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Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders Significados de saúde em crianças de cinco anos: um estudo para a promoção da saúde na escola Eixo temático 1: Fundamentos e práticas educacionais Silvia Regina Baldo de Camargo 1 Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves 2 Agência Financiadora: CAPES Considerando-se a importância de conhecer os alunos para promover o aprendizado, este estudo tem como objetivo apreender os significados que crianças de cinco anos atribuem à saúde, na busca por contribuições para o trabalho de promoção da saúde na escola. Na Carta de Ottawa, Promoção da saúde é definida como o “processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo” (BRASIL, 2002, p.19). Assim, a saúde não deve ser um objetivo de vida, mas um recurso para a vida e a promoção da saúde vai em direção a um bem-estar global, não sendo responsabilidade única do setor da saúde, mas de outros setores como a educação. A escola é um espaço relevante para a promoção da saúde, estimulando o aluno à autonomia, ao exercício de direitos e deveres e à opção por atitudes mais saudáveis e por qualidade de vida (BRASIL, 2002). 1 Mestranda do Programa de Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. sr.baldo10@gmail.com 2 Professora Doutora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas. mgoncalves@eerp.usp.br Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders Para Antunes; Antunes; Corvino (2008) é preciso desenvolver ações em saúde desde a pré-escola em que é observada maior influência das experiências propostas, o que leva a criança a incorporá-las em seus hábitos. Segundo Maranhão (2000), os educadores infantis devem ser preparados para desenvolverem um projeto pedagógico que valorize a dimensão histórica e cultural e que inclua conteúdos relativos à promoção da saúde, garantindo a qualidade da educação oferecida às crianças para se reduzir o risco de adoecimento. Essa proposta de escola promotora da saúde é um caminho a ser trilhado com o objetivo de criança, desde cedo, entender que tem o direito de conviver num ambiente saudável. Isso será possível a partir dos significados apropriados nas experiências já vividas, tendo a oportunidade de expressar-se e ressignificá-los. Dessa forma, surge uma questão fundamental no sentido de se explicar os significados atribuídos à saúde por crianças, pautada na visão histórico-cultural: Como falar sobre saúde sem saber o que isso significa para a criança e como ela constrói esses temas em seu imaginário? Para Vigotski (1998), a educação escolar apresenta um papel insubstituível na apropriação da experiência culturalmente acumulada pelo indivíduo ampliando seus conhecimentos. Este olhar estende-se à educação infantil, na medida em que essa contribui no processo de formação de conceitos nessa faixa etária. A relevância dessa pesquisa está na busca por contribuir com a educação em saúde na escola de educação básica, subsidiando educadores para atuarem na docência em saúde, a partir do conhecimento que seus alunos têm sobre o tema. É uma pesquisa qualitativa, cujo referencial teórico-metodológico é a abordagem histórico-cultural de L. S. Vygotsky (1998), que considera o aprendizado entre seres humanos imersos em uma mesma sociedade, atribuindo à escola e aos profissionais de educação fundamental papel, pois se tornam mediadores de aprendizagem e desenvolvimento infantis ao oportunizarem às crianças, a partir de seus próprios saberes, o acesso aos bens produzidos pela cultura. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP e realizada em 2012, numa escola no interior de Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders São Paulo, com vinte crianças de cinco anos, definidas por sorteio. Os dados foram construídos a partir do procedimento desenhos-estórias com tema (TRINCA, 1997); cada criança fez um desenho sobre saúde, contou uma história sobre o que desenhou e deu nome ao desenho. As histórias foram gravadas, transcritas e analisadas segundo o método explicativo de Vigotski (1998); os desenhos e títulos organizados por temas foram analisados e interpretados a partir do olhar histórico-cultural. Os resultados apontam para uma concepção de saúde construída a partir da mediação da criança com o mundo, na percepção dos significados (VIGOTSKI, 1998) sobre saúde em relação ao seu contexto histórico-cultural, ou seja, muitas delas significam saúde a partir de suas vivências sobre a doença, relacionada à boa ou má alimentação, ao modo pelo qual vivem, à saúde bucal ou ao bem-estar do sujeito. É o que indica as falas de alguns sujeitos, organizadas por temas: Fala 1 - “Ela ficou na chuva, ela ficou com gripe, depois o médico cuidou dela e ela ficou em casa. (...) aí depois ela melhorou (...) Porque ela tomou remédio (...) Pra não ficar mais com gripe.” (Nicole). Aqui a criança expressa suas vivências sobre a doença e como se obtém a saúde de volta por meio de remédios e de cuidados médicos. Fala 2 – “(...) o porquinho viu uma loja de doce. (...) pegou um monte de doces, chupou... foi no parque, chupou todos que ele comprou. (...) Aí ele ficou com muita dor de barriga. Ficou triste...” (Luíza). Nessa fala, a criança relaciona saúde com a alimentação, afirmando que a má alimentação pode prejudicar a saúde. Fala 3 – “Um dia eles estava num barco, fazendo uma viagem. E eles estavam em pé no barco. E aí as águas... estava toda colorida. (...) Aí, quando a menina viu, já tava chegando (...) Na praia.” (João Pedro). Nesse trecho é notada a relação da saúde ao modo de vida e ao bem-estar do sujeito. Concluiu-se que esses significados que as crianças trazem sobre a saúde são apropriados por elas através das relações que estabelecem com os adultos que as cercam, envolvidas que estão na vivência da saúde como modelo biológico: é preciso tratar para curar a doença e se ter saúde. Por outro lado, esses significados mostram a saúde como bem-estar global, como aponta a carta de Ottawa. Assim esses significados podem nortear professores de educação básica nos trabalhos de educação em saúde e Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders promoção da saúde na escola, num esforço de fazerem os alunos apropriarem-se do conceito universal de saúde a partir de suas concepções e vivências. A pesquisa pretende contribuir com o tema Promoção da Saúde na Educação Básica, auxiliando os professores do nível de educação infantil a conhecerem o que as crianças sabem sobre saúde, levando-as a construir significações sobre o tema e oportunizando situações que as despertem para a curiosidade, a criatividade e a crítica sobre o “ser saudável”. Referências ANTUNES, L. S.; ANTUNES, L. A. A.; CORVINO, M. P. F. Percepção de pré- escolares sobre saúde bucal. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo. 2008 jan./abr.; 20(1) p. 52- 59. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde. / Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Projeto Promoção da Saúde. Brasília, DF, 2002, 56 p. MARANHÃO, D. G. O processo saúde-doença e os cuidados com a saúde na perspectiva dos educadores infantis. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 16 (4), p.1143-1148, out./dez., 2000. TRINCA, A. M. T. Ampliação e expansão.In: TRINCA, W. Formas de investigação clínica em psicologia. São Paulo: Vetor, 1997. (Cap. 2). VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução José Cipolla Neto et al. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, 191 p. Palavras-chave: Promoção da saúde; Educação infantil; Saúde escolar.
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