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Comissões Parlamentares de Inquerito - Renato

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COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
Revista de Direito Constitucional e Internacional | vol. 44/2003 | p. 234 - 259 | Jul - Set / 2003
Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional | vol. 4 | p. 387 - 416 | Mai / 2011
DTR\2003\349
Renato Sorroce Zouain
Área do Direito: Constitucional
Sumário:
1.Comissão de inquérito - 2.Digressão constitucional do tema nas Constituições do Brasil - 3.Texto
vigente de 1988 - 4.Comissão de Inquérito e a Lei 1.579, de 1952 - 5.Como funciona uma CPI -
6.Conclusão - Bibliografia
1. Comissão de inquérito
1.1 Definição e origem
Comissão, derivada do latim commissione, significa não somente a ação de unir, concurso, como
também a ação de confiar, de entregar. Designa um grupo de pessoas com funções especiais,
incumbidas de tratar de certo assunto. Estas pessoas reúnem-se no seio do Parlamento, para
investigar fatos determinados. Parlamento foi o nome dado a uma plêiade de fenômenos políticos
que se desenvolveram a partir da Revolução Francesa, chegando até nossos dias. Conforme disse
Norberto Bobbio, quase todos os países europeus possuíam instituições genericamente chamadas
de Parlamentos, embora também fossem conhecidas como Estados Gerais, Cortes, Estamentos etc.
Esse signo lingüístico possui substância diversa e varia de caso para caso. No Brasil, por exemplo,
temos Parlamento, uma vez que o próprio Congresso Nacional consigna uma assembléia baseada
num princípio representativo, incumbido de exercitar um conjunto de opções políticas
correspondentes à vontade popular.
Comissão de Inquérito é uma denominação que se dá à comissão que se institui para proceder a um
inquérito. É de caráter transitório e tem atribuições que duram enquanto se procede ao inquérito
determinado, o qual tem a finalidade de investigar ou apurar os fatos de ordem administrativa,
visando sempre o bem-estar da coletividade. Assim, a Comissão Parlamentar de Inquérito existe
para investigar e fiscalizar fatos determinados ligados a uma obligatio juris, imposta pelo
ordenamento jurídico, lastreada na exigência de se agir honestamente, à luz dos preceitos
constitucionais e legais. 1
Na terminologia do Direito Internacional, Comissão de Inquérito significa o órgão que é instituído, por
deliberação ou convenção de dois ou mais países, no sentido de investigar as causas de certos
litígios havidos entre eles, esclarecendo, por um exame imparcial e meticuloso, os casos submetidos
à sua apreciação e formulando os seus pareceres para a sua solução. 2
Desta maneira, é feita a mediação internacional para a solução de pendências surgidas ou mesmo
visando prevenir e evitar conflitos entre nações amigas.
Segundo Hely Lopes Meireles e a maioria dos autores "as origens das comissões de investigação
legislativa remontam ao século XVII, quando o Parlamento Inglês, descontente com a conduta de
Lundy, Governador de Londonderry, na direção da guerra contra os irlandeses, nomeou, em 1689, a
histórica Select Commitee, que concluiu pela traição daquele militar, levando-o a julgamento e
condenação pela Coroa".
1.2 Tipos de comissão e finalidades
O vocábulo comissão possui, na linguagem jurídica, uma variedade de acepções, considerando-se o
duplo sentido de união ou concurso para um fim determinado, de auxílio ou cooperação na execução
de determinados misteres.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
Página 1
Vejamos:
a) Comissão no sentido que lhe empresta o Direito Público, Administrativo e o Direito Internacional, é
o vocábulo empregado:
# Para indicar todo encargo ou atribuição confiada ao empregado ou funcionário público efetivo, em
virtude de sua investidura em cargo ou função, que não é própria. Significa que a comissão dá ao
empregado ou funcionário novo as atribuições e uma jurisdição, que não possuía com a investidura
anterior.
# Em sentido administrativo (Direito Administrativo), é empregado ainda para designar toda espécie
de organização, fundada dentro de outros departamentos com a finalidade de realizar funções, ou
encargos certos e especiais, seja em caráter temporário, seja em caráter permanente, sendo os
membros ou pessoas que a compõem retirados de outras funções ou cargos, nem sempre
pertinentes às mesmas repartições, departamentos ou corporações.
São as mais variadas as funções atribuídas a estas comissões que, em regra, recebem qualificativos
ou designações indicativas de suas finalidades. Por isso se dizem Comissão de Compras, Comissão
de Promoções, Comissão de Lançamentos, Comissão de Sindicância, Comissão de Inquéritos,
Comissão de Tarifas.
Nas assembléias legislativas, as comissões instituídas, por legislaturas, têm denominações e
atribuições traçadas nos regimentos internos das casas legislativas.
# No Direito Internacional Público, as comissões que se dizem assim comissões internacionais,
comissão quer indicar todo o grupo de pessoas designadas, seja em caráter permanente ou em
caráter temporário, para desempenhar determinada missão resultante de pacto ou tratado firmado
entre duas ou mais nações, ou para desobrigar-se de certa incumbência, que lhe é cometida por um
governo junto a outro governo.
Neste último sentido, a comissão é por vezes tida como a própria missão. Neste caso diz-se, então,
missão militar, missão diplomática ou missão econômica, para indicar a missão que vai cumprir.
As comissões de Direito Internacional, que se dizem assim comissões internacionais, podem ter as
mais complexas finalidades como: diplomáticas, jurídicas, econômicas, financeiras, militares ou
técnicas. 3
A comissão parlamentar de inquérito tem como finalidade apurar fatos determinados, eivados de
improbidade, com vistas à elaboração de um relatório, o qual fornecerá subsídios para que se
promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
1.3 Comissão Parlamentar de Inquérito
Também conhecida pela sigla CPI, de acordo com José Afonso da Silva, é um organismo que
desempenha papel de grande importância na fiscalização e controle da Administração.
Esta denominação é dada às comissões geralmente organizadas nas câmaras legislativas, com o fim
de estudarem e formularem pareceres a respeito dos vários assuntos que vão ser submetidos à
apreciação do plenário.
Dizem-se, também, comissões legislativas, recebendo nomes relativos aos assuntos ou matéria que
faz objeto de suas atribuições.
Estes grupos menores de parlamentares podem ser instituídos por qualquer uma das casas -
Câmara dos Deputados ou Senado - em número fixado pelo respectivo Regimento Interno, em cuja
composição é assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos
blocos parlamentares que participam da respectiva Casa (art. 58 da CF/1988), com tarefas
genéricas, mas definidas.
