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PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E MODELOS DE HOMEM - Volvismo

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PR
 
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ 
CAMPUS PONTA GROSSA 
GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 
PPGEP 
 
ROBERTO BONDARIK 
 
 
PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E 
MODELOS DE HOMEM 
CONEXÕES PERCEPTIVEIS PRESENTES NA OBRA DE ALBERTO 
GUERREIRO RAMOS 
 
 
 
 
 
 
 
PONTA GROSSA 
DEZEMBRO - 2007 
 
 
ROBERTO BONDARIK 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E 
MODELOS DE HOMEM 
CONEXÕES PERCEPTIVEIS PRESENTES NA OBRA DE ALBERTO 
GUERREIRO RAMOS 
 
Dissertação apresentada como requisito parcial 
à obtenção do título de Mestre em Engenharia 
de Produção, do Programa de Pós-Graduação 
em Engenharia de Produção, Área de 
Concentração: Gestão Industrial, da Gerência 
de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus 
Ponta Grossa, da UTFPR. 
 
Orientador: Prof. Luiz Alberto Pilatti, Doutor 
 
 
PONTA GROSSA 
DEZEMBRO - 2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
B 711 Bondarik, Roberto 
 
 Paradigmas produtivos industriais e modelos de homem: conexões 
 perceptíveis presentes na obra de Alberto Guerreiro Ramos. / Roberto 
 Bondarik. – Ponta Grossa: UTFPR, Campus Ponta Grossa, 2007. 
 
 180 f.: 30 cm. 
 
Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Pilatti 
 
 Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – 
 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Curso 
 de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Ponta Grossa, 2007. 
 
 1. Homem parentético. 2. Modelos de homem. 3. Paradigmas 
 produtivos. 4. Industrialização. 5. Sociedade do conhecimento. I. Pilatti, Luiz 
 Alberto. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta 
 Grossa. III. Título. 
 
CDD 658.51 
 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 
 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha esposa Cidinha, que me 
incentivou, sacrificou-se e cobrou a 
conclusão deste curso. 
Aos meus pais e ao meu filho Bruno, o 
qual me ensina a cada dia que é especial 
viver. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 À minha esposa e ao meu filho Bruno por terem me proporcionado o tempo e o 
incentivo necessários a esta tarefa, abrindo mão de outras situações mais importantes em 
nossas vidas. 
 
 Ao meu orientador Professor Luiz Alberto Pilatti por ter acreditado e investido seu 
tempo em mim, me adotado, pelo trabalho de me ensinar a pesquisar e a escrever e por me 
fazer vencer as limitações do tempo e da distância. 
 
 Aos meus colegas de curso, pelo grande apoio e compartilhamento, pelo 
companheirismo e pelo sentimento de harmonia. 
 
 À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa por ter 
construído a realidade deste curso. 
 
 À Direção do Campus Cornélio Procópio da Universidade Tecnológica Federal do 
Paraná, pela liberação parcial da carga horária de trabalho, possibilitando-me a conclusão 
da pesquisa. 
 
 Ao Colégio Estadual “Vandyr de Almeida” Ensino Fundamental e Médio, de Cornélio 
Procópio – Paraná, seus professores, funcionários, alunos e, em especial, à Diretora Ana 
Bernardino Narente. Pela colaboração e compreensão de todos no estabelecimento de 
horários que favoreceram meu estudo e pesquisa. 
 
 À Secretaria de Estado da Educação, Núcleo Regional de Educação de Cornélio 
Procópio. 
 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na parede de um botequim em Madri, um 
cartaz avisa: Proibido cantar. 
Na parede do aeroporto do Rio de 
Janeiro, um aviso informa: É proibido 
brincar com os carrinhos porta-bagagem. 
(...) ainda existe gente que canta, ainda 
existe gente que brinca. 
(EDUARDO GALEANO) 
 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
RESUMO 
Alberto Guerreiro Ramos idealizou os homens operacional, reativo e parentético, que 
tiveram uma existência paralela aos três paradigmas produtivos industriais presentes 
no século XX, fordismo, toyotismo e volvismo, formando uma trilogia produtiva que 
influenciou o desenvolvimento tecnológico e organizacional deste período histórico. 
O objetivo deste trabalho é estabelecer as conexões entre os modelos de homem de 
Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas produtivos industriais identificados na 
passagem da Sociedade da Produção para a sociedade do Conhecimento 
evidenciada no século XX. A pesquisa desenvolvida foi exploratória e qualitativa, o 
método utilizado foi o de história de vida. A coleta dos dados ocorreu por meio de 
entrevistas semi-estruturadas, os sujeitos da amostra selecionados entre 
funcionários de uma empresa do setor de alimentos, detentora de alto nível 
tecnológico, certificados internacionais de qualidade, sendo líder em seu setor de 
atuação. A técnica de análise de conteúdo foi utilizada para o entendimento dos 
dados coletados, sendo que se fez necessário a decomposição das informações em 
categorias distintas, mas conectas. Os modelos de homem guerreirianos e sua 
vinculação aos paradigmas produtivos podem assim ser considerados: o homem 
operacional, passivo diante do ambiente produtivo, programável e movido apenas 
pelas recompensas materiais, vincula-se de forma mais evidente ao paradigma Ford 
de produção, cujo funcionamento estático pode ser comparado a uma máquina; o 
homem reativo que não vincula ainda a sua existência pessoal a organizacional, é 
dotado de uma racionalidade mais desenvolvida e possui uma flexibilidade mais 
aprimorada no ambiente produtivo, conecta-se ao paradigma Toyota de produção, 
que pode ser comparado a um organismo vivo; o homem parentético, mais 
sofisticado e racional é capaz de analisar a realidade que o cerca, com isenção, 
como se dela não fizesse parte, sendo a sua conexão mais evidente o paradigma 
Volvo de produção, cuja imagem é vinculada a um cérebro, e que exige um ser 
humano critico e responsável, por ter sido planejado pensando-se na ação do 
homem na planta de Uddevalla na Suécia. O homem parentético detém 
características dos modelos anteriores, que, como eles possuíam as raízes 
formativas deste, sua capacidade crítica-analítica é bastante desenvolvida em 
relação a sua existência e aos fatores que lhe são relacionados. A empresa 
estudada passou de um paradigma fordiano, em que os seus funcionários eram com 
peças de uma máquina, para o paradigma toyotista, onde a qualidade produtiva, 
organizacional e laboral passou a ser considerada. Matizes identificadas na 
organização permitiram a vinculação de práticas ao paradigma volvista: espírito de 
trabalho em equipe e a consciência de sua necessidade; elevado grau de tecnologia 
aplicado à produção; preocupação organizacional com a qualidade de vida pessoal e 
operacional dos colaboradores; entusiasmo com o ambiente de trabalho considerado 
prazeroso. Concluiu-se que os modelos de homem e os paradigmas produtivos 
possuem conexões identificáveis no ambiente produtivo contemporaneamente, 
permitindo um melhor entendimento do ambiente organizacional. 
 
Palavras-chave 
Homem parentético; modelos de homem; paradigmas produtivos; industrialização; 
sociedade do conhecimento. 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
ABSTRACT 
 
The social behavior and the human cultural level have suffered influence from the 
technological and material development. The sociologist Alberto Guerreiro Ramos 
tried to comprehend and explain the human being from his mastership of racionality 
and the relations with productive organizations. Ramos idealized men as operational, 
reactive and parenthetic. These models had a paralel existence with three productiveand industrial paradigms. such as Fordism, Toyotism, and Volvism, forming a 
productive trilogy that influenced the technological and organizational development. 
This dissertation responds the questioning on the perceived conections between 
Ramos' models of man and the productive paradigms in the passage from the 
production society to the knowledge society that was evident in the twentieth century. 
It is been regarded the hipothesis that considers identifiable connections that 
respond the question proposed by the research. Its confirmation is the aim of this 
work. The operational man, passive before the productive enviroment, programable 
and powered only by material rewards, links more evidently to Ford's model of 
production, whose static functioning can be compared to a machine. The reactive 
man who does not link his personal existence to the organizational one, and he is 
possessor of a more developed rationality and has more flexibility in the productive 
enviroment. The reactive man connects to the production model of Toyota, that can 
be compared to a living being. It is the moment of quality and fight againg waiste. The 
parenthetic man, who is more sophisticated and racional, is able to analize the reality 
tha surrounds him, with isention, as if he were not a part of it. His connection is more 
evident in the model of Volvo, whose image is linked to a brain, and demands a critic 
and responsible human being, for having being planned with the focus on the action 
of the man working in the plant of Uddevala, in Sweden. The parenthetic man holds 
many of the previous caracteristics, as they possessed its formative roots. The 
models of man and the productive paradigms are broadly existent and identifiable in 
productive enviroment of our days. The test of the hipothesis was done with the 
employees of a company of the food sector and possessor of a high technological 
level, holding international quality certificates, and being a leader in its segment. The 
research developed was exploratory and qualitative, the method used was the history 
of life one. The collection of the data happened through semi-structured interviews, 
and the samples were selected among the employees of the company with different 
extensions of time working for the company. The technique analysis of the contents 
was used for the understanding of the data collected, which was necessary for the 
decomposition of the information into different categories, however connected. 
 
