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Cognição social
Prof.ª Valeria Guimarães Leal
Descrição
Psicologia cognitiva e seus conceitos fundamentais: definições de
crenças, atitudes e valores, estereótipos e percepção social,
representações sociais (funções, valores e abordagem estrutural).
Propósito
A psicologia cognitiva é responsável pelo estudo da percepção, do
aprendizado, da lembrança e do pensamento do indivíduo, e suas raízes,
na filosofia e na fisiologia, se unem para formar o núcleo da Psicologia.
A análise das teorias geradas pelo homem comum sobre tais temas
contribui para a compreensão de seu comportamento no meio social e
dos fenômenos variados, como saúde, doença mental, violência, justiça,
desemprego e amizade.
Objetivos
Módulo 1
Psicologia cognitiva e cognição social
Compreender os fenômenos sociocognitivos.
Módulo 2
Crenças, atitudes e valores
Identificar a influência de crenças, atitudes e valores no
comportamento humano.
Módulo 3
Teoria das representações sociais
Aplicar a teoria das representações sociais.
Módulo 4
Estereótipos e percepção social
Reconhecer a formação dos estereótipos e seu papel na percepção
social.
A cognição social é o estudo do modo pelo qual o indivíduo forma
inferências com base nas informações sociais que capta do
ambiente. Isso pode ser explicado pelo fato de que, quando
entramos em contato com o ambiente social que nos cerca,
percebemos outros indivíduos, conhecemos membros de grupos
diferentes, e interagimos com tais pessoas e grupos.
O estudo da cognição é responsável por reunir uma série de
microteorias que, no decorrer do tempo, desenvolveram-se no
cenário da Psicologia Social, para esclarecer o modo por meio do
qual as pessoas pensam sobre si mesmas e sobre outros fatos,
geram impressões sobre outros indivíduos ou grupos sociais, e
explicam comportamentos e eventos.
A cognição social se apoia no modelo de processamento de
informação que considera atenção e percepção, memória e
julgamento como etapas do processo cognitivo. Esse campo se
dedica a estudar o conteúdo das representações mentais e os
mecanismos subjacentes ao processamento da informação social.
Seu foco se encontra nos modelos pelos quais impressões, crenças
Introdução
1 - Psicologia cognitiva e cognição social
Ao �nal deste módulo, você será capaz de compreender os fenômenos sociocognitivos.
Fundamentos da psicologia cognitiva
Origens e correntes de pensamento
A psicologia cognitiva é o estudo da forma pela qual as pessoas
percebem, aprendem, lembram-se de algo e pensam sobre as
informações.
Outras áreas de estudo para os psicólogos cognitivos são as bases
biológicas da cognição, assim como a atenção, a consciência, a
percepção, a memória, o imaginário, a linguagem, a solução de
problemas, a criatividade, a tomada de decisões, o raciocínio, as
mudanças na cognição em termos de desenvolvimento que ocorrem
durante a vida, a inteligência humana e diversos outros aspectos do
pensamento humano.
A origem da psicologia cognitiva já mostrava suas ideias iniciais durante
a primeira metade do século XX, quando ainda prevaleciam duas
correntes de pensamentos na psicologia. Confira a seguir quais são
elas:
e cognições sobre estímulos sociais se originam e afetam o
comportamento.
Centrados no comportamento, os psicólogos behavioristas
elaboravam as teorias de aprendizagem e condicionamento,
concebidas a partir de experiências, especialmente aquelas nas
quais se observava o comportamento de animais em situações
cuidadosamente planejadas.
Voltada para o estudo do inconsciente e do desenvolvimento, e a
estrutura e a dinâmica do psiquismo, destacando o impacto das
experiências vivenciadas na primeira infância.
Na abordagem behaviorista, o estudo do psicólogo norte-americano
Frederic Skinner (1904-1990) era voltado a descrever – e não em
explicar – o comportamento. Por não se preocupar com o que ocorria
dentro do organismo, a abordagem de Skinner foi denominada
abordagem do “organismo vazio”. Nessa visão, o homem seria
controlado e operado por forças ambientais, pelo mundo exterior, e não
pelas forças internas.
Posteriormente, psicólogos como o canadense Albert Bandura (1925-
2021) e o norte-americano Julian Rotter (1916-2014) – que, em
princípio, eram behavioristas, mas de um modo bem diferente de
Skinner – começaram a questionar a total negação dos processos
mentais ou cognitivos.
Esses estudiosos preconizavam uma aprendizagem social ou uma
abordagem sociobehaviorista, apoiando-se em um pensamento mais
amplo em direção a um movimento cognitivo (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ,
S. E., 2012).
A psicologia cognitiva se diferencia do behaviorismo em numerosos
aspectos. Primeiro, os psicólogos cognitivos estudam não somente a
mera resposta aos estímulos, mas também o processo de aquisição do
conhecimento.
Na psicologia cognitiva, o que se destaca são os processos mentais
diante de eventos, e não as conexões estímulo-resposta. Desse modo, o
foco é a mente e não o comportamento. Contudo, isso não significa que
o psicólogo cognitivo descarte o comportamento.
O fato é que as reações comportamentais não são a única fonte de
pesquisa e análise. É por meio da observação das respostas
Behaviorismo 
Psicanálise 
comportamentais que podemos avaliar e chegar a conclusões sobre os
processos mentais associados a essas reações.
Edward Tolman.
O psicólogo norte-americano Edward Tolman (1886-1959) é visto por
alguns autores como um pioneiro da psicologia cognitiva moderna. Ele
pensava que, para compreender o comportamento, era preciso levar em
consideração seu propósito e seu plano. Em outras palavras, todo o
comportamento era dirigido a algum objetivo.
Já o psicólogo estadunidense George Miller (1920-2012) e o psicólogo
alemão Ulric Neisser (1928-2012) tiveram um papel de destaque no
surgimento da psicologia cognitiva, mas não foram fundadores da
psicologia cognitiva no sentido formal da palavra. A colaboração deles
está na forma de um centro de pesquisa e de livros, considerado o
marco no desenvolvimento da psicologia cognitiva – um trabalho
inovador e influente (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E., 2012).
Psicologia social
A partir dos anos 1980, o cognitivismo se estabeleceu de vez como
abordagem preponderante no cenário norte-americano e na psicologia
social psicológica, que concebia o indivíduo como parte de um sistema.
No início, a psicologia social se dedicava a estudar os processos
socioculturais do homem. Posteriormente, passou a focar nos
processos intraindividuais e se tornou mais individualista, denominando-
se psicologia social psicológica.
Essa visão explica os sentimentos, pensamentos e
comportamentos do indivíduo na presença real ou
imaginada de outras pessoas. Em outras palavras, foca
nos estudos de como o indivíduo responde aos
estímulos do grupo.
Devido a isso, as pesquisas na área da cognição social passaram a ser
alvo de grande interesse. Seu propósito fundamental é compreender os
processos cognitivos que se encontram subjacentes aos pensamentos
sociais.
Cada vez mais os fatores cognitivos são observados e analisados por
psicólogos pesquisadores. Entre esses fatores, destacamos:
A teoria da atribuição da psicologia social;
A teoria da dissonância cognitiva;
A motivação e a emoção;
A personalidade;
A aprendizagem;
A memória;
A percepção;
O processamento da informação na tomada de decisões ou na
solução de problemas.
Nas áreas aplicadas, como a psicologia clínica, comunitária,
educacional e industrial-organizacional, também há ênfase nos fatores
cognitivos.
O processo de socialização do ser humano é composto por uma
constante coleta e troca de informações realizadas por meio de
diferentes estímulos sociais (pessoas, classe, família, escola,
instituições etc.), os quais, quando processados, levam a julgamentos.