"Há assim três tipos de comissão: a da Câmara, a do Senado e a do Congresso. O Senado não pode
proceder à investigação sobre assunto de competência exclusiva da Câmara dos Deputados e
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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vice-versa, mas a comissão criada pelo Congresso Nacional composta de membros das duas casas
é competente para qualquer tipo de investigação." 4
1.3.1 Antecedentes históricos
Não se sabe precisamente a data certa do aparecimento das Comissões de Inquérito. A maioria dos
autores indica que a prática é uma das criações do parlamentarismo inglês, no século XVI. Aguinaldo
Costa Pereira em sua Dissertação apresentada à Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro
lembra que estudiosos como Galloway mencionaram a constituição e criação de uma comissão
legislativa de inquérito pela Câmara dos Comuns, no fim do século XVI, que tinha a finalidade de
investigar fatos relativos a casos eleitorais. Quando nos reportamos a diversos autores da história
constitucional da Inglaterra encontramos também Marshall Edward Dimock que aponta ano de 1571
como a data da primeira investigação, segundo seu significado. Entretanto, o mesmo autor já
assinalara as origensdo instituto antes dos meados do século XVI. A partir do ano de 1571, o uso
das investigações se tornou constante e se ampliou, principalmente depois de 1688, quando o
Parlamento assumiu a supremacia. 5
2. Digressão constitucional do tema nas Constituições do Brasil
2.1 Visão histórica do instituto
O presente trabalho contém um breve relato histórico, onde se poderá avaliar o desenvolvimento que
o instituto tem tido em vários países.
Iniciando, diríamos que não se discute entre os autores que a prática parlamentar das Comissões de
Inquérito surgiu na Grã-Bretanha, como já vimos, sendo a maioria delas relacionadas com matéria
eleitoral, embora não tendo sido aí que a Comissão de Inquérito se desenvolveu.
Partindo da Inglaterra a prática parlamentar das Comissões de Inquérito se transportou para outros
Estados se sedimentando aos poucos em textos constitucionais.
2.1.1 Na França
Não se sabe precisar claramente a data da primeira " commission d'enquête". Para Aguinaldo Costa
Pereira e Pontes de Miranda, foi logo após a Restauração, a partir de 1814, que o processo se
instaurou com regularidade. Alguns autores chegam a fixar aquele período como o início de sua
prática:
"O processo é antigo. Ele nos veio da Inglaterra com o próprio regime parlamentar, sob a
Restauração e sob a Monarquia de Julho." 6
No entanto, até a lei francesa de 23.03.1914, nenhum texto, quer constitucional, quer de lei ordinária
e nem mesmo de regulamento das Câmaras, dava às mesmas o direito de nomear comissões de
inquérito, nem determinava seus poderes, o que as tornava impotentes para desempenhar seu
papel. 7
Na Constituição de 04.10.1958, na V República, o art. 38 permite que: "o Governo obtenha do
Parlamento delegação para legislar, por meio de ordenações ( ordonnances), sobre matérias 'que
são normalmente do domínio da lei', por prazo limitado". 8
Com base no texto constitucional francês citado acima, a ordonnance datada de 17.11.1958, em seu
art. 6.º, mantém as atividades das Comissões de Inquérito, embora cerceie bastante suas atividades,
pois restringe a quatro meses o prazo de vida e impõe caráter secreto os trabalhos das comissões. 9
2.1.2 Nos Estados Unidos
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
Página 3
As Colônias Norte-Americanas, apesar das restrições impostas pela metrópole às suas Câmaras
legislativas, adotaram o processo com a mesma amplitude que lhes conferiu o Parlamento inglês.
Eberling relata diversos casos de investigações realizadas pelas assembléias legislativas das
Colônias, observando que o poder de realizar inquéritos e punir a desobediência foi pelas mesmas
utilizado com grande amplitude, principalmente na colônia de Nova York e que:
"Nos primeiros tempos da história de Rhode Island as comissões de investigação viajavam de cidade
em cidade." 10
Em 1792, três anos após o início do funcionamento do Congresso Federal foi designada a primeira
Comissão de Inquérito, cuja finalidade era investigar as causas da derrota num combate contra os
índios da expedição comandada pelo general Arthur St. Clair, sob os aspectos militar e financeiro.
Tal comissão, segundo Octacílio Alecrim, foi criada com fundamento no art. 1.º, seção 9, cl. 7, bem
como no art. 2.º, seção 4, da Constituição americana. 11
Esta comissão constituiu, portanto, o início de uma série de investigações, que em grande número se
fizeram, sobre as campanhas do Exército e da Marinha e que até hoje perduram.
2.1.3 Na Alemanha
A prática das investigações através de Comissões de Inquérito na Alemanha remonta ao ano de
1849. A Constituição de Frankfurt já a autorizava e várias outras provisões vieram posteriormente a
regular o seu uso; em diversos períodos de sua história, as investigações eram instituídas por meio
de atos especiais.
No entanto, foi a partir da Constituição de Weimar que o seu emprego se tornou mais intenso, tendo
sido a primeira a outorgar, em 1919, em seu art. 34, o direito de a Câmara criar comissão de
inquérito, mediante requerimento da quinta parte de seus membros. Em 1925 foram autorizadas sete
investigações.
Porém, tanto a Constituição da República Democrática Alemã de 07.10.1949, no seu art. 65, como a
Constituição da República Federal Alemã de 23.05.1949, Lei Fundamental de Bonn, no art. 44, dão o
direito ao Parlamento de criar Comissões de Inquérito mediante requerimento de uma quarta parte
dos seus membros.
2.1.4 Na Itália
O Regimento da Câmara dos Deputados de 1868 contemplou, pela primeira vez as Comissões
Parlamentares de Inquérito. Essas comissões visavam apenas verificar a lisura das eleições e as
acusações atinentes à honra de parlamentar acusado de fraudes eleitorais.
A Constituição italiana, vigente a 01.01.1948, em seu art. 82, estabelece o direito não só à Câmara
como também ao Senado de interpelar, interrogar e criar "Comissioni d' inchiesta o de indagine," ou
seja:
"Cada uma das Câmaras pode determinar sobre matéria de interesse público. Para essa finalidade,
nomeia entre seus próprios componentes uma comissão constituída de modo a representar a
proporção dos vários grupos. A comissão de inquérito procede às investigações e aos exames com
os mesmos poderes e os mesmos limites da autoridade judiciária."
Em comentário ao texto italiano acima descrito, Antonio Amorth, assim se pronunciou:
"Finalmente, um quinto dispositivo refere-se ao poder atribuído a cada uma das Câmaras de
proceder a inquéritos sobre matérias de interesse público. E uma vez que o texto constitucional
utiliza esta fórmula amplíssima, deve-se entender que o poder de inquérito parlamentar possa
estender-se de forma mais ampla a qualquer matéria de interesse público e possa ser exercido quer
em relação à função legislativa (para obter material preparatório para as providências devidas), quer
em relação à função de controle público." 12
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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Como se pode ver, o direito italiano confere a cada uma das Câmaras poderes amplos em matéria
de inquérito.
2.1.5 Na Argentina
As primeiras Comissões de Inquérito datam de 1872. Assim como nos Estados Unidos, a Câmara
demonstrava nos primeiros tempos uma maior curiosidade, mas o Senado tem assumido a premazia.
Dois fatores concorreram para o incremento da prática desse processo:
"Os novos problemas sociais e econômicos e a formação de partidos políticos violentamente
opositores..."
