Buscar

Atualidades 11-05.256

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

002
ALUNO:
TEMA: ECONOMIA
ATUALIDADES
DATA: 11/05/15
TURMA:
DÉCADA PERDIDA?
Os desacertos da política econômica dos últimos anos vão 
cobrar seu preço em 2015. A dúvida: os problemas vão pre-
judicar só o ano ou teremos mais 10 anos de atraso?
Para os brasileiros com mais de 40 anos, a expressão “Déca-
da Perdida” está associada a tempos de dureza que o Brasil 
atravessou num passado recente. No início, a tal década se 
referia aos anos 80. Mas a crise da hiperinflação se arrastou 
até a metade dos anos 90, somando 15 anos jogados fora.
Parecia que esse fantasma havia sido afugentado definitiva-
mente do país. Aqui e ali, porém, voltamos a ouvir falar nele. 
Iniciamos o quinto ano consecutivo de desempenho medí-
ocre na economia — e, o pior, com viés de baixa. Do cresci-
mento baixo de 2011 a 2013, caímos para a estagnação do 
ano passado, e a perspectiva neste é ainda pior.
Até aí, meia década já escorreu pelo buraco. A origem dos 
problemas que causam essa queda pode ser encontrada no 
fim de 2008, quando, diante da crise mundial, o governo de-
cidiu que era hora de aumentar o papel do Estado na econo-
mia. E o que deveria ter sido pontual terminou por ser empa-
cotado como a “nova matriz econômica”, reforçada em 2011 
pela presidente Dilma Rousseff.
Desde então, a série de medidas intervencionistas acabou 
paulatinamente com a estabilidade e minou a confiança de 
consumidores e empresários. Chegamos a 2015 sem saber até 
que ponto vai a deterioração. O intervencionismo ficou para 
trás? Qual o efeito no produto interno bruto (PIB) da combi-
nação de ajuste fiscal com os desdobramentos da Operação 
Lava-Jato e os riscos de racionamento de energia e água?
Vamos escapar de uma recessão neste ano? E em 2016? A 
verdade nua e crua: ninguém sabe ao certo. O que sabemos 
é que todos os analistas — repita-se: todos — têm revisado 
continuamente para baixo as projeções do PIB. Se no início 
do ano as apostas estavam em crescimento zero, hoje é qua-
se consenso que haverá queda forte na atividade econômica.
E também a noção de que os problemas podem custar caro. 
“Estamos caminhando para ter uma nova década perdida”, 
diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da 
consultoria MB Associados.
O provável retrocesso, péssima notícia para um país que ain-
da precisa fazer muito para alcançar o status dos desenvolvi-
dos, seria o nono ocorrido desde 1981. Isso é o que aponta 
um levantamento histórico feito pelo Comitê de Datação de 
Ciclos Econômicos, ligado à Fundação Getulio Vargas — um 
grupo de economistas que se reúnem para avaliar quando o 
país entra num ciclo recessivo.
Nos dois trimestres do ano passado, a evolução do PIB foi ne-
gativa e algumas projeções dão conta de que 2014 terminou 
com queda na atividade econômica de 0,1% (o dado oficial 
deverá ser divulgado no fim de março). Um estudo inédito 
feito pelo economista Jorge Arbache, da Universidade de 
Brasília, mostra que o país entrou num ciclo recessivo no ano 
passado e conclui: só sairemos dele no fim de 2018.
Até lá, veremos taxas negativas na variação anual do PIB per 
capita. O mais grave: há risco de que parte da maior con-
quista da década passada, a diminuição da desigualdade de 
renda, seja perdida. Para chegar a essa conclusão, Arbache, 
que até o ano passado era assessor da presidência do Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, analisou 
os ciclos econômicos desde os anos 60.
E descobriu que o desempenho de indicadores como a dis-
tribuição de renda e o número de pessoas em situação de 
pobreza sofre um efeito perverso: boa parte dos ganhos obti-
dos durante os períodos de expansão é perdida nos ciclos de 
queda. O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, 
avança a uma taxa anual de 1,14% nos bons tempos e piora 
1,61% ao ano nos períodos de baixa — felizmente, o Brasil 
teve mais intervalos de crescimento do que de encolhimento 
no último meio século.
A ameaça do momento é uma volta atrás em relação às con-
quistas recentes. “O país precisa urgentemente reencontrar 
o caminho do crescimento se não quiser empobrecer nos 
próximos anos”, afirma Arbache.