Em função do contínuo interesse que despertam, três tópicos podem ser
considerados centrais para a psicologia social. Saiba quais são eles a
seguir:
Cognição social
Atitudes
Processos grupaisPrincípios da cognição social
Delimitação do campo de estudo
A cognição social pode ser vista como uma subárea da Psicologia, já
que abarca uma série de microteorias, que foram surgindo no contexto
da psicologia social em uma tentativa de entender como os indivíduos
formam pensamentos a respeito deles mesmos, de outras pessoas, dos
fatos e grupos sociais, e como explicam comportamentos e eventos.
A cognição social é, sobretudo, o estudo de como as pessoas fazem
inferências sobre informações obtidas no meio social, como elas se
percebem, interpretam, representam e se lembram de informações
sobre elas mesmas e os demais, como tais inferências são formadas e
afetam o comportamento.
Além disso, está fundamentada no processamento da informação e nos
processos cognitivos como atenção, percepção, memória e o
julgamento.
No que diz respeito a esses processos cognitivos, eles são
influenciados por tendenciosidades, esquemas sociais, heurísticas
(atalhos para o conhecimento da realidade social) e automatismos
(comportamento exibido inconscientemente). Comumente, tendemos a
descobrir as causas dos comportamentos, tanto nossos quanto de
outras pessoas (FERREIRA, 2010).
Esquemas sociais
No contato do indivíduo com seu mundo social, os estímulos são
transformados em informações, que, por sua vez, são representadas
cognitivamente (em forma de estruturas mentais de conhecimento), e
construídas, organizadas e armazenadas na memória em classes.
Essas estruturas são chamadas de esquemas sociais e influenciam o
modo como reagimos aos eventos sociais.
Possuímos os seguintes esquemas:
 De nós mesmos
Tímido, calmo, extrovertido.
 De gênero
Masculino, feminino.
 De pessoas
Médico, psicólogo, político, engenheiro.
 De determinados grupos
Negro, asiático, mulçumano.
 Do comportamento em certos ambientes
Salas de aula, festas, cerimônias religiosas.
Exemplo
Quem frequenta festas sabe que há bebidas, comida, música alta,
pessoas dançando, conversando, e paquerando. Nada disso é surpresa
para quem já foi a uma festa, pois, pela experiência passada, um
esquema se formou sobre o que esperar ao ir a um evento como esse.
Já para quem nunca foi a uma festa, a incerteza pode causar certa
ansiedade.
Os esquemas sociais agem sobre os processos cognitivos, pois
informações coerentes com nossos esquemas recebem nossa maior
atenção, assim como a maneira como armazenamos a informação e
recordamos dela.
Profecias autorrealizadoras
Um modo como os esquemas sociais afetam nosso comportamento
pode ser visto por meio das profecias autorrealizadoras, que, também,
são uma forma pela qual os esquemas são mantidos.
Mas o que significa uma profecia autorrealizadora?
Trata-se de mostrar um padrão de comportamento que, orientado por
esquemas sociais, faz com que o indivíduo, para o qual esse
comportamento se destina, seja influenciado por ele e responda de
forma a atender ao que estaria sendo esperado.
Em outras palavras, é quando agimos de acordo com nossos esquemas
sociais, e tal maneira de agir, muitas vezes, induz a resultados
compatíveis com estas expectativas, reforçando-as ao invés de
contestá-las.
Exemplo
Imagine um treinador de basquete que diz que seu jogador na posição
de armador não consegue fazer cestas de 3 pontos por ser o mais
baixo. Dessa forma, quando há oportunidade, pede para ele passar a
bola.
O jogador acaba se convencendo de que não é capaz e acaba não
dando mais atenção a treinar arremessos desse tipo. Por consequência,
passa a errar as cestas de 3 pontos, confirmando a profecia do treinador
de que ele não seria capaz.
Primazia e priming
Os esquemas sociais são postos em prática ou ativados por meio de
processos conhecidos como primazia e priming.
A primazia diz respeito a informações recentes que
são capazes de ativar um esquema. Assim, o
conhecido efeito primazia se refere ao fenômeno em
que prestamos mais atenção às informações que nos
são apresentadas em primeiro lugar. Esse fenômeno
pode ser associado ao impacto que sofremos com as
primeiras impressões, por exemplo.
Outra forma de ativação de esquemas sociais é o priming, que consiste
na maneira como um primeiro estímulo afeta as respostas que um
indivíduo apresenta a estímulos subsequentes, de modo inconsciente e
automático, podendo alterar nosso julgamento e nossas avaliações.
Exemplo
Seguranças de aeroporto que lidam quotidianamente com infratores e
traficantes tornam-se propensos a perceber o comportamento das
pessoas em termos de criminalidade, especialmente quando algum
comportamento considerado suspeito é observado. Frente a esse
comportamento, o segurança pode ignorar qualquer outra informação e
deter o sujeito que se torna, para ele, perigoso.
A ativação do esquema devido ao efeito priming ocorre de forma
inconsciente. Dependendo da importância do evento social, os
esquemas sociais são ativados de imediato sem a necessidade de
muito esforço .
Heurísticas e construção de categorias
Outros elementos importantes para o paradigma do processamento de
informações são as heurísticas e a construção de categorias.
A heurística ou atalhos mentais é um método rápido de
chegar a conclusões ao tentarmos conhecer o
ambiente social, mas nem sempre nos leva a
conclusões corretas.
Diariamente, somos submetidos a uma série de informações, mas
temos uma capacidade limitada para processar todas essas
informações sociais, e, por isso, lançamos mão de heurísticas para
enfrentar o grande volume e complexidade das informações sociais.
Portanto, erros e distorções em nossos julgamentos e tomadas de
decisão são cometidos (FERREIRA, 2010).
Exemplo
Ao recebermos a informação de que, nos cursos de Odontologia, há
mais mulheres que homens, utilizamos esse conhecimento para afirmar
que há mais mulheres atuando clinicamente como dentistas que
homens, o que pode não ser verdade.
Na literatura, podemos encontrar diferentes tipos de heurísticas.
Rodrigues, Assmar e Jablonski (2012) nos dão exemplos de heurísticas
de representatividade, que consistem em levar em conta a semelhança
entre dois objetos para deduzir que um possui características daquele
com o qual se aparece.
Um exemplo disso é quando consideramos que os produtos mais caros
são de melhor qualidade.
Podemos dizer que é usar um atalho para chegar a uma conclusão,
utilizando a semelhança da situação observada com um esquema
cognitivo previamente adquirido. Desse modo, ao concluir que a nova
situação é representativa do esquema anterior, é possível chegar
rapidamente a um julgamento.
Outra heurística muito comum é o uso de um ponto de referência para a
construção de julgamentos. Geralmente, o ponto de referência utilizado
para se fazer esse julgamento é a pessoa que o emite.
Exemplo
Uma pessoa mais extrovertida tende a julgar uma pessoa menos
extrovertida como tímida ou pouco sociável; uma pessoa que mora em
um país de clima frio tem a tendência a considerar temperaturas acima
dos 35 graus insuportáveis.
Com isso, podemos observar que o falso consenso consiste em
acreditar que certo posicionamento sobre uma situação específica é
compartilhado pelas demais pessoas. O risco é levar a aceitar nossa
visão de mundo correta, sem antes fazer nenhuma crítica.
As diferentes heurísticas apresentadas aqui são usadas quando o
assunto em questão não tem muita importância, quando nos
encontramos exaustos cognitivamente, ou quando temos urgência em
emitir julgamentos e não temos muita informação sobre o assunto.
Pesquisas demonstraram que grande parte do nosso comportamento
social é orientado por pensamentos automáticos, independentemente
de nossa consciência dele.
A seguir, veremos que o comportamento é uma função de:
Fontes internas
Oriundas de pensamentos conscientes com base no comportamento.