Keywords 
Parentethical men; models of man; paradigms productive; industrialization; the 
knowledge society. 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
LISTA DE QUADROS 
QUADRO 1 - DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS. ........................................32 
QUADRO 2 – TIPOS DE RACIONALIDADE E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS 
...........................................................................................................................39 
QUADRO 3 – CONCEITOS E DEFINIÇÕES: DADO, INFORMAÇÃO E 
CONHECIMENTO..............................................................................................60 
QUADRO 4 – PARADIGMAS PRODUTIVOS / PERÍODO DE VIGÊNCIA................63 
QUADRO 5 – CONSTRUÇÃO DO MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL
...........................................................................................................................69 
QUADRO 6 – CONSTRUÇÃO DO MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO 
INDUSTRIAL......................................................................................................76 
QUADRO 7 – CONSTRUÇÃO DO MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL 
...........................................................................................................................83 
QUADRO 8 – CAMPOS DE APLICAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDOS...........103 
QUADRO 9 – MODELOS DE HOMEM DE ALBERTO GUERREIRO RAMOS.......134 
 
 
 
 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
SUMÁRIO 
AGRADECIMENTOS 
RESUMO 
ABSTRACT 
LISTA DE FIGURAS 
LISTA DE TABELAS 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
LISTA DE SÍMBOLOS 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO 16 
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 16 
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA E HIPÓTESE 17 
1.2.1 PROBLEMA DE PESQUISA 17 
1.2.2 HIPÓTESE 18 
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA 20 
1.3.1 OBJETIVO GERAL 20 
1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 20 
1.4 JUSTIFICATIVA 20 
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO 24 
2 MARCO REFERENCIAL TEÓRICO 25 
2.1 ALBERTO GUERREIRO: SOCIÓLOGO 25 
2.1.1 REDUÇÃO SOCIOLÓGICA 28 
2.1.2 DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS 31 
2.2 OS MODELOS DE HOMEM IDEALIZADOS POR ALBERTO GUERREIRO 33 
2.2.1 HOMEM OPERACIONAL 35 
2.2.2 HOMEM REATIVO 40 
2.2.3 HOMEM PARENTÉTICO 41 
2.3 A CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE DA PRODUÇÃO 47 
2.3.1 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 49 
2.3.2 SOCIEDADE DA PRODUÇÃO 53 
2.4 A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO 57 
2.4.1 CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO 58 
2.5 MODELOS E PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS 62 
2.5.1 MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: AS ORGANIZAÇÕES COMO 
MÁQUINAS 64 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
2.5.2 MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO 
ORGANISMO VIVO 71 
2.5.3 MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO UM 
CÉREBRO 78 
3 METODOLOGIA E MÉTODOS 89 
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA 89 
3.1.1 PESQUISA EXPLORATÓRIA 89 
3.1.2 PESQUISA QUALITATIVA 91 
3.2 MÉTODOS 93 
3.2.1 HISTÓRIA DE VIDA 93 
3.2.2 ENTREVISTAS 95 
3.3 SUJEITOS QUE COMPUSERAM A AMOSTRA 100 
3.4 COLETA DE DADOS 101 
3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE 101 
4 RESULTADOS E ANÁLISES 106 
4.1 ENTREVISTAS: RESULTADOS E DISCUSSÃO 106 
4.1.1 CATEGORIZAÇÃO 108 
4.1.2 INDÚSTRIA TRADICIONAL RÍGIDA 109 
4.1.3 INDÚSTRIA MODERNA FLEXÍVEL 114 
4.1.4 INDÚSTRIA SOFISTICADA FLEXÍVEL-CRIATIVA 122 
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 126 
5.1 CONCLUSÕES 126 
5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 135 
REFERÊNCIAS 136 
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS (SEMI-ESTRUTURADO) 152 
ANEXO 1 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 01 (D-01) 154 
ANEXO 2 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 02 (D-02) 160 
ANEXO 3 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 03 (D-03) 166 
ANEXO 4 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 04 (D-04) 171 
ANEXO 5 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 05 (D-05) 175 
 
 
 
Capítulo 1 Introdução 16 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 
 
 Compreender e explicar o ser humano, analisando-o criticamente a partir de 
seu domínio da racionalidade foi o que procurou fazer Guerreiro Ramos (1984). Os 
modelos de homem, identificados por ele, possibilitam uma melhor compreensão 
sobre sua natureza, qualidades e importância para o ambiente produtivo e 
organizacional. Ambientes que se constituem no amalgama que solidifica as 
relações humanas e a organização social. 
 As organizações, por sua vez, atuam como um cimento que solidifica e une as 
estruturas sociais, influenciando-as constantemente e por elas sendo transformadas. 
As organizações atingiram tal grau de importância no mundo contemporâneo que, 
autores como Zoboli (2001) afirmam que os tempos atuais configuram uma época 
managerial, cujo paradigma é a empresa. 
 Os modelos de homem de Guerreiro Ramos (1984) fundamentam-se na teoria 
administrativa, estabelecendo-se uma relação evolutiva do mais simples, o homem 
operacional, passando pelo homem reativo até que sua análise identificou o homem 
parentético, o mais sofisticado e racional de todos. A evolução do homem 
guerreiriano teve como cenário toda a história do século XX, onde se desenvolveram 
modelos de produção industrial que se constituíram em paradigmas para o tempo 
em que existiram. Os modelos de produção, agrupados em uma trilogia que se 
locupleta, influenciaram e promoveram considerável parte do desenvolvimento social 
e tecnológico contemporâneo. As necessidades produtivas fizeramdesenvolver-se 
um mercado consumidor que completou o ciclo mútuo de desenvolvimento da 
humanidade. Os paradigmas produtivos estabelecidos pelas industrias Ford, Toyota 
e Volvo, em diferentes épocas, produziram necessidades no mercado, que por sua 
vez produziu outras necessidades que a indústria teve de atender. As necessidades 
de mercado provocaram desenvolvimento tecnológico e organizacional em escala 
Capítulo 1 Introdução 17 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
constante, e junto a elas o homem influenciou e foi influenciado em sua forma de ser 
e de existir. 
 As mudanças dos modelos de homem e também dos paradigmas produtivos 
caracterizaram um maior desenvolvimento na sociedade, que teve a sua riqueza 
transferida dos bens materiais para os bens de natureza intelectual. A Sociedade da 
Produção criou condições para que paralelamente se desenvolvesse a Sociedade 
do Conhecimento, cuja proeminência é sentida em diversos aspectos. 
 O processo de evolução da produção industrial, base organizacional da 
sociedade e dos modelos de homem em Guerreiro Ramos, possui conexões e 
interdependências. Explorar estas conexões constitui o tema deste trabalho. 
 
 
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA E HIPÓTESE 
 
1.2.1 PROBLEMA DE PESQUISA 
 
 Considerando-se a revisão de literatura relacionada ao tema em pauta, 
constatou-se a existência de trabalhos versando sobre os paradigmas produtivos 
industriais e os modelos de homem idealizados por Alberto Guerreiro Ramos. 
Porém tais estudos tratam desses dois assuntos de forma separada, ou seja, não 
tratam das conexões entre os paradigmas produtivos e os modelos de homem. Os 
trabalhos assim considerados podem ser agrupados distintamente: 
• trabalhos em maior quantidade e que versam sobre o Modelo Ford e Toyota, 
relacionando suas diferenças como paradigmas produtivos; 
• trabalhos em menor quantidade, que versam sobre o modelo Volvo de 
produção e as experiências produtivas em Kalmar e Uddevala, na Suécia; 
• trabalhos que conjugam os três paradigmas produtivos são bastante raros, 
sendo o mais importante o de Wood Jr. (1992); 
Capítulo 1 Introdução 18 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
• sobre Sociedade da produção e do Conhecimento, são encontrados trabalhos 
em bom número; 
• foram identificados também trabalhos sobre Guerreiro Ramos, porém que 
tratam sua obra de uma maneira fragmentada e individual; 
 
 Analisados estes grupos constatou-se a existência de uma lacuna que 
considerada em relação aos objetivos propostos, torna-se relevante. Esta lacuna 
evidencia-se pela inexistência de trabalhos que conduzam a uma correlação e 
conseqüente análise das conexões existentes ou possíveis entre os modelos de 
Alberto Guerreiro Ramos, os paradigmas produtivos e os tipos de sociedade. 
 Identificada esta lacuna na literatura, pode-se passar à delimitação do 
problema de pesquisa que norteará a construção desta dissertação. O problema é 
proposto nos seguintes termos: Quais são as conexões percebidas entre os 
modelos de homem idealizados por Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas 
industriais na passagem da Sociedade da Produção para a Sociedade do 
Conhecimento? 
 
1.2.2 HIPÓTESE 
 
 Assim, pretende-se considerar como hipótese que existem conexões que 
podem ser estabelecidas entre os modelos de homem de Guerreiro Ramos (1984) e 
os paradigmas produtivos desenvolvidos no século XX. Mesmo não sendo uma 
vinculação mecanicamente rígida ou automática, pode-se, seguindo os princípios 
dos tipos ideais weberianos presentes no pensamento de Guerreiro Ramos, 
estabelecer conexões que se seguem: homem operacional ao modelo Ford, sendo 
esta a conexão mais nítida de todas; o evoluir constante da sociedade e do 
ambiente produtivo é sofisticado, podendo o modelo seguinte de homem - homem 
reativo – ser correlacionado ao modelo Toyota; e a sofisticação do homem 
parentético, vinculado ao modelo Volvo considerado no conjunto deste trabalho 
como o modelo melhor desenvolvido, não faz desaparecer os modelos anteriores, 
Capítulo 1 Introdução 19 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
sendo mantidos muitos dos traços comportamentais do homem operacional e do 
reativo. 
 Para a confirmação da hipótese, de maneira empírica, devidamente 
fundamentada no marco referencial teórico, buscou-se um setor produtivo e dentro 
dele uma organização empresarial e pessoas que contemplassem os seguintes 
requisitos: 
I. organização industrial que fosse de médio ou grande porte – 
Organizações deste porte permitiriam uma melhor análise das relações 
entre as pessoas e o sistema de produção ou de trabalho; 
II. organizações que possuam uma estrutura organizacional clara – 
Empresas com estas características permitiriam uma melhor definição da 
escala de decisão e do sistema de administração da produção; 
III. indivíduos que atuem ou tenham atuado na atividade produtiva em linha 
de produção ou chefiando setores desta – podendo assim conhecer-se o 
processo de produção, o modelo de sociedade e suas inter-relações com 
os modelos comportamentais destes indivíduos; 
IV. um setor em que fossem percebidas transformações tecnológicas 
consideráveis nos últimos quarenta ou cinqüenta anos – o que permitirá a 
análise da influência do fator tecnológico na produção industrial e na 
relação com o modelo de homem. 
 
