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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL MÓDULO TEORIA GERAL E PROCESSO DE CONHECIMENTO 1. Material pré-aula a. Tema Normas Fundamentais do processo civil. Função jurisdicional (Ação. Jurisdição. Competência). b. Noções Gerais Conforme o art. 1º do nosso CPC, o “processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil” (art. 1º, CPC/2015), bem como traz os princípios fundamentais, quais sejam, dispositivo e impulso oficial (art. 2º, CPC/2015), direito de ação e tutela eficiente (arts. 3º e 4º, CPC/2015), solução extrajudicial dos conflitos (§§ 1º a 3º, do art. 3º, CPC/2015), igualdade (art. 7º, CPC/2015), lealdade e boa-fé (arts. 5º e 6º, CPC/2015), fim social do processo (art. 8º, CPC/2015), contraditório e ampla defesa (arts. 9º e 10, CPC/2015), publicidade e motivação (art. 9º CPC/2015), reforçando princípios já estabelecidos na Constituição Federal. Normas Fundamentais do Processo Civil Acesso formal à justiça. Inafastabilidade da jurisdição De acordo com Constituição Federal, a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5.º, XXXV, da CF). Conforme Cassio Scarpinella Bueno: “A compreensão de que nenhuma lei excluirá ameaça ou lesão a direito da apreciação do Poder Judiciário deve ser entendida no sentido de que qualquer forma de “pretensão”, isto é, “afirmação de direito” pode ser levada ao Poder Judiciário para solução. Uma vez provocado o Estado-juiz tem o dever de fornecer àquele que bateu às suas portas uma resposta, mesmo que seja negativa, no sentido de que não há direito nenhum a ser tutelado ou, bem menos do que isso, uma resposta que diga ao interessado que não há condições mínimas de saber se existe, ou não, direito a ser tutelado, isto é, que não há condições mínimas de exercício da própria função jurisdicional, o que poderá ocorrer por diversas razões, inclusive por faltar o mínimo indispensável para o que a própria CF exige como devido processo legal” 1. Não se limita o texto constitucional a obstar que alguma lei impeça o acesso à jurisdição, mas vai além, para assegurar o direito de exigir do Estado a tutela jurisdicional. Ao referir-se tanto à lesão quanto à ameaça, deixa claro a Constituição que a jurisdição deve realizar o Direito, restaurando a ordem jurídica violada ou evitando que tal violação ocorra, através de procedimento ordenado para esse fim. Dignidade da pessoa humana A Constituição estabelece a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (cf. art. 1.º, III da CF. Nos termos do art. 8.º do CPC/20, o juiz deve orientar-se pela defesa e promoção da dignidade da pessoa humana. Trata-se de reprodução, na lei processual, de comando previsto na referida norma constitucional. Assim, o indivíduo merece ter direito a receber uma resposta efetiva e célere do Estado quando se sentir lesado em suas prerrogativas. O conteúdo desse fundamento é compreendido a partir de outros princípios e garantias existentes na própria Constituição, bem como nas disposições que inspiraram o constituinte. 1 SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil –Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021. Legalidade O princípio da legalidade tem desdobramentos na proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada (art. 5.º, XXXVI, da CF), p. ex., é corolário do princípio da legalidade. Conforme José Miguel Garcia Medina: “Temos estudado o princípio da legalidade à luz da ideia de liberdade. No estado constitucional, o direito fundamental à liberdade não é visto apenas como proteção contra o Estado (status negativus), no sentido referido no inc. II do art. 5.º da CF. Liberdade deve ser vista também como direito a procedimentos que assegurem a própria liberdade (status activus)” 2. Conforme Celso Antônio Bandeira de Mello: “A legalidade é um princípio próprio do Estado de Direito, sendo justamente o que lhe caracteriza e lhe dá identidade própria. É a tradução jurídica do próprio político de submeter todos aqueles que exercem algum tipo de poder a normas que impeçam favoritismos, perseguições ou desmandos” 3. O nosso CPC seguindo a ideia do modelo constitucional do processo adotou o princípio da legalidade no art. 8º, o qual busca explicitar que o juiz também está vinculado as normas que o ordenamento jurídico contém, cabendo a ele decidir nos moldes desta. Fins sociais do direito e bem comum De acordo com o art. 8.º do CPC/2015, deve o juiz atender "aos fins sociais e à exigência do bem comum" ao aplicar o direito. Tal artigo ajusta-se ao que dispõe à Constituição, que, além de erigir a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1.º, III, da CF), dispõe que um de seus objetivos é o de "construir uma sociedade livre, justa e solidária" (art. 3.º, I, da CF). Não se trata de exceção ou temperamento ao princípio da legalidade. Afinal, a lei tem escopo 2 MEDINA, José Miguel Garcia. Curso de Direito Processual Civil Moderno. 5º ed. Ed. RT. 2020. 3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 29º edição. Ed Malheiros, 2011. social e deve servir ao bem comum. Trata-se, pois, de dar concretude ao que impõe a norma constitucional. Proporcionalidade e razoabilidade O art. 8.º do CPC/2015 dispõe que o juiz deve observar a proporcionalidade e a razoabilidade. De acordo com a regra da proporcionalidade, deve haver uma "relação adequada entre um ou vários fins determinados e os meios com que são levados a cabo", compreendendo a regra os seguintes elementos: o meio escolhido deve ser adequado; ainda, deverá ser necessário, "não excedendo os limites indispensáveis à conservação do fim legítimo que se almeja"; por fim, deve-se realizar a ponderação entre os bens ou interesses em jogo, a fim de que o sacrifício imposto a um dos interesses seja efetivamente necessário e justificável. Razoabilidade, de sua vez, diz respeito à compatibilidade entre meios e fins de uma medida. A regra da proporcionalidade, no entanto, opera ao lidar-se com direitos fundamentais cotejados, no contexto da criação da solução jurídica. Eficiência Conforme previsto no art. 8.