento de informações com as demais empresas no mercado eletrônico, as requisições de compra por meio da internet, a execução eletrônica dos pedidos, o acompanhamento do andamento dos pedidos e a eficiência em custo e em tempo (Korchak; Rodman, 2001), proporcionados pelo ambiente do comércio eletrônico, possibilitam condições concretas para a integração das PMEs na cadeia de suprimentos das grandes empresas. Se as PMEs não compreenderem que a sua competência no mercado eletrônico pode sustentar a sua habilidade de atuar como parceiras nas cadeias de suprimento das grandes empresas, perderão as oportunidades, que serão aproveitadas pelas demais empresas do seu ramo de atuação, como afirmam Stockdale e Standing (2004). restrições financeiras – As PMEs têm menos recursos próprios para investir e, obviamente, a sua capacidade creditícia é menor, uma vez que as instituições financeiras muitas vezes recusam 130 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 130 03/02/2012 17:42:10 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário a concessão de crédito para as suas atividades corriqueiras. A situação se torna mais grave ainda se a destinação do crédito for a participação das PMEs no comércio eletrônico. Como para elas os benefícios, em termos de retorno, não são calculáveis, para as instituições financeiras esse fato constitui um grave impedimento para a concessão de crédito. Analisando as barreiras à entrada no comércio eletrônico para os peque- nos negócios, MacGregor e Vrazalic (2006) afirmam, em primeiro lugar, que as pequenas organizações não são grandes negócios em uma escala reduzida. Segundo esses autores, embora o tamanho seja o maior fator de distinção, as pequenas empresas apresentam características específicas que as distinguem das grandes organizações, as quais deverão ser consideradas no exame das barreiras de entrada daquelas nos negócios eletrônicos. Os autores enumeram dois grupos de características, consideradas relevantes neste estudo, que são as seguintes: 1. características relacionadas aos produtos/serviços e aos mercados – Limitada variedade de produtos; pequena participação de mercado (um nicho ou poucos consumidores); a orientação por produto não tem foco nas necessidades do consumidor, tal como ocorre nas grandes empresas. 2. características relacionadas ao risco e à incerteza – Como as pequenas empresas têm menor controle sobre o ambiente externo, elas enfrentam maiores incertezas, maiores riscos e maiores taxas de falência; por isso, são mais relutantes a aceitar correr riscos. Essas peculiaridades resultam em mais uma barreira à entrada das PMEs no e-commerce, além das analisadas anteriormente, que é a falta de massa crítica de compradores, fornecedores e parceiros nos negócios. Além desta, as restrições financeiras e as considerações quanto ao risco e ao retorno também são barreiras decisivas para a adesão das PMEs ao comércio eletrô- nico. Embora esse conjunto de fatores afete os empreendedores iniciantes 131 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 131 03/02/2012 17:42:10 de maneira geral, parte deles inaugura suas atividades dentro do comércio eletrônico. 5.3 Pilares para a abertura de pontos de venda eletrônicos Os empreendedores que desejam abrir um negócio eletrônico devem bus- car informações sobre cursos preparatórios para desenvolver essa impor- tante fase do empreendimento. Atualmente, existem diversas opções de cursos presenciais ou virtuais, em várias instituições. O interessado deve certificar-se da idoneidade dessas instituições e informar-se com pessoas que já passaram por esses cursos para tomar uma decisão acertada no momento da escolha. Quanto aos recursos financeiros para montar uma empresa virtual, o empreendedor tem à sua disposiçãolinhas de financiamento. Uma delas é o cartão do Banco Nacional do Desenvolvimento (Cartão BNDES), para as PMEs que atendem outras empresas – ou modalidade business to business (B2B) –, com prazos e taxas de juros vantajosos para compradores e vende- dores, desde que já tenham o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ)*. O custo de abertura de um ponto de venda virtual está se tornando cada vez menor. O empreendedor pode se estabelecer em qualquer local, diferentemente do ponto físico, que necessita levar em conta fatores como localização, tamanho da área etc. Ele também pode escolher um local no qual a mão de obra e o aluguel sejam mais baratos, sempre considerando as facilidades do recebimento e do envio dos produtos, em casos de pro- dutos físicos, pois a manutenção desse serviço em locais de difícil acesso aumenta sobremaneira os custos logísticos. * Mais informações sobre as condições para se obter o Cartão BNDES podem ser encontradas no site da instituição: <https://www.cartaobndes.gov.br/ cartaobndes/>. 132 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 132 03/02/2012 17:42:10 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário Contudo, a maior barreira ainda é a falta de massa crítica de compra- dores – ou, ao contrário, o excesso de compradores e a impossibilidade de atender à demanda. Por mais estranho que pareça, existem inúmeros casos nos quais o fracasso do ponto virtual de vendas ocorreu devido exa- tamente ao excesso de demanda. Neste ponto, um item merece atenção especial: o planejamento. Um planejamento bem elaborado é um componente essencial para o sucesso, porém, é justamente nesse aspecto que se encontra a principal falha do empreendedor e do pequeno empresário. Na fase de planejamento, em primeiro lugar, o empreendedor deverá realizar um estudo de mercado e de aceitação do produto, sempre considerando as particularidades das vendas pela internet. Para alcançar o sucesso, o empresário deverá se cer- tificar do tamanho da demanda no ramo eleito, assim como da aceitação do produto. Com base nesses dados, deverá criar um produto diferenciado e um marketing criativo. Como exemplo de grande dificuldade, podemos mencionar o comércio de peças de vestuário, cujas vendas são afetadas principalmente pela falta de padronização dos tamanhos entre os fornece- dores, somado ao fato de que ainda é muito forte o desejo do consumidor em experimentar as roupas. Contudo, um exemplo de grande sucesso no comércio eletrônico é a venda de camisetas pelo site <http://www.camiseteria.com>. Em 2009, as vendas dessa loja virtual chegaram a 2 milhões de reais. O sucesso deveu-se à criatividade do dono do negócio. Ele apostou na cocriação de valor com seus compradores: por meio de concursos, os usuários elaboraram estampas que foram objeto de votação, e os vencedores foram premiados em dinheiro e em créditos para compra. Esse é um exemplo de marketing inteligente, no qual os usuários interessados divulgam os produtos. A fim de alcançar a massa crítica de clientes, no início de suas atividades a loja contou com fortes promoções, tais como: a empresa entregava seis camisetas se o cliente comprasse três. Obviamente, as promoções exigem recursos pre- vistos em orçamento. Esse caso mostra a necessidade de se definirem as ferramentas de webmarketing e o orçamento específico para cada ação, fatores considerados pilares para a estruturação das operações na internet. 133 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 133 03/02/2012 17:42:10 Compras com cartões de crédito representam mais de 80% das vendas no Brasil. Esse fato aponta para mais um pilar do ponto de venda eletrônico, que consiste no estabelecimento de um sistema de compra por cartão de crédito. Para esse fim, o empresário deverá abrir a sua conta de comerciante e escolher as bandeiras dos cartões com as quais irá trabalhar. As lojas de comércio eletrônico, em geral, enfrentam problemas rela- cionados à estimativa adequada do volume de vendas e ao planejamento das operações nas datas comemorativas, como Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças etc. Isso requer logística, ou seja, o processo de planejamento, de implementação e de controle eficiente e eficaz do fluxo e do armazenamento de insumos, de materiais em processo e de produtos acabados, assim como de informações relacionadas, desde o ponto de ori- gem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às necessidades do cliente (CSCMP, 2005). Principal atividade de valor no processo do comércio eletrônico, a logís- tica bem elaborada produz custos menores e torna-se um fator básico para a vantagem competitiva da empresa, especialmente para aquelas que compram e vendem produtos acabados. Os pequenos empresários não conseguem obter a redução de custos em função do volume de compras; assim, a logística se sobressai como o fator primordial para a obtenção de uma vantagem competitiva nos preços. A logística tradicional é bem diferente daquela relacionada ao comércio eletrônico. Parte das diferenças pode ser observada no Quadro 5.1. Quadro 5.1 – Diferenças entre logística tradicional e logística do e-commerce Logística tradicional Logística do e-commerce Tipo de carregamento Paletizado Pequenos pacotes Clientes Conhecidos Desconhecidos Estilo da demanda Empurrada Puxada Fluxo do estoque/pedido Unidirecional Bidirecional Tamanho médio do pedido Mais de R$ 1.000,00 Menos de R$ 100,00 (continua) 134 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 134 03/02/2012 17:42:10 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário Logística tradicional Logística do e-commerce Destinos dos pedidos Concentrados Altamente dispersos Responsabilidade Um único elo Toda cadeia de suprimentos Demanda Estável e consistente Incerta e fragmentada Fonte: Fleury, 2000. De acordo com Fleury (2000), o maior gargalo do comércio eletrônico se encontra nas atividades de atendimento do pedido. Estas envolvem o processamento do pedido, a gestão do estoque, a coordenação com os fornecedores e a separação e embalagem das mercadorias. Para o autor, as pesquisas realizadas nos Estados Unidos apontaram para a tendência de as empresas de comércio eletrônico concentrarem a atenção no desenvolvimento dos sites. Sendo a vitrine do negócio, o site merece atenção especial; entretanto, visto que os empreendedores não descuidam do endereço eletrônico, escolheu-se a abordagem de itens importantes que são relativamente negligenciados. No Brasil, a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) desenvolveu o Ciclo MPE.net. Trata-se de uma série de palestras gratuitas ministradas por especialistas no assunto, que percorrem o país. Seu objetivo é esclarecer dúvidas, mostrar casos de sucesso e fornecer subsídios para que o pequeno ou médio empreendedor invista no e-commerce com mais segurança e planejamento (Pensando Grande, 2010). 5.4 Estudo de caso: A E-MRO e a imposição da mundança Fundada no decorrer da Segunda Guerra Mundial, a empresa E-MRO (nome fictício), no final dos anos 1990 era uma unidade familiar conhecida no seu ramo de atuação. Ao contrário da praxe – as PMEs familiares, normalmente, (Quadro 5.1 – conclusão) 135 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 135 03/02/2012 17:42:10 apresentam altos níveis de descontinuidade no processo sucessório –, essa organização havia continuado no negócio e na família. O que preocupava o seu proprietário, neto do fundador, é que o próprio ramo se encontrava estagnado. Os fornecedores de suprimentos para manu- tenção, reparo e operações – todas PMEs – funcionavam em um mercado regionalizado,especializado e descapitalizado, além de serem tecnologi- camente defasados e “vendedores de preço”. A E-MRO se especializara no fornecimento de materiais para o setor metal-mecânico. Fornecedores da empresa, pertencentes a países desenvolvidos, com os quais o proprietário realizava trocas comerciais e, não raramente, visitas, já davam indícios de que a expansão do empreendimento só seria possível com a adoção de uma política proativa para a implantação de tecnologias de informação e comunicação (TICs) e, fundamentalmente, pelo comércio eletrônico. Contudo, como todas as pequenas empresas, a E-MRO apresentava várias das características inerentes aos pequenos negócios que dificultavam a adoção de TICs. Entre elas, podemos citar as relacionadas aos produtos/ serviços e mercados, que são: limitada variedade de produtos e pequena participação de mercado (um nicho ou poucos consumidores) – orientada por produto e não com foco nas necessidades dos clientes, como as grandes empresas. Além dessas, apresentava também características relacionadas à disponibilidade de recursos, como dificuldades para obter financiamen- tos e a disponibilidade de poucos recursos próprios para investir em TICs. Em 1998, a empresa firmou contrato com uma grande empresa para o fornecimento de material de MRO pelo comércio eletrônico. Esse contrato, somado à vontade e à capacitação técnica do proprietário, marcou o iní- cio das atividades da empresa no mercado business to business (e-B2B). Em um primeiro momento, o proprietário da empresa desenvolveu o sis- tema de vendas. Segundo suas palavras, “Todo o sistema foi desenvolvido internamente. Inicialmente, eu montei a base e desenvolvi toda a parte da segurança do sistema e no decorrer do desenvolvimento dos negócios fui contratando programadores”*. Entretanto, a empresa continuou com as suas vendas no espaço físico. * Informação verbal fornecida pelo proprietário da empresa. 136 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 136 03/02/2012 17:42:11 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário No início do século XXI, a empresa contava com 28 colaboradores, incluindo o proprietário, o que a caracterizava como empresa de pequeno porte – de 20 a 99 empregados (Sebrae, 2011). Seu faturamento anual era de 6 milhões de reais e contava com 6 vendedores e 11 separadores. O total de itens à venda chegava a 35 mil, o que a distanciava substancial- mente das empresas médias do ramo, que vendiam em média 9 mil itens (dados da própria empresa). Sua margem de lucro era de 22%. Contudo, os negócios eletrônicos não haviam experimentado uma expansão signifi- cativa em relação a 1998. No final de 2001, a empresa recebeu uma oferta para se associar a uma das maiores empresas industriais do Brasil. O proprietário aceitou a pro- posta, tornando-se sócio minoritário, mas mantendo o poder de decisão e a gerência da empresa. Em 2002, com o aporte de recursos e de aumento das vendas – inicialmente devido ao fato de ser fornecedor principal de MRO da grande empresa –, a E-MRO abandonou definitivamente o comércio físico, passando a negociar as vendas e a entrega de seus produtos parcialmente no mercado eletrônico e parcialmente recebendo os pedidos por meio de fax e telefone. Os benefícios obtidos, analisados na ordem em que foram apresentados no item 3.1, são os que seguem. As informações sobre a empresa e seus produtos se encontram no site da organização. O sistema de vendas on-line da empresa dispõe de um catálogo com imagens, atributos e preços de mais de 200 mil itens, que pode ser integrado a qualquer sistema de gestão empresarial. No caso de produtos relacionados à segurança do trabalho, há informações sobre as exigências legais para os atributos de cada produto. O website da E-MRO não promove apenas a visibilidade da empresa: ele atende a todas as características do modelo de ICDT (Information Communication Distribution and Transaction) – desenvolvido por Angehrn (1997), já apresentado – para uma aproximação sistemática à análise e à classificação de estratégias de negócio relacionadas à internet. Além da detecção de negócios e de oportunidades, oferecidos pela organização, o site é utilizado para o melhoramento da comunicação e dos processos internos da empresa e para o treinamento de seus colaboradores. 137 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 137 03/02/2012 17:42:11 Os custos de transações foram reduzidos, pois atualmente a empresa atende a dois mercados: um denominado de mercado spot e outro de mercado virtual (e-B2B). O mercado spot se caracteriza por empresas que realizam as suas com- pras de MRO sem uma programação e sem contrato preestabelecido. Nesse tipo de compra, existe baixo controle dos preços de fornecimento e, conse- quentemente, altos custos associados à manutenção dos ativos produtivos. Como os fornecedores não têm o compromisso de manter o material em estoque para novas aquisições, há a necessidade de contato com vários fornecedores. As empresas são obrigadas a manter estoques, calculando o tempo de procura, o que aumenta seus custos. O próprio processo de compra se torna mais demorado, pois, além de cotação e de negociação a cada compra, a sua solicitação deverá ser apro- vada pelas diretorias. Somente depois de todos esses trâmites o pedido é emitido e a compra efetuada. Segundo a E-MRO, há estudos que compro- vam a utilização de 70% dos recursos em pessoal da área de suprimento das empresas na efetivação da compra. No mercado virtual (e-B2B), a E-MRO atende os consumidores por meio de contratos de longo prazo. Segundo os dirigentes da empresa, a assinatura destes tem sua “proposta de valor baseada em quatro pilares”, que são: atendimento, disponibilidade, segurança e tecnologia. A combinação desses pilares resulta em uma redução do custo total. Os contratos envolvem a negociação do preço de cada item a ser consumido e a determinação dos prazos de requisição. A partir da assinatura do contrato – ou da negociação das bases comer- ciais, nas palavras dos dirigentes da empresa –, o processo de compra de materiais de MRO para a empresa-cliente deixa de passar pelo departa- mento de compras. Assim, a empresa-cliente ganha tempo e reduz os custos relacionados à compra. O requisitante acessa o site da E-MRO, por meio de seu login e sua senha, e verifica as especificações técnicas de cada produto de acordo com a marca. Em seguida, seleciona os produtos e emite o pedido de compra, que pode ser direcionado tanto à empresa como um todo quanto a um determinado centro de custos da mesma empresa. O pedido de aquisição segue para 138 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 138 03/02/2012 17:42:11 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário aprovação, de acordo com o workflow (sequência de passos conectados) da E-MRO, e esse processo garante a segurança de que somente será com- prado aquilo que estiver aprovado. A aprovação do pedido gera a liberação da entrega do material para o depósito e a emissão da nota fiscal. Automaticamente, também é gerado o pedido de compra no ERP do cliente e enviado o advanced shippment notice (ASN) ou “aviso de embarque”. Esse procedimento gera automati- camente no ERP do cliente a entrada da nota fiscal que, dessa forma, não precisa ser digitada, apenas conferida na entrada. A entrega é realizada em 48 horas para itens normais; os itens urgentes são entregues no mesmo dia. A E-MRO conta com uma equipe técnica altamente especializada e qualificada para realizar a integração de seu ERP com qualquer sistema do tipo, próprio da empresa ou padrão comercializadono mercado. Portanto, não existe mais uma das barreiras externas à entrada no e-commerce: a não adoção do mesmo padrão tecnológico para as plataformas de comu- nicação dos compradores e vendedores, que impede o desenvolvimento do mercado eletrônico. A empresa forneceu dados de um estudo da Forrester Research, que quantifica a redução de tempo e o custo do ciclo de compras na via tradi- cional e no sistema e-B2B da E-MRO, que é apresentado no Quadro 5.2. Tabela 5.1 – Estimativa de tempo, custos e ciclo de compras Itens Tradicional e-B2B Minutos R$ Minutos R$ Selecionar produto 14:00 2,65 8:00 1,52 Emitir requisição 6:00 1,14 Aprovação da requisição 15:00 4,26 5:00 1,42 Retrabalho 9:00 6,82 Cotação 14:00 10,61 (continua) 139 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 139 03/02/2012 17:42:11 Itens Tradicional e-B2B Retrabalho – equalização de preços 6:00 4,55 Negociação 18:00 13,64 Aprovação de pedido 7:00 7,95 Emissão de pedido 8:00 3,41 Envio do pedido ao fornecedor 11:00 2,08 Confirmação do PO 4:00 1,70 Follow-up 8:00 1,52 Processamento da nota fiscal 15:00 4,26 Recebimento 10:00 2,84 10:00 2,84 Exceções – devolução 4:50 1,28 Autorização do pagamento 6:00 6,82 3:00 3,41 Pagamento 8:00 2,27 Total 163:50 77,80 26:00 9,19 Ciclo 12 a 15 dias 3 dias Fonte: Forrester Research, 2008. O tempo necessário de uma compra e-B2B, associado ao sistema ERP, é reduzido para apenas 15% em relação ao tempo consumido em uma com- pra pelo modo tradicional. O custo de aquisição é oito vezes mais baixo, e o ciclo da compra é reduzido para um quarto ou um quinto do que caracteriza a compra tradicional. Os resultados da tabela podem ser considerados con- tundentes para a explicação da redução dos custos associados às compras (Quadro 5.2 – conclusão) 140 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 140 03/02/2012 17:42:11 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário de material de manutenção, reparos e operações (MRO) de modo integrado ao ERP. Tal redução de custos, por si só, pode explicar o constante aumento do comércio eletrônico no segmento empresarial. Em 2006, a empresa contava com 8.500 usuários ativos, entre os quais muitas empresas de grandes porte. Seu website recebia 800 mil acessos por mês. O aumento de seu faturamento, já mencionado e que será exposto detalhadamente adiante, confirmará essa situação positiva. As informações são atualizadas imediatamente após a tomada de uma decisão sobre preço ou sobre a disponibilidade de um novo produto. Tanto a entrada como a saída de todos os itens e a necessidade de reposição na E-MRO são realizadas imediatamente via TI. A empresa firma contratos de fornecimento de longo prazo e ajusta sua política comercial e de estoques com a política e/ou o perfil de compras das empresas atendidas. O processo de ajuste das políticas, realizado em etapas, denominadas de ondas pela E-MRO, pode levar de três meses a um ano para se completar. Isso inclui a compatibilização dos códigos dos produtos entre a empresa parceira e os códigos nacionais e internacionais utilizados pela E-MRO. Esse procedimento facilita a contabilização dos produtos nas requisições de compra e nos processos contábeis das empresas atendidas e resulta em economia de tempo e de recursos. A visibilidade do comércio eletrônico proporciona condições para a diferenciação dos produtos e serviços e, consequentemente, para o dis- tanciamento da concorrência, ou seja, o comércio eletrônico pode ser uma ferramenta-chave para a vantagem competitiva. A E-MRO diferencia seus produtos, customiza seus serviços e, com os fornecedores, providencia assistência técnica e garantia dos serviços prestados. Antes da sua entrada definitiva no comércio eletrônico, a E-MRO atendia somente o mercado de São Paulo e de municípios vizinhos. Atualmente, a empresa atende o mercado nacional, o que provoca dois tipos de difi- culdade: um compreende a satisfação das necessidades específicas das empresas parceiras, e outro, a entrega da requisição, uma vez que existe a possibilidade de o consumidor estar muito longe do depósito da E-MRO. A fim de contornar essas dificuldades, a empresa abriu e continua abrindo filiais em várias capitais e em municípios-alvo no estado de São Paulo. 