 A organização selecionada teve sua identidade preservada por motivos de 
maior isenção e liberdade científica, possibilitando maior clareza na obtenção dos 
dados úteis à pesquisa. A empresa autorizou que se conduzisse a pesquisa em seu 
interior, disponibilizando tempo e pessoas para a sua realização. 
 A empresa onde a pesquisa foi conduzida é uma industria do setor de 
alimentos e atua no mercado nacional e internacional há quase quarenta anos, 
configurando-se atualmente como uma das líderes em seu segmento de mercado. 
Detentora de diversos selos e certificações, a indústria coloca seus produtos nos 
mais diversos paises, nos cinco continentes. Implantou programas de qualidade de 
forma mais intensa a partir da década de 1990, provocando mudanças perceptíveis 
em seu funcionamento organizacional e produtivo. A possibilidade de conhecer sua 
Capítulo 1 Introdução 20 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
realidade antes e depois de tal transformação, tornou-a ideal para a aplicação do 
teste da hipótese deste trabalho, que contou com o depoimento de seus 
funcionários. 
 
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA 
 
1.3.1 OBJETIVO GERAL 
 
 Estabelecer as conexões entre os modelos de homem idealizados por Alberto 
Guerreiro Ramos e os paradigmas produtivos industriais, identificados na passagem 
da Sociedade da Produção para a Sociedade do Conhecimento. 
 
1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 A construção do objetivo geral exige, por sua complexidade, que sejam 
trabalhados paralelamente os seguintes objetivos específicos: 
• apontar as características da Sociedade da Produção e da Sociedade do 
Conhecimento; 
• caracterizar os paradigmas produtivos industriais; 
• verificar as transformações nos modelos de homem em decorrência das 
transformações nos paradigmas produtivos; 
 
1.4 JUSTIFICATIVA 
 
 O estudo proposto, relacionado aos modelos de homem e paradigmas 
produtivos, desenvolve-se no cenário estabelecido pelo século XX. A busca pela 
compreensão deste período histórico apóia-se na quantidade e profundidade das 
Capítulo 1 Introdução 21 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
transformações nele ocorridas, que devidamente percebidas, possibilitarão um 
melhor entendimento sobre o ser humano, a estrutura social em que se insere e as 
relações produtivas culturalmente estabelecidas. 
 O estudo dos paradigmas produtivos e dos modelos de homem verificados no 
século XX justifica-se por ter sido uma época historicamente marcada por 
transformaçõesque alteraram profundamente o cotidiano da humanidade, com o 
estabelecimento de paradigmas produtivos industriais, modelos de homem 
culturalmente estabelecidos, bem como estruturas sociais que produziram 
momentos hegemônicos, sem considerá-los bons ou maus, com seus respectivos 
momento de ascensão, declínio e superação. Guerreiro Ramos (1983) considera ser 
preciso encarar as hegemonias sem considerá-las boas ou más, através de uma 
atitude parentética e cientifica. Para o autor, o estabelecimento da Sociedade do 
Conhecimento, considerando-se que ele ainda não se utilizava desta nomenclatura, 
a produção de riquezas adquiriu um novo significado. Até este momento a riqueza 
era obtida diretamente das forças da natureza, socialmente transformadas pelo 
trabalho físico do homem. A concepção da Sociedade do Conhecimento leva em 
conta que o conhecimento e o saber superam a força física do homem como 
geradores de riqueza e no domínio das forças naturais. 
 O século XX, considerado breve por Hobsbawm (1995), foi o século de maior 
progresso e transformações nos campos social e político. Mudanças materiais e 
tecnológicas também foram profundas, e a humanidade evoluiu e produziu 
inovações em todos os aspectos que dizem respeito a sua existência. Sabe-se que o 
ser humano adaptou e transformou a natureza, tornando a inovação tecnológica e a 
invenções de novos equipamentos e processos uma realidade cotidiana e constante. 
Hobsbawm (2003) evidenciou que o século XX foi marcado pelo desenvolvimento 
tecnológico que caracterizou e produziu um sentimento constante de progresso. O 
mundo tornou-se muito mais rico materialmente e culturalmente desenvolvido, 
diversificado e poderoso em sua capacidade de produzir bens e serviços. A 
humanidade vive uma profunda revolução com a percepção de transformações 
absolutas, quando comparadas com as mudanças percebidas em tempos e 
situações anteriores. Os modernos meios de comunicação encurtaram o tempo, as 
Capítulo 1 Introdução 22 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
distâncias e tornaram mais intensos os relacionamentos entre os povos que habitam 
as mais diversas regiões do planeta. 
 
Uma tecnologia em avanço constante; Uma população mundial 
muitas vezes maior do que jamais antes na história da 
humanidade; A humanidade tornou-se mais culta. A maioria 
das pessoas é considerada alfabetizada, embora seja 
crescente o enorme fosso entre o analfabetismo funcional e o 
domínio da leitura e da escrita; Nas últimas décadas, a maioria 
das pessoas vivia melhor do que seus pais, principalmente nas 
economias avançadas; (...) Queda dos grandes impérios 
coloniais e declínio da Europa como centro da civilização 
ocidental; A globalização das economias: uma economia 
mundial única, cada vez mais integrada, operando por sobre as 
fronteiras dos Estados, com predomínio das grandes empresas 
multinacionais; A economia cada vez mais dominada pelas 
grandes corporações. (HOBSBAWM, 2003). 
 
 A compreensão das transformações que se pretende atingir torna necessário 
um processo de redução em que, conforme princípios estabelecidos por Guerreiro 
Ramos (1996), buscar-se-á a eliminação de tudo aquilo que, revestido de um caráter 
secundário, venha a perturbar o entendimento sobre um determinado processo. Os 
paradigmas produtivos aqui analisados (Ford, Toyota e Volvo), quando justapostos 
aos modelos de homem guerreiriano (operacional, reativo e parentético) não 
representam situações ou condições estáticas e herméticas. 
 O evoluir da produção industrial e os modelos de homem requeridos a cada 
nova realidade devem ser encarados como processos e como tal não se 
transformam, mas se incorporam às novas condições. Guerreiro Ramos (1996) 
afirma que uma estrutura ao incorporar novas condições, tornando-se superior à 
anterior, provocará necessariamente, a substituição dos problemas presentes por 
outros que sejam menos grosseiros e mais sofisticados. Segundo o autor, não há, na 
realidade histórica, Idade de Ouro alguma na qual tivessem cessado a complexidade 
existencial humana e os problemas dela decorrentes. Para ele todo grau de 
desenvolvimento atingido por uma sociedade, por mais elevado que seja, sempre 
gestará um outro seguinte, superior e historicamente desenvolvido. 
 Identificar em um processo determinado os traços que o caracterizam é um 
tarefa do cientista social que partindo daí, procurará as raízes de sua conseqüente 
Capítulo 1 Introdução 23 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
evolução e sofisticação, e de futuros significativos. A busca por tais futuros 
significativos, nos dizeres de Gilberto Freyre (2001) faz com que o cientista social se 
socorra das demais ciências sociais existentes e dos seus métodos humanísticos. O 
autor de Casa Grande e Senzala destaca ainda que os métodos, além de 
científicos, devem ser poéticos, novelísticos, literários e filosóficos. O futuro, e nisto 
há uma concordância entre Gilberto Freyre (2001) e Guerreiro Ramos (1996), é uma 
construção e criação de predecessores, que concorrem com o estabelecimento de 
suas bases. 
 O entendimento de cada modelo de homem guerreiriano e de cada paradigma 
produtivo permite que se compreendam as bases do modelo ou paradigma seguinte, 
suas necessidades e sofisticações. Destaque-se que não há limites rígidos e nem 
barreiras solidificadas entre os diversos modelos de homem e os paradigmas 
produtivos, existindo apenas idealizações que os diferenciam. Guerreiro Ramos 
(1983) corrobora com essa ponderação ao colocar que o curso do processo de 
industrialização não se vincula a um único padrão de desenvolvimento determinado. 
Pode-se falar em industrializações plurais em seus objetivos produtivos e busca pela 
otimização na geração de riquezas, mas singulares nos processos e condições que 
assimilaram ao longo desta construção. 
 A geração de riqueza também se transforma ao longo do século XX. Guerreiro 
Ramos (1983) coloca que a riqueza ganhava novo sentido, uma vez que deixava de 
ser um produto da natureza, para tornar-se uma produção essencialmente humana. 
A assimilação deste processo faz surgir uma nova sociedade calcada no 
conhecimento do homem: a “Sociedade do Conhecimento”. 
 O desenvolvimento industrial então presente, não significou, conforme 
ponderação de Guerreiro Ramos (1996), um desprezo para com a agricultura. A 
atividade agropecuária aumentou sua produtividade e conseguiu integrar-se ao 
sistema capitalista de produção. A intensificação industrial em uma determinada 
sociedade gera efeitos econômicos diversos e positivos sobre as suas atividades 
pecuárias e agrícolas. A industrialização produz um aumento da renda agrícola, com 
uma melhor condição de vida para os agricultores, que assimilaram novos e mais 
sofisticados hábitos de consumo. Guerreiro Ramos (1996) coloca ainda que uma 
estrutura produtiva será considerada mais desenvolvida e elevada quanto mais força 
Capítulo 1 Introdução 24 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
de trabalho for liberada à agropecuária e extração, e transferida para a indústria e 
setor de serviços. 
 
