Buscar

ARTIGO SOBRE JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Controle de constitucionalidade e a jurisdição constitucional como agente 
democratizador da justiça
 
Janete Ricken Lopes de Barros[1] 
Introdução 
Na Constituição Federal de 1988 foi imbuído ao Poder Judiciário o papel de garantidor dos 
direitos fundamentais, cabendo a ele, mediante a observância dos princípios constitucionais, 
aplicar o direito ao caso concreto, pacificando os conflitos sociais, especialmente ao Supremo 
Tribunal Federal de guardião da carta magna. 
As questões de alta relevância para a sociedade passaram a chegar com mais freqüência à 
Suprema Corte, seja pelo alargamento da porta de acesso aberta à comunidade, por meio da 
ampliação do rol dos legitimados ativos, seja pela possibilidade de participação do amicus 
curiae, bem como das audiências públicas. 
A jurisdição constitucional passou a desenvolver um papel que extrapola os limites do caso 
concreto para o qual foi provocada, uma vez que a interpretação dada aos dispositivos 
constitucionais, especialmente pelo STF, gera reflexos a todo o ordenamento jurídico. 
O controle de constitucionalidade e as respectivas técnicas utilizadas na atividade interpretativa 
assumem, nesse contexto, importância singular e levam os intérpretes a vários debates, tais 
como a segurança jurídica, o Estado Democrático de Direito, a legitimidade do Supremo e os 
limites dessa tarefa, que antes de tudo é criadora, porque envolve a figura humana, conforme 
leciona Celso Ribeiro de Bastos[2]: 
A interpretação é antes de mais nada uma atividade criadora. Em toda a interpretação existe 
portanto uma criação de direito. Trata-se de um processo no qual entra a vontade humana, 
onde o intérprete procura determinar o conteúdo exato de palavras e imputar um significado à 
norma. Nesse sentido, a interpretação é uma escolha entre múltiplas opções, fazendo-se 
sempre necessária por mais bem formuladas que sejam as prescrições legais. A atividade 
interpretativa busca sobretudo reconstruir o conteúdo normativo, explicitando a norma em 
concreto em face de determinado caso. Pode-se afirmar, ainda, que a interpretação é uma 
atividade destinada a expor o significado de uma expressão, mas pode ser também o resultado 
e tal atividade. 
O fenômeno da interpretação é essencialmente plural e conta com um conjunto de princípios e 
regras orientadores do processo interpretativo, além dos métodos tradicionais, que serão 
objeto do presente estudo. 
Durante esse processo, diferentes focos de análise podem ser postos em evidência, a exemplo 
do sistema, quer seja, o ordenamento jurídico, ou, ainda, ter o objeto ou o caso concreto a ser 
solucionado como motor da interpretação. 
No sistema da common law, a exemplo dos Estados Unidos, a argumentação está voltada aos 
aspectos do caso concreto e a procura de precedentes. O sistema europeu, especialmente o 
alemão, paralelamente desenvolveu o método chamado de tópico aplicado aos problemas, no 
qual é utilizado um método aberto de argumentação indutivo, onde a ordem jurídica é tratada 
com um dos topoi a ser levado em consideração na solução do caso concreto. 
A interpretação constitucional pode voltar-se ainda para o papel do intérprete e daí a grande 
importância de estudar esse processo de tomada de decisões, porque a metodologia também 
vincula, e definir regras que delimitem a escolha do método e racionalizem o afazer 
hermenêutico é o tema debatido acerca do presente estudo no mundo jurídico. 
A diferenciação estabelecida entre regras e princípios, a partir da doutrina de Ronald Dworkin, 
também é ponto importante a ser tratado nesse contexto. 
Ao final, a fim de analisar as técnicas de decisão em sede de controle de constitucionalidade 
utilizadas pelo Supremo Tribunal Federal, dois acórdãos recentemente julgados serão trazidos 
a título de exemplo, fazendo-se a respectiva ponderação dos resultados. 
2. Interpretação e hermenêutica constitucional 
Inicialmente é importante estabelecer doutrinariamente a diferença terminológica entre 
hermenêutica jurídica e interpretação constitucional, considerando que o cerne do tema em 
pauta é a busca de caminhos para controlar o processo de elucidação de sentidos, conforme 
leciona a professora Christine Oliveira Peter[3] 
A interpretação de qualquer norma jurídica é um atividade intelectual que tem por finalidade 
precípua fixar o sentido da norma e tornar possível a aplicação dos enunciados normativos, 
necessariamente abstratos e gerais, a situações da vida, naturalmente particulares e 
concretas. Já a hermenêutica jurídica apresenta-se como o ramo da ciência dedicado ao 
estudo e à determinação das regras que devem presidir o processo interpretativo de busca do 
significado da lei, e não a sua aplicação ou a busca efetiva do seu significado para o caso 
concreto. 
Depreende-se, portanto, que cabe à hermenêutica o papel de estabelecer os parâmetros do 
processo interpretativo, fixando para tanto regras, a fim de racionalizar a atividade 
interpretativo-concretizadora, e exigir do intérprete atenção a alguns princípios interpretativos 
fundamentais. 
A compreensão da experiência normativa como um processo, diante da correlação entre ato 
normativo e ato hermenêutico, sua completariedade e o constante dinamismo ocorrente em 
uma sociedade plural, levam a uma nova visão da hermenêutica jurídica, na qual os 
tradicionais métodos e critérios de interpretação atrelados à estrita literalidade da lei não são 
suficientes para resolver os casos levados ao judiciário em busca de uma solução. 