141 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 141 03/02/2012 17:42:11 A organização trabalha com uma equipe de engenheiros de aplicação que visita os clientes, buscando informações para otimizar os processos de comunicação eletrônica e de compras. Entre os seus clientes, podem-se citar: Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Alcoa, Gerdau, Sadia, Mangels, LG, Philips, Suzano Papel e Celulose, Duratex, Souza Cruz, Santander, além de redes de hotéis (Hilton, Accor e Hyatt) e hospitais (Albert Einstein, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa). Obviamente, a E-MRO desfruta de todos os benefícios esperados com a entrada no comércio eletrônico. O maior deles refere-se à capacidade de acompanhar as mudanças no ambiente de negócios ocasiondas pela evolução da TI. É com essa estratégia que os gestores esperam manter sua vantagem competitiva e/ou alcançar uma vantagem competitiva sustentável. Na prática, o desempenho da organização superou as expectativas dos seus dirigentes e a expansão média dos negócios no segmento e-B2B. De acordo com os gestores, o fator-chave para a alavancagem das vendas foi a quantidade de itens comercializados. Nas palavras de seus dirigentes, “a empresa tem crescido fortemente em função do seu modelo de negócios, sustentado em uma grande variedade de produtos, em uma logística eficiente e em seu amplo catálogo on-line”.* A Tabela 5.2, comprova o desempenho excepcional da organização no decorrer de quatro anos, a partir da implantação do comércio eletrônico. Tabela 5.2 – Alguns dados comparativos Ano Funcio-nários (no) Faturamento anual Produtivi -dade* Margem de lucro Vendas (no de itens) Estoque (no de itens) Área de estoque 2001 28 6 milhões 214 mil 22% 35 mil 2.500 2.800 m2 2005 194 95 milhões 490 mil 18% 240 mil 26 mil 14.000 m2 * Produtividade = R$ de faturamento anual / no de funcionários. Fonte: Nohara et al., 2008. * Informação verbal fornecida pelos dirigentes da empresa. 142 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 142 03/02/2012 17:42:12 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário O faturamento da empresa, de 2005 em relação a 2001, aumentou 15,8 vezes, e a expansão das vendas foi praticamente de 100% ao ano. No mesmo espaço de tempo, a produtividade por funcionário aumentou 130%. Houve, entretanto, uma redução da margem de lucro. Uma parte dessa situação se deve ao aumento do nível dos estoques; outra é atri- buída à remuneração do pessoal. Com a entrada no comércio eletrônico, a organização necessita de colaboradores com maior qualificação e que requerem salários mais altos. Além disso, a estrutura da empresa mudou. A organização conta com o gerente de contas externo, que é responsá- vel pelo relacionamento inicial com os clientes, e com o gerente de contas interno, que gerencia os contratos e o relacionamento no dia a dia, recebe e implementa propostas de melhorias contínuas e soluciona eventuais pro- blemas. O setor de engenharia de aplicação é responsável pela identificação de novos produtos e processos, pelo suporte técnico aos usuários e pela disseminação de melhores práticas de trabalho. Existe ainda a equipe de projeto, composta pelos programadores e pelo pessoal altamente qualifi- cado em TI, responsáveis por solucionar problemas de padrões tecnológicos comuns, comoa interconexão com as plataformas das empresas-clientes. O diretor da empresa afirmou que “Houve, de fato, uma redução na margem de lucro, mas ela foi amplamente compensada pelo volume de vendas”.* Em quatro anos, desde a implantação dos negócios eletrônicos, de uma pequena empresa de distribuição de itens de MRO, a E-MRO se transformou em uma das principais empresas do ramo. Por atender 8.500 empresas de vários setores, ela acompanha de perto o nível da atividade econômica, passando a ser considerada um termômetro no país. A experiência da E-MRO demonstra a viabilidade do negócio eletrônico e os benefícios para as empresas clientes e para a economia em geral. A redução dos custos nas empresas resulta em redução dos preços na eco- nomia e, consequentemente, em melhora no ambiente econômico do país. * Informação verbal fornecida pelo diretor da empresa. 143 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 143 03/02/2012 17:42:12 Síntese Vimos neste capítulo que o comércio eletrônico é um imperativo para o sucesso e até para a sobrevivência das empresas. Estas, independentemente do seu tamanho, dos recursos ou da sua excelência, não podem estar alheias a essas mudanças. Os empreendedores, ao fornecerem insumos ou produtos para as empresas ou para o consumidor final, devem estar cientes do grande potencial do comércio eletrônico. Considerando esse panorama, foram apre- sentadas as especificidades do modelo de avaliação do espaço virtual e dos seus elementos constituintes. O capítulo ainda abordou os benefícios e as dificuldades que as PMEs enfrentam para participar do comércio eletrônico, bem como os elementos necessários para a estruturação da abertura de um ponto de vendas eletrônico. Um estudo de caso elucidou as vantagens da adesão ao comércio eletrônico, completando a exposição. Questões para reflexão e discussão 1. Discuta os benefícios das PMEs ao entrarem no comércio eletrônico. 2. Discuta as barreiras externas e internas para a participação das PMEs no comércio eletrônico. 3. Discuta os três pilares considerados essenciais para o sucesso das empresas no comércio eletrônico. 4. Faça uma análise dos resultados mais relevantes da entrada no comércio eletrônico da empresa E-MRO. 5. Quais foram as razões para a redução da margem de lucro da E-MRO após a adoção do comércio eletrônico? 144 capítulo 5 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 144 03/02/2012 17:42:12 Joul iana Jordan Nohara Claudia Rosa Acevedo Milton de Abreu Campanário Referências ANGEHRN, A. The Strategic Implications of the Internet. Fontainebleau: Insead –The European Institute of Business Administration, 1997. Disponível em: <http://www.calt.insead.edu/Publication/ICDT/strategicImplication.htm>. Acesso em: 25 jul. 2011. BARON, J. P. et al. Web-based e-catalog Systems in B2B Procurement. Communication of the ACM, v. 43, n. 5, p. 93-100, May 2000. BRUN, P. et al. E-marketplaces: Crafting a Winning Strategy. European Management Journal, Oxford, v. 20, n. 3, p. 286-298, June 2002. 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Os serviços estão em toda parte e representam algo em torno de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil; os demais 40% estão nas mãos dos produtos industrializados, que há poucos anos eram o setor dominante. As novas tecnologias provo- caram mudanças consideráveis na natureza de muitos serviços existentes e criaram novos serviços. Os serviços constituem um mundo com muito mais pontos de contato do que se conhecia e que deve ser explorado de maneira eficaz pelas empre- sas que buscam um bom relacionamento com seus clientes. Nos últimos anos, com o aumento de competitividade na maioria dos segmentos da economia, a maior disponibilidade de informações e a adoção de leis que protegem os consumidores, as empresas foram obrigadas a respeitar cada vez mais seus clientes, mediante produtos de qualidade e melhores serviços. Segundo Zornig (2008), É importante ressaltar, no entanto, que sempre haverá consumidores dispostos a pagar mais por características que valorizam e que as empresas oferecem como um diferencial, bem como consumido- res dispostos a pagar mais por isso, aceitando o valor dos benefí- cios que estão comprando, mesmo tendo que fazer um sacrifício financeiro maior. Por essa razão, uma boa parte das empresas desenvolveu estratégias (Figura 6.1) de redução de custos para garantir a competitividade e os preços baixos. 151 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 151 03/02/2012 17:42:12 Figura 6.1 – O triângulo do marketing de serviços O cliente A estratégia de serviço Os sistemas As pessoas Fonte: Hoffman; Bateson, 2003. Com a crescente igualdade da oferta – que quase sempre é maior do que a procura –, a qualidade dos serviços prestados apresenta-se como o maior diferencial competitivo, relacionada fundamentalmente à forma pela qual cada cliente é recebido e tratado, tanto no momento da venda como no pós-venda. Afinal, a impressão que uma pessoa tem de um serviço depende quase unicamente da qualidade do atendimento que recebeu. Sem dúvida, de todos os fatores que compõem a prestação de um ser- viço, o componente humano é o mais importante, e está presente em todas as categorias mencionadas. Por isso, é necessário se conscientizar de que é significativo o papel de cada colaborador na qualidade do serviço oferecido. Cada integrante do processo deve estar consciente de que contribui dire- tamente para a percepção da qualidade final, por meio da qual o cliente for- mará uma opinião da organização como um todo, não apenas tornando-se 152 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 152 03/02/2012 17:42:12 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago fiel a ela, mas também transformando-se em um agente de promoção para outros clientes. Pensando agora nos atributos de uma boa qualidade de serviços, fica aqui uma pergunta final: Você seria seu próprio cliente? Para o futuro, tudo indica que os serviços continuarão como o alicerce de uma estratégia competitiva para um negócio de sucesso. 6.1 O que é um serviço Para Lovelock e Wright (2006), o serviço é um ato ou desempenho que produz benefícios para clientes, por meio de uma mudança desejada por eles. Nesse mesmo sentido, Zeithaml e Bitner (2003) afirmam que os servi- ços não são tangíveis e são, geralmente, consumidos no mesmo momento em que são produzidos. A distinção entre bens e serviços não é algo muito fácil nem tampouco suficientemente claro. Na verdade, não existe um produto que pode ser considerado puro nem um serviço que também possa se dizer puro. Há uma estreita relação entre ambos: não se pode imaginar um serviço que não esteja relacionado a um produto ou um produto que não exija algum tipo de serviço. Os serviços contêm alguns elementos de bens tangíveis, como o cardápio de um restaurante, uma apólice de seguros, entre outros. Os bens, por sua vez, oferecem pelo menos um serviço, sendo o mais comum o de entrega. Definindo de uma maneira simples, um produto é algo que o consumidor compra e leva consigo, ou consome, ou que utiliza de alguma maneira. Caso não seja algo físico, que se possa levar embora ou consumir, então temos um serviço. Dessa forma, o fator principal e diferenciador entre produto e serviço é a tangibilidade. Os bens ou produtos são predominantemente tangíveis, enquanto os serviços são predominantemente intangíveis. A Figura 6.2 mostra uma série de produtos, com base em sua tangibilidade. 153 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 153 03/02/2012 17:42:12 Figura 6.2 – Escala de tangibilidade sal refrigerante detergente automóveis cosméticos lojas de fast-food agências de propaganda linhas aéreas gerência de investimentos consultoria ensino Predominantemente tangíveis Pr ed om ina nt em en te in ta ng íve is Fonte: Adaptado de Hoffman; Bateson, 2003. Ainda pela leitura da escala, fica claro que os serviços não são produzidos apenas por empresas de serviço, mas também fazem parte daquilo que os fabricantes de bens manufaturados oferecem. Por exemplo, fabricantes de automóveis oferecem serviços de manutenção e garantias, fabricantes de equipamentos industriais oferecem serviços de entrega etc. À medida que avançamos na discussão sobre a administração de serviços, é oportuno distinguir, ainda, serviços de serviços ao cliente. Se os servi- ços são ações, processos ou desempenho, serviço ao cliente é o serviço prestado para dar apoio ao grupo de produtos principais da empresa, sendo que isso pode ocorrer no próprio local – como responder indaga- ções, emitir pedidos, lidar com reclamações etc. Um serviço de qualidade é essencial para a construção de relacionamentos positivos. 154 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 154 03/02/2012 17:42:13 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago 6.2 Diferenças entre bens físicos e serviços As principais características diferenciadoras dos serviços em relação aos bens são as seguintes: intangibilidade – A mais importante de todas as características, define a impossibilidade de os serviços serem “tocados” ou sentidos da mesma forma como são os bens físicos. inseparabilidade – Uma característica distinta, que reflete as interconexões entre o provedor de serviços, o cliente envolvido no recebimento do serviço e os outros clientes que compartilham a experiência de serviço. heterogeneidade – Reflete a variação de consistência de uma transação de serviço para a seguinte. perecibilidade – Uma característica que não permite que os serviços sejam guardados ou estocados, nem que a capacidade não utilizada possa ser recuperada. Cada uma dessas características tem suas peculiaridades e influências no marketing de serviços, que o diferenciam fundamentalmente do marketing de bens tangíveis. No que diz respeito à intangibilidade, destacamos as diferenças que incluem a falta de estoques de serviços e de proteção por meio de registros, as dificuldades para exibição e comunicação dos atributos de serviços para o mercado-alvo, bem como para o estabelecimento de preços. Por causa da impossibilidade de estocar, não há possibilidade de se gerenciar os altos e baixos da demanda, e, por isso, os clientes são obrigados a esperar pelos serviços desejados, uma vez que os provedores estão limitados na quanti- dade que podem vender, pela quantidade que podem produzir. Já a impossibilidade de se proteger por meio de patentes – pois não há como registrar trabalho e esforço humano – vulnerabilizaos serviços, que podem, portanto, ser copiados. Se assim é, a vantagem competitiva reconhecida pelo cliente não é mantida por um longo prazo; deve haver, 155 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 155 03/02/2012 17:42:13 então, criatividade na busca por um diferencial que se traduza em uma nova vantagem competitiva reconhecida pelo cliente. Como fazer para que os clientes tomem conhecimento do seu ser- viço, se não é possível vê-lo? Pela condição de intangibilidade, é altamente desafiador explicar os méritos do que se oferece aos clientes. Um exemplo evidente é o serviço de seguro: não se pode vê-lo nem há como testá-lo antes da compra; pode-se também não entender de seguro, e os benefícios da compra não são reconhecidos sem que haja uma ocorrência. Na determinação do preço, este normalmente tem como base um custo adicionado, em uma margem predeterminada. Nos serviços, o custo prin- cipal é o trabalho, o que dificulta sobremaneira a sua fixação. Para solucionar todos esses problemas, sugerimos algumas ações mais específicas. A primeira delas consiste em conferir indícios físicos aos serviços, quando isso for possível. Como exemplo, podemos mencionar a aparência do pessoal, a qualidade do material utilizado, a limpeza, a organização no ambiente de serviço etc. Uma alternativa é o uso de fontes pessoais de informação, como a propaganda boca a boca, cuja estratégia principal encontra-se na concessão de incentivos aos clientes que já experimentaram o serviço. Uma terceira opção seria a construção de uma boa imagem da organização no mercado, tornando-a conhecida e respeitada. Isso faz com que o nível de risco percebido pelos clientes em potencial seja diminuído e, em alguns casos, também a dependência de informações. Na inseparabilidade, podemos diagnosticar o que muitos autores defi- nem como incidente crítico, que é a interação entre o fornecedor de serviços e o cliente. Denomina-se crítico porque pode representar uma oportunidade tanto para ganhos quanto para perdas, no que concerne à satisfação e à retenção do cliente. Para que ocorra a produção do serviço, o fornecedor deve estar fisica- mente presente. Ocorre aí a avaliação por parte do cliente, que é realizada com base no uso da linguagem, nas roupas, na higiene pessoal e nas habi- lidades de comunicação interpessoal. Essas interações frente a frente com os clientes tornam a satisfação do funcionário um elemento de importância crucial. Funcionários insatisfeitos provocam percepções negativas sobre 156 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 156 03/02/2012 17:42:13 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago o desempenho da empresa, e os clientes nunca darão prioridade a uma organização que trata seus funcionários de modo insatisfatório. Uma segunda característica é a necessidade de o cliente estar envol- vido no processo de produção do serviço. Esse envolvimento vai desde a presença física para o recebimento do serviço (ex.: serviços dentários, médicos etc.), a presença para iniciar e terminar o serviço (ex.: oficinas de automóveis), até a necessidade de estar intelectualmente presente, como é o caso do ensino. Acrescentamos que a presença do cliente influi muito na qualidade do serviço (ex.: a omissão de informações em uma consulta médica pode levar a um diagnóstico equivocado). A terceira característica da inseparabilidade é a presença de outros clientes em um encontro de serviços. Essa experiência compartilhada pode ser negativa ou positiva. Um restaurante é o exemplo mais apropriado nesse caso: eventos negativos, como fumantes violando o espaço de não fumantes, clientes embriagados no mesmo espaço e desentendimentos entre pessoas são riscos evidentes. Para a solução desses problemas, deve ser dada certa importância ao recrutamento, à seleção e ao treinamento do pessoal que está em contato com o público. Essa é uma estratégia que minimiza o impacto da insepa- rabilidade, de forma que a experiência de serviço do cliente seja positiva, com os funcionários adequadamente preparados para atendê-lo em suas necessidades. É muito comum ver funcionários recém-contratados serem deixados por conta própria no encontro de serviço. Por essa razão, além do treinamento operacional, os funcionários devem receber informações sobre habilidades gerenciais, como confiabilidade, empatia, receptividade, segurança etc. Uma alternativa viável está relacionada ao gerenciamento do cliente. Separar a área de não fumantes da área de fumantes pode ser uma iniciativa eficaz, por exemplo, no caso de restaurantes. Outra estratégia que também podemos levar em consideração, nesse caso, é prestar o serviço de entrega, para eliminar a necessidade da presença do cliente. Com relação à heterogeneidade, a falta de condições de controle da qualidade do serviço antes de chegar ao cliente é um risco que as empre- sas correm. É quase impossível que uma operação de serviços alcance, 157 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 157 03/02/2012 17:42:13 continuamente, 100% de qualidade. Existe uma variação natural, pois a prestação do serviço está relacionada diretamente a pessoas, e o desempe- nho destas nunca é igual, mesmo que todas as condições sejam idênticas. Para o marketing, essa característica ocasiona sérios desafios: a empresa pode ter o melhor produto, da melhor qualidade, mas se um funcionário estiver em um dia ruim, tudo sairá errado e o cliente não mais retornará. Uma solução para esse caso está na customização do serviço, que é o desenvolvimento de serviços que satisfaçam às especificações exatas de cada cliente. Diferentemente dos bens físicos, produzidos longe do cliente, os serviços acontecem com o cliente envolvido no processo. Por isso, se este for realizado exatamente de acordo com as especificações solicitadas, o cliente ficará satisfeito. Porém, existem riscos na customização do serviço. O primeiro deles está no preço maior, que o cliente pode não estar disposto a pagar. Segundo, por ser customizado, o serviço pode demorar mais, e o cliente pode não ter paciência para esperá-lo. Terceiro, o cliente pode não querer enfrentar a incerteza da customização. Dessa forma, se preço, rapidez e consistência de desempenho são pro- blemáticos, outra opção é a padronização, que consiste no treinamento intensivo dos executores do serviço, na tentativa de diminuir ao máximo a variabilidade no desempenho. Entretanto, por se tratar de seres humanos, a variação ainda é um risco. Um meio de eliminar essa possível variabilidade é com o uso de máquinas para substituir o ser humano. Também, nesse caso, a padronização proporciona a diminuição de preços, oferece mais consistência de desempenho e uma velocidade maior; os caixas eletrônicos dos bancos são o melhor exemplo disso. A quarta característica de distinção entre bens e serviços está na pereci- bilidade, isto é, os serviços não podem ser guardados nem estocados, nem existe a possibilidade de recuperação da capacidade não utilizada. Um den- tista não pode recuperar o tempo perdido de um horário vago, bem como o assento vago em uma aeronave não pode ser guardado para o dia seguinte. Sem o benefício da estocagem, o grande desafio dos serviços encon- tra-se no equilíbrio entre demanda e oferta. O exercício feito, nesse caso, deve ser o de observar o fluxo de clientes e seus respectivos horários. Mesmo 158 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 158 03/02/2012 17:42:13 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago assim, a demanda maior em horários diferentes ainda é possível, invalidando qualquer estudo anterior. Se a demanda for maior que a oferta, haverá filas e o tempo de espera será maior,ocasionando clientes insatisfeitos, que não mais retornarão. Se, no entanto, a demanda for menor que a oferta disponível, os custos aumentarão de forma desnecessária. Sendo assim, quais as soluções para problemas dessa natureza? A pri- meira delas seria a fixação criativa de preços. Em horários que não os de pico, o cliente seria beneficiado pela cobrança de um valor menor. Uma segunda alternativa seria o sistema de reservas, em que o cliente faria uso de um tempo predeterminado pelo prestador de serviço. O desenvol- vimento de serviços complementares é outra alternativa possível; como exemplo podemos citar, o saguão de espera de um restaurante: enquanto não houver espaço na área principal, o cliente é servido nessa área adja- cente. O desenvolvimento de ideias no lado da oferta também pode ser considerado. No entanto, a solução dependerá muito do tipo de serviço oferecido pela organização. O que devemos considerar é que o marketing aplicado nas organiza- ções que prestam serviços é muito diferente do utilizado em organizações produtoras de bens: a atuação é tanto interna quanto externa, e deve haver uma estreita relação de atividades e comunicação entre os diversos setores organizacionais. 