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO 
 
 Do primeiro capítulo consta a introdução do tema, subdividida em: 
contextualização, problema de pesquisa, hipótese, objetivos e justificativa. 
 O segundo capítulo constitui-se do marco referencial teórico, sendo 
explicitada a revisão bibliográfica, em cujas bases fundamentam-se o problema e a 
hipótese. Cabe a este capitulo auxiliar na execução dos objetivos colocados. Nesta 
revisão, contemplou-se: 
• Guerreiro Ramos e seus modelos de homem idealizados; 
• a Sociedade da produção e a Sociedade do Conhecimento e; 
• modelos e paradigmas produtivos industriais presentes no século XX, 
discorrendo-se sobre os modelos Ford, Toyota e Volvo. 
 O terceiro capítulo centra-se no estabelecimento das bases metodológicas da 
pesquisa, suacaracterização e fundamentos. 
 No quarto capítulo discute-se os dados coletados coma revisão bibliográfica, 
e também se apresenta a pesquisa de campo desenvolvida para se testar a hipótese 
aventada. 
 No quinto capitulo colocam-se as conclusões da pesquisa, apresentando em 
seu final sugestões para a continuação da mesma no futuro. 
 Na sua parte final relacionam-se as obras e trabalhos que propiciaram a 
construção e o embasamento deste trabalho, permitindo a conclusão e seus 
resultados. 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 25 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
2 MARCO REFERENCIAL TEÓRICO 
 
 
2.1 ALBERTO GUERREIRO: SOCIÓLOGO 
 
Alberto Guerreiro Ramos nasceu em Santo Amaro da Purificação, Estado da 
Bahia, em 13 de setembro de 1913, faleceu em Los Angeles, Califórnia, Estados 
Unidos da América, em 06 de abril de 1982. Graduou-se em Direito e em Ciências 
Sociais. Prestou concurso público e passou a atuar como Técnico de Administração 
do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). A partir deste órgão, 
Guerreiro Ramos atuou na Casa Civil da Presidência da República, nesta função 
assessorando três Presidentes brasileiros: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek de 
Oliveira e João Goulart. Devido aos esforços despendidos pelo DASP, implantou-se 
o primeiro curso superior de Administração no Brasil, em 1952, onde atuou como 
professor. 
 
O primeiro curso superior de Administração no Brasil (Escola 
Brasileira de Administração Pública – EBAP – da Fundação 
Getúlio Vargas), surgiu em 1952, graças aos esforços de Luiz 
Simões Lopes, presidente do DASP, valeu-se Simões Lopes da 
experiência e competência de daspianos ilustres para dar início 
ao ensino regular de Administração, contando com a 
participação de Asterio Dardeau Vieira, Beatriz Warhrlich, 
Belemiro Siqueira, Benedito Silva (primeiro diretor da EBAP), 
Cleantho de Paiva Leite, Guerreiro Ramos, que, a propósito, 
proferiu a primeira aula da Escola (PIZZA JR, 2007). 
 
 Por sua atuação no DASP e na EBAP em especial, Guerreiro Ramos ligou-se 
à Administração de tal forma que a principal parte de sua produção acadêmica viria 
a centra-se nesta área, porém não separava a administração do conjunto das 
ciências sociais ou do fenômeno social. Eleito Deputado Federal pelo Partido 
Trabalhista Brasileiro, em 1963, afasta-se da EBAP, assumindo como suplente a 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 26 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
vaga deixada por Leonel Brizola, que assume o governo do Estado do Rio Grande 
do Sul. 
 Com a deposição de João Goulart da Presidência da República, em 1964, e o 
subseqüente Governo Militar que se instaura, Guerreiro Ramos teve seus direitos 
políticos cassados em 1966. Obrigado a exilar-se, viveu dezesseis anos nos Estados 
Unidos da América (EUA), atuando como professor e pesquisador, ao aprofundar 
seus estudos, com sua experiência aperfeiçoou suas teorias. Conforme Begazo 
(2003), Guerreiro Ramos foi um dos professores mais brilhantes e polêmicos da 
Escola de Administração da University of Southern Califórnia. Realizou conferências 
em diversas universidades e academias de ciências na Europa e Ásia. Visitou a 
Universidade de Paris, a Academia de Ciências de Moscou, esteve ainda em 
Pequim e Belgrado (Ex-Iuguslávia). Atuou como professor em universidades norte-
americanas como Yale e Wesleyian, na Nova Inglaterra. De acordo com 
Schwartzman (2007), o exílio representou para Guerreiro Ramos a possibilidade de 
ter uma carreira acadêmica em uma universidade estrangeira, com condições para 
estudar, escrever e relacionar-se com intelectuais. 
 
É possível que sua obra de maturidade, A Nova Ciência das 
Organizações, seja sua contribuição sociológica mais 
substantiva. Sem ter condições de avaliar este trabalho em seu 
mérito neste contexto, não há dúvida, de qualquer forma, que 
seu impacto foi bem menor do que o das obras criticas 
anteriores de Guerreiro Ramos. Por isto, e independentemente 
deste último livro, parece bastante provável que Guerreiro 
Ramos fique na história das ciências sociais brasileiras 
principalmente como debatedor, crítico, motivador e criador de 
um sentido de compromisso e responsabilidade social sem o 
qual não é possível desenvolver nenhuma ciência social que 
tenha algum valor. "Sou um homem", dizia ele uma vez, anos 
atrás, a um grupo de ávidos estudantes de sociologia 
belorizontinos, "que tem a responsabilidade de pensar o Brasil 
24 horas por dia". (SCHWARTZMAN, 2007). 
 
 Após a anistia política, Guerreiro Ramos retornou ao Brasil e como professor 
visitante auxiliou na instalação do Curso de Mestrado em Administração da 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Publicou mais de cem artigos de 
opinião sobre diversos assuntos (política, sociologia, questão racial, entre outros), 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 27 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
principalmente em jornais cariocas. Escreveu diversos livros, alguns reeditados após 
seu passamento. Entre suas obras destacam-se as seguintes: 
• Uma introdução ao histórico da organização racional do trabalho 
(1950); 
• A sociologia industrial: formações, tendências atuais (1952); 
• Cartilha brasileira do aprendiz de sociólogo (1954); 
• Introdução crítica à sociologia brasileira (1957); 
• A redução sociológica (1958, publicado também no México, em 1959); 
• O problema nacional do Brasil (1960); 
• A crise do poder no Brasil (1961); 
• Mito e verdade da revolução brasileira (1963); 
• A redução sociológica, 2ª edição (1965); 
• Administração e estratégia do desenvolvimento (1966), que foi 
republicado, após sua morte, com novo título: Administração e contexto 
brasileiro (1983). 
 
 As idéias de Guerreiro Ramos provocaram agitação no meio acadêmico, de 
acordo com Begazo (2003), por serem inovadoras e especialmente pela forma como 
ele as defendia. Para alguns intelectuais, ele era um teórico puro, não se 
encontrando vinculado à realidade. Outros por sua vez, em menor número 
consideravam-no o autor de novas idéias baseadas na retomada do racionalismo 
substantivo, repensando o papel do indivíduo nas organizações. 
 Guerreiro Ramos,porém, foi vitíma de um esquecimento de sua obra que 
segundo aponta Figueiredo (2007), pode ter sido deliberado. Algumas hipóteses 
podem ser aventadas sobre as causas que levaram a esta situação: o fato do 
sociólogo reagir aos cânones institucionais das ciências sociais no Brasil. A adesão 
de Guerreiro Ramos ao integralismo na década de 19301; problemas relacionados à 
sua personalidade. 
 
1 Movimento de orientação fascista e nacionalista, que existiu no Brasil durante a década de 1930, era liderado 
por Plínio Salgado. (Nota do Autor); 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 28 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 
Algumas explicações sobre o esquecimento de Guerreiro 
Ramos giram também em torno de sua personalidade. Todos 
que o conheceram concordam com o fato de Guerreiro ser 
extremamente polêmico, controverso e disposto a embates 
teóricos e políticos não muito freqüentes na academia branca 
brasileira. Guerreiro tem uma forma de fazer ciência e de 
produzir conhecimento que vai de encontro aos moldes 
hegemônicos, que se contrapõe à nossa propalada 
cordialidade (FERREIRA, 2007, p.39). 
 
 Detentor de um comportamento considerado provocador e de um estilo 
contraditório, Guerreiro Ramos destoava do estilo polido de se fazer ciência no 
Brasil. Ele dirigiu criticas contundentes a nomes que na época já eram considerados 
importantes no âmbito das ciências sociais brasileiras, como Arthur Ramos e 
Florestan Fernandes, a quem dirige suas farpas em um capítulo do livro Redução 
Sociológica. Mesmo considerado polêmico no meio acadêmico, contribuiu 
significativamente com as CiênciasSociais ao estabelecer conceitos seminais como 
a Redução Sociológica, a Delimitação dos Sistemas Sociais e os Modelos de 
Homem. 
 
2.1.1 REDUÇÃO SOCIOLÓGICA 
 
 Guerreiro Ramos considerava que a formação econômica, política, cultural e 
social brasileira, havia sido construída com base na influencia exercida pelo 
pensamento estrangeiro, conforme colocado por Bariani (2006). Segundo ele, a elite 
brasileira subordinava-se culturalmente aos povos e continentes mais desenvolvidos, 
Europa em especial, além dos Estados Unidos da América. 
 