º do CPC/2015, o juiz deve observar a eficiência, o que reproduz em parte algo que, na Constituição, encontra-se destacado em Capítulo dedicado à Administração Pública (art. 37 da CF). O CPC/2015 dispôs que incumbe o juiz de ordenar as causas, a fim de que seja respeitada determinada ordem de julgamento (cf. art. 12 do CPC/2015). Nesse ponto, tal como um administrador, deve ele se organizar e realizar os atos de modo a alcançar o melhor resultado possível com os meios disponíveis. A ideia de eficiência aspira a que algo seja realizado de modo a propiciar um grau máximo de satisfação. Devido processo legal Conforme Cassio Scarpinella Bueno: “Se o princípio do acesso à Justiça representa, fundamentadamente a ideia de que o Judiciário está aberto, desde o plano constitucional a quaisquer situações de ameaças ou lesões de direito, o princípio do devido processo legal volta-se, basicamente, a indicar as condições mínimas em que o desenvolvimento do processo, isto é, o método de atuação do Estado –juiz para lidar com a afirmação de uma ameaça ou lesão de direito, deve se dar” 4. Entre as garantias fundamentais, a Constituição Federal estabelece o direito à inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5.o, XXXV), à ampla defesa e ao contraditório(art. 5.o, LV), à duração razoável do processo (art. 5.o, LXXVIII) e, em outras disposições, refere-se a mais princípios, como o da motivação das decisões judiciais (art. 93, IX). Há ainda princípios que, embora não digam respeito exclusivamente ao processo, mostram-se, nesta seara, fecundos de consequências, tal como ocorre com o princípio da isonomia (art. 5.o, caput, I da CF). Esses princípios e garantias, como se disse, decorrem da cláusula do devido processo legal, também textualmente referida no art. 5.o, LIV da CF. O CPC/2015 reproduz muitas dessas disposições, em seus primeiros artigos. Inércia da jurisdição, demanda e impulso oficial Tendo-se iniciado por provocação das partes, o processo desenvolve-se "por impulso oficial" (art. 2.º do CPC/2015). O início do processo é condicionado à demanda da parte. Está-se, aqui, diante de uma das relações de status: confere-se à pessoa a faculdade de agir em juízo, condicionando-se o início da atividade jurisdicional e, ao exercer o direito de demandar, a parte reclama a prestação jurisdicional que lhe deve ser conferida pelo Estado. 4 SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil- Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021. Princípio do Contraditório Está-se diante de decorrência do princípio da isonomia (art. 5.º, caput e II da CF; art. 7.º do CPC/2015), já que, se o juiz decidir apenas com base no que uma das partes tiver argumentado, dará a elas tratamento desigual. A garantia do contraditório, no entanto, é mais ampla, e compreende também o direito de influir decisivamente nos destinos do processo. Há, pois, o direito de se manifestar, de ser ouvido, mas, também, o de ter suas manifestações levadas em consideração. Veda-se, nesse contexto, a prolação de decisões com surpresa para as partes, disso tratando o art. 10 do CPC/2015. Conforme Cassio Scarpinella Bueno: “O modelo de processo estabelecido pelo CPC de 2015, bem compreendido e em plena harmonia com o modelo constitucional é inequivocamente de um processo cooperativo em que todos os sujeitos processuais (as partes, eventuais terceiros intervenientes, os auxiliares da justiça e o próprio magistrado) cooperem ou colaborem entre si com vistas a uma finalidade comum: a prestação da tutela jurisdicional” 5. Assim, deve ser reconhecido às partes o direito de participar ativamente no procedimento de tomada da decisão judicial. Tal participação consiste em poder influir decisivamente nos destinos do processo. Assim, o princípio do contraditório concretiza-se através da participação das partes no processo, e do diálogo que deve ter o órgão jurisdicional com as partes. Como uma das consequências do princípio, o órgão jurisdicional não pode proferir decisão com surpresa para as partes. 5 Ibidem, p.51 Princípio da Isonomia processual Rege-se o processo pelo princípio constitucional da isonomia (art. 5.º, caput e I, da CF), devendo o juiz assegurar às partes igualdade de tratamento (art. 139, I, do CPC/2015). Liga-se o princípio de um lado, à ideia de que o juiz deve atuar de modo imparcial, em relação às partes. O CPC/2015, a respeito, dispõe que é assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais (art. 7. o). A Boa-fé objetiva A proteção à boa-fé objetiva é postulado ético imposto pelo sistema normativo, estendendo-se por todas as áreas do direito. Trata-se de uma "norma de conduta", em razão da qual se impõe àqueles que participam de uma relação jurídica "um agir pautado pela lealdade". Como corolário da proteção à boa-fé objetiva, o exercício abusivo de uma posição jurídica deve ser reprimido. O abuso ocorre quando se excederem manifestamente os limites próprios do exercício de um direito. O princípio deve ser observado também pelo órgão jurisdicional. É que, agindo em desconformidade à boa-fé objetiva, viola-se o princípio da confiança no tráfego jurídico, já que, uma vez despertada a legítima confiança, espera-se um comportamento em sintonia com o procedimento até então manifestado. Economia processual De acordo com o princípio deve-se obter o máximo de resultado na atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividade jurisdicional. Tal princípio é a