6.3 Percepções dos clientes de serviços A equação de percepção de valor do cliente (V = B/P) também é válida para os serviços. Se os benefícios (B) percebidos não superarem o custo (P) da experiência de serviço, haverá uma definição negativa de valor percebido (V), relacionada a algum fator de não satisfação do cliente, que pode ser o preço ou até a própria qualidade do serviço. A qualidade do serviço é avaliada por dimensões como empatia, respon- sabilidade, confiança, segurança, enquanto que a satisfação está relacionada 159 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 159 03/02/2012 17:42:13 à qualidade do produto, ao preço deste e às percepções a respeito de fatores situacionais ou até mesmo pessoais. A qualidade é julgada também pelas percepções do cliente sobre o resultado técnico e a forma como este foi entregue. De modo prático, imaginemos o serviço médico: a competência do prestador de serviço será reconhecida quando o diagnóstico feito e a prescrição do tratamento apre- sentar como resultado final a eliminação do problema. O cliente apreciará e avaliará de forma positiva a prestação do serviço. Pesquisadores descobriram que os clientes consideram cinco dimensões em suas análises sobre a qualidade dos serviço (Zeithaml; Bitner, 2003): 1. confiabilidade – Habilidade para executar o serviço de modo seguro e preciso. 2. responsividade – Vontade de ajudar o cliente e de prestar o serviço sem demora. 3. segurança – O conhecimento, a simpatia e a habilidade do funcionário para inspirar confiança e credibilidade. 4. empatia – Cuidado, atenção individualizada. 5. aspectos tangíveis – Aparência das instalações físicas, equipamentos, materiais, pessoal. A mais importante na percepção da qualidade pelos clientes é a confia- bilidade: segurança e precisão na entrega. Em outras palavras, é a entrega do que foi prometido, dentro do prazo e das condições prometidas. Um exemplo são as empresas de entrega de volumes: como elas obtêm a confiança do cliente? Uma vez definida essa confiança, o relacionamento permanece até que algum fato estranho o interrompa, o que pode tornar difícil o retorno do cliente. Por isso, quando estabelecida a confiança, é vital o gerenciamento para a sua manutenção, sendo este às vezes mais desafiador do que a própria conquista. Já no item responsividade, a ênfase está na prontidão no trato com as solicitações, questões, reclamações e problemas dos clientes. Para se atingir um estado de excelência, o fornecedor deve ver o processo de prestação do serviço e o tratamento das solicitações pela perspectiva do cliente. As 160 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 160 03/02/2012 17:42:13 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago equipes devem estar bem preparadas, principalmente os funcionários que entrarão em contato com o cliente. Na dimensão segurança, o fator crítico percebido pelo cliente está rela- cionado ao risco envolvido e à sua incerteza quanto aos resultados espera- dos. É o caso dos bancos, da assistência médica e dos serviços advocatícios. Nos primeiros estágios da construção de um relacionamento, o cliente pode utilizar evidências tangíveis para analisar as condições de segurança: certi- ficados, prêmios e honrarias podem fornecer à nova clientela um primeiro grau de confiança na prestação do serviço. Com relação à empatia, a sua essência reside em assumir que os clien- tes são inigualáveis e especiais, por meio de um serviço personalizado, individualizado e que corresponde às necessidades de cada um. Por isso, as pequenas empresas levam vantagem sobre as de maior porte, porque os funcionários das primeiras em geral conhecem os clientes pelo nome e constroem o relacionamento com base nas necessidades e nas preferências de cada um deles. Por último, a dimensão tangibilidade é percebida por meio das insta- lações, das pessoas e dos equipamentos que representam fisicamente a imagem dos serviços. Esses são fatores que os clientes utilizam para uma primeira avaliação de qualidade dos serviços; é o caso, por exemplo, dos hospitais. Ressaltamos que a estratégia consiste em utilizar essa dimensão combinada com outra, pois apenas a tangibilidade, muitas vezes, não é o suficiente. Visto o aspecto da qualidade do serviço avaliado pelo cliente, depen- demos ainda da satisfação deste. Esta baseia-se nos ditos “momentos da verdade” durante o contato de serviço, definido como marketing interativo e representado na Figura 6.1 deste capítulo. É nesse momento que as coisas realmente acontecem, e as promessas, que os clientes esperam ver cum- pridas, são mantidas. É a partir desse momento que os clientes constroem a sua percepção sobre a empresa de serviços. Um exemplo desse momento de interação é o serviço de hospedagem de um hotel. A Figura 6.3 mostra a quantidade de contatos mantidos pelo cliente com o pessoal de serviços da organização. Basta que um deles não 161 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 161 03/02/2012 17:42:14 atenda à expectativa do cliente para que a organização fique comprometida quanto à satisfação deste. Figura 6.3 – Contatos de serviço de hospedagem em um hotel Ckeck-in Refeição no restaurante Solicitação de serviço despertador Ckeck-out Funcionário conduz ao quarto Fonte: Zeithaml; Bitner, 2003. O mesmo processo acontece no contato com o cliente organizacional. Os contatos na venda, na entrega, no faturamento, na instalação e no uso de uma peça são experimentados pelo cliente, e qualquer deslize pode significar a perda deste por parte da empresa fornecedora. Se um cliente está interagindo pela primeira vez, o contato inicial será a fonte da primeira impressão; se esta não for boa, certamente não haverá uma segunda chance. Segundo Zeithaml e Bitner (2003), existem três tipos de contatos de serviço: o contato remoto, o contato telefônico e o contato pessoal. A experiência do cliente pode acontecer por meio de um desses contatos ou por uma combinação dos três. No contato remoto, não há nenhum contato humano com o cliente. Serviços de correio, envio de uma fatura e envio de informações são alguns exemplos. A qualidade e a evidência tangível dos processos e os sistemas 162 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 162 03/02/2012 17:42:14 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago técnicos são a base para a formação do juízo de qualidade. Com a evolução da tecnologia, os contatos de serviço são realizados, cadavez mais, pela internet. Compras no varejo, emissão de passagens, acompanhamento de entregas agora já estão disponíveis na web. Por outro lado, em empresas de seguros ou de serviços de telefonia, por exemplo, o tipo mais frequente de contato é o telefônico. Nesse caso, o julgamento da qualidade é multivariado: o tom da voz, o tempo de espera, os encaminhamentos feitos e as soluções apresentadas são alguns dos fatores levados em consideração pelos clientes. O terceiro tipo de contato, o pessoal, ocorre quando o cliente entra em contato pessoalmente com o funcionário da empresa. Nesse caso, o julgamento da qualidade é realizado com base em múltiplos fatores, todos relacionados ao comportamento do funcionário: são evidenciados o com- portamento verbal, a postura, os movimentos, a forma como ele está vestido, o material usado etc. Nesse tipo de contato, o cliente também desempe- nha um papel importante na criação da qualidade do serviço. Caso este não deixe claro o seu desejo ou a sua necessidade, estes podem ficar comprometidos. 6.4 O consumidor de serviços Podemos definir o consumidor como o indivíduo que compra bens e/ou serviços para seu próprio uso ou de outras pessoas. Se os consumidores são pessoas, estão sujeitas a um comportamento próprio, e o marketing estuda o consumidor sobretudo por seu comportamento. Mowen e Minor (2003) definem marketing como “o estudo das unidades compradoras e dos processos de troca envolvidos na aquisição, no consumo e na dispo- sição de mercadorias, serviços e ideias”. O termo-chave dessa definição é troca – momento em que os recursos são cambiados entre as partes. O processo de troca envolve diversas fases e é caracterizado como o processo de compra do consumidor (Figura 6.4). 163 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 163 03/02/2012 17:42:14 Figura 6.4 – O processo de compra do consumidor Busca de informação Avaliação de alternativas Experiência pós-compra Reconhecimento do problema Compra Fonte: Sheth; Mittal; Newman, 2001. Para que aconteça o reconhecimento do problema, ocorrem duas fontes de estímulo: o interno e o externo. O primeiro é o estado de desconforto percebido, enquanto o segundo é a comunicação de mercado que leva o consumidor a perceber o problema. Na busca pela informação, as alterna- tivas de solução do problema são levantadas e, posteriormente, avaliadas. Por fim, é realizada a escolha e a compra é concretizada. É a partir desse momento que o comportamento do consumidor se torna intrigante, porque se inicia o processo de julgamento do serviço, algo muito difícil de se prever. Em muitos casos, ocorre o desvio em relação à escolha, que pode desencadear uma experiência pós-compra de satisfação ou de insatisfação, que exerce grande influência em decisões futuras. O consumidor pode se tornar leal, ou manter a lealdade, repetindo as com- pras: é o estado de satisfação. Se este, entretanto, resolver abandonar o fornecedor e nunca mais tornar a comprar dele, tal fato caracteriza o estado de insatisfação. Nesse último caso, ainda existe a atitude de reclamação (Figura 6.5), que é a demonstração de insatisfação por parte do cliente, 164 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 164 03/02/2012 17:42:14 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago o qual pode adiar a decisão de dar uma nova chance ao fornecedor ou simplesmente não comprar mais dele. Figura 6.5 – Fatores determinantes da reclamação Comportamento de reclamar Importância da insatisfação: Diferença entre o desempenho e a expectativa Importância do serviço Atribuições feitas à empresa: Falha controlável pela empresa Empresa tende a repetir a falha É provável a compensação Traços de personalidade: Agressividade Autoconfiança Fonte: Sheth; Mittal; Newman, 2001. Muitos fatores podem influenciar as percepções do consumidor quanto aos serviços, e a avaliação após a escolha representa um processo complexo, que começa logo depois da escolha da prestadora de serviços e vai até o pós-consumo ou pós-compra. O sucesso de uma empresa prestadora de serviços pode ser atribuído, pelo menos em parte, à sua capacidade de manipular a experiência que o consumidor adquire como resultado das interações cliente-cliente, cliente-funcionário e funcionário-ambiente de serviços. Além disso, a estratégia de marketing é outro fator determinante na interação com o processo de decisão do consumidor. Nesse sentido, a empresa pode ser bem-sucedida se os consumidores virem uma necessidade ser suprida por meio do seu serviço, tomarem conhecimento do seu serviço (comunicação) e decidirem que é a melhor solução disponível, comprarem e ficarem satisfeitos com os resultados do serviço. 165 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 165 03/02/2012 17:42:14 6.5 O profissional prestador de serviços Os profissionais prestadores de serviço representam o serviço que é prestado ao cliente. Aos olhos deste, esses funcionários são a organização. O bom atendimento ao cliente interno se inicia nas relações interpessoais entre aqueles que trabalham na empresa: no funcionamento da organização – Quando as pessoas se tratam bem, o fluxo de papéis, de informações, de produtos ou serviços ocorre de forma melhor e mais rápida. Se acontece o oposto, a tendência é haver um funcionamento mais lento. na imagem da organização – Um cliente percebe o “clima” ruim em uma organização onde as pessoas não se entendem. na saúde das pessoas – Em organizações onde há mal-estar, intrigas e raiva, há também o estresse, o primeiro passo para gastrites e úlceras, entre outras doenças. A equipe de contato na prestação de serviços é o grande diferencial que as organizações possuem como estratégia de conquista e de manutenção de clientes. Por exemplo: algumas companhias aéreas têm a mesma rota, pousam nos mesmos aeroportos, oferecem o mesmo tipo de serviços de reserva e de aquisição de passagens, os mesmos serviços de terra e de bordo e, no entanto, são mais bem-sucedidas que as concorrentes. A diferença certamente está nas pessoas, nos contatos com os clientes. Claro que os processos do sistema, os equipamentos e o suporte gerencial para prover a qualidade exigida e percebida pelo cliente também são muito importantes. Os consumidores, muitas vezes, não são obedientes a regras: preferên- cias pessoais, comportamento e outros erros destes podem exigir da equipe de contato procedimentos e atitudes que fogem ao escopo dos procedi- mentos ou práticas-padrão para a aplicação dos serviços. É importante dizer que a maneira como os funcionários reagem a essas situações influencia muito no nível de satisfação ou insatisfação do consumidor. 166 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 166 03/02/2012 17:42:14 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago Fig ur a 6 .6 – A ca de ia de lu cr os em se rv iço s Qu al ida de de se rv iço s int er no s Sa tis fa çã o d e fu nc ion ár ios Va lo r d o se rv iço ex te rn o Sa tis fa çã o de cl ien te s Lea ld ad e de cl ien te s Re te nç ão de fu nc ion ár ios Pr od ut ivi da de de fu nc ion ár ios Cr es cim en to da s r ec eit as Luc ra tiv ida de Fo nt e: Ze ith am l; B itn er , 2 00 3. 167 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 167 03/02/2012 17:42:14 Por isso, destaca-se a importância da gerência, responsável pelo clima favorável à prestação de serviços. Amaioria dos funcionários deseja pres- tar um bom serviço e, dessa forma, prepara-se para exercê-lo. Pesquisas indicam que o fator que mais provoca insatisfação no trabalho é a falta de apoio gerencial. Além disso, outro elemento determinante da satisfação dos funcionários é a disponibilidade de suporte em áreas de pessoal, de equipamentos, de marketing e de processos. Existe uma forte correlação entre insatisfação/satisfação dos clientes e a insatisfação/satisfação dos funcionários. A Figura 6.6 ilustra esse fato, considerando-se a lucratividade decorrente da satisfação interna. Bateson e Shamir, citados por Hoffman e Bateson (2003), apontam os conflitos potenciais impostos a funcionários: dilemas de desigualdade – Colocar o cliente em primeiro lugar pode fazer com que os funcionários se sintam diminuídos ou menosprezados. Em muitos casos, o próprio consumidor faz questão de se sobrepor ao empregado. sentimentos versus comportamento – Os funcionários devem esconder seus sentimentos reais e apresentar uma “fachada” para o consumidor, comportamento que pode se transformar em fonte de estresse para os colaboradores. conflito territorial – Equipes de contato podem, muitas vezes, querer estabelecer seu espaço, e o defenderão de clientes e de outros funcionários. Uma invasão pode significar reações que conflitam com o próprio papel do funcionário. empresa versus cliente – O cliente deseja a execução do serviço de uma determinada forma, diferente da estabelecida pela empresa. Se não for bem gerenciado, o funcionário pode se sentir maltratado. conflitos entre clientes – Acontece quando dois ou mais clientes têm um posicionamento diferente, exigindo do funcionário o gerenciamento adequado da situação. 168 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 168 03/02/2012 17:42:14 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago A melhor forma de minimizar essas lacunas desagradáveis começa pelo recrutamento e pela seleção de funcionários. O processo seletivo deve ser apurado e a organização precisa ter uma política bem definida e atraente para competir no mercado de talentos. Quando pensamos na lucratividade, é crucial contratar as pessoas certas. Se as encontramos, o treinamento é o próximo passo, e não deve ser tratado como custo, mas sim como investimento: o retorno deve acon- tecer sob a forma de receita, de satisfação do consumidor. 6.6 Precificação de serviços Para Lamb Junior, Hair Junior e McDaniel (2004), preço “é o que é dado em troca para adquirir um produto ou serviço”. A importância do preço está diretamente relacionada à receita e ao lucro da organização. A receita paga todas as contas da empresa, enquanto a diferença é o lucro, que deve ser justo. Por isso, o preço não pode ser nem muito alto nem muito baixo: não pode ser alto porque os consumidores definem o valor percebido na aquisição, e não pode ser baixo porque pode não ser suficiente para cobrir todas as contas operacionais. Definir o preço justo é uma das tarefas mais estressantes da área mer- cadológica. Para isso, o monitoramento do mercado deve ser constante. Uma vez que os consumidores utilizam a internet para pesquisar e tomar decisões mais acertadas, a concorrência aumenta, existem mais informa- ções disponíveis, o telemarketing está mais atuante e as vendas por meio de computadores são opções à disposição do consumidor. Para sobreviver em meio a tanta competitividade, objetivos estratégi- cos devem ser definidos e monitorados periodicamente. O primeiro deles é a orientação para o lucro, para a maximização deste, para o retorno do investimento realizado ou dos ativos totais. O segundo é a orientação para vendas, a maximização destas ou a participação de mercado. Em muitos casos, a maximização das vendas está relacionada à necessidade de gera- ção de caixa e nunca deve ser de longo prazo, pois isso compromete os 169 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 169 03/02/2012 17:42:15 lucros – e sem lucros não há como a empresa sobreviver. O terceiro objetivo é o de status quo, que é o de manter os preços existentes ou igualá-los aos da concorrência. A vantagem, nesse caso, está na pouca necessidade de planejamento. Para muitos consumidores, o preço é um indicador dos custos e da qualidade do serviço, o que pode significar tanto uma atração quanto um afastamento em relação a um determinado fornecedor. Daí a importância dos cuidados necessários para a determinação dos preços, os quais, além de cobrir custos, devem significar qualidade. Figura 6.7 – Relações entre atributos, benefícios, custos e o valor percebido Atributos intrínsecos Atributos extrínsecos Custo monetário percebido Custos percebidos Valor percebido nas ofertas dos concorrentes Custos não monetários percebidos Benefícios percebidos Valor percebido na oferta da empresa Compra Fonte: Urdan; Urdan, 2006. 170 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 170 03/02/2012 17:42:15 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago Destacamos aqui duas categorias de custos para o consumidor (Figura 6.7): o monetário e o não monetário. O custo monetário é a lei- tura do preço cobrado; os não monetários são os outros custos, como o tempo dedicado à compra, os desgastes psicológico e físico de uma, duas ou três pessoas envolvidas no processo. Para a precificação, portanto, segundo Zeithaml e Bitner (2003), deve- mos considerar as seguintes abordagens: baseada em custos, baseada na concorrência e baseada na demanda. Na precificação com base em custos, determinam-se as despesas com matérias-primas e trabalho, acrescentando percentuais de custos gerais e de lucro. A fórmula desse processo seria então: Preço = custos diretos + custos gerais + margem de lucros Na precificação com base na concorrência, os preços são estabelecidos utilizando-se os preços da concorrência como fonte principal, e é sempre usada quando os serviços são padronizados (lavanderias, por exemplo), bem como quando existe um número pequeno de grandes prestadores de serviços (ex.: locadoras de veículos). O terceiro tipo é o preço com base na demanda, nas percepções de valor do consumidor e na relação do serviço prestado, que tem alguns problemas especiais baseados nos significados de valor percebidos pelo consumidor. Conforme Zeithaml e Bitner (2003), o valor percebido pelo consumidor é definido de quatro maneiras: 1. valor é preço baixo – O que importa é o montante de dinheiro na percepção de valor: “valor é preço mais baixo”. 2. valor é tudo o que eu quero em um produto ou serviço – Os benefícios do serviço são destacados como o mais importante do valor: “valor é a alta qualidade”. 3. valor é a qualidade que obtenho pelo preço que pago – É a relação entre o dinheiro que o cliente entrega e a qualidade que ele recebe: “valor é o preço primeiro e a qualidade em segundo”. 171 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 171 03/02/2012 17:42:15 4. valor é o que eu recebo pelo que eu dou – É entendido como todos os benefícios que o cliente recebe mais os componentes do sacrifício (dinheiro, esforço): “valor é quantos quartos são limpos pelo preço que pago”. Para cada um desses significados, existe uma estratégia proposta. Quando o que importa para o cliente é o preço baixo (Figura 6.8), a primeira estratégia está na concessão de descontos ou na redução do preço (ex.: estudantes de graduação tem desconto de x% para uma pós-gradua- ção na mesma instituição). Figura 6.8 – Estratégias de precificação quando o cliente define valor como preço baixo “Valor é preço baixo” Descontos Precificação psicológica Precificação sincronizada Precificação de penetração Fonte: Zeithaml; Bitner, 2003. Na estratégia de precificação psicológica, o serviço tem um preço um pouco menor do que um valor redondo, para que os clientes sintam que estão pagando menos (R$ 4,70 em vez de R$ 5,00). Já na precificação sincronizada, o gerenciamento ocorre nos momentos de pico do serviço, como na época de declaração do Imposto de Renda (IR). Por sua vez, a precificação por penetração ocorre quando serviços novos são oferecidos como forma de estimular o uso e a disseminação do serviço. O segundo item, Valor é tudo que eu desejo em um serviço (Figura 6.9), refere-se à precificação denominada por prestígio, a forma que leva em con- sideração a demanda por serviços de alta qualidade ou status (restaurantes, academias de ginástica etc.), e a precificação por desnatamento, em que os serviços são introduzidos no mercado com grandes gastos promocionais. 