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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP ROBERTO BONDARIK PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E MODELOS DE HOMEM CONEXÕES PERCEPTIVEIS PRESENTES NA OBRA DE ALBERTO GUERREIRO RAMOS PONTA GROSSA DEZEMBRO - 2007 ROBERTO BONDARIK PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E MODELOS DE HOMEM CONEXÕES PERCEPTIVEIS PRESENTES NA OBRA DE ALBERTO GUERREIRO RAMOS Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Gestão Industrial, da Gerência de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR. Orientador: Prof. Luiz Alberto Pilatti, Doutor PONTA GROSSA DEZEMBRO - 2007 B 711 Bondarik, Roberto Paradigmas produtivos industriais e modelos de homem: conexões perceptíveis presentes na obra de Alberto Guerreiro Ramos. / Roberto Bondarik. – Ponta Grossa: UTFPR, Campus Ponta Grossa, 2007. 180 f.: 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Pilatti Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Ponta Grossa, 2007. 1. Homem parentético. 2. Modelos de homem. 3. Paradigmas produtivos. 4. Industrialização. 5. Sociedade do conhecimento. I. Pilatti, Luiz Alberto. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. III. Título. CDD 658.51 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) À minha esposa Cidinha, que me incentivou, sacrificou-se e cobrou a conclusão deste curso. Aos meus pais e ao meu filho Bruno, o qual me ensina a cada dia que é especial viver. AGRADECIMENTOS À minha esposa e ao meu filho Bruno por terem me proporcionado o tempo e o incentivo necessários a esta tarefa, abrindo mão de outras situações mais importantes em nossas vidas. Ao meu orientador Professor Luiz Alberto Pilatti por ter acreditado e investido seu tempo em mim, me adotado, pelo trabalho de me ensinar a pesquisar e a escrever e por me fazer vencer as limitações do tempo e da distância. Aos meus colegas de curso, pelo grande apoio e compartilhamento, pelo companheirismo e pelo sentimento de harmonia. À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa por ter construído a realidade deste curso. À Direção do Campus Cornélio Procópio da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela liberação parcial da carga horária de trabalho, possibilitando-me a conclusão da pesquisa. Ao Colégio Estadual “Vandyr de Almeida” Ensino Fundamental e Médio, de Cornélio Procópio – Paraná, seus professores, funcionários, alunos e, em especial, à Diretora Ana Bernardino Narente. Pela colaboração e compreensão de todos no estabelecimento de horários que favoreceram meu estudo e pesquisa. À Secretaria de Estado da Educação, Núcleo Regional de Educação de Cornélio Procópio. PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) Na parede de um botequim em Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. (...) ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca. (EDUARDO GALEANO) PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) RESUMO Alberto Guerreiro Ramos idealizou os homens operacional, reativo e parentético, que tiveram uma existência paralela aos três paradigmas produtivos industriais presentes no século XX, fordismo, toyotismo e volvismo, formando uma trilogia produtiva que influenciou o desenvolvimento tecnológico e organizacional deste período histórico. O objetivo deste trabalho é estabelecer as conexões entre os modelos de homem de Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas produtivos industriais identificados na passagem da Sociedade da Produção para a sociedade do Conhecimento evidenciada no século XX. A pesquisa desenvolvida foi exploratória e qualitativa, o método utilizado foi o de história de vida. A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas semi-estruturadas, os sujeitos da amostra selecionados entre funcionários de uma empresa do setor de alimentos, detentora de alto nível tecnológico, certificados internacionais de qualidade, sendo líder em seu setor de atuação. A técnica de análise de conteúdo foi utilizada para o entendimento dos dados coletados, sendo que se fez necessário a decomposição das informações em categorias distintas, mas conectas. Os modelos de homem guerreirianos e sua vinculação aos paradigmas produtivos podem assim ser considerados: o homem operacional, passivo diante do ambiente produtivo, programável e movido apenas pelas recompensas materiais, vincula-se de forma mais evidente ao paradigma Ford de produção, cujo funcionamento estático pode ser comparado a uma máquina; o homem reativo que não vincula ainda a sua existência pessoal a organizacional, é dotado de uma racionalidade mais desenvolvida e possui uma flexibilidade mais aprimorada no ambiente produtivo, conecta-se ao paradigma Toyota de produção, que pode ser comparado a um organismo vivo; o homem parentético, mais sofisticado e racional é capaz de analisar a realidade que o cerca, com isenção, como se dela não fizesse parte, sendo a sua conexão mais evidente o paradigma Volvo de produção, cuja imagem é vinculada a um cérebro, e que exige um ser humano critico e responsável, por ter sido planejado pensando-se na ação do homem na planta de Uddevalla na Suécia. O homem parentético detém características dos modelos anteriores, que, como eles possuíam as raízes formativas deste, sua capacidade crítica-analítica é bastante desenvolvida em relação a sua existência e aos fatores que lhe são relacionados. A empresa estudada passou de um paradigma fordiano, em que os seus funcionários eram com peças de uma máquina, para o paradigma toyotista, onde a qualidade produtiva, organizacional e laboral passou a ser considerada. Matizes identificadas na organização permitiram a vinculação de práticas ao paradigma volvista: espírito de trabalho em equipe e a consciência de sua necessidade; elevado grau de tecnologia aplicado à produção; preocupação organizacional com a qualidade de vida pessoal e operacional dos colaboradores; entusiasmo com o ambiente de trabalho considerado prazeroso. Concluiu-se que os modelos de homem e os paradigmas produtivos possuem conexões identificáveis no ambiente produtivo contemporaneamente, permitindo um melhor entendimento do ambiente organizacional. Palavras-chave Homem parentético; modelos de homem; paradigmas produtivos; industrialização; sociedade do conhecimento. PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) ABSTRACT The social behavior and the human cultural level have suffered influence from the technological and material development. The sociologist Alberto Guerreiro Ramos tried to comprehend and explain the human being from his mastership of racionality and the relations with productive organizations. Ramos idealized men as operational, reactive and parenthetic. These models had a paralel existence with three productiveand industrial paradigms. such as Fordism, Toyotism, and Volvism, forming a productive trilogy that influenced the technological and organizational development. This dissertation responds the questioning on the perceived conections between Ramos' models of man and the productive paradigms in the passage from the production society to the knowledge society that was evident in the twentieth century. It is been regarded the hipothesis that considers identifiable connections that respond the question proposed by the research. Its confirmation is the aim of this work. The operational man, passive before the productive enviroment, programable and powered only by material rewards, links more evidently to Ford's model of production, whose static functioning can be compared to a machine. The reactive man who does not link his personal existence to the organizational one, and he is possessor of a more developed rationality and has more flexibility in the productive enviroment. The reactive man connects to the production model of Toyota, that can be compared to a living being. It is the moment of quality and fight againg waiste. The parenthetic man, who is more sophisticated and racional, is able to analize the reality tha surrounds him, with isention, as if he were not a part of it. His connection is more evident in the model of Volvo, whose image is linked to a brain, and demands a critic and responsible human being, for having being planned with the focus on the action of the man working in the plant of Uddevala, in Sweden. The parenthetic man holds many of the previous caracteristics, as they possessed its formative roots. The models of man and the productive paradigms are broadly existent and identifiable in productive enviroment of our days. The test of the hipothesis was done with the employees of a company of the food sector and possessor of a high technological level, holding international quality certificates, and being a leader in its segment. The research developed was exploratory and qualitative, the method used was the history of life one. The collection of the data happened through semi-structured interviews, and the samples were selected among the employees of the company with different extensions of time working for the company. The technique analysis of the contents was used for the understanding of the data collected, which was necessary for the decomposition of the information into different categories, however connected. Keywords Parentethical men; models of man; paradigms productive; industrialization; the knowledge society. PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS. ........................................32 QUADRO 2 – TIPOS DE RACIONALIDADE E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS ...........................................................................................................................39 