SURPRESAS NEGATIVAS
Se os cenários mais pessimistas se confirmarem, o Brasil es-
tará mergulhado num dos maiores ciclos recessivos dos últi-
mos 35 anos. Até então, o mais longo durou 11 trimestres, de 
1989 a 1992, e foi acentuado pelo confisco da poupança no 
governo de Fernando Collor de Mello.
O mais severo foi o do começo dos anos 80, quando o PIB 
encolheu 8,5%, como resultado do calote da dívida externa. 
Somados todos os períodos desde 1981, o país esteve em 
recessão durante dez anos — uma década sem crescer nem 
distribuir riqueza.
Em entrevista recente a EXAME, o economista inglês Jim 
O’Neill, criador do acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e Chi-
na), disse que ainda é cedo para uma avaliação segura. “Mas, 
se não voltar a crescer até 2019, o Brasil não vai merecer 
mais fazer parte do bloco Bric”, diz O’Neill.
Cada recessão tem sua história. Mas, em comum, em quase 
todas elas a economia brasileira sofreu com surtos de infla-
ção alta, juros estratosféricos e falta de crédito. Esse quadro 
parecia uma realidade que tínhamos deixado para trás com 
o Plano Real, em 1994. Desde então, as baixas na economia 
passaram a ser mais curtas e menos atrozes.
E, na maioria das vezes, foram causadas por crises interna-
cionais. “Já vivemos recessões de moratória, de crise externa 
e de hiperinflação”, diz Simão Silber, professor de economia 
na Universidade de São Paulo. “Agora estamos na ‘recessão 
Dilma’, a que resulta de uma série de erros cometidos na po-
lítica econômica.”
Esse raciocínio se embasa na ideia, comum entre economis-
tas, de que os atuais problemas começaram quando a presi-
dente deu carta branca ao então ministro da Fazenda, Guido 
Mantega, para acentuar a política baseada no intervencio-
nismo. Em vez de promover os investimentos, o consumo 
e o crescimento, essa orientação provocou inflação, alta de 
juros, desarranjos na produção e déficit nas contas públicas.
Aos poucos, a taxa de crescimento foi caindo. Outros sinais 
dos erros foram dados. O mais forte deles foi o rebaixamento 
da nota da dívida brasileira pela agência de classificação de 
risco Standard&Poor’s em março de 2014 — mais um rebai-
xamento e o país perde o selo de grau de investimento, regre-
dindo ao grupo dos que oferecem alto risco aos investidores.
Há poucas semanas, outra agência, a Economist Intelligence 
Unit (EIU), tirou do Brasil o selo de país seguro para emprés-
timos. “A situação fiscal brasileira não condiz mais com uma 
economia dotada de grau de investimento”, disse a EXAME 
Robert Wood, analista sênior da EIU.
Há tempos se sabia que 2015 seria um “ano de ajustes”, com 
impacto negativo no PIB. Mas não se esperavam tantas notí-
cias ruins num começo de governo — os indicadores que têm 
vindo à tona surpreenderam até os mais pessimistas.
O déficit nominal de 6,7% do PIB é bem maior do que o de 
4,1% da encrencada Grécia — apenas Japão, Egito e Vene-
zuela têm números piores, segundo um levantamento com 
57 países feito pela EIU.
Independentemente de quem ganhasse as eleições, era cer-
to que os preços de combustíveis, transporte público e ele-
tricidade precisariam subir; que a contabilidade criativa, que 
culminou com um déficit primário também surpreendente 
de 32 bilhões de reais — ou 0,6% do PIB —, não poderia se 
repetir; e que os incentivos via isenção de impostos e crédi-
tos subsidiados precisariam ser revistos.
MAL NECESSÁRIO
Todos esses pontos, por si sós, já tinham potencial de aba-
ter a economia. O ano começou e, de fato, um “pacote de 
maldades” — embora necessário para a retomada da esta-
bilidade — foi implementado. Não demorou e setores que 
contavam com incentivos sentiram o baque. Um deles foi o 
de caminhões. Apósum ano de queda de 11% nas vendas, 
em janeiro foram licenciados 7 529 veículos, o volume mais 
baixo desde 2009.
O mau resultado é efeito direto da economia desaquecida e 
do crédito mais caro. Até o ano passado, o governo financiava 
100% da compra do caminhão com juro de 6% ao ano, abaixo 
da taxa de mercado, como parte do Programa de Sustentação 
do Investimento. Para o ajuste fiscal, o governo agora elevou 
o juro a 9,5% e vai financiar até 70% do preço do caminhão.
Com as vendas em baixa, os pátios das montadoras estão lo-
tados. “O ideal seria ter um estoque que correspondesse à 
venda de 30 dias”, diz Roberto Cortes, presidente da fabri-
cante MAN. “Nosso estoque atual corresponde a vários me-
ses de vendas. Os sinais são de que podemos terminar o ano 
com queda de produção.”
