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PIERONI Geraldo (Inquisição documentos e historiografia)

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187
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Geraldo Pieroni
Documentos e historiografia: uma
trajetória da Inquisição - Portugal e
Brasil Colonial 
Geraldo Pieroni (Doutor)
Curos de História - Universidade Tuiuti do Paraná
188
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Documentos e historiografia: uma trajetória ...
Resumo
Apresentação e análise das fontes primárias e secundárias da Inquisição em Portugal e no Brasil. O artigo percorre
a trajetória da organização dos documentos inquisitoriais identificando as fontes documentais e a produção
historiográfica dos séculos XIX e XX a respeito do Santo Ofício.
Palavras-chave: Inquisição, documentos, historiografia.
Resumé
Cet article porte sur l’identification et la trajectoire des sources historiques primaires et secondaires sur l’Inquisition
au Portugal et au Brésil. Les principaux documents sont ici nommés et analysés en tant que contribuition aux
étudiants enquêteurs interessés sur les tribunaux du Saint Office: Les Règlements, les inventaires, les procès et la
historiographie du XIX et XX siècles.
Mots clés : Inquisition, documents, historiographie.
189
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Geraldo Pieroni
Na História, de fato, é sempre o documento
que comanda a compreensão.
Nicole Lemaître
O tribunal
No dia 23 de maio de 1536, a Inquisição recebeu
autorização para funcionar em Portugal e, em 1540,
realizou-se a primeira cerimônia pública do auto-da-
fé em Lisboa. No entanto, por razões de divergências
diplomáticas entre a monarquia portuguesa e a cúria
romana, foi somente no dia 16 de junho de 1547,
através da bula do papa Paulo III - Meditatio Cordis -
que o Tribunal foi definitivamente estabelecido.
Uma vez a instituição alojada, os inquisidores tive-
ram necessidade de estabelecer regras e instruções in-
ternas para orientação do funcionamento e atribuições
dos funcionários do Tribunal da fé.
Em Portugal estas regras foram benecifiadas pela
experiência espanhola que havia instalado seus tribu-
nais inquisitoriais 50 anos antes. O corpo das normas
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Documentos e historiografia: uma trajetória ...
e instruções foram esboçadas tendo como referência
fundamental o Manual dos Inquisidores de Eymerich
(1376); aliás, várias vezes impresso nos séculos XVI e
XVII (Bethencourt, 1995).
Os regimentos
Para o Santo Ofício existiam duas espécies de regi-
mentos: aquele referente exclusivamente ao exercício
de um específico setor, como, por exemplo, o Regi-
mento dos Comissários , o Regimento dos Familiares , o Regi-
mento do Fisco e, paralelamente, havia os Regimentos
Maiores os quais se ocupam do procedimento da
Inquisição no seu conjunto. São destes últimos que tra-
taremos aqui como primeiras fontes indispensáveis
sobre a Inquisição.
Em nome e “ para o serviço de Nosso Senhor ”,
foi elaborado o primeiro Regimento da Inquisição
portuguesa em 3 de agosto de 1552. Este conjunto de
regras foi dado às mesas subalternas do tribunal pelo
cardeal Dom Henrique, inquisidor geral do Santo
Ofício entre 1539 e 1578. O Regimento de 1552 está
dividido em 142 capítulos, agrupados em títulos : do
promotor, dos notários, do meirinho, do alcaide dos
cárceres, dos solicitadores, do porteiro da casa do
despacho e dos procuradores. O documento não dis-
corre sobre as penas que hão de haver os culpados
nos crimes de que se conhece no Santo Ofício (Regi-
mento, 1552). O original deste Regimento, devidamente
assinado pelo cardeal Dom Henrique, encontra-se nos
Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (AN/TT -
Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Conselho Ge-
ral, Livro 480).
Dom Henrique ordenou a elaboração de um ou-
tro Regimento o qual foi aprovado por El-Rei Dom
Sebastião por um alvará datado de Évora em 15 de
março de 1570. Também este segundo código
inquisitorial não se preocupava em fixar as penas a
serem aplicadas aos réus. O capítulo 23 anuncia algu-
mas poucas penalidades, porém de maneira genérica:
 ... o conselho poderá dispensar, comutar ou perdoar as pe-
nas e penitências postas pelos inquisidores assim de hábitos
como de cárceres, degredo ou dinheiro e quaisquer outras,
dando disso conta ao Inquisidor Geral e com informação dos
inquisidores, sendo as tais penitências perpétuas, ou de tempo
certo, porque nas arbitrárias dispensarão os inquisidores como
é de costume as quais dispensações se não farão senão com
grande consideração. (Regimento, 1570)
Os castigos não eram nomeados segundo o tipo
de crime cometido, porém as punições existiam e eram
severas. Ao lado das galés, o degredo constituiu-se um
castigo amplamente utilizado no tempo deste Regi-
mento e podemos constatar através da leitura dos
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Geraldo Pieroni
Autos da fé que elencam centenas de réus condena-
dos com o banimento temporário (AN/TT, Inquisição
de Coimbra, Evora e Lisboa, Conselho Geral do San-
to Ofício, Livros 433, 434, 435).
