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JOHN GIUSSEN IN'l 1RODUÇÃO HISTÓRICA AO DIREITO Prtfádotk ) . Gili$$Cn T rlllÍ"flÍO tk A. M. Hõpanha e L. M. Macaísra Malheiros J. º ecHção SERVIÇO DE EDUCAÇÃO E BOLSAS FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN 1 LT SBOA ' CAPITUL0 2 DIREITOS DA ANTIGUIDADE Os mais antigos documentos escritos de natureza jurídica aparecem nos finais do 4 .0 ou começos do 5.º milénio, isto é, cerca do ano 3000 antes da nossa era, por um lado no Egipto , por outro na Mesopotâmia. Pode seguir-se a evolução do d ireito nestas duas regiões durante toda a antiguidade. No 2. 0 m ilénio, as regiões limítrofes acordam também para a história do direito: o Elam, o país dos H ititas, a Fenícia, Israel , C reta, a Grécia. No p rimeiro mjlénio, a Grécia e Roma dominam , até que quase todos estes países sejam reunidos no Império Romano, durante os cinco p rimeiros séculos da nossa era. Mais a oriente, a Índia e a China conhecem cambém o nascimento dos seus sistemas jurídicos nesca época. Até há urna centena de anos, não se conhecia, dos direitos da antiguidade, senão o direito romano, o direi to grego e o direito hebraico. Desde então, as descobertas arqueológicas e a publicação e cradução de cada vez mais documentos jurídicos permitiram reconscicuir o desenvolvimento do di reito egípcio e a grande d iversidade dos direitos cuneiformes w. Nem se pode descrever aqui, nas poucas páginas que podemos reservar para este fim , a evolução geral do direito nas regiões do mundo antigo. Queríamos apenas pôr em evidência o que cinco sistemas jurídicos trouxeram de mais especial ao progresso do di reito e das ciências jurídicas. O Egipto não nos transmitiu até à data códigos nem livros jurídicos; mas foi a prim eira cÍviTização na história da humanidade que desenvolveu um sistema jurídico que pode chamar-se individualista. Rompendo com as solidariedades activas e passivas 71 ... Cll Tanto anrr~ m mo clrpo<s de 1940-194), a Uno~l$tdaclt l.lvrt dt 8N1Llas foi um do& centros ele tn•<><•go<io na« domínio, oob a direc(io dt Jocqu•• Pirmnr anr<1 da j!Uttn, acrualmentt oob a dt A. Tbéodoridà. Aqui K pubhconm oo lirt h1''tl <IH i11urr ti.. 0..it """""'· acrual.mcn« fundidos com a Ráw 1•tmv1ioNJ. Jts .N.111 J. r A•t"{11ttl, criada por 1nloauva dt f . De V iuch<r, profnsor da Univcrsic!ld< ele Lovaioa. Existe aa Uruvenidade de Paris li, sob a dirt<ÇiO ele J. Gwdtmtt um •ÚOtrt dt dor\lmenr.tíon d<1 dro1<s antiqua• qut difunde, duas ...,... por ano, ct..dt 19)9, uma bibliognilia corrmtt dosd1ttiroo da uuiguidad<. 8tbl1ografia: ) . G AUOEMET. l • 1tt1•t11•s Jtl'A•11q1ml, Paris 1967; J. IM1lERT. LI Jro11 ,,.11qn tt w prof,.Xt•toll •*""""· 3.ª ed .• Paris 1967, colttçio •Qutaaú-~? · . 52 dos direicos arcaicos e feudais, o di reito egípcio da época da Ili à V dinasria (cerca de 3000 a 2600) e o da XVIII dinastia (1500-1300) parecem cer sido cão evoluídos e cão individualiscas como o direito romano clássico. Descrevê-los-emos brevemence. A Mesopocámia foi o país que conheceu as primeiras formulações do di reico . Os Sumérios, os Acadianos, os Hiricas, os Assírios, redigiram textos jurídicos que se podem chamar «códigos•>, os quais chegaram a formular regras de direico mais ou menos abstraccas. Os Hebreus, sicuados entre o Egipto e a Mesopotãmia, não atingiram um desenvolvimenro do seu direico cão grande como os seus vizinhos; mas regiscaram na Bíblia, o seu livro religioso, um conjuoco de preceitos morais e jurídicos que foram perpecuados, não somence no seu próprio sistema jurídico até aos nossos dias, mas sobretudo no direiro canónico, direito dos Cristãos, e mesmo no direito muçulmano. A Grécia, como o Egipro, não deixou grandes recolhas jurídicas, nem vasras codificações. Mas com os seus pensadores, sobretudo Piarão e Ariscóteles, fundou a ciência política, ou seja a ciência do governo, da polis ou cidade; ela é assim a base do nosso direito público moderno. Enfim Roma, na época da República e sobretudo no tempo do Império, fez a síntese de tudo o que os ourros direiros da antiguidade nos tinham trazido. Como os Egípcios, os Romanos realizaram, nos primeiros séculos da nossa era, um sistema jurídico que atingiu um nível inigualável até então. Muito mais ql:e os Mesopotámios, eles tiv.eram de formular as regras do seu direito e redigiram vastos livros de direito. Sobretudo os Romanos criaram a ciência do direito; o que os jurisconsultos romanos dos li e JU séculos da nossa era escreveram, serve ainda hoje de base a uma importante parte do nosso sistema jurídico. Antes dos Romanos, os povos da antiguidade não puderam, parece, construir um sistema jurídico coerente; mas esta constatação é provavelmente a consequência da insuficiência das fontes jurídicas accualmente disponíveis. É possível que um dia a descoberta de novos documentos permita fazer recuar de vários séculos, ou mesmo milénios, o aparecimento de uma ciência do direito baseada em princípios jurídicos gerais e abstracros. A. - OEGIPTO l. Evolução geral A civil ização do NilQ tem uma longa história de cerca de quarenta séculos; a evolução do direito conheceu aí fases ascendentes e fases descendentes, correspondendo ma1s ou menos às grandes oscilações do poder dos faraós m. m ). PrRENNE e A. THÉOOORJDEs, ·Oroit égyprlc:n•, cm J. GIUSSEN (ed.), l•1"""'rt1ff &iWio1•.pl11q.,. •. A/ I, Bruxelas 1966: ) . PlllENNE, HiJ1oirt IÍtJ 11f/t11M1-",;,, n1 frlW ti. fAttdat E.pm, 3 vis., 1932-193S: do mesmo, .1,a troiJ 53 O nosso conhecimento do direito egípcio é baseado quase exclusivamente nos accos da prácica: contratos, testamentos, decisões judiciárias, accos administrarivos, etc ... Os Egípcios quase nada escreveram de livros de direito, nem deixaram compila·- ções de le is ou de costumes. Mas não deixaram de se referir frequentemente a •leis» ; estas leis deviam ser escritas, pois, em período de confusã.o, foram lançadas à rua , "espezinhadas .. e •laceradas .. . Encontram-se, de resto, " lnsrruções» e «Sabedorias», que contém os elementos da teoria jurídi~a tendenres a assegurar o respeiro das pessoas e dos bens (v. documento n.0 1, pág. 56). É conscanremenre referido o · Maât•, que aparece como uma noção supra-sensível, o modelo do dir~ico não escrito, que não se pode consulcar, e que também não é o produto de uma revelação divina. · Maàc .. é o objeccivo a prosseguir pelos reis, ao sabor das circunstâncias. Tem por essência ser o «equilíbrio"; o ideal, a esse respeiro, é por exemplo «fazer com que as duas partes saiam do tribunal sarisfeitas,.. Como é neste prece1ro que reside •a 1'trdadeira jusriça .. , Maât tanco pode ser traduzido por Verdade e Ordem como por Justiça propriamenre dita. A função do rei é a de real izar na cerra este ideal complexo; ele levará a cabo este objeccivo • vi~endo o Maât nas suas leis•, o que significa dizer que se deve inspirar na v isão que ele tem desce princípio, pois se entende que disco resulrará o benefício dos homens . A história do Egipco faraónico compreende rrês g randes épocas rradicionalmence chamadas " Antigo Império" (da Ili à VI dinasria: XXVlll-XXIIJ séc. antes de Cristo), «Médio Império .. (cujo cenrro é a XII dinastia: primeiro quarto do IJ milénio anres de Cristo) e • N ovo Império• (XVIIJ-XX d inast ias: séculos XVI-XI anres de Cristo). Estas épocas foram seguidas por • períodos intermédios"; a úl t ima suscita a reacção da XXVI d inast ia (séculos VII-VI anres de Cristo) que conduz, através da ocupação persa (525 -404), aos Gregos e aos Romauos. Jacques Pirenne, na obra eirada em nota, pôs em evidência a alternância de pe ríodos individualistas e de períodos feudais na evolução do direito das instituições egípcias. J á sob o Antigo Império, a monarquia torna-se unitária e poderosa, enquanco que..o di reito privado conhece um cerco individualismo, favorecido por um desenvol-<yclcs de l'hu;101rr <k ra.nc1cnnc- E3yp~t·, 8 11/I A'.J BJill/• · ri ltllnJ, 19)9. atnda. do mesmo. Ht1lt111' tlt /11 rtr11/u1U1011 dt í"Et.Jplt *"'"""'· 3 YOI . • N•udurd 1961·196,l; E. SEIOL. E1•/;,hm1t •• J,, •AJPllJtlx R1thtJgrJthi<h1t b1J ' ""' Eiuit J.1 Nt""' RmhtJ, 2 .