Nesse cenário de baixa, ele só vê uma saída: o corte de custos. 
A principal medida tomada pela MAN atinge o bolso do traba-
lhador: a jornada de trabalho foi reduzida 10%, com redução 
equivalente nos salários. “Já negociamos com o sindicato e 
não vamos reajustar os salários”, diz Cortes. Nas montadoras 
de carros, o que se vê é igual ou até pior. No último ano, o 
setor demitiu 13 000 trabalhadores e as greves pipocaram.
O caso das montadoras mostra que os problemas não seriam 
desprezíveis se o único inibidor do PIB fosse o ajuste fiscal. 
Mas, no meio do caminho do conserto da economia brasilei-
ra, há pelo menos duas grandes pedras — os desdobramen-
tos da Operação Lava-Jato e os possíveis racionamentos de 
água e energia. O tamanho delas vai determinar quão pro-
funda será a queda do PIB.
A consultoria Tendências estima que um racionamento de 
energia provocaria diminuição de 10% no consumo. Junto 
com a falta de água no Sudeste, a restrição energética tira 
1,1 ponto percentual da estimativa inicial do desempenho do 
PIB para este ano, que era de um avanço de 1%.
O corte de 30% nos investimentos da Petrobras, somado à 
incapacidade de as grandes construtoras envolvidas na Lava-
-Jato tocarem obras públicas, pode tirar mais 1,9 ponto per-
centual da variação do PIB — e 75 bilhões de reais da conta 
dos investimentos do país, que cairia para 848 bilhões de 
reais neste ano, ante 989 bilhões em 2013. Se tudo isso se 
confirmar, a economia terminará o ano com queda de 2%.
“Todos esses problemas jogam a confiança do empresário e 
do consumidor para baixo, o que torna ainda mais difícil o 
cenário do ano”, diz Juan Jensen, sócio e economista-chefe 
da Tendências. Por ora, o cenário básico considerado pela 
consultoria não é o mais drástico, mas já prevê encolhimento 
de 1,2% no PIB.
HORIZONTE INCERTO
O fator confiança no futuro — escassíssimo no momento — 
certamente responde, ao final, pelas decisões que dão im-
pulso à economia ou a emperram. Uma sondagem feita por 
EXAME com presidentes de 130 grandes empresas mostra 
que 60% deles acreditam que o ano terminará com recessão 
ou, na melhor hipótese, com crescimento zero.
E dois de cada três executivos não creem que o país vai re-
tomar tão logo o ritmo da década passada, quando o PIB 
avançou a uma média anual próxima de 4%. “O ano tem se 
mostrado ainda mais complicado do que o previsto, e não 
há como ficar otimista”, diz Luis Pasquotto, presidente da 
Cummins, fabricante de motores situada em Guarulhos, na 
Grande São Paulo, que deverá encerrar o ano com queda de 
10% na produção.
“Num panorama como esse, as empresas, mesmo as que não 
estão diretamente envolvidas nessas questões, ficam mais cau-
telosas”, diz Hélio Magalhães, presidente do banco Citibank. Re-
sultado: das empresas que responderam à pesquisa, 60% pla-
nejam investir menos, e um terço prevê que demitirá neste ano.
Tome-se o exemplo da fabricante de insumos plásticos MVC, 
uma associção dos grupos gaúchos Marcopolo, do setor au-
tomotivo, e Artecola, do ramo químico. Com nove fábricas 
no Brasil e sede em São José dos Pinhais, no Paraná, a MVC 
iniciou o ano registrando redução das encomendas.
“Estamos projetando queda de 10% no faturamento em 
2015”, afirma Gilmar Lima, diretor-geral da MVC. Para se 
adaptar à situação, a empresa poderá demitir até 30% dos 
1 600 funcionários até o fim de março. Os estragos não param 
aí. Os planos de investimento foram cortados 60%. “No longo 
prazo, isso vai significar perda de competitividade”, diz Lima.
Nesse cenário econômico adverso, até a menina dos olhos do 
governo, o consumo das famílias, poderá terminar o ano em 
queda. A consultoria Tendências projeta uma baixa de 0,1% 
em 2015. Parece pouco. Mas, se isso se confirmar, será a pri-
meira vez desde 2003 que o gasto das famílias não contribui 
para o crescimento — naquele ano, o consumo caiu 0,8%.
“O mercado de trabalho desaquecido, a inflação e os juros 
em alta minam a confiança do consumidor”, diz Fabio Bentes, 
economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. A 
taxa média de juro ao consumidor, que foi de quase 44% ao 
ano em 2014, deverá subir para mais de 46% em 2015, nas 
projeções da CNC.