QUADRO 3 – CONCEITOS E DEFINIÇÕES: DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO..............................................................................................60 QUADRO 4 – PARADIGMAS PRODUTIVOS / PERÍODO DE VIGÊNCIA................63 QUADRO 5 – CONSTRUÇÃO DO MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL ...........................................................................................................................69 QUADRO 6 – CONSTRUÇÃO DO MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL......................................................................................................76 QUADRO 7 – CONSTRUÇÃO DO MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL ...........................................................................................................................83 QUADRO 8 – CAMPOS DE APLICAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDOS...........103 QUADRO 9 – MODELOS DE HOMEM DE ALBERTO GUERREIRO RAMOS.......134 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LISTA DE SÍMBOLOS SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 16 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 16 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA E HIPÓTESE 17 1.2.1 PROBLEMA DE PESQUISA 17 1.2.2 HIPÓTESE 18 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA 20 1.3.1 OBJETIVO GERAL 20 1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 20 1.4 JUSTIFICATIVA 20 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO 24 2 MARCO REFERENCIAL TEÓRICO 25 2.1 ALBERTO GUERREIRO: SOCIÓLOGO 25 2.1.1 REDUÇÃO SOCIOLÓGICA 28 2.1.2 DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS 31 2.2 OS MODELOS DE HOMEM IDEALIZADOS POR ALBERTO GUERREIRO 33 2.2.1 HOMEM OPERACIONAL 35 2.2.2 HOMEM REATIVO 40 2.2.3 HOMEM PARENTÉTICO 41 2.3 A CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE DA PRODUÇÃO 47 2.3.1 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 49 2.3.2 SOCIEDADE DA PRODUÇÃO 53 2.4 A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO 57 2.4.1 CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO 58 2.5 MODELOS E PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS 62 2.5.1 MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: AS ORGANIZAÇÕES COMO MÁQUINAS 64 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 2.5.2 MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO ORGANISMO VIVO 71 2.5.3 MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO UM CÉREBRO 78 3 METODOLOGIA E MÉTODOS 89 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA 89 3.1.1 PESQUISA EXPLORATÓRIA 89 3.1.2 PESQUISA QUALITATIVA 91 3.2 MÉTODOS 93 3.2.1 HISTÓRIA DE VIDA 93 3.2.2 ENTREVISTAS 95 3.3 SUJEITOS QUE COMPUSERAM A AMOSTRA 100 3.4 COLETA DE DADOS 101 3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE 101 4 RESULTADOS E ANÁLISES 106 4.1 ENTREVISTAS: RESULTADOS E DISCUSSÃO 106 4.1.1 CATEGORIZAÇÃO 108 4.1.2 INDÚSTRIA TRADICIONAL RÍGIDA 109 4.1.3 INDÚSTRIA MODERNA FLEXÍVEL 114 4.1.4 INDÚSTRIA SOFISTICADA FLEXÍVEL-CRIATIVA 122 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 126 5.1 CONCLUSÕES 126 5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 135 REFERÊNCIAS 136 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS (SEMI-ESTRUTURADO) 152 ANEXO 1 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 01 (D-01) 154 ANEXO 2 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 02 (D-02) 160 ANEXO 3 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 03 (D-03) 166 ANEXO 4 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 04 (D-04) 171 ANEXO 5 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 05 (D-05) 175 Capítulo 1 Introdução 16 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO Compreender e explicar o ser humano, analisando-o criticamente a partir de seu domínio da racionalidade foi o que procurou fazer Guerreiro Ramos (1984). Os modelos de homem, identificados por ele, possibilitam uma melhor compreensão sobre sua natureza, qualidades e importância para o ambiente produtivo e organizacional. Ambientes que se constituem no amalgama que solidifica as relações humanas e a organização social. As organizações, por sua vez, atuam como um cimento que solidifica e une as estruturas sociais, influenciando-as constantemente e por elas sendo transformadas. As organizações atingiram tal grau de importância no mundo contemporâneo que, autores como Zoboli (2001) afirmam que os tempos atuais configuram uma época managerial, cujo paradigma é a empresa. Os modelos de homem de Guerreiro Ramos (1984) fundamentam-se na teoria administrativa, estabelecendo-se uma relação evolutiva do mais simples, o homem operacional, passando pelo homem reativo até que sua análise identificou o homem parentético, o mais sofisticado e racional de todos. A evolução do homem guerreiriano teve como cenário toda a história do século XX, onde se desenvolveram modelos de produção industrial que se constituíram em paradigmas para o tempo em que existiram. Os modelos de produção, agrupados em uma trilogia que se locupleta, influenciaram e promoveram considerável parte do desenvolvimento social e tecnológico contemporâneo. As necessidades produtivas fizeramdesenvolver-se um mercado consumidor que completou o ciclo mútuo de desenvolvimento da humanidade. Os paradigmas produtivos estabelecidos pelas industrias Ford, Toyota e Volvo, em diferentes épocas, produziram necessidades no mercado, que por sua vez produziu outras necessidades que a indústria teve de atender. As necessidades de mercado provocaram desenvolvimento tecnológico e organizacional em escala Capítulo 1 Introdução 17 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) constante, e junto a elas o homem influenciou e foi influenciado em sua forma de ser e de existir. As mudanças dos modelos de homem e também dos paradigmas produtivos caracterizaram um maior desenvolvimento na sociedade, que teve a sua riqueza transferida dos bens materiais para os bens de natureza intelectual. A Sociedade da Produção criou condições para que paralelamente se desenvolvesse a Sociedade do Conhecimento, cuja proeminência é sentida em diversos aspectos. O processo de evolução da produção industrial, base organizacional da sociedade e dos modelos de homem em Guerreiro Ramos, possui conexões e interdependências. Explorar estas conexões constitui o tema deste trabalho. 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA E HIPÓTESE 1.2.1 PROBLEMA DE PESQUISA Considerando-se a revisão de literatura relacionada ao tema em pauta, constatou-se a existência de trabalhos versando sobre os paradigmas produtivos industriais e os modelos de homem idealizados por Alberto Guerreiro Ramos. Porém tais estudos tratam desses dois assuntos de forma separada, ou seja, não tratam das conexões entre os paradigmas produtivos e os modelos de homem. Os trabalhos assim considerados podem ser agrupados distintamente: • trabalhos em maior quantidade e que versam sobre o Modelo Ford e Toyota, relacionando suas diferenças como paradigmas produtivos; • trabalhos em menor quantidade, que versam sobre o modelo Volvo de produção e as experiências produtivas em Kalmar e Uddevala, na Suécia; • trabalhos que conjugam os três paradigmas produtivos são bastante raros, sendo o mais importante o de Wood Jr. (1992); Capítulo 1 Introdução 18 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) • sobre Sociedade da produção e do Conhecimento, são encontrados trabalhos em bom número; • foram identificados também trabalhos sobre Guerreiro Ramos, porém que tratam sua obra de uma maneira fragmentada e individual; Analisados estes grupos constatou-se a existência de uma lacuna que considerada em relação aos objetivos propostos, torna-se relevante. Esta lacuna evidencia-se pela inexistência de trabalhos que conduzam a uma correlação e conseqüente análise das conexões existentes ou possíveis entre os modelos de Alberto Guerreiro Ramos, os paradigmas produtivos e os tipos de sociedade. Identificada esta lacuna na literatura, pode-se passar à delimitação do problema de pesquisa que norteará a construção desta dissertação. O problema é proposto nos seguintes termos: Quais são as conexões percebidas entre os modelos de homem idealizados por Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas industriais na passagem da Sociedade da Produção para a Sociedade do Conhecimento? 