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CONSTITUIÇÃO E PROCESSO CIVIL

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PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
1 
CONSTITUIÇÃO E PROCESSO CIVIL 
 
GARANTIA DO TRATAMENTO PARITÁRIO DAS PARTES1 
 
 
 
 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
 
Mestre e Doutorando em Direito Processual na USP. 
Professor Universitário. Advogado em São Paulo. 
 
 
1. Introdução: Constituição Federal e direito 
processual - 2. Princípios constitucionais - 3. 
Tratamento paritário: premissas - 4. Tratamento 
paritário e devido processo legal - 5. Tratamento 
paritário e contraditório - 6. Conclusão parcial e 
encaminhamento de novas questões - 7. Igualdade 
e imparcialidade - 8. Igualdade, acesso à justiça e 
assistência judiciária - 9. Igualdade substancial: a 
inversão do ônus da prova no Código de Defesa do 
Consumidor - 10. Igualdade nas relações 
internacionais - 11. Igualdade e processo de 
execução - 12. Igualdade, Fazenda Pública e 
Ministério Público: I) introdução; II) prazos 
processuais; III) reexame necessário; IV) 
honorários advocatícios; V) outros 
inconstitucionais privilégios; VI) casos em que não 
há ofensa à igualdade; VII) conclusão parcial –
 13. Conclusão 
 
 
1. Introdução: Constituição Federal e direito processual 
 
Grande importância tem merecido o estudo do 
chamado direito processual constitucional, por meio do qual o operador 
do direito passa a se preocupar com os grandes temas constitucionais do 
processo civil. Torna-se, portanto, relevante a perspectiva do sistema 
 
1 - Estudo atualizado e publicado originalmente no livro Garantias constitucionais 
no processo civil, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1999, pp. 91-131, 
coordenação de José Rogério Cruz e Tucci. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
2 
processual a partir da observância dos princípios, garantias e regramentos 
que a Constituição impõe. Exige-se, sempre com uma visão crítica de 
todo o ordenamento jurídico, que as regras relacionadas com o processo 
subordinem-se às normas constitucionais de caráter amplo e 
hierarquicamente superiores. O respeito aos preceitos constitucionais 
torna-se premissa ética na aplicação do direito processual. Mas a própria 
ordem constitucional também sofre influências do processo, na medida 
em que será ele o instrumento de efetivação e preservação das normas 
constitucionais. Essas assertivas parecem muito óbvias, mas têm 
importância ao revelarem uma preocupação diversa de outra tradicional, 
mas igualmente relevante, que diz respeito apenas e tão-somente ao 
estudo interno do sistema processual. Com isso, o processo passa a ser 
visto como técnica informada por objetivos e ideologias priorizados pelo 
direito processual e que tem como meta a efetivação do valor do justo, 
pacificando as pessoas à medida em que restam cumpridos os anseios 
políticos e sociais eleitos pela nação. 
O presente estudo preocupa-se com a análise da 
igualdade no processo civil a partir da Constituição Federal e sua inserção 
no sistema como verdadeiro princípio a ser observado por todo o 
ordenamento jurídico. 
 
 
2. Princípios constitucionais 
 
Utilizado de maneira usual pelos estudiosos e 
operadores do direito, o termo princípio na ciência jurídica até de certa 
forma vulgarizou-se. Princípio vem do latim principium e tem 
significação variada. Por um lado, quer dizer começo, início, origem, 
ponto de partida; de outro, regra a seguir, norma. No plural, o termo 
princípios tem ampla significação, ora se referindo a elementos, ora a 
rudimentos ou mesmo a convicções.2 Na ciência jurídica, os princípios 
 
2 - BUENO, Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa, 6º v., p. 3.193. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
3 
têm a grande responsabilidade de organizar o sistema e atuar como elo de 
ligação de todo o conhecimento jurídico com a finalidade de atingir 
resultados eleitos; por isso, são também normas jurídicas, mas de natureza 
anterior e hierarquicamente superior às normas comuns (ou “normas não 
principais”); servem de base axiológica e estruturante do conhecimento 
jurídico, sendo fontes de sua criação, aplicação ou interpretação. 
As normas por assim dizer comuns são, como conseqüência, subordinadas 
aos princípios. Para o sistema jurídico, se princípio não for norma 
nenhuma relação tem com o direito.3 Com tal premissa, é correto afirmar 
que “os princípios jurídicos são os pensamentos diretores de uma 
regulação jurídica existente ou possível”, apresentando uma função 
positiva e outra negativa: a primeira “consiste no influxo que exercem 
nas sucessivas decisões e, desse modo, no conteúdo de regulação que tais 
decisões criam”; a segunda “consiste na exclusão dos valores 
contrapostos e das normas que assentam sobre tais valores”.4 
Portanto, os princípios devem ser utilizados 
como critério superior de interpretação das demais normas, orientando 
sua aplicação no caso concreto. Além disso, exercem a função criativa, na 
medida em que impõem ao legislador a função de criar novas regras que 
complementem o sistema ou micro-sistema em que estão inseridos. 
Mas, antes de tudo, são harmônicos, não se admitindo choques entre eles; 
um nunca poderá eliminar outro. Por isso, devem procurar ser 
vetorizados, potencializando suas forças na busca da real intenção do 
sistema jurídico em que se situam. Entre os princípios não se admite 
antinomia jurídica, ou seja, não é possível a extirpação de um deles do 
 
3 - Cfr. COMPARATO-GRAU, “Liberdade de empresa e proteção ao consumidor”, pp. 138-139. 
Relativamente aos princípios gerais de direito, GRAU observa que são proposições 
descritivas (e não-normativas), por meio das quais os juristas referem, sinteticamente, o 
conteúdo e as grandes tendências do direito positivo (Contribuição para a 
interpretação e a crítica da ordem econômica na Constituição de 1.988, n. 34, p. 
95). V. também GRAU, com arrimo em JERZY WRÓBLEWSK (“Principes du droit”, p. 
317) , “Interpretando o Código de Defesa do Consumidor; algumas notas”, n. 5, p. 183, 
com destaque para p. 188, e Contribuição para a interpretação e a crítica da ordem 
econômica na Constituição de 1.988, n. 34, pp. 94-7. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
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4 
sistema. Quando duas normas jurídicas estão em confronto, uma delas é 
simplesmente excluída do ordenamento jurídico. No entanto, quando dois 
princípios estão em conflito nenhum deles é expulso ou excluído do 
sistema.5 Na realidade, há uma conjugação dos objetivos neles contidos 
ou, quando isso não for possível, a escolha do princípio prevalente sobre 
o caso concreto. Nesses casos, a fundamentação de tal opção é muito mais 
política e social do que jurídica; há verdadeiramente uma escolha do 
aplicador do direito ou do intérprete por um deles em detrimento do que a 
ele, diante de uma situação substancial, se opõe. Tal tipo de conflito não 
resulta em antinomia jurídica. Exemplificando, há efetivamente uma 
antinomia jurídica imprópria quando há normas que protegem valores 
opostos como liberdade e segurança (BOBBIO alude à antinomia de 
princípio, ao lado da antinomia de valoração e da antinomia teleológica).6 
Enquanto a antinomia de regras é insolúvel ou real, exigindo a aplicação 
de critério cronológico (lex posterior derogat priori), hierárquico (lex 
superior derogat inferiori) e de especialidade (lex specialis derogat 
generali), a antinomia de princípios é solúvel ou aparente.7 Os conflitos 
entre as regras situam-se no plano da validade; os conflitos entre 
princípios verificam-se na dimensão do peso.84 - KARL LARENZ, Derecho justo, pp. 32-3. V. também, CANOTILHO, Direito constitucional, 
p. 171. 
5 - KARL ENGISH entende que as contradições entre princípios são inevitáveis e surgem numa 
ordem jurídica em razão de, na constituição desta, tomarem parte diferentes idéias 
fundamentais entre as quais é possível se estabelecer um conflito (Introdução ao 
pensamento jurídico, p. 318). As diversas concepções de idéias fundamentais são 
resultantes dos diferentes critérios políticos e sociais adotados pelo constituinte ou pelo 
legislador. Por isso, a solução de um caso concreto exige verdadeira opção teleológica, 
ou seja, a escolha de certos critérios políticos e sociais com vista a atingir determinados 
resultados, dentro de parâmetros que o próprio ordenamento jurídico estabelece. 
6 - DINIZ, Conflito de normas, p. 27. GRAU cita, como antinomia jurídica imprópria, a 
situação em que há preponderância do interesse social sobre o direito adquirido. 
O grande e inegável problema do exemplo dado é de se definir o conceito e a extensão 
de interesse público. De todo modo, fica claro que nenhum dos dois valores, interesse 
público e direito adquirido, será excluído do sistema (v. Contribuição para a 
interpretação e a crítica da ordem econômica na Constituição de 1.988, n. 41, pp. 
114-6). 
7 - Teoria do ordenamento jurídico, pp. 91-7. 
8 - Esse é o entendimento de ROBERT ALEXY (Theorie der Grundrech, p. 76, que remete o 
leitor à obra de DWORKIN, Taking rights seriously), apud GRAU, Contribuição para 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
5 
Ninguém pode negar o caráter axiológico dos 
princípios. Desse modo, é correto afirmar-se que a maneira de interpretá-
los evolui de acordo com o tempo; valores atuais eleitos pela nação 
definirão o que precisamente se tornou importante, isto é, quais são os 
resultados escolhidos e que devem preponderar. A partir daí, dá-se um 
novo enfoque à observância dos princípios ou, por que não dizer, um 
amálgama às necessidades emergentes das normas jurídicas 
hierarquicamente superiores consagradoras de tais princípios, mediante a 
adequação da técnica processual às regras de direito material. Um 
exemplo do que se procura demonstrar é a crescente necessidade de 
coletivização da tutela jurisdicional, que tem como um de seus corolários 
implementar a participação do chamado “bem-estar social”, ou seja, dos 
bens que os homens, através de um processo coletivo, vão acumulando no 
tempo. Será a técnica processual, conjugada com o direito material, que 
permitirá a participação coletiva desse bem-estar. Com a Constituição de 
1.988, o Poder Judiciário passa a ter um controle da administração pública 
não somente tendo por escopo a tutela individual mas, também, a tutela 
coletiva. A idéia de que ninguém pode estar em juízo, em nome próprio, 
para a defesa de interesses alheios, vai gradativamente se relativizando, 
assim como a limitação dos efeitos da sentença às partes do processo em 
que foi proferida (eficácia ultra partes). Há uma verdadeira 
transmigração do individual para o coletivo (BARBOSA MOREIRA). Mais 
ainda, com a participação do Judiciário em todos os campos, inclusive na 
tutela dos direitos do consumidor, constata-se verdadeira “tendência a 
uma judicialização de todos os setores da vida humana”.9 
Nos temas fundamentais do direito processual 
moderno merecem grande destaque os princípios e garantias consagrados 
na Constituição Federal, pois a tutela constitucional do processo realiza-
se através de sua observância, que estabelecerá padrões políticos e éticos 
 