• td . . 1 9~ 1: do m01mo, ll<KJPlll<ht Rt<hllttJtl11rh1t "" s.;,,. - N•" Pmttwl • 1916: ainda do mtSmo, ·"''•toP"''"" Rt<hl. ' •m 8 . SPULER C«l. J, Hatuih•rh d.r Qr1,.t•h111•. llb< . I, Er8 . lêl <t.idtn 1964). pp. 7-~8; Ch. CHEHATA . HIJ/dr•• '4 Jm11• flNl'dlÍO tf.tPflD (<m án.bt'l. Cairo 1911 ; A. 1. HARA.RI . C111Unlt.11<m à NwJ. d. /11 J1t*WI"" ""''"""' J.01 l'llorim E,Y1tY ig)p11,., 1910: H . GOEOICKE, Ko•11/;,1;, ~" ,,,,, dtrtt 11 11,,. RrtdJ. 1967: D1t Prn.wtrn Rltb111.xbnft.-. .,,, ,J,,,, /l/1t• Rt1ch. 1970: 1\. THÉOOORIDEs. •The Cone'!'< oi l.aw 1n An<~r Egyp<• . tm J. R. HARRJS (<d. ). TI;, ~"'1 o{ Eo/t, Oxfonl 1971. pp. 291 < u . ...... , ..... 1und1<juc>· . tm T"''" d '-t•f;tJ J. f Egpu fb.u-•qtlt. r. Ili . t. Cair< 1974, pp. 21 • u .; · k p roblf.mo du dnm •lm",.n anc~n·. nas A,,. J. úll.q• ' '" k J.u11 «Tfl- • .,,,.. B~lks 1974. pp. 1 < ss .• Scholik ALL\M. Das Vtrf•hrt.mrl11 1• J,. ,,ltiiKJ-p11,J,,. """''"11"1•0t; ,.,. Dár J-MrJ1.JJ. Tub1n3<n. 1973: J. GDJSSEN . ·L·•Pf>O" dt l'hisrot.tt du dron <5ypri•n • J'hud• dt rc--oluuon gtnnU: du drotr "' • •• formauon du 1urist.-. ,... mnmu lltt•. pp. 227 ·243: ) . MOORZEJEWSKI . • 1.a ttgl< dt drou dam l'f.fYP'• prolrm.:iqu<-. tm 11-. Swl. 1• Papyr,, r 1, 1966, pp 721 t ss.: •u rõgl< dr drou dan• J'Egyp« mmain<•, 1n 1d • e VII. 1970, pp 317 < ss 54 vimeCJ..t.Q.._dt_UJJl_JL~(Ql\Qmia de_ crocas. A partir da VI dinastia, assisce-se ao restabele- c imenro de um regime senhorial e em parte feudal, com o parcelamento da autoridade entre os régulos, enquanto que o direito privado volta à solidariedade de clãs e de aJdeias, no quadro de uma economia fechada . A mesma evolução no Novo império., que a tinge o seu apogeu na época da XVlil dinastia (séculos XVI e Xil), mas um novo decl ínio nos séculos XJ-X. Depois, um terceiro ciclo ascendente na época da XXVl dinastia. Jacques Pirenne qu.is reagi.e contra uma concepção demasiadamente linear do direito egípcio, em que os historiadores se serviam de documentos de qualquer época para reconsciruir um sistema jurídico que pouco teria evoluído. Mu.icos dos especialistas não alinharam pela interpretação dos texros dada por J. Pirenne; mas o essencial dela foi aceite. 2. D ireito do Antigo Impé r io Os períodos do direito individualista são marcados por um estado jurídico próximo daquele que os Romanos conheceram nos séculos li e Ili da nossa era e daquele que conhecemos hoje: um indivíduo isolado em face do poder, sem grupos ou hierarquias incennédias, possui wna liberdade reaJ para dispor da sua pessoa e dos seus bens. Descrevamos, a tÍtulo de exemplo, o di reiro da época que vai da fll à V dinastia (séculos XXV111-XXV), que constitui o primeiro sistema jurídico desenvolvido da histó ria da humanidade. Todo o poder percence ao rei. A nobreza feudal desapareceu. O rei governa com os seus funcionários. Os chefes dos departamentos da administração formam um verdadeiro «Conselho de M inistros», presidido pelo vizir, wna espécie de chanceler. Os funcionários são agrupados em departamentos: finanças, registos, domínios, obras públicas, irrigação, culto, intendência militar, etc. Cada departamento possui os seus ofícios na maior parte das 42 nomes (províncias). Todos os funcionários são nomeados por um djer, uma •ordem real"; eles são remunerados; e podem ascender todos eles às mais altas funções, seguindo uma rigorosa carreira administrativa. Os tribunais são organizados pelo rei. O processo é escrito, pelo menos parcial- mente; junco de cada tribunal está instalada uma chancelaria, encarregada da conservação dos acros judiciários e dos registos de estado civil. A lei reria sido a princip~e di reito (ainda ~ue não se renham encontrado quaisquer exemplos dela); teria suplantado os costumes. E promulgada pelo rei, depois do parecer de um «Conselho de legislação,.. Assre_c!itciç_o_público_c..enrralizador..cor~nde..11m direiro priYado individualista. Não há sinais de solidariedade clânjca. Todos os habitantes são iguais perante o direito: nem nobreza privilegiada, nem servos, nem escravos privados; mas os prisioneiros de guerra são utilizados pelo Estado nas obras públicas e nas m inas, em situação semelhante à da escravatura. A célula social por excelência é a família em sentido rescrito: pai, mãe e filhos menores. Marido e mulher são colocados em pé de igualdade: não há qualquer autoridade maricaJ, nem cutela da mulher. As mulheres, mesmo casadas, podem dispor do seu património próprio, por doação e por resrarnenro. Não há sinais de harém; o casamento é monogâmico, à excepção do do rei. T odos os fil hos, filha como filho, são iguais: nem direito de primogenitura, nem privilégio de masculinidade. O filho maior pode possuir um património próprio, de que pode dispor livremente. A liberdade de restar é completa, salvo (talvez) a reserva hereditária a favor dos filhos . O testamento existe pelo menos desde a IV dinastia; difere profundamente do testamento romano; é um acro de disposição (iffl)·rper = •O que ex:Íste na casa .. ), revogável acé à morre do testador (v. documento n.0 2 e 3, pág . 57 esgs.). Todos os bens, imóveis como móveis, são alienáveis. A pequena propriedade domina; os grandes dom ínios são raros. Não há conrraros perpéruos; há grande mobilidade de bens revelada pela pericxlicidade dos recenseamentos. O direi to de contratos é muico desenvolvido: conservam-se accos de venda, de arrendamento, de doação, de fundação. O direito penal não parece de modo algum severo, em comparação com os o utros períodos da antiguidade; por exemp lo, não se encontra praticamente repre- sentação da pena de morte . 3. Evolução para o regim e senhorial A partir do fim da V dinastia, constata-se uma evolução rápida para um regime senhorial, através da formação de uma oligarquia social baseada numa nobreza sacerdotal , e do desenvolvimento ~a hereditariedade dos. cargos e das clive~ formas de imunidade. A esca ~v~ao direito público corresponde um 'évoluçâolparalela do direito privado: reforço do poder paternal e marital, desigualdade no domínio das sucessões pela introdução do direito de primogenitura e do privilégio de masculinidade. M uitas das cerras tornam-se inalienáveis: os contratos tornam-se raros. Entra-se neste momcnro no regime de econom ia fechada, enquanto que as províncias se separam do poder central. O declínio é geral. O Egipco insrala-se numa cfeudalismo .. que durará vários séculos; de facco, parece que algumas cidades do Delta conservam o seu d ireito individualista. 4. Segundo e terceiro períodos da evolução d o direito egípcio O renascimento da central ização do poder e do direito individualista começa com a XIJ dinastia (Médio Império); ele será ao entanto travado pelas invasões dos Hicsos d urante o JI período intermédio. 