O jurista Miguel Reale parte para uma interpretação estrutural da experiência jurídica, 
abrangendo em sua análise as correntes jurídicas do ponto de vista da procura por uma 
resposta ao problema lançado, reproduzidas pelo professor Inocêncio Mártires Coelho,[4] e, 
por ser fundamental para o desenrolar do tema proposto, passa-se a transcrever: 
- a interpretação das normas jurídicas tem sempre caráter unitário, devendo as suas diversas 
formas ser consideradas momentos necessários de uma unidade de compreensão (unidade do 
processo hermenêutico); 
- toda interpretação jurídica é de natureza axiológica, isto é, pressupõe valoração objetivada 
nas proposições normativas (natureza axiológica do ato interpretativo); 
- toda interpretação jurídica dá-se necessariamente num contexto, isto é, em função da 
estrutura global do ordenamento (natureza integrada do ato interpretativo); 
- nenhuma interpretação jurídica pode extrapolar da estrutura objetiva resultante da 
significação unitária e congruente dos modelos jurídicos positivos (limites objetivos do processo 
hermenêutico); 
- toda interpretação é condicionada pelas mutações históricas do sistema, implicando tanto a 
intencionalidade originária do legislador quanto às exigências fáticas e axiológicas 
supervenientes, numa compreensão global, ao mesmo tempo retrospectiva e prospectiva 
(natureza histórico-concreta do ato interpretativo); 
- a interpretação jurídica tem como pressuposto a recepção dos modelos jurídicos como 
entidades lógicas, isto é, válidos segundo exigências racionais, ainda que a sua gênese possa 
revelar a presença de fatores alógicos (natureza racional do ato interpretativo); 
- a interpretação dos modelos jurídicos não pode obedecer a puros critérios de lógica formal, 
nem se reduzir a uma análise lingüística, devendo desenvolver-se segundo exigências da 
razão histórica entendida como razão problemática (problematicismo e razoabilidade do 
processo hermenêutico); 
- sempre que possível conciliá-lo com as normas superiores do ordenamento jurídico, deve 
preservar-se a existência do modelo jurídico (natureza econômica do processo hermenêutico); 
- entre várias interpretações possíveis, optar por aquela que mais compreenda aos valores 
éticos da pessoa e da convivência social (destinação ética do processo interpretativo); 
- compreensãoda interpretação como elemento constitutivo da visão global do mundo e da 
vida, em cujas coordenadas se situa o quadro normativo objeto de exegese (globalidade de 
sentido do processo hermenêutico). 
4. Regras e Princípios 
A dogmática moderna, ressalta Luís Roberto Barroso[5], avaliza o entendimento de que as 
normas em geral e as normas constitucionais em particular enquadram-se em duas grandes 
categorias diversas: os princípios e as regras. 
A importância dessa diferenciação se deu na superação do positivismo clássico legalista, onde 
somente as regras eram consideradas normas jurídicas. A partir de então, a Constituição passa 
a ser vista como um sistema aberto de princípios e regras, esses submetidos a valores 
jurídicos suprapositivos, no qual passam a desenvolver um papel essencial as idéias de justiça 
e de realização dos direitos fundamentais. 
Por regras, pode-se entender que são relatos objetivos, descritivos de determinadas condutas, 
que são aplicáveis a um número delimitável de situações. Ao ocorrer a hipótese prevista no seu 
texto, a regra incidirá por meio da chamada subsunção. Assim, a regra opera na modalidade do 
tudo ou nada, quer seja, ou ela incide na sua inteireza ou ela é afastada. Entrando em conflito 
duas regras, uma será afastada. 
Os princípios contém um grau maior de abstração, não vêm com uma conduta especificada a 
ser seguida, podendo se aplicarem a um conjunto amplo de situações. Apesar da característica 
da abstração, os princípios também são elementos normativos. 
Entretanto, diante de um modelo social plural, dialético e democrático, os princípios apontam 
para várias soluções e, não por outra razão, devem ser aplicados mediante ponderação, na 
qual caberá ao intérprete aferir o peso que cada princípio deverá desempenhar no caso 
concreto, mediante concessões recíprocas, a fim de preservar o máximo de cada um, na 
medida do possível. 
O modelo tradicional de interpretação foi formado para a aplicação de regras e, no atual 
contexto, o sistema jurídico está evoluindo em busca da distribuição ideal entre regras e 
princípios, no qual as regras possam exercer seu papel referente à segurança jurídica e os 
princípios, por sua vez, sedimentizem o espaço para a realização da justiça no caso concreto. 
5. Métodos e premissas da interpretação constitucional 
Diversas são as formas possíveis de interpretação do texto constitucional, não tendo na 
comunidade jurídica um consenso para qual seja o método mais justo. A solução é lançada 
para a análise do caso concreto. 
Para a efetivação das disposições legais infraconstitucionais é preciso utilizar técnicas 
modernas de interpretação constitucional, cabendo aos órgãos do Poder Judiciário, nas 
hipóteses em que diversas são as possibilidades de interpretação, extrair o sentido da norma 
que a compatibilize com o texto constitucional. É a essa atividade de controle de 
compatibilidade dos atos normativos com a Constituição que se denomina a chamada 
Jurisdição Constitucional. 
Para Luís Roberto Barroso[6] a efetividade da Constituição é a base sobre a qual se 
desenvolveu, no Brasil, a nova interpretação constitucional, que por sua vez está ligada ao 
desenvolvimento de algumas fórmulas originais de realização da vontade da Constituição, não 
importando isso em desprezo ou abandono do método clássico. 
O método clássico, chamado por Barroso de subsuntivo, está fundado na aplicação de regras e 
dos elementos tradicionais da hermenêutica, que são: o gramatical, o histórico, o sistemático e 
o teleológico, continua desempenhando papel importante n busca de sentido das normas e na 
solução de casos concretos, contudo tem se mostrado insuficiente diante dos casos difíceis 
advindos da sociedade moderna. 
Seguindo a idéia da necessidade do fornecimento de instrumentos práticos e específicos da 
concretização de normas constitucionais, passa-se a relacionar e, em seguida, comentar, 
acerca de cinco métodos, que na visão de Canotilho[7], formam um conjunto, com base em 
critérios ou premissas diferentes, contudo complementares entre si, a saber: 
a- Método jurídico (= método hermenêutico clássico): 
b- Método tópico-problemático (topói: esquemas de pensamento, raciocínio, argumentação, 
lugares comuns, ponto de vista): 
c- O método hermenêutico concretizador; 
d- O método científico-concretizador (= método valorativo, sociológico); 
e- A metódica normativo-estruturante. 
O método jurídico parte da premissa de que a Constituição é uma lei e para interpretá-la deve-
se utilizar os cânones ou regras tradicionais da hermenêutica. A articulação entre os elementos 
interpretativos, quer sejam, o filológico (literal, gramatical, textual), o lógico (elemento 
sistemático), o histórico, o teleológico (elemento racional), e o elemento genético seriam 
capazes de conduzir a uma interpretação jurídica. 