a interpretação e a crítica da ordem econômica na Constituição de 1.988, n. 42, p. 
116. 
9 - FERREIRA FILHO, “O Poder Judiciário na Constituição de 1.988”, p. 13. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
6 
destinados a também traçar o modo-de-ser do processo. Esse é o sentido 
hierárquico vertical que se espera; no entanto, algumas vezes não há 
como negar o sentido inverso, ou seja, a influência da tutela 
constitucional do processo na própria interpretação do texto 
constitucional. Nesses casos, os valores atuais, mediante o exercício 
contínuo e dinâmico da jurisdição, podem alterar o significado antes 
atribuído a alguma norma constitucional. A efetivação dos preceitos 
contidos na Constituição Federal dá-se através da realização do processo; 
a este caberá pôr em prática tais preceitos e impor verdadeiro controle 
sobre a vida das normas constitucionais. Assim ocorre no chamado 
controle indireto ou difuso, realizado diuturnamente pelo juiz ao examinar 
a compatibilidade existente entre o texto constitucional e determinado ato, 
e no controle direto ou concentrado, exercido pelo Supremo Tribunal 
Federal na ação direta de inconstitucionalidade. Em ambos os casos a 
incompatibilidade resulta no afastamento (temporário ou definitivo) do 
ato e na preservação da ordem constitucional. 
 
 
3. Tratamento paritário: premissas 
 
Exatamente por ser um dos pilares da 
democracia moderna, a igualdade é multifacetária, apresentando-se de 
modo diverso conforme a natureza da situação jurídica, da situação social 
e da conduta a ser regulada.10 De todo o modo, seu primeiro e principal 
destinatário é o legislador, já que “por mais discricionários que possam 
ser os critérios da política legislativa, encontra no princípio da igualdade 
a primeira e mais fundamental de suas limitações”.11 No processo, a 
igualdade constitui princípio fundamental e revela-se no tratamento 
paritário das partes, pois é e sempre foi historicamente objetivada, 
progressivamente introduzida na consciência jurídica e encontra recepção 
expressa no texto constitucional. À igualdade é inerente o caráter de 
 
10 - REALE, Lições preliminares de direito, p. 124. 
11 - CAMPOS, Direito constitucional, t. II, p. 30. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
7 
idéia-mestra ou ponto de partida, pertencendo à ordem jurídica positiva 
consoante o previsto no caput do art. 5º da Constituição Federal. Não é à-
toa que o legislador constituinte iniciou com o direito à igualdade a 
relação dos direitos individuais; “dando-lhe o primeiro lugar na 
enumeração, quis significar expressamente, embora de maneira tácita, 
que o princípio da igualdade rege todos os direitos em seguida a ele 
enumerados”. 12 No Código de Processo Civil, o art. 125, inc. I, é muito 
claro e objetivo ao estabelecer como dever primário do juiz o tratamento 
paritário das partes e dos procuradores. Por tudo isso, não há como deixar 
de erigir a igualdade à condição de princípio, constituindo importante 
fundamento para a interpretação, integração, conhecimento e aplicação do 
direito positivo.13 A responsabilidade por sua preservação, a fim de que 
arbitrariedades não sejam cometidas, é principalmente do legislador e do 
juiz, responsáveis em grande parte pela criação e interpretação do direito. 
A cláusula garantidora da isonomia, inserida no sistema jurídico, tem por 
finalidade coibir abusos na elaboração e aplicação da norma.14 
No processo, a isonomia revela-se na garantia do 
tratamento igualitário das partes, que deve ser vista não apenas sob o 
aspecto formal, mas também (e principalmente) analisada pelo prisma 
 
12 - FRANCISCO CAMPOS, Direito constitucional, v. II, p. 12. Positivada pela primeira vez na 
Virginia Bill of Rights, de 12 de junho de 1.776, a isonomia era assim tratada: “all men 
are by nature equally freeand independent and have certain inerent rights”. Logo em 
seguida, a Constituição de Massachussets, de 2 de março de 1.780, assim cuidava do 
tema: “all men are born free and equal and have certain inerent rights”. Na França, a 
Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen de 1.789 cuidava da igualdade no 
art. 1o: “les hommes naissent et demeurent libres et égaux en droits”. Por fim, a 
Constituição Francesa de 1.791 previa a igualdade no seu preâmbulo: “l’Assemblée 
nationale... abolit irrévocablement les institutions qui blessaient la liberté et l’égalité 
des droits. Il n’a plus ni noblesse, ni pairie, ni distinctions héreditaires, ni distinction 
d’ordres...”. No Brasil, a Constituição do Império de 1.824 assim dispunha sobre a 
igualdade: “a lei será igual para todos quer proteja, quer castigue, e recompensará em 
proporção dos merecimentos de cada um” (art. 179, 13). Já a Constituição Republicana 
de 1.891, disciplinava o tema no § 2o do art. 72: “todos são iguais perante a lei. A 
República não admite privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza, e 
extingue as origens honoríficas existentes e todas as suas prerrogativas e regalias bem 
como os títulos nobiliárquicos e de conselho”. Nas demais Constituições, de 1.937 (art. 
122, 1), de 1.946 (art. 141, § 1o) e de 1.969 (art. 153, § 1o ), a isonomia vem positivada 
de forma idêntica: “todos são iguais perante a lei”. 
13 - Cfr., sobre os princípios jurídicos fundamentais e em sentido semelhante, CANOTILHO, 
Direito constitucional, p. 171. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
8 
substancial. A paridade das partes no processo tem por fundamento o 
escopo social e político do direito; não basta igualdade formal, sendo 
relevante a igualdade técnica e econômica, pois elas também revelarão o 
modo-de-ser do processo.15 Enquanto a igualdade formal diz respeito à 
identidade de direitos e deveres estatuídos pelo ordenamento jurídico às 
pessoas, a igualdade material leva em consideração os casos concretos 
nos quais essas pessoas exercitam seus direitos e cumprem seus deveres.16 
Ao julgador compete assegurar às partes a paridade de tratamento, 
cabendo-lhe observar e fazer observar a igualdade entre os iguais e a 
desigualdade entre os desiguais, na exata medida das desigualdades 
presentes no caso concreto. Como observa KELSEN, “a igualdade dos 
indivíduos sujeitos à ordem jurídica, garantida pela Constituição, não 
significa que aqueles devam ser tratados por forma igual nas normas 
legisladas com fundamento na Constituição, especialmente nas leis. Não 
pode ser uma tal igualdade aquela que se tem em vista, pois seria 
absurdo impor os mesmos deveres e conferir os mesmos direitos a todos 
os indivíduos sem fazer quaisquer distinções, por exemplo, entre crianças 
e adultos, sãos de espírito e doentes mentais, homens e mulheres”.17 
A igualdade está estreitamente vinculada ao 
devido processo legal, ao contraditório e à imparcialidade. Há, por assim 
dizer, uma importante conjugação de princípios que contribuem para 
formar um todo dotado de coerência teleológica, atribuindo desse modo 
um propósito comum às normas, em consonância com os anseios 
politicamente eleitos pela nação.18 
 
 
14 - SAN TIAGO DANTAS, “Igualdade perante a lei e ‘due process of law’”, p. 58. 
15 - Cfr, em sentido semelhante, CALAMANDREI, Istituzioni di diritto processuale civile, p. 
231. 
16 - V. ÁLVARO MELO FILHO, “O princípio da isonomia e os privilégios processuais da 
Fazenda Pública”, p. 168. 
17 - Teoria pura do direito, p. 154. 
18 - Aliás, como bem observado por FERRAZ JR., “o pressuposto e, ao mesmo tempo, a regra 
básica dos métodos teleológicos é de que sempre é possível atribuir-se um propósito às 
normas” (Introdução ao estudo de direito - técnica, decisão, dominação, p. 291). 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
9 
 