56 No século XVI, com a XVIII dinastia, reencontra-se um sistema jurídico que se assemelha ao do Antigo Império, tanto no domínio do direico público como no domínio do direito privado: preponderância da lei, igualdade jurídica dos habitantes, desapa.recimenco da escravidão, igualdade dos filhos e das filhas, liberdade de testar. Este sistema jurídico individualista apaga-se, por sua vez, a partir do século XII, sobretudo sob a influência crescente do clero e em razão de novas invasões: assiste-se ao desenvolvimento de um segundo período senhorial de natureza teocrática que durará até cerca de 700. É neste momenco que começa aquilo que Jacques Pirenne desjgnou por terceiro «ciclo» ascendente da evoluçãodo direito egípcio. Encontra-se uma primeira mani- fescação duma renovação no •código• de Bócoris, rei da cidade marítima de Sais, cerca de 720: as tenências desaparecem, a escravidão por dívidas é suprimida, a mulher adquüe a completa capacidade jurídica, a igualdade dos filhos e das filhas é assegurada em matéria de su~. Mas este sistema jurídico é ajnda limitado a algumas cidades do Dele.a. A partir de 663, Psamécico, rei de Sajs, vence a cutela dos senhores feudais e do clero. Com a XXVl dinastia, instala-se no Egipto um novo tipo de düeito privado iadjvidualista e de poder real centralizado e force. A ocupação persa, e mais tarde romana, deixará subsistir parcialmente este sistema jurídico, que exercerá urna influência considerável sobre o desenvolvimento dos direitos helenísticos e romanos. Na época dos Ptolomeus (séculos N-1 antes de Crisco), o Egipto permanece entre os pa.íses mais prósperos da bacia mediterrânica. O sistema jurídico deste período é cada vez melhor conhecido, graças à descoberta e análise de numerosos papiros, que coroam possível o conhecimento da organização administrativa e judiciária e, sobretudo, do direito privado da época m. DOCUMENTOS !. In.nrução dada ao Vizir Rekmara (XII.ª dinastia, século XVIII). •Quando um queixoso vem do Alto ou do Baixo Egipto, . .. é a ti que cumpre cuidar que tudo seja feito segundo a lei, que rudo seja feiro segundo os regulamentos que lhe dizem respeito, fazendo com que cada um tenha o seu direito: Um vizir deve (viver) com o rosco destapado. A água e o vento trazem-me tudo o que ele faz. Nada do que ele faz é desconhecido ... Para o vizir a segurança é agir segundo a regra, dando resposta ao queixoso. Aquele que é julgado não deve dizer: «Não me foi dado o meu direito• . rJI Sobtt a popitologis. v. R. TAUBENSCHLAC, Tht law 1/ ,._,._. Eo pt ;,, 1ht /ig1h tf ,..,,,.,. 2.' <d. 1117....., 1911; E. SEJOL, P1"-iiiktt /UchlszoâJKIJt,, 1962; M. Th. UNCEll. e.,,., • ,,.__ • L.1ulo. BNUlas 196tc J . MOORZEJ EWSKJ , •u rigk de clroit clan. rEmpitt pcolémaiq.,. • • A-• st,,,/111,. ~. <. J. 1966. p. 721 • ...._ < t . VIl. 1970, p. 317 • u .. Ver wnbftn a crónica anual de popírologia feito po< J. MODRZE)EWSKJ na Rn.w h11tfrif• J, ._ fratl(atJ t.l ltr111ttt". 57 •Não afastes nenhum queixoso, sem ter ºacolhido a sua palavra. Quando um queixoso vem çut1xar-se a ti, nio recuses urna única palavra do que ele diz; mas, se o deves mandar embora, OC'\-CS fazê-lo de modo que ele entenda por que o mandas embora. Atenta no que se diz: .Q queix050 gosta ainda mais que se preste atenção ao que ele diz do que ver a sua queixa acendida,.. • Atenta em que se espera o exercício da Justiça na maneira de ser de um vizir. Atenta ~ o que é a lei justa, segundo o deus (Râ). Atenta no que se diz do escriba do vizir: 'Escriba 1 ~ Maát (a Justiça)' é (o seu nome). A sala onde dás audiência, é a sala das Duas· Justiças, em GUe se julga: e quem distribui a Justiça perante os homens é o vizir•. •Atenta, um homem mantém-se na sua função, quando ele julga as causas conforme as .::scruc;õcs que lhe são dadas, e é feliz o homem que age conforme ao que lhe é prescrito. Mas ;ão íaças aquilo que desejas nas causas em que as leis a aplicar são conhecidas, pois acontece ao ycesunc;oso que o Mestre a ele prefirn o cernente». •Que cu possas agir conforme estas instruções que te são dadas ... ,.. Tradução e comentário: A. MORET, ú Nil et la d11i/isa1ion égyptiennt, Paris 1937. pp. 331-332 et A. 1HÉODORIDES, .. A propos de la loi dans l'Egypce ancienne,., Rt1•. lnttm. Dr. Antiq .. t . 14, 1974, p . 148- 150. l. TESTAMENTO OU DOAÇÃO DOS FINS DA XII D INASTIA (cerca de 1850-1800): No wrso: Acco de • imyr-per• 141 que o •phylarque• ,,, Merysaintef realizou a favor de seu iilho Intefsaméry, de sobrenome louse:nbou. No rei:to: No ano XXXIX (de Amenemhat III), no 4.0 m'5 da (estação) •akhet•, no 19.º dia. A cto de • imyt-per. feito pelo •phylarque• Merysafotef, de sobrenome Kebi , a favor do seu filho Intefsaméry, de sobrenome Jouse:nbou. •Eu dou o meu •phylarquat• a meu filho Incefsaméry, de sobrenome louse:nbou, com a condição de ele ser ~ra mim um •amparo de velhice• pois eu sou enfermo•. •Que ele seja investido instantaneamenre•. • Quanto ao acro de •imyc-per• que eu antes tinha feito a favor da sua mãe, que esre seja revogado" . •No que diz respeito à minha casa, situada no domínio de Houtmedet, ela fica para meus filhos , que nasceram de Sacnebethenounesou, filha do guarda de conselheiro de distrito de Sobekemhat, com rudo o que ela contim•. 141 ,,,.,,_,..: eúmologiameott: <0 qut ai= na CU&• , · invromio• . poc ttt<ftSio: · •oda 1 maniksl'aÇ1io de vonta<k p<SIO&l qur modifica 1 de>oluçio leg.i doo bens• . m Chdt dt um grupo dc saccrdotts, chamado •phyl~· .,. época g«g•. S8 Lista nominativa das tesremunhas que assisnram à confecção do presente acco de •imyr-per• : (rrés nomes). A . THÉODORIDÊS, •le testament dans LºEgypie ancienne• , . Rtv. inttrn. Dr. A.ntiq11ité, 3. 0 s. , L 17, 1970, p. 12~ à 129: Papyrus Kahoun, VII, 1. 3. TESTAMENTO DE PADRE, SÉCULO XI ANTES DE CRISTO (extraem). Um padre, pai de fàmíüa, institui legatária a sua mulher, exprimindo-se como se segue: • ... Assim, eu vim perante o Vizir e os Magistrados membros do Conselho (de Médinet Habou), neste dia, a fim de fazer conhecer a sua parte a cada um dos meus filhos e esta disposição que eu vou mmar a favor da ·cidadã· Anoksouned_íem, esta mulher que esiá na minha casa actuaJmente, poís que o Faraó disse: que cada um faça o que deseja dos seus bens, ... • . A. THÉODORIDES, op. at.: Papyrus Turin, 2021. B. - OS DIREITOS CUNEIFORMES Dá-se o oome de ·direitos cuneiformes» ao conjunto dos direitos da maior parte dos povos do Próximo Oriente da antiguidade que se serviram de um processo de escrita, parcialmente ideográfico, em forma de cunha ou de prego c6>_ Apesar da grande diversidade étnica, estes povos desenvolveram civilizações aparentadas, cuja comunidade fui rdOrçada pela difusão da língua acídica como língua diplomática e como língua culta. Não há um direito cuneiforme único, mas um conjunto de sistemas jurídicos, de períodos e de regiões diferentes, apresentando uma cena unidade: direitos das diversas regiões da Suméria, da Acádia, da Babilónia, da Assíria, de Mitaoni, de Urartu e também de centros mais próximos do Mediterrâneo, como Alalakh e Ugarit. Mais ao Norte, na Turquia actual, formou-se no 2. 0 milénio o vasto reino dos Hititas. 1. Evolução geral A história dos povos do Próximo Oriente dos milénios IV ao 1 é muito complexa; o mesmo se passa com a evolução dos seus sistemas jurídicos. De resto, esta t61 G. CAllOASOA, ·Ln droiu am6Wmrs•, rm MONIEll, CAllDASCIA e IMBERT, Huum dtJ /11Jt11• l1011J ••• , 1956. PP· 17-68: • em ) . Gll..IS$N (ecl). /.nwl. ""~·· A/2, BNRm 1966: R. HAASE. ~ ,. ""' 5,.,,p_ ki/Jchriftlid.