172 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 172 03/02/2012 17:42:15 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago Figura 6.9 – Estratégias de precificação quando o valor define tudo que o cliente deseja em um serviço “Valor é tudo que desejo em um serviço”. Precificação por prestígio Precificação por desnatamento Fonte: Zeithaml; Bitner, 2003. Para a precificação referente ao item 3, Valor é a qualidade que obte- nho pelo preço que pago, o profissional de marketing deve entender o que a qualidade significa para o cliente, equiparando assim o nível de preço. Figura 6.10 – Estratégias de precificação quando o valor é a qualidade do que obtenho pelo preço pago “Valor é a qualidade que obtenho pelo preço que pago”. Precificação por valor Precificação por segmentação de mercado Fonte: Zeithaml; Bitner, 2003. Na precificação por valor, é fornecido um conjunto de serviços deseja- dos para um grande grupo de clientes por um preço abaixo do valor real; seria o “dar mais por menos” ou preços baixos por um serviço “enxuto” (ex.: companhias aéreas). No caso da segmentação de mercado, os preços são diferenciados de grupos de clientes por níveis de qualidade, embora os custos sejam iguais (ex.: preços promocionais para estudantes em aca- demias de ginástica). Por fim, as estratégias de precificação quando para o cliente valor é tudo o que obtenho por tudo o que dou (Figura 6.11) são: 173 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 173 03/02/2012 17:42:15 enquadramento de preço – Ocorre quando não existe uma referência de preço precisa: o cliente procura alguma âncora e/ou serviço semelhante para estabelecer o julgamento. preço amarrado – O serviço existe em conjunto com um produto (ex.: garantia estendida com o produto e serviço oferecido). precificação complementar – Quando o preço do serviço básico é baixo, mas os preços dos serviços adicionais compensam. precificação baseada em resultados – Quando o produto é importante, mas a incerteza do resultado é grande (ex.: serviços advocatícios em processos judiciais). Figura 6.11 – Estratégias de precificação quando o valor é a qualidade do que obtenho por tudo o que dou “Valor é tudo o que obtenho por tudo o que dou” Enquadramento de preço Preço amarrado Precificação complementar Precificação baseada em resultados Fonte: Zeithaml; Bitner, 2003. Os preços continuam sendo ainda uma das áreas menos pesquisadas e conhecidas do marketing. Muitos dos conceitos desenvolvidos para bens físicos são aplicados igualmente para serviços, apesar de haver diferenças bem claras entre as duas categorias. A determinação de preço bem-sucedida depende do reconhecimento do valor que o cliente atribui a um serviço. Na maioria das vezes, os clientes compram experiências e ficam preocupados, ou não entendem o que estão pagando. Algumas diretrizes no estabeleci- mento de preços dos serviços ajudam a entender essa problemática, uma vez que torna o assunto mais claro para o consumidor: o preço deve ser fácil de ser entendido; 174 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 174 03/02/2012 17:42:15 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago o preço deve reforçar a confiança do cliente; o preço deve reduzir a incerteza do cliente; o preço deve representar valor para o cliente. 6.7 Estudo de caso: Para serviço inovador, vá para a fronteira Enquanto a maioria das franquias de alimentação permanece com a forma tradicional de administração, concentrando-se em mais propaganda, promo- ções e locais novos, a Taco Bell tem se concentrado no cliente. Ela acredita que a empresa deve ser organizada para oferecer o que o cliente realmente valoriza: a refeição e o sistema de prestação de serviço. Ao contrário de outras franquias de alimentação, a Taco Bell transfor- mou sua operação de manufatura em montagem. As tarefas de fundo de loja – como lavar alface, fatiar tomates, ralar queijo e fazer as tortilhas de tacos – foram terceirizadas, ou seja, outras empresas fazem esse serviço, e outros operadores desempenham essa função. Como resultado, o foco primordial do trabalho, agora, ao contrário de preparar a refeição, é servir os clientes. Em contrapartida, o restante da indústria do ramo está expan- dindo suas operações de manufatura em um só lugar, oferecendo produtos como biscoitos e pizzas assados na hora. Outra mudança nas operações da Taco Bell foi a renovação total da hierarquia administrativa da empresa, que é constituída por gerentes que treinam e aconselham em vez de dirigir e controlar. Adicionalmente, deu-se ênfase renovada à seleção e ao treinamento do pessoal que tem contato com o público. O investimento em tecnologia avançada ajudou a levar a Taco Bell e seus funcionários para a vanguarda, ao contrário de outras empresas, que utilizam tecnologia para monitorar, controlar e, às vezes, substituir seus funcionários ou como recurso para ajudá-los em suas tarefas. A Taco Bell reconheceu a importância do moral e da lealdade dos funcio- nários para a percepção do cliente, no que se refere à qualidade do serviço. 175 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 175 03/02/2012 17:42:15 Para melhorar o ânimo, a Taco Bell oferece aos funcionários da linha de frente salários mais altos que a média praticada nesse tipo de indústria. Além disso, por causa de um generoso sistema de bônus, os gerentes podem ganhar 225% a mais que seus equivalentes da concorrência. Essas ações não só melhoraram o moral, mas também resultaram em índices mais baixos de necessidade de funcionários e na maior qualidade dos recém-contratados. Os esforços de treinamento da Taco Bell são igualmente únicos. Os gerentes são encorajados a despender metade de seu tempo no desenvol- vimento dos funcionários em áreas como comunicações, empowerment e administração do desempenho. Como resultado, a maioria dos funcioná- rios da Taco Bell sente que tem mais liberdade, mais autoridade para tomar decisões e mais responsabilidade pelas próprias ações. Os esforços de reestruturação da Taco Bell para melhorar seus sistemas de prestação de serviço tiveram consequências impressionantemente positi- vas. Em tempos de estagnação do mercado, as vendas da Taco Bell tiveram um incremento de 60% e seus lucros aumentaram mais de 25% no ano. Em comparação, as franquias norte-americanas do McDonald’s tiveram aumento de lucratividade de 6% no mesmo período. O que torna o aumento de lucro de 25% mais surpreendente é que a Taco Bell diminuiu o preço da maioria dos itens do cardápio em 25%! Estratégias como essa fizeram com que a percepção de valor da Taco Bell ultrapassasse a da concorrência. Síntese Neste capítulo, vimos que os serviços significam um mundo com muito mais pontos decontato do que se conhecia, e que deve ser explorado de maneira eficaz pelas empresas que buscam um bom relacionamento com seus clientes. Nos últimos anos, com o aumento de competitividade na maioria dos segmentos da economia, a maior disponibilidade de informa- ções e a adoção de leis para proteger os consumidores, as empresas foram obrigadas a respeitar cada vez mais seus clientes, por meio de produtos de qualidade e de melhores serviços. 176 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 176 03/02/2012 17:42:16 Marcio Daniel Kiesel Nelson Marcelo Santiago A distinção entre bens e serviços não é tarefa fácil nem clara. Na verdade não existe um produto que pode ser classificado como puro, nem um serviço que também possa ser considerado puro. Há uma estreita relação entre os dois: não se pode imaginar um serviço que não esteja relacionado a um produto ou um produto que não exija algum tipo de serviço. Os serviços contêm certos elementos de bens tangíveis, como, por exemplo, o cardá- pio de um restaurante ou uma apólice de seguros. Os bens, por sua vez, oferecem pelo menos um serviço, sendo que o mais comum é o de entrega. Questão para reflexão e discussão 1. Para oferecer um serviço único, as empresas de serviço devem equilibrar as necessidades de seus departamentos de operações, de marketing e de recursos humanos. Discuta como as melhorias na Taco Bell foram compartilhadas por esses três departamentos. Referências HOFFMAN, K. D.; BATESON, J. G. Marketing de serviços. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. _____. Princípios de marketing de serviços: conceitos, estratégias e casos. 2. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2003. LAMB JUNIOR, C. W.; HAIR JUNIOR, J.; McDANIEL, C. Princípios de marketing. 2. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2004. LOVELOCK, C.; WRIGHT, L. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2006. MOWEN, J. C.; MINOR, M. S. Comportamento do consumidor. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. 177 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 177 03/02/2012 17:42:16 SHETH, J. N.; MITTAL, B.; NEWMAN, B. I. Comportamento do cliente: indo além do comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2001. URDAN, F. T.; URDAN, A. T. Gestão do composto de marketing. São Paulo: Atlas, 2006. ZEITHAML, V. A.; BITNER, M. J. Marketing de serviços: a empresa com foco no cliente. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. ZORNIG, F. Consumidor não olha só preço final. JB Tecidos na Web. 2 maio 2008. Disponível em: <http://lojajbtecidos.com.br/blog/?p=478>. Acesso em: 29 jul. 2011. 178 capítulo 6 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 178 03/02/2012 17:42:16 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 179 03/02/2012 17:42:17 parte 3 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 180 03/02/2012 17:42:17 Atender aos clientes Chegamos à derradeira fase do processo de marketing. Esta se concentra em alinhar as ferramentas mais importantes para que os bens e serviços sejam disponibilizados aos clientes, competindo com os concorrentes em condições de igualdade. Os próximos capítulos serão dedicados a apresentar as melhores práticas de como chegar até aonde o cliente se encontra e como se comunicar com ele de forma eficaz, seja no aspecto da precificação e das promoções, seja com relação ao ponto de venda. ■ O Capítulo 7 – O empreendedor na gestão de preços, de Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio e Sydney Manzione – mostra que gerenciar estrategicamente preços signi- fica ter como foco o valor decorrente dos seus diferenciais em relação aos competidores. ■ O Capítulo 8 – Distribuição empreendedora para atender ao cliente, de Luciana Helena Crnkovic, Maria dos Remédios Antunes Magalhães e Claudia Terezinha Kniess – discute as estratégias para os canais de distribuição voltadas às pequenas e médias empresas (PMEs) varejistas, bem como sua integração com as demais áreas das empresas. ■ O Capítulo 9 – Gestão empreendedora no varejo, de Sérgio Braga Junior e Dirceu da Silva – discorre sobre as melhores prá- ticas para atender a um fator crucial de sucesso para qualquer negócio: o ponto de venda (PDV). Um modelo adequado para o entendimento do papel e das potencialidades a serem explo- radas, tanto nos aspectos físicos quanto de relacionamento no PDV, é discutido pelos autores. ■ O Capítulo 10 – Comunicação empreendedora de marketing, de Fabrícia Durieux Zucco, Cristina Schmitt Miranda e José Eduardo Storópoli – apresenta o universo da comunicação e busca res- postas coerentes para as dúvidas que surgem nessa importante área do marketing. Os autores defendem que o pensamento crítico e a habilidade para processar informações levam a prá- ticas bem-sucedidas. MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 181 03/02/2012 17:42:18 capítu lo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 182 03/02/2012 17:42:18 O empreendedor na gestão de preços Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 183 03/02/2012 17:42:18 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 184 03/02/2012 17:42:18 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione Introdução Na atualidade, as empresas atuam em um ambiente bastante competitivo, globalizado e virtual, no qual as exigências dos clientes mudam drastica- mente a todo momento. Em apenas um minuto, o consumidor tem a seu dispor informações sobre o produto desejado, onde ele está acessível e qual é o seu preço. Se a empresa não possui um conjunto de diferenciais em relação aos seus concorrentes, o consumidor irá escolher o produto de menor preço. Ele só estará disposto a pagar mais se entender os benefícios que a empresa oferece, pois, quando tudo é igual aos olhos do consumidor, ele sempre optará pelo menor preço. Assim, gerenciar estrategicamente preços significa enfocar o valor, aspecto que decorre dos seus diferenciais em relação aos competidores. Esses diferenciais podem estar relacionados aos serviços oferecidos, à visi- bilidade e ao conhecimento da marca, ao relacionamento existente com os clientes, à personalização dos produtos e serviços, à qualidade dos pro- dutos, ao fácil acesso aos produtos e serviços, à localização da empresa, ao ambiente do ponto de venda e à experiência de compra, entre outros. A partir da introdução do Plano Real, em 1994, que controlou a inflação e ocasionou a estabilidade da moeda, os consumidores começaram a ter parâmetros para avaliar o valor dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas. Dessa forma, o componente preço do mix de marketing pas- sou a ser visto pelas empresas como uma fonte de vantagem competitiva, tornando-se parte da estratégia empresarial. A atividade de definir preços deixou de ser uma função exclusivamente financeira/contábil e passou a ser um processo integrador das atividades de produção, de marketing e de vendas. Por isso, a gestão estratégica de preços torna-se fundamental na estratégia empresarial e uma peça-chave para o processo de precificação de produtos e serviços. Nesse sentido, dentro da organização o componente preço deve ser analisado sob duas abordagens distintas e complementares: a parte estra- tégica, que tem relação com a gestão de preços, e a parte técnica, que diz respeito à formação do preço. A grande maioria dos livros e dos artigos que 185 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 185 03/02/2012 17:42:18 tratam do tema enfoca as técnicas de formação de preços, deixando de lado a parte estratégica. Gerenciar preços de forma eficaz é, com certeza, um dos processos mais críticos da gestão empresarial. Preço é o único aspecto que representa o valor que a empresa oferece aos seus atuais e futuros clientes, além de sero componente que gera as receitas para ela. Nesse contexto, a empresa pode ter o melhor produto, a melhor distribuição e uma ótima forma de se comunicar com seus clientes; entretanto, se precificar de forma equivocada, irá destruir valor, o que pode afetar a sua sobrevivência. A determinação de preços exige conhecimento, informações e experiên- cia por parte do gestor da empresa. À primeira vista, parece simples utilizar o preço de mercado ou estabelecer um preço baseado no dos concorrentes, ou, ainda, simplesmente pensar em adicionar um percentual de lucratividade aos custos. Depois de todo trabalho que a empresa teve para criar o pro- duto, encontrar os parceiros certos para a sua distribuição, estabelecer um plano de comunicação para a marca e para os clientes, é preciso abranger todo esse valor de forma a garantir o alcance das estratégias da empresa. Diversas pesquisas sobre falências e sobre o fechamento de empresas apon- tam como uma das principais causas a falta de entendimento por parte dos gestores quanto à gestão de preços. O presente capítulo tem como objetivo apresentar, de forma estruturada, um passo a passo para a implantação de um processo de gestão estratégica de preços. Serão apresentadas as análises estratégicas, abordadas de forma a definir as ações, que devem ser continuamente monitoradas e controla- das para que a empresa possa alcançar os objetivos de lucratividade e de rentabilidade definidos por ela própria. 7.1 Elementos importantes na gestão estratégica de preços Uma parcela das falências das empresas está relacionada à forma ineficaz de se gerenciar os preços de produtos e serviços. A definição de preços não pode ser a última tarefa do mix de marketing. Isso porque o estabelecimento 186 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 186 03/02/2012 17:42:18 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione da estratégia de preços é fundamental e serve como orientação básica para os esforços de desenvolvimento de produtos, para a escolha dos canais de distribuição e dos planos de comunicação. De forma geral, a literatura rela- cionada à abordagem de preços refere-se a três componentes básicos de análise: clientes, concorrentes e custos. Estes são elementos fundamentais e têm uma característica comum: todos se constituem em abordagens reativas. Assim, gerenciar estrategicamente preços é adotar uma postura proativa. Nagle e Holden (2003), em sua obra Estratégias e táticas de preço, sugerem uma reflexão quanto a essa abordagem, propondo as seguintes questões: Em referência aos clientes, questiona-se: Quanto o cliente deseja ou pode pagar? Em referência aos concorrentes, questiona-se: Deve-se precificar acima ou abaixo do concorrente? Em referência aos custos, questiona-se: Qual margem de lucratividade utilizar? A empresa parte do pressuposto de que as três unidades de análise já existem como premissas básicas, como dados existentes, praticamente imutáveis, isto é, como uma realidade existente e, por isso, dificilmente pas- sível de mudanças. A questão que se coloca, então, é: como ser proativo? A resposta encontra-se na construção de uma proposta de valor para os diversos clientes-alvo, averiguando-se qual a promessa da empresa para eles, quais os diferenciais em relação aos concorrentes e qual o impacto desses diferenciais na estrutura de custos da empresa. Dessa forma, sugerimos a seguinte redefinição da postura empresarial em relação à questão de preços: clientes – Eles identificam valor na proposta e estão dispostos a pagar por ela? concorrentes – Eles oferecem o mesmo valor que a empresa? custos – Qual a estrutura de custos para realizar uma nova venda baseada na proposta de valor? 187 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 187 03/02/2012 17:42:18 Nesse sentido, podemos afirmar que, além dos três componentes bási- cos de análise para uma gestão estratégica de preços eficaz, devemos acrescentar mais um: a abordagem baseada em valor, a qual resgata o propósito básico de uma organização, que é o de atender às necessidades de consumidores/clientes. Ter clientes é o objetivo fundamental de uma empresa. A lucratividade é consequência de quão bem foram gerenciados os diversos processos organizacionais e é afetada por três componentes fundamentais: vendas, custos e produtividade. A empresa aumenta sua lucratividade quando vende produtos lucrativos, quando diminui os seus custos ou quando aumenta a sua produtividade, mantendo o mesmo nível de atividades ou até mais com menos. Por isso, qualquer organização, para sobreviver, deve ter uma carteira de clientes lucrativos. A determinação de preços baseada em valor é hoje uma mudança drás- tica na gestão estratégica de preços e vem sendo tratada por autores de renome como Armstrong, Doyle, Kotler, Nagle e Shapiro, entre outros. Esse tipo de gestão estratégica de preços obriga a empresa a uma completa inte- gração de suas áreas de finanças, de produção, de marketing e de vendas. Cada área dentro da empresa tem objetivos próprios e diferentes: a de vendas quer aumentar a participação de mercado; a de produção quer aumentar a sua produtividade; a de marketing, em relação à comunicação e à marca, deseja aumentar a visibilidade da empresa; a de finanças quer garantir o fluxo de caixa necessário para o andamento dos negócios. A construção e o desenvolvimento da proposta de valor é um processo que integra todas essas áreas, com foco no valor que o cliente pode fornecer para a empresa no momento atual e no futuro. Entender os fatores de decisão de compra dos clientes, hoje e amanhã, passa a ser fundamental para a construção da proposta de valor e, conse- quentemente, para a precificação dos produtos. Dessa forma, fica explícito que a definição dos diversos preços dos produtos e serviços oferecidos passa por uma análise estratégica detalhada quanto às necessidades, aos desejos e às vontades dos clientes que se quer obter e/ou manter. Assim, a abordagem baseada em valor reverte a lógica atual e dominante da pre- cificação com base em custos acrescidos da margem de lucro. 