Fontes externas
São apenas percepções do comportamento dos outros.
O ambiente externo pode influenciar o comportamento de uma pessoa,
de modo que ela mesmo não perceba conscientemente. Nosso
comportamentotambém pode ser manifestado de forma automática,
sem participação consciente.
Entretanto, fenômenos mais complexos podem exigir um maior grau de
processamento, mais controlado e consciente, o que dependerá de
habilidades cognitivas do percebedor em relação ao meio social.
As heurísticas e a construção de
categorias
Neste vídeo, a especialista reflete sobre os diversos tipos de heurísticas
e a sua importância no estudo e na compreensão do comportamento
social.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A psicologia cognitiva surge em resposta a muitas críticas que
foram feitas ao behaviorismo. Qual é a principal diferença entre a
psicologia cognitiva e o behaviorismo?
A
O behaviorismo destaca as conexões entre estímulo
e reposta, e a psicologia cognitiva é focada no
Parabéns! A alternativa C está correta.
O psicólogo cognitivo estuda os processos mentais: como a pessoa
percebe, motiva-se e aprende diante de eventos. Já o behaviorismo
estuda o comportamento humano baseado em reações estímulo-
resposta, sem levar em conta os processos mentais.
Questão 2
Alguns autores consideram que, atualmente, a cognição social é o
modelo e enfoque dominante na psicologia social. Sobre a
cognição social, é correto afirmar que:
inconsciente.
B
A psicologia cognitiva é focada no desenvolvimento
da primeira infância, e o behaviorismo é centrado na
teoria de aprendizagem.
C
O behaviorismo é centrado no comportamento
humano, e a psicologia cognitiva estuda os
processos mentais diante de eventos.
D
O behaviorismo destaca os processos mentais, e a
psicologia cognitiva foca no comportamento
humano.
E
O behaviorismo estuda o comportamento diante do
ambiente, e a psicologia cognitiva estuda o
inconsciente coletivo.
A
Estuda como as pessoas compreendem a si
mesmas e às outras em um contexto.
B
É um campo da psicologia que estuda os processos
grupais.
C É um subgrupo da Sociologia.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A cognição social é um campo de estudo da Psicologia, que busca
compreender a forma como as pessoas se percebem a si mesmas
e entre elas, para poder explicar e fazer inferências sobre o
comportamento social.
2 - Crenças, atitudes e valores
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a in�uência de crenças, atitudes e
valores no comportamento humano.
Crenças
Conceito de crenças
Na cognição social, o conceito de crenças é muito estudado e
pesquisado. Portanto, podemos dizer que tem um lugar de destaque.
Krüger (2011) destaca que uma afirmação qualquer feita por um
indivíduo, tendo como origem a própria experiência e sendo esta
afirmação aceita por pelo menos um indivíduo, ela passa a ser uma
crença. E as crenças se originam sempre individualmente, sendo que o
grau de sua aceitação subjetiva varia bastante.
D Está fundamentada no comportamento estímulo-
resposta no contexto social.
E
Não possui relação com os processos psicológicos
básicos.
As crenças se apresentam por meio da linguagem oral ou escrita e,
sendo assim, podem ser avaliadas. São representações mentais, uma
vez que seu conteúdo é simbólico. Estão conectados a essas crenças
os processos cognitivos, afetivos e motivacionais.
Quando as crenças são originárias de algo com o qual nos identificamos
ou que tem valor, são mais intensas do que as formadas por meio de
uma mera percepção sem muita importância (KRÜGER, 2018).
O indivíduo resiste mais fortemente a mudar crenças que são, para ele,
mais relevantes do que crenças superficiais, como, por exemplo,
opiniões. As opiniões são crenças superficiais construídas a partir da
interação social. Quanto menos temos convicção a respeito de algo,
mais frágil é a crença.
Bem (1973) afirma que a compreensão de um homem sobre si mesmo e
do seu meio é formada a partir de crenças, e que elas são produtos da
experiência direta do homem com o meio.
Tipos de crenças
Em 1981, o pesquisador Rockeach (apud PEREIRA; MONTEIRO, 2020)
disse que as crenças nos homens estão organizadas em um sistema
arquitetônico e que, para o homem, não é possível conceber que as
crenças existam fora dessa organização.
Segundo esse autor, as crenças estão organizas em seu sistema de
forma concêntrica, com crenças centrais e periféricas. Confira quais são
elas:
Tipo A – Crenças primitivas (consenso 100%)
São as crenças mais centrais e incontestáveis. São tidas como
verdades absolutas de um indivíduo sobre a realidade física,
social e a natureza do eu. São formadas a partir do contato
direto com o objeto da crença e reforçadas por um consenso
social. As crenças primitivas possuem a capacidade de reunir
outras crenças.
Exemplos:
- “Eu acredito que isto é uma mesa.”
- "Eu acredito que esta é minha mãe.”
- “Eu acredito que meu nome é Maria.”
Tipo B – Crenças primitivas (consenso 0)
São crenças centrais e incontestáveis, mas diferem do tipo A,
uma vez que não necessitam do consenso social para reforçá-
las. As afirmativas dessa classificação abarcam as crenças em
algumas coisas que nenhuma outra pessoa poderia ter
conhecimento e, como consequência, não importa se os outros
acreditam.
Exemplo:
Existe a crença de que alguém pode ter de justificar o porquê
de certos hábitos ou práticas pessoais.
- “Eu sempre tiro os aparelhos eletrônicos da tomada, porque,
assim, tenho certeza de que, mesmo desligados, não gastam
energia.”
Tipo C – Crenças de autoridade
Não são crenças centrais. Têm origem na infância e são, de
início, compartilhadas com outras pessoas que exercem
influência sobre desenvolvimento da criança, porém, com o
passar do tempo, a criança percebe que não são válidas.
Exemplos:
- Papai Noel;
- Cuca;
- Fada dos dentes.
Tipo D – Crenças derivadas
Formam-se mais por meio do processo de identificação do que
pelo contato direto com o objeto da crença. É uma forma de
crença de autoridade, a qual é oriunda da influência dos meios
de comunicação, de pessoas, de objetos ou de instituições.
Exemplos:
- “Eu acredito que o Brasil é um continente, pois eu ouvi isso
naquela emissora de TV famosa.”
- “Eu acredito que o céu é aqui, pois o líder da minha religião
afirmou isso.”
Tipo E – Crenças inconsequentes
Não têm uma justificativa plausível para sua ocorrência,
baseiam-se em situações de preferência. São associadas a
questões de gosto e consideradas inconsequentes por
apresentarem pouca ou nenhuma ligação com outras crenças.
Não necessitam de reforço do consenso social.
Exemplo:
- “Eu acredito que beleza é questão de gosto. Para mim, você é
bonito.”
Nem todas as crenças possuem a mesma importância para o indivíduo,
podendo elas serem centrais ou periféricas. Quanto mais central for
uma crença, maior será a resistência à mudança. E, por conseguinte,
quanto mais central for a crença modificada, maior será a repercussão
no sistema de crenças.
As crenças e atitudes humanas têm como alicerce quatro processos do
homem. Confira a seguir:
Os dois últimos implicam interagir com os outras pessoas.
Segundo Bem (1973), dentre as crenças primitivas, a fé na validade da
experiência sensorial é a mais importante. O autor justifica essa
afirmação exemplificando que acreditamos que um objeto continua com
o mesmo tamanho e forma quando dele nos afastamos, embora sua
imagem visual mude: ele continua no mesmo lugar quando não o
estamos olhando.
 Cognitivos (pensar)
 Emocionais (sentir)
 Comportamentais
 Sociais
É possível analisar cada crença até que se chegue à crença básica ou
crença primitiva, da qual esta se originou.