Este corpo de normas internas foi mantido até o
ano de 1613, quando o inquisidor geral, Dom Pedro
de Castilho, assinou o terceiro Regimento (Regimen-
to, 1613). O novo documento, como os anteriores,
não especificava as penas para os réus. Deixa em aberto
como parecer aos inquisidores e a condenação em outras
penas e penitências que lhes parecer, regulando-as con-
forme a qualidade da pessoa do réu, culpas e indícios
que contra ele houver segundo a disposição do direito.
(Regimento, 1613)
Substituindo o código de 1613, o Regimento de
1640, ordenado pelo bispo Dom Francisco de Cas-
tro, inquisidor geral dos Conselhos de Estado de sua
majestade, foi impresso no palácio dos Estaos, no
largo do Rossio da cidade de Lisboa, local que ser-
viu de sede da Inquisição durante muitos anos. É
este o Regimento que melhor aprofundou as puni-
ções dos condenados segundo o tipo de delito, as
circunstâncias pelas quais foi cometido e o nível so-
cial do culpado e da vítima. O Livro III especifica
detalhadamente as penas dos culpados. Todos os
crimes de interesse dos juízes inquisitoriais e suas res-
pectivas punições são muito bem expostos (Regi-
mento, 1640). Portanto é o Regimento de 1640 que
sistematiza toda a experiência dos tribunais da fé
existentes em Portugal. Nesta época a Inquisição en-
contra-se profundamente fortalecida e o Regimento
revela-se como uma suma jurídica monumental onde
estão consignados os vários aspectos do direito pe-
nal como também os procedimentos específicos da
Inquisição. Seu volume é cinco vezes maior que aque-
le do Regimento anterior. Trata-se de uma obra só-
lida que permanecerá em vigor 134 anos.
Enfim, no ano de 1774 foi preparado o último
Regimento do Santo Ofício em Portugal. Esta obra
testemunha a centralização pombalina, imagem da
nova situação política portuguesa. No seu prefácio,
o cardeal da Cunha critica todos os inquisidores an-
teriores acusando-os de terem publicado os Regi-
mentos sem a aprovação do rei (Bethencourt, 1995).
É mantido até a extinção do tribunal da fé, em 1821.
Sem dúvida alguma, todos estes Regimentos consti-
tuem fontes primárias de primeira grandeza para a
compreensão dos aspectos jurídicos que determina-
vam o funcionamento do Santo Ofício. Manifesta-
mente todos eles estão em conformidade com as
Ordenações do Reino, que além de se ocuparem dos
crimes seculares, normatizavam rigoramente os com-
portamentos religiosos e morais.
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Documentos e historiografia: uma trajetória ...
O fim de uma instituição
O diploma de abolição do Santo Ofício – o de-
creto de 31 de março de 1821, promulgado a 5 de
abril – determinava que os arquivos inquisitoriais seri-
am depositados na repartição dos manuscritos da Bi-
blioteca Pública de Lisboa. Neste mesmo ano, a 10 de
maio, o Tesouro Público Nacional, baixou uma por-
taria que incumbia o corregedor do bairrode Alfama,
Dr Bernardo António da Mota e Silva, de arrolar os
bens de raiz, móveis, alfaias, papeis e livros pertencen-
tes ao extinto Conselho Geral do
Santo Ofício e Inquisição de Lisboa. O Inventário
foi concluído em 11 de outubro de 1824 (Santos, 1990)
e, em seguida, transferido para o “Real Archivo da
Torre do Tombo”. Junto com o material da Inquisição
de Lisboa, ainda não inventariado, muitos papéis avul-
sos foram simplesmente depositados nas gavetas.
O Visconde de Santarém, então guarda-mor da
Torre do Tombo, aconselhava que esta importante
fonte fosse organizada segundo a ordem do Inventário
(AN/TT, Avisos e ordens, Maço 12, no 59; Reg. do
Arquivo, Livro 40, folha 123-123v.).