busca constante do resultado útil do processo (julgamento de mérito), com o dispêndio de um esforço mínimo processual. Assim, o princípio da economia processual ou da economicidade repele a prática de atos desnecessários e inúteis, durante a tramitação do processo, a exemplo da realização de provas desnecessárias ou a repetição de atos processuais dispensáveis, apenas em razão de não ter seguido, o ato já praticado, o modelo legal, apesar não ter causado, a realização do ato em desconformidade com a lei, prejuízo algum às partes no processo. Assim, o atual CPC, ao dispensar a postulação da reconvenção em petição própria; ao permitir que na contestação o réu, em preliminar, também impugne o requerimento de assistência judiciária ou o valor da causa, preocupou, sobremaneira, com uma maior rapidez na tramitação dos feitos e, portanto, com a desnecessidade da prática de vários atos que serviam, no Código anterior, apenas para embaraçar ou dificultar a discussão do assunto principal em debate e que necessitavam de análise, rápida, de mérito.6 Razoável duração do processo Assegura-se o direito à razoável duração do processo, bem como a meios que garantam que sua tramitação se dê celeremente (CF, art. 5.º, LXXVIII e CPC/2015, art. 4.º). Só pode ser considerada eficiente a tutela jurisdicional se prestada tempestivamente, e não tardiamente. A garantia de razoável duração do processo constitui desdobramento do princípio estabelecido no art. 5.o, XXXV da CF, já que a tutela a ser realizada pelo Poder Judiciário deve ser capaz de realizar, eficientemente, aquilo que o ordenamento jurídico material reserva à parte. Publicidade A publicidade dos atos processuais é garantia prevista no art. 5.o, LX, da Constituição, segundo o qual "a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem". Esse comando é repetido de modo 6 CARVALHO, Newton Teixeira. http://domtotal.com/artigo/6876/15/08/principios-fundamentais-do- processo-efetividade-economia-processual-e-preclusao/. Acesso em 11/02/2021. mais detalhado no art. 93, IX, da CF, que estabelece que pode "a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação". A ressalva constante do final do art. 93, IX, da CF diz respeito aos limites do direito de preservação da intimidade (art. 5.º, X, da CF), que poderá ceder quando houver "interesse público à informação", a que se refere também o art. 5.º, XIV, da CF. No CPC/2015, o tema é versado nos arts. 11 e 189, dentre outros. Ressalte-se que a própria CF admite que a lei venha a restringir a publicidade dos atos processuais com relação a terceiros estranhos ao processo, quando o exigirem a defesa da intimidade ou o interesse processual (art. 5, LX). Princípio da Cooperação O art 6º trata do princípio da cooperação, querendo estabelecer um modelo de processo cooperativo, inspirado na CF, com ampla participação dos sujeitos processuais, do início ao fim da atividade jurisdicional. A cooperação prevista no dispositivo mencionado deve ser praticada por todos ossujeitos do processo. Não se trata de envolvimento apenas entre as partes (autor e réu) e de seus procuradores, mas os membros da advocacia pública, defensoria e eventuais terceiros intervenientes, bem como o magistrado e os membros do Ministério Público. Função Jurisdicional Ação Cassio Scarpinella Bueno assim definiu: “Nesse contexto, a ação só pode ser compreendida como o direito subjetivo público ou, mais que isso, o direito fundamental de pedir tutela jurisdicional ao Estado-juiz, rompendo a inércia do Poder Judiciário, e de atuar, ao longo do processo para a obtenção daquele fim” 7. Desta forma, a norma constitucional não se limita a obstar que alguma lei impeça o acesso à jurisdição, mas vai além, para assegurar o direito de exigir do Estado a tutela jurisdicional. Conforme o art. 5.º, XXXV, da CF, “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. E continua ainda Cassio Scarpinella Bueno: “A ação é, assim, um direito exercitável contra o Estado, uma verdadeira contrapartida da vedação de se fazer “justiça pelas próprias mãos. É o Estado que, historicamente, chama, para si, o dever (e a correlata responsabilidade) de distribuir justiça, criando os mecanismos e as técnicas que garantam o seu atingimento”8. Modernamente, tem-se pensado em tutela jurisdicional não apenas como resultado, mas também para designar os meios tendentes à sua consecução. Assim, também a configuração processual do direito de ação deve ajustar-se ao direito material. A inexistência, no plano processual, de tutela correspondente à reclamada pelo direito material, significaria tornar inexistente o próprio direito substantivo. O direito de ação, assim, compreende não apenas o direito à tutela jurisdicional adequada, mas também a um processo adequado. Afirma Alfredo Rocco: “O direito de ação é um direito subjetivo “que corresponde a cada ciudadano como tal”, “un derecho subjetivo público del ciudadano con el Estado, y sólo con el Estado”, e que compreende em si “todas las facultades que corresponden a las partes en el procedimiento y el ejercicio de aquel derecho como compreendiendo todos los actos procesales de las partes”. Fazendo 7 SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021. 8 Ibidem. referência a “una cantidad de facultades, reconocidas y disciplinadas por el derecho procesal objetivo”, faz Alfredo Rocco desenvolvimento semelhante, embora sem se referir às categorias de status acima mencionadas” 9. Assim, o direito de ação compreende o dever do Estado de prestar a tutela jurisdicional. Para José Miguel Garcia Medina: “O direito de ação pode ser considerado, também, sob outro prisma, que é o de condicionante do início da atividade jurisdicional (art. 2.