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Apostila Urbanismo - Introdução e Surgimento da Cidade Primitiva

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
LIÇÕES DE URBANISMO 
 
POR LUIZ CARLOS TOLEDO 
Professor Adjunto da Disciplina de Urbanismo da Faculdade de Engenharia da 
Universidade Estadual do Rio de Janeiro de Arquitetura 
Doutor em Teoria da Arquitetura pelo PROARQ da Faculdade de Arquitetura da 
UFRJ 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
„‟Se quisermos lançar novos alicerces para a vida urbana, cumpre-nos 
compreender a natureza histórica da cidade e distinguir, entre as suas 
funções originais, aquelas que dela emergirem e aquelas que podem se 
ainda invocadas. Sem uma longa carreira de saída pela História, não 
teremos a velocidade necessária, em nosso próprio consciente, para 
empreender um salto suficientemente ousado em direção ao futuro, pois 
grande parte dos atuais planos, sem exceção de muitos daqueles que 
se orgulham de ser “avançados” ou “progressistas” constituem pouco 
engraçadas caricaturas mecânicas das formas urbanas e regionais que 
ora se acham potencialmente ao nosso alcance” (MUNFORD, 1965, 
p.11) 
 
A publicação destas notas de aula, após quase três décadas ministrando a Disciplina de 
Urbanismo do Curso de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro - UERJ foi, para mim, uma grata satisfação, já que as imaginava 
perdidas, entre os guardados dos meus ex-alunos. 
Foi uma ex-aluna, a Professora Doutora Luciana Correa do Lago que delas se lembrou e 
viabilizou sua publicação pelo IPPUR - Instituto de Planejamento e Pesquisa Urbana e 
Regional da UFRJ. A publicação compreende, além da apostila, dividida em dez 
capítulos, transcrições e apresentações em Power Point de todas as aulas do curso. 
Entre os meios disponibilizados pelo IPPUR para a realização do trabalho destaco a 
presença semanal de Fernanda Petrus, aluna da Faculdade de Arquitetura da UFRJ e 
Bolsista do IPPUR que, durante um ano, foi minha aluna exclusiva gravando as aulas, 
transcrevendo-as, montando as apresentações e cuidando das ilustrações da apostila. 
O texto escrito há quase trinta anos precisava de uma revisão geral que implicou, 
inclusive, na introdução de novos capítulos além de várias sugestões para discussões em 
classe com o objetivo de apoiar os professores que, eventualmente, desejem utilizar a 
apostila e as apresentações em suas aulas. 
Confesso que o mais me animou nessa empreitada foi ter descoberto, longe da academia, 
um novo público formado pelas lideranças e jovens da Rocinha que assistiram às aulas 
em 2008, numa pequena sala no alto da favela. Explicar para essa platéia, sempre atenta, 
como os gregos controlavam o crescimento de suas cidades e, em seguida, discutir como 
combater a ocupação excessiva do solo da Rocinha foi uma experiência inesquecível. 
Assim, quero acreditar que essas lições poderão ter lugar dentro e fora da academia, 
democratizando o conhecimento do urbanismo entre todos aqueles que participam da 
construção de nossas cidades. 
As aulas tratam da evolução das cidades e do pensamento urbanístico no período entre o 
surgimento das proto-cidades e a formação das cidades contemporâneas, conteúdo que 
julgo necessário conhecer para que, como urbanistas e cidadãos, possamos ajudar a 
construir uma cidade mais inclusiva e democrática. 
As aulas têm como principais objetivos: 
 Permitir uma melhor compreensão da Cidade, em toda sua complexidade, a partir 
do estudo da evolução de estruturas urbanas que, ao longo da história do urbanismo, 
constituíram verdadeiros paradigmas projetuais. 
 Identificar, analisar e comparar modelos, conceitos e símbolos em estruturas 
urbanas de diferentes períodos históricos. 
 Avaliar e compreender problemas urbanos atuais através de uma aproximação 
multidisciplinar, na qual as questões sociais, econômicas, ambientais e urbanísticas são 
consideradas em conjunto. 
 Conhecer o desenvolvimento do pensamento urbanístico, assim como os 
principais instrumentos de gestão e planejamento urbano. 
Antes de concluir esta introdução gostaria de chamar a atenção para uma peculiaridade 
da Disciplina de Urbanismo. 
A grande diferença desta disciplina em relação às demais está no fato dos alunos, desde 
do primeiro dia de aula, serem especialistas em urbanismo, capazes de resolver 
complexos problemas urbanísticos no seu dia a dia. 
Com efeito, sem sermos profundos conhecedores do urbano não sobreviveríamos nas 
cidades, onde a cada instante somos obrigados a enfrentar problemas urbanísticos 
quando, por exemplo, decidimos que condução tomar ou qual o melhor itinerário para 
chegarmos a um lugar qualquer da cidade, em um tempo determinado, considerando 
dezenas de variáveis, entre elas o clima, o custo, o conforto e o tempo de duração da 
viagem em cada meio de transporte etc. 
Mesmo sem darmos conta, assim como não prestamos atenção para o ato de respirar, 
uma grande quantidade de variáveis urbanísticas é avaliada ao resolvermos estas 
questões, o que faz de nós, moradores da cidade, verdadeiros especialistas, quando se 
trata do urbano. 
Essas considerações levaram-me a adotar a seguinte estratégia didática: em vez de 
ministrar somente noções que não fazem parte do repertório dos alunos, tratar de 
recuperar aquelas que moram no inconsciente de cada um, organizando-os de forma a 
que possam ser utilizado na vida profissional, mas também enquanto cidadãos 
conscientes de nossas responsabilidades na produção de ambientes urbanos mais 
sustentáveis e inclusivos. 
 