1.2.2 HIPÓTESE Assim, pretende-se considerar como hipótese que existem conexões que podem ser estabelecidas entre os modelos de homem de Guerreiro Ramos (1984) e os paradigmas produtivos desenvolvidos no século XX. Mesmo não sendo uma vinculação mecanicamente rígida ou automática, pode-se, seguindo os princípios dos tipos ideais weberianos presentes no pensamento de Guerreiro Ramos, estabelecer conexões que se seguem: homem operacional ao modelo Ford, sendo esta a conexão mais nítida de todas; o evoluir constante da sociedade e do ambiente produtivo é sofisticado, podendo o modelo seguinte de homem - homem reativo – ser correlacionado ao modelo Toyota; e a sofisticação do homem parentético, vinculado ao modelo Volvo considerado no conjunto deste trabalho como o modelo melhor desenvolvido, não faz desaparecer os modelos anteriores, Capítulo 1 Introdução 19 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) sendo mantidos muitos dos traços comportamentais do homem operacional e do reativo. Para a confirmação da hipótese, de maneira empírica, devidamente fundamentada no marco referencial teórico, buscou-se um setor produtivo e dentro dele uma organização empresarial e pessoas que contemplassem os seguintes requisitos: I. organização industrial que fosse de médio ou grande porte – Organizações deste porte permitiriam uma melhor análise das relações entre as pessoas e o sistema de produção ou de trabalho; II. organizações que possuam uma estrutura organizacional clara – Empresas com estas características permitiriam uma melhor definição da escala de decisão e do sistema de administração da produção; III. indivíduos que atuem ou tenham atuado na atividade produtiva em linha de produção ou chefiando setores desta – podendo assim conhecer-se o processo de produção, o modelo de sociedade e suas inter-relações com os modelos comportamentais destes indivíduos; IV. um setor em que fossem percebidas transformações tecnológicas consideráveis nos últimos quarenta ou cinqüenta anos – o que permitirá a análise da influência do fator tecnológico na produção industrial e na relação com o modelo de homem. A organização selecionada teve sua identidade preservada por motivos de maior isenção e liberdade científica, possibilitando maior clareza na obtenção dos dados úteis à pesquisa. A empresa autorizou que se conduzisse a pesquisa em seu interior, disponibilizando tempo e pessoas para a sua realização. A empresa onde a pesquisa foi conduzida é uma industria do setor de alimentos e atua no mercado nacional e internacional há quase quarenta anos, configurando-se atualmente como uma das líderes em seu segmento de mercado. Detentora de diversos selos e certificações, a indústria coloca seus produtos nos mais diversos paises, nos cinco continentes. Implantou programas de qualidade de forma mais intensa a partir da década de 1990, provocando mudanças perceptíveis em seu funcionamento organizacional e produtivo. A possibilidade de conhecer sua Capítulo 1 Introdução 20 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) realidade antes e depois de tal transformação, tornou-a ideal para a aplicação do teste da hipótese deste trabalho, que contou com o depoimento de seus funcionários. 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA 1.3.1 OBJETIVO GERAL Estabelecer as conexões entre os modelos de homem idealizados por Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas produtivos industriais, identificados na passagem da Sociedade da Produção para a Sociedade do Conhecimento. 1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS A construção do objetivo geral exige, por sua complexidade, que sejam trabalhados paralelamente os seguintes objetivos específicos: • apontar as características da Sociedade da Produção e da Sociedade do Conhecimento; • caracterizar os paradigmas produtivos industriais; • verificar as transformações nos modelos de homem em decorrência das transformações nos paradigmas produtivos; 1.4 JUSTIFICATIVA O estudo proposto, relacionado aos modelos de homem e paradigmas produtivos, desenvolve-se no cenário estabelecido pelo século XX. A busca pela compreensão deste período histórico apóia-se na quantidade e profundidade das Capítulo 1 Introdução 21 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) transformações nele ocorridas, que devidamente percebidas, possibilitarão um melhor entendimento sobre o ser humano, a estrutura social em que se insere e as relações produtivas culturalmente estabelecidas. O estudo dos paradigmas produtivos e dos modelos de homem verificados no século XX justifica-se por ter sido uma época historicamente marcada por transformaçõesque alteraram profundamente o cotidiano da humanidade, com o estabelecimento de paradigmas produtivos industriais, modelos de homem culturalmente estabelecidos, bem como estruturas sociais que produziram momentos hegemônicos, sem considerá-los bons ou maus, com seus respectivos momento de ascensão, declínio e superação. Guerreiro Ramos (1983) considera ser preciso encarar as hegemonias sem considerá-las boas ou más, através de uma atitude parentética e cientifica. Para o autor, o estabelecimento da Sociedade do Conhecimento, considerando-se que ele ainda não se utilizava desta nomenclatura, a produção de riquezas adquiriu um novo significado. Até este momento a riqueza era obtida diretamente das forças da natureza, socialmente transformadas pelo trabalho físico do homem. A concepção da Sociedade do Conhecimento leva em conta que o conhecimento e o saber superam a força física do homem como geradores de riqueza e no domínio das forças naturais. O século XX, considerado breve por Hobsbawm (1995), foi o século de maior progresso e transformações nos campos social e político. Mudanças materiais e tecnológicas também foram profundas, e a humanidade evoluiu e produziu inovações em todos os aspectos que dizem respeito a sua existência. Sabe-se que o ser humano adaptou e transformou a natureza, tornando a inovação tecnológica e a invenções de novos equipamentos e processos uma realidade cotidiana e constante. Hobsbawm (2003) evidenciou que o século XX foi marcado pelo desenvolvimento tecnológico que caracterizou e produziu um sentimento constante de progresso. O mundo tornou-se muito mais rico materialmente e culturalmente desenvolvido, diversificado e poderoso em sua capacidade de produzir bens e serviços. A humanidade vive uma profunda revolução com a percepção de transformações absolutas, quando comparadas com as mudanças percebidas em tempos e situações anteriores. Os modernos meios de comunicação encurtaram o tempo, as Capítulo 1 Introdução 22 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) distâncias e tornaram mais intensos os relacionamentos entre os povos que habitam as mais diversas regiões do planeta. Uma tecnologia em avanço constante; Uma população mundial muitas vezes maior do que jamais antes na história da humanidade; A humanidade tornou-se mais culta. A maioria das pessoas é considerada alfabetizada, embora seja crescente o enorme fosso entre o analfabetismo funcional e o domínio da leitura e da escrita; Nas últimas décadas, a maioria das pessoas vivia melhor do que seus pais, principalmente nas economias avançadas; (...) Queda dos grandes impérios coloniais e declínio da Europa como centro da civilização ocidental; A globalização das economias: uma economia mundial única, cada vez mais integrada, operando por sobre as fronteiras dos Estados, com predomínio das grandes empresas multinacionais; A economia cada vez mais dominada pelas grandes corporações. (HOBSBAWM, 2003). A compreensão das transformações que se pretende atingir torna necessário um processo de redução em que, conforme princípios estabelecidos por Guerreiro Ramos (1996), buscar-se-á a eliminação de tudo aquilo que, revestido de um caráter secundário, venha a perturbar o entendimento sobre um determinado processo. Os paradigmas produtivos aqui analisados (Ford, Toyota e Volvo), quando justapostos aos modelos de homem guerreiriano (operacional, reativo e parentético) não representam situações ou condições estáticas e herméticas. O evoluir da produção industrial e os modelos de homem requeridos a cada nova realidade devem ser encarados como processos e como tal não se transformam, mas se incorporam às novas condições. Guerreiro Ramos (1996) afirma que uma estrutura ao incorporar novas condições, tornando-se superior à anterior, provocará necessariamente, a substituição dos problemas presentes por outros que sejam menos grosseiros e mais sofisticados. Segundo o autor, não há, na realidade histórica, Idade de Ouro alguma na qual tivessem cessado a complexidade existencial humana e os problemas dela decorrentes. Para ele todo grau de desenvolvimento atingido por uma sociedade, por mais elevado que seja, sempre gestará um outro seguinte, superior e historicamente desenvolvido. Identificar em um processo determinado os traços que o caracterizam é um tarefa do cientista social que partindo daí, procurará as raízes de sua conseqüente Capítulo 1 Introdução 23 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) evolução e sofisticação, e de futuros significativos. A busca por tais futuros significativos, nos dizeres de Gilberto Freyre (2001) faz com que o cientista social se socorra das demais ciências sociais existentes e dos seus métodos humanísticos. O autor de Casa Grande e Senzala destaca ainda que os métodos, além de científicos, devem ser poéticos, novelísticos, literários e filosóficos. O futuro, e nisto há uma concordância entre Gilberto Freyre (2001) e Guerreiro Ramos (1996), é uma construção e criação de predecessores, que concorrem com o estabelecimento de suas bases. O entendimento de cada modelo de homem guerreiriano e de cada paradigma produtivo permite que se compreendam as bases do modelo ou paradigma seguinte, suas necessidades e sofisticações. Destaque-se que não há limites rígidos e nem barreiras solidificadas entre os diversos modelos de homem e os paradigmas produtivos, existindo apenas idealizações que os diferenciam. Guerreiro Ramos (1983) corrobora com essa ponderação ao colocar que o curso do processo de industrialização não se vincula a um único padrão de desenvolvimento determinado. Pode-se falar em industrializações plurais em seus objetivos produtivos e busca pela otimização na geração de riquezas, mas singulares nos processos e condições que assimilaram ao longo desta construção. A geração de riqueza também se transforma ao longo do século XX. Guerreiro Ramos (1983) coloca que a riqueza ganhava novo sentido, uma vez que deixava de ser um produto da natureza, para tornar-se uma produção essencialmente humana. A assimilação deste processo faz surgir uma nova sociedade calcada no conhecimento do homem: a “Sociedade do Conhecimento”. O desenvolvimento industrial então presente, não significou, conforme ponderação de Guerreiro Ramos (1996), um desprezo para com a agricultura. A atividade agropecuária aumentou sua produtividade e conseguiu integrar-se ao sistema capitalista de produção. A intensificação industrial em uma determinada sociedade gera efeitos econômicos diversos e positivos sobre as suas atividades pecuárias e agrícolas. A industrialização produz um aumento da renda agrícola, com uma melhor condição de vida para os agricultores, que assimilaram novos e mais sofisticados hábitos de consumo. Guerreiro Ramos (1996) coloca ainda que uma estrutura produtiva será considerada mais desenvolvida e elevada quanto mais força Capítulo 1 Introdução 24 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) de trabalho for liberada à agropecuária e extração, e transferida para a indústria e setor de serviços. 