º do CPC/2015). Sob esta perspectiva, o direito de ação encerra também uma faculdade que é manifestação da esfera de liberdade individual frente ao Estado (status libertatis)” 10 . O Estado somente pode atuar após a livre manifestação de vontade do indivíduo. Segundo Cassio Scarpinella Bueno: “Postular, contudo, não pode ser compreendido apenas do ponto de vista do autor, aquele que rompe a inércia da jurisdição para pedir tutela jurisdicional. Também o réu postula em Juízo. E o faz quando se limita a resistir à pretensão autoral sem reconvir”11. O art. 17 do CPC/2015 refere-se apenas a “interesse e legitimidade”, que devem estar presentes para se postular em juízo. Esses são requisitos da ação. Há interesse processual quando presentes a necessidade e a utilidade (ou adequação) da ação com o intuito de prevenir ameaça ou reprimir lesão a direito. Diz o art. 19, I, do CPC/2015 que o interesse do autor pode limitar-se à declaração da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica. 9 ROCCO, Principi di diritto processuale generale. Torino: G. Giappichelli, 1995. 10 MEDINA, José Miguel Garcia. Curso de Direito Processual Civil Moderno. 5º Ed. RT. 2020. 11 SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021. Legítimas são as partes para a causa, por sua vez, quando a ação lhes seja pertinente. A legitimidade é “aferida em função de ato jurídico realizado ou a ser praticado”. Confere-se a legitimidade, assim, em razão da titularidade do direito afirmado. A doutrina divide as ações em: (a) de conhecimento; (b) de execução; (c) cautelares. As ações de conhecimento, seguindo esta linha, se dividiriam em declaratórias, constitutivas e condenatórias. No caso da ação declaratória, por exemplo, são legítimas as partes em relação às quais se afirma existir ou inexistir dada relação ou situação jurídica. Em ação condenatória, por sua vez, “revela-se necessário aferir com quem, efetivamente, restou estabelecida a relação jurídica material”. Leciona Marcos Bernardes de Mello: “A legitimidade para a causa se refere à titularidade da pretensão (ativa) ou da obrigação (passiva) controvertidas em juízo; relaciona-se à res in iudicio deducta, não à capacidade de ser parte. É verdade que, para que alguém possa exercer sua capacidade de ser parte com êxito (= possa obter a prestação jurisdicional com a prolação da sentença de mérito) é necessário que as partes no processo tenham legitimação processual (legitimatio ad processum) e também legitimação para a causa (legitimatio ad causam)” 12. Segundo Arruda Alvim: “A legitimidade ad causam, uma das condições da ação – em face do direito positivo brasileiro – é definida em função de elementos fornecidos pelo direito material (apesar de ser dele, existencialmente desligada). A legitimatio ad causam é a atribuição, pela lei ou pelo sistema, do direito de ação ao autor, possível titular ativo de uma dada relação ou situação jurídica, bem como a possível sujeição do réu aos efeitos jurídico-processuais e materiais da sentença. Normalmente, no sistema do Código, a 12 MELLO, Marcos Bernardes de. Achegas para uma teoria das capacidades em direito. Revista de Direito Privado, v. 3, p. 9, jul. 2000. legitimação para a causa é do possível titular do direito material (art. 18 do CPC/2015). Pode-se dizer que as condições da ação têm a posição de um direito, mas não podem ser havidas propriamente como integrantes da categoria dos direitos; vale dizer, são consideradas como se direito fossem” 13. O art. 18 do CPC trata da legitimação extraordinária, admitindo o ordenamento jurídico desde que autorizado, que alguém em nome próprio pleiteie alheio em Juízo. Jurisdição A jurisdição é o exercício da atividade de fazer manifestar-se o direito, de maneira impositiva, que é aplicável na resolução de um conflito substituindo-se aos titulares dos interesses em choque. É a substituição da vontade das partes pelo Estado com a finalidade de aplicação da lei no caso concreto. Assim, a jurisdição é caracterizada como uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Depreende-se que jurisdição é uma atividade estatal em que se aplica o direito objetivo ao caso concreto, visando conformar o mundo fenomenológico às normas jurídicas. Pode-se dizer, noutros termos, que a jurisdição é o poder-dever do Estado em aplicar o direito material aos casos a ele levados, assim como aplicação de todos os instrumentos processuais visando a satisfação do bem da vida tutelado. Destaca Fredie Didier Júnior que ‘’A jurisdição é a funçãoatribuída a terceiro imparcial (a) de realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (reconstrutivo) (c), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d) concretamente deduzidas (e), em decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para tornar-se indiscutível (g)’’14. A jurisdição se apresenta como a forma através da qual o Estado monopoliza o poder de coerção e aplica, mediante instrumentos 13 ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. Ed. RT. 2020. 