188 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 188 03/02/2012 17:42:18 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione A abordagem de precificação baseada em custos pode ser resumida da seguinte forma: o preço de venda é igual aos gastos totais mais a margem de lucro (PV = GT + L). Por isso, a empresa deve ter a certeza de que é capaz de definir o preço de mercado, porém são poucas as que conseguem fazê-lo. Então, é possível afirmar, de forma genérica, que, se o preço de um produto ou serviço é determinado pelo mercado, a fórmula de precificação passa a ser: o lucro é igual ao preço de venda menos os gastos totais (L = PV - GT). Portanto, a única forma de aumentar a lucratividade é reduzindo os custos. Se conseguimos o aumento da lucratividade apenas diminuindo os custos, por que é preciso estudar tanto estratégias, marketing, vendas e outras áreas da gestão empresarial? A preocupação com a estrutura de custos da empresa é fundamental e continuará a ser importante porque estabelece o limite inferior, o preço mínimo a ser cobrado, mas é a lógica da abordagem de precificação baseada em valor que estabelece o limite superior, o preço máximo a ser obtido. Este, então, deve ser o objetivo da gestão de preços: obter o máximo de retorno dos seus clientes, por meio da proposta de valor oferecida. Daí, não se deve deixar ser enganado ao precificar, baseando-se ape- nas em custos; não se pode permitir “comoditizar”, permanecendo igual aos seus concorrentes; mas também não se deve deixar levarpela pressão do cliente. Se a empresa se deixar influenciar pelo preço do mercado, pelo preço do concorrente, pela pressão do cliente ou pela área financeira ou de ven- das, é bem possível que venha a fazer parte das estatísticas relacionadas à mortalidade empresarial. O preço deve capturar o valor que o cliente identifica e está disposto a pagar, nem a mais, nem a menos. Esse é um desafio e um trabalho de toda a empresa, não apenas da área financeira e de contabilidade. Gerenciar preços é um processo que exige a integração de toda a empresa, tendo o foco no cliente como a única entidade que fornece receita para ela. 189 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 189 03/02/2012 17:42:18 7.2 Gestão estratégica de preços Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) definem estratégia como o estabele- cimento de um “padrão em um conjunto de decisões”. A gestão estratégica é um processo dinâmico, pois o mercado está em constante movimento e alteração. O seu objetivo, também chamado de pensamento estratégico ou administração estratégica, é o de criar vantagens competitivas de forma a produzir valor para todos os interessados na organização. A gestão estratégica tem foco no longo e no médio prazos, de forma a analisar e monitorar os ambientes externo e interno, com o objetivo de alcançar as oportunidades existentes e defender-se das ameaças que pos- sam colocar em risco a sobrevivência da empresa. Dessa forma, é possível afirmar que o processo de definição de objetivos e de metas quanto a preços encontra-se na competência estratégica e na determinação de preços no dia a dia da empresa para clientes, produtos e serviços; ou seja, é a parte operacional direcionada pela estratégia previamente estabelecida. Essas definições são fundamentais para que a empresa possa estabelecer os pre- ços, de forma a abranger totalmente os benefícios de sua proposta de valor. Assim, podemos definir que o preço é o valor que a empresa esta- belece para entregar a propriedade ou o uso de um produto ou serviço. O preço tem várias nomenclaturas e sua denominação geralmente está associada ao tipo de atividade que a empresa desenvolve: mensalidade, aluguel, juros, prêmio, consulta, honorário, tarifa, remuneração, comissão e salário, entre outros. O fator fundamental é que o preço seja visto pela empresa como o valor que o consumidor ou cliente percebe na oferta de produtos e serviços. O valor é a razão entre os benefícios percebidos e o preço estabelecido (V = beneficio percebido/preço). É importante perceber também que as empresas desenvolvem esforços cada vez mais criativos, investindo grandes parcelas dos seus recursos para aumentar os benefícios de sua proposta de valor, mas determinam seus preços baseados naqueles praticados pelo mercado. A lógica correta seria estabelecer o preço baseando-se no valor percebido pelo cliente. 190 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 190 03/02/2012 17:42:18 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione De forma a desenvolver uma metodologia estruturada e de fácil implan- tação, este capítulo apresenta uma revisão das etapas das análises estra- tégicas necessárias para uma correta definição de objetivos e de metas, e propõe um processo constituído de seis passos para a sua implantação e execução. Ao final de cada análise, propomos questões para a utilização dos conceitos apresentados. Pretendemos, desse modo, que a empresa possa desenvolver um processo de avaliação para cada uma das análises. 7.2.1 Gestão estratégica de preços: análise e execução O Quadro 7.1 seguinte apresenta em duas colunas as análises estratégicas e os passos para implantação e execução da gestão estratégica de preços. Quadro 7.1 – Análises estratégicas: implantação e execução Análises estratégicas Implantação e execução Análise do ambiente competitivo Estabeleça os objetivos para cada linha de produto e/ou serviço oferecido e identifique as restrições existentes. Análise dos clientes Estime a demanda existente e as receitas possíveis de serem geradas. Análise da concorrência Determine os custos, o ponto de equilíbrio, os volumes e o impacto sobre os lucros. Análise dos gastos Defina a metodologia de precificação. Análise do ciclo de vida do produto/serviço Desenvolva a sua lista de preços fixos e de preços flexíveis. Análise de volume de vendas e do ponto de equilíbrio Crie sua política de incentivos, de descontos, de taxas e de extras. 191 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 191 03/02/2012 17:42:18 A seguir, apresentamos cada uma dessas análises estratégicas mais detalhadamente. 7.2.1.1 Análise do ambiente competitivo A análise do ambiente competitivo compreende três áreas distintas: macro- ambiente, microambiente e empresa. O propósito de analisar e de monitorar essas três áreas de competição é entender as oportunidades e as ameaças existentes, assim como as potencialidades e as fragilidades da empresa para competir no mercado. Proposta de aplicação dos conceitos Elabore a matriz PFOA (P = potencialidades; F = fragilidades; O = oportunidades; A = ameaças) da empresa. 7.2.1.2 Análise dos clientes Os processos fundamentais nessa análise são: segmentação, diferenciação e posicionamento mercadológico. A segmentação consiste em agrupar ou classificar os consumidores de acordo com o seu processo de decisão de compra, ou seja, de que forma eles satisfazem suas necessidades e seus desejos. O processo de segmentação é fundamental para que possamos estimar a demanda para os produtos e serviços de uma empresa. Para cada segmento determinado, a empresa deve estabelecer qual é o “real concorrente”, a fim de definir as estratégias de diferenciação. Definidos os pontos de diferenciação, a empresa irá construir sua estratégia de posicionamento para cada público-alvo. Proposta de aplicação dos conceitos Identificação de clientes: Quem são os clientes potenciais? Qual é o valor do produto ou do serviço para esses clientes? 192 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 192 03/02/2012 17:42:19 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione Que fatores relativos ao preço influem a sensibilidade dos clientes, como o conhecimento de produtos alternativos e as limitações de orçamento? Como poderiam ser utilizadas as estratégias de marketing e de posicionamento para influenciar a disposição para pagar por parte dos clientes? Análise de segmentação: Quais são as motivações de compra dos clientes? O que o cliente procura: conveniência, valor, relacionamento ou preço? Que segmentos podem ser identificados por meio das motivações de compra? Como se comunica o valor a esses segmentos de clientes? Que barreiras podem ser construídas para que os produtos de menor preço não corroam as vendas dos de maior valor? 7.2.1.3 Análise da concorrência A abordagem de precificação baseada nos concorrentes também altera a forma como a empresa deve analisá-los. Tradicionalmente, a definição dos concorrentes é realizada por meio de uma abordagem “de dentro para fora da empresa”, ou seja, ela decide quem são eles com base na oferta de produtos e serviços semelhantes. Outras possibilidades de definição do concorrente é quando duas ou mais empresas passam a competir pelos mesmos clientes, pela utilização da mesma estratégia genérica de compe- tição e pela similaridade de recursos. A abordagem baseada em valor parte da premissa de que quem escolhe o concorrente não é a empresa, mas, sim, o cliente. Desse modo, a orga- nização deve identificar quais são as empresas que o cliente pertencente a seu público-alvo identificacomo capazes de satisfazer as suas necessidades. Em outras palavras, o concorrente é a melhor alternativa que o cliente tem, além da própria empresa. 193 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 193 03/02/2012 17:42:19 Proposta de aplicação dos conceitos Identificação dos concorrentes: Quem são os concorrentes atuais? Quem são os possíveis concorrentes potenciais? Quais são as políticas e os preços adotados pelos concorrentes? Qual é a estratégia do concorrente: maximizar as vendas ou a lucratividade? Quais são os pontos fortes e fracos dos concorrentes em relação à marca, à qualidade dos produtos e serviços, ao composto de produtos e serviços (linhas de produtos)? Análise da concorrência: Como os concorrentes reagem ou reagirão às mudanças de preço? Como se dá ou se dará o impacto na lucratividade e na rentabilidade? A capacidade de reação dos concorrentes pode afetar os objetivos definidos? Quais as estratégias traçadas para proteger o mercado? Em quais segmentos existem diferenciais em relação à concorrência? De que mercados convêm se retirar nos casos de eventuais enfrentamentos competitivos reduzirem a lucratividade? 7.2.1.4 Análise dos gastos Existe uma grande confusão quando se faz referência a qualquer saída de caixa da empresa. Nesse sentido, são utilizados termos como: custos, des- pesas, investimentos e gastos. É importante, então, ter um entendimento preciso de cada um desses conceitos. Quando nos referimos a custos, estamos expressando qualquer saída de caixa relacionada à produção, à transformação ou à prestação de serviços (ex.: máquinas, matérias-primas e aquisição de mercadorias). As despesas são gastos relacionados à obtenção de receitas por parte da empresa, como aluguel, comissões de vendas, propaganda, entre outros. Já os investimen- tos são os gastos que implicam um retorno superior ao aplicado, como 194 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 194 03/02/2012 17:42:19 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione expansão da fábrica ou da loja, aplicações financeiras, compra de máquinas etc. Por fim, os gastos se referem a qualquer saída de caixa atual (paga- mento) ou no futuro (dívida). Essas definições são fundamentais para que a empresa possa classificar seus gastos e desenvolver sua estrutura de custos. Vale ressaltar novamente que a correta análise de custos serve para delimitar o nível inferior de preços, ou o preço mínimo a ser obtido. Proposta de aplicação dos conceitos Estimativa de custos – identificar os custos fixos e as variáveis é importante para o cálculo correto da margem de contribuição e do volume de vendas: Qual é a sua estrutura de custos? Em relação aos custos fixos, quais podem ser melhorados? A partir de qual volume de vendas ou produção será necessário investir? Qual o valor necessário para esses investimentos? Em relação aos custos variáveis, como eles se alteram em função do volume? Análise financeira: Qual o retorno esperado na ocasião do lançamento de um novo produto? Quanto vale a entrada em um novo mercado? Vale a pena aumentar ou diminuir preços em função do volume de vendas alcançado? 7.2.1.5 Análise do ciclo de vida do produto ou serviço A precificação, assim como os outros componentes do mix de marketing – produto, distribuição e comunicação –, tem função estratégica em cada fase do ciclo de vida do produto ou serviço. Convém lembrar que esse ciclo é constituído por quatro estágios: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Dessa forma, a gestão estratégica de preços deve definir objeti- vos e metas para cada um desses estágios; lembrando que a precificação 195 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 195 03/02/2012 17:42:19 baseada em valor também altera a forma como essas estratégias devem ser definidas. Conforme explicam Nagle e Holden (2003), a utilização da abordagem de preços com base em custos também impacta de forma desfavorável a empresa quanto às suas estratégias, nos diferentes estágios do ciclo de vida. Desse modo, os preços fixados para mercados com cresci- mento lento ou em declínio serão, de forma geral, demasiado altos, e para mercados em fase de crescimento ou de expansão serão, com frequência, mais baixos do que deveriam ser. Proposta de aplicação dos conceitos De forma geral, quanto aos preços, pode-se supor o seguinte nos diferentes estágios de produção: introdução – Preços altos para atrair os clientes propensos à inovação, por meio dos benefícios desenvolvidos na proposta de valor. crescimento – Ajuste dos preços de acordo com o volume (quantidade) de compras existentes ou por meio de economias de escala e de escopo. maturidade – Preços visando à manutenção dos clientes atuais e com foco nos diferenciais dos concorrentes. declínio – Manutenção de preços para os clientes leais e ajustes de preços para os demais clientes. 7.2.1.6 Análise de volume de vendas e ponto de equilíbrio É importante perceber que as receitas totais de qualquer empresa depen- dem de dois fatores: o preço de venda e o volume de vendas realizadas. A gestão estratégica de preços baseada em valor tem como foco o cliente. Dessa forma, a empresa deve trabalhar com preços dinâmicos e flexíveis em vez de adotar preços fixos. Trabalhar com preços dinâmicos pressupõe entender as relações existentes entre preços de vendas, volume de vendas e seus custos. Como os preços de venda e de custos são variáveis que a empresa controla, a principal incerteza está relacionada à quantidade que será vendida no curto e no longo prazos. 196 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 196 03/02/2012 17:42:19 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione Essa análise permite-nos avaliar o efeito das mudanças de vendas na geração de receitas da empresa por meio da alteração do preço de venda, na estrutura de custos totais – custos fixos mais custos variáveis – e, também, nos custos variáveis por unidade adicional de venda. Assim, é possível calcular a margem de contribuição que cada pro- duto ou serviço gera para cobrir os custos fixos da empresa e, portanto, entender se o conjunto de produtos ou serviços adquiridos individualmente pelo cliente é lucrativo para a organização. A margem de contribuição é facilmente calculável subtraindo-se do preço de vendas os custos variáveis (MC = PV - CV). O ponto de equilíbrio representa o nível de atividade – seja em quanti- dade, seja em valor de vendas – em que o valor das vendas totais se iguala aos custos totais; em outras palavras, é a zona na qual a empresa não cria lucros, mas também não tem prejuízos. Pode-se dizer ainda que o ponto de equilíbrio é igual ao “lucro zero”, ou melhor, significa que os custos totais foram cobertos. 7.2.2 Implantação e execução da precificação Uma boa estratégia de precificação impõe a harmonização de uma série de questões relativas às variáveis internas e externas da empresa. Posto que o item do mix de marketing é o mais importante fator que fornece receitas para a empresa, uma condução cuidadosa é imperativa. A seguir, são sugeridos alguns passos nesse sentido. 7.2.2.1 Estabeleça os objetivos para cada linha de produto ou serviço oferecido e identifique as restrições existentes Os objetivos do preço devem ser estipulados em relação aos diferentes públicos-alvo definidos, considerando-se as seguintes opções: 197 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 197 03/02/2012 17:42:19 lucro – Maximizar o lucro atual ou no longo prazo. vendas – Aumentar ou reduzir as vendas em função da demanda existente. penetração de mercado – Aumentar aparticipação, atraindo um grande número de consumidores. volume – Maximizar a capacidade de produção, permitindo reduções de preços pelo ganho de economia de escalas (diminuição do custo variável unitário). sobrevivência – Assegurar a operação da empresa por meio de análises do ponto de equilíbrio (preço com base no ponto de equilíbrio). A empresa, além disso, deve analisar as restrições existentes para a defi- nição do preço. Estas definem o grau de liberdade que a empresa possui para o estabelecimento do preço para seus públicos-alvo. A seguir, listamos as principais restrições a serem analisadas: tipo de mercado em que a empresa atua – Monopólio, oligopólio ou concorrência pura. demanda – Analisar as taxas de crescimento dos mercados em que a empresa atua e a alteração de preços em relação aos volumes de vendas possíveis de se realizar (análise de elasticidade do preço). legais – Analisar o grau de intervenção do governo no seu setor. concorrentes – Analisar a proposta de valor oferecida pelos seus concorrentes aos seus públicos-alvo e o poder de reação do concorrente a uma mudança de preço. canais de distribuição – Analisar as estratégias de preços utilizadas pelos intermediários (distribuidores, atacado, varejo etc.) em relação aos produtos e serviços oferecidos. 198 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 198 03/02/2012 17:42:19 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione 7.2.2.2 Estime a demanda existente e as receitas possíveis de serem geradas A empresa deverá elaborar um planejamento de vendas para os cenários de longo e de médio prazos, de acordo com seus objetivos estratégicos, e definir a sua previsão de vendas mensal, trimestral, semestral e anual no curto prazo. Esses planos deverão permitir diversas simulações quanto às alterações de preços e a seus impactos nos volumes de venda gerados. Tradicionalmente, as empresas realizam tais planos baseados em produ- tos e serviços; no entanto, a abordagem de precificação com base em valor altera essa lógica. Nessa abordagem, os planos devem ser realizados baseando-se nos segmentos de clientes definidos pela empresa para atuar e para competir. Assim, ela deverá entender perfeitamente quais são os clientes atuais e os futuros e solicitar à área de vendas uma análise de cliente e de produto. Dessa forma, a empresa saberá em qual cliente ou grupo de clientes (segmentos) deverá investir para o crescimento ou para manter a sua participação. 7.2.2.3 Determine os custos, o ponto de equilíbrio, os volumes e o impacto sobre os lucros Como já ressaltamos neste capítulo, para uma gestão empresarial ser efi- caz, o entendimento da estrutura de custos é um pressuposto fundamen- tal. Uma definição clara permite-nos calcular corretamente a margem de contribuição gerada por cada cliente, por meio dos produtos e serviços adquiridos da empresa. A abordagem baseada em valor para o cliente exige que a empresa inclua em seus custos os valores dispendidos para o atendimento ao cliente e, também, para o processo de relacionamento existente. São componentes desses processos os valores dispendidos na venda, nas atividades de atendi- mento (ex.: call center), na assistência técnica, na resolução de problemas e de dúvidas, nos brindes oferecidos etc. A análise dos custos, o ponto de equilíbrio e os volumes de vendas são derivados do planejamento de vendas. 199 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 199 03/02/2012 17:42:19 7.2.2.4 Defina a metodologia de precificação As metodologias tradicionais de precificação são baseadas em quatro abor- dagens: demanda, concorrência, custos e lucro. De forma resumida expli- camos, a seguir, cada uma dessas abordagens: demanda – Aumentar ou reduzir preços dependendo dos objetivos de vendas, da penetração de mercado e/ou do estágio do ciclo de vida do produto. concorrência – Assumir o preço de referência existente, precificar acima ou abaixo da concorrência ou precificar como base no menor preço (ex.: licitações governamentais). custos – Aplicar aos custos totais uma margem de lucro definida pela empresa. A metodologia mais conhecida em relação à abordagem de preços baseada em custos é conhecida como mark up, ou seja, a adoção de um percentual de lucro desejado sobre o custo de aquisição de um produto. lucro – Definir a margem de lucro desejada, tendo como base o retorno de investimento, o retorno de vendas alcançadas e/ ou a margem de lucro desejada, independentemente dos custos existentes. A abordagem baseada em valor consiste no entendimento que a empresa tem dos benefícios percebidos pelo cliente. Por isso, os processos de segmentação, de diferenciação e de posicionamento são críticos para a utilização dessa abordagem. Podemos dizer que, em geral, os problemas que a empresa enfrenta não são referentes aos preços, mas, sim, aos mer- cados que escolheu para atuar e ao seu posicionamento neles. Além disso, essa abordagem está intrinsicamente ligada aos tipos de clientes que a empresa escolheu para obter e manter, pois é essencial, nesse caso, entender perfeitamente os critérios de decisão de compra dos clientes. Para isso, esse tipo de abordagem sugere três metodologias para a precificação: a de desnatamento, a de penetração e a neutra. 200 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 200 03/02/2012 17:42:19 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione A metodologia de desnatamento consiste em atrair os consumidores e os clientes que buscam inovações, diferenciais exclusivos e únicos. Além disso, também busca-se atrair consumidores impulsivos ou que buscam prestígio, status social. Essa metodologia pretende obter dos clientes as maiores margens de lucros possíveis, concentrando-se em proporcionar lucros rápidos em vez de ter como foco os volumes de venda. Resumindo, privilegia-se a margem, não o volume. A metodologia baseada em penetração tem como objetivo atrair o máximo possível de consumidores ou de clientes. É importante ressaltar- mos que essa metodologia é sinônimo de preços baixos, mas tem como objetivo vender grandes volumes de produtos e serviços. Para a sua utili- zação, é fundamental o entendimento da relação de custos, de ponto de equilíbrio e de volume. A metodologia neutra concentra o investimento nos outros componen- tes estratégicos do composto de marketing: produto, comunicação e dis- tribuição. Neutralidade quanto aos preços significa restringir o papel estra- tégico do preço na proposta de valor oferecida aos diversos públicos-alvo. 7.2.2.5 Desenvolva a sua lista de preços fixos e de preços flexíveis As abordagens de precificação tradicionais estabelecem um preço fixo para cada produto ou serviço, independentemente do cliente e do mercado em que a empresa atua. A abordagem de precificação baseada em valor, ao contrário, leva em consideração o mercado em que a empresa atua e os tipos de clientes que ela mantém e que procura obter. Nessa abordagem, o que importa é o montante de receitas que um cliente produz no curto e no longo prazos. A determinação de preços fixos obriga a empresa a um processo cons- tante de negociação, visto que os clientes tenderão a exigir dela recom- pensas adicionais para a tomada de decisões. Assim, podemos afirmar que, apesar de a empresa estabelecer preços fixos, isso é quase impossível de acontecer no seu dia a dia. Portanto, é preferível que ela estabeleça a priori o valor de cada cliente e desenvolva uma política de personalização de preços, levando em consideração o valor do cliente no tempo, ou life 201 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 201 03/02/201217:42:20 time value, para a empresa. Por esse raciocínio, um cliente não é medido somente por uma compra, mas por todas as compras que realizará em um determinado período de tempo. É possível, então, sair da armadilha do “preço médio” e ir para um “cliente médio”. Uma das principais vantagens da abordagem baseada em valor é fornecer à empresa o perfeito entendimento das necessidades de cada cliente para que, com isso, ela possa obter o máximo de retorno da proposta de valor oferecida a ele. Colocando de outra forma: a empresa vale pela carteira de clientes lucrativos que possui, e não pelo portfólio de produtos que desenvolve e oferece. 