"Têm tido (as comissões) os objetivos mais diversos, desde o funcionamento de quase todas as
repartições públicas até o estudo de questões sociais, como o trutismo (' la trutificacion'), o
alcoolismo e a mortalidade infantil. Se no passado investigaram de preferência a conduta do
governo, tudo indica que no futuro os seus alvos serão os problemas econômicos e as suas crises, a
organização agrícola e pecuária, e as atividades das grandes empresas."
O autor Jorge M. Mayer, de quem foram tomadas as informações acima descritas, fornece os
seguintes dados estatísticos: até o ano de 1880 foram nomeadas cinco comissões; dessa data até
1890, somente uma; daí até 1900, oito; no decênio seguinte, o seu número baixou a três; na próxima
década, proliferaram as comissões, que atingiram a vinte e duas, para elevar-se a vinte sete, na fase
de 1920 a 1930.
Segundo as suas finalidades, as investigações podem agrupar-se da seguinte forma: a maioria visou
à fiscalização dos departamentos administrativos, tendo sido muitas delas dirigidas contra o
Ministério da Fazenda; as estradas de ferro, tanto do governo como de particulares, foram objeto de
vários inquéritos; outro campo preferido, é a conduta dos legisladores e a violação de seus
privilégios; registram-se ainda as referentes a assuntos militares, à situação institucional das
províncias, os problemas sociais e as várias outras questões de interesse público. 13
2.1.6 No Uruguai
A vigência da Constituição de 1830 não dispunha sobre a matéria. Mesmo assim, as Câmaras
uruguaiasdesignaram comissões, "que pretenderam inspecionar a documentação do Poder
Executivo e em especial a documentação da contadoria.
Tendo a Constituição de 1918, em seu art. 51, conferido às Câmaras o direito de "nomear
Comissões de Inquérito ou de Informação para Fins Legislativos", tornou-se comum o seu uso, que
se encontra fundamentado no art. 108 da Constituição de 1934. 14
2.2 Histórico do instituto no Brasil
O ambiente político do Império não teve um clima propício à investigação parlamentar. Não houve,
nesse período, inquéritos parlamentares que visassem o Poder Executivo. O Governo detinha forte
maioria parlamentar e assim, a primeira República não ofereceu um campo fértil para as Comissões
de Inquérito.
No entanto, antes mesmo de as Comissões de Inquérito serem reguladas na Constituição, elas já
existiam no Brasil. As Assembléias Legislativas das Províncias delas se utilizaram para examinar e
apurar a validade das eleições.
A Carta Imperial de 25.03.1824 não se referia expressamente às Comissões de Inquérito.
Pimenta Bueno, ao comentar a Carta de 1824, em análise ao art. 15 - 9.º, onde é da atribuição da
assembléia geral "velar na guarda da Constituição e promover o bem geral da nação", ensina que o
direito de velar na guarda de seus preceitos pode ser exercido através de vários meios, conforme as
circunstâncias e exigências e "pode também ser exercido por meio de comissões, ou inquéritos, que
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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penetrem detalhes da gestão administrativa, mormente quanto à administração financeira".
A primeira Constituição Republicana de 24.02.1891 não agasalhou tal preceito. Foram raras as
investigações do Congresso nesse período.
Esse recurso foi empregado algumas vezes, mas nunca atingiu debilmente as mais altas
autoridades; nem mesmo as autoridades menos poderosas; o Executivo estava inteiramente
resguardado de qualquer inquérito compulsório por parte do Legislativo.
Em 1895, o Deputado Vergne de Abreu solicitou a designação de Comissão de Inquérito para
examinar a situação das companhias estrangeiras de seguros de vida, sem que tal comissão fosse
prevista na Constituição de 1891.
A partir daí, outras comissões quase que anualmente foram criadas por solicitação dos Deputados.
Em 1925, transitou no Congresso Nacional o Projeto de n. 247 de autoria do Deputado Sá Filho, que
regulava a competência das Comissões Especiais de Inquérito do Senado e da Câmara. Este Projeto
recebeu um substitutivo na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, através
de parecer do jurista baiano João Pedro dos Santos. 15
Somente no ano de 1930 é que o assunto voltou a merecer a atenção do então Deputado João
Santos, recebendo da Comissão de Justiça a aprovação o mencionado substitutivo que alterou o
Projeto 247 do Deputado Sá Filho e passou a ser o Projeto 181, do Deputado João Santos.
A Revolução de 1930 impediu que o Projeto 181 se convertesse em Lei. Mas, foi com a Carta
Brasileira de 16.07.1934, que as Comissões Parlamentares de Inquérito passaram a fazer parte do
arcabouço constitucional brasileiro, a despeito de não serem desconhecidas entre nós. 16
2.3 Constituições do Brasil de 1934 a 1969
2.3.1 A Constituição de 1934
A terceira Constituição do Brasil - e a segunda da República - foi promulgada em 16.07.1934 e
continha 187 artigos.
Esta foi a primeira Constituição brasileira que consagrou expressamente no art. 36 o poder da
Câmara dos Deputados de criar Comissões Parlamentares de Inquérito. O artigo em referência
conferiu somente à Câmara dos Deputados a faculdade de Comissões de Inquérito e silenciou
quanto ao Senado.
Dispôs o seu art. 26 que o Regimento interno da Câmara dos Deputados asseguraria, "quanto
possível, em todas as Comissões, a representação proporcional das correntes de opinião nela
definidas".
No art. 29, par. ún., previu-se que, se o Presidente da República não prestar contas de sua gestão
relativa ao exercício anterior, a Câmara: "elegerá uma Comissão para organizá-las e, conforme o
resultado, determinará as providências para a punição dos que forem achados em culpa".
Determinou, ademais, o art. 37, § 2.º, da CF/1934 que "a Câmara dos Deputados, ou as suas
Comissões designarão dia e hora para ouvir os Ministros de Estado, que lhes queiram solicitar
providências legislativas ou prestar esclarecimentos".
Finalmente, pelo disposto no art. 36, possibilitava explicitamente a criação de Comissões
Parlamentares de Inquérito, ao estabelecer, in verbis:
"A Câmara dos Deputados criará Comissões de Inquérito sobre fato determinado, sempre que o
requerer a terça parte, pelo menos dos seus membros." E o parágrafo único de tal dispositivo dizia o
seguinte: "Aplicam-se a tais inquéritos as normas do processo penal indicadas no Regimento
Interno".
Do conjunto dessas disposições da Constituição Federal de 1934 podem ser tiradas algumas
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
Página 6
importantes conclusões.
Em primeiro lugar, as Comissões Parlamentares foram reguladas unicamente na Câmara dos
Deputados, pois o Senado Federal, no sistema daquela Carta Constitucional, não era um ramo do
Poder Legislativo, mas sim um "órgão de coordenação de poderes" (arts. 88 e seguintes), cuja tarefa
consistia em "colaborar" com a Câmara no exercício da função legislativa (art. 22).
Em segundo lugar, a Constituição de 1934 distinguiu, implicitamente, entre Comissões
Parlamentares Permanentes e Temporárias, ao destacar duas comissões especiais com este último
caráter:
a) a destinada a organizar as contas do Presidente em mora de prestá-las;
b) e a Comissão Parlamentar de Inquérito prevista no art. 36.