Por esse método está a se valorizar o princípio da legalidade para salvaguardar o texto 
constitucional, uma vez que aponta para o ponto de partida do processo de busca do sentido 
das normas por parte dos concretizadores e, ainda, estabelece o limite da tarefa interpretativa 
como sendo o teor literal do texto. 
O método tópico-problemático, tem os topói como esquemas de pensamento, raciocínio ou 
argumentação, e parte das seguintes premissas: o caráter prático da tarefa que visa solucionar 
casos concretos; o caráter aberto, fragmentário ou indeterminado da lei constitucional; a 
preferência pela discussão do problema em face da abertura das normas constitucionais, 
conduzindo para um processo aberto de argumentação entre os vários intérpretes. 
A arte da tópica seria, assim, uma técnica de pensar problemático, tendo os tópicos a função 
de auxiliar de orientação do intérprete, constituir um guia de discussão de orientação e permitir 
a decisão do problema jurídico em discussão, determinado o sentido do texto mais conveniente 
para o problema. 
A crítica mais intensa ao método que parte dos topói é a de que a interpretação não deve partir 
do problema para a norma, mas desta para os problemas. 
O método hermenêutico-concretizador parte da premissa de que a leitura do texto se inicia pela 
pré-compreensão carregada pelo intérprete. Interpretar a constituição é compreender seu 
sentido e o que interpreta faz é exatamente preencher o vazio, momento em que está 
concretizando a norma para e a partir de uma situação histórica concreta. 
Konrad Hesse foi o percussor do método interpretativo como uma via hermenêutico-
concretizante que se orienta para um pensamento problematicamente orientado e tem como 
pressuposto o primado do texto constitucional em face do problema, no que se distancia do 
método tópico-problemático. 
Através do método científico-espiritual, também denominado de valorativo ou sociológico, ao 
interpretar deve estar em relevo as bases de valoração (ordem/sistema de valores) subjacentes 
ao texto constitucional, bem como o sentido e a realidade da constituição como elemento do 
processo de integração. Assim, o foco da interpretação se desloca da idéia de buscar uma 
resposta ao sentido do texto constitucional, para a tentativa de compreender o sentido e a 
realidade de uma lei constitucional. 
A metódica normativo-estruturante tem as seguintes orientações: a tarefa de investigar as 
várias funções de realização do direito constitucional (legislação, administração, jurisdição); 
concretizar a norma numa solução para o caso concreto; deve estar preocupada com a 
estrutura da norma e a conexão da concretização normativa e com as funções jurídico-práticas; 
estar baseada em uma teoria hermenêutica da norma jurídica que traz sentido ao texto 
normativo; estar sediada na idéia de Friedrich Müller de que o texto é apenas a parte 
descoberta do iceberg, correspondendo normalmente ao programa normativo; partir da visão 
de que a norma não compreendeapenas o texto, a parte coberta do iceberg abrange um 
domínio normativo, que é a realidade social, o âmbito da norma; nesses termos, a 
concretização normativa trabalha com dois elementos: um formado pelos elementos 
resultantes da interpretação do texto da norma, que é o elemento literal da doutrina clássica e 
outro que é o de concretização resultante da investigação do referente normativo. 
Por fim, ressalta-se a interpretação comparativa, que tem sido tratada como o quinto método 
de interpretação, agregados aos quatro clássicos elementos já mencionados (gramatical, 
histórico, sistemático e teleológico), resultante da doutrina de Peter Härbele, pela qual é 
possível descobrir qual critério dará melhor solução para determinados problemas concretos. 
Para Canotilho[8] o problema do método comparativo é o de saber se ele consegue mais do 
que recortar standard (medidas regulativas médias correspondestes a condutas sociais 
corretas) típicos de determinados modelos culturais. 
Peter Härbele [9]afirma que sua idéia do jus-comparativismo, vem sendo intitulada como quinto 
método de interpretação, mas que é na realidade uma categoria interpretativa desenvolvida por 
ele em 1989 e está vinculada aos quatro cânones de Savigny, não havendo hierarquia entres 
eles, nos seguintes termos: 
Não há até o presente momento uma hierarquia segura relativa aos quatros métodos de 
interpretação. Os tribunais a criam provavelmente partindo da sua capacidade de aplicação 
jurídica, ou seja, de seu controle de justiça. Assim pode realmente acontecer que o método 
histórico de interpretação não constitua o início, mas que seja, dentro do contexto do pluralismo 
dos métodos de interpretação, acrescentado no final, a título de corroboração. Além disso, 
suponho que o método primário de interpretação é o teleológico, sendo os demais métodos 
apenas complementarmente adicionados. Por fim, minha sugestão é mencionada no 
“Handbuch für Schweizerisches Verfassungsrect”, de 2001: uma interpretação orientada ao 
contexto. Isto significa interpretação através de um “acrescentar de outras idéias”. 
Na busca pela cientificidade do direito, não se pode deixar de mencionar a Teoria do Discurso 
Racional como Teoria da Justificação Jurídica, que tem seu percursor em Robert Alexy[10], a 
qual trata, dentre a empírica e a analítica, da perspectiva normativa do discurso jurídico, onde 
se estabelecem e fundamentam critérios para a racionalidade do discurso. Para Alexy, a 
modalidade do discurso jurídico, que é um caso especial do discurso prático geral, a 
argumentação jurídica ocorre sob uma série de condições limitadoras. Entre essas, devem-se 
mencionar especialmente a sujeição à lei, a consideração obrigatória dos precedentes, seu 
enquadramento na dogmática elaborada pela Ciência do Direito organizada institucionalmente, 
assim como – o que acontece, todavia, ao discurso científico-jurídico – as limitações das regras 
do ordenamento processual. 
Antes de lançar mão de algum método ou da interação e completude entre eles, é importante 
ressaltar a vinculação da jurisdição à concretização dos direitos fundamentais, nesse sentido 
Gilmar Mendes[9] afirma que 
dessa vinculação resulta para o Judiciário não só o dever de guardar estrita obediência aos 
chamados direitos fundamentais de caráter judicial, mas também o de assegurar a efetiva 
aplicação do direito, em especial dos direitos fundamentais, seja nas relações entre os 
particulares e o Poder Público, seja nas relações tecidas exclusivamente entre particulares. Da 
vinculação do Judiciário aos direitos fundamentais decorre, ainda, a necessidade de se aferir a 
legitimidade das decisões judiciais, tendo em vista sobretudo a correta aplicação desses 
direitos aos casos concretos. 