O trabalho é iniciado com a organização do tribu-
nal lisboeta. Os cartórios dos tribunais de Évora e
Coimbra foram encaminhados muito posteriormen-
te para o mesmo arquivo.
Em 1902, o conservador da Torre do Tombo,
António Baião, teve como tarefa principal a organiza-
ção dos cartórios do Santo Ofício. O interesse que lhe
despertou este acervo documental está muito bem
expresso nos seus estudos sobre a Inquisição, todavia
foi Pedro de Azevedo, em 1905, quem publicou a
obra O archivo da Torre do Tombo. Sua história, corpos que o
compõem e organização. Antonio Baião deu continuidade
às suas investigações organizando as Diligências de habi-
litação para familiares, os Processos e dos cadernos do Promo-
tor, as Receitas e Despesas com os presos pobres, as Despesas
com os ricos e nota das quantias por eles entregues à sua conta,
os Repertórios de culpados, os Livros de contas, os Livros de
Visitações e outros (Dias Farinha, 1990).
Identificação das fontes
A identificação deste imenso acervo documen-
tal depositado na Torre do Tombo, obriga o pes-
quisador a recorrer freqüentemente aos célebres
“rosários”, como são conhecidos os fichários dos
processos das Inquisições de Lisboa e Coimbra,
onde consta o nome do réu, a data da prisão, e, às
vezes, a naturalidade. Nos “rosários” pode-se co-
nhecer os números dos processos dos milhares de
réus que passaram pelos tribunais da Inquisição. Hoje
os arcaicos «rosários» foram substituídos pela con-
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Geraldo Pieroni
sulta nos computadores facilitando, assim, o traba-
lho do pesquisador.
Maria do Carmo Dias Farinha, especialista dos
arquivos inquisitoriais, apresenta a composição atual
da organização dos documentos inquisitoriais exis-
tentes na Torre do Tombo:
O Inventário dos Papéis pertencentes ao Extinto conselho
Geral do Sancto Officio inclui as seguintes rubricas:
1- Diligências de habilitação para o serviço do Santo
Ofício (Fls. 1-588 verso).
2- Autos forenses que subiam ao Conselho Geral por
apelação ou agravo ou qualquer outro recurso dos
privilegiados (Fls. 589-638 verso).
3- Causas em que foi autora a justiça (Fls 639-642).
4- Livros impressos (Fls 624 verso - 646).
5- Livros manuscritos (Fls 646 verso - 658).
6- Papéis avulsos (Fls 658 verso - 669 verso).
7- Livros e Papéis de contas (Fls 670-671 verso).
Os Tribunais estão identificados da seguinte maneira:
1- Inquisição de Coimbra - 700 livros, 73 maços, 300
processos.
2- Inquisição de Évora - 598 livros, 23 maços, 24
processos.
3- Inquisição de Lisboa - 841 livros, 30 maços, 55
processos.
4- Inquisição de Lamego - 1 livro, 7 denúncias.
5- Inquisição do Porto - 1 livro, 44 processos.
Principais rubricas comuns: Apresentações; Au-
tos de Fé; Confissões; Consultas ao Conselho; Con-
traditas; Correspondência; Crédito de testemunhas;
Culpados; Culpas de Judaísmo; Decretos de prisão;
Denúncias; Judeus de Sinal (1 livro em Lisboa); Juízo
do Fisco: bens confiscados, denúncias, receita e des-
pesa; Ministros e oficiais (reg. de nomeação e ter-
mos de juramento); Nefandos; Ordens do Conselho,
Petições; Presos: culpeiros, entradas, fianças; Procu-
rações; Promotor; Receita e Despesas: Geral, Nova
Tença, Presos Pobres, Presos Ricos, Receita das con-
denações, das Denúncias, dos Depósitos de
habilitandos, Despesas gerais, de Aposentadorias,
dos Autos de Fé, de Diligências, de Obras; de Ven-
cimentos, etc; Reconciliações, Reduzidos,
Reperguntados; Solicitantes; Visitas.
Dias Farinha enfatiza que as séries de livros não
estão completas e que o volume de documenta-
ção por identificar é ainda considerável. Há fortes
probabilidades de virem a ser encontrados os li-
vros agora em falta. Eis o inventário de alguns
importantes arquivos inquisitoriais:
Registro de Correspondência expedida: Lisboa
(7 livros de 1590-1605; 1677-1770; 1780-1802).