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO Do primeiro capítulo consta a introdução do tema, subdividida em: contextualização, problema de pesquisa, hipótese, objetivos e justificativa. O segundo capítulo constitui-se do marco referencial teórico, sendo explicitada a revisão bibliográfica, em cujas bases fundamentam-se o problema e a hipótese. Cabe a este capitulo auxiliar na execução dos objetivos colocados. Nesta revisão, contemplou-se: • Guerreiro Ramos e seus modelos de homem idealizados; • a Sociedade da produção e a Sociedade do Conhecimento e; • modelos e paradigmas produtivos industriais presentes no século XX, discorrendo-se sobre os modelos Ford, Toyota e Volvo. O terceiro capítulo centra-se no estabelecimento das bases metodológicas da pesquisa, suacaracterização e fundamentos. No quarto capítulo discute-se os dados coletados coma revisão bibliográfica, e também se apresenta a pesquisa de campo desenvolvida para se testar a hipótese aventada. No quinto capitulo colocam-se as conclusões da pesquisa, apresentando em seu final sugestões para a continuação da mesma no futuro. Na sua parte final relacionam-se as obras e trabalhos que propiciaram a construção e o embasamento deste trabalho, permitindo a conclusão e seus resultados. Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 25 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 2 MARCO REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 ALBERTO GUERREIRO: SOCIÓLOGO Alberto Guerreiro Ramos nasceu em Santo Amaro da Purificação, Estado da Bahia, em 13 de setembro de 1913, faleceu em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos da América, em 06 de abril de 1982. Graduou-se em Direito e em Ciências Sociais. Prestou concurso público e passou a atuar como Técnico de Administração do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). A partir deste órgão, Guerreiro Ramos atuou na Casa Civil da Presidência da República, nesta função assessorando três Presidentes brasileiros: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek de Oliveira e João Goulart. Devido aos esforços despendidos pelo DASP, implantou-se o primeiro curso superior de Administração no Brasil, em 1952, onde atuou como professor. O primeiro curso superior de Administração no Brasil (Escola Brasileira de Administração Pública – EBAP – da Fundação Getúlio Vargas), surgiu em 1952, graças aos esforços de Luiz Simões Lopes, presidente do DASP, valeu-se Simões Lopes da experiência e competência de daspianos ilustres para dar início ao ensino regular de Administração, contando com a participação de Asterio Dardeau Vieira, Beatriz Warhrlich, Belemiro Siqueira, Benedito Silva (primeiro diretor da EBAP), Cleantho de Paiva Leite, Guerreiro Ramos, que, a propósito, proferiu a primeira aula da Escola (PIZZA JR, 2007). Por sua atuação no DASP e na EBAP em especial, Guerreiro Ramos ligou-se à Administração de tal forma que a principal parte de sua produção acadêmica viria a centra-se nesta área, porém não separava a administração do conjunto das ciências sociais ou do fenômeno social. Eleito Deputado Federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro, em 1963, afasta-se da EBAP, assumindo como suplente a Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 26 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) vaga deixada por Leonel Brizola, que assume o governo do Estado do Rio Grande do Sul. Com a deposição de João Goulart da Presidência da República, em 1964, e o subseqüente Governo Militar que se instaura, Guerreiro Ramos teve seus direitos políticos cassados em 1966. Obrigado a exilar-se, viveu dezesseis anos nos Estados Unidos da América (EUA), atuando como professor e pesquisador, ao aprofundar seus estudos, com sua experiência aperfeiçoou suas teorias. Conforme Begazo (2003), Guerreiro Ramos foi um dos professores mais brilhantes e polêmicos da Escola de Administração da University of Southern Califórnia. Realizou conferências em diversas universidades e academias de ciências na Europa e Ásia. Visitou a Universidade de Paris, a Academia de Ciências de Moscou, esteve ainda em Pequim e Belgrado (Ex-Iuguslávia). Atuou como professor em universidades norte- americanas como Yale e Wesleyian, na Nova Inglaterra. De acordo com Schwartzman (2007), o exílio representou para Guerreiro Ramos a possibilidade de ter uma carreira acadêmica em uma universidade estrangeira, com condições para estudar, escrever e relacionar-se com intelectuais. É possível que sua obra de maturidade, A Nova Ciência das Organizações, seja sua contribuição sociológica mais substantiva. Sem ter condições de avaliar este trabalho em seu mérito neste contexto, não há dúvida, de qualquer forma, que seu impacto foi bem menor do que o das obras criticas anteriores de Guerreiro Ramos. Por isto, e independentemente deste último livro, parece bastante provável que Guerreiro Ramos fique na história das ciências sociais brasileiras principalmente como debatedor, crítico, motivador e criador de um sentido de compromisso e responsabilidade social sem o qual não é possível desenvolver nenhuma ciência social que tenha algum valor. "Sou um homem", dizia ele uma vez, anos atrás, a um grupo de ávidos estudantes de sociologia belorizontinos, "que tem a responsabilidade de pensar o Brasil 24 horas por dia". (SCHWARTZMAN, 2007). Após a anistia política, Guerreiro Ramos retornou ao Brasil e como professor visitante auxiliou na instalação do Curso de Mestrado em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Publicou mais de cem artigos de opinião sobre diversos assuntos (política, sociologia, questão racial, entre outros), Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 27 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) principalmente em jornais cariocas. Escreveu diversos livros, alguns reeditados após seu passamento. Entre suas obras destacam-se as seguintes: • Uma introdução ao histórico da organização racional do trabalho (1950); • A sociologia industrial: formações, tendências atuais (1952); • Cartilha brasileira do aprendiz de sociólogo (1954); • Introdução crítica à sociologia brasileira (1957); • A redução sociológica (1958, publicado também no México, em 1959); • O problema nacional do Brasil (1960); • A crise do poder no Brasil (1961); • Mito e verdade da revolução brasileira (1963); • A redução sociológica, 2ª edição (1965); • Administração e estratégia do desenvolvimento (1966), que foi republicado, após sua morte, com novo título: Administração e contexto brasileiro (1983). As idéias de Guerreiro Ramos provocaram agitação no meio acadêmico, de acordo com Begazo (2003), por serem inovadoras e especialmente pela forma como ele as defendia. Para alguns intelectuais, ele era um teórico puro, não se encontrando vinculado à realidade. Outros por sua vez, em menor número consideravam-no o autor de novas idéias baseadas na retomada do racionalismo substantivo, repensando o papel do indivíduo nas organizações. Guerreiro Ramos,porém, foi vitíma de um esquecimento de sua obra que segundo aponta Figueiredo (2007), pode ter sido deliberado. Algumas hipóteses podem ser aventadas sobre as causas que levaram a esta situação: o fato do sociólogo reagir aos cânones institucionais das ciências sociais no Brasil. A adesão de Guerreiro Ramos ao integralismo na década de 19301; problemas relacionados à sua personalidade. 1 Movimento de orientação fascista e nacionalista, que existiu no Brasil durante a década de 1930, era liderado por Plínio Salgado. (Nota do Autor); Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 28 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) Algumas explicações sobre o esquecimento de Guerreiro Ramos giram também em torno de sua personalidade. Todos que o conheceram concordam com o fato de Guerreiro ser extremamente polêmico, controverso e disposto a embates teóricos e políticos não muito freqüentes na academia branca brasileira. Guerreiro tem uma forma de fazer ciência e de produzir conhecimento que vai de encontro aos moldes hegemônicos, que se contrapõe à nossa propalada cordialidade (FERREIRA, 2007, p.39). Detentor de um comportamento considerado provocador e de um estilo contraditório, Guerreiro Ramos destoava do estilo polido de se fazer ciência no Brasil. Ele dirigiu criticas contundentes a nomes que na época já eram considerados importantes no âmbito das ciências sociais brasileiras, como Arthur Ramos e Florestan Fernandes, a quem dirige suas farpas em um capítulo do livro Redução Sociológica. Mesmo considerado polêmico no meio acadêmico, contribuiu significativamente com as CiênciasSociais ao estabelecer conceitos seminais como a Redução Sociológica, a Delimitação dos Sistemas Sociais e os Modelos de Homem. 