•r Rrillfl"/t.., Wieoboden 196): V. XOllOISEK. •kibchriftredl• , H-'itwh "6 Orimu/iJtilt, 1 Alx. , Band tn. L<idrn 1964. p. 49·219; W. EILElS, ·Rffkxioos •ur les o<>giMS du droir en Mésoporamie•, R,.,. httt. tirou /r. ti tt•••ttT· 1973, p. 19S·216. < :l ~ - -r - -~ -:l .. -~ -.. - -... ~ - ~ ; :t • J ~/B ) :; ~ ~ ~ g % ·< "' .. ., ª ::! 8 s .. .. < >: 59 1 ~ j i3 ~ ... l 60 evolução é ainda muico mal conhecida; mas numerosas descobertas arqueológicas receares peanirem reconstituir as suas fases principais. Limitando-nos à região da Mesopotâmia (.Tigre e Eufrates), pode-se distinguir na história política os seguintes grandes períodos <~ - . período sumério (fim do 4 . 0 milénio - 2350); - período acádio-sumério (séculos XX1V-XX); - dinastia de Akkad (nomeadamente Sargoa); - 3. •dinastia de Ur (nomeadamenteUr-Nammu); - período paleobabilóaico (1900-1530, aproximadamente); - dinastias de Esnunna, de Jsin, de Larsa; - reino de Mari; - dinastia babilónica (nomeadamente Hammurabi, 1728-1686 antes de Cristo); - período Kassite (séculos XVI a XII antes de Cristo); - império assírio (séculos XI a VII antes de Cristo); - dinasria neobabilónica (626-539); Do ponto de vista da evolução do direito, a curva é mais simples do que a da evolução do d ireico egípcio; ela não comporta senão um momento alto que se situa na época de Hammurabi , enquanto que, no mesmo período, o Egipto começa somente a sair do regime senhorial, depois de ter conhecido, contudo, wn período de grande desenvolvimento cerca de dez séculos mais cedo. Os primeiros vest íg ios de uma sociedade escruturada e de uma organização política situam-se já antes do «dilúvio• 1s> nas cidades-templos sumérias: Eridu, Ur, l.arsa, Lagas, etc ... ; trata-se de principados independentes dotados de um regime de colectivismo teocrático, em que o poder escava nas mãos de assembleias de sacerdotes. Depois do «dilúvio• a evolução do direito é relativamente rápida entre os anos 2400 e 2000. Urukagina, rei de Lagas, por volta de 2400, é o primeiro reformador social da história; oos textos que datam do seu reinado, constata-se uma tendência para a igualdade jurídica entre os cidadãos. Essa evolução chega à maturidade nas recolhas jurídicas redigidas entre os séculos XX e XVI. 2. Os grandes «códigos• dos direitos cuneiformes A maior parte destas recolhas foram descobertas no decorrer das últimas décadas; a sua publicação e sobretudo a sua cradução e a sua interpretação estão ainda em cu~;>. « 7t /\ cronolosia da história dos powo1 cuncifu,mn dos milénios li ~ IU concioua a ser 1.ncttta: u.sirn. a c·~g.d• dr Hammurab1 ao podtr f0:1 tturd.da ck Ct'KI dot" 27) anos ( sirvada p0r vofr• dt 1940. e .. SlfUl •St' artual mcn(t o uu reinado rnrR" 1728 e 1686 w.C .. Adopcãmos.,. cronolotia dt G . Carda.seta n.a sua bibl1ograli1 .. tlh O drlUvro dacur:o n1 8 iblia fo1 Pf(>n•tlm~n1e uma grande inundação da baixa planíc-1t do Tigrt e do Euír2rcs , por voh1 dos siculot XXVI ou XXVa. C. 61 Jilla::.-se-lhes geralmente •códigos», erradamente, al iás, pois não contêm senão um -.:lletlio número de disposições (30 a 60 artigos), relativas a questões de detalhe, e não aposição sistemática e completa do direito ou de uma parte do direito. São antes de textos jurídicos agrupados de uma maneira que parece ilóg ica, mas .. ri::tndo aquilo que parece ser «O mecanismo instint ivo da associação de ideias•. Estes • :os não parece mesmo terem sido leis, mas ames, como lhes chama o Código de urabi, dinât miJharim, ou seja, julgunentos de direito, ensinamencos indicando aminho aos juízes. Cada frase, geralmente breve, diz respeico a um caso concreto e 1 solução jur ídica; a maior parte começa por uma expressão equivalence à expressão ., ma ri qui1 (se alguém ... ), situando a formulação a meio caminho encre o concreto e o f rncro. Mas as recolhas de direito cuneiformes não conhecem qualquer sistema- nnçio do direito, qualquer doutrina jurídica. 4ioda...qu_uí..não se encontte..Jle..nb.uma....ex~ijo geral do sistema jutidico, estes <Od.igoslLCans_tituem.. no enranto _Q!.J~rimeiros esforços da humanidade para formular 1gras de djrejco. a) O mais antigo «código• actualmente conhecido é o de Ur-Nammu. fundador • 3.ª dinastia de Ur (cerca de 2040 antes de Cristo), (documento n. 0 1, pág. 64). Pos:suem-se vestígios de textos mais antigos, como o «Código» de Urakagina de Lagas, dos meados do 3.º milénio, ou o de Sulgi, em Ur. Do mesmo período, conservam-se .,,lbarcs de actos da prática e actas de julgamento ( di-ttl/a) 19>_ b) Depois do desmembramento do reino de Ur, vários principados fizeram esforços no sentido da redacção de recolhas jurídicas, nomeadamente os de Esnunna peno do Tigre, na Acádia) e de Isin (perto do Eufrates, na Suméria). O Código dt Es-.11,,na, escrito cer~a de 1930 antes de Cristo (atribuído erradamence ao rei de B~ama), contém cerca de sessenta artigos (documento n. 0 2, pág. 64). Do Código dt Lipit-lstar, rei de Isin , escrito cerca de 1880 antes de Cristo, encontrou-se o prólogo, o epílogo e 3 7 artigos; era destinado a •estabelecer o direito nas regiões da Suméria e da Acádia» . e) O monumento jurídico mais importante da antiguidade antes de Roma é o Cidigo dt Ha11111111rabi, rei da Babilónia (provavelmente 1726-1686)"°>. O texto provavel- mt-nte redigido por volta de 1694, antes de Cristo, está gravado numa estela descoberta cm Susa em 1901 e actualmeate conservada em Paris no Museu do Louvre. Compreende 282 artigos; numerosas disposições foram igualmenre enconrradas em rabuinhas de m E. SZLECHTER. ·L< Codc d"Ur-Nammu• , R""" J ' /t t1)'1•i•t•t. e. 49, 191), pp. 169- 177: do mesmo. T •llt.JltJ 1•r1Jiq111.1 ç/ d•i• 11t'•ln>v IÚ /11 3.' tljuJltt tl'Ur ti titia/ , Pt Jy11.m1it Jt 8t1•1l•w . Par1i 1963. CIOI G . R . DRIVER, e) . MJLES, Tht8 • .,l .. 1••Lnl>. 2•ols . • 19)2·19H(tcxcoucraduçiodcsdcoCódogodc Lpit · fshcar acé à ipoca ncobabilónica); A. FJNET, Lt C11J1 J1 Hdl.n.p1. '"'""""''"· " '-'""""" ,, 11•Ml4'""'• Paru 1973; E. SZLECHTE!l, Cm 11-ap1, Rocna 1977. ~se n<r<V<r Hunmu· rabi 1~ Hammu t S""'d<) ou Hammu-rop• ( z Hammu c·u.ra)? T·aJ como G. Carducia. ron.~ Hammu_rabí: rot1tr11. A. Fin~t e E. Szl«h.tt'r. 62 argila, de um manejo mais prático; são aparentemente os .. códigos• portáteis de que se serviam os práticos (ver documento n. 0 3, pág. 65). Na parte superior da estela, um baixo-relevo representa o deus-sol Samas, •O grande jufz dos céus e da terra•, ditando a Hammurabi as regras do direito que aí estão gravadas. Este declara, aliás, no fim do texto: •Hammurabi, rei do direito, sou eu a quem Samas oferece as lei.s•. As leis são portanto de origem divina; o baixo-relevo faz pensar em Jeová entregando o Decálogo a Moisés (infra). Mas, enquanto que o direito de Israel, como os da Índia e do Islão, são di reitos religiosos, dados por Deus, o Código de Hammurabi não é senão inspirado. por Deus. O direito babilónico é sobretudo, como o afirma também o prólogo do Código de Ur-Nammu, um • regulamento de paz• ; o rei aparece como um justiceiro e um protector dos fracos : órf'aos, viúvas , pobres; ele deve garantir a liberdade de cada um. O direico babilónico da época de Hammurabi apresenta assim certas analogias com o direiro proveniente do movimento de paz dos séculos XI e XII da Europa ocidental (inf ra). d ) Em Mari (no Eufrates, ao norte da Babilónia) descobriram-$(' desde 1935 cerca de 20 000 tabuinhas, datando da primeira metade do século XVIII , ou seja pouco mais ou menos da época do Código de Hammurabi; ·ceara-se em geral de documentos da prática administrativa, jurídica ou económica. A sua decifração e tradução ainda não estão terminadas. e) Na A ssíria, a moor.ante da Babilónia, recolhas jurjdicas