Coimbra (4 livros de 1661-1670; 1753-1769;
1790-1821). Évora ( 6 livros de 1570-1575; 1588-
1815).
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Documentos e historiografia: uma trajetória ...
Decretos de prisão: Lisboa (5 livros de 1627 a
1758). Coimbra (1 livro de 1640 a 1773).
Denúncias (11 livros de 1537 a 1619. Faltam o
Livro 6 e dois não têm números). Coimbra (4 livros
de 1541-1543; 1566-1620). Évora (10 livros de 1541-
1565; 1571-1578; 1588-1618).
Ministros e oficiais (Registros de nomeação e ter-
mos de juramento): Lisboa (1540-1820. É a série mais
completa; era de 23 livros e apenas falta o terceiro:
1621-1640; o último tem um só caderno). Coimbra
(1565-1636; 1643-1706; 1710-1711; 1726-1734; 1752-
1758; 1783-1802: Livros 1, 2, 4, 8, 10, 12, 15, 19.
Évora (1541-1612; 1671-1707; 1735-1783: livros 1,
2, 4, 6, 7, 8).
Nefandos: Lisboa (1610-1781, não há seqüência
cronológica. Ainda não foram encontrados os ca-
dernos de números 1, 11, 18 e 22). Coimbra (1611-
1714: 6 cadernos). Évora (1644-1740: 3 cadernos).
Ordens do Conselho: Lisboa (1617-1816, foram
encontrados os cadernos 1, 3 a 10, e 12 a 15). Coimbra
(1566-1788). Évora (1630-1790, encontrados os ca-
dernos de números 4, 6, 8, 10, 12, 14, 15, 17, 18, 22,
24 e dois que não foi possível conhecer o número).
Promotor: Lisboa (Primeira série - século XVI -
encontrados os cadernos 1 a 9 e 14. Segunda série -
séculos seguintes - com 135 cadernos). Coimbra (Pri-
meira série - 1570-1638. Segunda série - depois do
Regimento de 1640 - com 126 cadernos). Évora
(1566-1815: cadernos de 1 a 97).
Reduzidos: Lisboa (1641-1820 – série de 50 ca-
dernos). Coimbra (1686-1796: 8 cadernos). Évora
(1662-1811: 3 cadernos).
Solicitantes: Lisboa (1640-1802: 29 cadernos).
Coimbra (1611-1791: 30 cadernos). Évora (1632-
1810: 19 cadernos).
Visitas: Lisboa (33 livros incluindo ilhas e Bra-
sil). Coimbra (12 livros). Évora (1 livro).
Visitas às naus estrangeiras: Lisboa (3 livros de
1641-1644 e 1677-1685). Coimbra (10 livros: 2 da
Figueira da Foz – 1664-1683 e 1694-1724; 2 do
Porto - 1700-1710, 1733-1743, 1754-1785; 3 de
Viana do Castelo - 1635-1651, 1714-1772). Évora
(5 livros: 4 do Faro - 1618-1754; 1 de Portimão -
1694-1724).
Esta amostra do variado acervo documental
contidos nos Arquivos Nacionais/Torre do Tom-
bo permite aos pesquisadores o estudo administra-
tivo do tribunal e das estruturas sociais, políticas,
econômicas, religiosas e comportamentais nos qua-
se três séculos de existência da Inquisição.
Todos estes documentos permitem ao investiga-
dor atencioso conhecer o vastíssimo dinamismo da
vida cotidiana e de suas condições materiais e espiritu-
ais. Entre 1903 e 1906, António Baião na coletânea
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Geraldo Pieroni
editada pelo Arquivo Histórico Português, entusias-
mava-se com o
potente clarão sobre a mentalidade nacional no décimo sexto
século! Percorram-se os livros existentes das visitações ao
Brasil: que messe de documentos curiosos sobre os costumes
da época e as almas que iam ser o alicerce de uma nova
formação étnica! As listas dos auto de fé, com os seus bíga-
mos, feiticeiros, taumaturgos, curandeiros, réus do crime ne-
fando, clérigos luxuriosos, falsários, que animado painel nos
apresentam da vida inferior borbulhante no sub-solo da so-
ciedade!. (Azevedo, 1935)
Posteriormente José Lúcio de Azevedo, em 1935,escreveu: verdadeiramente se não poderá escrever uma histó-
ria, digna desse nome, da época posterior ao estabelecimento da
Inquisição, sem miudamente consultar tão copioso arquivo.