4. Tratamento paritário e devido processo legal 
 
A igualdade interage com o devido processo 
legal, pois o exercício do poder estatal só se legitima através de resultados 
justos e conformes com o ordenamento jurídico, por meio da plena 
observância da ordem estabelecida, com as oportunidades e garantias que 
assegurem o respeito ao tratamento paritário das partes. Tal é o 
direito ao processo justo,19 ou seja, o direito à efetividade das normas e 
garantias que as leis do processo e de direito material oferecem. 
A real consecução do acesso à justiça e do 
direito ao processo exige o respeito às normas processuais portadoras de 
garantias de tratamento isonômico dos sujeitos parciais do processo. 
Ao estabelecer a ordem de atos a serem praticados lógica e 
cronologicamente, com a observância de todos os requisitos inerentes a 
cada um deles e a exigência da realização de todos, a lei pretende atingir 
um resultado de modo a tutelar quem tem razão. Isso significa atingir a 
ordem jurídica justa,20 que tem estreita relação com o devido processo 
legal, pois igualmente pode ser vista como meio e fim; se de um lado é a 
própria abertura de caminhos para a obtenção de uma solução justa, de 
outro, constitui a própria solução justa que se espera – justa porque 
conforme com os padrões éticos e sociais eleitos pela nação.21 Daí por 
que o devido processo legal é uma cláusula de abertura do sistema na 
busca por resultados formal e substancialmente justos. Tal é a amplitude 
que se espera dessa garantia de meio e de resultado, que desenha o perfil 
democrático do processo brasileiro na obtenção da justiça substancial. 
Determinado modelo procedimental contido na 
lei absorve em si a efetividade do direito ao devido processo adequado, 
 
19- Cfr. GRINOVER, O processo em sua unidade, cap. 8, nn. 5-6, pp. 138-139. 
20 - A expressão é de WATANABE (v. “Assistência Judiciária e Juizado Especial de Pequenas 
Causas”, p. 161 e ss.). 
21 - Em sentido semelhante, v. DINAMARCO, “Superior Tribunal de Justiça e acesso à ordem 
jurídica justa”, p. 251. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
10 
com a prática de todos os atos a ele inerentes, além do direito ao exame 
das provas constantes dos autos ou a serem a eles carreadas, e produção 
de alegações endereçadas à convicção do julgador. Prejudicando a 
participação igualitária das partes litigantes, desvios ou omissões do 
modelo procedimental previsto na lei violam frontalmente as garantias do 
devido processo legal e do tratamento paritário das partes no processo.22 
Desse modo, a garantia constitucional da igualdade deve estar presente 
em todas as etapas do processo, de sorte que ninguém seja privado de 
seus direitos, a não ser que no procedimento se constatem todas as 
formalidades e exigências em lei previstas. Cumprir adequadamente o 
procedimento instituído em lei, com o tratamento isonômico das partes, 
significa, do lado dos sujeitos parciais do processo e de toda a 
comunidade, preservar os valores democráticos eleitos e legitimar o 
provimento jurisdicional; do ponto-de-vista do juiz, estar consciente de 
seu dever de pacificar com justiça os conflitos, não se limitando a um 
laissez faire da filosofia liberal, incompatível com o Estado social de 
direito da atualidade e com a realização do processo adequado e justo. O 
processo é um instrumento a serviço dos objetivos do Estado e não pode 
ficar ao bel prazer dos interesses e condutas das partes litigantes. 
A garantia constitucional do devido processo 
legal exige que se dê às partes a tutela jurisdicional adequada. Além 
disso, aos sujeitos do processo devem serconferidas amplas e iguais 
oportunidades para alegar e provar fatos inerentes à consecução daquela 
tutela. Para efetividade dessa garantia, é indispensável cumprir as 
exigências procedimentais trazidas na lei. Assim, quando se pretende a 
 
22- Sobre a origem da cláusula do "due process of law" e seu significado, V. SAMPAIO DÓRIA, 
Direito constitucional tributário e "due process of law" - Ensaio sobre o controle 
da razoabilidade das leis, pp. 1-34; NERY JÚNIOR, Princípios do processo civil na 
Constituição Federal, n. 3, pp. 25-37. Para esse autor, com razão, "bastaria a norma 
constitucional haver adotado o princípio do due process of law para que daí 
decorressem todas as conseqüências processuais que garantiriam aos litigantes o direito 
a um processo e uma sentença justa. É, por assim dizer, o gênero do qual todos os 
demais princípios constitucionais do processo são espécies" (op. cit., p. 25). V. também 
CRUZ E TUCCI, "Garantia da prestação jurisdicional sem dilações indevidas como 
corolário do devido processo legal", p. 107, e LAURIA TUCCI e CRUZ E TUCCI, 
Constituição e processo, n. 6, p. 17. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
11 
tutela jurisdicional preventiva, são necessárias todas as medidas 
destinadas a evitar danos ao invés de permitir que eles ocorram para 
depois buscar sua reparação, sopesando o juiz as conseqüências de tais 
medidas sobre o eventual direito da parte contrária. Já a 
tutela ressarcitória visa a recompor situações de prejuízo já efetivadas, 
mas que deverão ser delimitadas antes da adoção de medidas constritivas. 
Por sua vez, essa modalidade de proteção é incompatível com a tutela 
específica, que procura outorgar a situação ou bem da vida desejado pelo 
demandante.23 
O princípio-garantia do devido processo legal 
não pretende apenas a observância do procedimento estatuído na lei, com 
a realização de todos os atos inerentes a ele: pretende também a 
efetividade da tutela jurisdicional, concedendo proteção àqueles que 
merecem e necessitam dela. O direito material somente se efetiva se lhe 
corresponderem instrumentos adequados de tutela,24 com um processo 
justo mediante o tratamento igualitário das partes. Nesse ponto reside a 
preocupação do processualista moderno com o resultado jurídico-
substancial do processo, seja para o demandante como para o demandado, 
com a relativização do binômio direito-processo.25 Observado o modelo 
procedimental previsto em lei, com o tratamento paritário das partes, a 
tutela jurisdicional será concedida à parte que tiver razão em suas 
alegações, de acordo com o disposto no direito material. A tutela, vista 
como proteção, independe do resultado do processo; está presente na 
extinção do processo com ou sem julgamento do mérito. A atuação 
jurisdicional do Estado ocorre na declaração de existência ou inexistência 
do direito afirmado pelo autor ou de ausência de uma das condições da 
ação e dos pressupostos processuais. Já a tutela jurisdicional está 
 
23- V. BARBOSA MOREIRA, "Tutela sancionatória e tutela preventiva", pp. 24-25. 
24- GRINOVER, "A tutela preventiva das liberdades: habeas corpus e mandado de segurança", 
n. 1, p. 70. Cfr. também BEDAQUE, Direito e processo, n. 7, pp. 24-26. 
25- Cfr. importante trabalho de MONTESANO, Le tutele giurisdizionali dei diritti. Cfr. 
também DINAMARCO, "Direito e processo", pp. 12-37, esp. pp. 34-37. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
12 
reservada apenas para os casos que mereçam ser amparados pelo direito 
material. O processo é um instrumento à disposição das partes para que o 
Estado cumpra uma de suas funções, mais precisamente a jurisdição, 
chegando a um resultado justo. Por isso, a noção de efetividade da tutela 
jurisdicional coincide com a de pleno acesso à justiça.26 Esse 
entendimento vai ao encontro à conhecidíssima máxima de CHIOVENDA 
de que na medida do que for praticamente possível, o processo deve 
proporcionar a quem tem um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que 
ele tenha o direito de receber.27 
Na experiência concreta, não se atinge o devido 
processo legal e a plenitude da igualdade jurídica sem um ordenamento 
jurídico igualitário e sem que as partes tenham acesso à informação plena 
sobre o conteúdo das normas que o compõem.28 Preservados estarão a 
igualdade e o devido processo legal quando, no caso de procedência 
parcial da demanda, o juiz fixa percentuais distintos de honorários de 
sucumbência, considerando precisamente a parte do litígio em que cada 
um ficou vencido. A sucumbência recíproca deve considerar a verdadeira 
extensão do êxito obtido com a propositura da demanda (CPC, arts. 20 e 
21).29 
O devido processo legal objetiva também à 
limitação política do poder estatal como um todo, mediante uma série de 
condicionamentos e restrições legítimas ao exercício das funções do 
Estado moderno. Relativamente à jurisdição, tais limitações referem-se a 
situações substanciais e às formas dos atos, mediante o adequado 
 
26- Cfr. YARSHELL, Tutela jurisdicional específica nas obrigações de declaração de 
vontade, pp. 19-20. 
27- As palavras constantes do texto não foram exatamente aquelas proferidas por CHIOVENDA, 
que foram propositadamente adaptadas com a finalidade de destacar o escopo 
instrumental do processo e se tornaram verdadeiro slogan do direito processual 
moderno: "il processo deve dare per quanto è possibile praticamente a chi ha um diritto 
tutto quello e proprio quello ch'egli ha diritto di conseguire" (Istituzioni di diritto 
processuale civile, v. I, n. 12, pp. 41-42). 
28- Cfr. WATANABE, "Assistência Judiciária e o Juizado Especial de Pequenas Causas", p. 162. 
29 - V. CHIOVENDA, La condanna nelle spese giudiziari, nn. 270-274, pp. 268-276. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
13 
processo legal, no qual o julgador deve fazer cumprir as normas 
constitucionais e infra-constitucionais para que as partes tenham no 
processo, administrativo ou judicial, tratamento paritário. Em última 
análise, a legítima limitação ao poder, mediante o due process of law, visa 
a impedir que a desigualdade impere no processo, tornando-o justo na 
exata medida em que assegure às partes participação paritária e 
proporcione o resultado esperado pela sociedade. 
 