2.1.1 REDUÇÃO SOCIOLÓGICA Guerreiro Ramos considerava que a formação econômica, política, cultural e social brasileira, havia sido construída com base na influencia exercida pelo pensamento estrangeiro, conforme colocado por Bariani (2006). Segundo ele, a elite brasileira subordinava-se culturalmente aos povos e continentes mais desenvolvidos, Europa em especial, além dos Estados Unidos da América. Era mister, então, fazer uso da razão sociológica, da capacidade da sociologia de aplicar (se) seu instrumental, de rever-se, refletir a respeito de si e com relação à estrutura social à qual estava vinculada, refazendo (se) métodos e objetivos. Ao método critico capaz de proceder a uma reflexão dessa natureza, assimilando criticamente as contribuições Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 29 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) teóricas “importadas”, Guerreiro Ramos chamou “redução sociológica” (BARIANI, 2006, p.87). A redução sociológica, na concepção de Guerreiro Ramos, pode ser resumida como uma situação em que os métodos e técnicas de análise e entendimento dos fenômenos sociais, desenvolvidos e aplicados em outras sociedades, são sopesados e adaptados à realidade da sociedade brasileira. Para Bariani (2006), a redução sociológica guerreiriana é uma atitude parentética, porém não espontânea, e o processo de redução coloca os fenômenos entre parênteses, recusando a aceitação espontânea, pura e simples, das percepções, alocando filtros ao raciocínio. Esta teria sido a mais influente obra de Guerreiro Ramos, compreendida como uma proposta política científica e intelectual. Se olharmos este livro do ponto de vista estrito da metodologia que propõe e dos resultados práticos a que esta metodologia acena, o resultado é decepcionante. O que fica de interessante é uma proposta de que a sociologia deve ser constituída a partir da realidade nacional, pelo desenvolvimento de uma metodologia também própria, e que a partir desta realidade toda a tradição cultural da sociologia européia e norte- americana poderia ser recuperada (SCHWARTZMAN, 2007). Guerreiro Ramos procurou desenvolver um pensamento e uma prática sociológica adequada à realidade do Brasil e que pudesse auxiliar na solução dos seus problemas especificamente. A constante reivindicação de Guerreiro acerca de uma sociologia brasileira, que, como já dissemos, deveria estar empenhada em resolver os problemas nacionais, mantinha uma relação diretamente oposta ao que o sociólogo define como sociologia “consular”. “Além de ‘consular’, esta é uma sociologia que pode ser dita enlatada, visto que é consumida como uma verdadeira conserva cultural”. Isto é, a perspectiva crítica de Guerreiro era de que alguns conceitos cunhados alhures não permitiam interpretar adequadamente a realidade nacional (FIGUEIREDO, 2007, p.38). Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 30 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) A corrente consular procura compreender a Sociologia no Brasil como um apêndice ou um episódio, de acordo com Figueiredo (2007), da expansão cultural da Europa e Estados Unidos. À segunda corrente, é que Guerreiro Ramos vinculava-se, embora se aproveitando do conhecimento e experiências acumuladas nos paises mais desenvolvidos. O conhecimento universal, então seria utilizado como um instrumento para o auto-conhecimento das estruturas do país e fomentar seu desenvolvimento. É esta segunda corrente que a redução sociológica guerreiriana procura compreender e justificar. De acordo com Bariani (2005), a preocupação de Guerreiro Ramos naquele momento centrava-se na assimilação critica do conhecimento produzido fora do Brasil, procurando aumentar a produção teórica nacional. Para Simões (2006) a redução sociológica perpassa a idéia de construção de uma ciência social engajada e participante no entendimento e melhoria da realidade brasileira. Fazem parte da natureza da redução sociológica defendida por Guerreiro Ramos, conforme estabelecido por Simões (2006): (a) ter uma atitude metódica, para uma melhor percepção da realidade; (b) não admitir a existência na realidade social de objetos sem pressupostos; (c) postular a noção de mundo, ou seja, admitir que a consciência e os objetos estão sempre interligados; (d) ser perspectivista, sabendo que um objeto jamais se dá desligado de um determinado contexto, não havendo possibilidades de repetição da realidade social; (e) ter seus suportes coletivos e não individuais, para que a autoconsciência assuma proporções de um processo da sociedade; (f) ser um procedimento critico assimilativo da experiência estrangeira, não incorporando acriticamente praticas ou produtos de outros paises; e (g) ter uma atitude altamente elaborada, demandando um grande esforço de reflexão. (SIMÕES, 2006, p.103). Guerreiro Ramos era um teórico interessado na natureza das mudanças vivenciadas pelo homem, influenciadas pela realidade histórica percebida ao longo do século XX. Para aquellas personas preocupadas por las organizaciones y su administración, Guerreiro fue el que mejor canalizo y Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 31 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) sintetizo las ideas de vários estudiosos del “Homo Novus”, creando lo que él llamo el “Hombre Parentético” (BEGAZO, 2003, p.60). Guerreiro Ramos colocou em prática a redução sociológica ao estabelecer seus modelos de homem, em especial sua condição mais sofisticada, que é o homem parentético, fundamentado na fenomenologia de Edmund Husserl (1859- 1938). Os modelos de homem do pensamento guerreiriano, foram idealizados com base no desenvolvimento da racionalidade e podem ser usados para auxiliar na melhor percepção e assimilação de determinadas condições sociais e recortes históricos. 2.1.2 DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS O objetivo de Guerreiro Ramos (1989), ao tabular a “Delimitação dos Sistemas Sociais”, era reconceitualizar os sistemas sociais em que predomina o mercado como um dos principais (não o único) paradigmas identificáveis. Desta forma propõe o autor um modelo que engloba diversas dimensões, baseado em dois pontos centrais: o mercado e o Estado. O ponto central desse modelo multidimensional é a noção de delimitação organizacional que envolve: a) uma visão da sociedade como sendo constituída de uma variedade de enclaves (dos quais o mercado é apenas um), onde o homem se empenha em tipos nitidamente diferentes, embora verdadeiramente integrativos, de atividades substantivas; b) um sistema de governo social capaz de formular e implementar as políticas e decisões distributivas requeridas para a promoção do tipo ótimo entre enclaves sociais. (RAMOS, 1996, p.140). O primeiro ponto considerado pelo autor aponta o mercado como necessário, legitimado pela sociedade e necessário ao relacionamento entre os diversos enclaves sociais. O segundo ponto correlaciona-se com a atuação do Estado, do governo que deverá criar condições para que este mercado seja efetivado de Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 32 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) maneira eficaz e justa entre os diversos segmentos ou enclaves da sociedade, ordenando-o e regulamentando-o. Guerreiro Ramos (1989) destaca a capacidade do mercado em modelar todo o conjunto da sociedade e que o tipo de organização que o controla tomou ares de paradigma pra a organização social. O Quadro a seguir demonstra como funciona a delimitação dos sistemas sociais. QUADRO 1 - DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS. SER HUMANO DIMENSÃO CONSTITUIÇÃO ESPAÇOS DE EXISTÊNCIA MODELOS DE HOMEM PolíticaRazão Fenonomia Parentético Social Convivial / Comportamento Isonomia Reativo ÚNICO E MULTIDIMENSIONAL Biológica Física Economia Operacional FONTE: SERAFIM (2001) Influenciada pelo mercado, a sociedade acaba por submeter-se também as suas leis, agindo desta forma sobre os diversos espaços da existência humana. Guerreiro Ramos (1996) propõe que os espaços influenciados pelo mercado, sejam limitados e ordenados para que não absorvam a totalidade da vida dos indivíduos. O autor entende que o desenvolvimento de cada ser humano, individualmente, não é uma preocupação das mais essenciais em uma organização empresarial. Desta forma, conforme especificado por Serafim (2001), o sociólogo busca construir um modelo alternativo de pensamento que restaure aquilo que dois séculos de domínio do mercado sobre a sociedade alteraram, os elementos permanentes da vida humana e seus valores centrados no indivíduo. Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 33 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 2.2 OS MODELOS DE HOMEM IDEALIZADOS POR ALBERTO GUERREIRO A condição do ser humano, como um objeto de pesquisa e análise, foi demonstrada por Guerreiro Ramos (1984), quando da publicação no Brasil do artigo “Modelos de Homem e Teoria Administrativa”. O título original deste artigo era “A Ascenção do Homem Parentético”, e neste trabalho o autor evidenciou três modelos de homem. Idealizou-os como portadores do comportamento necessário à plena efetivação e ao entendimento dos modelos produtivos percebidos no século XX. São eles: � Homem Operacional; � Homem Reativo; � Homem Parentético. O homem, como um ser social, desde o advento do industrialismo nos séculos XVIII e XIX, tem vivenciado profundas transformações em sua condição de ser e de atuar no meio em que habita. Houve momentos em que as mudanças se intensificaram, aumentando seu ritmo e despertando maiores atenções e momentos de estabilidade quando estas transformações se solidificam, lançando bases para futuras evoluções. O homem é o personagem das mudanças, seu ator e autor, conforme as necessidades de seu tempo. Pinker (2004) apontou essa condição ao relatar que o ser humano não é um ser abstrato, fora da realidade de seu contexto. Ele é o resultado da sua própria ação, das interações percebidas no mundo e na vida em sociedade. Sendo personagem atuante e condutor das Revoluções Tecnológicas, o ser humano foi influenciado por elas, sofrendo mudanças em seu comportamento e em sua visão da realidade. Não encontrando amparo teórico para que se afirme que cada novo momento da sociedade industrial ou da produção possuiu um modelo especificamente fechado de homem, busca-se identificar qual modelo ideal de homem conjugaria suas qualidades com os determinados paradigmas produtivos industriais que foram percebidos no século XX. Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 34 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) Dissertando disserta sobre a utilização da teoria das possibilidades, Guerreiro Ramos (1983) ressalta a influência recebida de Max Weber, ao estabelecer os seus tipos ideais, e um paralelo pode ser estabelecido com os modelos de homem guerreirianos. Neste momento específico, a ligação desta teoria se dá com os níveis de desenvolvimento das sociedades, mas, em um exercício imaginativo, como a teoria das possibilidades propõe, substituir-se-ia desenvolvimento por homem, resultando no estabelecimento de homens ideais, cujo estudo permitiria um melhor entendimento sobre o tempo e a sociedade em que viveram. Toda a explicação ou interpretação que se baseie unicamente nos aspectos mais evidentes dos fatos não merece o nome de ciência [...] É esse sentido da ênfase de Weber na possibilidade objetiva como instrumento analítico para análise sociológica. Ele utiliza essa categoria não somente para formular “tipos ideiais”, mas também para encontrar uma explicação mais satisfatória dos eventos ocorridos (RAMOS, 1983, p.16). Fundamentado-se em Weber, é justamente uma explicação mais satisfatória sobre o ser humano que Guerreiro Ramos (1984) busca ao estabelecer seus modelos de homem e procura também fazer compreender a sociedade onde floresceram. O autor atuou como um sintetizador das teorias de pensadores anteriores e contemporâneos a ele. Três modelos de homem são evidenciados na sua obra, como já referido. Cada um deles tornou-se mais evidente ou, melhor caracterizado em um determinado período da história, ligado especificamente a um sistema organizacional ou paradigma produtivo, porém os conceitos evidenciados por Guerreiro Ramos (1984) vinculam-se especialmente ao domínio da racionalidade e da capacidade decisória de cada um deles. Neste sentido, é possível encontrar as raízes formativas de um modelo de homem quando teoricamente domina o anterior e quando se estabelece aquele que seria o mais sofisticado de todos, o homem parentético. Desta forma é possível vislumbrar indivíduos e organizações com comportamentos específicos e ainda ligados a paradigmas já ultrapassados. Cada modelo de homem, a exemplo dos modelos produtivos, apresentou características provenientes dos modelos anteriores e trouxe em seu âmago as raízes do modelo Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 35 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) seguinte em um processo dinâmico. Os modelos de homem formam, desta forma, mais uma possibilidade de análise do ser humano, do que exatamente uma fórmula descritiva e absoluta do viver e produzir do homem em determinada época. Os modelos de homem guerreiriano não seriam somente modelos classificatórios de qualidades e especificidades. Da mesma forma que Guerreiro Ramos (1983) afirma não existir um único modelo de industrialização, não existiria um único modelo de homem, em especial nos países em desenvolvimento: O curso da industrialização não obedece a um modelo único, a um padrão determinado. Os paises subdesenvolvidos não necessitam de crescimento em todos os setores “segundo a imagem” de qualquer país desenvolvido (RAMOS, 1983, p.27). Em síntese, os modelos de homem que podem ser vinculados aos paradigmas industriais variam conforme o espaço e o tempo em que são percebidos. Os modelos de homem e produção alteram-se conforme as exigências da produção, da sociedade, do segmento social e da temporalidade. 2.2.1 HOMEM OPERACIONAL O homem operacional, primeira escala na trilogia evolutiva guerreiriana, foi idealizado com base na sociedade industrial ou da produção. Compreende-se a produção industrial como o primeiro degrau na escala de desenvolvimento de uma sociedade que ultrapassa os limites de uma economia natural e agrícola, em busca da sofisticação produtiva, organizacional e social. Guerreiro Ramos (1984) imaginou o homem operacional como personagem de uma sociedade como esta, um homem iniciando sua caminhada em busca de racionalidade mais sofisticada. O modelo produtivo em vigor naquele momento, nas sociedades baseadas na produção industrial e nas organizações preponderantes, exigia um modelo de homem com uma mentalidade mais simples. Um ser humano cuja capacidade decisória não seria ainda profundamente exigida para o desenvolvimento de suas Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 36 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) atividades, sendo capaz de conduzir uma máquina, submetendo-se ao ritmo de trabalho por ela determinado. As operações produtivas eram previamente ordenadas, ao homem cabia operar a máquina ou agir como ordenado. As pessoas atuavam como peças em um mecanismo, substituíveis e descartáveis. O homem operacional submete-se a um sistema administrativo rígido dentro das organizações. As suas praticas produtivas, como as dos demais modelos refletem-se diretamente em seu comportamentosocial. Este hombre es calculador, motivado por recompensas materiales y económicas, según uma visión de la Administracion y de la Teoria de la Administracion Neutra, con indiferencia de lãs nociones de ética, valor y del ambiente externo; las cuestiones de la libertad personal son estrañas em este modelo de esquema de la organización (BEGAZO, 2003, p.60). As características mais perceptíveis do homem operacional foram relacionadas por Guerreiro Ramos (1984). Para ele, tal modelo subsiste em um meio social e produtivo no qual se encontra, submetido a um método administrativo autoritário, que aloca recursos de forma a manter o trabalhador em uma condição de extrema passividade diante dos meios de produção. Esta passividade na qual o homem é mantido e se enxerga, permite que ele seja devidamente programado por especialistas para atuar nas organizações, na mais pura acepção taylorista. A concepção de treinamento nestas organizações e para o homem operacional destina-se como técnica, apenas a proceder os ajustes necessários à adequação do individuo à máquina, obtendo uma maximização da produção. Guerreiro Ramos (1984) evidencia ainda a visão que se tem neste momento do homem operacional: a de que ele representa um ser humano calculista, cuja motivação decorre de recompensas materiais e financeiras. Enxerga-se esse homem como um trabalhador psicologicamente isolado e independente de outros indivíduos. Neste período persiste a crença de que a administração de uma organização seria imparcial, Guerreiro Ramos (1984) afirma ainda que esta crença aplicava-se também à teoria administrativa. Desta forma seriam ambas, administração e teoria administrativa, imparciais, isentas ou neutras. O autor evidencia ainda, nesta Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 37 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) condição, uma indiferença sistemática aos princípios éticos, norteadores da vida em sociedade e aos seus valores, relegados desta forma, das organizações. Ordenações que impliquem em questões ligadas à liberdade pessoal são segregadas do ambiente organizacional e de seu organograma. Um dos pontos principais apresentados por Guerreiro Ramos (1984), em relação ao homem operacional, é a convicção de que o trabalho representa, em sua essência, um adiamento da satisfação, do prazer e da qualidade de vida. Finalmente um concepto de trabajo vinculado a la idea de la satisfaccíon. Punto referente a este concepto de “Hombre Operacional”, es Douglas MacGregor, por su propuesta que llamó Tória X, em la que el trabaljo es considerado com um castigo o punición (BEGAZO, 2003, p. 60). O homem operacional é definido por Begazo (2003) como um trabalhador passivo diante do processo produtivo, que necessita ser programado por um especialista que lhe dirá o que e como fazer. É um mero operador de máquinas a quem não se permite entender os mecanismos muito menos a totalidade do ambiente produtivo em que atua. Begazo (2003) considera ainda que o homem operacional precisa ser treinado e adestrado, motivado por recompensas materiais. O tipo de organização onde o homem operacional atua é administrada como uma máquina. Conforme Wood Jr. (1992), isto significa fixar metas, estabelecendo como elas serão atingidas, organizar e detalhar todas as tarefas e controlar tudo: produção e trabalhadores. Quando de seu surgimento, este tipo de administração foi considerado extremamente inovador, porém sucumbiu à evolução social e organizacional, porém é ainda utilizada. Após dois séculos de industrialização e desenvolvimento capitalista, temos estes valores já interiorizados. Quando do seu surgimento, o gerenciamento cientifico foi visto como a solução para todos os problemas. Ainda hoje muitas industrias, ou mesmo unidades ou departamentos dentro de empresas, encontram na administração cientifica uma resposta para seus problemas (WOOD JR, 1992, p.8). Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 38 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) Desta forma percebe-se que organizações com condições típicas para a manutenção do homem operacional continuam existindo, duzentos e tantos anos após o advento dos industrialismo e quase cem anos após a divulgação das teorias de F. W. Taylor. Se ainda persistem tais organizações, devem persistir também as condições que exigem a permanência e a existência do homem operacional. Guerreiro Ramos (1984) dá sustentação a esta afirmação, ao colocar a permanência, naquele tempo, nos Estados Unidos da América, de organizações que se baseavam no homem operacional e no modelo imediatamente seguinte, o homem reativo: Os modelos reativo e operacional ainda estão influenciando largamente a estrutura dos sistemas sociais e organizacionais deste país [Estados Unidos da América]. No meio intelectual, estes modelos são profundamente criticados, mas nenhuma alternativa de ampla aceitação foi ainda apresentada para eles (RAMOS, 1984, p.06). As condições para a existência de uma organização mecanicista são enumeradas por Wood Jr. (1992): • condições ambientais estáveis; • produtos que sofram poucas mudanças ao longo do tempo; • fator humano previsível. Esta condição de previsibilidade conjuga-se com as condições do homem operacional. Uma organização mecanicista basear-se-á em uma racionalidade funcional ou instrumental, segundo Wood JR. (1992), e isto indicaria o ajuste das pessoas e das funções aos métodos de trabalho ou a projetos organizacionais pré- definidos. A racionalidade substantiva, por sua vez, incentiva a reflexão e a organização, conforme explicitado por Guerreiro Ramos (1984). O quadro analítico a seguir permite que se vislumbrem as diferenças entre as racionalidades substantiva e instrumental em consonância com os processos organizacionais: Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 39 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) QUADRO 2 - TIPOS DE RACIONALIDADE E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS. Tipo de Racionalidade X Processos Organizacionais RACIONALIDADE SUBSTANTIVA RACIONALIDADE INSTRUMENTAL Hierarquia e normas Entendimento Julgamento ético Fins Desempenho Estratégia interpessoal Valores e objetivos Autorealização Valores emancipatórios Julgamento ético Utilidade Fins Rentabilidade Tomada de decisão Entendimento Julgamento ético Calculo Utilidade Maximização de recursos Controle Entendimento Maximização de recursos Desempenho Estratégia interpessoal Divisão do trabalho Autorealização Entendimento Autonomia Maximização de recursos Desempenho Calculo Comunicação e relações interpessoais Autenticidade Valores emancipatórios Autonomia Desempenho Êxito / resultados Estratégia interpessoal Ação social e relações ambientais Valores emancipatórios Fins Êxito / resultados Reflexão sobre a organização Julgamento ético Valores emancipatórios Desempenho Fins Rentabilidade Conflitos Julgamento ético Autenticidade Autonomia Cáculo Fins Estratégia interpessoal Satisfação individual Autorealização Autonomia Fins Êxito Desempenho Dimensão simbólica Autorealização Valores emancipatórios Utilidade Êxito /resultados desempenho Fonte: SERVA (1997, p.24) A compreensão da racionalidade é essencial para o entendimento dos modelos de homem, da forma como foram idealizados por Alberto Guerreiro Ramos. Cada modelo representa especificamente um estágio do homem no estabelecimento e no domínio da racionalidade e da percepção da realidade. Representa também a busca da razão como fundamento das ações humanas. Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 40 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) 2.2.2 HOMEM REATIVO O homem reativo surgiu como umaalternativa ao homem operacional, conforme Guerreiro Ramos (1984), pela primeira vez na primeira metade do século XX. De acordo com Begazo (2003), o homem reativo evidencia-se a partir dos estudos de Hawthorne, no final da década de 1920 e início da de 1930. Estes estudos deram origem à Escola de Relações Humanas, pala qual o homem é considerado muito mais complexo do que supunham os pensadores tradicionais. Para Guerreiro Ramos (1984), os humanistas possuíam uma visão mais sofisticada do homem e da natureza de sua motivação e, em oposição aos operacionalistas, eles não relegavam o ambiente externo à organização, definindo-a como um sistema social aberto. Os humanistas perceberam que os valores, sentimentos e atitudes desempenham um papel importante e influenciam o processo de produção. Seu modelo idealizado de homem é o seguinte: O modelo de homem desenvolvido pelos humanistas pode ser chamado de “homem reativo”, com tudo que o termo envolve. Para os humanistas, como também para os seus antecessores, o sistema industrial e a empresa funcionam como variáveis independentes (RAMOS, 1984, p.5). Os humanistas enxergavam o trabalhador como um ser reativo. Para Guerreiro Ramos (1984) isto significa que seu principal objetivo era ajustar o individuo ao seu contexto de trabalho, não procurando desenvolvê-lo individualmente. O modelo de homem reativo é fruto de uma nova visão da motivação e da constatação da influência de seus sentimentos e valores no espaço de produção econômica ou organizacional. [...] O homem reativo se caracteriza pela adaptabilidade às normas do grupo institucional; pela subordinação aos ditames do grupo informal e adaptabilidade ao meio. Constitui uma categoria que expressa a adaptabilidade e a sociabilidade do ser humano, imergindo-o no grupo e subordinando-o a ele. O espaço do homem reativo é a economia, a burocracia, ou seja, o ambiente de massas ou grupos sociais maiores. Ele também Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 41 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) pertence, eventualmente, aos espaços isonômicos ou conviviais (SERAFIM, 2001, p.5). A utilização dos conceitos de relações humanas resultou na inserção total do individuo na organização. Como informa Pizza Jr. (2007), a mudança do conceito de homem operacional para homem reativo, provoca na verdade a mudança apenas no enfoque que é dado a este novo modelo:as conseqüências dos relacionamentos entre os indivíduos não sofreram alterações. Ao enfocar o trabalhador como reativo, os pensadores humanistas destacavam apenas o seu ajustamento ao contexto produtivo, desconsiderando o crescimento individual. A perfeita integração do individuo à organização esbarra ainda neste momento na questão da racionalidade substantiva e objetiva, conforme já explicitado. 2.2.3 HOMEM PARENTÉTICO O homem parentético é o estágio mais sofisticado da teoria guerreiriana: este modelo de homem poderia dotar a teoria administrativa do nível de sofisticação conceitual necessário ao enfrentamento de questões relacionadas a às tensões entre os tipos de racionalidade. Guerreiro Ramos (1984) preocupava-se com a dinâmica dos novos tempos sem que o mercado influenciasse cada vez mais as estruturas sociais. O homem parentético idealizado por ele e relatado por Begazo (2003) diferencia-se dos modelos anteriormente discutidos (operacional e reativo), por possuir uma criticidade maior e melhor desenvolvida. Sua percepção sobre os aspectos relacionados a sua existência e ao conjunto de suas ações e conduta diárias também tem uma dimensão ampliada. O homem parentético supera os limites que eram impostos aos modelos anteriores. O adjetivo parentético deriva diretamente da noção retirada de Husserl, “em suspenso” e “entre parênteses”, conforme explicitado por Guerreiro Ramos (1984). A atitude de exercício da crítica, segundo o autor, permite ao ser humano suspender- se ou mesmo colocar entre parênteses o entendimento imediato do mundo comum, Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 42 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) fazendo com que o indivíduo alcance um nível mais elevado do pensamento, ou nível conceitual, representando desta forma uma maior liberdade. Ao procurar entender sua própria existência, o ser humano necessita isolar-se de tudo aquilo que lhe aflige, assusta, comove ou mesmo agrada. A solução para a dúvida humana encontra-se, conforme Guerreiro Ramos, no desenvolvimento da racionalidade. O home parentético domina a razão e a criticidade de uma forma muito mais profunda e sofisticada que os modelos anteriores. Essa afirmação é uma das premissas do pensamento guerreiriano, ao lado da busca latente pelo conhecimento. O homem parentético consegue abstrair-se do fluir da vida diária, para examiná-lo e avaliá-lo como um espectador; Ele é capaz de distanciar-se do meio que lhe é familiar; Ele tenta deliberadamente romper suas raízes e ser um estranho em seu próprio meio social, de maneira a maximizar sua compreensão desse meio (RAMOS, 1984, p.6). Guerreiro Ramos (1984) explora essa capacidade de pensar do ser humano, suas habilidades perceptíveis e investigatórias da realidade, buscando desta forma despertar o estado de dúvida. É a busca por respostas que torna o ser humano especial. A busca por conhecimento torna-se latente: Como essa criatura chamada homem pôde colocar "todo" o mundo entre parênteses, se ela nunca esteve fora do mundo? Não temos realmente a experiência de ficar “fora” dos nossos sentidos, das nossas memórias e imaginações, muito menos dos nossos próprios pensamentos -- simplesmente não temos essa experiência. Se não temos essa experiência, de onde obtivemos a possibilidade de concebê-la e de tentar colocar- nos neste estado, mesmo que não consigamos? Neste sentido, é claro que nenhum outro animal, além do homem, experimenta esse estado (CARVALHO, 2007, p.4). Este estado ou condição parentética é a razão ou o seu exercício prático. A racionalidade e a criticidade conduzem ao conhecimento. Guerreiro Ramos (1984) buscou em Husserl a base da racionalidade que define seus modelos de homem. Em Husserl ele encontra a fenomenologia. Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 43 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) Carvalho (1998), discorre sobre as conexões entre o pensamento de Descartes e Husserl, procurando apontar a importância da fenomenologia do filósofo alemão. Husserl vai tornar a dúvida cartesiana um processo muito mais preciso, muito mais detalhado. Comparar a dúvida cartesiana com a suspensão, como a chama Husserl -- a epokhé, com a qual ele coloca tudo entre parênteses -- é mais ou menos como comparar um relógio de areia com um relógio suíço a quartzo: a máquina se tornou muito mais precisa, mas a função continua exatamente a mesma. Essa análise realizada aqui valeria tanto para Husserl quanto para Descartes. Husserl chegava a dizer que o que ele chama de atitude fenomenológica é não só diferente, mas é radicalmente oposta à atitude natural. A atitude natural é crer no que se pensa, crer no que se sente, crer no que se imagina. Crer ou descrer: ou afirmamos, ou negamos, mas em ambos os casos cremos: cremos na afirmação ou na negação. Ora, a atitude fenomenológica não afirma nem nega, ela simplesmente descreve o que está se passando diante da nossa consciência, ou seja, o próprio conteúdo intencional do ato cognitivo é observado por nós, sem que o afirmemos ou neguemos (CARVALHO, 2007, p.6-7). A fenomenologia de Husserl traduz uma atitude oposta à condição natural do ser humano, quando se acredita naquilo que se pensa, naquilo que se sente e imagina, ou ainda na sua negação. Para Carvalho (2007), a atitude fenomenológica não afirma nem nega coisa alguma, ela simplesmente descreveaquilo que passa da consciência humana. As condições e circunstâncias sociais encontradas nas sociedades industriais mais avançadas no início da década de 1970, sendo os Estados Unidos da América seu mais expressivo exemplo, favorecia o desenvolvimento de comportamentos, atitudes e posturas parentéticos. A atitude parentética é definida como a capacidade psicológica do indivíduo de separar a si mesmo de seu ambiente interno e externo. Os homens parentéticos prosperam quando termina o período da ingenuidade social. Por isso, a sociedade “informada” é o ambiente natural do homem parentético (RAMOS, 1984, p.8). Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 44 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) Azevedo (2006) afirma que o homem parentético é um modelo útil às ciências sociais, especialmente no que tange à avaliação do projeto de funcionamento das organizações e dos sistemas sociais. Este modelo não se resumiria apenas ao seu caráter avaliativo, pois contempla elementos capazes de conduzir analistas e planejadores de sistemas sociais a imaginar uma infinidade de novos tipos de organizações. Azevedo (2006) destaca que estas seriam organizações direcionadas a atender às aspirações de realização e desenvolvimento dos seres humanos. Conforme este autor, Guerreiro Ramos elaborou três advertências com o intuito de auxiliar o entendimento sobre o homem parentético: 1. o modelo de homem parentético não é descritivo, desta forma não deve ser aplicável a um individuo considerado isoladamente, sua essência é puramente normativa; 2. o homem parentético é uma possibilidade consistente nas sociedades contemporâneas. Sua existência pode ser concretizada uma vez que estas sociedades possuem condições adequadas ao desenvolvimento e efetivação deste modelo de homem; 3. o homem parentético não representa uma conformidade ao meio em que coexiste, dificultando assim a sua explicação pela psicologia do ajustamento. Considerando estas advertências, o homem parentético guerreiriano pode ser definido como um ser racional que se empenha em atualizar de forma constante as suas potencialidades. O entendimento das concepções de Guerreiro Ramos trilha um caminho em torno da razão, sua construção, entendimento e manutenção. O domínio da razão em sua opinião permitirá ao ser humano entender e transformar a sociedade. Além dessa característica do homem parentético (um ser de razão), outra merece destaque especial: o seu incessante empenho na atualização de suas potencialidades humanas. Dessa forma, as noções de realização pessoal (personal actualization), auto-realização (self-actualization) e crescimento pessoal (personal growth) são essenciais para a compreensão de homem em Guerreiro Ramos, embora ele as tenha apresentado de maneira um tanto quanto confusas, principalmente em seu último livro, onde procurou esclarecer Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 45 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) melhor alguns de seus conceitos. De todo modo, era sua opinião que um dos principais obstáculos para a compreensão do tipo parentético de homem e de seu modo de vida estaria na própria ciência que se preocupa em estudar o comportamento humano – a psicologia (AZEVEDO, 2006, p.14). Para atingir a sua realização pessoal e profissional e o conseqüente crescimento pessoal, tornou-se essencial ao homem parentético a manutenção de uma criticidade em relação ao seu meio, permitindo o uso constante da razão, mas uma crítica isenta, não comprometida com os aspectos pessoais da existência humana. Carvalho (1998) coloca que o primeiro passo da investigação filosófica, da busca do conhecimento, é isolar-se ou suspender-se do objeto de estudo ou daquilo que se procura compreender. “Quase tudo o que os filósofos descobriram ao longo dos milênios foi estranhando coisas que o hábito nos faz esquecer que são estranhas” (CARVALHO, 1998, p.4). O homem parentético desenvolve a capacidade dos filósofos de estranhar aquilo que lhe é corriqueiro e coloca-se mentalmente fora da realidade que busca entender. Desta forma, nas sociedades industriais mais avançadas, o homem coloca-se “entre parênteses”, pode estranhar esta realidade, conduzindo sua investigação, como procederam no passado diversos indivíduos que se destacaram em suas atividades: Os padrões de comportamento, que apenas existem em forma residual nas sociedades em estágios anteriores de evolução, tendem agora a se tornar universais nas sociedades industriais avançadas. De fato, no passado, esses padrões de comportamento podiam ser encontrados apenas em indivíduos excepcionais. Sócrates, Bacon e Maquiavel, por exemplo, tinham a capacidade psicológica, [...] de ‘diferenciar o eu do mundo interior do eu do mundo em volta’, o que os tornava capazes de perceber suas respectivas sociedades como arranjos precários. Enquanto a massa da população, nas sociedades menos evoluídas, interpretava a si própria e a realidade social de acordo com as definições convencionalmente estabelecidas, estes pensadores tiveram a capacidade de suspender suas circunstâncias internas e externas, podendo assim examiná-las com visão crítica. Esta claramente se qualifica como uma capacidade parentética. De fato, a suspensão equivale aqui a pôr as circunstâncias ‘entre parênteses’ (RAMOS, 1984, p.6). Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 46 PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007) Guerreiro Ramos pondera sobre as características parentéticas. Um comportamento e práticas que no passado eram domínios exclusivos de certos indivíduos podem no final do século XX, ser aplicados para a caracterização de toda uma sociedade. Portanto o autor enumera as qualidades do homem parentético que seriam necessárias ao novo tempo, além de toda a suspensão e estranhamento básicos ao entendimento deste modelo: Esse quarto homem não se empenharia em excesso para ser bem sucedido segundo padrões convencionais, como o faz o alpinista. Ele teria um grande senso de individualidade e uma forte compulsão por encontrar sentido para sua vida. Não aceitaria padrões de desempenho sem um senso crítico, embora possa ser um grande realizador quando lhe forem atribuídas tarefas criativas. Ele evitaria trabalhar apenas com o intuito de fugir à apatia ou à indiferença, pois o comportamento passivo ofenderia seu senso de auto-estima e autonomia. Empenhar-se-ia no sentido de influenciar o ambiente, para retirar dele tanta satisfação quanto fosse capaz. Seria ambivalente em relação à organização [...] Sua ambivalência qualificada decorreria de seu entendimento de que as organizações têm que ser tratadas de acordo com seus próprios termos relativos, já que elas são limitadas por sua racionalidade funcional (RAMOS, 1984, p.8). A necessidade de comportamentos parentéticos justifica-se, de acordo com Begazo (2003), pelo fato de ser o mundo contemporâneo composto por ambientes turbulentos, que se modificam muito rápida e profundamente. Essa característica torna necessário que existam organizações empresariais flexíveis, ágeis e que acima de tudo sejam capazes de operar mudanças em sua estrutura de maneira rápida e eficaz. Logo, é preciso que as empresas que sejam capazes de entender o mercado e a sociedade que constitui esse mercado. Um exemplo significativo de uma organização empresarial do Futuro foi dada por Wood Jr (1992), quando fez uma comparação desta empresa com uma banda de jazz. Talvez o modelo de organização do futuro esteja ainda mais próximo de uma banda de jazz. Uma forma musical surgida em nosso século, caracterizada pela utilização de escalas africanas com harmonias européias, pela pequena ou quase nenhuma importância do maestro – substituído pela primazia Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 47 PPGEP – GESTÃO
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