14 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 22º ed. Ed. Juspodivm, 2020. legalmente instituídos, os ditames da ordem constitucional aos casos concretos. O fim da atividade jurisdicional é, segundo Cássio Scarpinella Bueno, compor as querelas intersubjetivas ‘’sempre que outros meios não estatais ou não jurisdicionais para aquele mesmo fim não atuarem a contento, não forem possíveis, ou, ainda, quando os interessados assim entendam ser necessário’’15. Cabe ao Poder Judiciário a composição dos litígios nos casos concretos. Assim, a função de declarar e realizar o Direito compondo os litígios dá-se o nome de jurisdição. O Prof. Cassio Scarpinella Bueno assim definiu: “A Jurisdição, primeiro instituto fundamental do direito processual civil deve ser compreendida como a parcela de poder exercida pelo Estado-juiz, o Poder Judiciário, a sua função típica”.16 Segundo Elpídio Donizetti: “Jurisdição, portanto, é o poder, a função e a atividade exercidos e desenvolvidos, respectivamente, por órgãos estatais previstos em lei, com a finalidade de tutelar direitos individuais e coletivos. Uma vez provocada, atua no sentido de, em caráter definitivo, compor litígios ou simplesmente realizar direitos materiais previamente acertados, o que inclui a função de acautelar os direitos a serem definidos ou realizados, substituindo, para tanto, a vontade das pessoas ou entes envolvidos no conflito” 17. Acerca da jurisdição civil, está “será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte” (art. 13, do CPC/2015) O CPC/2015 ainda estabelece que a norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitando os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada (art. 14, do CPC/2015), além de dispor expressamente sua aplicação supletiva e subsidiária aos 15 SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021. 16 Ibidem. 17 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. Ed. 23º ed. Atlas, 2020. processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, na ausência de normas regulatórias (art. 15, do CPC/2015). São duas as espécies de jurisdição: contenciosa e voluntária. Nos termos do art. 16, do CPC/2015, “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código”. Jurisdição contenciosa – As partes ocupam polos antagônicos na relação jurídica processual, recorrendo as vias ordinárias. É aquela função que o Estado desempenha na pacificação ou composição dos litígios. Pressupõe controvérsia entre as partes (lide), a ser solucionada pelo juiz. A relação jurídica processual é tríplice, sendo dois parciais (demandante e demandado) e um imparcial (juiz). Jurisdição voluntária – Não existe um conflito entre as partes, pois as vontades são convergentes. Assim, as partes pretendem obter o mesmo bem da vida; têm a mesma pretensão, mas precisam da intervenção do Judiciário para que esse acordo de vontades produza efeitos jurídicos almejados. Entende-se que nesta modalidade não existem partes, somente interessados, já que ambos pretendem obter o mesmo bem da vida e, portanto, não estão em situação antagônica na demanda judicial. Assim, a jurisdição contenciosa é aquela exercida com o objetivo de compor litígios e a jurisdição voluntária é aquela relacionada à integração e fiscalização de negócios jurídicos particulares. Competência é medida da jurisdição, a limitação da atuação de cada órgão jurisdicional, foro, vara, tribunal, demarcando-se os limites em que cada juízo pode atuar. Competência Considera-se absoluta a competência, relacionada à matéria, à pessoa ou a função, e relativa, quando determinada em razão do valor e do território. A competência é determinada em atenção aos seguintes critérios: objetivo (em razão da pessoa, da matéria ou do valor da causa), funcional e territorial, e pode ser absoluta ou relativa, sendo que “a competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção das partes” (art. 62, do CPC/2015), porém “as partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações” (art. 63, do CPC/2015). Segundo Cassio Scarpinella Bueno: “A distinção principal entre aqueles dois critérios é a presença, ou não, do interesse público que justifica a sua fixação.”18 Continua ainda Cassio Scarpinella Bueno: “A competência absoluta é passível de apreciação de ofício, isto é, sem provocação das partes, pelo que ela pode ser questionada a qualquer tempo (art. 64, parágrafo 1º) e, por isso mesmo, não há preclusão quanto à ausência de sua alegação, porque ela não se “prorroga” em nenhum caso, isto é, ela não pode ser modificada nem mesmo por vontade das partes. (arts. 54 e 62). A competência relativa, de seu turno, não pode ser considerada pressuposto de validade do processo. Ela está sujeita a modificações (art. 54), inclusive pela vontade das partes pela chamada cláusula de “eleição de foro” (art. 63) ou pela inércia do réu em argui-la a tempo em preliminar de contestação (art. 64, caput). Ela não é passível de declaração de ofício. Seu reconhecimento depende, por isso mesmo, de manifestação de vontade do réu, vedada a sua apreciação de ofício (art. 337, parágrafo 5º). Sua não observância não autoriza a rescisão da decisão após o trânsito em julgado”19. A competência relativa será prorrogada se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação. Ação é o meio de se provocar a tutela jurisdicional. Os elementos subjetivos da ação são as partes e os elementos objetivos são o pedido e a causa de pedir. A ausência de um dos elementos da ação acarreta o indeferimento da petição inicial, nos termos do artigo 330, I e § 1º, do CPC/2015, com a extinção do processo sem que o juiz resolva o mérito, nos termos do artigo 485, I, do CPC/2015. 18SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil – Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021. 19 Ibidem. Como regra geral, deverá a ação ser proposta no foro do domicílio do réu (art. 46 do CPC/2015), salvo se houver regra específica. Conforme o art. 47 do CPC/2015, nas "ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa". Prossegue-se, afirmando no § 1.º, que "o autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição" caso a ação não diga respeito, p.ex., à propriedade sobre o bem. Acerca deste tema se manifestou José Miguel Garcia Medina: “Tem-se, assim, que, nas hipóteses que enuncia a primeira parte do dispositivo, a norma trata de competência absoluta; nos demais casos, de competência relativa. Naquele caso, pode-se dizer que há critério de competência funcional. A doutrina, de modo geral, reporta-se à lição de Chiovenda para indicar haver, nocaso, tal critério. Afirmava o autor italiano que haveria competência funcional também quando atribuída "al giudice di un determinato territorio pel fatto che la sua funzione sarà ivi piu facile o piu efficace". Por semelhantes razões, o § 2.