Era mister, então, fazer uso da razão sociológica, da 
capacidade da sociologia de aplicar (se) seu instrumental, de 
rever-se, refletir a respeito de si e com relação à estrutura 
social à qual estava vinculada, refazendo (se) métodos e 
objetivos. Ao método critico capaz de proceder a uma reflexão 
dessa natureza, assimilando criticamente as contribuições 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 29 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
teóricas “importadas”, Guerreiro Ramos chamou “redução 
sociológica” (BARIANI, 2006, p.87). 
 
 A redução sociológica, na concepção de Guerreiro Ramos, pode ser resumida 
como uma situação em que os métodos e técnicas de análise e entendimento dos 
fenômenos sociais, desenvolvidos e aplicados em outras sociedades, são 
sopesados e adaptados à realidade da sociedade brasileira. Para Bariani (2006), a 
redução sociológica guerreiriana é uma atitude parentética, porém não espontânea, 
e o processo de redução coloca os fenômenos entre parênteses, recusando a 
aceitação espontânea, pura e simples, das percepções, alocando filtros ao 
raciocínio. Esta teria sido a mais influente obra de Guerreiro Ramos, compreendida 
como uma proposta política científica e intelectual. 
 
Se olharmos este livro do ponto de vista estrito da metodologia 
que propõe e dos resultados práticos a que esta metodologia 
acena, o resultado é decepcionante. O que fica de interessante 
é uma proposta de que a sociologia deve ser constituída a 
partir da realidade nacional, pelo desenvolvimento de uma 
metodologia também própria, e que a partir desta realidade 
toda a tradição cultural da sociologia européia e norte-
americana poderia ser recuperada (SCHWARTZMAN, 2007). 
 
 Guerreiro Ramos procurou desenvolver um pensamento e uma prática 
sociológica adequada à realidade do Brasil e que pudesse auxiliar na solução dos 
seus problemas especificamente. 
 
A constante reivindicação de Guerreiro acerca de uma 
sociologia brasileira, que, como já dissemos, deveria estar 
empenhada em resolver os problemas nacionais, mantinha 
uma relação diretamente oposta ao que o sociólogo define 
como sociologia “consular”. “Além de ‘consular’, esta é uma 
sociologia que pode ser dita enlatada, visto que é consumida 
como uma verdadeira conserva cultural”. Isto é, a perspectiva 
crítica de Guerreiro era de que alguns conceitos cunhados 
alhures não permitiam interpretar adequadamente a realidade 
nacional (FIGUEIREDO, 2007, p.38). 
 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 30 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 A corrente consular procura compreender a Sociologia no Brasil como um 
apêndice ou um episódio, de acordo com Figueiredo (2007), da expansão cultural da 
Europa e Estados Unidos. À segunda corrente, é que Guerreiro Ramos vinculava-se, 
embora se aproveitando do conhecimento e experiências acumuladas nos paises 
mais desenvolvidos. O conhecimento universal, então seria utilizado como um 
instrumento para o auto-conhecimento das estruturas do país e fomentar seu 
desenvolvimento. É esta segunda corrente que a redução sociológica guerreiriana 
procura compreender e justificar. De acordo com Bariani (2005), a preocupação de 
Guerreiro Ramos naquele momento centrava-se na assimilação critica do 
conhecimento produzido fora do Brasil, procurando aumentar a produção teórica 
nacional. Para Simões (2006) a redução sociológica perpassa a idéia de construção 
de uma ciência social engajada e participante no entendimento e melhoria da 
realidade brasileira. 
 Fazem parte da natureza da redução sociológica defendida por Guerreiro 
Ramos, conforme estabelecido por Simões (2006): 
 
(a) ter uma atitude metódica, para uma melhor percepção da 
realidade; (b) não admitir a existência na realidade social de 
objetos sem pressupostos; (c) postular a noção de mundo, ou 
seja, admitir que a consciência e os objetos estão sempre 
interligados; (d) ser perspectivista, sabendo que um objeto 
jamais se dá desligado de um determinado contexto, não 
havendo possibilidades de repetição da realidade social; (e) ter 
seus suportes coletivos e não individuais, para que a 
autoconsciência assuma proporções de um processo da 
sociedade; (f) ser um procedimento critico assimilativo da 
experiência estrangeira, não incorporando acriticamente 
praticas ou produtos de outros paises; e (g) ter uma atitude 
altamente elaborada, demandando um grande esforço de 
reflexão. (SIMÕES, 2006, p.103). 
 
 Guerreiro Ramos era um teórico interessado na natureza das mudanças 
vivenciadas pelo homem, influenciadas pela realidade histórica percebida ao longo 
do século XX. 
 
Para aquellas personas preocupadas por las organizaciones y 
su administración, Guerreiro fue el que mejor canalizo y 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 31 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
sintetizo las ideas de vários estudiosos del “Homo Novus”, 
creando lo que él llamo el “Hombre Parentético” (BEGAZO, 
2003, p.60). 
 
 Guerreiro Ramos colocou em prática a redução sociológica ao estabelecer 
seus modelos de homem, em especial sua condição mais sofisticada, que é o 
homem parentético, fundamentado na fenomenologia de Edmund Husserl (1859-
1938). Os modelos de homem do pensamento guerreiriano, foram idealizados com 
base no desenvolvimento da racionalidade e podem ser usados para auxiliar na 
melhor percepção e assimilação de determinadas condições sociais e recortes 
históricos. 
 
2.1.2 DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS 
 
 O objetivo de Guerreiro Ramos (1989), ao tabular a “Delimitação dos 
Sistemas Sociais”, era reconceitualizar os sistemas sociais em que predomina o 
mercado como um dos principais (não o único) paradigmas identificáveis. Desta 
forma propõe o autor um modelo que engloba diversas dimensões, baseado em dois 
pontos centrais: o mercado e o Estado. 
 
O ponto central desse modelo multidimensional é a noção de 
delimitação organizacional que envolve: a) uma visão da 
sociedade como sendo constituída de uma variedade de 
enclaves (dos quais o mercado é apenas um), onde o homem 
se empenha em tipos nitidamente diferentes, embora 
verdadeiramente integrativos, de atividades substantivas; b) um 
sistema de governo social capaz de formular e implementar as 
políticas e decisões distributivas requeridas para a promoção 
do tipo ótimo entre enclaves sociais. (RAMOS, 1996, p.140). 
 
 O primeiro ponto considerado pelo autor aponta o mercado como necessário, 
legitimado pela sociedade e necessário ao relacionamento entre os diversos 
enclaves sociais. O segundo ponto correlaciona-se com a atuação do Estado, do 
governo que deverá criar condições para que este mercado seja efetivado de 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 32 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
maneira eficaz e justa entre os diversos segmentos ou enclaves da sociedade, 
ordenando-o e regulamentando-o. Guerreiro Ramos (1989) destaca a capacidade do 
mercado em modelar todo o conjunto da sociedade e que o tipo de organização que 
o controla tomou ares de paradigma pra a organização social. 
 O Quadro a seguir demonstra como funciona a delimitação dos sistemas 
sociais. 
 
QUADRO 1 - DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS. 
 
SER HUMANO DIMENSÃO CONSTITUIÇÃO 
ESPAÇOS 
DE 
EXISTÊNCIA 
MODELOS 
DE HOMEM 
PolíticaRazão Fenonomia Parentético 
Social Convivial / Comportamento Isonomia Reativo 
ÚNICO 
E 
MULTIDIMENSIONAL 
Biológica Física Economia Operacional 
 
FONTE: SERAFIM (2001) 
 
 Influenciada pelo mercado, a sociedade acaba por submeter-se também as 
suas leis, agindo desta forma sobre os diversos espaços da existência humana. 
Guerreiro Ramos (1996) propõe que os espaços influenciados pelo mercado, sejam 
limitados e ordenados para que não absorvam a totalidade da vida dos indivíduos. O 
autor entende que o desenvolvimento de cada ser humano, individualmente, não é 
uma preocupação das mais essenciais em uma organização empresarial. Desta 
forma, conforme especificado por Serafim (2001), o sociólogo busca construir um 
modelo alternativo de pensamento que restaure aquilo que dois séculos de domínio 
do mercado sobre a sociedade alteraram, os elementos permanentes da vida 
humana e seus valores centrados no indivíduo. 
 
 
 
 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 33 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
2.2 OS MODELOS DE HOMEM IDEALIZADOS POR ALBERTO GUERREIRO 
 
 A condição do ser humano, como um objeto de pesquisa e análise, foi 
demonstrada por Guerreiro Ramos (1984), quando da publicação no Brasil do artigo 
“Modelos de Homem e Teoria Administrativa”. O título original deste artigo era “A 
Ascenção do Homem Parentético”, e neste trabalho o autor evidenciou três modelos 
de homem. Idealizou-os como portadores do comportamento necessário à plena 
efetivação e ao entendimento dos modelos produtivos percebidos no século XX. São 
eles: 
� Homem Operacional; 
� Homem Reativo; 
� Homem Parentético. 
 