A moderna interpretação, derivada do contexto desse novo constitucionalismo, é resultado da 
busca do sentido do texto constitucional, por não estar mais voltada para a vontade do 
legislador ou da lei e, sim, à vontade do intérprete ou do Juiz, num Estado que deixa de ser o 
Estado de Direito Clássico para se tornar um Estado de justiça, na opinião de Bonavides[10]: 
Redundou assim na busca do sentido mais profundo das Constituições como instrumentos 
destinados a estabelecer a adequação rigorosa do Direito com a Sociedade: do Estado com a 
legitimidade que lhe serve de fundamento: da ordem governista com os valores, as exigências, 
as necessidades do meio social, onde essa ordem atua dinamicamente, num processo de 
mútua reciprocidade e constantes prestações e contra-prestações, características de todo 
sistema político com base no equilíbrio entre governantes e governados. 
. 
6. As decisões no controle de constitucionalidade de normas e seus efeitos 
O sistema misto de controle de constitucionalidade, que vem se delineando no Brasil 
principalmente a partir Constituição de 1988, tomou novos contornos relativamente às técnicas 
de decisão adotadas pelo Supremo Tribunal Federal, com o advento da Lei 9.868, de 
10.11.1999, a qual dispõe sobre o processo de julgamento da ação direta de 
inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal 
Federal. 
O legislador no art. 27 da referida lei optou por uma fórmula que não é a tradição da declaração 
pura e simples de nulidade, decorrente da teoria americana adotada no Brasil, assim, com a 
flexibilização do efeito ex tunc propiciou novas possibilidades de decisão à Suprema Corte que 
ao declarar a inconstitucionalidade de determinada lei ou ato normativo, estando diante de 
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá restringir os efeitos 
daquela decisão ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou, 
ainda, de outro momento que venha a ser fixado, fenômeno que vem sendo tratado na doutrina 
como modulação de efeitos. 
Com base na teoria anteriormente adotada, que importava em equiparar inconstitucionalidade 
e nulidade, o reconhecimento de qualquer efeito a uma lei inconstitucional importaria na 
suspensão provisória ou parcial da Constituição, conforme leciona o professor Gilmar 
Mendes[11], acrescentando que a inconstitucionalidade de uma lei pode levar, também no 
direito brasileiro, a diferentes variantes de declaração de nulidade: 
- declaração de nulidade total; 
- declaração de nulidade parcial; 
- declaração de nulidade parcial sem redução de texto. 
A declaração de nulidade total ocorre nos casos em que a totalidade da lei ou do ato 
normativo é invalidado pelo Tribunal e está relacionada a defeitos formais, tais como a 
inobservância de dispositivos legais no processo legislativo, a exemplo de vício de iniciativa, o 
que já se verifica no Brasil desde a Constituição de 1967/69, oportunidade em que o STF 
declarou a inconstitucionalidade de emendas às Constituição estaduais relativas a matérias 
que somente poderiam ser disciplinadas mediante iniciativa do Executivo, gerando a 
declaração de nulidade total como expressão de unidade técnico-legislativa. 
Outro caso de declaração de nulidade total é em virtude da dependência ou interdependência 
entre as partes constitucionais e inconstitucionais da lei, salvo se algum dispositivo puder 
subsistir sem a parte inconstitucional, ocorrendo nessa hipótese uma declaração de 
inconstitucionalidade em virtude de dependência unilateral. Ainda pode ocorrer, diante da 
indivisibilidade da lei e da forte integração entre as parte, a declaração de inconstitucionalidade 
em virtude da chamada dependência recíproca. 
Dessa interdependência normativa, surge algumas vezes a declaração de inconstitucionalidade 
conseqüente ou por arrastamento, em virtude de sua dependência normativa em relação aos 
dispositivos inconstitucionais expressamente impugnados. 
A declaração de nulidade parcial advém da aceitação da teoria da divisibilidade da lei, pelaqual o Supremo deve declarar a inconstitucionalidade somente da parte da norma viciada, 
sempre que puderem subsistirem de forma autônoma, quer seja, quando estiverem presentes 
as condições objetivas de divisibilidade e de que a norma que vai subsistir corresponde à 
vontade do legislador. 
A declaração de nulidade parcial sem redução de texto, já presente no sistema brasileiro 
desde 1949, ocorre nos casos em que o Tribunal se limita a considerar inconstitucional apenas 
determinada hipótese de aplicação da lei, sem que isso implique em alteração do seu 
programa normativo. 
Nos casos de possibilidade de mais de uma interpretação, os Tribunais devem buscar 
compatibilizar a lei com o texto constitucional, partindo da premissa de que o legislador, a 
quem foi dada a legitimidade originária para criar as leis, busca positivar uma norma 
constitucional e de onde se pode extrair o princípio orientador do controle de 
constitucionalidade intitulado de interpretação conforme à Constituição, que tem tomado 
contornos muito maiores do que simplesmente espécie de declaração de nulidade parcial sem 
redução de texto. 
Na opinião de Gilmar Mendes[12], a equiparação pura e simples da declaração de 
inconstitucionalidade sem redução de texto à interpretação conforme à Constituição prepara 
dificuldades significativas: 
A primeira delas diz respeito à conversão de uma modalidade de interpretação sistemática, 
utilizada por todos os tribunais e juízes, em técnica de declaração de inconstitucionalidade. 
Isso já exigiria especial qualificação da interpretação conforme à Constituição, para afirmar que 
somente teria a característica de um declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto 
aquela interpretação conforme à Constituição desenvolvida pela Corte Constitucional, ou, em 
nosso caso, pelo Supremo Tribunal Federal. Até porque, do contrário, também as questões que 
envolvessem interpretação conforme à Constituição teriam de ser submetidas ao Pleno dos 
Tribunais ou ao seu órgão especial (CF, art. 97). 
Destaca Mendes, que se a dificuldade já se apresenta no controle abstrato de normas, 
aumenta-se a sua extensão ao controle incidental ou concreto, uma vez que, nesse caso, ter-
se-ia de conferir, também no âmbito dos tribunais ordinários, tratamento especial à 
interpretação conforme à Constituição. 