º do art. 47 do CPC/2015 dispõe que "a ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta" 20. É necessário também verificar a legitimidade e o interesse processual, pois, na ausência dessas condições, o processo também será extinto sem resolução de mérito, nos termos do artigo 485, VI, do CPC/2015. No novo Código, entretanto, não há mais a referência à “possibilidade jurídica do pedido” como hipótese geradora da extinção do processo sem resolução do mérito, seja quando enquadrada como condição da ação ou como causa para o indeferimento da petição inicial. É que o CPC de 1973 também contemplava a possibilidade jurídica do pedido como uma das causas que geravam a inépcia da petição inicial e, consequentemente, o seu indeferimento (art. 295, parágrafo único, III, CPC/73). Essa causa de inépcia já era bastante discutida na doutrina, já que muitos estudiosos, inclusive Enrico Tulio Liebman, 20 MEDINA, José Miguel Garcia. Curso de Direito Processual Civil Moderno. 5º, Ed. RT. 2020. entendiam-na como causa que, se inexistente, levava à improcedência da pretensão deduzida em juízo. De acordo com a nova redação, consagra-se o entendimento de que a possibilidade jurídica do pedido é causa para resolução do mérito da demanda e não simplesmente de sua inadmissibilidade. Com relação às outras “condições”, o texto do novo art. 17 estabelece que “para postular em juízo é necessário interesse e legitimidade”. O art. 485, VI, por sua vez, prescreve que a ausência de qualquer dos dois requisitos, passíveis de serem conhecidos de ofício pelo magistrado, permite a extinção do processo, sem resolução do mérito. Como se pode perceber, o Código não utiliza mais o termo “condições da ação”. (...) O art. 48 do CPC prevê que o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e todas as ações em que o espólio for réu devem ser propostas no foro de domicílio do autor da herança. Quanto à competência internacional, o CPC somente inovou ao detalhar as hipóteses de competência exclusiva e concorrente da jurisdição nacional, criando novas hipóteses, como está previsto nos incisos do artigo 22 do CPC. O inciso I do mencionado artigo trata das ações de alimentos, fixando a competência da autoridade judiciária brasileira quando o credor tiver domicílio ou residência no Brasil, ou, ainda, quando o réu mantiver vínculos com o Brasil, como renda ou bens. Esse inciso eliminou as incertezas que existiam nas ações de alimentos que envolvem partes residentes em países diferentes e, ainda, facilitará o acesso à justiça do credor/alimentando que poderá executar, no Brasil, a sentença que fixa os alimentos, desde que devidamente homologada pelo STJ. Nesse sentido, é fácil constatar que o NCPC buscou valorizar os princípios constitucionais, como é o caso do inciso I, do artigo 22 do NCPC, que garante o acesso à justiça, princípio previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal. Já o inciso II do artigo 22 do CPC dispõe que compete à autoridade judiciária brasileira julgar as ações decorrentes de relações de consumo, desde que o consumidor tenha domicílio ou residência no Brasil. Essa disposição também eliminou a discussão que existia sobre a competência concorrente quando se tratam de demandas que discutem defeitos e ilícitos decorrentes das relações consumeristas envolvendo as corporações multinacionais, principalmente. Já o inciso III do artigo 22 do CPC é a maior e principal inovação em termos de Competência Internacional. Isso porque, o referido inciso prevê que compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeteram à jurisdição nacional. Já o artigo 25 do CPC prevê que não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação, encerra a discussão, ainda existente na jurisprudência e em parte da doutrina, acerca da validade da cláusula de eleição de foro estrangeiro que exclui a competência da autoridade judiciária brasileira para os litígios decorrentes do contrato. c. Legislação Código de Processo Civil (artigos 1º a 69) Constituição Federal (artigo 1º, 3º 5º, I, XXXV, LIII, LIV, LV, LVI, LX, LXXVIII, 37, 93, IX) d. Julgados/Informativos Processo AgInt no RE nos EDcl no AgInt no RMS 61571 / MT AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2019/0233870-1 Relator(a) Ministro JORGE MUSSI (1138) Órgão Julgador CE - CORTE ESPECIAL Data do Julgamento 16/12/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 18/12/2020 Ementa AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. NÃO OCORRÊNCIA. TEMA 339/STF. OFENSA AO PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DE JURISDIÇÃO. TEMA 895/STF. CERCEAMENTO DE DEFESA, AFRONTA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. TEMA 660. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DO MANDADO DE SEGURANÇA. TEMA 318 DO STF. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. DESPROVIMENTO DO RECLAMO. 1. As decisões judiciais devem ser fundamentadas, ainda que de forma sucinta, não se exigindo análise pormenorizada de cada prova ou alegação das partes, nem que sejam corretos os seus fundamentos (Tema 339/STF). 2. A alegada violação ao princípio da inafastabilidade de jurisdição, por implicar ofensa indireta à Constituição ou análise de matéria fática, tem natureza infraconstitucional e não possui repercussão geral (Tema 895/STF). 3.A suposta afronta aos princípios do devido processo legal e da ampla defesa, se dependente da análise de normas infraconstitucionais, configura ofensa reflexa ao texto constitucional, não tendo repercussão geral (Tema 660/STF). 