 O homem, como um ser social, desde o advento do industrialismo nos 
séculos XVIII e XIX, tem vivenciado profundas transformações em sua condição de 
ser e de atuar no meio em que habita. Houve momentos em que as mudanças se 
intensificaram, aumentando seu ritmo e despertando maiores atenções e momentos 
de estabilidade quando estas transformações se solidificam, lançando bases para 
futuras evoluções. O homem é o personagem das mudanças, seu ator e autor, 
conforme as necessidades de seu tempo. Pinker (2004) apontou essa condição ao 
relatar que o ser humano não é um ser abstrato, fora da realidade de seu contexto. 
Ele é o resultado da sua própria ação, das interações percebidas no mundo e na 
vida em sociedade. 
 Sendo personagem atuante e condutor das Revoluções Tecnológicas, o ser 
humano foi influenciado por elas, sofrendo mudanças em seu comportamento e em 
sua visão da realidade. Não encontrando amparo teórico para que se afirme que 
cada novo momento da sociedade industrial ou da produção possuiu um modelo 
especificamente fechado de homem, busca-se identificar qual modelo ideal de 
homem conjugaria suas qualidades com os determinados paradigmas produtivos 
industriais que foram percebidos no século XX. 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 34 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 Dissertando disserta sobre a utilização da teoria das possibilidades, Guerreiro 
Ramos (1983) ressalta a influência recebida de Max Weber, ao estabelecer os seus 
tipos ideais, e um paralelo pode ser estabelecido com os modelos de homem 
guerreirianos. Neste momento específico, a ligação desta teoria se dá com os níveis 
de desenvolvimento das sociedades, mas, em um exercício imaginativo, como a 
teoria das possibilidades propõe, substituir-se-ia desenvolvimento por homem, 
resultando no estabelecimento de homens ideais, cujo estudo permitiria um melhor 
entendimento sobre o tempo e a sociedade em que viveram. 
 
Toda a explicação ou interpretação que se baseie unicamente 
nos aspectos mais evidentes dos fatos não merece o nome de 
ciência [...] É esse sentido da ênfase de Weber na possibilidade 
objetiva como instrumento analítico para análise sociológica. 
Ele utiliza essa categoria não somente para formular “tipos 
ideiais”, mas também para encontrar uma explicação mais 
satisfatória dos eventos ocorridos (RAMOS, 1983, p.16). 
 
 Fundamentado-se em Weber, é justamente uma explicação mais satisfatória 
sobre o ser humano que Guerreiro Ramos (1984) busca ao estabelecer seus 
modelos de homem e procura também fazer compreender a sociedade onde 
floresceram. O autor atuou como um sintetizador das teorias de pensadores 
anteriores e contemporâneos a ele. 
 Três modelos de homem são evidenciados na sua obra, como já referido. 
Cada um deles tornou-se mais evidente ou, melhor caracterizado em um 
determinado período da história, ligado especificamente a um sistema organizacional 
ou paradigma produtivo, porém os conceitos evidenciados por Guerreiro Ramos 
(1984) vinculam-se especialmente ao domínio da racionalidade e da capacidade 
decisória de cada um deles. Neste sentido, é possível encontrar as raízes formativas 
de um modelo de homem quando teoricamente domina o anterior e quando se 
estabelece aquele que seria o mais sofisticado de todos, o homem parentético. 
 Desta forma é possível vislumbrar indivíduos e organizações com 
comportamentos específicos e ainda ligados a paradigmas já ultrapassados. Cada 
modelo de homem, a exemplo dos modelos produtivos, apresentou características 
provenientes dos modelos anteriores e trouxe em seu âmago as raízes do modelo 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 35 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
seguinte em um processo dinâmico. Os modelos de homem formam, desta forma, 
mais uma possibilidade de análise do ser humano, do que exatamente uma fórmula 
descritiva e absoluta do viver e produzir do homem em determinada época. Os 
modelos de homem guerreiriano não seriam somente modelos classificatórios de 
qualidades e especificidades. Da mesma forma que Guerreiro Ramos (1983) afirma 
não existir um único modelo de industrialização, não existiria um único modelo de 
homem, em especial nos países em desenvolvimento: 
 
O curso da industrialização não obedece a um modelo único, a 
um padrão determinado. Os paises subdesenvolvidos não 
necessitam de crescimento em todos os setores “segundo a 
imagem” de qualquer país desenvolvido (RAMOS, 1983, p.27). 
 
 Em síntese, os modelos de homem que podem ser vinculados aos 
paradigmas industriais variam conforme o espaço e o tempo em que são percebidos. 
Os modelos de homem e produção alteram-se conforme as exigências da produção, 
da sociedade, do segmento social e da temporalidade. 
 
2.2.1 HOMEM OPERACIONAL 
 
 O homem operacional, primeira escala na trilogia evolutiva guerreiriana, foi 
idealizado com base na sociedade industrial ou da produção. Compreende-se a 
produção industrial como o primeiro degrau na escala de desenvolvimento de uma 
sociedade que ultrapassa os limites de uma economia natural e agrícola, em busca 
da sofisticação produtiva, organizacional e social. Guerreiro Ramos (1984) imaginou 
o homem operacional como personagem de uma sociedade como esta, um homem 
iniciando sua caminhada em busca de racionalidade mais sofisticada. 
 O modelo produtivo em vigor naquele momento, nas sociedades baseadas na 
produção industrial e nas organizações preponderantes, exigia um modelo de 
homem com uma mentalidade mais simples. Um ser humano cuja capacidade 
decisória não seria ainda profundamente exigida para o desenvolvimento de suas 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 36 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
atividades, sendo capaz de conduzir uma máquina, submetendo-se ao ritmo de 
trabalho por ela determinado. As operações produtivas eram previamente 
ordenadas, ao homem cabia operar a máquina ou agir como ordenado. As pessoas 
atuavam como peças em um mecanismo, substituíveis e descartáveis. 
 O homem operacional submete-se a um sistema administrativo rígido dentro 
das organizações. As suas praticas produtivas, como as dos demais modelos 
refletem-se diretamente em seu comportamentosocial. 
 
Este hombre es calculador, motivado por recompensas 
materiales y económicas, según uma visión de la 
Administracion y de la Teoria de la Administracion Neutra, con 
indiferencia de lãs nociones de ética, valor y del ambiente 
externo; las cuestiones de la libertad personal son estrañas em 
este modelo de esquema de la organización (BEGAZO, 2003, 
p.60). 
 
 As características mais perceptíveis do homem operacional foram relacionadas 
por Guerreiro Ramos (1984). Para ele, tal modelo subsiste em um meio social e 
produtivo no qual se encontra, submetido a um método administrativo autoritário, 
que aloca recursos de forma a manter o trabalhador em uma condição de extrema 
passividade diante dos meios de produção. Esta passividade na qual o homem é 
mantido e se enxerga, permite que ele seja devidamente programado por 
especialistas para atuar nas organizações, na mais pura acepção taylorista. A 
concepção de treinamento nestas organizações e para o homem operacional 
destina-se como técnica, apenas a proceder os ajustes necessários à adequação do 
individuo à máquina, obtendo uma maximização da produção. Guerreiro Ramos 
(1984) evidencia ainda a visão que se tem neste momento do homem operacional: a 
de que ele representa um ser humano calculista, cuja motivação decorre de 
recompensas materiais e financeiras. Enxerga-se esse homem como um trabalhador 
psicologicamente isolado e independente de outros indivíduos. 
 Neste período persiste a crença de que a administração de uma organização 
seria imparcial, Guerreiro Ramos (1984) afirma ainda que esta crença aplicava-se 
também à teoria administrativa. Desta forma seriam ambas, administração e teoria 
administrativa, imparciais, isentas ou neutras. O autor evidencia ainda, nesta 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 37 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
condição, uma indiferença sistemática aos princípios éticos, norteadores da vida em 
sociedade e aos seus valores, relegados desta forma, das organizações. 
Ordenações que impliquem em questões ligadas à liberdade pessoal são 
segregadas do ambiente organizacional e de seu organograma. Um dos pontos 
principais apresentados por Guerreiro Ramos (1984), em relação ao homem 
operacional, é a convicção de que o trabalho representa, em sua essência, um 
adiamento da satisfação, do prazer e da qualidade de vida. 
 
Finalmente um concepto de trabajo vinculado a la idea de la 
satisfaccíon. Punto referente a este concepto de “Hombre 
Operacional”, es Douglas MacGregor, por su propuesta que 
llamó Tória X, em la que el trabaljo es considerado com um 
castigo o punición (BEGAZO, 2003, p. 60). 
 
 O homem operacional é definido por Begazo (2003) como um trabalhador 
passivo diante do processo produtivo, que necessita ser programado por um 
especialista que lhe dirá o que e como fazer. É um mero operador de máquinas a 
quem não se permite entender os mecanismos muito menos a totalidade do 
ambiente produtivo em que atua. Begazo (2003) considera ainda que o homem 
operacional precisa ser treinado e adestrado, motivado por recompensas materiais. 
 O tipo de organização onde o homem operacional atua é administrada como 
uma máquina. Conforme Wood Jr. (1992), isto significa fixar metas, estabelecendo 
como elas serão atingidas, organizar e detalhar todas as tarefas e controlar tudo: 
produção e trabalhadores. Quando de seu surgimento, este tipo de administração foi 
considerado extremamente inovador, porém sucumbiu à evolução social e 
organizacional, porém é ainda utilizada. 
 
Após dois séculos de industrialização e desenvolvimento 
capitalista, temos estes valores já interiorizados. Quando do 
seu surgimento, o gerenciamento cientifico foi visto como a 
solução para todos os problemas. Ainda hoje muitas industrias, 
ou mesmo unidades ou departamentos dentro de empresas, 
encontram na administração cientifica uma resposta para seus 
problemas (WOOD JR, 1992, p.8). 
 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 38 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 Desta forma percebe-se que organizações com condições típicas para a 
manutenção do homem operacional continuam existindo, duzentos e tantos anos 
após o advento dos industrialismo e quase cem anos após a divulgação das teorias 
de F. W. Taylor. Se ainda persistem tais organizações, devem persistir também as 
condições que exigem a permanência e a existência do homem operacional. 
Guerreiro Ramos (1984) dá sustentação a esta afirmação, ao colocar a 
permanência, naquele tempo, nos Estados Unidos da América, de organizações que 
se baseavam no homem operacional e no modelo imediatamente seguinte, o homem 
reativo: 
 
Os modelos reativo e operacional ainda estão influenciando 
largamente a estrutura dos sistemas sociais e organizacionais 
deste país [Estados Unidos da América]. No meio intelectual, 
estes modelos são profundamente criticados, mas nenhuma 
alternativa de ampla aceitação foi ainda apresentada para eles 
(RAMOS, 1984, p.06). 
 