Quanto a esta última, não padece dúvida de que tinha ela caráter nitidamente inquisitorial penal, vale
dizer, o seu escopo precípuo consistia na apuração de infrações criminais.
A restrição feita ao Senado provocou estranheza por parte de Pontes de Miranda. 17Afirma este
ilustre estudioso que a instalação do instituto na Carta de 1934 teve como objetivo incentivar e
animar a missão fiscalizadora do Poder Legislativo, ante o poder avassalador do Executivo. Nelson
de Souza Sampaio teve uma posição semelhante à de Pontes de Miranda e assim se pronunciou:
"um cochilo do constituinte, pois que sendo o mesmo instituto, nada impedia que se desse, por
analogia, igual tratamento".
Embora a previsão constitucional não concedesse ao Senado Federal a criação de Comissões de
Inquérito em conjunto com a Câmara, o art. 92, § 1.º, VII, outorgava poderes à seção permanente da
Câmara Alta para: "criar comissões de inquérito sobre fatos determinados observando o parágrafo
único do art. 36".
Da mesma forma, a Constituição em referência insere o título "Da Coordenação dos Poderes" no
Capítulo V do Título I, e o art. 88 incumbe ao Senado Federal promover a coordenação dos poderes
federais entre si, manter a continuidade administrativa, velar pela Constituição, colaborar na feitura
das leis e praticar os demais atos de sua competência e nos arts. 90, 91 e 92 as atribuições do
Senado Federal.
A Constituição de 1934 teve vida efêmera. Nos anais do Congresso foram registradas apenas cinco
comissões e uma simples sugestão, conforme Aguinaldo Costa Pereira conseguiu relacionar em seu
trabalho apresentado à Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro sobre Comissões
Parlamentares de Inquérito. 18
2.3.2 A Constituição de 1937
A quarta Constituição do Brasil, e a terceira da República, foi promulgada em 10 de novembro
daquele ano, continha, também, 187 artigos e foi omissa a respeito de Comissões Parlamentares de
Inquérito. Na verdade, a Constituição Federal de 1937 (denominada "Polaca", pelo modelo seguido e
por seu caráter absolutista, precedida de justificação), legalizava uma ditadura de caráter populista,
que somente foi afastada a partir do final da II Guerra Mundial.
2.3.3 A Constituição de 1946
A quinta Constituiçãodo Brasil e a quarta da República, foi promulgada em 18.09.1946, e refletia, de
modo preciso, todo o quadro social e político do mundo e do Brasil, após a II Guerra Mundial, quando
o mundo entrava numa fase em que predominava o espírito democrático, e o social se sobrepunha
ao individual.
A Constituição de 1946, ao dispor sobre Comissões Parlamentares de Inquérito, declarou que elas
poderiam ser criadas tanto na Câmara quanto no Senado, "sobre fato determinado", exigindo
explicitamente que em sua composição fosse observado o princípio da representação proporcional
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
Página 7
dos partidos políticos (art. 53). Supriu, porém, a determinação feita na Constituição de 1934, de que
nos inquéritos realizados por tais comissões fossem observadas as normas próprias do processo
penal, conforme disposto no Regimento Interno. Tal omissão foi lamentável.
Retificando a previsão contida na Carta Fundamental de 1934, assim ficou redigido o art. 53 na
Constituição de 1946:
"Art. 53. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal criarão comissões de inquérito sobre fato
determinado, sempre que o requerer um terço de seus membros.
Parágrafo único. Na organização dessas comissões se observará o critério estabelecido no
parágrafo único do artigo 40."
Vale lembrar que no início da década de cinquenta, inexistia base legislativa para regular, em nível
infraconstitucional, o procedimento das Comissões Parlamentares de Inquérito. Os únicos diplomas
jurídicos que cuidavam da espécie, além da Constituição de 1946, eram os Regimentos Internos das
casas legislativas.
Mesmo antes do advento da Constituição de 1946, não faltaram propostas no sentido de se criar
uma lei específica para reger o instituto, e duas delas devem ser destacadas pela importância que
lograram na época, como já citamos: Projeto 247, de 1925, apresentado pelo Deputado Sá Filho; e o
Projeto 181, de 1930, de autoria do Deputado João Santos, que substituiu o Projeto 247, mas que
também não se converteu em lei.
Mas foi sob a égide do texto constitucional de 1946, quando formou-se um ambiente político propício,
que surgiu a Lei 1.579, de 18.03.1952 (LGL\1952\5), reguladora, no plano federal, das Comissões
Parlamentares de Inquérito.
2.3.4 A Constituição de 1967
A sexta Constituição do Brasil e a quinta da República entrou em vigor em 15.03.1967, com 189
artigos e refletindo o caráter autoritário do Governo Militar.
Excluindo-se a limitação do número de Comissões Parlamentares de Inquérito, não houve inovação
na matéria.
Essa Constituição reproduziu o instituto das Comissões Parlamentares de Inquérito, fazendo incluir a
expressão "por prazo certo", em seu art. 39:
"Art. 39. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, em conjunto ou separadamente, criarão
comissões de inquérito sobre fato determinado e por prazo certo, mediante requerimento de um terço
de seus membros."
2.3.5 A Constituição de 1969
Embora denominada "Emenda Constitucional n. 1", a Constituição Federal de 1969 foi considerada
uma verdadeira Carta Constitucional, e os Atos Institucionais editados consagraram o mais
autoritário regime da História do Brasil. Foi editada em 17.10.1969, com 217 artigos.
A Carta Constitucional de 1969 também reproduziu o instituto das Comissões Parlamentares de
Inquérito, fazendo incluir em seu art. 37 a expressão "por prazo certo".
"Art. 37. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, em conjunto ou separadamente, criarão
comissões de inquérito sobre fato determinado e por prazo certo, mediante requerimento de um terço
de seus membros."
Cabe assinalar que a Constituição de 1969 restringiu a instalação de Comissões de Inquérito, por
força da letra d do art. 30, que não permitia a instalação de novas comissões caso já existissem
trabalhos em outras cinco.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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"Art. 30. (...)
(...)
d) do Não será criada comissão parlamentar de inquérito enquanto estiverem funcionando
concomitantemente pelo menos cinco, salvo deliberação por parte da maioria da Câmara dos
Deputados ou do Senado Federal."
Esta restrição para instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito, muito embora a
Constituição Federal de 1969 tenha sido revogada, tem existência atual no Regimento Interno da
Câmara dos Deputados em seu § 4.º do art. 35. 19
3. Texto vigente de 1988
A Constituição Republicana disciplina as Comissões Parlamentares de Inquérito no art. 58, § 3.º.
Estas Comissões Parlamentares são órgãos colegiados, nascidos na Câmara ou no Senado,
obedecendo aos seus respectivos regimentos internos, de forma temporária, com número certo de
integrantes, incumbidos de analisar as proposições legislativas, a fim de emitirem pareceres a
respeito delas.
"Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias,
constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que
resultar a sua criação.