 
 
Fig.1 Relação entre conhecimentos do especialista e os de todos nós. 
 
1.1 Primeiros Conceitos 
Ainda no corpo dessa introdução gostaria de chamar atenção para dois conceitos que 
julgo fundamentais para a compreensão do processo de evolução urbana que levou a 
criação da cidade contemporânea. 
Esse processo, como não poderia deixar de ser, não é tratado no curso com neutralidade, 
tanto pela proximidade ao objeto de análise (a cidade na história), como por sermos 
observadores participantes de sua evolução. 
 Deste modo as aulas que se seguem refletem, de alguma maneira, meu pensamento, 
minha atuação profissional e minha indignação com a consolidação de cidades que, 
cada vez mais, excluem a população mais pobre, tratando seus membros como 
cidadãos de segunda classe, sem acesso à habitação de qualidade, à infra-estrutura 
e aos equipamentos e serviços urbanos a que têm direito. 
 Assim, para que possamos discutir com maior propriedade esses e outros problemas que 
afetam as cidades temos, primeiramente, que conhecer alguns conceitos e nos 
familiarizarmos com a linguagem dos urbanistas1, profissionais que se dedicam tanto a 
estudar as estruturas urbanas como as formas de nelas intervir. 
É bom lembrar que certas palavras, quando empregadas em determinados contextos, 
adquirem significados próprios, podendo vir a constituir linguagens mais ou menos 
herméticas, que dificultam aos “intrusos” apropiarem-se dos conhecimentos dos iniciados. 
É o que acontece, por exemplo, com a linguagem dos físicos, dos matemáticos, dos 
advogados, é assim com o “economês” e, como não poderia deixar de ser, em alguns 
casos com o “urbanês”. 
 
1.1.1 O Conceito de Urbano e Rural 
O arquiteto Leonardo Benévolo, um dos mais conceituados estudiosos da cidade, ensina: 
“A palavra cidade emprega-se em dois sentidos: para indicar uma 
organização da sociedade concentrada e integrada, que começa 
há cinco mil anos no Oriente Próximo e que então se identifica 
com a sociedade civil; ou para indicar a situação física desta 
sociedade. A distinção é importante pelo motivo prático de que a 
situação física de uma sociedade é mais durável do que a própriasociedade e pode ainda ser constatada – reduzida a ruínas ou 
funcionado- enquanto a sociedade que a produziu já desapareceu 
há muito tempo”. (BENEVOLLO, 1991,p 13) 
 
Como explica Benevollo não é tão simples assim encontrar uma única definição para 
Cidade, já que esta varia, inclusive, conforme o país. 
Em muitos países o número de habitantes é o fator determinante para uma aglomeração 
ser considerada como urbana. No Japão, por exemplo, uma área é urbana quando sua 
 
1
 O termo urbanista vem sendo pouco a pouco substituído pelo o de planejador urbano na medida 
em que o Urbanismo, cujo principal objetivo seria o embelezamento do espaço tem dado lugar ao 
Planejamento Urbano, disciplina considerada de maior complexidade abrangendo não só os 
aspectos físicos, mas também os econômicos, sociais e administrativos. 
população é igual ou superior a 30.000 pessoas, enquanto que, na Islândia, grupamentos 
com população superior a trezentos habitantes já são classificados como urbanos. 
Na Índia uma localidade é classificada como Cidade quando apresenta mais de 100.000 
habitantes, Localidade Urbana quando possui população superior a 5.000 habitantes e 
Localidade Rural quando sua população é inferior a esse número. 
Nos países que não fazem distinção numérica as definições de urbano e rural variam 
ainda mais. No Brasil são consideradas Cidades somente as sedes municipais, 
independentemente de sua população, a Inglaterra e o País de Gales, incluem como 
urbanos todos os condados, municípios e distrito urbanos, enquanto na Austrália 
consideram-se cidades apenas as capitais de Estados e Territórios, além de alguns 
núcleos e áreas especiais. 
Do ponto de vista funcional uma simples concentração de pessoas em um determinado 
ponto do espaço não constitui, por si só, uma estrutura urbana. Para que um grupamento 
humano seja considerado urbano sua população deverá estar, em sua maioria, ocupada 
em atividades secundárias (atividade industrial) e terciárias (atividades comerciais e de 
prestação de serviços), próprias das Cidades. 
 