 As condições para a existência de uma organização mecanicista são 
enumeradas por Wood Jr. (1992): 
• condições ambientais estáveis; 
• produtos que sofram poucas mudanças ao longo do tempo; 
• fator humano previsível. 
 
 Esta condição de previsibilidade conjuga-se com as condições do homem 
operacional. Uma organização mecanicista basear-se-á em uma racionalidade 
funcional ou instrumental, segundo Wood JR. (1992), e isto indicaria o ajuste das 
pessoas e das funções aos métodos de trabalho ou a projetos organizacionais pré-
definidos. A racionalidade substantiva, por sua vez, incentiva a reflexão e a 
organização, conforme explicitado por Guerreiro Ramos (1984). 
 O quadro analítico a seguir permite que se vislumbrem as diferenças entre as 
racionalidades substantiva e instrumental em consonância com os processos 
organizacionais: 
 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 39 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
QUADRO 2 - TIPOS DE RACIONALIDADE E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS. 
 
Tipo de Racionalidade 
X 
Processos Organizacionais 
RACIONALIDADE 
SUBSTANTIVA 
RACIONALIDADE 
INSTRUMENTAL 
Hierarquia e normas Entendimento Julgamento ético 
Fins 
Desempenho 
Estratégia interpessoal 
Valores e objetivos 
Autorealização 
Valores emancipatórios 
Julgamento ético 
Utilidade 
Fins 
Rentabilidade 
Tomada de decisão Entendimento Julgamento ético 
Calculo 
Utilidade 
Maximização de recursos 
Controle Entendimento 
Maximização de recursos 
Desempenho 
Estratégia interpessoal 
Divisão do trabalho 
Autorealização 
Entendimento 
Autonomia 
Maximização de recursos 
Desempenho 
Calculo 
Comunicação e relações 
interpessoais 
Autenticidade 
Valores emancipatórios 
Autonomia 
Desempenho 
Êxito / resultados 
Estratégia interpessoal 
Ação social e relações ambientais Valores emancipatórios Fins Êxito / resultados 
Reflexão sobre a organização Julgamento ético Valores emancipatórios 
Desempenho 
Fins 
Rentabilidade 
Conflitos 
Julgamento ético 
Autenticidade 
Autonomia 
Cáculo 
Fins 
Estratégia interpessoal 
Satisfação individual Autorealização Autonomia 
Fins 
Êxito 
Desempenho 
Dimensão simbólica Autorealização Valores emancipatórios 
Utilidade 
Êxito /resultados 
desempenho 
 
Fonte: SERVA (1997, p.24) 
 
 
 A compreensão da racionalidade é essencial para o entendimento dos 
modelos de homem, da forma como foram idealizados por Alberto Guerreiro Ramos. 
Cada modelo representa especificamente um estágio do homem no estabelecimento 
e no domínio da racionalidade e da percepção da realidade. Representa também a 
busca da razão como fundamento das ações humanas. 
 
 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 40 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
2.2.2 HOMEM REATIVO 
 
 O homem reativo surgiu como umaalternativa ao homem operacional, 
conforme Guerreiro Ramos (1984), pela primeira vez na primeira metade do século 
XX. De acordo com Begazo (2003), o homem reativo evidencia-se a partir dos 
estudos de Hawthorne, no final da década de 1920 e início da de 1930. Estes 
estudos deram origem à Escola de Relações Humanas, pala qual o homem é 
considerado muito mais complexo do que supunham os pensadores tradicionais. 
Para Guerreiro Ramos (1984), os humanistas possuíam uma visão mais sofisticada 
do homem e da natureza de sua motivação e, em oposição aos operacionalistas, 
eles não relegavam o ambiente externo à organização, definindo-a como um sistema 
social aberto. Os humanistas perceberam que os valores, sentimentos e atitudes 
desempenham um papel importante e influenciam o processo de produção. Seu 
modelo idealizado de homem é o seguinte: 
 
O modelo de homem desenvolvido pelos humanistas pode ser 
chamado de “homem reativo”, com tudo que o termo envolve. 
Para os humanistas, como também para os seus antecessores, 
o sistema industrial e a empresa funcionam como variáveis 
independentes (RAMOS, 1984, p.5). 
 
 Os humanistas enxergavam o trabalhador como um ser reativo. Para 
Guerreiro Ramos (1984) isto significa que seu principal objetivo era ajustar o 
individuo ao seu contexto de trabalho, não procurando desenvolvê-lo 
individualmente. 
 
O modelo de homem reativo é fruto de uma nova visão da 
motivação e da constatação da influência de seus sentimentos 
e valores no espaço de produção econômica ou organizacional. 
[...] O homem reativo se caracteriza pela adaptabilidade às 
normas do grupo institucional; pela subordinação aos ditames 
do grupo informal e adaptabilidade ao meio. Constitui uma 
categoria que expressa a adaptabilidade e a sociabilidade do 
ser humano, imergindo-o no grupo e subordinando-o a ele. O 
espaço do homem reativo é a economia, a burocracia, ou seja, 
o ambiente de massas ou grupos sociais maiores. Ele também 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 41 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
pertence, eventualmente, aos espaços isonômicos ou 
conviviais (SERAFIM, 2001, p.5). 
 
 A utilização dos conceitos de relações humanas resultou na inserção total do 
individuo na organização. Como informa Pizza Jr. (2007), a mudança do conceito de 
homem operacional para homem reativo, provoca na verdade a mudança apenas no 
enfoque que é dado a este novo modelo:as conseqüências dos relacionamentos 
entre os indivíduos não sofreram alterações. Ao enfocar o trabalhador como reativo, 
os pensadores humanistas destacavam apenas o seu ajustamento ao contexto 
produtivo, desconsiderando o crescimento individual. A perfeita integração do 
individuo à organização esbarra ainda neste momento na questão da racionalidade 
substantiva e objetiva, conforme já explicitado. 
 
2.2.3 HOMEM PARENTÉTICO 
 
 O homem parentético é o estágio mais sofisticado da teoria guerreiriana: este 
modelo de homem poderia dotar a teoria administrativa do nível de sofisticação 
conceitual necessário ao enfrentamento de questões relacionadas a às tensões 
entre os tipos de racionalidade. Guerreiro Ramos (1984) preocupava-se com a 
dinâmica dos novos tempos sem que o mercado influenciasse cada vez mais as 
estruturas sociais. 
 O homem parentético idealizado por ele e relatado por Begazo (2003) 
diferencia-se dos modelos anteriormente discutidos (operacional e reativo), por 
possuir uma criticidade maior e melhor desenvolvida. Sua percepção sobre os 
aspectos relacionados a sua existência e ao conjunto de suas ações e conduta 
diárias também tem uma dimensão ampliada. O homem parentético supera os 
limites que eram impostos aos modelos anteriores. 
 O adjetivo parentético deriva diretamente da noção retirada de Husserl, “em 
suspenso” e “entre parênteses”, conforme explicitado por Guerreiro Ramos (1984). A 
atitude de exercício da crítica, segundo o autor, permite ao ser humano suspender-
se ou mesmo colocar entre parênteses o entendimento imediato do mundo comum, 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 42 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
fazendo com que o indivíduo alcance um nível mais elevado do pensamento, ou 
nível conceitual, representando desta forma uma maior liberdade. Ao procurar 
entender sua própria existência, o ser humano necessita isolar-se de tudo aquilo que 
lhe aflige, assusta, comove ou mesmo agrada. A solução para a dúvida humana 
encontra-se, conforme Guerreiro Ramos, no desenvolvimento da racionalidade. O 
home parentético domina a razão e a criticidade de uma forma muito mais profunda 
e sofisticada que os modelos anteriores. Essa afirmação é uma das premissas do 
pensamento guerreiriano, ao lado da busca latente pelo conhecimento. 
 
O homem parentético consegue abstrair-se do fluir da vida 
diária, para examiná-lo e avaliá-lo como um espectador; Ele é 
capaz de distanciar-se do meio que lhe é familiar; Ele tenta 
deliberadamente romper suas raízes e ser um estranho em 
seu próprio meio social, de maneira a maximizar sua 
compreensão desse meio (RAMOS, 1984, p.6). 
 
 Guerreiro Ramos (1984) explora essa capacidade de pensar do ser humano, 
suas habilidades perceptíveis e investigatórias da realidade, buscando desta forma 
despertar o estado de dúvida. É a busca por respostas que torna o ser humano 
especial. A busca por conhecimento torna-se latente: 
 
Como essa criatura chamada homem pôde colocar "todo" o 
mundo entre parênteses, se ela nunca esteve fora do mundo? 
Não temos realmente a experiência de ficar “fora” dos nossos 
sentidos, das nossas memórias e imaginações, muito menos 
dos nossos próprios pensamentos -- simplesmente não temos 
essa experiência. Se não temos essa experiência, de onde 
obtivemos a possibilidade de concebê-la e de tentar colocar-
nos neste estado, mesmo que não consigamos? Neste sentido, 
é claro que nenhum outro animal, além do homem, 
experimenta esse estado (CARVALHO, 2007, p.4). 
 