Atitudes
De�nição de atitudes
No contexto sociopsicológico, a atitude é um constructo dos mais
antigos. Por parte dos psicólogos sociais, em todas as épocas, o estudo
das atitudes tem sido de grande consideração.
No que diz respeito a esses estudos, a década de 1930 foi marcada pelo
desenvolvimento das escalas de medida de atitude. Porém, na segunda
metade dessa década, os psicólogos sociais se preocuparam em
procurar os determinantesdas atitudes. Na década de 1940, os
resultados dessas investigações foram publicados.
Conhecer as atitudes de uma pessoa em relação a determinados
objetos permite que se façam suposições a respeito de seu
comportamento. Para cada um de nós, as atitudes exercem funções
específicas, ajudando-nos a formar uma ideia mais estável da realidade
em que vivemos.
Apresentamos, a seguir, definições de atitude de alguns importantes
estudiosos da psicologia social.
 Louis Thurstone
Em 1928, segundo Rodrigues (1976), o psicólogo
norte-americano Louis Thurstone (1887-1955)
definiu a atitude como a intensidade de afeto a
favor ou contra um objeto psicológico.
 Harry Triandis
Em 1971, foi descrita pelo psicólogo grego Harry
Triandis (1926-2019) como uma ideia carregada de
emoção que predispõe um conjunto de ações a um
conjunto específico de situações sociais
(RODRIGUES, 1976).
Componentes atitudinais
Rodrigues (1976) diz a que a atitude é composta por um componente
cognitivo, um componente afetivo e um componente comportamental. A
seguir, vamos entender melhor esses componentes.
Componente cognitivo
 Gordon Allport
Em 1935, o psicólogo estadunidense Gordon Allport
(1897-1967) definiu atitude como “um estado
mental e neurológico de prontidão, organizado
através da experiência, e capaz de exercer uma
influência diretiva ou dinâmica sobre a resposta do
indivíduo a todos os objetos e situações a que está
relacionada” (RODRIGUES, 1976, p. 395-396).
 Fabrigar e Wegener
Fabrigar e Wegener (2010 apud FERREIRA, 2010)
estabeleceram que as atitudes podem ser definidas
como avaliações gerais e duradouras que oscilam
de um extremo positivo a um negativo dos objetos
presentes no mundo social, o que compreende
pessoas, grupos, comportamentos etc. Segundo
esse conceito, fazem parte delas as cognições e os
afetos sobre tais objetos.
 Allport
Na década de 1930, Allport compilou por volta de
cem definições, e mesmo que nem todas fossem
amplamente aceitas, alguns temas eram
recorrentes nas várias definições oferecidas pelos
autores. Um exemplo disso está no fato de estas
definições se encontrarem relacionadas a diversas
manifestações, incluindo as crenças, os valores e
as opiniões, e de elas abarcarem avaliações de
objetos sociais.
O componente cognitivo de uma atitude é formado por crenças e
demais componentes cognitivos (maneira de encarar o objeto,
conhecimento etc.) relativos ao objeto daquela atitude. É necessário que
se tenha alguma representação cognitiva do objeto antes que se tenha
uma atitude em relação ele.
Exemplo
Pessoas que não gostam do estilo de música sertanejo o consideram
um estilo brega, de baixo nível cultural, de “sofrência” etc.
Algumas vezes, a representação cognitiva que a pessoa tem de um
objeto social é vaga ou errônea. Quando a representação cognitiva é
vaga, seu afeto a respeito do objeto tem uma tendência a ser fraco.
Quando a representação cognitiva é errônea, independentemente de
corresponder ou não à realidade, a intensidade do afeto não é
influenciada.
Componente afetivo
Pode ser definido, para alguns, como sentimento pró ou contra
determinado objeto social. Somente a atitude tem esse componente.
Crenças e opiniões não o têm.
Exemplo
Uma pessoa pode crer que a origem da raça humana é proveniente de
extraterrestres e manter essa crença em um nível cognitivo, sem
envolver nenhum afeto. Dessa forma, não é possível dizer que essa
pessoa tem uma atitude em relação à origem da raça humana, e sim
uma crença. Opinião também é uma crença e podemos classificá-la
como Tipo E.
Porém, se somássemos a essa cognição um componente afetivo,
poderíamos dizer que a pessoa tem uma atitude sobre esse assunto se
estivesse em uma discussão acalorada defendendo sua crença.
Componente comportamental
Em 1965, os pesquisadores Newcomb, Turner e Converse concluíram
que o papel das atitudes sociais na determinação do comportamento é
criar um estado de predisposição à ação e, em certa situação, derivar
em um comportamento (RODRIGUES, 1976).
Exemplo
Uma pessoa que torce para um time de futebol possui afetos e
cognições a respeito desse time, capaz de predispor o sujeito em um
campeonato a emitir comportamentos de acordo com tais afetos e
cognições, o que, no caso, seria torcer pelo time em questão.
Assim, podemos entender que as atitudes compreendem o que as
pessoas pensam, sentem e como elas gostariam de se comportar em
relação a um objeto atitudinal.
O comportamento é determinado não apenas pelo que as pessoas
gostariam de fazer, mas também pelas normas sociais, em outras
palavras, o que elas pensam que devem fazer, pelos hábitos, ou seja, o
que elas geralmente têm feito, e pelas consequências esperadas de seu
comportamento.
Exemplo
Uma pessoa de determinada religião pode ter uma atitude fortemente
negativa com pessoas de outra religião, porém trata com educação e
respeito um grupo dessa outra religião quando está em um mesmo
evento no qual foi convidado com esse grupo. Ou seja, em uma reunião
social, prevalecem as normas sociais, mesmo sendo seu afeto não
amistoso com pessoas de outra religião.
Valores
Concepção e classi�cação de valores
Segundo Rodrigues (1976), os valores são categorias gerais também
portadoras de componentes cognitivos, afetivos e predisponentes de
comportamento, diferenciando-se das atitudes por sua generalidade.
Os valores podem conter uma infinidade de atitudes. Por exemplo, o
valor religião envolve atitudes em relação a Deus, à igreja, às
recomendações próprias da religião etc.
Em 1951, uma escala foi proposta por Allport, Vernon e Lindzey
(RODRIGUES, 1976). Ela padronizava a classificação das pessoas de
acordo com a importância dada por elas aos seis valores a seguir:
Atividade social
Altruísmo e filantropia.
Estética
Harmonia, beleza de formas, simetria.
Praticalidade
Utilidade e pragmatismo, dominância de enfoques de natureza
econômica.
Teoria
Aspectos racionais, críticos, empíricos e busca da verdade.
Poder
Influência, dominância e exercício do poder em várias esferas.
Religião
Aspectos transcendentes, místicos e procura de um sentido à vida.
Teoria de valores e tipos motivacionais
Schawatz (1992; 1994 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2012)
propôs uma teoria de valores que teve como origem uma série vasta de
estudos transculturais.
Essa teoria é considerada referência obrigatória em qualquer estudo a
respeito do assunto. Nela, os valores são compreendidos como
objetivos ou metas trans-situacionais que variam em relevância. São
como convicções morais que orientam a vida das pessoas.
Dez tipos motivacionais de valores são listados por Schawatz e
organizados em uma hierarquia, de acordo com a relevância de sua
função e de seus efeitos práticos, psicológicos e sociais para os
sujeitos. A seguir, confira quais são eles:
 Benevolência
Busca da proteção e de favorecimento do bem-
estar dos outros.
 Tradição
Concordância com costumes e ideias de natureza
religiosa e cultural.
 Conformidade
C t l d õ d i l i l t
Controle de ações ou de impulsos socialmente
condenáveis.
 Segurança
Defesa de equilíbrio e da imperturbabilidade da
sociedade, das relações e do próprio eu.
 Poder
Controle sobre pessoas ou recursos, almejando
status e prestígio.