Fig. 2: A Mina de ouro de Serra Pelada, no sul do Estado do Pará chegou a ter mais de 70.000 garimpeiros, 
no entanto não pode ser considerada uma cidade. 
 
As áreas que abrigam atividades primárias (agrícolas e extrativas) constituem as zonas 
rurais já que, em geral, se desenvolvem através de uma utilização extensiva do território, 
incompatível com a escala urbana. 
A melhor maneira de compreendermos os conceitos de urbano e rural é pensarmos um 
pouco nas suas diferenças: uma localidade rural pode ser auto- suficiente, garantindo a 
seus habitantes os produtos necessários a sua sobrevivência. Já uma comunidade 
urbana, onde não é possível um contacto direto com a natureza, sempre dependerá dos 
alimentos e outros insumos produzidos no campo para manter sua população. 
Para aprofundar nossa compreensão do conceito de urbano e rural recomendamos a 
leitura de pelo menos dois capítulos do livro Economia Política da Urbanização do 
economista paulista Paul Singer (SINGER, 1977): o capítulo À guisa de Introdução: 
Urbanização e Classes Sociais e o capítulo Campo e Cidade no Contexto Histórico Latino 
Americano. 
„„Campo é o lugar onde se dá a atividade primária, onde o homem entra 
em contato direto, primário com a natureza, dela extraindo as substâncias 
que vão lhe satisfazer as necessidades.O que caracteriza o Campo, 
portanto, em contraste com a cidade, é que ele pode ser - e de fato, muitas 
vezes tem sido- auto-suficiente. A economia natural é um fenômeno 
essencialmente rural. No campo se pratica a agricultura e, em 
determinadas condições, todas as demais atividades necessárias ao 
sustento material da sociedade. O campo pode, portanto, subsistir sem a 
cidade e realmente, na história, precedeu à cidade‟‟ (SINGER, 1977, p.12). 
 
Os conceitos de urbano e rural são importantes para que possamos entender o processo 
que levou ao surgimento dos primeiros aglomerados urbanos e a formação das classes 
sociais. 
Segundo Paul Singer, o surgimento dos primeiros núcleos, as proto-cidades, só se tornou 
possível quando o campo começa a produzir um excedente alimentar que é transferido 
regularmente para esses aglomerados: 
„„Esta (a cidade) só pode surgir a partir do momento em que o 
desenvolvimento das forças produtivas é suficiente, no campo, para 
permitir que o produtor primário produza mais que o estritamente 
necessário à sua subsistência. Só a partir daí é que o campo pode 
transferir à cidade o excedente alimentar que possibilita sua existência. A 
produção do excedente alimentar é uma condição necessária, mas não 
suficiente para o surgimento da cidade. È preciso ainda que se criem 
instituições sociais, uma relação de dominação e de exploração enfim, que 
assegure a transferência do mais –produto do campo à cidade‟‟. (SINGER, 
1977, p.13). 
Os fluxos permanentes de alimentos e matérias primas vindas do campo permitirão que 
os habitantes da cidade possam dedicar-se às atividades próprias dos núcleos urbanos, 
sejam elas ligadas ao artesanato, ao comércio, a religião ou a carreira militar. 
 
Fig. 3: Relações entre a Cidade Estado e o Campo num primeiro momento 
 
A partir dessa divisão do trabalho formam-se as classes sociais e, somente então, a 
cidade passará a ter uma produção própria que será utilizada como moeda de troca para 
a aquisição dos produtos primários produzidos no campo. 
No texto de Singer veremos que a “Cidade Estado”, isto cidade vista como centro de 
poder, antecede a Cidade Comercial e que esta decorre de uma cidade que domina um 
determinado território, dele extraindo o mais produto. 
 
Fig.4: Relações entre Cidade Estado e o Campo num segundo momento 
 
A cidade é o modo de organização social que permite à classe dominante maximizar as 
transformações do excedente alimentar não consumido por ela, em poder militar e este 
em dominação política. 
Veremos também que a especialização funcional dos indivíduos, num segundo momento 
também ocorrerá com as cidades que desenvolverão atividades próprias, passando a 
integrar um sistema de cidades em que cada uma exerce, preponderantemente, uma ou 
mais funções de produção diferenciadas, complementares às demais. 
Esta especialização é visível em cidades como Meca, Benares, Jeruzalém e Aparecida 
que, até hoje, têm na celebração da religião sua principal função. Se formos procurar no 
passado as cidades gregas de Kós, com a medicina e Olímpia, com os jogos e o culto ao 
prazer são bons exemplos. 
 