4. A insurgência quanto ao preenchimento dos pressupostos de admissibilidade do mandado de segurança tem natureza infraconstitucional, sem repercussão geral (Tema 318/STF). 5. Agravo interno não provido. Processo AgRg na Pet 13771 / RS AGRAVO REGIMENTAL NA PETIÇÃO 2017/0137273-4 Relator(a) Ministro RAUL ARAÚJO (1143) Órgão Julgador CE - CORTE ESPECIAL Data do Julgamento 16/12/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 01/02/2021 Ementa AGRAVOS REGIMENTAIS NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. PRIMEIRO AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA OPOSTOS CONTRA DECISÃO PROFERIDA NOS PRIMEIROS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. NÃO CABIMENTO. DECISÃO CONFIRMADA. DEMAIS AGRAVOS REGIMENTAIS CONTRA A MESMA DECISÃO. INADMISSIBILIDADE. PRIMEIRO AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. DEMAIS AGRAVOS REGIMENTAIS NÃO CONHECIDOS. 1. No Superior Tribunal de Justiça, os embargos de divergência somente são cabíveis para impugnar acórdãos proferidos em recurso especial, inexistindo previsão legal ou regimental que possibilite sua oposição contra aresto proferido no âmbito de outros embargos de divergência. É de ser confirmada a decisão agravada. 2. O STJ não possui competência para processar e julgar Habeas Corpus contra atos de seus órgãos julgadores (art. 105, I, c, da CF/1988), tarefa atribuída pela Constituição ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, I, i. 3. Uma vez interposto o primeiro agravo regimental, é vedado à parte inovar suas razões com a apresentação de um novo recurso contra a mesma decisão judicial, tendo em vistao princípio da unirrecorribilidade recursal e o instituto da preclusão consumativa. 4. Primeiro agravo regimental a que se nega provimento. Quatro últimos agravos regimentais não conhecidos. Acórdão Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Felix Fischer, Francisco Falcão, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, João Otávio de Noronha, Maria Thereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og Fernandes, Luis Felipe Salomão, Mauro Campbell Marques e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Humberto Martins. Processo CC 172535 / DF CONFLITO DE COMPETENCIA 2020/0124366-6 Relator(a) Ministro RAUL ARAÚJO (1143) Órgão Julgador CE - CORTE ESPECIAL Data do Julgamento 16/12/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 03/02/2021 Ementa CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA INTERNA DO STJ. PROCESSUAL CIVIL. PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE TELEFONIA E COBRANÇA INDEVIDA. COMPETÊNCIA DAS TURMAS COMPONENTES DA PRIMEIRA SEÇÃO. 1. A jurisprudência firmada pela Corte Especial no Conflito de Competência 138.405/DF, diz que, se a controvérsia gira em torno da inadequação na prestação de serviço público concedido e da responsabilidade civil decorrente, contratual ou não, predomina a natureza jurídica de Direito Público, impondo-se a competência das Turmas da Primeira Seção desta Corte Superior para processar e julgar o feito. 2. No caso, o litígio está centrado na alegada inadequação na prestação de serviço público de telecomunicações, por cobrança indevida de valores não contratados, e na responsabilidade civil daí decorrente. 3. Conflito conhecido para declarar a competência da eg. Primeira Turma desta Corte de Justiça, ora suscitante. Processo CC 173177 / DF CONFLITO DE COMPETENCIA 2020/0157776-0 Relator(a) Ministro RAUL ARAÚJO (1143) Órgão Julgador CE - CORTE ESPECIAL Data do Julgamento 16/12/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 03/02/2021 Ementa CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA. TARIFA DE CONSUMO ASSOCIADA À COBRANÇA DECORRENTE DO CONTRATO DE IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA DE ELETRIFICAÇÃO RURAL. CORTE NO FORNECIMENTO. COMPETÊNCIA DAS TURMAS QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO. 1. A questão controvertida envolve tarifa de consumo de energia elétrica associada à legalidade das cobranças decorrentes do contrato de implantação de sistema de eletrificação rural, bem como a manutenção do fornecimento de energia elétrica dos consumidores. 2. Não se olvida que o contrato de eletrificação rural firmado entre as partes tenham natureza privada. Todavia, não há exatamente discussão nos presentes autos a respeito do direito à devolução dos valores pagos em decorrência do contrato de eletrificação rural, o que levaria à aplicação do entendimento contido no invocado CC 150.055/DF. O debate travado nos autos está relacionado à própria exigibilidade do financiamento de eletrificação rural, tendo em vista a modificação das políticas governamentais de difusão do fornecimento de energia elétrica no campo, envolvendo a aplicação de normas da ANEEL e convênio público para custeio de obra pelo Erário. Nesse contexto, são invocadas normas de Direito Público. 3. Ao mesmo tempo, as questões atinentes à cobrança de tarifa de consumo e ao corte de fornecimento de energia elétrica estão diretamente ligadas à prestação de serviço público concedido e, por conseguinte, ao ramo de Direito Público, o que convoca o decidido no evocado CC 138.405/DF. 4. Conflito conhecido para declarar a competência da Primeira Turma desta Corte de Justiça, ora suscitante. Processo AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 1609564 / RO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 2019/0324048-4 Relator(a) Ministro JORGE MUSSI (1138) Órgão Julgador CE - CORTE ESPECIAL Data do Julgamento 01/12/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 07/12/2020 Ementa AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. NÃO OCORRÊNCIA. TEMA 339/STF. TEMAS 660, 182 E 181 DO STF. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. DESPROVIMENTO DO RECLAMO. 