Historiografia inquisitorial do século XIX
Das fontes primárias à interpretação histórica, a
História completa das Inquisições de Itália, Hespanha e Portu-
gal, escrita em 1821 por um autor anônimo, foi o pri-
meiro texto crítico sobre a Inquisição publicado em
Portugal. O esquema da obra espelha-se na Histoire de
l’Inquisition et son origine, publicada em 1693 pelo abade
Marsollier. O texto coloca em evidência o aspecto
detrator e cruel da Inquisição em contrapartida à be-
nevolência e mansidão da Igreja primitiva (Bethecourt,
1993).
Em 1826 aparece o Resumé de l’histoire littéraire du
Portugal, obra de Ferdinand Denis. O autor salienta a
idéia da decadência literária portuguesa depois de
Camões. Aponta o rigor da censura inquisitorial como
sendo uma tática de inútil crueldade que abafava tudo aqui-
lo que queria se elevar (Bethencourt, 1993).
Entre 1854 e 1859 surge a História da origem e estabe-
lecimento da Inquisição em Portugal, de Alexandre Hercula-
no. O autor busca as procedências da Inquisição ibérica
observando a Inquisição medieval até o seu estabeleci-
mento em Portugal. Aponta os aspectos da corrupção
da cúria romana como elemento determinante da
Inquisição moderna, posição que vai gerar protestos
dos seguimentos mais conservadores. Inovadora, po-
rém, foi a utilização do método comparativo (Hercu-
lano, 1853).
A História dos principais actos e procedimentos da Inquisição
em Portugal, de António Joaquim Moreira foi publicado
em 1845; obra inserida no IX volume da História de
Portugal de Shaeffer, traduzida por José Lourenço
Domingues de Mendonça. Trata-se esta de uma obra
sólida onde a fundamentação nas fontes manuscritas e
impressas é manifestável. O autor privilegia neste estu-
do o estabelecimento do tribunal, os regulamentos e a
organização interna do Santo Ofício (Moreira, 1845).
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Documentos e historiografia: uma trajetória ...
Mais tarde, em 1875, Teófilo Braga publica o Ma-
nual de História da literatura portuguesa, onde insiste no
aspecto nocivo da Inquisição que colocou obstáculos
ao desenvolvimento das artes e letras (Braga, 1875).
Estes são evidentemente apenas alguns exemplos
da produção literária e historiográfica do século XIX.
Estas obras, em geral, evidenciam o caráter político-
religioso da época e são estudos caracterizados sim-
plesmente pela questão temática, longe ainda de uma
apresentação sistemáticamente problematizada. Todos
eles fazem notar a ferocidade da instituição, com
excessão de frei Fortunato de São Boaventura que em
1823 defende a urgente necessidade de imediata restituição do
tribunal do Santo Officio, o único que pode fazer huma guerra
bem sucedida ao maçonismo (São Boaventura, 1823).
Em 1856 é publicada Algumas observações sobre a
Inquisição, sobre as Cruzadas e outros objectos análogos em
resposta à obra intitulada Da origem e estabelecimento da
Inquisição em Portugal. Neste texto, o Marquês de
Lavradio critica a obra de Alexandre Herculano jus-
tificando a necessidade da instituição como cousa
utilíssima perante os horrores causados pela Reforma
protestante. O livro não faz nenhuma referência do-
cumental e se reduz a uma genérica defesa do tribu-
nal inquisitorial (Lavradio, 1856).
Paralelamente a esta literatura de combate, são pu-
blicados diversos estudos de processos inquisitoriais e
trabalhos sobre o funcionamento dos tribunais, cen-
sura, organização, confisco dos bens e os mecanis-
mos dos interrogatórios. São obras realizadas, entre
outros, por Anselmo Braamcamp Freire
(Braamcamp Freire, 1899), Capistrano de Abreu e
Rodolfo Garcia. Os dois últimos publicam, no Bra-
sil, os livros das Visitações do Santo Ofício de Hei-
tor Furtado de Mendonça em 1591-1595 e Marcos
Teixeira em 1618 (Primeira Visitação do Santo Ofí-
cio às partes do Brasil, 1591-1592).
Escritos de fundamental relevância são aqueles de
João Lúcio de Azevedo que, entre outros, publicou a
História dos cristãos novos portugueses (1821) (Azevedo,
1975) e, António Baião que reuniu, também em 1821,
uma coletânea de seus artigos anexados com uma rica
documentação: A Inquisição em Portugal e no Brasil. Sub-
sídios para a sua história (Baião, 1921).