 
Fig. 5: Cidades Especializadas: 1 – Meca 2- Las Vegas 3-Paraty 4-Volta redonda 5-Aparecida 6-Jerusalém 
 
O efeito do surgimento da cidade e, posteriormente, dos sistemas de cidades sobre o 
desenvolvimento das forças produtivas foi tão intenso que podemos pensar em uma 
verdadeira “revolução urbana”, num sentido análogo ao da revolução industrial. 
Neste sentido podemos dizer que o desenvolvimento das forças produtivas não pode ser 
entendido como um processo apenas econômico, na medida em que é condicionado tanto 
pela expansão da divisão de trabalho intra e interurbanas, como pela qualidade do espaço 
sócio-político no qual a cidade se insere, isto é, a natureza das relações de produção que 
se estabelecem no campo e na cidade. 
 
 
 
 
1.1.2 O Conceito de Cidade Formal e Informal 
Diferentemente do primeiro conceito, a divisão da cidade em formal e informal ou entre 
morro e asfalto, como se diz nas comunidades, carrega em si alguns problemas. 
 O primeiro deles é que a cidade dita formal não é tão formal assim, já que uma parte das 
edificações nela localizadaforam erguidas sem obedecer a legislação em vigor. 
O segundo problema dessa divisão está no fato de que a cidade formal e a informal, 
contrariamente ao senso comum, são faces distintas da mesma moeda, surgem ao 
mesmo tempo e, economicamente, dependem uma da outra. Na verdade a divisão torna-
se mais evidente e começa a nos incomodar quando a cidade informal passa a crescer 
num ritmo mais veloz, ocupando espaços até então reservados ao mercado imobiliário, 
desvalorizando imóveis e, por vezes, bairros inteiros. 
O texto a seguir foi escrito em 2010, para participar do Concurso Morar Carioca, 
promovido pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Nele procurei contar um pouco da 
história do surgimento das favelas na cidade do Rio de Janeiro e como o problema foi 
tratado por governantes e urbanistas. 
 
Fig 6: A cidade formal (São Conrado) vista da Cidade Informal ( Rocinha) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DA REMOÇÃO À URBANIZAÇÃO, UM CAMINHO DE MUITAS VOLTAS. 
O Rio de Janeiro, nos últimos 100 anos, viu uma parte importante de seu território ser 
ocupado por favelas e loteamentos irregulares. Nos últimos dez anos a maior parte dessas 
ocupações transformou-se em territórios segregados, reféns do tráfico de drogas ou nas 
mãos das milícias, associações para-militares criadas com o objetivo de expulsar ou inibir 
a ação do tráfico que, rapidamente, transformaram-se nos novos algozes de uma imensa 
maioria de trabalhadores que encontraram nas favelas as condições de moradia e 
sobrevivência que a cidade formal não lhes oferecia. 
Não podemos culpar unicamente a criminalidade pela segregação desses espaços, as 
diferenças gritantes de qualidade de vida decorrente da falta de infra-estrutura e de 
serviços públicos, restritos ao asfalto, como se diz nas comunidades, e mais do que tudo o 
estranhamento e o preconceito histórico da sociedade senhorial em relação aos mais 
pobres, também contribuíram para erguer muralhas invisíveis em torno das favelas, numa 
tentativa de isolá-las da cidade a que pertencem e que, mais recentemente, se 
concretizaram nos muros levantados para conter seu crescimento. 
A imundície dos becos do Vidigal, as montanhas de lixo nas calçadas da Estrada da 
Gávea, na sua tortuosa passagem pela Rocinha, o mau cheiro que vêm dos valões 
obstruído pelo lixo, a infestação de insetos e ratazanas que infernizam os moradores, são 
vistos como sinais da falta de educação e de higiene dos favelados. 
 
Fig.7: Lixo acumulado na calçada da Estrada da Gávea em sua passagem pela Rocinha 
 