 Este estado ou condição parentética é a razão ou o seu exercício prático. A 
racionalidade e a criticidade conduzem ao conhecimento. 
 Guerreiro Ramos (1984) buscou em Husserl a base da racionalidade que 
define seus modelos de homem. Em Husserl ele encontra a fenomenologia. 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 43 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
Carvalho (1998), discorre sobre as conexões entre o pensamento de Descartes e 
Husserl, procurando apontar a importância da fenomenologia do filósofo alemão. 
 
Husserl vai tornar a dúvida cartesiana um processo muito mais 
preciso, muito mais detalhado. Comparar a dúvida cartesiana 
com a suspensão, como a chama Husserl -- a epokhé, com a 
qual ele coloca tudo entre parênteses -- é mais ou menos como 
comparar um relógio de areia com um relógio suíço a quartzo: 
a máquina se tornou muito mais precisa, mas a função continua 
exatamente a mesma. Essa análise realizada aqui valeria tanto 
para Husserl quanto para Descartes. Husserl chegava a dizer 
que o que ele chama de atitude fenomenológica é não só 
diferente, mas é radicalmente oposta à atitude natural. A 
atitude natural é crer no que se pensa, crer no que se sente, 
crer no que se imagina. Crer ou descrer: ou afirmamos, ou 
negamos, mas em ambos os casos cremos: cremos na 
afirmação ou na negação. Ora, a atitude fenomenológica não 
afirma nem nega, ela simplesmente descreve o que está se 
passando diante da nossa consciência, ou seja, o próprio 
conteúdo intencional do ato cognitivo é observado por nós, sem 
que o afirmemos ou neguemos (CARVALHO, 2007, p.6-7). 
 
 A fenomenologia de Husserl traduz uma atitude oposta à condição natural do 
ser humano, quando se acredita naquilo que se pensa, naquilo que se sente e 
imagina, ou ainda na sua negação. Para Carvalho (2007), a atitude fenomenológica 
não afirma nem nega coisa alguma, ela simplesmente descreveaquilo que passa da 
consciência humana. 
 As condições e circunstâncias sociais encontradas nas sociedades industriais 
mais avançadas no início da década de 1970, sendo os Estados Unidos da América 
seu mais expressivo exemplo, favorecia o desenvolvimento de comportamentos, 
atitudes e posturas parentéticos. 
 
A atitude parentética é definida como a capacidade psicológica 
do indivíduo de separar a si mesmo de seu ambiente interno e 
externo. Os homens parentéticos prosperam quando termina o 
período da ingenuidade social. Por isso, a sociedade 
“informada” é o ambiente natural do homem parentético 
(RAMOS, 1984, p.8). 
 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 44 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 Azevedo (2006) afirma que o homem parentético é um modelo útil às ciências 
sociais, especialmente no que tange à avaliação do projeto de funcionamento das 
organizações e dos sistemas sociais. Este modelo não se resumiria apenas ao seu 
caráter avaliativo, pois contempla elementos capazes de conduzir analistas e 
planejadores de sistemas sociais a imaginar uma infinidade de novos tipos de 
organizações. Azevedo (2006) destaca que estas seriam organizações direcionadas 
a atender às aspirações de realização e desenvolvimento dos seres humanos. 
Conforme este autor, Guerreiro Ramos elaborou três advertências com o intuito de 
auxiliar o entendimento sobre o homem parentético: 
1. o modelo de homem parentético não é descritivo, desta forma não deve ser 
aplicável a um individuo considerado isoladamente, sua essência é 
puramente normativa; 
2. o homem parentético é uma possibilidade consistente nas sociedades 
contemporâneas. Sua existência pode ser concretizada uma vez que estas 
sociedades possuem condições adequadas ao desenvolvimento e efetivação 
deste modelo de homem; 
3. o homem parentético não representa uma conformidade ao meio em que 
coexiste, dificultando assim a sua explicação pela psicologia do ajustamento. 
 
 Considerando estas advertências, o homem parentético guerreiriano pode ser 
definido como um ser racional que se empenha em atualizar de forma constante as 
suas potencialidades. O entendimento das concepções de Guerreiro Ramos trilha 
um caminho em torno da razão, sua construção, entendimento e manutenção. O 
domínio da razão em sua opinião permitirá ao ser humano entender e transformar a 
sociedade. 
 
Além dessa característica do homem parentético (um ser de 
razão), outra merece destaque especial: o seu incessante 
empenho na atualização de suas potencialidades humanas. 
Dessa forma, as noções de realização pessoal (personal 
actualization), auto-realização (self-actualization) e 
crescimento pessoal (personal growth) são essenciais para a 
compreensão de homem em Guerreiro Ramos, embora ele as 
tenha apresentado de maneira um tanto quanto confusas, 
principalmente em seu último livro, onde procurou esclarecer 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 45 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
melhor alguns de seus conceitos. De todo modo, era sua 
opinião que um dos principais obstáculos para a compreensão 
do tipo parentético de homem e de seu modo de vida estaria 
na própria ciência que se preocupa em estudar o 
comportamento humano – a psicologia (AZEVEDO, 2006, 
p.14). 
 
 Para atingir a sua realização pessoal e profissional e o conseqüente 
crescimento pessoal, tornou-se essencial ao homem parentético a manutenção de 
uma criticidade em relação ao seu meio, permitindo o uso constante da razão, mas 
uma crítica isenta, não comprometida com os aspectos pessoais da existência 
humana. Carvalho (1998) coloca que o primeiro passo da investigação filosófica, da 
busca do conhecimento, é isolar-se ou suspender-se do objeto de estudo ou daquilo 
que se procura compreender. “Quase tudo o que os filósofos descobriram ao longo 
dos milênios foi estranhando coisas que o hábito nos faz esquecer que são 
estranhas” (CARVALHO, 1998, p.4). O homem parentético desenvolve a capacidade 
dos filósofos de estranhar aquilo que lhe é corriqueiro e coloca-se mentalmente fora 
da realidade que busca entender. Desta forma, nas sociedades industriais mais 
avançadas, o homem coloca-se “entre parênteses”, pode estranhar esta realidade, 
conduzindo sua investigação, como procederam no passado diversos indivíduos que 
se destacaram em suas atividades: 
 
Os padrões de comportamento, que apenas existem em forma 
residual nas sociedades em estágios anteriores de evolução, 
tendem agora a se tornar universais nas sociedades industriais 
avançadas. De fato, no passado, esses padrões de 
comportamento podiam ser encontrados apenas em indivíduos 
excepcionais. Sócrates, Bacon e Maquiavel, por exemplo, 
tinham a capacidade psicológica, [...] de ‘diferenciar o eu do 
mundo interior do eu do mundo em volta’, o que os tornava 
capazes de perceber suas respectivas sociedades como 
arranjos precários. Enquanto a massa da população, nas 
sociedades menos evoluídas, interpretava a si própria e a 
realidade social de acordo com as definições 
convencionalmente estabelecidas, estes pensadores tiveram a 
capacidade de suspender suas circunstâncias internas e 
externas, podendo assim examiná-las com visão crítica. Esta 
claramente se qualifica como uma capacidade parentética. De 
fato, a suspensão equivale aqui a pôr as circunstâncias ‘entre 
parênteses’ (RAMOS, 1984, p.6). 
 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 46 
 
PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 
 Guerreiro Ramos pondera sobre as características parentéticas. Um 
comportamento e práticas que no passado eram domínios exclusivos de certos 
indivíduos podem no final do século XX, ser aplicados para a caracterização de toda 
uma sociedade. Portanto o autor enumera as qualidades do homem parentético que 
seriam necessárias ao novo tempo, além de toda a suspensão e estranhamento 
básicos ao entendimento deste modelo: 
 
Esse quarto homem não se empenharia em excesso para ser 
bem sucedido segundo padrões convencionais, como o faz o 
alpinista. Ele teria um grande senso de individualidade e uma 
forte compulsão por encontrar sentido para sua vida. Não 
aceitaria padrões de desempenho sem um senso crítico, 
embora possa ser um grande realizador quando lhe forem 
atribuídas tarefas criativas. Ele evitaria trabalhar apenas com o 
intuito de fugir à apatia ou à indiferença, pois o comportamento 
passivo ofenderia seu senso de auto-estima e autonomia. 
Empenhar-se-ia no sentido de influenciar o ambiente, para 
retirar dele tanta satisfação quanto fosse capaz. Seria 
ambivalente em relação à organização [...] Sua ambivalência 
qualificada decorreria de seu entendimento de que as 
organizações têm que ser tratadas de acordo com seus 
próprios termos relativos, já que elas são limitadas por sua 
racionalidade funcional (RAMOS, 1984, p.8). 
 
 A necessidade de comportamentos parentéticos justifica-se, de acordo com 
Begazo (2003), pelo fato de ser o mundo contemporâneo composto por ambientes 
turbulentos, que se modificam muito rápida e profundamente. Essa característica 
torna necessário que existam organizações empresariais flexíveis, ágeis e que 
acima de tudo sejam capazes de operar mudanças em sua estrutura de maneira 
rápida e eficaz. Logo, é preciso que as empresas que sejam capazes de entender o 
mercado e a sociedade que constitui esse mercado. Um exemplo significativo de 
uma organização empresarial do Futuro foi dada por Wood Jr (1992), quando fez 
uma comparação desta empresa com uma banda de jazz. 
 
Talvez o modelo de organização do futuro esteja ainda mais 
próximo de uma banda de jazz. Uma forma musical surgida em 
nosso século, caracterizada pela utilização de escalas 
africanas com harmonias européias, pela pequena ou quase 
nenhuma importância do maestro – substituído pela primazia 
Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 47 
 
PPGEP – GESTÃO

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