chamadas •códigos assírios• foram redigidas em diversas épocas: as mais antigas datam de antes de Hammurabi , cerca de 1950-1870 antes de Cristo; um segundo grupo data de cerca de 1450-1250; o terceiro, cerca de 750-700. Eles revelam todavia um direito muico menos desenvolvido qut o da região da Suméria e da Babilónia cm. O Os Hititas estavam instalados no segundo milénio na região de Hacci, ao centro da accual Twquia asiática (região de Ankara). Cerca de 1800 antes de Crtsto, formou-se aí um reino hitita, pela reunião de vários pequenos principados; reino de tipo feudal, ele vai no decurso dos séculos seguintes aumentar o seu poderio, para se coroar cerca de 1400 a 1300 num vasto império, pouco mais ou menos igual ao Novo Império egípcio. Desaparece cerca de 1200 após as grandes invasões dos •povos do rruu• . Parece no encanto cer sido um elo de ligação entre os direitos mesopotâmicos e os direitos gregos.Em Harcusas (acrualmeote Bogaskõy, a ISO km de Ankara), capi tal do reino, foram descobertas a partir de 1906 mais de 2500 tabuinhas contendo accos jurídicos, e Cl 11 G. CARDASCIA, llJ /,., ,,,,,....,_, Paru 19!>\I. 63 além disso duas recolhas de textos jurídicos que ÍO!"alll chamadas (erradamente) o Código H itita, gravado em caraeteres cuneiformes e datando provavelmente do século XIV 1121_ Esras recolhas contêm por um lado um conjunco de regras de origem consuetu- dinária, por outro lado formul_ações relativamente abstractas de regras jurídicas provavelmente proclamadas pelo rei . Elas dizem respeito sobretudo ao direito penal, sancionando os delitos contra a autoridade pública, contra as pessoas e contra os bens sobrerudo roubos); encontram-se aí também alguns arcigos relarivos ao direito privado, nomeadamente ao casamento. f oi igualmente encontrada em Hatrusas, a cópia de tratados internacionais: t ratado de aliança com o faraó Ramsés IJ ( 1270 a0ntes de Crisro), tratados de protectorado e de vassalagem com os países dominados pelo poder hitita. Traca-se dos majs anrigos accos da história do direito internacional Ul>. No conjunto, o direito hitita é o de uma sociedade sobrecudo agrico.la,, embora ainda íorcemente feudaliz.ada; parece mais arcaico que o da Babilónia na época de Hammurabi. 3. O direito da época de Hainmurabi O código de Hammurabi e os numerosos accos da pratica do mesmo período dão-nos a conhecer um sistema jurídico muito desenvolvido, sobretudo no domínio do di reito privado, principalmente os contratos. Os Mesopotâmicos praticaram a venda mesmo a venda a crédito), o arrendamento (arrendamentos de instalações agrícolas, de asas, arrendamentos de serviços), o depósito, o empréstimo a juros, o tírulo de crédito ;z ordem (com a cláusula de reembolso ao portador), o conrraro social. Eles Íll2.iam ~perações bancárias e financeiras em grande escala e rinham já comandita de comerciantes. Graças ao desenvolvimento da economia de croca e das relações comerciais, o direito da epoca de Hammurabi criou a cécnica dos contracos, ainda que os juristas não tivessem chegado a construir uma ceoria abstracra do direito das obrigações; da Babilónia, esta ;ecnica de contratos espalhou-se por toda a bacia do Mediterrâneo; os Romanos t'lerdaram-na finalmente e conseguiram sistematizá-la. Subsistem no encanto, na época de Hammurabi, sobrevivências do período anterior, por exemplo, na medida em que o poder paternal ê mais extenso do que no Egipto (o pai insolvente podia entregar a sua mulher ou os seus filhos ao credor para que eles crabalhassem ao seu serviço), ou ainda no facto de a poligamja subsistir, permitindo ao marido cuja esposa é estéril tomar uma outra mulher, e, enfim, na ;ned1da em que o direico penal continua extremamente severo. Sob o efeito das invasões que se seguiram à morre de Hammurabi (Hitfras, Kassites, li)} R HAASE. 0 Htthi111ch< RKh<• . <m J GIUSSEN l«I l. I•" ._IJ AJ3. Bruxdu 1967. H. A. HOFFNER . Tlx 1,.n,.{1bt HmittJ. Wahhsm Mus. 1963. 011 G . KESTEMONT. D•f>l-tt'lw tt J<w1 ,,,,,....,,,.,..1,. A>« omrlmtalt 11600-ll<XI ""· ) . C.), louv.un-la-Neu•'f 1974 64 Aqueus, Medos e Persas) e das civiliz.ações menos desenvolvidas dos· invasores, a sociedade mesopotâmica desagrega-se, quer seja por absorção ou por feudalização. Só a· Babilónia continuará durante vários séculos ainda a ser o centro de uma civilização desenvolvida que rransmírirá aos povos do Medirerrãneo: H ititas, Fenícios, Gregos e Romanos. DOCUMENTOS 1. CÓDIGO DE UR·NAMMU (cerca de 2040 antes de Cristo). Col. lll. Havia pastores que ficavam junto dos bois, que ficavam junco dos carneiros e que ficavam junt!J dos burros( ... ) Nesse dia Ur-Nammu, varão forre, rej de Ur, da Sumhia e da Acádia, com a força de Nanna, rei da ci~; ( ... ) a equidade no país estabeleceu, a desord.em e a injqujdade (pela força?) corrou; capiries de navios para o com~rcio •fluvial" (ou paca a navegação mercantil) , pastores que ficavam junto dos bois, que freavam junco dos carneiros , que freavam junto dos burros( ... ). Col. VI. ( .. . )Se um cidadão acusa um outro cidadão de feitiçaria e o leva perante o deus rio (e se) o deus rio o declara puro, aquele que o levou ... Col. VIH. Um cidadão fracturou um~ ou uma mão a outro cidadão durante uma rixa pelo que pagará 10 sidos de prata. Se um cidadão atingiu outro com uma arma e lhe fraccurou um osso, pagará uma • mina ... de prata. Se um cidadão corrou o nariz a outro cidadão com um objecto pesado pagará dois terços de •mina" . E. SZl..ECHTER, •l..c Code de Ur-Nammu• Reii11t d'=y- riologie, t. 49, 19'.5'.5, pp. 169-177. 2. LEIS DE ESNUNNA (cerca de 1930 antes de Cristo). 5. Se um barqueiro é neglig~te e deixa afundar o barco, ele responderá por cudo aquilo que deixou afundar. 17. (Quândo) o filho de um cidadão trouxe o IÍ!JJ tx-mari111 para a casa do seu (fucuro) sogro, e se um dos.dois (noivos) morre, o dinheiro deverá volcai: ao seu proprie1:ário. 22. Se um cidadão (que) não tem o menor cttdi to sobre um (oucro) cidadão conserva (no entanto) como penhor o escravo (desse) cidadão, o proprietário do escravo prestará juramento diante de deus: •tu. não tens o menor crédito sobre mim .. ; (encão) o dinheiro correspondente ao valor dO'escravo ele (o detentor do escravo) deve pagar. 27. Se um cidadão toma •por mulher,. a filha de um cidadão sem pedir (o c-0nsen- timento) do seu pai e da sua mãe e não conclui um contrato de •Comunhão e casainento" com o seu pai e a sua rok, ela não é (sua) esposa (legítima), mesmo que el,a habite um ano na sua casa. 36. Se um cidadão dá os seus bens em depósiro a um esralajadeiro, e se (a parede da) casa não está furada, o batente da porra não está partido, a "janela,. não esrá arrancada, e se os bens que ele deu cm depósito se perdem, ele (o estalajadeiro) deve indemnizá-lo dos seus bens. 6~ 56. Se um cio é (conhttido como) perigoso, e se as auroridades da Poru. pttvemram o stu proprietário (e este) não vigia o seu cio, e (o cão) morde um cidadão e C•U$a a sua mone, o proprietário do cão deve pagar dois terços de uma •mina• de prata. E. SZLECHTER, Lo ku tfEs"""""• trnltriprum, tr"""'111»1 d _,,,;,. (Publicações do lnstirut de Oroit Romain da Universidade de Paris XIO, Paris, 1954, pp. 13-33. J. CÓDIGO DE HAMMURABl (cerca de 1694 ames de Cri.no) 1. Se alguém acusou um homem, impurando-~ um homicídfo, mas se ele nio pôde convencê-lo disso, o acusador será mono. 2. Se alguém imputou a um homem acros de feitiçaria, mas se ele não pôde convencê-lo disso, aquele a quem foram imputadas as acti vidades de feitiçaria, ir' ao R io; mergulha.cá no Rio. Se o Rio o dominar, o acusador fia.ri com a sua casa. Se este homem for punficado pelo Rio, e se sair são e salvo, aquele que u.,; tinha imputado tetos de k itiçaria será mono; aquele que mergulhou no Rio fia.ri com a casa do seu acusador. 