Historiografia inquisitorial do século XX
É a partir de 1930, com o aparecimento da Histó-
ria da Igreja em Portugal, de Fortunato de Almeida, que
surgem os textos que assumem especificidade de de-
fesa do tribunal da fé. Nesta obra o autor aponta ex-
plicitamente como causa do estabelecimento da
Inquisição os ódios que os próprios judeus provocavam com
palavras e actos agressivo. Fortunato de Almeida salienta a
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 187-206, Curitiba, mar. 2002
Geraldo Pieroni
continuidade dos procedimentos heréticos dos cristãos-no-
vos (Almeida, 1968).
Em 1936 Alfredo Pimenta publica D. João III,
estudo que aceita a tese da legitimidade da condena-
ção dos hereges: “ a tolerância é filha do cepticismo
(...) A Igreja é, hoje, mais tolerante, porque sua crença
é mais fraca...(Bethencourt, 1993).
Ao mesmo tempo, António Baião dá prossegui-
mento aos seus estudos publicando principalmente A
Inquisição de Goa, tentativa de história da sua origem, estabe-
lecimento, evolução e extinção (Baião, 1930) e,Os episódios
dramáticos da Inquisição, obra apresentada em três volu-
mes e publicada em 1936-1938 (Baião, 1936).
Os estudos dos processos e censuras continuam
através das obras de Révah, entre outros, La censure
inquisitoriale portugaise au XVI siècle et, Etudes portugais
(Révah, 1960). José Sebastião da Silva Dias, no livro Po-
lítica cultural de D. João III, dedica cerca de 50 páginas à
Inquisição (Silva Dias, 1969), todavia o grande im-
pacto historiográfico foi detonado por António Sa-
raiva que, em 1956, publicou A Inquisição portuguesa,
obra que além de criticar as publicações anteriores,
focaliza as estruturas sociais e econômicas como ali-
cerces do estabelecimento e manutenção do Santo
Ofício. De fato Saraiva privilegia uma abordagem ri-
gorosamente estrutural contra as análises que eviden-
ciaram preferivelmente o fenômeno religioso como
fator determinante da criação do tribunal. Este autor
resgata a idéia de D. Luís da Cunha de que a Inquisição
seria uma fábrica de judeus como ele mesmo afirma na
página 121: A função do tribunal não era destruir os judeus
mas fabricá-los... (Saraiva, 1956). Em 1969, Saraiva, nes-
ta mesma linha, publica Inquisição e cristão-novos (Sarai-
va, 1969). Révah contestou com tenacidade as idéias
do historiador português admitindo que uma boa
parte dos cristãos novos continuavam a praticar as
crenças hebraicas. A polêmica ganhou nossos espaços
após a entrevista de Révah ao “Diário de Lisboa”,
em maio de 1971. Este classificou a obra de Saraiva
como libelo demagógico contra a Inquisição e declara a
incompetência de seu opositor sobre a matéria em ques-
tão. Este debate encontra-se publicado em anexo na
quinta edição da obra Inquisição e os cristãos-novos do
próprio Saraiva (Saraiva, 1969).
Maria José Ferro Tavares no texto Judaísmo e
Inquisição defende o aspecto cripto-judaizante dos cris-
tãos-novos que, para a autora, mantinham um compor-
tamento duplo: cristão e assumindo-se como tal exteriormente
(...); judeu no interior da sua consciência (Ferro, 1987)
Incluído nesta produção historiográfica estimula-
da pela discussão de Révah e Saraiva, citaremos tam-
bém Borges Coelho que aplica as idéias deste último
num importante estudo específico sobre a Inquisição
de Évora (Borges Coelho, 1987). Do outro lado da
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corrente, situa-se a tese de Elvira Mea: A Inquisição de
Coimbra no século XVI. A instituição, os homens e a sociedade.
Estudo seriamente fundamentadona pesquisa das fon-
tes primárias (Mea, 1989).
Cripto-judaísmo versus fábrica de judeus a parte,
os estudos de Veiga Torres revelam, pela primeira vez,
informações seguras sobre os tipos de delitos puni-
dos pela Inquisição e o fluxo do recrutamento dos
familiares. Veiga Torres concentra sua análise na
Inquisição de Coimbra (Torres, 1986).
Romero Magalhães em seu importante estudo so-
bre a Inquisição no Algarve, constata a entrada tardia
desta instituição naquela região (Magalhães, 1988).