 
5. Tratamento paritário e contraditório 
 
Na síntese tantas vezes difundida, MENDES DE 
ALMEIDA define o princípio do contraditório como sendo a expressão da 
"ciência bilateral dos atos e termos do processo e possibilidade de 
contrariá-los".30 Hodiernamente, o contraditório representa verdadeira 
meta política de legitimação do provimento jurisdicional ou 
administrativo mediante a outorga, pelo ordenamento jurídico, de 
garantias de participação igualitária das partes no processo. Ao juiz, 
sujeito também do contraditório, cabe observar e fazer observar essas 
garantias. Por isso, contraditório e ampla defesa relacionam-se tão 
intimamente com o tratamento paritário das partes no processo, pois nele 
se inclui a igualdade de oportunidades de participação, absolutamente 
necessária para a defesa dos direitos em juízo. 
Como direito de pedir a tutela jurisdicional para 
determinada pretensão fundada em direito material, é possível afirmar-se 
que a ação tem uma espécie de réplica na exceção, na qual o réu tem o 
direito de pedir que a tutela jurisdicional pedida pelo autor seja denegada 
por não se conformar com o direito objetivo.31 A exceção é resultado da 
bilateralidade do processo e determina que deve haver tratamentoigual ao 
sujeito da ação e ao sujeito da exceção. É absolutamente incompatível 
 
30- Cfr. A contrariedade na instrução criminal, p. 110. 
31- CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO, Teoria Geral do Processo, n. 166, pp. 228-9. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
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14 
com a isonomia e com os próprios princípios da tutela jurisdicional um 
tratamento unilateral no processo. Assim, a exceção é um direito 
processual análogo à ação.32 É importante afastar a ultrapassada 
concepção do processo civil do autor, hoje com nova roupagem, nos 
casos em que sem fundamento suficiente outorga-se a antecipação de 
tutela (CPC, arts. 273 e 461, § 3º), ou seja, o direito de ação é igual ao 
direito de defesa, diferindo apenas na faculdade de o demandante ter 
iniciado o processo. A circunstância, ocasional e exterior, de um dos 
sujeitos do processo ter promovido sua demanda antes do demandado não 
parece por si só suficiente a justificar a atribuição a um dos litigantes de 
armas diversas daquelas conferidas a outro.33 Ou seja, a paridade de 
armas entre os sujeitos parciais do processo deve ser uma realidade e 
realiza-se com a outorga, pelo julgador, a partir da observância dos 
poderes e dos limites que o ordenamento lhe confere e impõe, de meios 
processuais idênticos às partes para fazerem valer suas próprias razões. 
O contraditório está precisamente no direito de participação no processo, 
mediante a utilização de todas as armas legítimas e disponíveis destinadas 
a convencer o julgador a outorgar um julgamento favorável a quem tem 
um direito. 
O contraditório é preservado na medida em que 
a igualdade entre os litigantes o seja. É natural que a parte com melhores 
recursos quase sempre tem mais fácil acesso a informações processuais, 
está em condições mais favoráveis para recolher dados relevantes e valer-
se de provas, contrata os serviços de profissionais mais competentes. O 
poder econômico facilita a resistência à longa duração do processo. 
Pelo enfoque do direito processual 
constitucional, o poder (genérico, indeterminado e inexaurível) do autor 
agir em juízo e do réu apresentar defesa a qualquer pretensão de outrem 
 
32- LIEBMAN, "Intorno ai rapporti tra azione ed eccezione", p. 75. Cfr. também ADA P. 
GRINOVER, Os princípios constitucionais e o CPC, n. 9.1, p. 92. 
33 - ANDOLINA-VIGNERA, Il modelo costituzionale del processo civile italiano, p. 107. V. 
também HABSCHEID, Introduzione al diritto processuale civile comparato, p. 132. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
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15 
representa garantia fundamental para a defesa de seus direitos e compete a 
todos, indistintamente, como atributo imediato da personalidade e, por 
essa razão, pertence à categoria dos direitos democráticos, que se baseiam 
nas três colunas da liberdade, igualdade e fraternidade.34 Desse modo, não 
se pode conceber um processo unilateral, em que somente uma parte age 
no sentido de obter vantagem em relação ao adversário, sem que este 
apresente suas razões ou, pelo menos, sem que se lhe dê efetiva 
oportunidade de manifestar-se.35 Nessa linha está o moderno enfoque do 
processo como procedimento em contraditório, desenvolvido por 
FAZZALARI.36 Os poderes, faculdades, ônus, deveres e sujeições das partes 
no processo significam que estão em determinada relação jurídica 
exercendo o contraditório. Ou seja, fundamentalmente, o processo é 
caracterizado pelo contraditório estabelecido no procedimento, sendo a 
participação assegurada aos interessados por meio do exercício das 
faculdades e poderes que integram a relação jurídica processual.37 
CARNELUTTI entende que o princípio do 
contraditório seria a própria igualdade entre as partes, porquanto, como 
sustenta, "è fondato sulla duplicità e sulla opposizione delle parti, 
mirabilmente intuito in un versetto del Cantico dell'Eclesiastico (43, 22): 
'omnia duplicia, unum contra unum'; non esiste una parte senza l'altra e 
ciascuna parte si oppone all'altra".38 A igualdade de oportunidades de 
participação no processo diz respeito diretamente ao contraditório 
estabelecido entre as partes. Nesse mesmo sentido, como assevera 
 
34- Com acerto, LIEBMAN entende que o direito de participação das partes no processo deve 
ser elevado à categoria de direitos cívicos (Manual de direito processual civil, n. 73, 
esp. pp. 150-1). 
35- LAURIA TUCCI e CRUZ E TUCCI, Constituição de 1.988 e processo, p. 65. 
36- Cfr. Istituzioni di diritto processuale, com destaque para p. 29, e Il processo ordinario 
di cognizione, pp. 51-4. 
37- DINAMARCO, A instrumentalidade do processo, n. 8, p. 67. Na preparação do provimento 
jurisdicional, a participação das pessoas que poderão afinal ser atingidas por ele em sua 
esfera de direitos é expressa pelo contraditório, que transparece nos atos com que cada 
uma procura influir no espírito do julgador, objetivando um pronunciamento favorável 
(cfr. ainda, DINAMARCO, "Institutos fundamentais do direito processual", n. 37, p. 64-
72). 
38- Diritto e processo, n. 59, p. 99, nota 2. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
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16 
GIMENO SENDRA, o princípio do contraditório deve ser completado pelo 
da igualdade no processo, pois "no es suficiente que exista contradicción 
en el proceso, sino que, para que ésta sea efectiva, se hace necesario que 
ambas partes tengan las mismas posibilidades de ataque y defensa".39 
Igualdade e contraditório estão preservados quando o juiz outorga às 
partes prazos idênticos para a apresentação de memoriais e vista deles 
após sua juntada aos autos. Esse mesmo escopo de preservação ocorre 
quando o juiz, sensível às circunstâncias do caso concreto, permite a 
manifestação da parte contrária nos casos de embargos de declaração de 
nítido caráter infringente. Plenitude e efetividade do contraditório revelam 
a necessidade de utilização de todos os meios necessários para impedir 
que a diferença de posições no processo possa influenciar no seu êxito, 
condicionando-o a uma distribuição desigual de forças, isto é, a 
possibilidade de obter a tutela de suas razões deve ser assegurada de 
forma equânime a quem age e a quem se defende em Juízo.40 
O contraditório traduz-se no binômio 
informação-reação, sendo relevante a observação de que a primeira é 
sempre necessária, sob pena de provocar nulidade dos atos e termos do 
processo e tornar ilegítimo o provimento final, e a segunda é apenas 
possível.41 É pressuposto da reação aos atos desfavoráveis a comunicação 
ou ciência dos atos e termos que ocorrem ao longo do processo. O culto à 
liberdade expresso na eventualidade da reação torna o objeto do processo 
sujeito a diferentes situações jurídicas. A possibilidade equânime de obter 
a tutela de suas razões somente se realizará com a participação dos 
litigantes em todas as fases do processo, mais precipuamente na instrução. 
Como observa BARBOSA MOREIRA, "é missão do processo conduzir o 
litígio a uma solução que corresponda, com a maior fidelidade possível, à 
 