“Vamos ver o estrangulamento do orçamento familiar neste 
ano”, afirma Bentes. Nas suas contas, o varejo deverá termi-
nar o ano em alta de 1,5%, o que seria o pior desempenho do 
comércio desde 2003. “E não descartamos a possibilidade de 
um resultado negativo.” Na comercialização de casas, aparta-
mentos e escritórios, a Brasil Brokers, empresa que reúne 25 
imobiliárias em 12 estados, vem anotando uma dificuldade 
crescente para desovar o estoque.
No começo do ano passado, vendia 70% dos imóveis em até 
quatro meses após o lançamento. Hoje, a velocidade caiu 
pela metade. A saída encontrada é dar descontos de até 20% 
nas unidades. “Com a economia desaquecida, não espera-
mos melhora em breve”, diz Plínio Serpa Pinto, presidente da 
Brasil Brokers.
A perspectiva ruim não significa que as empresas tenham jo-
gado a toalha. De acordo com a pesquisa realizada por EXA-
ME, 70% das que integram a elite corporativa do país preve-
em que conseguirão elevar as receitas — 17% apostam em 
avançar mais de 10%.
Como farão isso? Um estudo feito em janeiro pela Fundação 
Dom Cabral com 100 executivos que comandam negócios de 
médio e grande porte mostra que a principal resposta é ba-
talhar para aumentar a participação nos mercados em que 
já atuam. Ou seja, roubar espaço da concorrência. Essa é a 
pretensão da transportadora de cargas TNT Express.
“É verdade que setores em que atuamos, como automotivo, 
tecnologia e confecções, estão vendendo menos do que em 
anos anteriores”, diz Cristiano Koga, diretor corporativo da 
TNT. “Mas estamos ganhando clientes novos e, com isso, de-
veremos crescer a uma taxa de dois dígitos em 2015.”
A segunda estratégia mais comum em tempos de crise é bus-
car fazer mais com menos — o que pode significar redução 
de investimento e de quadro de pessoal. A Gula Gula, rede 
com 17 restaurantes no Rio de Janeiro, cancelou os planos de 
abrir uma unidade em São Paulo, para concentrar os esforços 
nas unidades cariocas.
“Vamos focar a atenção na produtividade das lojas”, diz Pe-
dro de Lamare, um dos três sócios da rede. A empresa con-
tratou uma consultoria para dar treinamento aos gerentes. 
O objetivo é melhorar os processos. Com isso, De Lamare es-
pera conseguir cortar 15% dos cerca de 1 000 funcionários. 
“Nossa média de 60 funcionários por restaurante é alta”, diz. 
“Com melhor treinamento, podemos obter mais eficiência e 
redução de gastos.”
FOGO AMIGO
Os problemas citados até aqui, ao mesmo tempo que podem 
minguar o PIB em 2015, escondem os males profundos da 
economia brasileira. Podem passar a impressão de que basta 
fazer um ajuste fiscal crível, esperar o fim dos efeitos da Ope-
ração Lava-Jato e que volte a chover para que o país retome 
o rumo do crescimento.
A verdade passa longe disso. Antes de tudo, é prudente ques-
tionar se a equipe econômica conseguirá, de fato, promover oajuste fiscal de que o país necessita com urgência. O excelente 
currículo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não é garantia 
de sucesso. Na tarefa de recolocar as contas públicas em or-
dem, Levy tem de enfrentar um Congresso em polvorosa e o 
fogo amigo de integrantes do PT insatisfeitos com a presença 
de um “banqueiro” no “governo do povo”, que estaria pondo 
em prática a agenda de governo dos tucanos derrotados.
A resistência ao pacote de redução de gastos que prevê re-
gras mais duras para o seguro-desemprego e a pensão por 
morte é um exemplo. Mas nem se, de uma hora para a outra, 
todo o PT passar a aceitar a política fiscal contracionista, a 
tarefa do ministro da Fazenda será fácil.
Nas contas do economista Mansueto Almeida, transformar 
o déficit primário de 0,6% do PIB, em 2014, em superávit de 
1,2%, em 2015, exigirá um esforço de contenção de 126 bi-
lhões de reais, ou 2,3% do PIB. Isso dificilmente será atingido 
neste ano. “Desfazer os erros do primeiro mandato de Dil-
ma poderá levar dois anos”, diz o economista Renato Fragelli 
Cardoso, da Fundação Getulio Vargas.