45. Se alguém entregou o seu terreno conrra o produto a um ttabalhador e se ele recebeu o produto desses terrenos, se em seguida o deus Adad inundou o terreno ou se uma inundiçâo o dcsuuiu, os danos ficam apenas a cugo do tnbethador. 60. Se alguém mrregou um terreno a um ubo.ricultor pen ai plantar um pomar, se o arboricultor plantou o pomar, du.rante quarro anos, ele cultivari o pomar; no quinto ano, o p roprietário e o arboricultor panilhario em igualdade os frutos, mas é o propricário do pomar qur cscolhr a pane com que quer ficar w. 64. Se alguém mucgou o seu pomar a um uboriculcor pen o faur frut ificar, o arboricultor, enquanto t iver o pomar, entregará ao proprietirio do pomar dois terços da produção do pomar; ele mesmo tomará um terço. 133. Se um homem desaparecer e na sua casa há de comer, a sua esposa manrerá a sua casa e romati conra de si; não entrad na casa de outrem. Se essa mulher não tomouconta de si e se entrou na e.asa de outro, essa mulher será condenada e sc.rá deicoda à 6«ua. 134. Se um homem dcsaparcccu e se nio há de que comer na sua casa, a sua esposa poderá entrar na casa de um ourro; rua mulher não é culpeda. 145. Se um homem casou com uma sacerdotiza Nlliitlltfl e se ela oio lhe deu filhos e se de se propôs casar com uma sacerdotiu 111gl111m, este homem poderá casas com uma s11gl111111; e poderá !Ué-la entrar na sua casa. Esra s11glt""' não será rida cm pé de igualdade com a 1111/Íit""' °'» 19). Se um filho a&rcdiu o seu pai , scr-lhc-á conada a mio por alrura do pulso. til) Compuat com o dircllo htbnico, Lwl/J(f, XIX. 23~2): ·Quando rí 'fC'rdes mtndo N tT~âio e tiW'tda: ,plantado rodas at ttpkiet dt ârvom fN1ffttu eoo1idtnttí.s ot ttUI frucoe • inc:ir<oft(i.s• (• proibldot>: dunncc três.""°'· titÍio, . innrconsil• J'I""' vdt; nio 1IC1ii> romKb. No quano ""°· todcit Of JC\IS Íl'VfOf tttio <OftU&ndoa «ft tou"Of ck jcod.. No~ MO, mr:nr:m. OI tNt ÍTvtOl lf -.âm a~~ a podwit pll'I 'flÓJ_• , ... -·-· ....-;..i.ci-.i.-i.. ~ toette1oc ... dr c1.-...i.i..-. 66 196. Se algu6n vazou um ollio de um hommi li~. scr-lhc-i vazado o olho. 197 . Se ele partiu um osso de um homem livre, scr-lhe-á partido o osso. C. - O DIREITO HEBRAICO l. Introdução histórica A. FINET, Le Cotk dl! Hammurapi, lntrod11((11m, 1radut11on t i am101a1ionJ, Paris 1973. Os Hebreus são Semitas que viviam em tribos nómadas, conduzidas por chefes. Eles atravessam a Palestina na época de Hammurabi , penerram no Egipto, retornam (o Êxodo) à Palestina e instalam-se aí entre os Hititas e os Egípcios, provavelmente nos inícios do século XII, talvez mais cedo. A seguir à sedentarização, é estabelecido um poder único sobre o conjunro das tribos; pertence ao rei, cuja autoridade se reforça nos séculos XI e X. O apogeu do reino de Israel sicua-se na época de David ( 1029-960) e de seu filho Salomão (960-935). Seguidamente, di~nsões internas provocam a divisão em dois reinos: o reino de Israel . no Norte, que foi ocupado pelos Assírios em 721; e o reino de Judá, no Sul , à volta de Jerusalém, que resistiu até 586. Persas, Macedónios, Romanos ocuparam seguidamente a Palestina. A revolta dos Judeus contra os Romanos leva, nos séculos 1 e li depois de Cristo à sua dispersão (diáspora); mas, apesar da perda da sua unidade política, eles conservam uma grande unidade espiritual. 2. Caracteres O d ireito hebraico é um direito religioso. Religião monoteísta, muito diference dos politeísmos que a rodeavam na antiguidade. Religião que, através do cristianismo que dela deriva, exerceu uma profunda influência no Ocidente. O direito é «dado• por Deus ao seu povo. Assim se estabelece uma "aliança• entre Deus e o povo que ele escolheu; o Decálogo ditado a Moisés é a Aliança do Sinat. o Código da Aliança de Jeová; o Deuteronómio é wnbém uma forma de alianç~ O direiro é desde logo imutável; só Deus o pode modificar, ideia que reencontraremos no direito canónico e no direito muçulmano. Os incérpreces, mais especialmente os rabinos, podem interpretá-lo para o adaptar à evolução social; no encanto, eles nunca e podem modificar n•>. 04l S. PAUL. •Blblical l.aw•. em J. GIUSSEN (cd.), l•t.-.d. b1blio~1. op. óc .• A/6, 8rwcclu 1974; do ,_ Bil>liogr•;hir11/ M11url.l /1W 11 StlNiy o/ BiWit.I bnv, Jcruaalnn 1972; Z. W. FAJ.JC . H"'-' C...W i• BWtr11I T1111U , }<rusaltm l96' do m .. mo . •Jtwish l.aw• , cm J. O. DEllR.ElT (ed.), A• i•trwiwtiOll to kf,,J 1111- . Londr<S 1968. p. 28-)3; ) . PIRENm. ~ JO<iill blk11iqw. J'""'1 t. 8114, l96S; 1. HEllZOG. Ti>t M.ri• ,.,,,,.,_, o/ jtv.ish úw, 2 • cd .• 2 W>I . • Londtt> 1~- 8 . COHEN, únP ""4 T1.,J,1;.., i• ),,,;.;,,.. No.. lotqut 19S9: do mesmo. ) 11mh ,,.J R- úw. 2 Vol •. Nova loniuc 19tc.. ll. OE VAUX . '-" i1111.11.r;..,,"' rA,,,;.,, r-. 2 "°'·· Patis 19S8-1960; ) . M. POWIS. Thr °"'"'""" Hlllllt) " H ....... ,_ Chic•BO 1960. .· Assim, numerosas instituições hebraicas sobreviveram no direito medieval e mesm moderno, sobretudo pelo canal do direito canónico; ,Porque o direito canónico cem mesma fonte que o direito hebraico, a Bíblia, pelo menos os livros que os cristãc designam pelo nome de «Antigo Testamento» . Encre as sobrevivências, citam-se nomeadamente a dízima e a sagração. A dízirr praticada em Israel, foi retomada no Ocidente desde a alta idade média para dar ao clero direito de se apropriar de uma parte (então um décimo) dos rendimentos dos fiéis. A sagração, que subsiste ainda em cercos países (nomeadamente em Inglaterra), um rico de entronização do rei, que consiste sobretudo na coroação que opera "º ihve: rimenco do rei pelo Espírito de Jeová» ; o rei corna-se assim o represencance de Deus n Estado; rendo· o povo ratificado a escolha divina, um pacto de aliança é estabelecid entre o rei e o seu povo. O direito hebraico exerceu também uma grande influência sobre o direito muçu mano, nomeadamente no domínio da organização da família, bem como das formas das condições do casamento. 3. Fontes do d ireito Direito religioso, o direito hebraico está em grande medida confundido com religião, cujas fontes estão contidas nas escricuras, isto é, na Bíblia, livro da Aliança< Deus com o seu povo. a) A Bíblia n1>. A Bíblia é um livro sagrado; contém a «Lei» revelada por Deus aos Israelita Compreende (na sua parte pré-cristã, isco é, o Antigo Tescamenro) três grupos de livro - O Pentateuco, quer dizer, os Cinco Livros: - a Génese (a Criação, a vida dos patriarcas) - o Êxodo (estadia no Egipto e volta a Canaã) - o Levítico (livro de prescrições religiosas e culturais) - os Números (sobretudo a organização da força material) - o Deuteronómio, complemento dos quacro precedentes - os Profetas (que diz respeito, sobretudo, à história) - os Hagiógrafos (sobretudo, costumes e instituições). O Pentateuco cem para os Judeus o nome de Thora. quer dizer, a .. lei escriu revelada por Deus; ela é atribuída, segundo a tradição judia, a Moisés, donde a s1 denominação usual de «Leis de Moisés» ou ~os Cinco Livros de Moisés» . Na realidad cm Há inúm<ru edjçõts • tnduçõcs da Bibli• • .Ediçio cr!ric:s: R. KJ'ITEl (<d.), Bí6/io Htlxau4, .Esougarda 19 C. D. GINSBU.RG, l•1'°""'1iow 10 tbe Mm.,.,iro. Cri1i,,,/ Editi0tr .j IM Ht!JMu Bíbú, N,,,_ !<><que 1966. Tnd.,(io ftanctsa: úi•fl BibJ., Paris 1946-19~6. 