39- Fundamentos del derecho procesal, p. 183. Sobre o contraditório e sua importância sob o 
enfoque constitucional, ver ainda de GIMENO SENDRA, Constitución y proceso, cap. 5, 
"El derecho de defensa", pp. 88 e ss.. 
40- Cfr. GRINOVER, "O conteúdo da garantia do contraditório", p. 18. 
41- DINAMARCO, “Princípios e garantias no processo”. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
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17 
realização do direito material no caso concreto; por conseguinte, a 
atividade judicial cognitiva,consciente embora das suas inevitáveis 
limitações, deve tender à reconstituição verdadeira dos fatos, pressuposto 
da correta aplicação das normas jurídicas. Ora, o conhecimento humano 
da realidade, unilateral e fragmentário por natureza, só pode tornar-se 
menos imperfeito na medida em que as coisas sejam contempladas por 
mais de um ângulo e se ponham em confronto as diversas imagens 
parciais assim colhidas".42A cognição é um ato prevalentemente de 
inteligência, pois consiste na atividade de considerar, analisar e valorar as 
alegações e as provas produzidas pelas partes litigantes em torno das 
questões de fato e de direito que são deduzidas no processo. Por essa 
razão, a cognição pressupõe, de um lado, a participação das partes por 
meio de um contraditório pleno, efetivo e equilibrado e, de outro, a 
participação do juiz na preparação do julgamento a ser realizado.43 
A observância de um procedimento apto a 
garantir às partes litigantes o amplo exercício dos poderes e faculdades 
inerentes ao princípio do contraditório legitima a autoridade dos 
provimentos jurisdicionais, destinados, em última análise, a disciplinar os 
interesses alheios. Aliás, "a democratização do exercício do poder através 
da participação pressupõe que esta participação se traduza, mediante sua 
canalização através de 'procedimentos justos', numa influência qualitativa 
no resultado das decisões".44 
O contraditório interessa aos sujeitos do 
processo e não apenas aos sujeitos parciais do processo, ou seja, o juiz 
deve participar ativamente da preparação do julgamento a ser proferido. 
Isso porque é escopo da jurisdição a pacificação social com justiça. O juiz 
tem deveres primários de promoção e preservação da igualdade 
 
42- BARBOSA MOREIRA, "A garantia do contraditório na atividade de instrução", p. 232. 
43- Cfr. WATANABE, Da cognição no processo civil, p. 41. Sobre a importância da 
participação das partes no processo e efetividade e plenitude do contraditório, cfr. ainda 
COMOGLIO, La garantia costituzionale dell'azione ed il processo civile, p. 152. 
44- CANOTILHO, Direito Constitucional, p. 1.024. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
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18 
substancial entre as partes, neutralizando eventuais desigualdades. Essa é 
a idéia contida no art. 125 do Código de Processo Civil.45 Por esse 
motivo, hoje é inegável a possibilidade de o juiz adotar de-ofício 
iniciativas relacionadas com a instrução da causa.46 A utilização das 
faculdades instrutórias previstas no ordenamento jurídico não é, em 
absoluto, incompatível com a preservação da imparcialidade do juiz. O 
objetivo do órgão jurisdicional de decidir com justiça permanece o 
mesmo, dando ganho de causa à parte que tenha razão em sua alegações. 
A produção da prova pode auxiliar o juiz a aferir qual das partes está certa 
e esse resultado não dever ser desprezado pelo direito.47 Os poderes 
instrutórios do juiz têm por escopo precípuo perseguir a verdade real, mas 
não há dúvida de que consistem também em uma forma de tutela à 
igualdade real entre as partes litigantes, principalmente nos casos de 
hiposuficiência econômica de uma delas, garantindo o contraditório 
efetivo. Assim é que o correto uso dos poderes instrutórios pelo juiz tem 
por finalidade última suprir inferioridades relacionadas com a carência de 
recursos e de informações, ou mesmo com a dificuldade de obter o 
patrocínio de advogados mais capacitados.48 
 
45- DINAMARCO, “Princípios e garantias do processo”, texto cedido aos alunos do curso de 
pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 
46- "La facultad que se otorga al juez es la de esclarecer esos hechos. Esclarecer significa 
etimológicamente 'poner en claro una cosa'. En virtud de ese poder el juez puede 
ordenar las diligencias necesarias a esos efectos. Y así podrá complementar la prueba 
producida por las partes, y aún en el caso de que no hayan producido prueba, en 
ejercicio de ese poder jurídico de esclarecimiento de la verdad que se le otorga al 
juzgador, puede suplir la no producida por las partes, ya sea por omisión, negligencia, 
etc." (ABELLA, "Los deberes y faculdades del Juez y de las partes", p. 47). 
47- Cfr. BARBOSA MOREIRA, "Poderes do juiz na direção e na instrução do processo", pp. 45-
51. A iniciativa continua sendo da parte, mas existem modos pelos quais o juiz pode 
participar ativamente na sua "direção formal", principalmente nos casos de "disparidade 
das forças em conflito" (cfr. "Tendências contemporâneas do direito processual civil", 
n. 3, p. 40 e "A função social do processo civil moderno e o papel do juiz e das partes 
na direção e na instrução do processo", pp. 145-147). 
48- Cfr. BARBOSA MOREIRA, "A função social do processo civil moderno e o papel do juiz e 
das partes na direção e na instrução do processo", pp. 146-149). Do mesmo autor, v. 
ainda "A garantia do contraditório na atividade de instrução", pp. 237-238; "Breves 
reflexiones sobre la iniciativa oficial en materia de prueba", pp. 79-86; "O juiz e a 
prova", pp. 178-184. Cfr. também BEDAQUE, Poderes instrutórios do juiz, pp. 67-73. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
19 
Na mesma linha do Estado social de direito que 
participa através de seus órgãos ativamente na vida da sociedade, o juiz 
de hoje não é um mero espectador dos fatos diante do conflito de 
interesses estabelecido entre os seus jurisdicionados; deve preocupar-se 
com a sua incumbência de perseguir a verdade real, não se contentando, 
na medida do possível, com a meramente formal. Deve, portanto, ordenar 
a produção de todas as provas pertinentes ao caso concreto, requeridas 
pelas partes ou por ele determinadas de-ofício. Os poderes instrutórios 
fundam-se também na igualdade, pois através deles procurará o julgador 
diminuir as diferenças substanciais existentes entre as partes, tornando 
sem efeito desigualdades econômicas ou culturais ao evitar qualquer 
possibilidade de omissão na instrução da causa.49 No entanto, a iniciativa 
do magistrado no campo probatório está muito longe de afastar a 
realidade de que a parte com melhores condições econômicas tem 
maiores possibilidades de contratar profissionais mais preparados 
(advogados, assistentes técnicos etc.). No processo caracterizado como 
adversary system, presente nos países de tradição anglo-saxônica, 
compete aos maiores interessados, ou seja, às partes, encartar aos autos os 
elementos de convicção segundo os quais o juiz decidirá. No processo dos 
países de tradição romano-germânica essa regra também vale pois o 
interesse pessoal é, sem qualquer questionamento, a maior força de 
realização dos direitos; mas não se ignora que caberá ao julgador, ao 
observar as diferenças substanciais no processo, propiciar um tratamento 
desigual entre desiguais valendo-se também e não só das regras de 
experiência comum, subministradas pela observação do que 
ordinariamente acontece, bem como das regras de experiência técnica. Tal 
é a regra contida no art. 335 do Código de Processo Civil. Isso significa 
que, mesmo na prova pericial, não deve o julgador subscrever in totum as 
observações expendidas pelo perito judicial, mas verificar o que 
 
49 - V. BEDAQUE, Poderes instrutórios do juiz, pp. 67-68. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
20 
comumente ocorre valendo-se de regras de experiência e procurando 
compreender os fundamentos de critérios técnicos. 
A justiça no processo não começa com a 
decisão, mas já com o início da causa, no qual se abre desde logo umlargo campo à justiça distributiva.50 Ao longo de todo o arco 
procedimental, o julgador deve promover um tratamento igualitário entre 
os sujeitos parciais do processo, outorgando a eles as mesmas 
oportunidades de participação e o mesmo tratamento. Tratar 
igualitariamente não é tratar da mesma forma, mas tratar de maneira a 
atingir o acesso à ordem jurídica justa, possibilitando isonomicamente às 
partes a possibilidade de efetiva defesa de seus direitos, sustentação de 
suas razões, produção de provas.51 A promoção dessa atividade das partes 
tem por finalidade influenciar o espírito do juiz, destinatário final das 
provas. Portanto, é correto afirmar que é também de seu interesse a 
observância do contraditório,52 a fim de fazer prevalecer a isonomia 
processual. Daí ser correto afirmar a existência de verdadeira união 
funcional entre igualdade e contraditório pois ambos representam 
verdadeiros pilares da democracia, na qual o moderno direito processual 
está completamente inserido. 
 