Esse, entre outros tantos equívocos, têm contribuído para aumentar o preconceito em 
relação aos favelados. 
Tanto lixo não recolhido como os “gatos e gatonets” que popularizaram o roubo de energia, 
dos sinais de TV e da Internet e a presença ostensiva dos traficantes não devem ser 
creditados aos moradores das comunidades e sim à ausência do Estado que, durante 
décadas reduziu sua presença e a aplicação de recursos nas favelas ao mínimo, 
preferindo dirigi-los para a cidade formal. 
Se as favelas não crescessem tanto, poluindo a paisagem e desvalorizando nossos 
imóveis, se o tráfico de drogas não ameaçasse nossas famílias e nos impedisse de circular 
livremente pela cidade, se os gastos com segurança particular não fossem tão elevados, a 
manutenção do “status quo” seria conveniente para a parcela da sociedade que sempre se 
beneficiou com a proximidade de mão de obra abundante e barata, pronta a trabalhar na 
informalidade em atividades pouco prestigiadas, ainda que fundamentais para a economia 
informal e para o bem estar dos patrões, em se tratando de serviços pessoais de toda a 
espécie. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Governos, historicamente alheios ao crescimento e as necessidade da população 
favelada, têm agravado o problema com políticas excludentes que, dificultam o acesso à 
terra e desalojam os pobres, sob os mais diversos pretextos, ora para “modernizar” a 
estrutura urbana, como na abertura da Avenida Rio Branco, ora com a bandeira higienista, 
como no desmonte do Morro do Castelo em 1920, para “arejar” o Centro da Cidade, ora 
para atender a interesses imobiliários, como nas remoções dos anos sessenta, sob o 
manto protetor da ditadura. 
 O embelezamento da cidade, preparando-a para realização de eventos também serviu de 
pretexto para levar os pobres para longe de seu mercado de trabalho, como aconteceu 
durante a preparação da cidade para as comemorações do primeiro centenário da 
independência, desafio enfrentado pelo prefeito Carlos Sampaio (1920-1922). 
“Decidido a enfrentar esse desafio, o prefeito, logo após tomar 
posse e realizando um desejo antigo, mandou retirar do 
centro da cidade “ em nome da aeração e da higiene” o local 
que dera origem à urbe no século XVI – O Moro do Castelo. 
Embora fosse um sítio histórico, o morro havia se 
transformado em local de residência de inúmeras famílias 
pobres, que se beneficiavam dos alugueis baratos das antigas 
construções aí existentes. Situava-se, entretanto, na área de 
maior valorização do solo da cidade, a dois passos da 
Avenida Rio Branco, daí porque era preciso eliminá-lo não 
apenas em nome da higiene e da estética, mas também da 
reprodução do capital” (ABREU, 1988, p.76) 
Mais recente foi o caso da Favela do Esqueleto, cuja remoção, juntamente com o morro 
que lhe deu nome, foi feita, segundo Andrelino Campos, para melhorar a estética do 
Estádio Mario Filho (CAMPOS, 2005, p76), dando lugar ao terreno onde foi construída a 
UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro. 
A política de remoções, ou seja, a que desalojou os habitantes dos cortiços e casas de 
cômodos da área central, ou a que despachou os moradores das favelas da Zona sul e da 
Zona Norte para a Cidade de Deus e Vila Kenedy, além de brutais, revelaram-se inócuas 
para a contenção do processo de favelização do Rio de Janeiro. 
Lícia Valladares, em seu livro Passa-se Uma Casa, explica a principal razão desse 
insucesso : 
”O processo de expansão das favelas esteve sempre 
associado à questão habitacional ( a produção de moradias 
muito abaixo da demanda por esse bem) e, em geral, 
acusam-se os moradores de favelas de “incapacitados” de 
adaptar-se à dinâmica do capitalismo. Entretanto, para o 
favelado excluído do mercado formal do trabalho, há muito 
tempo, morar em favela representa não apenas uma questão 
habitacional e sim uma alternativa de moradia dotada de 
característica altamente vantajosa: está fora dos padrões 
institucionais e dentro das possibilidades concretas de cada 
favelado” (VALLADARES, 1980:31). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A afirmação de Licia Valladares explica, em parte, a resistência dos moradores em deixar 
suas comunidades, bem como o fluxo de famílias que recorrem às favelas por questão de 
sobrevivência, numa cidade que lhes nega, inclusive, a condição plena de cidadão, como 
ensina Milton Santos: 
„‟É impossível imaginar uma cidadania concreta que 
prescinda do componente territorial. Vimos, já que o valor do 
indivíduo depende do lugar em que está e que, desse modo, 
a igualdade dos cidadãos supõe, para todos, uma 
acessibilidade semelhante aos bens e serviços, sem os 
quais a vida não será vivida com aquele mínimo de 
dignidade que se impõe‟‟ (SANTOS, 1987, p.116) 
Com o fim da ditadura, a Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da Cidade do Rio 
de Janeiroe seu Plano Diretor Decenal e, principalmente, a firme atuação da Secretaria 
Municipal de Habitação a frente do Programa Favela Bairro, afastaram o fantasma da 