Se, no fim do período, a tarefa for bem-sucedida, ainda assim 
os problemas continuarão. Eis uma verdade: a rigor, a reto-
mada da estabilidade não pode ser vista como um avanço 
institucional do país nem como a virada definitiva da página 
da estagnação.
Um estudo do professor de economia Cláudio Ferraz, da Pon-
tifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, indica que, se 
o problema da alocação de recursos fosse atenuado, a pro-
dutividade brasileira aumentaria pelo menos 10%. “A revisão 
dessas políticas independe de negociações com o Congresso 
e teria um efeito benéfico amplo”, diz Ferraz.
Enquanto não toma essas decisões, o Brasil corre o risco de 
exacerbar um processo de empobrecimento já em curso nos 
últimos três anos. Em valores corrigidos, o PIB per capita, que 
alcançou o pico de 12 530 dólares em 2011, deve ter caído 
para 10 763 dólares no ano passado.
Nos dois próximos anos, com a tendência à recessão ou ao 
crescimento inferior à taxa de expansão demográfica — in-
ferior a 1%, nível de país europeu —, é possível fechar 2016 
com riqueza per capita abaixo de 9 700 dólares.
Os brasileiros estão pagando caro pelos erros dos últimos 
anos. O que se espera é que as medidas acertadas cheguem 
quanto antes para que a conta não fique ainda maior. Meia 
década já se foi. Que tal salvar a outra metade?
“Quando o Brasil concluir o ajuste fiscal, voltará à situação de 
normalidade que tinha há alguns anos, antes que o atual gover-
no promovesse a desordem que promoveu”, diz Marcos Troy-
jo, diretor do BRICLab, um centro de estudos da Universidade 
Colúmbia, nos Estados Unidos. Melhor dizendo: o tempo gasto 
no ajuste fiscal nada mais é do que um atraso no desenvolvi-
mento do país. Serão anos, ou talvez a tal década, perdidos.
O lamentável é que, em vez de tapar buracos do passado, 
o Brasil deveria estar atuando na agenda da competitivida-
de — a saída apontada por especialistas ouvidos por EXAME 
para que o país entre num ciclo de crescimento sustentado. 
Não se trata de tarefa simples. Parte das medidas necessárias 
inclui a revisão de benefícios setoriais e reservas de mercado.
No comércio exterior, o Brasil é um dos países mais fechados 
do mundo. De 1993 a 2012, de acordo com levantamento 
do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, uma 
consultoria do Rio de Janeiro, o país editou 596 portarias de 
incentivos à produção local via exigências de conteúdo na-
cional em várias áreas. “Com o discurso de preservar o em-
prego, o país protege setores pouco produtivos”, diz Marcos 
Lisboa, vice-presidente da escola de negócios Insper.
Como desarmar o arcabouço protecionista? Uma vez que di-
versos setores responderam aos incentivos construindo fá-
bricas, e trabalhadores se especializaram, o que fazer com 
eles? “Trata-se de uma transição complicada, que poderá 
levar anos até ser concluída”, afirma Lisboa.
A economia integrada ao comércio exterior é uma carac-
terística em comum dos países que conseguiram fugir da 
chamada “armadilha da renda média” — a incapacidade de 
emergentes darem um salto de produtividade que os leve 
à condição de nações ricas. Segundo um estudo do Banco 
Mundial, de um grupo de 101 países de renda média, só 13 
conseguiram alçar o patamar desenvolvido até 2008.
Entre os bem-sucedidos estão Portugal, Israel, Irlanda, Japão 
e Coreia do Sul. “Integrar o setor produtivo à economia glo-
bal induz ganhos de inovação, que tornam toda a economia 
mais produtiva e competitiva”, diz o economista Otaviano 
Canuto, conselheiro sênior do Banco Mundial para países em 
desenvolvimento.
Outra característica em comum aos países que subiram de 
status é que todos eles adaptaram a economia para a transi-
ção — quer dizer, não repetiram políticas que tiveram êxito, 
mas se tornaram velhas. O Brasil, ao insistir no protecionis-
mo, parece querer reviver a antiga política de substituição 
de importações, usada na industrialização no século 20, e a 
resposta dada pelo presidente Ernesto Geisel à crise do pe-
tróleo nos anos 70, que foi aumentar os gastos públicos e a 
concessão de crédito para estimular a demanda.
Importante destacar: algumas mudanças não dependem de 
megarreformas que demandariam anos de negociação com 
o Congresso, como é o caso da trabalhista e da tributária. Um 
exemplo é a má alocação de recursos, como subsídios a em-
presas escolhidas, que pode estar impedindo o crescimento 
de empresas médias mais produtivas.
ANOTAÇÕES

Continue navegando