 
6. Conclusão parcial e encaminhamento de novas questões 
 
50 - CHIOVENDA, “Le riforme processuali e le correnti del pensiero moderno”, p. 385. 
51- GRINOVER, As garantias constitucionais e o direito de ação, p. 15. 
52 - Nesse sentido é o art. 16 do Novo Código de Processo Civil Francês: 
“le juge doit, en toutes circonstances, faire observer lui-même le principe de la 
contradiction. 
Il ne peut retenir, dans sa décision, les moyens, les explications et les documents 
invoqués ou produits par les parties que si celles-ci ont éte à même dén débattre 
contradictoirement. 
Il ne peut fonder sa décision sur les moyens de droit qu’il a relevés d’office sans 
aboir au préalable invité les parties à présenter leur observations”. 
Como observado por ROGER PERROT e HENRY SOLUS, “a partir du moment où 
le juge est appelé à participer activement à l’instruction de la cause en relevant d’office 
certains moyens ou en modifiant de sa propre autorité la qualification des faites, des 
devoirs s’imposent à lui comme aux parties elles-mêmes et, en particulier, le devoir de 
provoquer les observations des parties sur les moyens dont peut dépendre la solution 
d’un litige qui met en cause leurs propres intérets” (Droit judiciaire privé, p. 122). 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
21 
 
O objetivo principal até aqui traçado foi o de 
demonstrar a estreita relação existente entre igualdade das partes no 
processo e devido processo legal e contraditório. Nos itens subseqüentes, 
procurar-se-á traçar um desenho mais detalhado do tratamento paritário 
das partes no processo a partir da análise de situações específicas. 
 
 
7. Igualdade e imparcialidade 
 
A igualdade entre as partes exige também a 
imparcialidade, i. e., o provimento jurisdicional deve ser concedido por 
um juiz independente, que atua de modo equilibrado. Os conceitos de 
igualdade e imparcialidade caminham em conjunto há muito; na 
Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembléia 
Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1.948, está consagrado o 
direito ao julgamento por juiz imparcial: “todos homens têm direito, em 
plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um 
tribunal independente e imparcial...” (art. 10). Para que tal preceito se 
realize, caberá ao julgador decidir em consonância com a lei e com os 
valores vigentes na sociedade em que se insere, fundamentando 
suficientemente suas decisões e conferindo tratamento paritário aos 
sujeitos parciais do processo. É repugnante aceitar que os agentes do 
Estado solucionem conflitos movidos por interesses ou sentimentos 
próprios, com total desprezo à lei. Não podem também prevalecer no 
processo opções pessoais do juiz ligadas unicamente a preferências 
sociais, políticas ou econômicas. A liberdade de julgar está vinculada à 
correta interpretação do ordenamento jurídico que, por sua vez, deve 
exprimir os valores preponderantes na sociedade. Vincular o sistema 
jurídico à realidade em que atua significa, da parte do juiz, revelar a 
norma a partir dos princípios e garantias que sobre ela sempre devem 
atuar. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
22 
Para coibir atos arbitrários existem os 
instrumentos legítimos da suspeição e do impedimento, garantias infra-
constitucionais que têm por escopo propiciar a imparcialidade do juiz e, 
em última análise, garantir a própria igualdade entre as partes. Outros 
meios para garantir a imparcialidade do juiz e fiscalizar a liberdade 
interpretativa do texto legal são a publicidade dos atos judiciais e o 
sistema de pluralidade de graus de jurisdição. A possibilidade de 
conhecimento dos autos do processo aos órgãos hierarquicamente 
superiores de jurisdição preserva a igualdade das partes na medida em que 
elas não terão apenas uma chance de demonstrar suas razões e os atos 
judiciais serão suscetíveis de um controle interno. Espera-se que 
a segurança jurídica resultante de mais de um julgamento sobre o mesmo 
caso permita a melhora qualitativa da atuação dos órgãos jurisdicionais e 
a maior confiabilidade da população nessa atuação. Já a publicidade tem 
sua importância pois preserva o direito à informação e permite que a 
população faça a fiscalização de seus juízes mediante um controle externo 
legítimo. 
Todavia, esses meios de controle não têm se 
mostrado suficientes. A responsabilidade penal, civil e disciplinar do juiz 
deve ser uma realidade, mediante a instauração de processos de 
publicidade plena. Agindo com dolo ou culpa grave ou, ainda, tendo 
denegado justiça sem a interpretação da lei e a análise das circunstâncias 
que norteiam o caso concreto, deve o juiz responder pelos prejuízos 
causados. Não se pode admitir, sob pena de comprometer a promessa do 
tratamento igualitário das partes no processo, a violação da lei por 
negligência inescusável, a afirmação da inexistência de um fato 
incontrastavelmente existente ou da existência de um fato 
incontrastavelmente inexistente.53 
Por outro lado, imparcialidade não se confunde 
com passividade e neutralidade absoluta. Observando uma situação de 
 
53 - No mesmo sentido, PROTO PISANI, Lezioni di diritto processuale civile, p. 314. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
23 
extrema desigualdade entre as partes litigantes, deve o julgador intervir no 
sentido de propiciar o tratamento paritário. Partes hipossuficientes, sem 
condições de contratar bons profissionais para defesa de seus interesses, 
devem ter seus direitos tutelados mediante a participação efetiva do 
julgador. Dele se espera um conhecimento do contexto social em que 
atua. 
 
 
8. Igualdade, acesso à justiça e assistência judiciária 
 
Óbices perversos, a maioria deles estranha à 
ordem jurídica processual, são decorrentes da interpretação retrógrada da 
lei e da realidade sócio-econômica. Pobreza, desinformação, custo e 
duração do processo, burocracia, desídia e falta de compromisso dos 
operadores do direito com a justiça são alguns dos obstáculos que afastam 
o leigo da Justiça. Por isso, ao fazer observar a igualdade das partes no 
processo, caberá ao juiz compensar de modo adequado desigualdades 
econômicas de modo a permitir a efetiva, correta e tempestiva defesa dos 
direitos e interesses em juízo. Tal é a igualdade real e proporcional, isto é, 
o tratamento desigual deve ser dispensado aos substancialmente desiguais 
na exata medida da desigualdade.54 
Neutralizando carências culturais e econômicas, 
estará o juiz demonstrando consciência da realidade na qual está inseridoe promovendo a verdadeira igualdade substancial. Indiretamente, está 
propiciando a educação dos jurisdicionados. “Está bem claro hoje que 
tratar como igual – de forma igual – sujeitos que econômica e 
socialmente estão em desvantagem, não é outra coisa senão uma ulterior 
 
54 - É de CANARIS essa observação: “em termos esquemáticos, pode considerar-se que, 
mediante bitolas eleitas em cada cultura jurídica, o Direito tende a tratar o igual de 
modo igual e o diferente de modo diferente, de acordo com a medida da diferença. De 
outro modo, os diversos problemas concretos seriam resolvidos ao acaso, surgindo 
como expressão do puro arbítrio” (Pensamento sistemático e conceito de sistema na 
ciência do direito, p. 63). Essas bitolas são os princípios jurídicos, que servem de base 
para o sistema. 
PAULO HENRIQUE DOS SANTOS LUCON 
paridade 
24 
forma de desigualdade e de injustiça”.55 Por ser natural e extremamente 
razoável, tratar desigualmente os desiguais é uma forma legítima de fazer 
com que o processo atinja os resultados previamente eleitos. 
A assistência jurídica integral aos necessitados, 
embora elevada a verdadeira promessa constitucional (art. 5º, inc. 
LXXIV), está longe de ser uma realidade. Mas muito já foi feito. A lei n. 
1.060, de 5 de fevereiro de 1950, que estabelece normas para a concessão 
de assistência judiciária aos necessitados, tem ainda a sua importância, 
embora até hoje importantes questões relativas ao modo-de-ser do 
processo civil não estejam bem resolvidas. Exemplo vivo do que se 
procura ilustrar ocorre quando o beneficiário da justiça gratuita necessita 
de prova pericial para a demonstração dos fatos alegados; as dificuldades 
são tantas que, muitas vezes, a prova não é realizada ou resta de alguma 
forma comprometida. Recentemente, a jurisprudência tem se mostrado 
sensível a tais problemas ao entender que a assistência judiciária abrange 
também os honorários do perito.56 A iniciativa do juiz no campo 
probatório é essencial à garantia constitucional da igualdade e à 
efetivação do processo justo. Ainda sobre a assistência judiciária, o § 5º 
ao art. 5º da lei n. 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, outorga o prazo em 
dobro para o defensor público ou para quem exerça cargo equivalente 
(atenção: cargo e não munus semelhante). Além disso, os tribunais pátrios 
têm entendido que as intimações do defensor público devem ser feitas 
pessoalmente.57 Tais medidas parecem ser exageradas; melhor seria 
conceder ao juiz, nos casos de assistência judiciária, o poder de definir 
apenas e tão-somente o prazo para resposta. A instituição do prazo em 
dobro é genérica e permite o tratamento privilegiado de uma das partes. A 
 