 Realização
Procura de sucesso pessoal pela evidenciação de
competência, em conformidade com os padrões
sociais.
 Hedonismo
Procura de sensações gratificantes e prazer.
 Estimulação
Busca de agitação, novidades e desafios.
 Autodireção
Busca de autonomia de pensamentos e de ações.
Dimensões de ordem superior
A primeira dimensão é referente a um conflito entre a independência
própria, por meio de ações que têm como meta a mudança, e a busca
por estabilidade e preservação da tradição. Essa dimensão é formada
por dois polos opostos:
Abertura à mudança
Correlaciona os tipos
motivacionais dos
valores autodireção e
estimulação.
Conservação
Combina os tipos dos
valores segurança,conformidade e
tradição.
A segunda dimensão reflete um conflito no qual de um lado se encontra
a busca do bem-estar dos outros e sua aceitação como iguais, e de
outro lado, a busca do sucesso pessoal e do domínio sobre os outros.
Nesse caso, há oposição entre os seguintes polos:
Autotranscedência
Conjuga os tipos
motivacionais dos
valores benevolência e
universalismo.
Autopromoção
Combina os tipos dos
valores poder e
realização.
O hedonismo compartilha elementos de abertura à mudança e de
autopromoção.
De forma resumida, a característica de generalidade dos valores e de
especificidade das atitudes faz com que uma mesma atitude possa ser
oriunda de dois valores diferentes.
Exemplo
Uma pessoa pode ter uma atitude favorável ao dar um sanduíche e um
café à uma pessoa com fome por valorizar a caridade e o bem-estar do
 Universalismo
Busca de capacidade de entendimento,
condescendência e proteção para com todas as
criaturas da Terra.


outro, e outra por valorizar o desejo de mostrar-se poderoso e superior.
A relação entre crença, atitudes e
valores
Neste vídeo, a especialista explica os conceitos de crença, atitudes e
valores e reflete, ilustrando com exemplos, as relações e as implicações
destes conceitos no comportamento social.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No sistema arquitetônico organizado por Rockeach, há crenças
centrais e periféricas. As crenças mais resistentes à mudança, que
fazem um indivíduo afirmar “Eu acredito que isto é um carro”, são
classificadas como:
A Crenças tipo C - Crenças de autoridade.
B Crenças tipo D - Crenças derivadas.
C Crenças tipo E - Crenças inconsequentes.
Parabéns! A alternativa D está correta.
As crenças primitivas (consenso 100%) são o tipo mais central do
sistema e mais resistentes à mudança. São aquelas crenças
incontestáveis, consideradas verdades absolutas.
Questão 2
A escala de valores de Allport, Vernon e Lindzey, cujo objetivo é
avaliar valores pessoais ou motivações básicas, está organizada
em seis valores. A filantropia seria que tipo de valor?
Parabéns! A alternativa D está correta.
A filantropia é um valor de atividade social por meio do qual o
sujeito procura o bem de todos e da comunidade, e não se centra
somente de forma egoísta em si mesmo.
D
Crenças tipo A - Crenças primitivas (consenso
100%).
E Crenças tipo B - Crenças primitivas (consenso 0).
A Religião
B Poder
C Estética
D Atividade social
E Praticalidade
3 - Teoria das representações sociais
Ao �nal deste módulo, você será capaz de aplicar a teoria das representações sociais.
Princípios teóricos
Origens da teoria das representações sociais
As origens da teoria das representações sociais estão presentes tanto
na sociologia e antropologia, com os estudos de Émile Durkheim (1858-
1917) e Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939), quanto na psicologia
construtivista, sócio-histórica e cultural, com os estudos de Jean Piaget
(1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), resultando em um vínculo
entre o social e o individual (BERTONI; GALINKIN, 2017).
Essa teoria foi inicialmente proposta pelo psicólogo social Serge
Moscovici (1925-2014), com a publicação do livro La psychanalyse, son
image et son public (1961). É uma abordagem psicossociológica do
processo de construção do pensamento social.
O estudo das representações sociais pode ser
compreendido como o ato de identificar a “visão de
mundo” que grupos ou indivíduos possuem ou
empregam na sua forma de agir e posicionar.
Assim, a teoria pode ser vista como um pensamento social que resulta
das experiências, crenças e trocas de informações contidas na vida
rotineira, propagadas ou recebidas pela comunicação e tradições.
As representações sociais constituem um conjunto de conceitos,
imagens e explicações que se originam no senso comum, em se
tratando das interações e comunicações interpessoais. Sobre tais
circunstâncias, elas vão se modificando à medida que novos
significados vão sendo agregados à realidade.
Um exemplo de representação social muito comum nos anos 1980 foi a
boneca Barbie. Nela, havia embutidos conceitos de beleza e
feminilidade do senso comum. Muitas meninas queriam ser a Barbie.
As representações sociais têm como função dar sentido ao
desconhecido, convertendo o não familiar em algo familiar. Para que
isso ocorra, os processos de ancoragem e objetivação são usados
como apoio.
Processo de ancoragem
Como afirma Moscovici:
[...] quando estudamos
representações sociais, nós
estudamos o ser humano, enquanto
ele faz perguntas e procura
respostas ou pensa, e não enquanto
ele processa informação ou se
comporta. Mais precisamente
enquanto seu objetivo não é
comportar-se, mas compreender”.
MOSCOVICI, 2003, p. 43 apud CAMINO et al., 2013,
p. 423
As representações sociais possuem a capacidade de criar relações
entre as abstrações do saber e das crenças e a concretude da vida do
sujeito em seus processos de interação social, porque:
As representações sociais são construídas na fronteira
entre o psicológico e o social.
A ancoragem tem como função inserir o fenômeno não familiar em um
conjunto de categorias e imagens familiares, de forma que ele possa ser
interpretado (FERREIRA, 2010).
As pessoas, de um modo geral, quando não conseguem descrever algo
e comunicá-lo para outros indivíduos, criam uma resistência e
experimentam um negacionismo. Esse acontecimento ou objeto que foi
incapaz de ser descrito por elas deve ser incluído nos sistemas de
crenças delas.
Portanto, ancorar é atribuir nomes e categorias à realidade, colocando-
as em um contexto comum e familiar. Quando damos um nome ou uma
classificação a algo que não era familiar, ele passa a ser familiar, e
podemos imaginá-lo, representá-lo. Assim, asseguramos sua
incorporação social.
Durante o processo de ancoragem, o novo objeto é reajustado, para que
possa se inserir em uma categoria conhecida, passando a possuir
características dessa categoria, tornando-se algo familiar e com
sentido.
Exemplo
Para lidar com as incertezas e todas as mudanças advindas do
coronavírus durante a pandemia, muitas pessoas passaram a usar a
expressão “o novo normal”, buscando ancorar todas as alterações em
nossa rotina e em nosso comportamento como uma nova condição do
que seria normalidade nesse momento, procurando diminuir o
desconforto gerado.
Processo de objetivação
A objetivação visa transformar o que é abstrato em algo concreto e que,
por conseguinte, possa ser assim tocado (FERREIRA, 2010). Objetivar é
transformar uma imagem, algo mental, em algo concreto, tangível, ao
invés de ser apenas um elemento do pensamento.
O processo de objetivação implica três movimentos simultâneos. São
eles:
Leva em conta valores religiosos ou culturais, experiências
anteriores, conhecimentos prévios etc., os sujeitos retiram
algumas informações a respeito do objeto que eles querem
representar de um conjunto total informações.
É a construção de um modelo figurativo, de imagens
estruturadas, que reproduzirão de um modo visível algo que
antes não passava de um conceito.
Seleção e descontextualização 
Formação do núcleo figurativo 
Os elementos que foram construídos passam a ser identificados
como elementos da realidade do objeto. Aquilo, que antes era
estranho, passa a ser naturalizado e é incorporado.