Outros trabalhos de relevo sobre a Inquisição, es-
pecificamente com relação aos cristãos novos, foram
publicados. Entre eles, José Gonçalves Salvador, Os
cristãos novos, povoamento e conquista do solo brasileiro (1530-
1680) e, Cristãos novos, jesuítas e Inquisição (Salvador, 1969).
Anita Novinsky: Cristãos novos na Bahia e a ótima pu-
blicação co-organizada com Maria Luiza Tucci
Carneiro: Inquisição: Ensaios sobre Mentalidades, Heresias e
Arte, coletânea de estudos apresentados no I congres-
so internacional sobre a Inquisição realizado na Uni-
versidade de São Paulo em maio 1987 (Novinsky &
Tucci, 1992). Sob a coordenação de Maria Helena
Carvalho dos Santos, três interessantíssimos volumes
das comunicações apresentadas no I Congresso Luso-
Brasileiro sobre Inquisição, de 17 a 20 de fevereiro de
1987, foram publicados pela Sociedade portuguesa
de estudos do século XVIII/Universitária editora (San-
tos, 1990). Ainda de Novinsky, Rol dos culpados: fontes
para a História do Brasi (Novinsky, 1992) que elenca uma
preciosa fonte sobre os cristãos novos do Brasil acu-
sados de judaizantes. Mais recentemente o seu utilíssimo
estudo Inquisição : Prisioneiros do Brasil – séculos XVI-XIX,
publicado pela Editora Expressão e Cultura
(Novinsky, 2001).
Desconcentrando-se do núcleo específico dos cris-
tãos novos, vários historiadores brasileiros dedicaram-
se às novas problemáticas tais como a feitiçaria e os
desvios sexuais. Destacam-se nesta produção os estu-
dos de Laura de Mello e Souza: O Diabo e a terra de
Santa Cruz, feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial
e Inferno Atlântico, demonologia e colonização, séculos XVI-
XVII (Souza, 1987; 1993); Ronaldo Vainfas: Trópico
dos pecados, moral, sexualidade e Inquisição no Brasil (Vainfas,
1989) e A heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil
colonial (Vainfas, 1995); Luis Mott: Pagode português, sub
cultura gay nos tempos inquisitoriais (Mott, 1988a) e O sexo
proibido: virgens, gays e lésbicas nas garras da Inquisição (Mott,
1988b).
Não podemos absolutamente omitir, como leitu-
ra obrigatória, o trabalho de Sônia Siqueira que se ocu-
pa dos aspectos institucionais do Santo Ofício no Brasil:
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A Inquisição portuguesa e a sociedade colonial (Siqueira, 1978)
e, anteriormente, Arnold Wiznitzer: Os judeus no Brasil
colonial (Wiznitzer, 1966). Sobre a sodomia feminina,
Lígia Bellini publicou A coisa obscura - mulher, sodomia e
Inquisição no Brasil colonial (Bellini, 1989) e mais recente-
mente, Ronaldo Vainfas escreveu um curioso capítulo
sobre o homoerotismo feminino e o Santo Ofício
(Vainfas, 1997). Também ultimamente, a publicação
da tese de mestrado de Plínio Freire Gomes: Um here-
ge vai ao paraíso (Gomes, 1997). Trata-se de um estudo
de caso processual de um colono que viveu no Brasil
e foi preso em Lisboa em 1741. Sobre a Inquisição e
o degredo foram publicados no Brasil três livros de
minha autoria: Os excluídos do Reino: A Inquisição portu-
guesa e o degredo para o Brasil-colônia. Brasília/São Paulo:
Editora da Universidade de Brasília/Imprensa Ofici-
al do Estado, 2000. Vadios e Ciganos, Heréticos e Bruxas:
Os degredados no Brasil-Colônia. Editora Bertrand do
Brasil, Rio de Janeiro: 2000, e Os degredados na coloniza-
ção do Brasil (co-autoria com Márcio Vianna), Brasília:
Thesaurus, 1999.
Voltando à historiografia produzida em Portugal,
as obras de Francisco Bethencourt se destacam pelo
aspecto inovador com que o historiador trata suas
temáticas:História das Inquisições, Portugal, Espanha e Itá-
lia, obra de fôlego que se preocupa em compreender
a Inquisição percorrendo quatro aspectos: os ritos e a
etiqueta, as formas de organização e do funcionamen-
to, as táticas inquisitoriais e, finalmente, os sistemas de
representação manifestado na emblemática. Outro
texto importante, também de Bethencourt, é O imagi-
nário da magia, feiticeiras, saludadores e migromantes no século
XVI (Bethencourt, 1987).