55 - Proceso, ideologia, sociedad, p. 67. 
56 - STJ, RT 688/198; RSTJ 57/275. Em sentido contrário: RJTJERGS 167/270. V. 
THEOTONIO NEGRÃO, Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 
nota 7b ao art. 3º da lei n. 1.060, de 5 de fevereiro de 1.950, p. 815. 
57 - Cfr. farta messe jurisprudencial citada por THEOTONIO NEGRÃO, Código de Processo 
Civil e legislação processual em vigor, p. 818. 
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mesma situação ocorre com a necessidade de intimação pessoal do 
defensor dativo, que só vem a retardar a prestação jurisdicional. 
Um sistema de assistência jurídica integral 
pressupõe um verdadeiro programa de seguridade social, destinado a 
auxiliar o jurisdicionado preventivamente e em juízo. Mais ainda, em 
consonância com as circunstâncias do caso concreto, o julgador deve 
verificar precisamente as condições de carência e, por conseqüência, em 
que condições a assistência jurídica será outorgada. Advogados do 
próprio poder público ou a ele vinculados por meio de algum modo justo 
de remuneração fazem parte de um sistema misto para permitir o efetivo 
acesso à justiça. Na segunda alternativa, o Estado está descentralizando 
suas atividades e permitindo a participação de indivíduos e grupos 
realmente interessados na consecução dos direitos sociais. 58 
Outro ponto importante que representa um 
grande passo na consecução do efetivo acesso à justiça é a lei n. 9.099, de 
26 de setembro de 1995, que instituiu os juizados especiais, destinados a 
resolver causas cíveis de menor complexidade e causas penais de menor 
potencial ofensivo. Por meio de um processo orientado pela oralidade, 
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, o 
processo dos juizados especiais procura diminuir óbices culturais, que 
comprometem a efetiva participação de jurisdicionados carentes. Mais 
ainda: os juizados especiais têm o grande mérito de tentar solucionar 
conflitos antes não-jurisdicionalizáveis.59 Todavia, é preciso que o Estado 
estruture e aparelhe os juizados especiais de maneira adequada, com 
juízes que exerçam apenas essa função e possam nela se especializar. 
Um dos grandes óbices à promessa 
constitucional de oferta integral de assistência judiciária é o custo do 
 
58 - BERIZONCE, “Algunos obstáculos al acceso a la justicia”, nn. 4-5, p. 69. 
59 -Isso significa universalizar a tutela jurisdicional, endereçando-a à maior abrangência 
possível e, com isso, reduzindo os resíduos não-jurisdicionalizáveis. O objetivo é fazer 
com que o universo dos litígios possa ser canalizado para o processo (v. DINAMARCO, 
“O futuro do direito processual civil”, pp. 38-40). 
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processo. A procrastinação do pagamento de custas processuais, como o 
preparo, é meio eficaz para preservar a isonomia entre as partes litigantes; 
mediante o tratamento formalmente desigual, objetiva-se a igualdade 
substancial. Medida que também se afigura justa e permite o acesso à 
justiça é a dispensa, aos beneficiários da assistência judiciária, de efetuar 
o depósito prévio no valor de cinco por cento do valor da causa para a 
propositura de ação rescisória (CPC, art. 488, par. ún.). 
Mas não há a menor dúvida de que o maior 
óbice da atualidade à efetividade do processo é sua duração excessiva. 
Demoras sem justificativa aumentam a descrença nos serviços judiciários 
e a angústia do litigante que pretende ver seu direito tutelado, além de 
abalar sensivelmente a segurança que deve haver nas relações jurídicas. A 
celeridade e a segurança jurídica são objetivos difíceis de serem 
delineados conjuntamente, mas o retardamento excessivo da prestação 
jurisdicional vem contribuir sensivelmente para o descaso com a lei. 
O direito à tempestiva prestação jurisdicional é inerente à igualdade 
jurídica, já que o tempo excessivo é fator de desequilíbrio, mormente 
naqueles casos em que estão envolvidos direitos patrimoniais. 
Sabe-se que a certeza absoluta não é inerente à 
idéia de processo, que se desenvolve de diversos modos em função dos 
vários sistemas de gradação da cognição. Todo e qualquer processo 
representa um espelho de uma realidade e, por isso, funda-se numa maior 
ou menor verossimilhança dos fatos. No processo de conhecimento, por 
exemplo, a sentença de mérito vem após atividade cognitiva exauriente, 
que permite um conhecimento total da realidade que lhe é trazida pelas 
partes; no processo cautelar ou na antecipação de tutela (art. 273), a 
decisão chega depois de realizada cognição sumária, na qual se evidencia 
a probabilidade, ou seja, a constatação da presença de mais pontos 
convergentes a uma dada realidade que é trazida ao julgador 
comparativamente aos pontos divergentes. Mediante a correta técnica 
processual pretende-se estabelecer umalinha de equilíbrio entre a 
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celeridade e segurança, fazendo com que o processo atinja os resultados 
práticos esperados no menor espaço de tempo e de modo a não prejudicar 
as partes litigantes. 
 
 
9. Igualdade substancial: a inversão do ônus da prova no Código de 
Defesa do Consumidor 
 
A denominada inversão do ônus da prova, na 
realidade, nada inverte. Etmologicamente, inverter vem do latim invertere 
e significa mudar a ordem de, dispor de maneira contrária ao normal.60 
Portanto, quando se fala de inversão do ônus da prova quer o legislador 
dizer que, em determinadas situações, há a dispensa da parte de fazer 
prova de algum fato por ela alegado. Em tais circunstâncias, dispensa a lei 
que o demandante faça prova do fato constitutivo de seu direito. Ou seja, 
não basta ao demandado impugnar os fatos apenas alegados pela parte 
contrária; tem ele o encargo, como imperativo de seu próprio interesse,61 
de fazer prova de que aqueles fatos alegados pelo demandante não 
ocorreram ou, admitindo-os, que não produziram as conseqüências 
afirmadas da petição inicial (defesa direta) ou, ainda, apresentar fatos 
impeditivos, modificativos ou extintivos daqueles integrantes da causa 
petendi descrita na petição inicial (defesa indireta). 
A inversão do ônus da prova está presente no 
ordenamento jurídico brasileiro há muito tempo. Não-obstante a regra 
rígida contida no art. 333 do Código de Processo Civil, pelo parágrafo 
único desse dispositivo, é possível a inversão convencional do ônus de 
provar quando a questão versar sobre direito disponível e não dificultar 
excessivamente o exercício do direito de defesa. No direito comparado 
essa possibilidade também está presente. No direito italiano, o art. 2.698 
 
60 - BUENO, Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa, p. 1.978. 
61 - Muito atual ainda é o ensinamento de GOLDSCHMIDT, segundo o qual o ônus, considerado 
como imperativo do próprio interesse, tem estreita relação com a possibilidade 
processual, pois toda possibilidade impõe à parte o ônus de ser diligente (Derecho 
procesal civil, § 2º, n. 3, p. 8, e ainda, § 35, n. 3, p. 203). 
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do Código Civil, que serviu de matriz para o par. ún. do art. 333, admitiu 
implicitamente a convenção com o efeito de alterar a distribuição do onus 
probandi.62 
O Código de Defesa do Consumidor representou 
um grande avanço a partir do momento em que disciplinou a inversão do 
ônus da prova por decisão judicial. Enquanto no sistema do Código de 
Processo Civil admite-se a inversão convencional, com as ressalvas 
contidas nos dois incisos do parágrafo único do art. 333, no sistema do 
Código de Defesa do Consumidor permite-se a inversão judicial do ônus 
da prova (CDC, art. 6º, inc. VIII). Essa nova situação jurídica processual 
tem estreita relação com o direito material, na medida em que a finalidade 
específica da norma é por fim à vulnerabilidade das alegações do 
consumidor no tocante à demonstração dos fatos constitutivos de seu 
direito.63 Mas essa inversão não é incondicionada pois, para que ela 
ocorra, os fatos devem ser verossímeis. Ao examinar a veromissilhança 
dos fatos deduzidos pelo consumidor em juízo, deve o julgador “imbuir-
se do sentimento de que a realidade fática pode ser como a descreve o 
autor”.64 Isso significa condicionar a inversão à verossimilhança das 
alegações, que deve ser aferida segundo as regras ordinárias de 
experiência subministradas pela observação do que comumente acontece 
e ainda as regras de experiência técnica. A inversão judicial do Código 
de Defesa do Consumidor está condicionada à verossimilhança a fim de 
evitar uma absurda e impossível onerosidade ao produtor de bens ou 
serviços. Sem incluir tal condicionamento, o dispositivo seria 
inconstitucional, pois violaria de tal forma a paridade substancial das 
partes no processo e a ampla defesa que impediria o acesso à ordem 
jurídica justa (CF, art. 5º, caput, incs. XXXV e LIV). Estaria também 
prestigiada a probatio diabolica e ignorada a possibilidade, da qual falou 
 
62 - V. MICHELI, L’onere della prova, n. 38, pp. 244 e ss.; cfr. também VERDE, L’onere della 
prova nel processo civile, n. 21, esp. p. 131, nota 194. 
63 - MATOS, O ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor, p. 196. 
64 - DINAMARCO, A Reforma do Código de Processo Civil, n. 106, p. 145. 
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GOLDSHMIDT, já que de nada adiantaria a parte ser diligente em torno de 
um fato impossível.65 
No Código de Defesa do Consumidor, o art. 6º, 
inc. VIII, tem por fim aprimorar os mecanismos internos do processo e 
preservar o tratamento paritário das partes, uma vez que não havendo 
posições isonômicas dos sujeitos parciais do processo admite-se a 
inversão judicial do ônus da prova,66 condicionada sempre à 
verossimilhança das alegações aduzidas pelo consumidor em juízo. 
Com isso, evitam-se desigualdades e preserva-se a igualdade substancial 
das partes no processo. 
 
