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Teoria geral da administração I ANDRÉIA CRISTINA ALMEIDA CLEBER GONZAGA 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Andréia Cristina Almeida Cleber Gonzaga Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4 Introdução ..............................................................................................................................................................................6 Capítulo 1 Antecedentes Históricos da Administração ..........................................................................................................7 Capítulo 2 O Papel do Administrador e suas Competências ............................................................................................. 14 Capítulo 3 Escola Clássica da Administração ......................................................................................................................... 23 Capítulo 4 Teoria das Relações Humanas e Teoria Estruturalista ................................................................................... 35 Capítulo 5 Abordagens Neoclássica e Comportamental .................................................................................................... 55 Capítulo 6 Abordagens Sistêmica e Contingencial .............................................................................................................. 84 Referências ........................................................................................................................................................................100 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORgANIzAçãO DO LIvRO DIDáTICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução A disciplina de Teoria Geral da Administração é essencialmente teórica e vasta, pois ela resgata toda a história da Administração, perpassando alguns milhares de anos, apontando seus conceitos, teorias, fundamentos e fatos marcantes que fomentaram a construção e a solidificação de uma ciência e de uma profissão reconhecida nos dias atuais. A ideia deste Livro Didático é levar ao estudante um conteúdo resumido e de fácil compreensão dos conceitos das principais teorias da Administração e, com isso, promover uma iniciação ao estudo da Administração de Empresas, de forma linear e consistente. O Livro Didático trata as teorias da Administração com a seguinte organização: Primórdios da Administração; Abordagem Clássica da Administração; Abordagem Humanística da Administração; Abordagem Estruturalista da administração; Abordagem Neoclássica da Administração; Abordagem Comportamental da Administração; Abordagem Sistêmica da Administração e Abordagem Contingencial. Cada capítulo foi desenvolvida de maneira a propiciar uma linguagem dialógica com o leitor, com o objetivo de facilitar o seu processo de aprendizagem. Buscamos contextualizar cada época em que foram desenvolvidas as respectivas teorias, seus principais precursores e características. Ao longo de cada capítulo, o aluno será estimulado a refletir sobre os assuntos tratados, de modo a fazer uma associação entre teoria e prática que resultará na sua melhor compreensão da realidade empresarial. Os conhecimentos tratados nesta disciplina são fundamentais para os futuros administradores, bem como para os profissionais de áreas correlatas, ligadas à Gestão como Recursos Humanos, Logística, Marketing, Gestão Pública e Hospitalar. Objetivos Este Livro Didático tem como objetivos: » Compreender os antecedentes históricos da Administração e, também, o panorama da realidade atual em que as organizações estão inseridas. » Analisar e relacionar as teorias administrativas com seus respectivos precursores e características principais. » Entender a dinâmica empresarial a partir do conhecimento do processo administrativo. 7 Apresentação Neste primeiro capítulo, serão apresentadas ao aluno as contribuições de alguns filósofos na formação da ideia administrativa, assim como a importância da Revolução Industrial e suas consequências de ordem econômica e social; as influências dos economistas liberais e os avanços conseguidos por grandes empreendedores ao longo da recente história da disciplina. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Compreender o início da construção da Teoria Geral da Administração. » Destacar o papel da Administração na atualidade. » Compreender a dinâmica administrativa e sua influência no cotidiano. Administração na história A Administração como ciência teve seu marco histórico no início do século XX, com a publicação do livro Shop Management (Administração Fabril), por Frederick W. Taylor, mas a Administração começou a ser talhada há milênios, desde os primeiros agrupamentos humanos, quando os homens, os “administradores” do passado enfrentaram problemas práticos e precisaram resolvê-los. Nesse contexto, elementos relacionados à Administração são facilmente encontrados na história da humanidade, como: Previsão ou Planejamento de médio e longo prazo; Contabilidade; Comércio e Escambo; Pensamento Logístico (suprimentos); Poder e Comando; Hierarquia; Doutrina; Controle; Registro e Análise de Informações; Democracia; Qualidade, entre outros. Segundo Maximiano (2009), uma provável origem dessa história seria aproximadamente há 6.000 anos, na Mesopotâmia, região do oriente Médio, durante o período chamado de Revolução Urbana. Foi nessa época em que surgiram as cidades, que precisaram de administradores e obras públicas. Esses administradores fizeram as cidades e as grandes obras públicas, dando origem 1 CAPÍTULO ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ADMINISTRAçãO 8 CAPÍTULO 1 • ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ADMINISTRAçãO aos mesmos princípios e técnicas queconhecemos hoje, e que se estabilizaram e evoluíram nos séculos seguintes. Como característica da região, a abundância de água (Rio Nilo), contribuiu para a “sociedade de irrigação”, que consistia em pequenas comunidades autossuficientes interligadas. A responsabilidade de coordenar esse esforço coube aos que exerciam funções sacerdotais. Os sacerdotes-reis mandaram construir templos que se transformaram em centros de administração. Nesses centros trabalhavam funcionários que faziam anotações no vasto arquivo de placas de argila que ficou para a posteridade e encontramos em museus. Nos registros constam recebimentos, armazenamento e desembolso de produtos, sendo uma espécie embrionária de contabilidade. A parte excedente da produção agrícola era usada para pagar os servidores do templo e financiar o comércio na forma de escambo. Nesse período, então, foram criadas a aritmética, a escrita e a Administração Pública. » No Egito, por volta de 3100 a.C até o início da era cristã, o modo de vida estava baseado no ciclo de inundação do Rio Nilo, dando origem à mentalidade orientada ao planejamento de longo prazo. As pirâmides são o mais conhecido exemplo de competência administrativa dos egípcios dessa época. Para construir as pirâmides, eles resolveram problemas gigantescos de administração e engenharia. A grande pirâmide de Quéops é feita de 2.300.000 blocos de pedra, com peso médio de 2,5 toneladas cada bloco. Originalmente, tinha 146,5 metros de altura e 230 metros em cada um de seus lados. Estima-se que 100.000 pessoas tenham trabalhado em sua construção, entre 2.589 e 2.566 a.C. Na média, a construção da pirâmide envolveu a movimentação de cerca de 270 blocos de pedra de 2,5 toneladas, todos os dias, durante 23 anos. Outra evidência do planejamento egípcio era a organização militar, que consistia em um exército regular, assalariado, e uma rede de fortes para a proteção do reino. Todos os fortes continham grandes celeiros, suficientes para suprir várias centenas de homens durante um ano. Provavelmente eram abastecidos por um centro de suprimentos de retaguarda, dando origem à logística. » Na China, Sun Tzu é um autor chinês que escreveu no século IV a.C o tratado A arte da guerra, que recomenda evitar a batalha, intimidar psicologicamente o inimigo e usar o tempo, em vez de força, para desgastá-lo e atacá-lo quando estivesse desprevenido. Esse livro sobreviveu à passagem dos séculos por tratar de princípios fundamentais permanentes, sobre planejamento, comando, doutrina, informação etc., tornando-se um manual necessário até os dias atuais. No ano de 221 a.C, com a unificação da China, ocorreram projetos importantes. O primeiro foi a construção de uma rede de estradas. O segundo foi a conclusão das muralhas que protegiam as fronteiras do norte. Centenas de milhares de pessoas foram empregadas nesse empreendimento, que é provavelmente o maior projeto da história. Em cerca de 10 anos, foram construídos 1.500 quilômetros de muralha. Outra mudança foi a abolição do feudalismo e a instituição de uma burocracia estatal, baseadas na meritocracia de Confúcio. Ou seja, para ingressar no governo era necessário mérito e não berço, dando origem à preocupação com o profissionalismo na Administração Pública. 