Exemplo
Retomando o exemplo do coronavírus, foram feitas representações
concretas que destacavam a importância do uso de máscaras para
vencer a resistência inicial em relação à população. Ao entenderem os
riscos de como o vírus se propagava, a máscara passou a ser um objeto
de uso comum, e as pessoas passaram a implementá-lo em seu
cotidiano.
De acordo com Moscovici (2003 apud CAMINO et al., 2013), os
indivíduos não se resumem a receptores passivos de informação, muito
menos a meros seguidores de ideologias ou crenças coletivas.
Os indivíduos são pensadores ativos que, ao se defrontarem com os
mais diversos eventos presentesno dia a dia das interações sociais,
criam e comunicam suas próprias representações e soluções
apropriadas para as questões nas quais se encontram.
Desse modo, a influência do social não é vista como um estímulo que
atinge o indivíduo, e sim como um contexto de relações nas quais o
pensamento é formado.
A teoria das representações sociais e
seus conceitos básicos
Neste vídeo, a especialista explica em que consiste a teoria das
Representações Sociais e ilustra os conceitos de ancoragem e
objetivação, destacando a importância dos mesmos.
Naturalização dos elementos 

Funções e abordagens
Universos rei�cados e consensuais
Existem dois tipos de universos de pensamento. Confira a seguir:
Universo rei�cado
É considerado o lado
científico do
pensamento, no qual
são definidos o certo e
o errado, verdadeiro e
falso. Nele, existem
papéis e categorias
definidos segundo os
contextos
apresentados. O nível
de participação na
produção de
conhecimento é
determinado
unicamente pelo nível
de qualificação. Existe
uma objetividade, uma
lógica e uma
metodologia.
Universo consensual
Diz respeito a atividades
intelectuais da
interação social
cotidiana. Esse universo
se encontra em
constante movimento. É
composto pelas
representações sociais,
mas a matéria-prima
para a formação dessas
realidades consensuais
se origina do universo
reificado e do saber
cotidiano. Por exemplo,
construímos opiniões
de noções apreendidas
e compartilhadas na
escola, em casa, na rua,
na mídia.
Funções das representações sociais
Para que possamos compreender a dinâmica das interações sociais e
esclarecer os determinantes das práticas sociais, é indispensável
identificar as funções das representações sociais.
De acordo com Camino et al. (2013), há quatro funções essenciais.
Confira a seguir quais são elas:
Possibilidade de os indivíduos compreenderem e explicarem a
realidade, a partir das representações sociais, está relacionada à
função de conhecimento. As representações sociais definem o
quadro de referência comum que permite e facilita a

Conhecimento 
comunicação social, concedendo a transmissão e divulgação do
conhecimento prático do senso comum.
Refere aos processos de comparação social, é de extrema
importância a função identitária das representações sociais, uma
vez que estas definem a identidade e concedem a proteção da
especificidade dos grupos. Ao mesmo tempo, esta função
assume um papel fundamental no controle social exercido pela
coletividade sobre cada um de seus membros.
Representações são responsáveis por guiar os comportamentos
e as práticas sociais. Assim, existe um sistema de pré-
decodificação da realidade, um manual orientador para ação.
Representações sociais possibilitam justificar os
comportamentos e as tomadas de posição por parte dos
sujeitos. Desse modo, nas relações entre grupos, essa função
esclarece alguns comportamentos postos em uso frente a outro
grupo. Portanto, as representações mantêm e justificam a
diferenciação social, sendo capaz de estereotipar as relações
entre grupos, colaborando para a discriminação ou mantendo
entre eles um afastamento social.
Observando a descrição das funções das representações sociais, vimos
que elas não são somente um conceito teórico e abstrato, mas também
são fundamentais nas relações sociais. Outra coisa que também fica
evidente é sua relação com as atividades práticas do cotidiano.
As representações sociais são eventos observáveis complexos, sempre
ativados e em ação na vida social, que contêm uma riqueza de
elementos informativos, ideológicos, cognitivos, normativos, valores,
atitudes, opiniões, crenças e imagens.
Teoria do núcleo central
O pesquisador Abric e seus colaboradores propuseram a teoria do
núcleo central – uma extensão do trabalho de Moscovici (1961). Essa
Identitária 
Orientação 
Justificadora 
teoria defende que toda representação social se dispõe em torno de um
núcleo central e de elementos periféricos (BERTONI; GALINKIN, 2017).
O núcleo central se fundamenta no elemento principal da representação,
com o objetivo de organizar e dar sentido a ela. O núcleo tem como
apoio a memória coletiva do grupo, em suas condições históricas e
sociais. Além disso, é mais rígido e resistente às mudanças e
influências das circunstâncias de uma situação imediata.
Entretanto, os componentes periféricos são mais flexíveis e móveis, o
que possibilita a junção de histórias e experiências distintas. Eles
aceitam as contradições, assim como a diversidade grupal. Desse
modo, são sensíveis às circunstâncias de uma situação imediata e têm
uma característica evolutiva, que possibilita se ajustar à realidade
concreta e à diferença de conteúdo.
Confira a seguir a função dos componentes periféricos:
Possibilitar o ajuste de grupos e indivíduos a
certas situações
Proteger a estabilidade do núcleo central
Dessa forma, o núcleo central é regulamentário, e os elementos
periféricos, por sua vez, são funcionais, pois possibilitam a ancoragem
da representação na realidade do momento.
Após a introdução da sociopsicologia na literatura, a teoria das
representações sociais foi amplamente disseminada, especialmente
entre os psicólogos europeus e latino-americanos, procurando aplicar
seus princípios teóricos a inúmeros eventos, aos quais podem ser
atribuídos significados que surgem do senso comum.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O núcleo central é composto pelos elementos estáveis ou mais
permanentes da representação social, e tem como objetivo
organizá-la e dar sentido a ela, sendo mais rígido e resistente às
mudanças. Com base na teoria do núcleo central, é correto afirmar
que:
Parabéns! A alternativa C está correta.
O núcleo central é mais rígido e passa a ser regulador e normativo.
Seus componentes periféricos permitem a adaptação de grupos e
indivíduos a certas situações. Eles são mais móveis e flexíveis,
permitindo a junção de experiências e histórias individuais, e são
sensíveis ao contexto imediato.
Questão 2
Quais são as quatro funções essenciais para as representações
sociais?
A
O núcleo central é flexível e tem como base a
memória coletiva do grupo, em suas condições
históricas e sociais, e é resistente às variações e
influências do contexto imediato.
B
Os componentes periféricos têm como função
proteger a estabilidade do núcleo central, e, por isso,
dificultam a adaptação de grupos e indivíduos a
certas situações.
C
O núcleo central é normativo, e os elementos
periféricos são funcionais.
D
O núcleo central é funcional, e os elementos
periféricos são complementares.
E
Os componentes periféricos são mais estáticos,
dificultando a junção de experiências e histórias
individuais, já que têm como função proteger o
núcleo central.
A
De conhecimento, de definição, localizadora e
justificadora.
B
De autoconhecimento, de conhecimento, espacial e
justificadora.
Parabéns! A alternativa E está correta.
As representações sociais se originam no senso comum e na
interação social. Já um conjunto de conhecimentos, opiniões e
imagens define a identidade, permite evocar um dado
acontecimento, uma pessoa ou um objeto, bem como orienta e
justifica o comportamento.
4 - Estereótipos e percepção social
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a formação dos estereótipos e seu
papel na percepção social.
Estereótipos
Estereótipo, preconceito e discriminação
O estudo dos estereótipos se apresenta de forma destacada na
Psicologia Social pela sua importância na compreensão das relações de
C
De conhecimento, identitária, de orientação e
explicativa.