 
10. Igualdade nas relações internacionais 
 
A coesão dos sistemas jurídicos é imperativa 
para a intensificação das relações entre os diversos países e, em particular, 
da atividade econômica. Nesse contexto têm muita importância os estudos 
desenvolvidos pelo Instituto Ibero-Americano de Direito Processual. O 
Código de Processo Civil Modelo para a Iberoamérica ou Código Tipo, 
elaborado por essa entidade, tem grande importância na medida em que 
reconhece institutos comuns (com a diferença de nomenclatura) e procura 
introduzir outros recepcionados pelo trabalho da doutrina e da 
jurisprudência. Esse compêndio tem grande importância pois oferece 
idéias que podem ser perfeitamente assimiladas pelos países integrantes 
da Iberoamérica. O importante não é criar um único diploma, mas 
compatibilizar os sistemas jurídicos de países integrantes de uma mesma 
comunidade de modo a atingir escopos previamente traçados. Todavia, é 
preciso que haja a preservação da reciprocidade e do princípio da 
igualdade de tratamento entre os litigantes nas relações internacionais. 
Assim, apenas exemplificando o que se procura demonstrar, no Brasil não 
 
65 - Derecho procesal civil, § 35, n. 3, p. 203. 
66. Cfr. ARRUDA ALVIM, Código do Consumidor comentado, cit., esp. p. 71, em comentário 
ao art. 6º. 
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seria válida prova produzida no exterior sem a participação das partes 
litigantes, porque violaria a garantia constitucional da igualdade. 
Portanto, também no campo do chamado direito 
processual internacional revela-se importante a observância do tratamento 
paritário das partes no processo. A cooperação jurídica entre os diversos 
países exige apenas coesão de sistemas, ou seja, ao operador do direito 
compete verificar apenas se garantias constitucionalmente eleitas foram 
observadas. Um apego excessivo às formalidades constantes do 
ordenamento jurídico nacional prejudicariam sensivelmente a coesão que 
se espera. Por tudo isso, na ciência do direito tende a crescer o valor 
sistemático dos princípios à medida que se torna imperativa a cooperação 
internacional; os princípios comuns terão o condão de harmonizar os 
diferentes sistemas jurídicos. A própria Constituição Federal, ao 
consagrar o modelo democrático e formular princípios, deseja um 
processo universal e isonômico. 
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11. Igualdade e processo de execução 
 
O tratamento paritário das partes não se revela 
apenas no processo cognitivo, mas também no de execução. Embora o 
título executivo permita desde logo o desencadeamento de atos 
constritivos, é certo que o processo deve se desenvolver de modo a não 
ultrapassar os limites estabelecidos no título, tornando a execução, na 
medida do possível, menos gravosa. A igualdade no processo executivo 
está na observância da fidelidade do título executivo com os atos de 
agressão patrimonial. 
Em se tratando de matérias que devem ser 
conhecidas de-ofício (as assim denominadas objeções), viola a isonomia 
no processo quando deixa o magistrado de sobre elas se pronunciar.67 
Demonstrada a inadmissibilidade da execução por ausência de 
pressupostos de constituição e de desenvolvimento do processo e das 
condições da ação, não é possível o desencadeamento de atos de agressão 
patrimonial, para somente depois de seguro o juízo pela penhora ou pelo 
depósito permitir a defesa do executado pela via incidental dos embargos. 
Portanto, se de um lado deve o juiz proporcionar ao exeqüente um 
processo de execução efetivo, coibindo expedientes procrastinatórios e 
totalmente infundados, de outro deve rejeitar de início execuções 
fundadas em obrigações inexistentes ou inadmissíveis. Para esses 
expedientes do exeqüente existe o que a doutrina nominou de exceções e 
objeções de pré-executividade, defesas de mérito ou processuais 
oferecidas diretamente no processo de execução. As primeiras devem ser 
necessariamente alegadas pelo executado e dizem respeito ao mérito do 
processo executivos (p. ex., pagamento, prescrição etc.); as outras, por se 
referirem à própria admissibilidade do processo de execução, devem ser 
 
67 - Com esse entendimento também, SHIMURA, Título executivo, p. 72. 
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cognoscíveis de-ofício pelo juiz.68 Nas duas situações, impõe-se o dever 
de o julgador sobre elas se manifestar in executivis, sob pena de flagrante 
tratamento desigual entre os sujeitos parciais do processo. 
 
68 - Mais amplamente, cfr. LUCON, “O controle dos atos executivos e a efetividade da 
execução”, nn. 6 e 11, pp. 341-344, 349-352, respectivamente. 
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12. Igualdade, Fazenda Pública e Ministério Público 
 
I) introdução 
Prerrogativas legais outorgadas a uma das partes 
no processo têm por finalidade restabelecer o equilíbrio, propiciando a 
chamada igualdade substancial na tutela dos direitos. Esse é, por assim 
dizer, o traço fundamental que legitima diferenciações feitas pelo 
legislador e pelo magistrado no caso concreto. O que não se pode admitir 
é o tratamento privilegiado dispensado a apenas uma das partes de modo 
arbitrário ou caprichoso, em total prejuízo da outra. Assim sucede com os 
inexplicáveis benefícios da Fazenda Pública (União, Estados, Municípios, 
Distrito Federal e respectivas autarquias), que remontam à época de um 
modelo estatal superado e não têm razão de hoje sobreviver. Como 
observa BANDEIRA DE MELLO, a igualdade é violada quando “a norma 
singulariza atual e definitivamente um destinatário determinado, ao invés 
de abranger uma categoria de pessoas, ou uma pessoa futura e 
indeterminada”69 ou ainda no momento em que o legislador cria o 
discrímen, quando não há qualquer previsão constitucional, implícita ou 
explícita, para tanto. Como adverte PONTES DE MIRANDA, a igualdade 
perante a lei é regra geral, não podendo ser invocada se a Constituição de 
modo implícito ou explícito permite a desigualdade.70 
 
69 - O conteúdo jurídico do princípio da igualdade, p. 47. Para BANDEIRA DE MELLO, há 
também ofensa ao preceito constitucional da isonomia quando: “II - a norma adotada 
como critério discriminador, para fins de diferenciação de regimes, elementos não 
residentes nos fatos, situações ou pessoas por tal modo desequiparadas. É o que 
ocorre quando pretende tomar o fator ‘tempo’- que não descansa no objeto – como 
critério diferencial; III – a norma atribui tratamentos jurídicos diferentes em atenção a 
fator de discrímen adotado que, entretanto, não guarda relação de pertinência lógica 
com a disparidade de regimes outorgados; IV – a norma supõe relação de pertinência 
lógica existente em abstrato, mas o discrímen estabelecido conduz a efeitos 
contrapostos ou de qualquer modo dissonantes dos interesses prestigiados 
constitucionalmente; V – à interpretação da norma extrai dela distinções, discrímens, 
desequiparações que não foram professadamente assumidos por ela de modo claro, 
ainda que por via implícita (op. cit., pp. 47-48). 
70 - Comentários à Constituição de 1.967, v. IV, p. 701. 
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Diferenciações feitas genericamente pela norma 
em função da parte litigante são inconstitucionais; é preciso que o 
discrímen seja feito de forma particularizada, tal como ocorre nos casos 
de concessão dos benefícios da assistência judiciária. Por isso, afigura-se 
genérico e inconstitucional o reexame obrigatório previsto na ação 
popular, quando decretada a carência de ação ou julgado improcedente o 
pedido, a teor do disposto no art. 19 da lei n. 4.717, de 29 de junho de 
1965. 
O dia-a-dia forense tem demonstrado que o 
maior fomentador dos litígios é o próprio Estado, que tem no mais das 
vezes se comportado como inimigo na voracidade fiscal, no 
comportamento processual, muitas vezes eivado de má-fé, nos privilégios 
que a lei lhe confere em total violação ao princípio da igualdade.71 
II) prazos processuais 
O primeiro desses privilégios indevidos refere-se 
aos prazos outorgados à Fazenda Pública (e ao Ministério Público) em 
quádruplo para contestar e em dobro para recorrer, constantes do art. 188 
do Código de Processo Civil. Também aqui se inclui o prazo em dobro 
para a Fazenda Pública contestar no procedimento sumário (art. 277, 
caput); essas vantagens são inadmissíveis por violarem frontalmente a 
Constituição Federal no que diz respeito à igualdade das partes no 
processo. Por isso, não podem encontrar justificativa no complexo da 
administração pública. Caso contrário, as mega-empresas também 
deveriam ser assim beneficiadas. Nos dias de hoje, com o uso em larga 
escala do computador, não pode mais prevalecer o entendimento de que o 
Estado necessita de privilégios inconstitucionais. Aliás, “um Estado 
organizado, melhor do que qualquer particular, deve primar pela 
perfeição dos seus serviços, tendo, a tempo e hora, todos os elementos 
indispensáveis à sua mais perfeita quão possível atuação, e correlatas 
 
71 - V. DINAMARCO, Privilégios do Estado em Juízo, p. 5. 
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informações”.72 Toda e qualquer discriminação tem por objetivo atender 
situações desiguais; caso contrário, mostra-se arbitrária e odiosa.73 
Inconstitucional é também a possibilidade de 
prazo em dobro por terem os litisconsortes procuradores distintos, 
constante do art. 191 do Código de Processo Civil. Essa regra provoca a 
dilação excessiva do processo e beneficia um dos sujeitos parciais do 
processo em total detrimento do outro. Normalmente somente os 
litigantes com capacidade econômica é que têm a possibilidade de 
contratar procuradores autônomos, com escritórios muito bem montados e 
capacitados para cumprir regularmente os prazos, sem a necessidade do 
inconstitucional benefício

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