remoção que, ainda assim, assusta a população das favelas toda vez que o assunto volta 
à tona, como há alguns meses atrás por conta das enchentes que assolaram a Cidade e 
o Estado. 
Hoje, a urbanização das favelas é um consenso duramente conquistado e não mais a 
utopia a que se lançou, em 1965, um grupo de alunos da faculdade de arquitetura da 
UFRJ, tendo a frente o saudoso arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos, ao elaborar 
um plano de urbanização para a favela Braz de Pina. 
Carlos Nelson foi, além de ótimo arquiteto, um antropólogo brilhante, autor de livros e 
artigos que conquistaram corações e mentes no Brasil e no exterior. De todos os 
ensinamentos que Carlos deixou, o que mais nos comove e talvez o mais importante foi 
dar voz aos moradores em todos os trabalhos de que participou, sempre tratados como 
protagonistas do processo de planejamento, ou como ele dizia como seus clientes. 
As palavras que escolheu para relatar o início do Plano de Braz de Pina e que, até hoje, 
nos servem de estímulo e inspiração, descrevem o momento em que, por falta de uma 
planta geral da favela, tratou de ensinar aos moradores noções básicas de triangulação 
para que desenhassem em pedaços de papel pequenos trechos da favela que 
cuidadosamente reunidos formaram o desenho que faltava. 
“Como Urbanista nunca tive melhor experiência profissional 
do que a desse tempo em que trabalhamos tão diretamente 
com os nossos “clientes”. Ainda que parecesse lógico o 
contrário, é muito raro que urbanistas tenham contatos face 
a face com as pessoas para quem fazem planos. Vivíamos 
com o escritório cheio de favelados que o invadiam para ver 
o que fazíamos e ficavam para discussões que varavam a 
noite. Era emocionante ir recebendo aqueles pedaços dos 
mais diversos papéis e ir vendo um trabalho que surgia aos 
poucos”. (SANTOS, 1981, p45) 
Hoje quando o número dos moradores de favelas ultrapassa a casa de um milhão é difícil 
acreditar que no final da década de quarenta, reconhecidamente o período de maior 
proliferação de favelas no antigo Distrito Federal, o senso de favelas de 1948 contabilizou 
apenas 105 comunidades e uma população de 169.305 habitantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De um problema quase pontual, que poderia ter tido solução com uma oferta de moradias 
populares compatível com a demanda da época, o crescimento das favelas tornou-se, 
nos dias de hoje, de difícil solução, tanto pela dimensão do problema como pelo volume 
de recursos humanos e financeiros necessários. 
Com o programa da Prefeitura Morar Carioca, criou-se nova oportunidade para a 
urbanização das favelas do Rio de Janeiro e, mais uma vez, o IAB 
-RJ e a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro convocam os arquitetos para enfrentar a 
tarefa de integrar as favelas à cidade, requalificando seu espaço, aumentando sua 
acessibilidade, dotando-as de infra-estrutura e de serviços urbanos. 
A meta do Governo Municipal de urbanizar todas as favelas até 2020 é, certamente, 
ambiciosa e, num primeiro momento, pode parecer impossível de ser alcançada, como 
tantas outras promessas feitas em períodos eleitorais. 
Entretanto, para concretizá-la a Prefeitura contará com conjuntura favorável, tanto pelo 
momento econômico que o país e, particularmente, o Rio de Janeiro atravessam, como 
pelo alinhamento político entre os governos federal, estadual e municipal e pelo 
compromisso inadiável dessas instancias de governo de preparar a cidade para os 
eventos que serão realizados a partir de 2012, com os Jogos Militares, a Copa do Mundo 
em 2014 e as Olimpíadas em 2016. 
Esperamos que o Programa Morar Carioca não restrinja sua atuação às favelas próximas 
às arenas, aos caminhos que levarão aos jogos e aos pontos turísticos da cidade e sim 
constitua um paço importante para a integração de todos os territórios, hoje segregados, 
à cidade, dando aos seus habitantes a condição de cidadãos. 
Urbanizar as favelas, entretanto, não será suficiente para evitar seu crescimento e a 
realimentação do problema, urge que desde já seja equacionada a oferta de habitação 
para as camadas mais pobres da população e para que essa questão seja levada a bom 
termo será necessário que, em paralelo à urbanização das favelas, ocorra a oferta de 
moradias populares em locais servidos por transporte, infra-estrutura e serviços urbanos. 
Nesse sentido a conjuntura também se mostra favorável devido as obras viárias que 
serão parte do legado olímpico que, além de criar melhorar a circulação na cidade, criarão 
condições para que os governos estadual e municipal formem um estoque de terras com 
as áreas que desapropriadas, permitindo a promoção de um programa habitacional que, 
atendendo a demanda por moradias populares servidas por transporte, infra-estrutura e 
serviços, contribua para eliminar uma das principais causas do processo de favelização – 
a falta de acesso à moradia de qualidade das camadas populares da população. 
 