7. Princípios norteadores e limites da Interpretação Constitucional 
A nova interpretação constitucional não procura mais por um único sentido válido para todas as 
situações sobre as quais incidam, porque diante das cláusulas constituições de sentido aberto, 
com conteúdo principiológico e extremamente dependente da realidade subjacente, o texto 
pode demarcar apenas uma moldura dentro da qual se desenham diferentes possibilidades 
interpretativas em determinados casos. 
Quanto às normas que não dão margem a uma interpretação constitucional mais complexa, é 
importante ressaltar o que afirma o professor Luís Roberto Barroso[13]: 
Muitas situações subsistem em relação às quais a interpretação constitucional envolverá uma 
operação intelectual singela, de mera subsunção de determinado fato à norma. Tal constatação 
é especialmente verdadeira em relação à Constituição brasileira, povoada de regras de baixo 
teor valorativo, que cuidam do varejo da vida. Alguns exemplos de normas que, de ordinário, 
não dão margem a maiores especulações teóricas: (i) implementada a idade para a 
aposentadoria compulsória, o servidor público deverá passar para a inatividade...; (ii) o menor 
de trinta e cinco anos não é elegível para o cargo de Senador da República...; (iii) não é 
possível o divórvio antes de um ano da separação judicial... 
Nesse norte, quando está a se falar em nova interpretação constitucional, normatividade dos 
princípios, ponderação de valores, teoria da argumentação, tudo fruto de uma evolução 
seletiva, que preserva vários conceitos clássicos, mas também segue agregando novas teorias 
e idéias, não está a se negar, nem tampouco afastar, a importância das técnicas e premissas 
convencionais já tratadas anteriormente. 
Para controlar a abrangência que vem assumindo as técnicas interpretativas, ressaltam-se os 
princípios instrumentais norteadores dessa tarefa, a saber: o princípio da supremacia da 
Constituição, o princípio da presunção de constitucionalidade das leis e atos do poder público, 
o princípio da interpretação conforme a Constituição, o princípio da unidade da Constituição, o 
princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade e o princípio da efetividade. 
O princípio da interpretação conforme é extraído da necessidade de compreender a lei e as 
normas à luz da realidade vigente, diante de um sistema aberto e de uma sociedade pluralista, 
nos quais se faz necessário respeitar as diferenças sociais e as minorias, dando-lhes uma 
interpretação em consonância com a Constituição Federal, por isso o importante papel 
desenvolvido pelos tribunais e demais órgãos do Judiciário de garantidor da tutela dos direitos 
fundamentais e conseqüentemente fortalecedor da democracia. 
Assim, a interpretação conforme a Constituição propicia ao STF priorizar um sentido da norma 
em conformidade com o texto constitucional, aumentando o grau de segurança jurídica do 
ordenamento jurídico e sua respectiva unidade, numa visão positiva do ativismo judicial. 
8. A atuação do Supremo Tribunal Federal: 
O Poder Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal, no controle de 
constitucionalidade híbrido adotado no Brasil, quer seja tanto no difuso como no concreto, por 
meio da interpretação constitucional, tem sido capaz de assegurar a efetivação dos direitos 
fundamentais, fator que modificou a visão clássica de legislador negativo, legitimando o juiz a 
atuar excepcionalmente como legislador positivo, por óbvio que não com a mesma amplitude 
do Poder Legislativo, o que feriria o princípio da separação dos poderes, que também vem-se 
delineando uma nova concepção diante do pluralismo social e do intercâmbio entre as nações. 
A legitimidade para os órgãos do Poder Judiciário exercerem essa atividade decorre do atual 
contexto da democracia participativa e de uma sociedade plural, nas quais a vontade do povo 
não é só a representada pelo sufrágio universal, porque, se assim o fosse, as minorias, que 
não têm votos suficientes para eleger seus representantes políticos, estariam à margem da 
garantia da efetiva aplicação dos direitos fundamentais. 
Dessa maneira, o Judiciário deixou de ser apenas fiscal da implementação do programa das 
políticas sociais constantes do texto constitucional, nos termos da teoria da Constituição 
dirigente. Nesse viés, José Afonso da Silva[11] afirma que os constituintes optaram por um 
modelo de democracia representativa com possibilidades de participação dos cidadãos: 
Daí decorre que o regime assume uma forma de democracia participativa, no qual 
encontramos participação por via representativa (mediante representantes eleitos através de 
partidos políticos, arts. 1º, parágrafo único, 14 e 17; associações, art. 5º , XXI; sindicatos, art. 
8º, III; eleição de empregados junto aos empregadores, art. 11) e participação por via direta do 
cidadão (exercício direto do poder, art. 1º parágrafo único). Iniciativa popular, referendo e 
plebiscito, já indicados; participação de trabalhadores e empregadores na administração, art. 
10, que, na verdade, vai caracterizar-se como uma forma de participação por representação...A 
esse modelo, a Constituição incorpora princípios da justiça social e do pluralismo. Assim o 
modelo é o de uma democracia social, participativa e pluralista. 
A importância das técnicas de interpretação das normas infraconstitucionais à luz da 
Constituição Federal está na possibilidade de trazer para o âmbito jurídico anseios da 
sociedade que ainda não tenham sido reconhecidos pelo legislador ordinário.Verifica-se a cada dia a influência que os julgados do Supremo Tribunal Federal tem assumido 
no âmbito social, donde surge a importância de analisar como tem sido os julgamentos. 
8.1. ADIN 3168-6/DF 
O art. 10 da Lei 10.259/2001, que trata dos Juizados Especiais Federal, foi impugnado pela 
Ordem dos Advogados do Brasil por meio da ADIN 3168-6/DF, de seguinte teor: 
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou 
não. 
§ único. Os representantes judiciais da União, autarquias, fundações e empresas públicas 
federais, bem como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a conciliar, transigir ou 
desistir, nos processos da competência dos Juizados Especiais Federais. 
A questão remete à relevância de se prestigiar o princípio do acesso à justiça, por essa razão o 
primeiro acórdão a ser colacionado será o lançado na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 
3.168-6/DF, requerida pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que se 
insurgia contra a constitucionalidade do art. 10 da Lei 10.259/2001, que faculta às partes a 
designação de representantes para a causa, advogados ou não, no âmbito dos juizados 
especiais federais. 