(...)
§ 3.º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante
requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo,
sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a
responsabilidade civil ou criminal dos infratores."
Como vimos, o art. 58 prevê dois tipos de Comissões Parlamentares: as Permanentes e as
Temporárias.
Comissões Permanentes são aquelas Comissões Parlamentares que se organizam em função da
matéria. Por isso, visam apreciar projetos de lei, dentre outros assuntos afeitos ao exame da Casa
Legislativa. Seu parecer pode equivaler a uma deliberação de Plenária como podemos ver no § 2.º, a
seguir, e as suas atribuições devem ser fixadas no Regimento Interno.
"§ 2.º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário,
salvo de houver recurso de um décimo dos membros da Casa;
II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil;
III - convocar Ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos inerentes a suas
atribuições;
IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou
omissões das autoridades ou entidades públicas;
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
VI - apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre
eles emitir parecer."
Temporária ou Especial, é a Comissão Parlamentar que logra o traço da efemeridade, extinguindo-se
com o término da legislatura. Suas atribuições fixam-se no ato de sua instituição. Há situações,
porém, em que a comissão temporária é extinta antes de findar a legislatura. Assim ocorre, por
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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exemplo, quando emite opinião sobre determinado problema, alcançando seu objetivo. Ademais, as
Comissões Parlamentares de Inquérito constituem a mais importante dessas comissões especiais.
As comissões Permanentes e Temporárias também podem ser mistas. Diz-se Comissão Mista
aquela formada por deputados e senadores, com o objetivo de examinar matérias expressamente
fixadas, inclusive aquelas que exijam uma decisão do Congresso Nacional, pela sessão conjunta de
suas Casas. Como exemplo temos a Comissão Mista Permanente, prevista no art. 166, § 1.º,
certamente a maior Comissão do Congresso Nacional (vide arts. 166, §§ 1.º e 2.º e 72, da CF/1988).
As conclusões da comissão, quando for o caso, serão encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil ou penal dos infratores.
A Comissão Parlamentar de Inquérito tem um prazo certo para realizar a sua tarefa,uma vez que a
sua incumbência termina com a sessão legislativa em que tiver sido outorgada, salvo deliberação da
respectiva Câmara, prorrogando-a dentro da legislatura em curso.
As Comissões Parlamentares de Inquérito valorizam o Congresso, pois permitem o conhecimento
mais apurado dos fatos. 20
E nesta linha de pensamento, bem define Pontes de Miranda:
"O que caracteriza as Comissões de Inquérito... é ou serem preliminares de atividade legislativa, ou
puramente fiscalizadora, ou de intuitos de informação às camadas populares, especialmente ao
eleitorado." 21
Desta forma, quando instalada em qualquer Casa legislativa, a Comissão Parlamentar de Inquérito
funciona como uma forma de prestação de contas à população, que tem pressionado a vida
parlamentar brasileira, sempre que fatos graves ocorrem e necessitam explicação.
Os requisitos para instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito, art. 58, § 3.º, da CF/1988 são:
1) o requerimento de um terço de seus membros;
2) fato determinado;
3) 3.º prazo certo.
4. Comissão de Inquérito e a Lei 1.579, de 1952
Até a aprovação da Lei 1.579, editada em 18.03.1952 (LGL\1952\5), que dispõe sobre as CPIs,
sendo aplicável às comissões especiais constituídas pelas Câmaras Municipais e Assembléias
Legislativas, os dispositivos legais reguladores da existência e funcionamento das CPIs passavam
diretamente do nível constitucional para o nível regimental da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal. As Constituições Federais e os Regimentos Internos da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal eram os únicos instrumentos jurídicos que cuidavam de estabelecer regras atinentes
às Comissões.
Para que se tenha uma idéia do difícil caminho percorrido até o surgimento da Lei 1.579/52,
podemos consignar que, antes da Constituição Federal de 1946, dois projetos de lei foram
apresentados com o fito de consolidar, via legislativa, o mecanismo de criação das Comissões
Parlamentares de Inquérito, a saber: a) Projeto 247, de 1925, do Deputado Sá Filho; b) Projeto 181,
de 1930, do Deputado João Santos, projeto que substituiu o de n. 247, mas que não foi aprovado
pelo Poder Legislativo. 22
A Lei 1.579/52 não é apenas uma lei federal, como também uma lei nacional. Neste aspecto, não
devemos confundir. Qualifica-se de federal a lei criada por iniciativa da União, para disciplinar
interesses federais dessa entidade. Já a lei nacional é a que dispõe não só sobre interesses federais,
mas também a respeito dos interesses estaduais e locais. Quanto ao âmbito de validez, ambas se
separam. A lei nacional regula a matéria que lhe é expressamente cometida pela Carta Magna,
cabendo-lhe reger interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. De outra
parte, a lei federal alcança apenas a União, não se projetando no campo das demais pessoas
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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políticas.
A Lei 1.579/52 é uma lei nacional que incide em todos os níveis federativos. Apesar de ter sido
criada com o objetivo de regular o art. 53 da Carta de 1946, seu campo de atuação engloba todas as
pessoas políticas de direito público interno, isto é, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios.
A Lei 1.579/52 estabelece no par. ún. do art. 1.º, in verbis:
"Parágrafo único. A criação de Comissão Parlamentar de Inquérito dependerá de deliberação, se não
for determinada pelo terço da totalidade dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal."
Com base neste dispositivo, a Comissão poderia ter solicitada a criação por um parlamentar
isoladamente e que, caso fosse aprovado em Plenário, desta forma a Comissão seria instalada, e
ainda, possibilitava a criação por força de um terço dos membros de cada Casa Legislativa.
Mas, por força do dispositivo constitucional previsto no art. 58, § 3.º, da CF/1988, a previsão
constante do par. ún. do art. 1.º, da Lei 1.579/52, está revogada e assim, basta não somente para a
instalação de um Comissão Parlamentar de Inquérito, o requerimento de um terço dos membros de
qualquer das casas legislativas, separadamente ou em conjunto. É o bastante ainda a assinatura dos
parlamentares, sem que necessite em nenhum momento de aprovação da mesa da Câmara ou do
Senado, ou mesmo de outro poder estatal. 23
O art. 35, § 2.º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, in verbis:
"Recebido o requerimento, o Presidente o mandará a publicação, desde que satisfeitos os requisitos
regimentais. Caso contrário, devolvê-lo-á ao autor, cabendo desta decisão recurso para o plenário,
no prazo de cinco sessões, ouvindo-se a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação."
Esta restrição deve ser entendida como, por exemplo, a incorreta assinatura de um parlamentar ou
mesmo, a não totalização de um terço o requerimento, mas jamais poderá ocorrer restrição por parte
da Mesa Diretora da Casa Legislativa, do mérito da matéria a ser investigada. 24
No requerimento deverá vir especificado o fato determinado ensejador da investigação parlamentar,
bem como o prazo de duração da Comissão, o número de componentes que a integrarão e o limite
de despesas a serem realizadas.
No ato de criação de uma CPI deve-se observar as normas constitucionais, legais e regimentais.