7.2.2.6 Crie sua política de incentivos, de descontos, de taxas e de extras A gestão estratégica de preços deve desenvolver as políticas de incentivos e de descontos, definir as taxas que pode cobrar conjuntamente com seus produtos e serviços e, por fim, estabelecer os conjuntos de variações e de opções que poderão ser oferecidos aos seus clientes em complementaridade ao seu portfólio de produtos e serviços. As definições dessas políticas estão atreladas às metodologias de pre- cificação adotadas pela empresa. Quanto à política de descontos, a empresa poderá utilizar dimensões como: quantidade; sazonalidade; troca de um produto usado por um pro- duto novo; comerciais (funcionais); pagamento à vista; preços promocio- nais; ajustes geográficos; preço na origem e na entrega; aspectos legais e reguladores do preço; alinhamento de preços, entre outros. Em relação à política de encargos ou de taxas, a empresa poderá agregar à sua proposta de valor componentes como encargos de financiamento, taxas de entrega, taxas de frete, multas por atraso de pagamento, taxas pela utilização de equipamentos etc. A política de variações e de opções deve permitir ao cliente visualizar os produtos e serviços disponíveis, para agregar aos produtos básicos ofere- cidos (ex.: quando a indústria automotora oferece uma série de opcionais aos seus clientes na venda de um automóvel). Essa abordagem permite uma série de vantagens, pois situa a oferta básica dos produtos e serviços 202 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 202 03/02/2012 17:42:20 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione em relação a uma possível proposta da concorrência e, ao mesmo tempo, permite ao cliente perceber os diferenciais oferecidos pela empresa, de forma a agregar ainda mais benefícios à proposta de valor oferecida. 7.3. Estudo de caso: Embraer “Embraer vai sair fortalecida da crise”, diz executivo Para Luís Carlos Affonso, a empresa conseguiu manter o cronograma de lançamentos e, assim, deve conquistar 15% do mercado até 2015. No auge da crise econômica, os presidentes das três grandes monta- doras americanas, Ford, Chrysler e General Motors, viajaram de Detroit, onde estão instaladas, para Washington, sede do governo federal, para pedir um empréstimo de US$ 15 bilhões que tiraria as três empresas da falência. Em vez de embarcar em um avião de carreira, eles preferiram gas- tar dezenas de milhares de dólares para viajar confortavelmente em seus jatos particulares – o que gerou uma série de críticas da opinião pública. O episódio se transformou no símbolo da gastança excessiva das empresas americanas e ajudou a afundar ainda mais a aviação executiva na maior crise da sua história. Luís Carlos Affonso, vice-presidente executivo da Embraer: mercado de jatos particulares está saindo da crise antes do esperado Passados dois anos, o mercado começa a dar os primeiros sinais de recuperação. Segundo a Associação de Fabricantes de Aviões Executivos (Gama, na sigla em inglês), o faturamento do setor chegou a US$ 9,4 bilhões no segundo trimestre de 2010, aumento de 0,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. “Estamos saindo da crise antes do que imaginávamos”, disse ao iG Luís Carlos Affonso, vice-presidente da divisão de aviação executiva da Embraer. Para aproveitar a recuperação, a fabri- cante brasileira vai apresentar o Legacy 650 na Labace, a feira de aviação 203 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 203 03/02/2012 17:42:20 executiva que começa nesta quinta-feira em São Paulo, e está preparando o lançamento de dois novos modelos da família Legacy. “A Embraer vai sair fortalecida da crise”. Acompanhe os principais trechos da entrevista realizada na sede da Embraer em São José dos Campos, no interior de São Paulo. iG: Alguns analistas dizem que a crise no mercado de aviação executiva foi a maior da história. Por que o setor foi tão afetado? Luís Carlos Affonso: Nos anos anteriores à crise, a aviação executiva vinha se expandindo muito fortemente. Foi o período de maior expansão mundial da aviação executiva, inclusive em outros mercados, como em países emergentes. A crise fez com que, não apenas na aviação executiva, mas em todos os setores da economia, os clientes parassem de fazer novas aquisições. Houve um congelamento de negócios enquanto o mercado buscava entender a dimensão da crise. iG: Os jatos executivos entraram no corte do que as empresas consi- deravam supérfluo? Affonso: Não considero a aviação executiva supérflua. O avião executivo é, na verdade, uma ferramenta de produtividade. Hoje as empresas globais ou se expandindo regionalmente precisam dele para fazer negócio de maneira eficiente. Existe ainda essa áurea de luxo e de excesso, mas essa não é uma realidade. O Brasil é um exemplo. Os jatos da família Phenom fazem muito sucesso em função da grande expansão da economia do País e o [sic] crescimento regional das empresas. É impossível administrar um negócio com expansão geográfica de forma eficiente sem um avião executivo. Veja quantas cidades são servidas pela aviação regular no Brasil. Muito poucas, e com muitas conexões para chegar até elas. Com a aviação executiva é possível transformar uma viagem de três, quatro dias numa viagem de um dia. Isso não tem preço. iG: Ao contrário de outras fabricantes, a Embraer cresceu durante a crise. O que explica isso? Affonso: Tivemos que fazer ajustes, mas mantivemos as nossas estra- tégias de longo prazo. Os aviões que estavam em desenvolvimento não foram cancelados, como alguns dos nossos concorrentes fizeram. Isso 204 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 204 03/02/2012 17:42:20 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione nos ajudou a ganhar mercado com a chegada de novos produtos. Em unidades, passamos de 3,3% para 14,1% de market share. Em vendas em dólares, subimos de 4,1% para 6,4%. A boa notícia é que, segundo nossa previsão original, neste ano o mercado encolheria de novo em relação a 2009. Acabaram de divulgar as entregas de aviões no primeiro semestre e, aparentemente, o mercado vai ficar estável. Estamos saindo da crise antes do que imaginávamos. iG: Que lições foram aprendidas com a crise na aviação executiva? Affonso: Acho que os anos que antecederam a crise foram anos de exuberância exagerada. Não só no mercado imobiliário e outros setores da economia, mas na aviação executiva. Imaginou-se que o mercado poderia crescer numa taxa irreal. Começaram a surgir especuladores, clientes que compravam posições na linha de montagem para vender com ágio mais à frente. Isso gerou a dinâmica de uma bolha, o negócio cresceu acima do razoável. O que vivemos depois foi uma correção. Acho que a lição é de cautela por parte de todos os atores desse mercado. O otimismo exagerado pré-crise foi irreal e o pessimismo pós-crise também. Nos próximos dez anos, o mercado será maior do que foi nos últimos dez anos. iG: O Phenom 100 ajudou a puxar as entregasda Embraer no primeiro semestre deste ano. O avião é a vedete da empresa? Affonso: O Phenom 100 tem sido um grande sucesso. Já entregamos 150 unidades, 40 no Brasil. Temos uma carteira de pedidos grande pela frente, em torno de 550 unidades. Para uma meta de produzir 120 unidades ao ano, temos quatro anos de produção. Essa lista ajudou muito a Embraer na crise. Mesmo durante o período de vendas fraco e até alguns cancelamentos, tivemos alguns clientes que vieram buscar seus aviões aqui. iG: Como a Embraer está preparada para o reaquecimento do mercado? Affonso: Por não termos alterado nossas estratégias durante a crise, acredito que estamos bem posicionados. No primeiro semestre de 2008 lançamos o Legacy 450, o Legacy 500 e o Lineage 1000. Naquele momento, estávamos desenvolvendo o Phenom 100 e o 300 e pensando 205 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 205 03/02/2012 17:42:20 no Legacy 650. No começo de 2008, apenas um dos nossos sete aviões estava sendo entregue. Em 2011, quando o mercado estiver crescendo de novo, apenas dois dos nossos sete aviões estarão em desenvolvi- mento. Teremos um portfólio grande de produtos novos, modernos, eficientes e com boa relação custo benefício. iG: Há 10 anos, 75% da frota de jatos executivos estava concentrada nos EUA e no Canadá. Esse número caiu oito pontos percentuais. Como essa mudança afeta o negócio da Embraer? Affonso: O crescimento da aviação executiva cresce de acordo com a economia dos países e dos lucros corporativos. O fato de existir países, como a China, crescendo numa taxa de 10% ao ano faz com que a aviação executiva cresça mais nesses lugares. Isso significa que temos de adequar as nossas estratégias de marketing, vendas e suporte para fazer- mos mais negócios nessas regiões. Recentemente, aumentamos e vamos aumentar em 2011 a nossa força de vendas e suporte na Ásia-Pacífico. Vamos aumentar o número de pessoas para ganhar mais clientes. iG: Vai aumentar quanto? Affonso: As equipes eram pequenas e agora estão crescendo. Prefiro não precisar. iG: De acordo com o presidente da Embraer, Frederico Curado, a divisão de aviação executiva deve chegar a US$ 2 bilhões em 2015. Qual é a receita para dobrar o faturamento da empresa? Affonso: Vamos introduzir uma nova família entre agora e 2015, que é o Legacy 450 e o Legacy 500. Se com os produtos atuais vamos chegar a US$ 1,1 bilhões até o final de 2010, se imaginarmos um mercado em crescimento provavelmente vamos entregar uma quantidade maior de aviões. Além disso, teremos dois novos aviões competindo em dois ou três segmentos. Nossa meta é ter 15% do mercado de aviação executiva. Este ano, a divisão já vai representar algo como 20% da receita total da companhia. A nossa participação em 2005 era de até 5% do fatura- mento. Saímos de US$ 200 milhões para chegar a mais de US$ 1 bilhão. 206 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 206 03/02/2012 17:42:20 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione iG: Há 25 anos existiam mais de 10 fabricantes de aviões comerciais e hoje só existem quatro grandes. O senhor acha que o mercado de aviação executiva vai passar pelo mesmo tipo de consolidação? Affonso: Há pessoas que acreditam que haverá consolidação, mas acho difícil de prever. Na aviação executiva existem mais nichos de mercado e, portanto, mais fabricantes que atendem a um requisito específico de cada tipo de cliente. Na aviação comercial as necessidades das companhias aéreas são muito mais parecidas. Nesse mercado, as empresas com grande ganho de escala conseguem competir melhor. O que tem havido sem dúvida é uma maior profissionalização e maior busca de eficiência entre os fabricantes de aviação executiva. O setor está ficando mais competitivo. iG: A Embraer só criou uma divisão para cuidar da aviação executiva em 2005. O senhor acha que a empresa demorou para entrar nesse mercado? Affonso: Não acho que tenha demorado. A Embraer foi privatizada em 1994 e lançou o primeiro jato regional 145, cuja primeira entrega foi no final de 1996. De 1996 a 2000 foi um enorme período de recuperação da aviação comercial e da própria Embraer, que vinha de uma situação delicada pré-privatização. Logo após a recuperação da Embraer, no final dos anos 90, a Embraer começou a pensar em aviões executivos e, em 2001, lançou o Legacy. Tão logo se consolidou na aviação comercial com o jato regional, lançamos o Legacy. Fonte: Affonso, 2010. Síntese O novo ambiente de competição exige das empresas, cada vez mais, estra- tégias diferenciadas. É importante notarmos que o poder evoluiu no último século, passando das indústrias produtoras para os canais que distribuem os produtos e, mais recentemente, com o aumento das ferramentas de tecnologia de informação e comunicação, para os clientes, os quais estão 207 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 207 03/02/2012 17:42:20 no poder atualmente. Como hoje existem inúmeras opções, os clientes têm diante de si um conjunto enorme de produtos e serviços que atendem aos mesmos tipos de necessidades. O propósito deste capítulo foi o de apresentar uma abordagem da gestão estratégica de preços que coloca em foco o entendimento e o atendimento das necessidades dos clientes que a empresa procura manter, bem como dos futuros clientes que pretende atrair. A gestão estratégica de preços baseada em valor está fundamentada no desenvolvimento de uma proposta comercial que ofereça benefícios que sejam percebidos de forma superior aos de seus concorrentes. Questões para reflexão e discussão 1. Quais são as oportunidades e as ameaças existentes no caso estudado? Quais são os pontos fortes e os pontos fracos apresentados pela empresa? 2. Qual a proposta de valor oferecida no caso estudado? Descreva os benefícios percebidos pelos clientes e quais podem ser os custos causados por eles. 3. Quais são os concorrentes? Quais são as suas forças e as suas fraquezas? 4. Descreva os principais componentes da estrutura de custos. 5. Analise o estágio do ciclo de vida e desenvolva as análises de margem de lucro e de volume de vendas. 6. Defina qual metodologia de precificação deverá ser adotada. 7. Desenvolva o preço flexível, as políticas de incentivos, os descontos, as taxas e os extras para um determinado público, produto ou serviço. 208 capítulo 7 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 208 03/02/2012 17:42:20 Miguel Armando de Cabral Brandão de Noronha Feio Sydney Manzione Referências AFFONSO, L. C. Embraer vai sair fortalecida da crise, diz executivo. 11 ago. 2010. Portal iG Economia Empresas. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/ empresas/industria/embraer+vai+sair+fortalecida+da+crise+diz+executivo/ n1237744778646.html>. Acesso em: 17 set. 2010. ASSEF, R. Gerência de preços. São Paulo: Elsevier, 2005. DOYLE P. Value-based Marketing: Marketing Strategies for Corporate Growth and Shareholder Value. 2. ed. Cornwall: John Wiley and Sons, 2008. HITT, A. M. et al. Estratégia competitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2009. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. LONGENECKER, G. J.; MOORE, C. W.; PETTY, J. W. Administração de pequenas empresas: ênfase na gerência empresarial. São Paulo: Thomson Learning, 2007. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000. NAGLE, T.; HOLDEN K. R. Estratégias e táticas de preços: um guia para decisões lucrativas. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. SARTORI, E. Gestão de preços. São Paulo: Atlas, 2004. 209 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 209 03/02/201217:42:21 capítu lo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 210 03/02/2012 17:42:21 Distribuição empreendedora para atender ao cliente Luciana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 211 03/02/2012 17:42:21 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 212 03/02/2012 17:42:21 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess Introdução No presente capítulo, discutimos as estratégias do canal de distribuição vol- tado às pequenas e médias empresas (PMEs) varejistas, sua integração com as demais áreas de empresas, os problemas de distribuição e as soluções que podem ajudá-las a se tornarem mais competitivas no mercado atual. No Brasil, são criadas anualmente 470 mil empresas (Revista Exame, 2005). Aproximadamente, metade delas encerra as suas atividades antes de completar o segundo ano de vida, causando uma perda anual de fatu- ramento estimada em 6 bilhões de reais. Em um estudo envolvendo mais de 100 pequenos e médios empresá- rios brasileiros, em 27 ramos de atividades, foram realizadas pesquisas com fundadores, sócios e executivos de companhias com faturamento anual de até 100 milhões de reais anuais e com um quadro de funcionários entre 14 e 388 pessoas, em média. O Quadro 8.1 apresenta uma relação dos principais obstáculos verificados nessa pesquisa. Quadro 8.1 – Os obstáculos dos pequenos e médios empresários brasileiros Ordem Obstáculos Característica 01 Impostos altos A carga tributária brasileira alcança 36% do PIB. 02 Falta de acesso ao crédito Os bancos exigem garantias que esses empresários não têm condições de dar. 03 Falta de conhecimento em administração Um terço dos empresários não dominam técnicas básicas de gestão. 04 Altas taxas de juros O Brasil pratica a maior taxa real de juros do mundo, de 14% ao ano. (continua) 213 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 213 03/02/2012 17:42:21 Ordem Obstáculos Característica 05 Falta de incentivo fiscal Ausência de uma estrutura de apoio no Estado aos pequenos e médios empresários. 06 Pessoal desqualificado Dificuldade em treinar e reter talentos, que são atraídos pelas grandes empresas. 07 Concorrência informal A informalidade é estimada em 40% do PIB. 08 Leis trabalhistas ultrapassadas Falta flexibilidade e os encargos chegam a 101%. 09 Grande burocracia pública Estudos apontam o Brasil como o país mais burocrático do mundo. 10 Acompanhar a evolução mundial Dificuldade de produzir produtos inovadores para a economia globalizada. 11 Importar e exportar Burocracia e impostos atrasam a internacionalização. 12 Falta de clareza Dificuldade para definir o foco de atuação no mercado. Fonte: Revista Exame, 2005, p. 13. Considerando as dificuldades apresentadas pelas PMEs em relação às grandes empresas, devemos levar em consideração que os percalços de ordem financeira afetam as estratégias de marketing, não apenas no tocante a cortes em propaganda e em publicidade, mas também no baixo poder de investimento na distribuição física, ponto vital de sobrevivência e de crescimento do varejo. (Quadro 8.1 – conclusão) 214 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 214 03/02/2012 17:42:21 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess Apesar das dificuldades por que passam as PMEs, Olave e Amato Neto (2005) ressaltam que estas apresentam características peculiares, inerentes à sua estrutura e ao seu porte, que as diferenciam das grandes empresas. Para os autores, as empresas de menor porte conseguem responder mais rápida e eficientemente às mudanças ocorridas no mercado consumidor, uma vez que normalmente apresentam controle individual do proprietá- rio, com o responsável envolvido em todas as decisões da empresa. Essas peculiaridades não tornam as PMEs somente diferentes dos grandes negó- cios: elas representam um diferencial que merece destaque. 8.1 Distribuição física: estrutura e planejamento O planejamento da distribuição refere-se à análise sistemática e à tomada de decisões relativas ao movimento de materiais e de bens finais dos pro- dutores para os consumidores. Esse planejamento da distribuição física (DF) torna-se imprescindível para o desenvolvimento das organizações, uma vez que onera as empresas, podendo chegar à metade dos custos de marketing de um produto (Giuliani, 2003). A Figura 8.1 mostra uma estrutura básica para a distribuição de bens de consumo e de bens industriais. Figura 8.1 – Estrutura básica de distribuição física Centro de distribuição física Unidade de planejamento e controle da distribuição física Unidade de expedição e logística 215 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 215 03/02/2012 17:42:21 Tais unidades podem ser criadas para fazer com que os produtos che- guem mais rápido ao consumidor final (bens de consumo) ou às indústrias (bens industriais). Nesse sentido, compete à unidade de planejamento e controle da dis- tribuição física: planejar todas as atividades de distribuição física; supervisionar e controlar o processo de movimentação dos produtos; cuidar da política de distribuição; selecionar os canais de distribuição. À unidade de expedição e logística cabe: recepcionar os produtos acabados; classificar, armazenar e cuidar dos processos pertinentes ao armazenamento dos produtos; coordenar e controlar a administração de materiais e das funções de distribuição física; averiguar as embalagens que são utilizadas, os meios de transporte, o sistema de armazenamento, o fluxo de atendimento a pedidos e a gestão dos estoques. Embora muitas PMEs acumulem essas atividades em apenas uma uni- dade, com poucos colaboradores, isso não impede que tais atividades sejam exercidas de forma eficaz. Uma maior ou menor sofisticação departamen- tal dependerá não necessariamente do tamanho da empresa em si, mas do fluxo de bens comercializados por ela. Uma empresa comercial que tenha 100% de suas vendas voltadas ao comércio eletrônico deve possuir um sistema tão ágil quanto qualquer outra empresa que não pratique o e-commerce. 216 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 216 03/02/2012 17:42:21 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess 8.2 Canais de distribuição Um planejamento de DF deve levar em conta os canais de distribuição em que as PMEs estão inseridas. De acordo com Ferrel, Brown e Lamb (1979), “canais de distribuição são conjuntos de organizações interdependentes envolvidas no processo de disponibilização de um produto ou serviço para uso ou consumo”. Já segundo Tamashiro e Acevedo (2009), o setor de distribuição, constituído principalmente de atacado e de varejo, aumenta em importância e em poder de negociação. Assim, para disponibilizar as mercadorias aos consumidores finais, os produtores utilizam os canais de distribuição. As empresas fabricantes, em geral, lançam mão de intermediários, criando um canal para colocar seus produtos à disposição dos usuários finais. Esses canais são denominados canais de marketing ou canais de distribuição. Na Figura 8.2, apresenta- mos os diversos tipos de canais de distribuição que uma mercadoria pode percorrer até chegar à sua aquisição pelo consumidor final (Kotler, 2000, citado por Livato e Benedicto, 2010). Figura 8.2 – Tipos de canais de distribuição Produtor Cliente Agente Agente Atacadista Atacadista Internet Correio Varejista Varejista Varejista Fonte:McDonald, 2004, p. 350. 