Duas questões foram essenciais para o deslinde do julgamento publicado no Diário Oficial de 
Justiça de 03 de agosto de 2008, a saber, a técnica de interpretação da Constituição utilizada e 
o peso dos princípios constitucionais em aparente conflito. 
A questão amplamente discutida na ADI 3168-6/DF foi a de se o art. 10 da Lei 10.259/2001 
afronta o Princípio da Indispensabilidade do Advogado previsto no art. 133 da Constituição 
Federal, que assim preceitua: 
Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos 
e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. 
Nos debates da votação no pleno, o Ministro Carlos Britto (p. 398) fez as seguintes 
ponderações quanto aos valores constitucionais que estavam se contrapondo: 
De uma parte, com a dispensabilidade do advogado, se favorece mesmo o acesso à jurisdição. 
O acesso à jurisdição fica desembaraçado. Mas como disse o Ministro Eros Grau: por outro 
lado, em contraposição a esse argumento, a garantia constitucional da ampla defesa estará 
muito mais bem efetivada com a presença do advogado. 
A maior preocupação verificada nas discussões foi a de não se institucionalizar a figura do 
rábula, uma vez que na lei dos juizados federais foi facultada a presença em juízo sem 
advogado, quer seja, sozinho ou mediante um representante (não necessariamente advogado). 
O ministro Gilmar Mendes frisou que essa opção se deu porque são massas de casos, a 
exemplo do INSS, que coloca um técnico para fazer a representação em juízo. 
O Ministro Gilmar Mendes (p. 411) ressaltou, ainda, que a discussão assume viés corporativo, 
quando, em sua opinião, os Juizados Especiais e, depois, os Juizados Especiais Federais, 
foram as únicas coisas feitas pelo cliente, o mais tem sido em interesse de corporações. 
O ministro Joaquim Barbosa, relator da ADI 3.168/DF (p. 387), ora analisada, afirmou que 
aplicou ao caso a técnica da declaração de constitucionalidade sob reserva de interpretação, 
quer seja, declarou a constitucionalidade do referido artigo, desde que sejam excluídos de seu 
âmbito de incidência os feitos de competência dos juizados especiais criminais da Justiça 
Federal e, nas causas cíveis, sejam aplicados subsidiariamente os dispositivos da Lei 9.009/99, 
especificamente quanto a possibilidade de comparecer em juízo sem a presença de advogado. 
O relator para chegar a tal conclusão, lançou mão de três argumentos. O primeiro foi 
fundamentar que o art. 10 da Lei 10.259/2001 está no bojo das normas que tratam de 
processos cíveis. O segundo foi de que a diferença entre os juizados especiais da Justiça 
Comum e da Justiça Federal restringe-se à competência, portanto não seria razoável 
interpretar que o legislador teria dado tratamento diferenciado a eles. O terceiro argumento foi 
o da determinação expressa no artigo 1º da referida lei da utilização subsidiária dos 
dispositivos constantes na Lei 9.099/1995. 
A questão que ora se levanta, decorrente desse julgamento, é a seguinte: vedar o acesso ao 
Judiciário, obrigando a parte se fazer presente somente por meio de advogado, significa 
aumentar o grau de Democracia em uma sociedade? Não seria essa exigência mais um fator 
de fomentação das desigualdades entre as partes? 
São esses questionamentos que parecem importantes de serem tratados e refletidos em uma 
época em que cada vez o cidadão perde mais espaço de autonomia privada para as exigências 
da sociedade moderna, com o intuito de ter fortalecidos seus direitos individuais. 
Dúvidas não restam de que a presença do advogado é fator importantíssimo, contudo é 
necessário lembrar que sua indispensabilidade no processo não é absoluta, já tendo nesse 
sentido julgado o STF na ADI 1539[14], bem como continua existindo, excepcionalmente, a 
possibilidade da lei outorgar o jus postulandi a qualquer pessoa, a fim de garantir a garantia de 
direitos constitucionais, a exemplo do habeas corpus e da revisão criminal (art. 623 do CPP) e 
recentemente editada a Súmula Vinculante n. 5, a qual admite a dispensa do profissional no 
âmbito dos processos administrativos. 
O indispensável papel que o advogado desempenha na busca da justiça, parece que deve ser 
visto como um direito constitucional, que visa garantir principalmente o princípio da ampla 
defesa, e não como uma limitação da cidadania, excludente de outros princípios e garantias. 
No caso analisado, prevaleceu o princípio do acesso à justiça em consonância com a moderna 
teoria de Cappelletti[15], que após estudar a fundo os problemas de acesso à justiça, a fim de 
buscar meios de facilitar a busca do cidadão pela solução jurisdicional, afirma que a terceira 
onda de acesso à justiça é um progresso na obtenção de reformas da assistência jurídica e da 
busca de mecanismos para a representação de interesses da sociedade, o que proporciona um 
significativo acesso à justiça. 
Entretanto, a efetivação do acesso vai muito além de encontrar representação efetiva para 
interesses antes não representados ou mal representados. Envolve um conjunto geral de 
instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos, utilizados para processar e prevenir os 
conflitos da sociedade moderna. 
Portanto, a possibilidade de dispensa excepcional da presença de advogado para 
determinados atos pelo cidadão, sem que ocorra conflito com o citado princípio constitucional 
da indispensabilidade do advogado à administração da justiça, e a efetividade da Democracia, 
coloca a presente decisão do STF em sintonia com a onda de facilitação dos instrumentos 
processuais para efetivar o acesso à justiça. 
Certamente a decisão do acórdão analisado está em consonância com essa nova era do 
constitucionalismo, se de outra forma tivesse sido o julgamento, os Juizados Especiais 
Federais não teriam a grandeza e importância alcançadas para a sociedade. 
8.2. Julgamento do Mandado de Injunção 712 – Direito de greve dos servidores públicos 
O art. 37, inciso VII da Constituição do Brasil, que diz respeito ao direito de greve do servidor 
público, remete a matéria à definição por meio de lei específica, estando assim provido de 
eficácia limitada até a edição de ato do legislativo, o que tem dado ensejo a diversos 
ajuizamentos de mandados de injunção. 