Sem isso o Presidente da respectiva Casa Legislativa não terá a base formal necessária para acatar
os pedidos para sua formação.
Cumpre, portanto, ao Presidente da Casa Legislativa observar essas nuanças, sem as quais terá
motivo suficiente para devolver o requerimento ao autor da proposta de criação da CPI.
Se o Presidente olvidar esses requisitos de ordem formal, é evidente, que nesse caso, a CPI
afigurar-se-á inconstitucional, porque fatos indeterminados, prazos incertos, falta de quorum, não
permitem que o requerimento solicitando a instauração do inquérito parlamentar tenha a juridicidade
exigida pelo ordenamento jurídico.
Ainda mais, a inobservância dessas condições constitui uma afronta ao art. 35, § 2.º, do Regimento
Interno da Câmara dos Deputados, pelo qual:
"Recebido o requerimento, o Presidente mandará a publicação, desde que satisfeitos os requisitos
regimentais; caso contrário, devolvê-lo-á ao Autor, cabendo desta decisão recurso para Plenário, no
prazo de cinco sessões, ouvida a Comissão de Constituição, Justiça e Redação."
Percebemos, portanto, que não é um mero requerimento, subscrito por certo número de deputados
ou senadores que seja o bastante para a pronta criação de CPIs. Existem outros parâmetros de
índole formal a serem levados em conta nesse contexto. No entanto, estando o requerimento com
todos os requisitos regimentais e constitucionais preenchidos, não existe razão de impedimento da
instalação da Comissão Parlamentar na Câmara.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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O Regimento Interno do Senado Federal, em seu art. 145 e §§ 1.º, 2.º, 3.º e 4.º estabelece a forma
que deve ocorrer o requerimento de instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito, 25in
verbis:
"§ 1.º O requerimento de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito determinará o fato a ser
apurado, o número de membros, o prazo de duração da comissão e o limite das despesas a serem
realizadas.
§ 2.º Recebido o requerimento, o Presidente ordenará que seja numerado e publicado.
§ 3.º O Senador só poderá integrar duas Comissões Parlamentares de Inquérito, uma como titular,
outra como suplente.
§ 4.º A comissão terá suplentes, em número igual à metade do número dos titulares mais um,
escolhidos no ato da designação destes, observadas as normas constantes do artigo 78."
Não há limites no tocante ao número de CPIs que podem funcionar ao mesmo tempo. A exigência
constitucional reportou-se apenas ao requerimento assinado por um terço dos membros da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal, em conjunto ou separadamente. E o art. 58, § 3.º, da CF/1988
nada diz a respeito do número de comissões a serem criadas pelas Casas Legislativas.
O certoé que a matéria foi deixada sob os auspícios de disposições regimentais das Casas
Legislativas, vigorando, nesse particular, o art. 35, § 4.º, do Regimento Interno da Câmara dos
Deputados. Este preceito veda a criação de Comissões Parlamentares de Inquérito, quando cinco
delas já estejam funcionando simultaneamente. No entanto, faz uma ressalva permitindo que
mediante projeto de resolução, com quorum de um terço de Deputados Federais, possam criar-se
quantas comissões forem propostas e aprovadas. 26
Essa última brecha do aludido Regimento Interno tem gerado uma enorme gama de pedidos de
criação de Comissões Parlamentares de Inquérito, muitos deles desprovidos de qualquer cabimento,
o Legislativo, desde o advento da Carta de 1988, fiscaliza mal, só legislando em assuntos de
interesse do Executivo. Daí um parlamentar ter posto um enquadramento bastante curioso para o ato
de criação do instituto. Segundo ele, os pedidos de Comissões Parlamentares de Inquérito são de
três tipos:
a) os "nobres", que causam interesse nacional pela importância do assunto, como o dos
Medicamentos e o do Narcotráfico;
b) os de "obstrução", com temas geralmente de pouca expressão nacional, usados para impedir a
instalação de outras CPIs mais importantes, que vão de encontro com os interesses governistas;
c) e os de "extorsão", muito comuns nas histórias de bastidores do Parlamento, mas que carecem de
comprovação. 27
5. Como funciona uma CPI
5.1 Processo e procedimento das Comissões Parlamentares de Inquérito
A criação, o procedimento e a rotina dos trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito foram
muito bem sintetizados por Jessé de Azevedo Barquero, da seguinte maneira:
"1 - Apresentado o requerimento com o número regimental de assinatura (um terço), solicitando a
criação de CPI, é o mandado à publicação depois de verificado se foram satisfeitas as demais
exigências regimentais (objetivo, prazo, número de membros e quantum para despesa - § 3.º do art.
38).
2 - Publicada a matéria, é solicitada às lideranças partidárias a indicação dos Deputados que irão
compor a CPI; de posse dessas indicações, o Presidente da Câmara as referenda, e manda publicar,
juntamente com a designação dos Deputados, a resolução, já enumerada, criando o órgão
sindicante.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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3 - Constituída a Comissão, reúnem-se os Deputados - após prévia convocação publicada no DCN -
para instalação dos trabalhos, eleição do Presidente e do Vice-Presidente e designação dos
relatores.
4 - A Segunda reunião, em geral, é destinada a ouvir o autor de requerimento que deu origem à CPI,
a fim de que sejam conhecidos, posteriormente, os motivos do pedido de instauração do inquérito.
5 - Em seguida, discute-se o roteiro a ser seguido, normalmente apresentado pelo relator, e com
base nesse trabalho inicia-se a instrução do inquérito.
6 - Concluídas as investigações, é elaborado pela Seção de Comissões de Inquérito o relatório
contendo a sinopse de todo o processado:
I - constituição e finalidade;
II - composição;
III - prazo;
IV - trabalhos realizados:
1) testemunhas ouvidas;
2) testemunhas arroladas e que não chegaram a depor;
3) roteiro dos trabalhos;
4) viagens realizadas;
5) sinopse das reuniões;
6) ofícios, telegramas e telex expedidos;
7) documentação recebida e anexada aos autos;
V - pronunciamento no plenário da Câmara a respeito da matéria objeto das investigações;
VI - íntegra dos depoimentos tomados, apresentadas as conclusões pelo relator.
7 - Votado o parecer, redige-se, se for o caso, o Projeto de Resolução.
8 - Mandada à publicação, a proposição é incluída na Ordem do Dia e, se aprovada, providencia-se a
remessa do relatório, das conclusões, se for o caso, de cópia autenticada dos autos aos órgãos que
a resolução especificar, para que sejam tomadas as providências que couberem." 28
As Comissões Parlamentares de Inquérito podem cometer abuso de poder, ensejando ofensas aos
direitos fundamentais e direitos humanos. Neste caso são passíveis de controle jurisdicional, através
do habeas corpus e do mandado de segurança, com as respectivas destinações específicas. 29
José Alfredo de Oliveira Baracho, numa monografia intitulada Teoria Geral das Comissões
Parlamentares de Inquérito (cit., p. 153-60), resumiu as diferentes etapas do processo nessas
comissões, cuja síntese também aqui se faz de acordo com a Constituição Federal de 1988.