217 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 217 03/02/2012 17:42:21 Podemos perceber que, em um determinado canal de distribuição, seus membros realizam diversas funções, que os autores denominam de fluxos de marketing. Entre elas, Kotler (2000) destaca as seguintes: agrupar informações sobre clientes, concorrentes e forças do ambiente de marketing; buscar acordo sobre o preço e outras condições de transferência de posse; minimizar os riscos relacionados à operação do canal; fornecer condições para armazenagem; movimentar produtos físicos; pagar as faturas dos compradores. Ferrel e Hartline (2006, p. 250-251) afirmam que as principais funções dos intermediários no canal de distribuição são: seleção – os fabricantes fazem apenas um produto enquanto os consumidores precisam de uma ampla variedade e de um sortimento de diferentes produtos. Ao selecionarem produ- tos no canal, os intermediários superam essa discrepância de sortimento; fragmentação – os fabricantes produzem grandes quantidades de um produto para obterem os benefícios de economias de escala, mas os consumidores querem apenas uma unidade de determinado item. Ao fragmentar os produtos no canal, os intermediários, especialmente os varejistas, superam essa dis- crepância de quantidade; manutenção de estoques – uma vez que os fabricantes não podem fazer produtos sob encomenda, o canal deve fornecer a armazenagem dos produtos para futura compra e uso. Ao manter estoque, os intermediários superam essa discrepância temporal; manutenção de locais convenientes – já que fabricantes e consu- midores estão separados geograficamente, o canal deve superar 218 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 218 03/02/2012 17:42:21 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess essa discrepância espacial disponibilizando os produtos em locais convenientes; provisão de serviços – os canais agregam valor aos produtos ao oferecer serviços facilitadores (seguro, armazenagem, financia- mento) e padronizar o processo de troca (processamento de pagamentos, entrega e precificação). Nesse mesmo sentido, Livato e Benedicto (2010, p. 226) afirmam que Para disponibilizar seus produtos aos consumidores finais, os produ- tores utilizam-se dos intermediários dentro dos canais de distribuição. Para McDonald (2004, p. 355), “o papel de um intermediário é prover os meios para conseguir a mais ampla cobertura de mercado possível a um custo unitário mais baixo”. [...]. [Porém,] a utilização dos canais intermediários pode representar custos adicionais, que as pequenas empresas sozinhas são incapazes de assumir. À medida que os produtos percorrem diversos canais intermediários para serem disponibilizados aos consumidores finais, seus custos tendem a aumentar. Levy e Weitz (2000) classificam o varejo como o último processo do canal de distribuição de um produto ou serviço, antes de chegar aos con- sumidores finais. A Figura 8.3 mostra a posição do varejo dentro do canal de distribuição que, segundo Parente e Brito (2006, p. 22), é o “elo de ligação entre o nível de consumo e o nível do atacado ou da produção”. Figura 8.3 – Posição do varejo no canal de distribuição Manufatura Manufatura ManufaturaAtacadista Fonte: Parente; Brito, 2006. Ainda sobre essa questão, Livato e Benedicto (2010, p. 224-226) afir- mam o seguinte: 219 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 219 03/02/2012 17:42:22 As grandes empresas que se dão ao trabalho de construir sistemas de distribuição altamente eficientes podem baixar seus custos ope- racionais e criar uma vantagem competitiva sobre as empresas rivais. Assim, diante desta especificidade ambiental, ao se unir a outras pequenas empresas, uma pequena encontra uma forma estraté- gica de ação, que acaba por atender às demais especificidades que devem ser respeitadas quando se discute a realidade das PMEs. Assim, a distribuição deve ser encarada como um centro de custos, no sentido de que pode gerar economias operacionais que terão impacto no lucro da empresa. Quando se trata de uma PME, esse assunto se torna mais importante, pois menores custos operacionais podem determinar sua sobrevivência. A seguir, apresentamos algumas especificidades sobre a distribuição no caso das PMEs. 8.3 Especificidades das PMEs Vários são os problemas de distribuição enfrentados pelas PMEs: a con- corrência acirrada, a rapidez e a agilidade das grandes organizações, em razão de seu baixo custo e a forte capacidade de negociação de grandes fornecedores e compradores do varejo, entre outros. Para que seja realizado um planejamento adequado da DF nas PMEs, é necessário conhecer a sua realidade, caracterizá-la, contextualizá-la e buscar soluções compatíveis com o seu modus operandi. Dessa forma, a classificação das especificidades facilita o entendimento de como se desenvolve o processo de gestão das PMEs. Ela auxilia, por exemplo, a utilização apropriada das ferramentas administrativas, elabo- radas especificamente para grandes empresas, pelas empresas de menor porte (Migliato; Escrivão Filho, 2004). A classificação das especificidades das PMEs apresentada por Leone (1999) é um fator importante na identificação dos problemas e na busca 220 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 220 03/02/2012 17:42:22 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess de soluções estratégicas para a distribuição das empresas de varejo. Elas são divididas em três aspectos: 1. organizacionais – Referentes ao modo como a pequena empresa se estrutura e se organiza. 2. decisionais – Relacionadas à forma como ocorre o processo de tomada de decisões na pequena empresa. 3. individuais – Dizem respeito ao comportamento do proprietário, ao exercer as funções de seu cargo na empresa. Tal classificação envolve o ambiente e os componentes organizacionais e, além de constituir uma base mais abrangente, permite visualizar suas propriedades de inter-relação e de interdependência, bem como indicar, de acordo com Migliato e Escrivão Filho (2004), as seguintes espeficidades das empresas envolvidas: ambientais; estruturais; estratégicas; tecnológicas; decisionais; comportamentais. Essas especificidades devem ser consideradas no momento de tra- çar estratégias de marketing e de estabelecer alianças estratégicas de distribuição. Oliver (1993) descreve seis aspectos críticos que motivam os relacio- namentos entre pequenas empresas, no que se refere à distribuição no varejo: necessidade, assimetria, reciprocidade, eficiência, estabilidade e legitimidade: 1. necessidade – uma organização frequentemente estabelece ligações e trocas com outras organizações por necessidade para alcançar artefato legal como redução de custos, divisão dos trâmites burocráticos, entre outros. A dependência de recursos 221 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 221 03/02/2012 17:42:22 e a facilidade de trocas acentuam as interações voluntárias e a cooperação entre as organizações; 2. assimetria – o relacionamento é sugerido pelo potencial exercí- cio de poder ou de controle sobre outra organização ou sobre seus recursos. Tanto o desejo pelo controle como a relutância para desistir dele refletem o motivo assimétrico nas decisões organizacionais para a interação; 3. reciprocidade – as parcerias acontecem devido ao potencial de reciprocidade, isto é, da mutualidade dos benefícios consegui- dos pela sua formação, sendo esta fundamentada na coope- ração, na colaboração e na coordenação entre as organizações,em vez de dominação, de poder e de controle; 4. eficiência – a busca por ela pode motivar as empresas a for- marem parcerias. Nesta situação, a formação de um rela- cionamento interorganizacional é sugerida pela tentativa de uma empresa reduzir seus gastos internos e melhorar sua rentabilidade; 5. estabilidade – devido ao dinamismo do ambiente empresarial, as organizações são estimuladas a estabelecer relacionamentos a fim de obter certa estabilidade, inovação e segurança nas suas relações com os outros, antecipando, prevendo e absor- vendo incertezas; 6. legitimidade – o estabelecimento de relacionamentos interor- ganizacionais, com o propósito de aumentar a legitimidade, pode ser originado da intenção das organizações de melhorar sua reputação, sua imagem e seu prestígio. As razões da existência de estruturas organizacionais em rede podem variar de acordo com as contingências, sendo modifica- das, adaptadas e aprimoradas por meio do poder de negociação dos seus integrantes. Assim, as especificidades citadas por Leone (1999) – organizacionais, decisionais e individuais – são respeitadas, enquanto a busca de benefícios mútuos por meio das alianças estratégicas pode ser negociada, de acordo com as necessidades de cada pequena empresa componente do grupo. 222 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 222 03/02/2012 17:42:22 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess Observamos que é cada vez maior a necessidade de se constituírem alianças estratégicas para as empresas que atuam no varejo, como resposta aos desafios impostos pelo mercado. Os relacionamentos interorganiza- cionais, frutos dessas alianças, têm-se tornado uma importante forma de competição empresarial. A hipótese do agrupamento de pequenos varejistas, de forma a facilitar a distribuição de seus produtos, proporciona a redução de custos de comunicação com o mercado, de despesas administrativas e de taxas, além de benéficos conjuntos no treinamento de empresários e funcionários. 8.4 A importância de buscar soluções Nos últimos anos, os mercados sofreram grandes transformações provoca- das por mudanças na lógica da competição. A massificação da produção, o aumento do comércio mundial, as pressões dos preços, as mudanças legais que aumentam a responsabilidade das empresas perante os consumidores e a ocupação de nichos via customização de produtos são, entre muitos exemplos possíveis, componentes recentes do jogo competitivo. Nesse cenário, os empreendedores buscam alternativas para proteger suas operações: inovação, adequação de custos e busca de novos merca- dos. Estes são alguns dos caminhos possíveis de serem trilhados do ponto de vista da pequena empresa que, muitas vezes, atua de forma isolada. Foi-se o tempo em que havia apenas três modelos de varejo: peque- nas, médias e grandes lojas. Atualmente, o consumidor pode comprar, por exemplo, um computador pela internet, produtos hortifrutigranjeiros nas lojas do bairro, bebidas no “atacarejo” (mistura de atacado com varejo) e perecíveis congelados no supermercado, entre outros formatos (Revista Intralogística, 2009). Com essa nova configuração, o varejo muda a forma de trabalhar com a cadeia de abastecimento, o que provoca o surgimento de novas estruturas de distribuição por meio de alianças estratégicas. O objetivo dessas alianças voltadas à distribuição é, primeiramente, aumentar o poder de negociação com os fornecedores, principalmente os 223 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 223 03/02/2012 17:42:22 fabricantes, visando a obter preços mais competitivos e prazos de paga- mento maiores por intermédio das compras conjuntas. Posteriormente, as alianças buscam a adoção de programas de marketing por intermédio das rede de cooperação, permitindo aos associados acesso à propaganda em veículos de massa, a padronização das lojas (adoção de padrões esta- belecidos pela rede), o lançamento de produtos com a marca da rede, o treinamento dos funcionários e a profissionalização administrativa (Ghisi; Camargo; Martinelli, 2003). Para Amato Neto (2005, p. 17), “as redes estratégicas interorganiza- cionais constituem-se em uma alternativa quanto à forma de organizar a produção de bens e/ou serviços e podem ser utilizadas pelas empresas na busca de melhoria de sua posição competitiva”. A rede visa não apenas atender às necessidades dos pequenos e médios varejistas associados, mas também melhorar a parte operacional do negócio, como o setor de compras. Auxilia ainda no processo de negociação, além de melhorar alguns aspectos mercadológicos, como as fachadas e o layout das lojas, e de incrementar a publicidade compartilhada. De acordo com as especificidades apresentadas nas pequenas empre- sas, observamos que a solução dos problemas de distribuição no varejo envolve questões diversas e abrangentes. Nesse sentido, apresentamos a seguir possíveis áreas de atuação que podem ajudar as PMEs do varejo a se tornarem competitivas. 8.4.1 Alianças estratégicas Atualmente, as relações de cooperação ou de alianças entre empresas são consideradas uma opção estratégica e não mais a última alternativa disponível. Por meio da formação dessas alianças, as empresas buscam o compartilhamento de recursos e de competências e, principalmente, a redução dos custos operacionais (Klotzle, 2002). No Brasil, 67% das maiores empresas de todos os setores estabelecem alianças estratégicas. O desenvolvimento destas, porém, não está restrito às grandes empresas. A formação de centrais de compras, bem como de 224 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 224 03/02/2012 17:42:22 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess acordos de representação e de produção conjunta, é apontada como o fator mais crítico para o atual crescimento e desenvolvimento das pequenas empresas (Tauhata; Macedo-Soares, 2004). Há diferentes enfoques para discutirmos a aliança estratégica. De acordo com Lorange e Roos (1996), essas alianças compreendem, de um lado, o participação no capital do parceiro até a completa integração das ativida- des (fusões e aquisições) e, de outro, um simples relacionamento comercial. Para Dussauge e Garrette (1999), a principal característica das alianças estratégicas é a independência relativa das empresas envolvidas na parceria, excluindo-se nesse caso as estratégias de fusão e de aquisição. Podemos observar diferenças entre os autores quanto à abrangência das alianças estratégicas: as empresas devem permanecer independentes, ou pode haver participação acionária, ou, até mesmo, uma completa inte- gração. O consenso está no fato de que as alianças envolvem a conjugação de esforços entre duas ou mais organizações, com o propósito de buscar objetivos comuns. Nesse contexto, as definições de aliança estratégica devem ser adequa- das à realidade das PMEs. Estas precisam sobreviver e manter-se compe- titivas mas, de acordo com suas especificidades, serão tomadas decisões diferentes quanto àquela que será adotada. A força de atuação dos gran- des concorrentes favorece as especificidades ambientais, ou seja, as PMEs tendem a estabelecer alianças estratégicas com as demais empresas de um mesmo setor, visando a aumentar seu potencial competitivo no ambiente em que atuam. As alianças estratégicas também interagem com as demais especificida- des, visto que, quando pequenas empresas se unem para formar uma rede de distribuição, as especificidades estruturais serão atendidas para fortalecer a estrutura das empresas envolvidas. No que se refere às especificidades estratégicas, a própriaformação da aliança é estratégica, pois tem a visão e a missão enfrentar concorrentes antes inimagináveis. Diante das especificidades tecnológicas, podemos perceber que a grande vantagem encontra-se na redução de custos nos investimentos realizados para viabilizar a rede de distribuição e, de forma eficiente e 225 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 225 03/02/2012 17:42:22 segura, disseminar melhor as informações. Provavelmente, para uma única pequena empresa, realizar esses investimentos seria inviável. As especificidades decisionais e comportamentais possuem um grau de complexidade maior. No que se refere ao comportamento dos dirigentes, apontado por Filion (1999), vemos aqui a necessidade da integração de dirigentes que apresentem estes dois comportamentos complementares: o de empreendedor e o de operador. Na formação das alianças estratégicas, o foco deve estar nas decisões estratégicas, administrativas ou operacionais, bem como nas decisões cole- tivas, uma vez que estas visam a benefícios para todas as empresas envol- vidas na aliança de marcas de qualidade e de ações de marketing (Oliveira; Guerrini, 2003). 8.4.2 Redes de cooperação O mundo, e particularmente o Brasil, experimenta um novo ambiente de negócios desde meados da década de 1980, em razão das rápidas mudanças dos conceitos mercadológicos e de produção, provocados pela globaliza- ção da economia e pelos avanços tecnológicos, especialmente na área das comunicações. Devido à crescente complexidade das tarefas dentro das organizações, é preciso procurar e estabelecer parcerias entre empresas para se trabalhar de forma associada. Consideramos pouco provável que uma pequena empresa consiga dominar sozinha todas as etapas de uma cadeia de produção (Casarotto Filho; Pires, 2001). Para esses autores, a formação de alianças entre empresas, especial- mente as pequenas, é uma forma de diminuir riscos e ganhar sinergia: “A cooperação entre pequenas empresas é algo tão irreversível como a glo- balização, ou melhor, talvez seja a maneira como as pequenas empresas possam assegurar sua sobrevivência e a sociedade garantir seu desenvolvi- mento equilibrado” (Casarotto Filho; Pires, 2001, p. 38). Por meio da formação de redes de cooperação, percebemos que as PMEs são geralmente mais ágeis e flexíveis nos seus processos do que as grandes empresas. Com isso, elas podem se tornar competitivas se agregarem as 226 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 226 03/02/2012 17:42:22 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess vantagens que as outras temem: funções como logísticas de aquisições, pesquisa e desenvolvimento (P&D), produção, tecnologia de gestão, logís- tica de distribuição e marketing. Casarotto Filho e Pires (2001) mostram que, dentro dessa visão, não há necessidade de as empresas optarem entre a liderança de custos e a de diferenciação, podendo garantir vantagens competitivas que advêm dessas duas opções. Ampliando esse argumento, Farah (1985) mostra, em sua pesquisa com indústrias da região de São Carlos e Araraquara (SP), que as PMEs devem trilhar um caminho estratégico que leve em conta, de forma adequada, as inúmeros pressões ambientais, sejam elas motivadas por exi- gências de custos, sejam por exigências de diferenciação. Amato Neto (2005) aponta que as pequenas e médias empresas devem superar os inúmeros problemas e dificuldades, tanto de ordem financeira como técnico-organizacional e gerencial, para se tornarem viáveis e com- petitivas perante a globalização da economia, principalmente no caso de essas empresas atuarem de forma isolada em seus respectivos mercados: Todavia, tais dificuldades poderão ser mitigadas mediante políti- cas públicas inteligentes, voltadas à promoção das PMEs, como, por exemplo, incentivando essas empresas de menor porte a se associarem em organizações na forma de sistemas cooperativos, que forneçam às empresas serviços comuns de financiamento, e até mesmo locais para implantação de uma planta-piloto. (Amato Neto, 2005, p. 38) Ao classificar as PMEs de acordo com suas especificidades, procura- mos analisar também os diversos benefícios para seus proprietários, ao possibilitar que eles obtenham um conhecimento mais detalhado de seus empreendimentos e, principalmente, ao proporcionar a oportunidade de visualizarem e de compreenderem de forma sistêmica o funcionamento de suas empresas, bem como suas reações diante dessas redes de cooperação. Estas são alvos de crescente interesse de pesquisas em áreas como economia, sociologia, ciência política e administração, fato que ocorre porque as redes de cooperação transpõem os obstáculos causados por restrições financeiras 227 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 227 03/02/2012 17:42:23 às quais estão normalmente submetidas as empresas de pequeno porte (Wittmann; Negrini; Venturini, 2003). Segundo Hooley et al. (2005), as redes cooperativas ou redes de colabo- ração surgem por meio de um agrupamento formal ou informal de empresas autônomas, com o objetivo de realizar atividades comuns, permitindo que elas se concentrem apenas em suas atividades principais ou core business. Burt (1992) argumenta que essas relações cooperativas também são entendidas como strong ties (laços fortes), pois se baseiam em normas de confiança em contratos de longo prazo e na previsibilidade das relações. A rede caracteriza-se como uma estratégia de competitividade das PMEs, visto que, assim organizadas, tais empresas conjugam esforços para competir com as grandes de forma mais equilibrada. De acordo com Oliveira e Guerrini (2003), entre os objetivos estratégicos para a formação de redes de cooperação encontram-se: economia de escala por meio da ação coletiva; poder de barganha com os fornecedores, clientes e demais instituições; acesso a novos mercados, clientes e representantes; aumento do portfólio de produtos e economias de especialização; redução dos cus- tos de transação; aumento de confiança entre os parceiros, reduzindo a incerteza e aumentando as oportunidades nas inter-relações; aprendizagem coletiva com a partilha de informações, de habilidades, de competências e de conhecimentos sobre soluções de problemas; facilitação do processo de inovação nos produtos, nos métodos de produção e na estrutura orga- nizacional; credibilidade organizacional; definição de marcas de qualidade e ações de marketing. 