68 o cexco daca de diferences períodos; certas partes (nomeadamence as que dizem respeito aos Patriarcas) remontariam ao início do segundo miléniO'; a maior parte das oucras ceriam sido redigidas em períodos diferences encre os séculos Xll e V; a forma definitiva não dataria senão .de cerca de 450 antes de Cristo. Esce problema da datação continua no encanco muito concrovertido. Na Bíblia, o direito é concebido como de origem divina; Deus é a úlrima fonce e sanção de coda a regra de comporcarnenco; codo o crime é um pecado, pelo qual a comunidade é responsável perante Deus, e não perante um governo humano. Na Bíblia - como de resto nos Veda, ou no Corão - as prescrições jurídicas, morais e religiosas estão confundidas. Existem no encanto algumas partes do Pencaceuco cujo conteúdo corresponde mais especialmente às matérias que hoje se chamam jurídicas. Estes texcos, considerados como as fontes formais do direico hebraico, são nomeadamence: - o Decálogo que, segundo a tradição, teria sido ditado a Moisés no Monte Sinai por J eová; é conhecido por duas versões, uma no Êxodo (XX, 2-17), outra no Deute- ronómio (V, 6-18); contém prescrições de car.ícter moral, religioso e jurídico muito gerais, redigidas sob forma de máximas imperativas muito curtas; "Tu não matarás", • Tu não levantarás falso testemunho contra o teu próximo», etc. (ver documento n . 0 1, pág. 7 1); - o Código da Aliança, conservado no Êxodo (XX, 22, a XXIII, 33); pela sua formae pelo seu fundo, o texto assemelha-se às codificações mesopot.âmicas e hititas, nomeadamente ao Código Hammurabi 1161, o que permite supor que uma primeira formulação (talvez oral) poderia remontar a época anterior à estadia no Egipto. Na sua forma final, o texto dataria da época dita «dos Juízes,., isto é, do início da fixaç.ão em Canaã, nos séculos XII ou XI antes de Cristo. O Código da Aliança contém prescrições rel igiosas, regras relativas ao direito penal, à reparação dos danos, ecc. Reflecte costumes da época da sedentarização (ver documento n. 0 2, p6g. 71); - o De11tmmómio (do grego Ôtw.cpov<ÍfLtov, a segunda lei, á repetição ou a cópia da lei) constitui uma nova versão do Código da Aliança; na verdade, é uma codjficação de antigos costumes, tendendo sobretudo à manutenção da pureza do monoteísmo, mas compreendendo também disposições que interessam ao direito público e ao direito fumiliar. O Deuteronómio dataria do século VII; é atribuído pela tradição ao rei Josias (621), mas teria sido remodelado no século V (ver documento n. 0 3, p6g. 72); - o Código Stlm'"°'41 (ou Lei da Santidade), contido no Levítico (cap. XVII a XXVI), datando provavelmente do século V (cerca de 445), contém um ritual dos sacrifícios e da ·sagração dos padres, mas encontram-se também aí disposições impor- tantes sobre o casamento e o direito penal. Do mesmo período datariam os livros dos 69 • - *' ~ ~ · livros sapienciais• (Salmos, Provérbios, etc.) que completam as grandes 1 ~Antigo Testamento. : /\ · k i ara/,. e a Michna ~"\ Thora conservou uma autoridade considerável, mesmo nos nossos dias; qualquer wrcesação do direito hebraico apoia-se num versículo da Bíblia. Mas foi necessário &aiÇ<>-"' i evolução da sociedade hebraica, o que foi feito pelos padres, chamados • es-. comentadores da «lei escrita• . As suas interpretações e adaptações formaram a ic ,,._~ as origens desta são, segundo a tradição íudia, quase tão anrigas como as da •.e escrita,. de que ela descenderia. A •lei oraJ,. desenvolveu-se sobretudo na época do Segundo Templo, ou seja m:e a volta do cativeiro de Babilónia (515 antes de Crisro) e a diáspora (70 depois de C::s:n). Pois na sua volta para a Judeia, os Hebreus tiveram de se adaptar a novos ,,..i .. de vida para os quais o velho direiro bíblico não era suficienre. Os Rabi (= mestres) ~ e desenvolveram a Thora por meio de um imporcanre rrabalho dourrioal , de .:r.ietcr exegético, incorporando também readições e costumes novos. Esta actividade oos R2bi é comparável à dos jurisconsultos romanos da mesma época (infra) que rambém ~ õforçaram por adaptar um direito arcaico a uma sociedade em rápida evolução. No começo do século III da nossa era, um rabino (Rabi Yehouda Hanassi), chefe epmcual da comunidade íudaica na Palestina, procecku, a uma nova redacção da • lei oral•. A sua obra, chamada Mich114 (isto é, ensino), eclipsou as outras redacções; longe de ser :.m código que apresente as matérias jurídicas de uma forma metódica, a Michna é uma ::trolha relativamente confusa de opiniões dos rabinos sobre matérias religiosas e jurídicas; a opinião das minorias é mencionada ao lado da maioria dos «Sábios,.. Uma das partes, chama.da · Das Mulheres" (Seder Naschime), trata do casamento, do divórcio e de oucros problemas das relaçõe~ entre os esposos 07). c) G11émara t T alm11de A Michna foi , por sua vez, comentada e interpretada por numerosos rabinos dos séculos III, IV e V d.C., uns trabalhando na Palestina sob a dominação romana, outros na diáspora em Babilónia. Os comentários chamados G11émara (isto é, ensino tradicional), cedo se tomaram mais abundantes que o texto da Michna em si mesma. Um novo esforço de sistematização foi feito agrupando Michna e Guémara no Talm11de (isto é, «estudo•), inicialmente em Jerusalém (cerca de 350-400), depois na Babilónia (cerca de 500), aproximadamente na mesma época da grande codificação romana de Justiniano e da primeira redacção da Lei sálica (infra). 011 A Mklnu, º'ª'° htbftu u.duaido peb membros ·do llobimdo fran<fs tOb • dim:çio do nbino Guu•nh<im: H. DJINBY, Tht Mw-11, Odixd 19H; J. NEUSNEll. A HiswJ O/ b Mis'-it '--1/ .,,,._i,;,,,,, (;o 1,....-' ..,t.• ;,..), ~ wà. editodol, Leiclcn 1981-1982. 70 O Talmude da Babilónia, mais compleco e mais claro que o da Palesrina, preva- leceu finalmence no judaísmo. Compreende não somence urna massa imensa de textos jurídicos e religiosos, ou seja, explicações da lei (Ha/akha) que se impõem ·pela autoridade d.a maior parce dos Rabi (comparar com a Idjma em direito muçulmano), mas carnbém numerosos texcos que dizem respcico à história, à medicina, à astronomia, às ciências em geral ''~'. d ) CodifiCIZfÕtJ mdievais e modnwas O Talmude, P?r sua vez comentado, ca.recia de wna síntese e de uma siscema- tízação; assemelhava-se mais a uma enciclopédia que a um código. Esforços de codifi- cação focam feitos em diversas regiões da Europa em que se desenvolveu a ciência talmúdica. A primeira imporcante codificação foi realizada em Espanha por Maimonide (segunda metade do século XII) que chegou a expor metodicamente as matérias relativas à teologia, à ética, ao direito e à ciência polícicà. A codificação definitiva é a de Joseph Caro (século XVI), que foi impressa pela primeira vez em 1567; o Código de Caro permaneceu como cqdigo rabínico civil e religioso da diáspora; ele cont inua a reger numerosos Israelitas que vivem fora de Israel n9>_ QUADRO COMPARATIVO DAS FONTES do Dircico Hebraico THORA = Lti Escri1a do Direito Canónico T 1wuo Com11m ANTIGO TESTAMENTO Pentateuco: - Génese - Êxodo: Decálogo (skulos XVI-XII!) Código da Aliança (skulos XII-XI) - Levítico: Código sacerdotal (skulo V) - Números - Deuceronóm io (séculos VII a V) ecc. <li ) Tht IU~J,.;.. T J-. Trad. 1. EPSTEIN. Loodtt< 193Y- ... C<m publia?>). <19) Mooa MAlMONIOES, MIJIMJ, T,,J,, N<W Hs~n. Yale Judaica ~rics (rraduçio ingl<sa <m C\lno); )00<ph Q ARO, Sh• IM• Ar•.ih. trod. in&r... d< J. L. KAOUSHIN, 4 ..,r.., Nova IO<q"' 19.S-1928; A. NEUMN , ThtjN 1 i• Sfdi• . Th<1.S11w1I, Polltir•l a.IJ C•ltor11// .. ift '"'""" 1h< M1t/Jl1 tws. 2 ..,r.., Filac!