D
De conhecimento, de autoconhecimento,
orientadora e explicativa.
E
De conhecimento, identitária, de orientação e
justificadora.
dominação, exploração e segregação. Os estereótipos são bons
preditores do comportamento social, permitindo inferir a probabilidade
de ocorrência de diversos comportamentos em grupos sociais.O estereótipo é a base do preconceito e ele consiste na
atribuição de crenças feitas sobre grupos ou pessoas.
Dessa forma, podemos compreender que os
estereótipos consistem em esquemas ou
representações mentais sobre grupos sociais.
Nesse sentido, eles interferem ativamente no processo de formação de
impressões e percepção de pessoas, sendo responsáveis pela
integração de informações e avaliação de outros indivíduos, ou seja,
pelas formas com que o percebedor interpreta os indivíduos que o
rodeiam (FERREIRA, 2010).
Mas qual é a diferença entre estereótipo, preconceito e
discriminação?
Muitas vezes, usamos essas palavras de forma indiscriminada. Na
prática, elas se encontram fortemente entrelaçadas, mas, em termos
acadêmicos, e inclusive em termos jurídicos, existem diferenças
importantes. A seguir, vamos entender melhor essa distinção.
Normalmente, em função de como organizamos todas essas
informações relativas, existe um primeiro momento em que
fazemos o agrupamento ou a categorização das pessoas que
consideramos que se assemelham em algum aspecto. Esse
primeiro passo representa a delimitação de um estereótipo
específico.
Exemplo: Todos os cientistas são muito racionais e analistas.
Após delimitar o estereótipo, passamos a fazer um julgamento
de determinado grupo, o que nos conduz a alguma atitude.
Quando essa atitude é negativa, estamos, então, frente ao
preconceito.
Estereótipo 
Preconceito 
Exemplo: Podemos encontrar uma atitude negativa sobre os
cientistas que afirma que eles não apresentam emoções, que
são insensíveis.
Baseado no preconceito, podemos observar a discriminação.
Exemplo: Não quero namorar um cientista, porque ele é uma
pessoa não emotiva.
Conceito de estereótipo
Quando formamos crenças de que indivíduos de um grupo social
apresentam, em maior ou menor grau, um mesmo padrão de
características específicas, chamamos essas crenças de estereótipos.
Para alguns estudiosos do assunto, durante a infância, adquirimos a
habilidade de formar muitos estereótipos. Muitas vezes, eles se
constituem do mesmo modo como se desenvolvem as configurações
mentais: ao vermos um caso específico ou um conjunto de casos com o
mesmo padrão, fazemos uma supergeneralização a partir dessas
observações limitadas e criamos um estereótipo (STERNBERG, 2008).
Curiosidade
Foi no trabalho intitulado Opinião pública, de Valter Lippmann, publicado
em 1922, que o termo “estereótipo” surgiu.
Os estereótipos são conceituados pela sociedade como um modo de
defesa pessoal, e são estabelecidos conforme a cultura e a tradição
familiar às quais pertencemos.
Inicialmente, os estudos sobre estereótipos estavam voltados para
conteúdos éticos e raciais em nível grupal, e pouca importância foi dada
a pesquisas em nível individual.
O conceito tem sido alterado com o tempo, sob um ponto de vista
negativo, a respeito de um conjunto de pessoas para uma generalização
das características conferidas a objetos e pessoas que possuem entre
si alguma semelhança, sendo ela pronunciada ou não.
O mais frequente dos diversos tipos de estereótipos é o de gênero, que é
uma atribuição feita pelo grupo de traços e comportamentos
específicos a homens e mulheres. Por exemplo, existe o estereótipo de
que as mulheres falam muito.
Porém, na vida social, existem outros estereótipos que também se
destacam, como:
Discriminação 
Classe social
Estado civil
Ocupações
Ainda hoje, não há um conceito único de estereótipo. Ao longo das
últimas décadas de pesquisas, surgiram diferentes vertentes e
interesses individuais sobre o assunto.
Apesar das diferenças importantes na maneira como a temática
“estereótipos” é definida, basicamente, alguns pontos são de comum
acordo entre os psicólogos sociais sobre a definição de estereótipos.
Veja a seguir quais são:
1. Um estereótipo é fundamentalmente cognitivo – convicção,
julgamento, percepção, atribuição, visão, características,
expectativa, suposição, e assim por diante.
2. Um estereótipo é um conjunto de crenças relacionadas.
3. Os atributos, as personalidades ou o caráter de grupos são
descritos pelos estereótipos.
4. Esses atributos permitem diferenciar os indivíduos como homens e
mulheres.
É preciso levar em conta o consenso para caracterizar os estereótipos.
Os estereótipos se originam da passagem do tempo com as repetidas
experiências entre componentes de grupos diversos, afetando as
respostas que serão apresentadas em encontros futuros com os
componentes do grupo alvo dos estereótipos.
São duas as maneiras de conceber estereótipos:
Como estruturas que podem ser representadas dentro das mentes
individuais.
Como elementos específicos da própria sociedade, compartilhados
em grande escala pelas pessoas que convivem no interior de uma
mesma cultura.
Sem dúvida, essas considerações estão associadas aos estereótipos,
como a percepção social, visto que é aceitável dizer que as informações
percebidas devem ser interpretadas, codificadas, armazenadas e
retiradas da memória. Em todas as fases desse processo, podem
ocorrer mecanismos da distorção perceptual.
Desse modo, os estereótipos são elaborados como informações
públicas compartilhadas por uma vasta maioria de indivíduos da
sociedade a respeito de alguns grupos sociais.
Seria correto descrever os estereótipos como uma parte do
conhecimento coletivo de uma sociedade, uma vez que as crenças
compartilhadas geram efeitos de magnitude considerável na forma
como se apresentam os comportamentos sociais.
Mas não podemos esquecer que os estereótipos também cumprem
uma função em nossa percepção, pois eles reduzem a necessidade de
atenção e processamento de informação frente aos fatos. Assim,
podemos economizar tempo e energia quando estamos interagindo
com os outros.
O problema é quando os estereótipos nos conduzem ao processo de
discriminação, que implica sua relação com algum julgamento (afeto)
negativo, ou seja, quando derivam em preconceito.
Percepção social
Interação social
Vimos até aqui como é importante para os pesquisadores da cognição
social a observação e o estudo da interação social. Agora, vamos focar
nessa questão.
Para que haja interação entre pessoas, é necessário que estas se
percebam mutuamente.
Exemplo
Durante o processo de interação social, formamos necessariamente
uma impressão da pessoa com quem nos relacionamos. Nesse
momento, também somos guiados por processos psicossociais.
Quatro princípios gerais, responsáveis por administrar nossa percepção
dos indivíduos que nos cercam, foram destacados pelos pesquisadores
Taylor, Peplau e Sears (2006 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI,
2012). Veja a seguir quais são eles:
1. Com base em um número limitado de informações, as pessoas
geram impressões de outras e, a partir daí, derivam outras
características mais gerais. Exemplo: o empregado viu o novo
gestor por foto e pensou que era jovem demais para ser líder de um
projeto.
2. As impressões têm como base os aspectos mais relevantes, e não
o conjunto completo das características dos outros. Exemplo:
prestar atenção à altura de alguém e não perceber outras
características positivas e negativas do indivíduo.
3. Tendemos a catalogar os estímulos percebidos na outra pessoa de
forma a incluí-la em um grupo do qual os membros possuem
características conhecidas. Exemplo: pessoas com sapatilha de
ponta pertencem ao grupo que dança balé.
4. Nossas necessidades e nossos objetivos afetam a forma pela qual
percebemos as características dos outros. Exemplo: prestamos
mais atenção em alguém com quem vamos interagir com maior
regularidade no futuro, como um colega de trabalho, do que em
alguém que só veremos uma única vez.