Mais recentemente os Arquivos Nacionais/Torre
do Tombo publicou a dissertação de mestrado de
Ana Cannas da Cunha: A Inquisição no Estado da Índia,
origens (1539-1560) (Cunha, 1995). Este estudo salienta
uma questão primordial: se a Inquisição de Goa pre-
feria “transferir” os suspeitos para o Reino, por que,
então, o estabelecimento de uma instituição tão arris-
cada numa terra onde a fuga era fácil?
O Santo Ofício como ficção
Se passamos da historiografia para a produção de
obras de ficção nas quais os personagens são envolvi-
dos pela malha inquisitorial, contastamos que, mesmo
se os homens de letras, nos tempos do funcionamen-
to do Tribunal da fé, mantinham uma posição caute-
losa com relação aos seus textos, alguns tiveram a
ousadia de manifestar suas idéias. Muitos deles foram,
por isso, perseguidos pelos juízes do Santo Ofício.
Lembremos o caso do padre Antônio Vieira (1608-
1697) que por ter escrito Esperanças de Portugal, Quinto
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Império do Mundo, foi acusado de proferir “proposi-
ções temerárias e escandalosas” (Vieira, 1957). Vieira,
no entanto, livrou-se da prisão graças a um Breve es-
crito pelo papa em Roma. Outros foram presos e
condenados como o brasileiro, poeta e autor teatral,
Antônio José da Silva que foi conduzido à fogueira
no dia 18 de outubro de 1739.
Com relação à produção literária - poética e teatral
- várias obras, pequenas ou de maior porte, foram
publicadas. Entre tantas, citaremos a tragédia Antônio
José, ou o poeta e a Inquisição (1836), escrita por Domin-
gos José Gonçalves de Magalhães; O judeu (1866), ro-
mance histórico do célebre português Camilo Castelo
Branco, que mais tarde, em 1875, voltou a se ocupar
da Inquisição com um outro romance intitulado A
caveira da Mártir. Um fato da Inquisição no Brasil e o heroísmo
de uma capixaba (1876, anônimo); O amor de um padre, ou
a Inquisição em Roma, peça teatral representada pela pri-
meira vez em 2 de julho de 1839 e remontada em
1877; Os ratos da Inquisição, obra do judeu português
António Serrão de Crasto (1883); Mistérios da Inquisição
(1900), e outros (Novinsky & Tucci, 1992).
Como é notório a temática foi amplamente utili-
zada pelas sensibilidades literárias de vários escritores
que na medida do possível vinculavam seus persona-
gens ao contexto histórico vivido pelo Santo Ofício
na metrópole e na colônia brasileira. É evidente que
todos estes textos são considerados ficção. Não exis-
tem neles uma preocupação rigorosa alicerçada na
pesquisa documental, mesmo se os processos dos réus,
transformados em atores, foram muitas vezes lidos e
adaptados. Aliás, não se deve exigir destes textos ima-
ginativos, o rigor científico. Embora não sendo fontes
que permitem uma abordagem diretamente histórica
no sentido de resgatar devidamente o passado, esta
produção é profundamente importante para compre-
ensão da dimensão e da dinâmica criativa como pro-
duto da influência de certas instituições (no caso, a
Inquisição) no âmbito cultural e artístico.
Novos olhares sobre a Inquisição
Retornando à historiografia, assistimos nos últimos
anos, uma significativa fertilidade da produção de li-
vros, artigos e resenhas sobre a Inquisição portuguesa.
Evidentemente não fizemos referência à completa e
abundante biblioteca inquisitorial o que, naturalmente,
seria impossível em um artigo. Toda esta manifesta-
ção não está unicamente centralizada naquestão
temática mas sobretudo no aspecto do crescente inte-
resse por novas abordagens e problemáticas que es-
tão embutidas neste fecundo terreno. Através de um
criterioso rastreamento das múltiplas e diversificadas
fontes documentais, muitas delas ainda inéditas, a con-
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tinuidade do processo historiográfico ganhará novas
dimensões. Somente no decurso da busca de novas e
renovadoras hipóteses será possível atingir uma mais
profunda compreensão histórica das Inquisições e sua
influência nas múltiplas estruturas nas quais a vida hu-
mana segue sua trajetória.
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REGIMENTO DO SANTO OFICIO DA INQUISIÇÃO DOS REYNOS DE PORTUGAL ordenado por
mandado do Ilmo e Rmo senhor bispo Dom Francisco de Castro, inquisidor geral do Conselho de Estado de
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Companhia das letras.

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