êllia 1942. LEI ORAL (séc. V antes de Crisro- séc. 1 depois de Cristo) Michna (séc . llJ aproximadamenre) ( Y tho11da H11nass1) NOVO T.EST AMENTO Evangelhos (séc 1-11) Acros dos Apóstolos Epístolas 71 Guemara (séc. 111-V) - da Palestina Parrisrica (escritos dos Padres da Igreja) (séc. UI-IV) - da Babilónia Talmude - da Palestina (séc. IV) - da Babilónia (cerca do séc. V) Çódigo de Maimonide (séc. XU> Código de Caro (séc. XVI) ~1.3a:xY;Kuy!"" (séc. 111) Colecções canónicas: Denis le Petir (séc. VI) Decreto de Graciano (cerca de 1140) Decretais de Gregório IX ( 1234) Corpus juris canoníci (séc. X VI ) DOCUMENTOS 1. O DECÁLOGO (sécuJQs XV 1 a XIII?) •E Deus pronunciou codas esras palavras dizendo: Eu sou Jeová. teu Deus. que ce fez sair do Eg ipco , da=• da servidão. Tu não ténis outros deuses diante da minha face. Tu não far.í.s imagem talhada, nem qualquer figura daquilo que està no alto do céu, ou do que está em baixo na cerra, ou do que esrá nas águas por baixo da rcrra. Honra teu pai e rua mãe, a fim de que os teus dias sejam prolongados no país que Jeovâ, teu Deus, ce dá. Não matarás. 1'/âo comererás adulrfrio. Não roubar.is. Não prestarás fu.lso rescemu.nho conrra o teu próximo. Não desejarás a Cá.Sa do teu próximo; não desejarás a mulher do ceu próximo, nem o seu servidor, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu burro, nem nada que pertença ao r.eu próximo•. Êxodo, XX, 1-5 < 12- 17. 2. CÓDIGO DA ALIANÇA (século Xll) Eis as leis que ru lhes darás (aos lsflll!litas): (2) Quando ru comprares um servo hebreu, ele servirá seis anos; no sétimo ele sairálivre sem riada pagar. (3) Se ele en<eou só, ele sairá só; se cioba uma mulher, a sua mulher partirá coro de. 72 (4) Mas se fot o seu patrão que lhe deu a sua mulher e de lhe tinha gerado filhos e filhas, a mulher e os seus filhos continuarão propriedade do patrão, e ele sairá só. (5) Mas se o servo diz; eu amo o meu paaio, a minha mulher e os meus filhos, eu não quero ser libertado; enrão o pauão conduzi-lo-á diante de Deus, fá-lo-á aproximar do batente da porta e furar-lhe-á. a orelha com uma punção de tal sorte que o escravo esteja para sempre ao seu secviço. ( 12) Aquele que asride um homem mortalmente será condenado à morte. ( 13) Mas se ele nada premeditou e se fui Deus que o fez cair sob a sua mão, fuar-re-ei um lugar onde ele se possa refugiar. ( 14) Mas se alguém emprega artifícios para mata• o seu próximo, poderás arrancá-lo do meu altar para o conduzins à morte. ( 15) Aquele que bate no seu pai ou na sua mie será condenado à morte. ( 18) Quando numa querela entre dois homens, um deles asride o outro com uma pedra ou com o punho, sem causai: a morte, mas obrigando-o a ficar de cama. ( 19) Aquele que o tenha asredido não se.rá punido se o outro recuperar e puder passear-se fon de casa com a sua bengala. Todavia ele mdemoizá-lo-á pelo tempo que não pôde trabalhar e pelos seus remidios. (28) Se um boi dá uma cornada a um homem ou a uma mulher e se a morte se seguir , o boi será lapidado e não se comerá a sua carne. Mas o dono do boi não será punido. (29) Mas se o boi era useiro em dar coroadas, e se o seu dono sabia disso e não o tinha vigiado, o boi, se ele mara um homem ou uma mulher, será lapidado, e o seu dono será também condenado à morre. Êxrxlo, XXl, 1-29. 3. DEUTERONÔMIO XVI 18-20: Os}Mízu. Estabelecerás juízes e masistrados em todas as cidades que Jeová, teu Deus, te der, de acordo com as tribo$, e eles julgarão o povo com justiça. Não farás flectir o direito, não terás consideração pelas pessoas e não receberás quaisquer presentes, pois os presences cegam os olhos perspicazes e corrompem as palavras dos justos. Seguirás escritamente a justiça, a fim de que vivas e possuas a terra que te dá Jeová, teu Dtus. XIX, 14: As Estmrws. Não deslocarás a estrema do teu próximo, estabe!ecida pelos antepassados, na herança que terás no país que Jeová, teu Deus, te dá para possuir. XIX, 15 : Os TeJltmMnhos. Um só testemunho não será admitido contra um homem para provar um crime ou um pecado, qualquer que seja o pecado comecído. É de acordo com a palavra de duas testemunhas ou com a palavra de três testemunhas que o caso será julgado. X:XV, 5: úvffmo Quando dois irm*>s moram juntos, e um deles morra sem deinr filhos , a mulher do defunto não se casará fora de casa com um estrangeiro; mas o seu cunhado irá ter com ela, comá-la-á por mulher, e desempenhará em relação a ela o dever de cunhado. 73 4. MJCHNA e GUEMARA: Rupo111ú1ftútlt (séculos Ili a M 62b: MICHNA. Se uma h&ulha $&Ira da bigorna e causa pttjuíz:o. haveri responsa- bilidade. St enqWlllro um ~lo carttgado com linho passa num ~reado público, o linho ~nerra numa renda e se incendeia em conracro com a candeia do rendeiro e com isro incendeia coda a construçiio, o propriecário do camt-lo St"ri ttSponsávd. Se, conrudo, o rt-ndeiro deixou a sua candeia do lado de fura da sua renda, elt- será rt-sponsável. O Rabino Judas diz: Se se tratar de uma candeia rhanNk,,b, o rendeiro não St"ri ttsponsãvd. D . - O DIREITO GREGO O smema jurídico da Gr&ia amiga é uma das principais fontes históricas dos direitos da Europa Ocidental. Os Gregos nio foram no emanco grandes juristas; não souberam construir uma ciência do direico, nem sequer descrever de uma maneira sistemática as suas insrituições de direito privado; neste domínio, continuaram sobrecudo as tradições dos direitos cuneiformes e rransmitiram·nas aos Romanos. Os Gregos foram , porl!m, os grandes pensadores politicos e filosóficos da antiguidade. Foram os primeiros a elaborar uma ciência política; e na prática, instauraram, em algumas das suas cidades, regimes políticos que serviram de modelo às civilizações ocidentais <XI>. l. Evolução dos sjstemas políticos gregos Não há propriameore que falar de direito grego, mas de uma multidão de direitos gregos, porque, com ex.cepção do curto perfodo de Alexandre o Grande, não houve nunca unidade política e jurídica na Gr&ia Antiga. Cada cidade tinha o seu próprio d ireito, ramo público como privado, tendo caracreres específicos e evoluçjo própria. Nunca houve leis aplkáveis a todos os Gregos; no mwmo, alguns costumes comuns. Na real idade, conhn:e-se mal a evolução do direito da maior parte das cidades; apenas Atenas deiJCou traços suficientes para permitir conhecer os estádios sucessivos da evolução do seu direico. N a evolução jurídica da Grécia pode-se, duma maneira esquemácica, distinguir os períodos seguintes: a) li riviliza{ão mtenu (do sfrulo XX ao XV a.C.), depois m icénica (séculos "" G SAUTEL. •Gtt«•. " J MODUEJEWSJ(J .• ·Moo& hdlln"'"I"'º· 10) GIUSSEN (<d.), I__, ·~_,. • • A/8, 9,....,i., 196j r 196) ;). GAUDEMET. l .Udw- J. TA"1-.•<I<, "I'• CH ., p 12) .2)0, A.R W. HAUJSON. Tb. t.- 'i AJA..a. F- 1/1 •"" ,....,.,.,, Od'o<d 1968. ""*""'· OxioN 1971; G. GLOTZ, u "" _ ... «lotado por CLOCHE, 19)), L GERN~"T. 0...1" ,.,,,, "'"""- G'"' '"'"""'· 19)); ) .W JONES. Tó1 '--"" kt,J t'-J lf 11J. G ... h . 19)6. Cl. MQSSE, H~rr "11 S«1tJ~J /'Jl1IHfMJ"" GrW.r, Paris l969. V. EHl ENBERG. Dw $1._, # Grr«.hft. 2. • ed • ~"'fut•&rug;1tda 196), cBd tt:ttlC • L'E1111 ~"· P•Jis l9?6~ E. WOLF, c;,.tdur/,u RttlNuk..,._, 4 vot. fniodon< 19)0..19)6: lt TAU8ENSCHLAG, TM Lllv •/ CU1-... R••"" F.i)pt ,.,, 1Jx l..ttlN #f 1ht P11nn <l ~2.·R .C .. ~O A D.> 2. • ~ .. Wamw 19)): R. OEKK.EllS . • Orou .&r« cr hiaroir~ du c:b-o1r•. Rn·. '"''"'· ,,. <1ffl11j• 1ll. }.1 • • • ( , 3. 19)6, p. 107· l 18. CI. PRiAux, LI #Hl•hlllh111tqlit, 2 'IOI .. Paris 1978
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