Buscar

Resenha Transmediação Yvana Fechine

Prévia do material em texto

Universidade Federal Fluminense
Curso: Estudos de Mídia
Aluno: Gabriel Gallindo Pacheco
Disciplina: Metodologia de Pesquisa		Professor: Marco Roxo
Uma análise da produção transmidiática brasileira e sua possível raiz televisiva
	Yvana Fechine em seu artigo “Transmediação na produção ficcional do núcleo Guel Arraes: a lógica da familiaridade em novas formas culturais” se propõe a analisar a produção brasileira de produtos transmidiáticos, idealizados desde o início para várias mídias, e, para isso, baseia-se na produção da Rede Globo, mais especificamente, do núcleo de produção do diretor Guel Arraes.
	Por não se valer de dados empíricos que comprovem algumas das informações que expõe em sua introdução (como ao dizer que Guel Arraes “inaugurou uma nova estratégia de produção no mercado audiovisual brasileiro”, ou defender que a produção do “Auto da Compadecida” foi idealizada já visando à convergência das mídias), é possível questionar-se dos motivos pelos quais a autora se vale desse objeto e não de outro semelhante, como a produção de outra rede de televisão ou até mesmo de outro diretor dentro da mesma rede.
	Mais adiante, porém ainda na introdução, Fechine cita um depoimento do diretor para o jornal Folha de São Paulo em que defende a viabilidade de outros trabalhos, da Rede Globo, serem levados ao cinema. No mesmo ano dessa declaração o diretor criou outro produto transmidiático, a minissérie “A invenção do Brasil”, que veio a virar o filme “Caramuru – A invenção do Brasil”, o que comprovaria a possibilidade de se criar produtos transmidiáticos de sucesso na lógica de produção da Rede Globo. 
	A seguir é iniciada a análise do processo de transmediação citando o caso dos videogames que, para a autora, “são formas culturais transmedia por excelência” pelo grande uso de seus conteúdos em filmes e programas de televisão e que também absorvem conteúdos dos tais para si. Como o foco de estudo está no meio televisivo, o tema dos videogames não foi muito aprofundado, diríamos até um pouco abandonado, já que não se retoma tal assunto em outro ponto do artigo.
	 Fechine afirma que o processo de adaptação é necessário para que um produto passe de uma mídia a outra, como um texto literário que é “transformado” em filme ou série de TV, ou seja, é contada a mesma história, porém de maneiras (ou em mídias) diferentes. Esse processo está intrínseco na transmediação como defendida “Trata-se, agora, de construir um 'mundo' narrativo multimodal, que se manifesta em múltiplos meios, desdobrando o enredo original em distintos momentos de sua linha temporal”. Porém é estabelecida uma diferença: na adaptação o conteúdo de um produto é mantido e alterado sua forma; enquanto que na transmedia a criação do conteúdo é diferenciada e complementar em cada mídia presente. Um produto transmidiático deve ser compreensível a quem acessa pela primeira vez e aprofundador para o consumidor de todos os tipos de mídia de tal produto. 
É importante observar que Fechine, fundamentada por Henry Jenkins, afirma que o processo de transmediação é exclusividade dos grandes conglomerados de comunicação, os quais têm interesse e capital para investirem em diversos meios midiáticos. A partir desse ponto entramos na análise, de fato, da produção do núcleo de Guel Arraes, na qual são utilizadas como exemplos as produções: Cidade dos homens, Antônia, Carandiru, “Ó pai, ó”, Os normais, A grande família e O bem amado. Após essa lista de exemplificações do fenômeno transmidiático oriundas da Rede Globo, revela-se a pergunta chave do texto: o que motiva o espectador a consumir essas narrativas ficcionais circulares, no contexto nacional?
A resposta para essa pergunta é a base para o argumento de Fechine. Ela defende, em resumo, que o discurso transmidiático incorporou a lógica circular do discurso da televisão (o que a TV faz internamente, a transmedia faz para fora, com outras mídias), o que atrai o público brasileiro, já que esse está bem adaptado e é um grande consumidor de produtos televisivos. 
Deixamos claro que este argumento (da transmedia basear-se no sistema cíclico da televisão) é bem fundamentado na lógica da familiaridade, em que o espectador assimila o conteúdo novo ao já visto e assim associa a impressão gerada por um em outro; porém não podemos deixar de observar que na passagem “Acessível à grande maioria dos brasileiros, a TV uniformiza gostos e valores, forja comportamentos e hábitos, configura lógicas de produção e consumo.”, Fechine se vale de um senso comum brasileiro de que a televisão é manipuladora do comportamento humano, sem ao menos dedicar a essa argumentação uma análise mais profunda ou uma base teórica. Por isso nos perguntamos: até que ponto a transmedia foi bem sucedida, no caso brasileiro, devido a sua familiaridade com o formato televisivo, já que não podemos medir a influência da televisão em forjar comportamentos e hábitos como a autora defende?
O texto de Fechine exemplifica bem o caso brasileiro de transmediação, é bastante esclarecedor quando trata da questão da lógica da familiaridade nas mídias, entretanto, não responde a todas as questões que surgem ao se analisar tal fenômeno e deixa alguns buracos em seu discurso por carecer de dados empíricos que comprovem algumas de suas afirmações, como quando trata sobre os videogames e da influência televisão. Contudo, ela deixa claro em sua conclusão que esta pesquisa está em fase inicial e exploratória, o que justifica, em parte, a carência ao abordar todos os aspectos do fenômeno transmidiático.

Continue navegando