Como formamos a impressão sobre os outros?
As principais fontes de informação que utilizamos ao formar uma
impressão de outra pessoa são:
Não apenas os traços físicos, mas também a forma de vestir
influenciam a dedução de certas características pessoais.
Tendemos a atribuir outras particularidades positivas apessoas
mais atraentes, e negativas a pessoas menos atraentes.
Inclui gestos, posturas, olhares, posição corporal no espaço, tom
de voz, ritmo e inflexões. Você sabia que quanto mais nos
interessa alguém que estamos observando, mais competentes
somos na interpretação desses comportamentos?
Maneira por meio da qual percebemos o outro, de acordo com a
tendência a atribuir a uma pessoa as características do grupo ao
qual pertence, como sexo, raça, faixa etária, tipo de profissão etc.
Os estereótipos mantidos por nós acerca dos vários grupos
sociais proporcionam uma visão das pessoas a eles
pertencentes como confirmadores deles.
Ao realizar um experimento, Asch (1946) constatou que, ao
apresentar uma lista de adjetivos sobre um indivíduo a algumas
pessoas, impressões a respeito dele eram formadas conforme a
ordem em que a lista era apresentada.
Aparência física 
Comportamento não verbal 
Categorização 
Primeiras impressões 
No que se refere a provocar a recordação de outros traços sobre
uma pessoa, alguns traços de personalidade são mais influentes
do que outros. Isso também foi comprovado por Asch (1946).
O estudioso apresentou os mesmos sete adjetivos descritivos de
um professor para dois grupos diferentes de alunos, mas
somente para um dos grupos, alterou um deles: trocou
“afetuoso” por “frio”. O grupo que recebeu o adjetivo “afetuoso”
considerou que o professor era feliz, brincalhão, imaginativo,
generoso. Já o grupo que tinha o adjetivo “frio” considerou o
professor sério, infeliz, sem senso de humor e de confiança.
Teoria implícita de personalidade
No momento em que processamos as informações recebidas dos
indivíduos com quem entramos em contato, somos intensamente
influenciados por esquemas sociais. Lembrando que esquemas são, por
definição, estruturas cognitivas que têm como função organizar as
informações ao redor de temas ou tópicos.
Em 1954, os pesquisadores Bruner e Tagiuri (apud FERREIRA et al.,
2011) afirmaram que formulamos, em relação a outras pessoas, uma
teoria implícita de personalidade, por meio da qual associamos
determinados traços a outros, e esperamos correspondência entre eles
e essas pessoas com as quais entramos em contato.
Características positivas são normalmente atribuídas às pessoas de
quem gostamos ou admiramos. Por sua vez, características negativas
são atribuídas àquelas de quem não gostamos. Logo, a teoria implícita é
relutante à mudança.
As teorias implícitas de personalidade que formamos a respeito dos
outros organizam um esquema social. Ao sermos apresentados a
alguém, de forma imediata, ativamos os esquemas associados à
profissão, ao gênero, ao grupo étnico etc. na impressão que formamos
dessa pessoa.
A partir do momento que estiver, então, formada uma primeira
impressão, assimilamos, facilmente, as características dessa pessoa,
que harmonizam com nossa primeira impressão, isto é, que são
coerentes ou congruentes com aquela primeira impressão formada
sobre elas. Em contrapartida, tendemos a rejeitar outras características
que não harmonizam com ela.
Essa teoria se manifesta muito comumente na dificuldade que temos
em alterar nossas primeiras impressões acerca de outras pessoas.
Traços centrais 
Vimos que nossa mente não registra um retrato fiel da
pessoa, e que nosso processo cognitivo é influenciado
por esquemas, estereótipos, heurísticas. De qualquer
maneira, o estudo da percepção social nos permite
entender como formamos impressões sobre outras
pessoas e fazemos inferências sobre elas.
Para isso acontecer, usamos diversas fontes de informação, como o
comportamento não verbal, os esquemas ou atalhos mentais, a
interpretação que fazemos do comportamento da pessoa e outras
fontes. Muitas vezes, erramos em nossas inferências e conclusões, o
que nos leva a percepções equivocadas, que podem ser difíceis de
dissolver.
Percepção social e as teorias
implícitas de personalidade
Neste vídeo, a especialista expõe o conceito de percepção social e
destaca o papel das teorias implícitas de personalidade na percepção
social. Além disso, é feita uma reflexão sobre a tendência ao erro de
julgamento.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Existem diversos estereótipos com os quais nos deparamos em
diferentes situações. Por exemplo, você já deve ter escutado a
crença de que as mulheres não sabem dirigir, ou de que os homens
que choram não são homens de verdade. Sobre estereótipos, é
correto afirmar que:
Parabéns! A alternativa E está correta.
Estereótipos são crenças compartilhadas sobre as características
pessoais, os traços de personalidade e dos comportamentos
próprios de um grupo de indivíduos. E há um consenso sobre eles.
Questão 2
Se uma pessoa é reconhecida como tranquila e calma,
possivelmente, outras pessoas tenderão a acrescentar que também
é cuidadosa, metódica e organizada. Essa constatação se baseia na
teoria implícita de personalidade. Sobre essa teoria, é correto
afirmar que:
A Não é necessário um consenso.
B Não são crenças.
C São crenças não compartilhadas.
D Não são cognitivos.
E São crenças compartilhadas.
A
As percepções que temos a respeito dos outros
organizam um esquema social.
B
Não somos capazes de atribuir percepções
positivas sobre o outro.
C
Associamos determinados traços a outros e não
esperamos correspondência entre eles e essas
pessoas com as quais entramos em contato.
D
Parabéns! A alternativa A está correta.
Imediatamente, ao conhecermos alguém, ativamos esquemas
sociais, como, por exemplo, gênero, profissão etc. Quando
associamos determinados traços a outros, esperamos
correspondência entre a pessoa associada ao traço. O problema
dessa forma de perceber o outro é que temos dificuldade em alterar
nossas primeiras impressões acerca de outras pessoas quando
fazemos uso da teoria implícita de personalidade.
Considerações �nais
A cognição social é o estudo da forma pela qual processamos a
informação. Nela, está incluída a forma como codificamos,
armazenamos e recuperamos informação de situações sociais.
Por isso, é uma ferramenta importante para entendermos as relações,
as emoções, os pensamentos, as intenções e as condutas sociais dos
outros indivíduos ou grupos. Ela gerencia em nossa mente a grande
quantidade de informações oriundas de nosso meio, como as
heurísticas, os esquemas, as crenças e as representações sociais.
É crucial compreender esse processamento, a fim de construir uma
base sólida de conhecimento científico a respeito do assunto.
Podcast
A especialista reflete sobre os conceitos de crenças, atitudes, valores,
estereótipos e preconceitos e apresenta o uso da cognição social para o
estudo do comportamento social, ilustrando a teorias das
representações sociais e a percepção social.
É muito fácil alterarmos nossas primeiras
impressões acerca de outras pessoas.
E
Quando conhecemos alguém, tendemos a atribuir
características positivas a pessoas que não
gostamos.

Explore +
Para conhecer melhor a percepção social e os estereótipos, busque e
assista à palestra TED com a psicóloga social Leah Georges: Como os
estereótipos geracionais nos inibem de progredir no trabalho.
Para compreender melhor a relação entre valores, atitudes e
comportamento, pesquise e leia o artigo de Jorge Artur Peçanha Coelho,
Valdiney Veloso Gouveia e Taciano Lemos Milfont, publicado em 2006,
na revista Psicologia em Estudo: Valores humanos como explicadores
de atitudes ambientais e intenção de comportamento pró-ambiental.
Referências
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and Social Psychology, v. 41, n. 3, p. 258-290, 1946.
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