Criação.Pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros.
Composição e proporcionalidade.Na constituição das comissões parlamentares é assegurada, tanto
quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que
participam da respectiva Casa.
Duração.As comissões permanentes subsistem através das legislaturas. As comissões temporárias
extinguem-se ao término da legislatura, ou antes, pela ocorrência do preenchimento das finalidades
a que se destinam.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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Publicidade e sigilo.As reuniões das comissões podem ser públicas, reservadas ou secretas. Este
caráter depende dos preceitos existentes nos Regimentos Internos das Casas legislativas. Como
regra, as comissões investigatórias se reúnem em sessões públicas.
Poderes. A extensão das competências atribuídas às Comissões Parlamentares de Inquérito, no
campo de sua investigação, é de grande importância.
No exercício de suas atribuições, as Comissões Parlamentares de Inquérito poderão determinar as
diligências que se reputarem necessárias, podendo requerer a convocação de ministro de Estado,
tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais, inquirir
testemunhas sob compromisso, requisitar informações e documentos de repartição pública e
autárquica, transportando-se aos lugares onde se tornar necessária a sua presença.
Processo e instrução. O processo e a instrução dos inquéritos obedecerão aos preceitos da Lei
1.579, de 18.03.1952 (LGL\1952\5).
Indiciados e testemunhas. Inquirição de testemunha. Tomada de depoimento de autoridade.O
comparecimento de indiciados e testemunhas constitui, sem dúvida, o núcleo central da
concentração do interesse das Comissões Parlamentares de Inquérito.
A Comissão de Inquérito se encarregará de redigir o relatório, que determinará por projeto de
resolução, se a Câmara for competente para deliberar a respeito do assunto, ou por conclusões, em
que se assinalarão os fundamentos pelos quais não apresenta Projeto de Resolução.
Verbas para as despesas com o deslocamento de Comissões de Inquérito. A Constituição anterior
de 1969 (art. 30, f, par. ún.) determinava o funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito na
sede do Congresso Nacional, vedadas as despesas com viagens para seus membros.
Essa redação foi alterada pela EC 22, de 26.06.1972. A redação anterior tornava mais difícil a
realização de investigações mais apuradas, conforme entende Wilson Accioli.
Processo e procedimento das Comissões Parlamentares de Inquérito.O processo e o procedimento
das Comissões Parlamentares de Inquérito necessitam submeter-se às normas estatuídas na
Constituição Federal, na lei e nos regimentos das casas legislativas. 30
O requerimento é um ato de criação, e não simplesmente um projeto. As pessoas são obrigadas ao
comparecimento, tendo obrigação de depor. 31
A Lei 1.579/52 não contém normas que prevêem a aplicação de penalidade. Contudo, se o paciente
fugiu à verdade, será processado como se houvesse infringido o art. 342, do CP, a que se refere a
Lei 1.579/52. O paciente goza de amplo direito de defesa, e o juiz julgará pelo seu próprio
convencimento e prova aduzida. ( RT 375/389). 32
6. Conclusão - Bibliografia
Com referência a tudo quanto relatamos neste trabalho acerca das Comissões Parlamentares de
Inquérito e após minuciosa pesquisa em materiais de estudiososdo assunto, tentamos extrair as
seguintes conclusões:
1 - As Comissões Parlamentares de Inquérito, também conhecidas pela sigla CPIs, são comissões
nomeadas por uma Câmara, compostas de membros desta, e que agem em seu nome para realizar
um inquérito ou investigação sobre determinado objeto. Este objeto pode ser um fato ou conjunto de
fatos alusivos a acontecimentos políticos, a abusos ou ilegalidades da administração, a questões
financeiras etc., concernentes à atividade do Parlamento, com o objetivo de salvaguardar os
interesses maiores da coletividade.
2 - No Brasil não há a figura do Parlamento, mas sim a do Congresso Nacional, por isso Hely Lopes
Meireles acha imprópria a expressão Comissões Parlamentares de Inquérito para designar esses
organismos de investigação. Segundo ele, o correto seria chamá-las Comissões Legislativas de
Inquérito, Comissões Congressuais de Inquérito ou Comissões Legislativas de Investigação.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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3 - As Comissões Parlamentares de Inquérito são sempre compostas por integrantes do próprio
Poder Legislativo, nos três níveis: federal, estadual e municipal. Assim, podem ser criadas ou pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal (em conjunto ou separadamente), ou pelas
Assembléias Legislativas, ou finalmente, pelas Câmaras Municipais. Quando criadas pelas casas
estaduais (Assembléias) ou municipais (Câmaras) são chamadas de Comissões Especiais de
Inquérito.
4 - No Direito brasileiro as comissões são permanentes e temporárias. Estas últimas são as
especiais de inquérito. Variam também as suas finalidades como diz Nelson de Souza Sampaio: a)
ajuda a tarefa legiferante; b) servir de instrumento de controle sobre o governo e a administração; c)
informar a opinião pública.
5 - Os autores pesquisados e que estudaram o tema não chegaram a uma conclusão acerca do
exato nascimento das Comissões Parlamentares de Inquérito. Alguns defendem a idéia segundo a
qual elas surgiram no século XVII, outros, no século XIV ou no século XVI.
6 - No Brasil, embora o Regimento Interno do Senado Federal de 1903, no seu art. 62, trate de
Comissões Parlamentares de Inquérito, não se tem notícia da formação dessas Comissões na época
do Império e somente com a Constituição de 1934 é que o instituto foi expressamente consagrado,
passando a fazer parte no nosso Direito Positivo.
7 - Excluindo a Carta Magna de 1937, as demais Constituições da República cuidaram de
estabelecer normas sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito, a saber: A Constituição Federal
de 1934, art. 36; Constituição de 1946, art. 53; Constituição de 1967, art. 39; Constituição de 1967,
com a Emenda Constitucional n. 1, de 17.10.1969.
8 - Com o surgimento da Lei Ordinária Federal 1.572, de 18.03.1952, sob a égide da Constituição de
1946, foi que as Comissões Parlamentares de Inquérito passaram a ser reguladas por lei especial.
9 - A Constituição Federal vigente trata das Comissões Parlamentares de Inquérito no art. 58, § 3.º.
10 - A instauração de uma CPI é de alçada exclusiva do Poder Legislativo. Nem o Poder Executivo,
nem o Poder Judiciário podem determinar a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito,
sob pena de ferir o disposto no art. 2.º da CF/1988.
11 - A Comissão Parlamentar de Inquérito, de acordo com o disposto no art. 58, § 3.º, da CF/1988,
reclama a existência de fato ou fatos determinados. Os fatos não podem ser vagos, incertos ou
imprecisos; podem ser múltiplos, mas devem ser revestidos de especificidade. Fatos criminosos não
são apurados em CPIs pois são da alçada dos órgãos policiais.
12 - A criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito depende da apresentação de
requerimento subscrito por certo número de membros da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal. Essas Comissões têm prazo certo para a conclusão de seus trabalhos.