Esse fato se dá diante da ausência de lei que regulamente o direito de greve no setor público e 
o Supremo Tribunal Federal, por provocação, decidiu, em 25 de outubro de 2007, declarar a 
omissão do Congresso Nacional em legislar acerca do exercício do direito de greve pelos 
servidores públicos e, por maioria, aplicar ao setor, no que couber, a lei de greve vigente no 
setor privado (Lei nº7.783/89). 
A presente decisão tem grande importância para o cenário da jurisdição constitucional, porque 
o STF ao contrário de somente comunicar a mora ao Congresso, decidiu suprir provisoriamente 
a lacuna legislativa e aplicar à hipótese a Lei 7.783/89, que se refere aos trabalhadores 
celetistas, determinando, em suma, que o servidor que desrespeitar a legislação pode ter o 
ponto e o pagamento cortados referente aos dias não trabalhados. Estamos diante de um caso 
de ativismo judicial? 
O art. 5º, LXXI, da Constituição, previu expressamente a possibilidade de concessão do 
mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício 
dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à 
soberania e à cidadania. 
Da leitura dos votos proferidoos no acórdão do Mandado de Injunção em tela, se afere a 
preocupação dos ministros do STF em não protagonizar o papel de legislador positivo, função 
primordialmente destinada ao Congresso Nacional. Contudo, também se debatem diante da 
questão de não apreciar direito fundamental ainda não regulamentado por aquele órgão, cuja 
lacuna torna inviável o exercício de determinados direitos pendentes de legislação. 
O quadro de greves em setores públicos cruciais no Brasil, deflagrado a partir do caos aéreo, 
sem qualquer controle jurídico e gerando insegurança a toda a sociedade, parece ter sido a 
mola propulsora para que o Tribunal assumisse sim uma postura ativista no julgamento. 
O Ministro Gilmar sustentou em seu voto que a manutenção de situações como essas sem 
qualquer decisão por parte da Corte Constitucional, gerando conseqüências para o próprio 
Estado de Direito, deslegitima qualquer justificativa para a inércia legislativa. E nessa linha, 
defendeu a postura excepcional de legislador positivo pelo Supremo Tribunal Federal, sob o 
argumento de que, assim como se estabelece o controle judicial sobre a atividade do 
legislador, é possível atuar também nos casos de inatividade ou omissão do Legislativo. Nos 
seguintes termos: 
Evidentemente, não se outorga ao legislador qualquer poder discricionário quanto à edição ou 
não da lei disciplinadora do direito de greve. O legislador poderá adotar um modelo mais ou 
menos rígido, mais ou menos restritivo do direito de greve no âmbito do serviço público, mas 
não poderá deixar de reconhecer o direito previamente definido na Constituição. Identifica-se, 
pois, aqui a necessidade de uma solução obrigatória da perspectiva constitucional, uma vez 
que ao legislador não é dado escolher se concede ou não o direito de greve, podendo tão-
somente dispor sobre a adequada configuração da sua disciplina. 
Defendeu o Ministro Gilmar Mendes que, diante da reiterada conduta omissiva do Legislativo 
sob um determinado assunto, referindo-se aqui aos anteriores mandados de injunção julgados 
sobre a matéria de greve, não só é passível, como deve ser submetida à apreciação do 
Judiciário de forma a garantir, minimamente, direitos constitucionais reconhecidos, ainda que 
por meio de uma conduta positivo legislativa do Tribunal, aplicando-se a norma ao caso 
concreto. 
O Ministro Eros Grau também levantou o paralelo entre verificar se tem sido eficaz o Supremo 
Tribunal Federal emitir decisões solicitando ao Poder Legislativo que preencha a mora 
legislativa, ou se está a se fazer necessário emitir decisões que efetivamente supram, ainda 
que provisoriamente, a já referida omissão, caindo novamente na questão de se a Corte tem 
legitimidade para legislar, ainda que de maneira contida, ou se essa situação estaria a ferir a 
separação dos poderes. 
Para tanto o ministro Eros Grau trouxe à tona a classificação tradicional da divisão das funções 
estatais, consistentes na legislativa, de produção das normas jurídicas, na executiva, de 
execução das normas, e na jurisdicional, de interpretação e aplicação do ordenamento jurídico. 
Acrescenta o Ministro que não há que se falar em agressão à separação dos poderes, porque 
é a Constituição que institui o mandado de injunção e acaba por oportunizar ao Judiciário o 
dever poder de, através desse instrumento, formular supletivamente a norma regulamentadora 
omissa. 
Portanto, embora precípua do Legislativo a função normativa, parece indiscutível que o Poder 
Judiciário, no mandado de injunção, produz norma, uma vez que formula, por meio da 
interpretação, a solução com força normativa ao caso concreto, tal qual ocorre com a súmula 
vinculante, que após editada, atua como texto normativo a ser novamente interpretado e 
aplicado. 
Importante levantar o sentido do papel do Supremo como guardião da Constituição, o qual 
inclui toda afronta ao texto e a função precípua de concretizador dos direitos fundamentais, 
onde se encaixa o comportamento negativo de qualquer dos poderes constituídos, e o 
Congresso Nacional ao deixar de editar normas regulamentadoras para tornar eficaz o texto da 
lei, também está a ferir o exercício pleno de direitos, liberdades e prerrogativas assegurados a 
todos. 
Concluindo a questão do mandado de injunção, o Poder Judiciário não define norma de 
decisão, o STF produz a norma regulamentadora provisória, definindo as medidas que devem 
ser tomadas e que faltavam para tornar viável no caso o exercício do direito de greve dos 
servidores públicos, o que pode a vir ocorrer em outras situações que vierem a ser levadas à 
Corte. 
8. Conclusão 
A evolução do conceito de democracia, a participação do cidadão nas respostas aos conflitos 
sociais, a constante evolução da sociedade, são fatores que determinam a necessidade da 
interpretação constitucional moderna, conforme leciona o professor Inocêncio Mártires 
Coelho[12] 
Essas constantes mudanças de interpretação, é de registrar, não decorrem de nenhum 
preciosismo hermenêutico, antes resultam do caráter nomogenético dos fatos sociais, como 
fatores determinantes da criação e da regeneração dos modelos jurídicos – sejam eles 
legislativos ou costumeiros, negociais ou jurisdicionais – a compasso de sempre renovadas 
exigências axiológicas. 