1. As decisões judiciais devem ser fundamentadas, ainda que de forma sucinta, não se exigindo análise pormenorizada de cada prova ou alegação das partes, nem que sejam corretos os seus fundamentos (Tema 339/STF). 2. A suposta afronta aos princípios do contraditório, da ampla defesa, do devido processo legal, bem como ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e aos limites da coisa julgada, se dependente da análise de normas infraconstitucionais, configura ofensa reflexa ao texto constitucional, não tendo repercussão geral (Tema 660/STF). 3. A insurgência quanto à valoração das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal tem natureza infraconstitucional, não tendo repercussão geral (Tema 182/STF). 4. A insurgência quanto ao preenchimento dos pressupostos de admissibilidade de recurso de competência deste Superior Tribunal de Justiça tem natureza infraconstitucional, sem repercussão geral (Tema 181/STF). 5. Agravo interno não provido. Processo AgInt no AREsp 1439053 / PR AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 2019/0022335-1 Relator(a) Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 29/06/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 03/08/2020 Ementa AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL. TESTAMENTO PARTICULAR. CONFIRMAÇÃO. REQUISITOS ESSENCIAIS. TESTEMUNHAS IDÔNEAS. LEITURA E ASSINATURA NA PRESENÇA DAS TESTEMUNHAS. INOBSERVÂNCIA. ABRANDAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. VONTADE DO TESTADOR. CONTROVÉRSIA. REEXAME DE PROVAS. INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. VALORAÇÃO DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE NA HIPÓTESE. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ) 2. Na origem, cuida-se de procedimento especial de jurisdição voluntária consubstanciado em pedido de confirmação de testamento particular. 3. Cinge-se a controvérsia a determinar se pode subsistir o testamento particular mecânico formalizado sem todos os requisitos exigidos pela legislação de regência, no caso, a leitura e a assinatura do documento pelo testador perante as testemunhas. 4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem flexibilizado as formalidades prescritas em lei no tocante às testemunhas do testamento particular quando o documento tiver sido escrito e assinado pelo testador e as demais circunstâncias dos autos indicarem que o ato reflete a vontade do testador. 5. No caso em apreço, rever a conclusão do tribunal de origem, que, à luz da prova dos autos, entendeu que a verdadeira intenção do testador revela-se passível de questionamentos, não sendo possível verificar, de modo seguro, que o testamento exprime a real vontade do testador, atrai o óbice da Súmula nº 7/STJ. 6. A errônea valoração da prova que dá ensejo à excepcional intervenção do Superior Tribunal de Justiça na questão decorre de falha na aplicação de norma ou princípio no campo probatório, e não das conclusões alcançadas pelas instâncias ordinárias com base nos elementos informativos do processo. 7. Agravo interno não provido. e. Leitura sugerida - BRUSCHI, Gilberto Gomes. Coleção Prática e Estratégia. Recuperação de Crédito, Ed. RT, 2º ed, 2019. - BRUSCHI, Gilberto Gomes. COUTO, Mônica Bonetti. Recursos Cíveis Coleção Prática e Estratégia. Volume 8.Ed. RT, 2019. - GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva, 12º ed. 2021. - MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. Ed. 5º ed. RT. 2020. - SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil –– Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021. - THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – Vol. III. 54ª edição. São Paulo: Editora Forense, 2019. f. Leitura complementar - CUNHA, Douglas. Princípios e características da jurisdição. https://douglascr.jusbrasil.com.br/artigos/133293355/principios-e- caracteristicas-da-jurisdicao Acesso em 11/02/2021. - FAHS, Alissar Ali. Breves comentários sobre a jurisdição voluntária: Alteração do Regime de bens dos matrimônios. https://emporiododireito.com.br/leitura/breves-comentarios-sobre-a- jurisdicao-voluntaria-a-alteracao-de-regime-de-bens-dos- matrimonios Acesso em 11/02/2021. - LOPES, Renan Kfouri. Procedimentos Especiais de Jurisdição Voluntária no Novo Código de Processo Civil. https://www.rkladvocacia.com/procedimentos-especiais-de- jurisdicao-voluntaria-no-novo-codigo-de-processo-civil/ Acesso em 11/02/2021. - HELLMAN, Rene Francisco. O duplo grau de jurisdição e a jurisprudência defensiva. In Empório do Direito. http://emporiododireito.com.br/leitura/o-duplo-grau-de-jurisdicao-e- a-jurisprudencia-defensiva-por-rene-francisco-hellman. Acesso em 11/02/2021. - IGLESIAS, André de Freitas. Modificação da Competência e o Novo CPC. https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/modificacao_da _competencia_no_novo_cpc_-_andre_iglesias.pdf Acesso em 11/02/2021. - LEITE, Gisele. Jurisdição, Ação e Condições da Ação, segundo o Novo CPC. https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/artigos/175609099/juri sdicao-acao-e-condicoes-da-acao-segundo-o-novo-cpc Acesso em 11/02/2021 - MEZZONO, Marcelo Columbelli. Jurisdição, Ação e Processo `a luz da processualística moderna. http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_ id=5293 Acesso em 11/02/2021. - QUARIGUASI, Leandro. As condições da ação a luz do novo CPC. https://jus.com.br/artigos/59705/as-condicoes-da-acao-a-luz-do- novo-cpc Acesso em 11/02/2021. - SANTOS, Ivonildo Reis. Os objetivos do novo CPC e os princípios ao fazer a petição inicial https://juridicocerto.com/p/ivonildo-reis-santo/artigos/objetivos-do- novo-cpc-e-os-principios-ao-fazer-a-peticao-inicial-2245 Acesso em 11/02/2021.
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