13 - Ao ser apresentado, o requerimento deve preencher os seguintes requisitos: a) estar subscrito
por determinado quorum de membros da Câmara ou do Senado Federal, no mínimo (um terço); b)
indicar o fato (determinado) ensejador de sua criação; c) o prazo de duração; d) o número de
parlamentares que a integrarão; e) o limite das despesas a serem realizadas. Caso o requerimento
não preencha os requisitos acima enumerados, o Presidente da Casa à qual pertencem os
parlamentares deverá indeferir seu surgimento.
14 - Diz a Lei 1.579/52, no art. 1.º, parágrafo único: "A criação de Comissão Parlamentar de Inquérito
dependerá de deliberação plenária, se não for determinada pelo terço da totalidade dos membros da
Câmara dos Deputados".
15 - A Constituição Federal, a Lei 1.579/52 e os Regimentos Internos do Senado Federal e da
Câmara dos Deputados não estabelecem o número de parlamentares que farão parte de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito.
16 - Uma Comissão Parlamentar de Inquérito é composta por parlamentares titulares e
parlamentares suplentes e terá como regra geral entre seus membros, um presidente, três
vice-presidentes e um relator. O presidente, excepcionalmente, poderá funcionar como relator.
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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17 - Os atos de uma CPI podem ser públicos, isto é, realizados sob o manto do princípio da
publicidade; porém, esta publicidade não será observada se puder resultar em escândalo,
inconveniente ou grave perigo de perturbação da ordem pública.
18 - As Comissões Parlamentares de Inquérito terminam os trabalhos de investigação mediante
apresentação de um relatório circunstanciado, subscrito por todos os membros, acompanhado de
suas conclusões. O relatório será sempre finalizado por meio de resolução e todos os atos da
Comissão são documentados, isto é, reduzidos a escrito ou gravados magneticamente para evitar
que eles se esvaiam com o passar do tempo.
19 - Todas as pessoas podem ser intimadas como testemunhas. Exceto aquelas abrangidas pelo art.
142, I e II, do CC/1916 e art. 208, do CPP.
20 - Os Ministros de Estado, assim como os Secretários de Estado são convocados e não intimados
para prestar informações. Já o Presidente da República não se curva às ordens de uma CPI. Isto
quer dizer que ele jamais ficará preso às decisões dos membros de uma Comissão.
21 - Na oitiva de testemunhas, a comissão deverá observar, no que for aplicável, as normas do
processo penal. Será feita segundo os ditames dos arts. 202, do CPP.
22 - Caso haja descumprimento da intimação, a testemunha será conduzida coercitivamente, exceto
se o não comparecimento estiver pontilhado por algum motivo recusável. Somente a autoridade
judiciária detém poderes para determinar essa condução coercitiva. A testemunha poderá
comparecer acompanhada de seu advogado. Não existe nenhum dispositivo constitucional ou legal
que impeça de agir dessa maneira.
23 - Outra atribuição da Comissão, de acordo com o art. 2.º, da Lei 1.579/52, é ouvir indiciados. No
entanto, muitos juristas afirmam que no Inquérito Parlamentar não há indiciados, mas apenas
testemunhas. A Lei 1.579/52 faz nítida diferenciação entre indiciados e testemunhas.
24 - A lei federal não foi feliz na expressão "indiciado", pois a Comissão de Inquérito somente
inspeciona, investiga, não profere sentença, simplesmente conclusão.
25 - Indiciado, em termos amplos, é o sujeito contra o qual pesam sinais ou vestígios da prática de
alguma irregularidade ou ilicitude.
26 - Visando um eficaz trabalho de investigação, o art. 4.º, I e II, da Lei 1.579/52 criou crimes cujas
penas são aquelas previstas nos arts. 329 e 342 do CP.
27 - Com base em entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, podemos dizer que a testemunha,
ao depor, tem o direito de não se auto-incriminar e até mesmo o direito de não responder a
perguntas impertinentes ou abusivas.
28 - A Comissão não pode requisitar documentos e informações particulares ou privados, somente
das repartições públicas e autarquias, como prevê o art. 2.º, da Lei 1.579/52.
29 - Osdiretores das instituições financeiras privadas são obrigados a prestar informações perante
as Comissões Parlamentares de Inquérito, porém, por escrito e guardado em sigilo.
30 - No que concerne à fase anterior à promulgação da Lei 1.579/52, dois Projetos de Lei foram
apresentados antes da vigência da Constituição Federal de 1946. Um do Deputado Sá Filho, de
1925, sob o n. 247; outro, sob o n. 181, do Deputado João Santos, que substituiu o de n. 247, sem
ser aprovado pelo Poder Legislativo.
29 - O problema das Comissões Parlamentares de Inquérito tem sido debatido por estudiosos de
diferentes países.
30 - É indiscutível a importância das Comissões Parlamentares de Inquérito uma vez que permite ao
Congresso colher subsídios para sua diligência legislativa, apure responsabilidades, fiscalize o
Executivo, aprimore as instituições, numa vigilância constante e permanente, caracterizando com
inteireza as suas atividades.
31 - A importância das Comissões Parlamentares de Inquérito se revela de maneira cristalina, como
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
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disse Pinto Ferreira: Elas chegam a conclusões que poderão esclarecer o Congresso e a opinião
pública nacional. Decerto as suas decisões não são uma sentença no puro sentido técnico e
jurídico-processual. Mas decisões no sentido lógico da expressão. Ela se constitui numa arma de
controle e de fiscalização do Legislativo sobre o Executivo, devendo ser utilizada com critério e
objetividade, levando sempre a bom termo os seus objetivos.
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(12) La Costituzione Italiana. Comento Sistematico. Milano: Giuffrè, 1948. p. 146.
(13) SILVA, Aguinaldo Costa, op. cit., p. 34.
(14) ARÉCHAGA, Justino Giménez. La Constitutión Nacional.Montevideu. vol. IV, p. 71.
(15) FERRAZ, Joaquim Romeu Teixeira, op. cit., p. 10-11.
(16) SAMPAIO, Nelson de Souza. Do inquérito parlamentar. Fundação Getúlio Vargas, p. 19.
(17) PONTES DE MIRANDA. Comentários à Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
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(21) PONTES DE MIRANDA. Comentários à Constituição de 1946, p. 269 e SOBRINHO, Mário
Contini, op. cit., p. 14.
(22) J. OLIVEIRA, Mauro Márcio. Comissões Parlamentares de Inquérito no Senado Federal - Sua
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(23) BOBIO, Pedro Vicente. Coletânea de legislação. São Paulo: LEX, 1952.
(24) CONTINI, Mário Sobrinho, op. cit.
(25) Regimento Interno do Senado Federal e Regimento Comum. Resolução n. 1, de 1970 - CN, com
alterações posteriores, até 1994.
(26) BULOS, Uadi Lammêgo, op. cit., p. 165-176.
(27) Depoimento do Deputado Federal José Genoíno à Gazeta Mercantil ("Excesso de CPIs
beneficiam manobras do Planalto", 07.02.2000, p. A- 11, coluna "Política").
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