8.4.3 Redes verticais de cooperação O objetivo maior dos varejistas, ao se unirem em redes de distribuição de varejo, é estratégico, uma vez que se visa ao aumento da fidelidade do cliente à loja, ou seja, fazer com que os consumidores gostem ou deem preferência a ela no momento das compras e que voltem a comprar ali. Visto que os clientes adquirem benefícios, o varejista procura oferecê-los por meio das características ou dos atributos da loja – por exemplo: uma localização 228 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 228 03/02/2012 17:42:23 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess acessível, um sortimento completo e um bom atendimento, entre outros (Levy; Weitz, 2000). Quando a empresa entrega, de forma consistente, um valor superior ao encontrado no mercado, tende a ser mais lembrada, e desenvolve a preferência e a lealdade do consumidor (Tavares, 1998). Para isso, as PMEs podem utilizar os canais de marketing. Estes são entendidos como um conjunto de organizações interdependentes envolvi- das no processo de disponibilização de um produto ou serviço para uso ou para consumo, ou seja, refere-se à rede de organizações que desenvolveutilidades de tempo, de lugar e de posse para consumidores e para usuários empresariais. Esses canais são constituídos por entidades múltiplas (empre- sas, agentes, pessoas) interdependentes, mas que podem ou não ter todos os mesmos incentivos para operar da maneira desejada (Coughlan et al., 2002; Iacobucci, 2001; Rosenbloom, 2002). Para as PMEs varejistas, a eliminação de algumas dessas fases é mais difícil. Isso ocorre porque a negociação direta com os produtores esbarra em obstáculos relacionados à logística e ao volume reduzido de compras, bem como à necessidade de entregas fracionadas, que, muitas vezes, inviabilizam a negociação. Uma forma de transpor essas dificuldades é a união dessas empresas por meio das redes de cooperação e das alianças estratégicas. Outro fator que devemos considerar é o fato de alguns produtores imporem a negociação apenas da sua linha completa de itens, o chamado mix de produtos, utilizando seu poder de barganha na negociação. Como as pequenas empresas varejistas negociam pequenas quantidades de pro- dutos e necessitam dessas entregas fracionadas, acabam sendo obrigadas a recorrer a intermediários (atacadistas e distribuidores), pagando preços mais altos e causando impactos a suas reduzidas margens operacionais. Para conseguir a máxima eficiência, a análise e a tomada de decisões devem ter propósitos claramente definidos, pois projetar um sistema de canal exige analisar os serviços desejados pelos clientes, estabelecer os obje- tivos e as limitações do canal, além de identificar e de avaliar as principais alternativas, como as seguintes: análise dos serviços desejados pelos clientes – O projeto se inicia com a identificação do que os consumidores-alvo desejam 229 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 229 03/02/2012 17:42:23 do canal: rapidez, variedade, custo. As redes de cooperação devem pesar os desejos dos clientes e se adequar a eles. estabelecimento dos objetivos e das limitações do canal – Todas as pequenas empresas envolvidas nas redes de cooperação devem estar cientes dos objetivos e das limitações, e colaborar para alcançá-los. Os objetivos são influenciados pela natureza da empresa e, no caso de uma rede de cooperação, deve-se saber se estes serão pautados pela razão da formação da aliança estratégica, ou seja, em que aspectos aquele grupo de empresas pretende diferenciar-se e quais são as limitações de sua atuação. identificação das principais alternativas – A rede de cooperação deve identificar os tipos de membros disponíveis para a realização das suas tarefas no canal, tais como: força de vendas da rede – Expandir as forças das vendas diretas; designar vendedores externos por território de atuação; entrar em contato com clientes em potencial, entre outras ações. representante de vendas da rede de cooperação – Deve ser alguém que conheça os produtos oferecidos e possa vendê-los, de forma a transmitir credibilidade aos clientes; distribuidores industriais: identificá-los nas diferentes regiões de forma a estabelecer novas parcerias e a ampliar a atuação das redes de cooperação (Tamashiro; Acevedo, 2009). Concluída a análise dessas alternativas, poderá ser decidido, então, o melhor projeto do canal para a rede de cooperação. Segundo Tamashiro e Acevedo (2009, p. 152), “é preciso implementar e gerenciar o canal esco- lhido, isso requer seleção e motivação das pessoas envolvidas no processo”. Nesse caso, cabe aos dirigentes das pequenas empresas escolher, de acordo com as suas características, aqueles empreendedores que melhor se ade- quam a este papel: o de combinar a visão estratégica do empreendedor à capacidade de gestão de alguém que realizará o trabalho operacional. Assim, as referidas autoras sugerem as seguintes ações: 230 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 230 03/02/2012 17:42:23 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess seleção dos membros do canal – Ao formar uma rede de cooperação no varejo, as empresas devem estar envolvidas e comprometidas com o processo. Para tanto, é preciso avaliar a experiência no negócio, as linhas de produto, o histórico, os lucros, o grau de cooperação e a reputação de cada uma delas no mercado. motivação dos membros do canal – Os dirigentes das empresas que formam essas redes de cooperação devem estar motivados para que sua atuação seja a melhor possível. No que diz respeito à execução das tarefas, é preciso estudar as necessidades, os problemas, a força e as fraquezas de seus membros, além de respeitar as especificidades das pequenas empresas. avaliação de desempenho do canal – Existe a necessidade de se verificar constantemente o desempenho da rede de cooperação que se estabeleceu. Isso se faz em relação aos padrões das cotas de vendas, ao nível médio de estoque, ao prazo de entrega ao cliente, ao tratamento das mercadorias avariadas e perdidas, ao grau de cooperação com programas promocionais, ao treinamento das empresas e ao atendimento aos consumidores. Em último caso, a empresa que não se compromete pode ser excluída da aliança, pois acaba atrapalhando o desempenho das demais (Tamashiro; Acevedo, 2009). Dessa forma, podemos observar que, ao se discutir sobre redes verticais, o papel do dirigente é fundamental e, considerando isso, destacam-se as características descritas por Filion (citado por Migliato; Escrivão Filho, 2004, p. 10), para quem os empreendedores são aqueles que: fundamentam e dirigem suas atitudes através de uma visão de um setor de negócios; procuram desenvolver uma imagem projetada de uma situa- ção futura desejada a ser alcançada e do tipo de organização necessária para se obter isso; buscam supervisionar ou observar o desenvolvimento de ativi- dades sem exercer um controle autoritário e sistemático; 231 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 231 03/02/2012 17:42:23 procuram aprender com as diversas situações como forma con- tínua de monitorar, refletir e assimilar o que está acontecendo. Para implementar redes verticais, os dirigentes de pequenas empresas devem ter uma postura mais empreendedora e ser movidos pelo dinamismo e pela inovação (Pinheiro, 1996). Essa postura é necessária no contexto das alianças estratégicas e de cooperação. Os empreendedores tendem a julgar a atividade de monitoramento como não sendo importante, desem- penhando-a em caráter seletivo e esporádico. Para eles, alguém com a visão operacional exerceria um controle mais abrangente, perceberia os ajustes necessários e poderia utilizar o seu poder para realizar as reestruturações necessárias (Filion, 1999). Essas características combinadas auxiliariam as redes de cooperação a tomar decisões voltadas para a escolha dos melhores canais, para as formas de negociação e para a linha de produtos, auxiliando as empresas a evoluírem conjuntamente de acordo com as oportunidades e com as condições do mercado. 8.4.4 Redes horizontais de cooperação Observamos a existência de um enorme diferencial competitivo entre pequenos supermercadistas e grandes cadeias de lojas de supermercados. Enquanto estas compram em grandes quantidades para abastecer as lojas da rede e, por essa razão, têm grande poder de negociação, obtendo assim preços muito menores, aqueles não têm essa vantagem. Em razão dessa desvantagem competitiva e com o propósito de sobrevi- ver no mercado, uma das estratégias dos pequenos varejistas é a formação de associações entre si ou com grandes atacadistas, buscando não somente custos mais baixos na reposição dos estoques, como também uma maior eficiência administrativa e operacional.As redes de cooperação horizontais apresentam-se como uma alterna- tiva estratégica para as PMEs varejistas obterem o acesso às negociações diretas com as indústrias, devido ao aumento do volume de compras dos produtos negociados em conjunto com os integrantes da rede. 232 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 232 03/02/2012 17:42:23 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess O acesso às compras diretamente das indústrias, por meio dessas redes, permite a eliminação de determinados intermediários e poderá garantir aos pequenos varejistas, além das vantagens de redução dos preços dos produtos adquiridos, o desenvolvimento de ações conjuntas de marketing, tais como: oferecer maior sortimento de produtos e de marcas de alta qualidade; oferecer marcas próprias de alimentos que são alternativas às marcas líderes; realizar ofertas atraentes; ampliar as formas de pagamento; participar de campanhas promocionais e de publicidade compartilhadas; treinar funcionários para prestarem um melhor atendimento, ou seja, esti- mular uma imagem positiva. Estudos recentes mostram as vantagens percebidas pelas PMEs partici- pantes de redes horizontais de cooperação no varejo (Bonassi, 2005; Ghisi; Camargo; Martinelli, 2003; Kinouchi, 2005; Pousa, 2006; Vilga, 2006). As redes são constituídas por empresas concorrentes que optam por cooperar dentro de um certo domínio, preservando a independência ou a liberdade de determinadas ações estratégicas de seus membros. Essas redes horizontais reúnem empresas em uma entidade juridica- mente estabelecida, mas mantêm a independência de cada participante. Dessa forma, elas têm total autonomia para tomarem suas decisões de forma individual, mas por outro lado alcançam benefícios que não encon- trariam caso não se unissem com as empresas parceiras (Las Casas, 2000). Nas redes cooperativas, como o próprio nome sugere, a cooperação entre as empresas participantes é o eixo central da aliança entre elas. A rede de cooperação de PMEs apresenta as seguintes características: é formada por um grupo de empresas que são geograficamente próximas; essas empresas atuam em um segmento específico de mercado; as relações entre elas são horizontais e cooperativas, prevalecendo a confiança mútua; a rede é formada por um período indeterminado de tempo; 233 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 233 03/02/2012 17:42:23 a coordenação da rede é exercida por intermédio de instrumentos contratuais que garantem regras básicas de governança (Balestrin; Vargas, 2004). Kotler (1998) e Puga (2000) descrevem alguns benefícios propiciados pelas redes horizontais de cooperação: acesso ao crédito e à capacitação gerencial; redução de custos com o aumento do poder de barganha; divisão de riscos; valorização da marca e possibilidade de marketing compartilhado; acesso a treinamentos para funcionários e para gestores; preservação da individualidade das empresas; acesso a novos mercados e tecnologias; troca de informações e de experiências entre os participantes. Quanto à DF, a rede gerencia a cadeia de suprimentos e a distribuição de produtos das empresas a ela associadas, cuja interdependência favorece o desenvolvimento de ações e de estratégias em conjunto que beneficiam toda a rede, respeitando as especificidades estruturais, estratégicas e deci- sionais, mas também favorecendo a competitividade dessas empresas no ambiente em que atuam. As PMEs, ao se unirem em redes de distribuição do varejo, reconhecem o fator marca institucional como uma necessidade para serem competitivas. Entretanto, empresas desse porte muitas vezes encontram dificuldades em desenvolver sua marca como diferencial. A construção de uma marca forte passa a ser um dos aspectos apontados para a associação dessas redes de distribuição varejista em redes de cooperação (Quental; Silva; Leite, 2001). No Brasil, existem muitos casos de formação de redes cooperativas. Os setores de varejo farmacêutico (Redes Farmáxima, MultiDrogas, Farmavip, Netfarma etc.), de autopeças (Rede Âncora, Rede Tem Peças), de material de construção (Rede Construlíder), de papelaria (Rede Brasil Escolar), de supermercados (Rede 10, Rede Litoral, Rede Smart) são apenas alguns exemplos desse tipo de rede horizontal. 234 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 234 03/02/2012 17:42:23 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess Existem especificidades em cada rede associada de varejo, em razão do segmento em que atua. Algumas dessas características comuns são as seguintes: apesar da pouca burocracia, para fazer parte de uma rede horizontal a empresa deve passar por uma avaliação da administração (consórcio) da rede, na qual serão analisados a sua história, o seu tamanho, a sua relação com os fornecedores etc.; existem critérios de seleção para se conquistar a permissão de participar de uma rede, como: tempo de funcionamento, receita mensal mínima, distância mínima (em quilômetros) em relação aos outros sócios da mesma rede, histórico quanto a honrar os seus compromissos etc.; para ter acesso aos serviços da rede, cada empresa participante paga uma taxa mensal, a qual não pode ser comparada aos royalties pagos em uma franquia, pois são de montante bem mais reduzido do que estes; para sair da rede, a burocracia e os custos também são baixos; a rede contrata empresas terceirizadas, como as centrais de compras, conhecidas como consórcios, segundo Casarotto Filho e Pires (2001), para realizarem serviços a todos os participantes da aliança estratégica; os participantes mantêm total autonomia administrativa, tomando decisões conforme o que acharem melhor para os seus estabelecimentos. Pousa (2006) afirma que, por meio do associativismo, muitas empresas menores obtêm as vantagens que essa forma organizacional proporciona: aumento do poder de barganha em compras e em comercialização; troca de experiências; maior acesso à informação e à tecnologia; acesso a novos mercados e fornecedores; redução de custos e acesso a instituições e a pro- gramas governamentais. Para esse autor, em um primeiro momento, estar dentro dessas associações propicia facilidades com os fornecedores que, se a empresa estivesse trabalhando individualmente, sem estar associada, 235 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 235 03/02/2012 17:42:23 seriam de difícil obtenção. Nas centrais de negócios, as transações são realizadas por profissionais, concentrados apenas nessa atividade, havendo, com isso, uma especialização do processo de compra. Para tomarmos um exemplo dessa questão, as centrais de negócios de supermercados já movimentam no Brasil mais de R$ 10 bilhões, o que equivale a 12% do faturamento do setor. Só em 2004, registraram 7,9% em aumento de vendas em reais, sendo o Estado de São Paulo o responsável por 18% desse crescimento. Há alguns anos, as centrais de negócios constituem um caminho impor- tante para o setor de varejo brasileiro, por criarem alternativas de desen- volvimento e de sobrevivência a varejistas independentes, e um caminho alternativo para os fornecedores, pressionados pela tendência global de concentração no setor (Pousa, 2006). Em um trabalho sobre a Brasil Escolar, rede associativista do segmento de papelarias, Vilga (2006) observou que, quando as empresas se unem em redes, os benefícios não ficam restritos apenas ao melhor poder de barganha, uma vez que, juntas, elas conseguem comprar dos fornecedores um volume de produtos muito maior do que quando compram individual-mente. O aspecto cooperativo dessas redes faz também com que a troca de informações entre empresas que trabalham no mesmo segmento eco- nômico fortaleça as suas posições no mercado, visto que elas conseguem acompanhar e implementar mudanças que deram certo em outras empresas participantes. A maneira de pensar e de agir cooperativamente produz uma união de esforços que beneficia todos os participantes, pois eles conseguem superar os obstáculos por meio da ajuda mútua, bem como planejam o futuro da rede de forma mais profissional e consistente. 8.5 Estudo de caso: Canais de distribuição de pequenos supermercados de bairro O supermercado Florinda, pertencente a uma rede de cooperação, instalado no interior de São Paulo, dentro em breve revenderá produtos das grandes 236 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 236 03/02/2012 17:42:24 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess marcas, pois, ao se unir com outros pequenos supermercados, conseguiu negociar melhores preços para seus produtos e atender a antigas demandas de seus clientes. Além disso, a direção da rede de cooperação nomeou um grupo de analistas, envolvendo um gerente de marketing, dois represen- tantes de vendas e um especialista em logística, para definir e analisar os canais de distribuição. A realização de todas essas ações seria inviável se essas pequenas empresas continuassem atuando de forma isolada, devido ao pequeno poder de barganha e ao alto custo dessas contratações. Posteriormente, o grupo de trabalho identificou dois segmentos homo- gêneos de clientes, a saber: 1. clientes institucionais – empresas de portes diversos que adquirem cestas básicas previamente montadas para seus funcionários. Outro nicho de mercado identificado é o das instituições governamentais. A cidade onde o supermercado está instalado conta com diversas universidades, além da prefeitura e, por meio de licitações públicas ou de pedidos de grande porte, também pode atender esses órgãos. 2. consumidores formados por famílias ou por pequenas empresas, que adquirem quantidades relativamente pequenas dos produtos oferecidos, mas que poderiam obter vantagens na compra das cestas básicas previamente montadas. Em uma primeira análise, o grupo de trabalho propõe o atendimento aos clientes do primeiro segmento diretamente pelo setor de vendas da rede de cooperação. Para isso, seria criado um corpo de vendedores para atuar nos órgãos do governo e nas grandes corporações, com o objetivo de divulgar o novo serviço oferecido por essas lojas. Os consumidores do segundo segmento seriam atendidos nas próprias lojas de varejo. Inicialmente, o gerente de marketing da rede de cooperação sugere que a melhor forma de distribuição para esse tipo de produto, por sua natureza e em função da atuação dos concorrentes, deveria ser uma distri- buição seletiva. Assim, o grupo definiria o número de pontos de venda por região, considerando a população, a renda per capita e o possível market share de cada área. 237 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 237 03/02/2012 17:42:24 O técnico de logística sugere como alternativa que a rede realize a entrega direta dos produtos solicitados ou, ainda, que crie um cartão de parceria com as empresas, para que os funcionários possam retirar nos supermercados a cesta básica oferecida pela empresa. Isso amplia o con- tato com o cliente final que, além da cesta, acaba levando outros produtos. O gerente de marketing faz a ressalva de que a rede deveria reduzir os canais de dois níveis para um, à medida que a região atendida fosse criando volume de demanda suficiente para justificar economicamente a mudança. Um dos representantes de vendas diz que está preocupado com o aten- dimento às pequenas empresas. Argumenta que o grupo de vendedores da rede de cooperação, que atende diretamente aos clientes institucionais, não teria tempo nem disposição para as pequenas empresas. Dessa forma, um trabalho de marketing, que fortalecesse a marca da rede de cooperação, deveria ser realizado, contemplando alguns pontos, como: fortalecimento da marca, propaganda e divulgação dos serviços prestados em diferentes mídias. A primeira etapa para a definição da estrutura de distribuição foi con- cluída, sendo identificados os segmentos homogêneos de clientes agrupa- dos em canais específicos. A seguir, o grupo passou a analisar as funções associadas aos canais de distribuição. No que se refere às informações sobre o produto, foram levantados alguns aspectos importantes pelo gerente de marketing. Em primeiro lugar, a cesta básica foi projetada para atender a necessidades básicas dos clientes, mas, para garantir essa vantagem competitiva, o pro- duto poderia oferecer variações. Como consequência, seria necessário estudar as necessidades mais específicas, de forma a levar essa informação ao comprador pessoa física, como também aos clientes formados pelas pequenas empresas, mostrando claramente esse requisito, mas, ao mesmo tempo, tendo o cuidado para não afastar o consumidor potencial em razão do gasto extra com produtos diferenciados. Foi lembrado pelo especialista em logística que os dealers (intermediários), voltados ao atendimento de pequenas empresas, poderiam facilmente oferecer o serviço de entrega de determinada quantidade. 238 capítulo 8 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 238 03/02/2012 17:42:24 Luc iana Helena Crnkovic Maria dos Remédios Antunes Magalhães Claudia Terezinha Kniess No que se refere à variedade, além da cesta básica, são oferecidas varia- ções nas quantidades de cada produto, bem como no preço, o que pode diminuir o custo para as empresas que compram esse produto. O gerente de marketing sugeriu, então, que toda a linha de cestas saísse da fábrica com um padrão preestabelecido: caixas padronizadas que trouxessem o nome da rede de cooperação. Isso traria uma vantagem competitiva extra para o produto, pois mesmo os funcionários que rece- bessem o produto na empresa passariam a conhecer a marca e poderiam tornar-se clientes em potencial. Verificou-se que existem alguns problemas a serem resolvidos, como uma análise de custos e de benefícios, além de uma análise do que os con- correntes estavam planejando fazer nesse setor (benchmarking). Assim, foi criado um subgrupo de trabalho, composto pelo especialista em logística e pelo gerente de marketing, para detalhar e analisar a questão, trazendo os resultados para a discussão em grupo. Síntese O presente capítulo discutiu as estratégias do canal de distribuição volta- das às PMEs do varejo, sua integração com as demais áreas da empresa, os problemas de distribuição e as possíveis soluções que as auxiliem a ser competitivas no mercado. Para isso, mostramos a importância de diferenciar as PMEs dos grandes empreendimentos e de considerar suas especificida- des na hora de se organizarem alianças estratégicas e redes de cooperação. Finalmente, apresentamos algumas sugestões de como a organização de redes de distribuição e o trabalho na área de marketing podem favorecer a competitividade dessas empresas, por meio de sua inserção nas redes verticais e horizontais, de crescente presença na realidade brasileira. 239 MARKETING EMPREENDEDOR - MIOLO.indd 239 03/02/2012 17:42:24 Questões para reflexão e discussão 1. Discuta as vantagens e as desvantagens de adotar, desde o início, a mesma estrutura de distribuição para os clientes institucionais, para os consumidores e para pequenas empresas. 2. Quais as dificuldades, os custos e os investimentos que você vislumbraria para gerenciar diferentes tipos de distribuição?