Fig.8: Desenhos Rupestres 
 
 
 
2 O SURGIMENTO DA CIDADE PRIMITIVA 
 
 
 
 
 
2. O SURGIMENTO DA CIDADE PRIMITIVA 
Se considerarmos que a idade do planeta Terra equivale a um ano de nossa existência, 
podemos dizer que o homem surgiu na última hora desse ano e a cidade somente nos 30 
segundos finais. 
No período Paleolítico Superior (75.000 –15.000 AC.) os homens, reunidos em 
pequenos grupos deslocavam-se continuamente tendo na coleta de frutos e raízes, na 
caça e na pesca, sua forma de sobrevivência. O rápido esgotamento desses recursos 
naturais limitava o tamanho dos grupos e os obrigavam a grandes deslocamentos em 
busca de alimento. 
Periodicamente esses grupos se reuniam, geralmente em cavernas, para a prática de 
rituais mágicos. A importância destes encontros era enorme tanto pela troca de 
experiências entre os diferentes grupos, como pela ocorrência de casamentos inter-
grupais que afastavam o perigo da consangüinidade. 
O homem é fundamentalmente um ser social, o prazer de não estar só estimulava a 
realização destes encontros, nos quais os horizontes culturais dos grupos se ampliavam 
em um ambiente que certamente oferecia uma sensação de segurança contra os perigos 
enfrentados pelos pequenos grupos em suas atividades de coleta. 
 
Fig. 9:Desenho de um encontro na gruta 
 
A função mágica destes pontos de encontro será revivida, de certa forma em cidades 
como Meca, Roma, Jerusalém, Benares, Kioto, Lurdes, Aparecida do Norte, entre 
inúmeras outras, que se desenvolveram tendo na religião sua principal função. 
 
 Fig. 10: Benares, Índia e Lourdes, França 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É bom não esquecer que a relação entre os membros dos grupos que viviam da coleta, da pesca e 
da caça era muito diferente da relação que temos com nossos amigos e familiares. Naquela época o 
indivíduo não era importância e sim o grupo, com sua capacidade de sobreviver num ambiente 
hostil, sempre ameaçado pela fome, pelos ataques de grupos rivais ou dos grandes predadores e 
pelos perigos da consanguinidade, capaz de enfraquecê-lo geneticamente. 
A cabeça de um era a cabeça do grupo, o braço de um era o braço de todos. O mistério da morte e 
a lealdade grupal fazia com que carregassem seus mortos, enrolados em esteiras, durante longos 
percursos, para enterrá-los à sombra de penhascos ou na escuridãodas grutas, em cerimônias 
fúnebres, com a participação de diversos grupos. 
Os dias eram marcados pelo nascer e pelo por do sol, os meses pelo ciclo da lua ou pela 
menstruação das mulheres. 
Durante as cerimônias os grupos trocavam conhecimentos, por vezes vitais para sua sobrevivência. 
Quando reunidos sentiam-se mais fortes e protegidos contra eventuais inimigos comuns, junte-se a 
isso a natural sociabilidade da espécie humana, que faziam com que os encontros se prolongassem 
muito além das cerimônias. A reunião de diversos grupos atenuava os perigos da consangüinidade 
e possibilitava que novas armas fossem testadas, assim como uma infinidade de conhecimentos 
fossem compartilhados. 
Até mesmo os locais dos encontros se transformavam: paliçadas eram erguidas, trilhas abertas e, 
até mesmo, as sementes plantadas pelas mulheres, durante os rituais de fertilidade, faziam desses 
sítios viveiros de plantas úteis que forneciam alimentos, remédios e materiais com que eram 
confeccionados cestos, colares, cabaças para armazenar líquidos e muitos outros artefatos. 
Dos rituais de fertilidade herdamos não só as belas estatuetas das Venus Pré-históricas, mas 
também a grande maioria dos alimentos de origem vegetal que hoje consumimos. Graças às 
mulheres tanto as sementes e as mudas foram “domesticadas assim como os animais domésticos, 
cujas crias muitas vezes compartilharam com os recém-nascidos o seio dessas formidáveis mães 
pré- históricas. 
A domesticação das sementes e dos animais não foram as únicas contribuições das mulheres, 
possivelmente foram elas que, deixadas a vigiar o fogo durante as caçadas, perceberam que as 
pelotas de barro, feitas pelas crianças, tornavam-se rígidas quando expostas ao fogo. 
 