Da análise dos acórdãos proferidos nos casos em que o Supremo Tribunal Federal foi 
chamado legitima e democraticamente a se manifestar, fica evidenciada a intenção da Corte 
em avançar no sentido de conferir maior efetividade aos institutos trazidos para o texto 
constitucional de 1988, a exemplo do mandado de injunção, propiciando concreção aos direitos 
fundamentais concebidos pelo constituinte originário. 
No momento jurídico brasileiro de profundas reformas, a Lei 10.259/2001 veio ao encontro dos 
anseios da sociedade, que espera ter ampliado seu acesso à justiça, por meio de uma 
prestação jurisdicional mais célere, que prestigie os princípios da oralidade, da publicidade, da 
simplicidade e da economia processual, e a decisão do STF na ADI 3168-6/DF demonstra esse 
compromisso. 
A democratização da justiça tem que ser de tal forma que viabilize a efetiva aproximação do 
cidadão à Justiça. De nada adianta uma sofisticada legislação e modernos instrumentos 
processuais, se não há possibilidade do efetivo exercício da cidadania, em virtude da 
permanência de uma visão estática dos institutos jurídicos e princípios constitucionais. 
A Democracia coloca o povo na base do poder, o que se concretiza pelo voto e se organiza por 
meio do Estado, que por sua vez encontra suas coordenadas gerais no bojo da Constituição. 
Da junção desses elementos resulta o Estado Democrático de Direito, que por sua vez garante 
a todos o direito fundamental de acesso à justiça como instrumento de participação 
democrática e realização dos direitos constantes na carta constitucional. 
A idéia do constitucionalismo moderno está calçada nesse equilíbrio entre os poderes 
transferidos para as mãos do Estado e o respeito e conseqüente realização dos direitos 
fundamentais.O cidadão de hoje aprendeu com os fatos históricos a conhecer seus direitos, compará-los e 
exigir a concretização do que entende justo. 
Salienta-se o que afirma Cappelletti, de que o acesso à justiça é o requisito fundamental e o 
mais básico dos direitos humanos para a construção de um sistema jurídico moderno e 
igualitário que efetivamente garanta os direitos de todos. 
A legitimidade de uma Constituição está exatamente no acordo do conteúdo, na sua 
concretização e conseqüente realização, o que só é possível incorporando as circunstâncias da 
realidade que essa norma é chamada a regular por meio da moderna interpretação 
constitucional, que vem sendo feita pelo Supremo Tribunal Federal. 
9. Bibliografia Consultada 
ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Tradução Luís Afonso Heck. 2 ed. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado Editora, 2008. 
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma 
dogmática constitucional transformadora. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 
__________A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações 
privadas. Ana Paula de Barcellos ... [et. al]; organizador: Luís Roberto Barroso. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2003. 
BASTOS, Celso Ribeiro. As modernas formas de interpretação constitucional. Disponivel na 
Internet: http://mundojurídico.adv.br. Acesso em 15.09.2008. 
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. 
COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação constitucional. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 
Constituição da República Federativa do Brasil – obra coletiva de autoria da Editora Revista 
dos Tribunais. 13 ed. rev., ampl. e atual. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. 
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.1539, Relator Min. 
Maurício Correa. D.J. 05.12.2003. Ementário nº 2135-3. 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.168-6. Relator 
Ministro Joaquim Barbosa. DJ 03.08.2007. Ementário nº 2283-2. 
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet . 
Porto Alegre: Fabris, 1988. 
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7 ed. Coimbra: 
Livraria Almedina, 2003. 
HÄRBELE, Peter. Conversas acadêmicas com Peter Härbele. Organizador Diego Valadés; 
traduzido, do espanhol, por Carlos dos Santos Almeida. São Paulo: Saraiva, 2009. 
MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. 
Curso de Direito Constitucional. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e controle de constitucionalidade. 3. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2004. 
PETER, Christine Oliveira. Como se Lê a Constituição: abordagem metodológica da 
interpretação constitucional. Disponível em: Revista de Direito Público, ano I, n. 6, 
outubro/novembro de 2004. Site: www.idp.org.br. 
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 
 
 
[1]Barros, Janete Ricken Lopes de. Bacharel em Direito, especialização em Processo Civil, 
analista judiciário do TJDFT, mestranda pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP - E-
mail: janete.barros@tjdft.jus.br 
[2][2]BASTOS, Celso Ribeiro. As modernas formas de interpretação constitucional. Disponível 
na Internet: HTTP://www.mundojurídico.adv.br. 
[3]PETER, Christine Oliveira. Como se lê a Constituição: abordagem metodológica da 
interpretação constitucional. Revista de Direito Público nº 6, 2004, p. 136 e ss. 
[4]COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação Constitucional, 2007, pp. 53-54. 
[5]BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 2004, p. 350 e ss. 
[6]BARROSO, Luís Roberto. BARCELLOS, Ana Paula de. A nova interpretação constitucional, 
2003. Texto: ” O Começo da História. A nova Interpretação Constitucional e o Papel dos 
Princípios no Direito Brasileiro”, pp. 329-331. 
[7]CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 2003, pp. 1210 e 
ss. As informações acerca dos métodos de interpretação foram extraídas da obra do professor 
Canotilho, em face da síntese e clareza peculiar. 
[8]CANOTILHO, J. J. Gomes. op. cit., p. 1214. 
[9]HÄRBELE, Peter. Conversas Acadêmicas com Peter Härbele. Organizador Diego Valadés, 
2009. Resposta a entrevista de Ingo Wolfgang Sarlet e Pedro Scherer de Mello, em setembro 
de 2005, quando da visita do Peter Härbele ao Brasil. Resposta traduzida Poe Virgínia Coelho 
Felippe dos Santos, p. 210. 
[10][10]ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica, 2005, p.45 e ss. 
[11]MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. 
Curso de Direito Constitucional, 2008, p. 1245. 
[12]Idem op. cit, p. 1253. 
[13]BARROSO, Luís Roberto. op. cit., p. 332. 
[14]SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, ADI 1539-7, Rel. Min. Maurício Corrêa, pub. DJ dede 
05.12.2003: 
[15]CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça, 1988, p. 67-68.

Outros materiais