Dessa descoberta até o domínio da cerâmica, muitos séculos se passaram o que não tira mérito da 
descoberta. Durante milhares de anos o corpo das mulheres foi a forma com que se 
confeccionavam vasos e telhas, confirmando a lenda que atribui a deusa Venus a fabricação da 
primeira ânfora, moldada em seu seio e dada de presente aos mortais para que esses pudessem 
armazenar o vinho, o azeite e os grãos. 
Só a mulher era capaz de gerar filhos que garantissem a preservação da célula grupal, daí se 
explica a reverência ao feminino naquele mundo dominado pela força bruta dos machos e que se 
evidenciava nas formas circulares e nos cheios e vazios da oca, dos potes, vasos, panelas e 
estatuetas que remetiam ao corpo da mulher. 
No período Mesolítico (15.000 a 10.000 AC) surgem os primeiros indícios de colonização 
permanente, em culturas que viviam principalmente da coleta de crustáceos, peixes e 
sargaços, do plantio de alguns tubérculos e, complementarmente, da caça e da pesca. 
A partir 12.000 AC pesquisas arqueológicas encontraram os testemunhos da realização 
de reuniões sistemáticas de grupos sociais , assim como do plantio de sementes e da 
domesticação e criação de alguns animais em rebanhos. As reuniões eram realizadas nas 
proximidades de cavernas, onde eram erguidos núcleos de duração efêmera, dado o 
rápido esgotamento dos recursos naturais provocado pela reunião dos grupos em um 
mesmo sítio. 
No período Neolítico (10.000 a 3.000 AC) surgem as primeiros aglomerados urbanos 
permanentes, também chamados de proto-cidades. A mais antiga povoação neolítica na 
Europa Pré-histórica denominava-se Barkaer e localizava-se na península continental da 
Dinamarca. Era formada por cerca de 52 habitações pequenas de um só cômodo. 
Os aglomerados urbanos neolíticos normalmente tinham uma população média entre 200 
a 400 habitantes abrigados em 16 a 30 casas. 
Nas últimas fases da cultura neolítica com o crescente domínio das técnicas agrícolas de 
irrigação e seleção de sementes, a utilização do arado e do calendário agrícola ocorre um 
aumento extraordinário da produção. A esse surto de desenvolvimento deu-se o nome de 
Revolução Agrícola ou Revolução Verde, que antecede à chamada Revolução 
Urbana, caracterizada por um acelerado processo de formação de novos núcleos 
urbanos, que só se tornou possível pelo crescimento do volume de excedente alimentar 
decorrente das inovações tecnológicas introduzidas na agricultura. 
2.2 Fatores Locacionais 
A localização das cidades primitivas se dava em função de alguns fatores que facilitavam 
a vida e a segurança de seus habitantes entre eles a proximidade à mananciais, 
necessários ao abastecimento de água, as condições de acessibilidade e uma posição de 
domínio visual sobre o entorno. As áreas próximas aos rios ofereciam estas três 
vantagens, o que explica a localização de um grande número de núcleos urbanos junto 
aos cursos d’água. 
As mais antigas civilizações conhecidas obedeceram a este princípio localizando-se junto 
aos rio Nilo (Egito), Tigre e Eufrates (Mesopotâmia), Indús (Paquistão) e Amarelo (China). 
 
Fig. 11: Os Rios Tigre e Eufrates 
 
Os rios, além de constituírem barreiras naturais a invasão de eventuais inimigos, servirem 
de mananciais e de fonte de alimentação através da pesca, desempenhavam outras 
importantes funções, servindo de vias de transporte, possibilitando a existência de 
culturas irrigadas e de local de lançamento dos esgotos sanitários. 
A proximidade às hidrovias promoveu o surgimento, no Egito e na Mesopotâmia, de redes 
de cidades, distantes uma das outras em cerca de 30 km, que correspondiam a uma 
viagem de barco de 12 horas, isto é, que podia ser feita com a luz do dia, evitando os 
perigos de uma viagem noturna. 
 
Fig. 12: O Rio Nilo 
2.3 Escala e Estrutura 
As pesquisas arqueológicas indicam que o tamanho das primeiras cidades assemelhava-
se ao que seria um pequeno bairro residencial dos dias de hoje. A densidade demográfica 
era relativamente elevada (300 a 500 hab/há) indicando que as condições sanitárias 
deveriam ser bastante precárias. 
O crescimento contínuo de algumas cidades como Tebas, que em 1.600 AC já contava 
com 250.000 habitantes, agravava ainda mais estas condições, como é atestado em 
relatos da época que descreviam grandes problemas de saneamento e de tráfego2. 
 
Fig. 13: Ruínas de Tebas 
 
Nas civilizações egípcia e na mesopotâmia surgiram, os primeiros sistemas de cidades, 
constituídos por núcleos urbanos distribuídos regularmente, a cada 30 km, ao longo do 
rios que banhavam essas civilizações. Esta distância permitia que a navegação entre 
duas cidades pudesse ser feita durante o dia, evitando as perigosas viagens noturnas. 
Lewis Munford afirma que: 
„„Por volta de 2.500 AC todas as características essenciais da cidade 
tinham tomado forma e haviam encontrado para si um lugar na cidadela, 
senão na comunidade urbana total. O recinto murado, a rua, o quarteirão 
de casas, o mercado, o recinto do templo com seus pátios interiores, o 
recinto administrativo, o recinto das oficinas, tudo isso existia, pelo menos 
em forma rudimentar‟‟. (Munford, 1965, p 123 ) 
 
 Fig. 14: Mohenjo Daro e Harappá 
 
2
Alguns problemas urbanos vem se mantendo constantes ao longo da história das cidades, assim 
como algumas propostas urbanísticas também se repetem, adaptadas às características de cada 
época.

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