9 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 1 » Na Grécia, os gregos influenciaram na Administração com os temas: Democracia, estratégia, igualdade de todos perante a lei, ética na administração pública, raciocínio metódico e qualidade, iniciando esse processo no século V a.C. › Democracia: a democracia ateniense teve por base a igualdade de todos perante a lei e procurou fazer o povo governar a si próprio. A participação direta na reunião periódica, chamada de assembleia, era o instrumento da democracia. Os altos funcionários do Estado, os estrategos (generais) e os membros de comissões temporárias eram eleitos, quebrando, assim, a cultura de governar para a aristocracia. › Método: outra contribuição dos gregos é o método de procurar o verdadeiro conhecimento sobre a natureza do universo e do ser humano por meio da investigação sistemática, em lugar da explicação mitológica. O filósofo Aristóteles entendia que o conhecimento começa com o estudo da realidade. Essa é a perspectiva empírica, que se encontra na base das experiências científicas. › Qualidade: a preocupação com o bom e o belo, as proporções das formas na escultura e nas construções, a virtude, as normas éticas absolutas e a hospitalidade são exemplos de princípios de qualidade. Entre os gregos, qualidade era o ideal da excelência. Excelência é a característica que distingue algo pela superioridade em relação aos semelhantes. » Roma: a história de Roma cobre o período entre os séculos III a.C e IV d.C. Em seu auge, Roma controlava uma população de 50.000.000 de pessoas num vasto território que ia desde a Inglaterra até o norte da África. Princípios e técnicas de Administração construíram e mantiveram o Império Romano durante 12 séculos. Além do império multinacional e do avançado exército em termos organizacionais, Roma também é marcada pelas grandes empresas privadas – os coletores de impostos arrendavam o direito de recolher impostos das colônias e remuneravam o Estado. Para explorar esse mercado, criaram-se grandes empresas sob a forma de sociedade por ações. As assembleias de acionistas escolhiam um presidente, que era assessorado por um conselho administrativo. » Renascimento: é o período que se iniciou em seguida à Idade Média, no século XV, na Itália e se irradiou para toda a Europa. Foi movido por valores humanistas, como a melhoria da condição individual, o desenvolvimento pessoal e a retomada dos conceitos éticos dos gregos. Das inúmeras ideias renascentistas a respeito da Administração, as de Maquiavel estão entre as mais influentes. Sua obra mais conhecida é uma carta que virou livro, O Príncipe, na qual faz recomendações sobre como um governante deve se comportar. O nome Maquiavel ficou conhecido como sinônimo de esperteza mal-intencionada, que é o sentido o adjetivo maquiavélico. Isso se deu pela popularização de certos princípios simplificados, como: » Se tiver que fazer o mal, o príncipe deve fazê-lo de uma só vez. O bem deve fazê-lo aos poucos. » O príncipe terá uma só palavra. No entanto, deverá mudá-la sempre que for necessário. 10 CAPÍTULO 1 • ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ADMINISTRAçãO » O príncipe deve preferir ser temido do que amado. » Os fins justificam os meios etc. Maquiavel pode ser entendido como um analista do poder e do comportamento dos dirigentes em organizações complexas. Se tivesse vivido na segunda metade do século XX, certamente seria um escritor de textos de Administração e liderança. A conotação negativa relacionada a seu nome é injusta, tendo em vista suas ideias, como: » A primeira qualidade do príncipe é a qualidade dos homens que o cercam. (Ressaltando a importância da competência administrativa e do trabalho em equipe). » A aprovação dos governados é essencial para o sucesso dos governantes. (Maquiavel tinha profunda compreensão da teoria da aceitação da autoridade). Para ele, os dirigentes deveriam procurar sempre ganhar o apoio das massas para manter seu poder e a estabilidade do Estado. Desde os remotos tempos da Mesopotâmia até o Vale do Silício, essa ciência vem sofrendo mudanças e adaptando-se aos novos paradigmas. Para resumir um pouco essa história, vale a pena ler o texto publicado na Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 2, na qual encontraremos detalhes sobre o surgimento e o crescimento da Administração. Saiba mais A Administração, como atividade relacionada com a cooperação humana, sempre existiu. O estudo científico da Administração, porém, é bem mais recente. Historicamente, contudo, a Administração foi estudada em todos os tempos, embora com percepções, intensidade e métodos variados. Assim, quando os antigos sumérios procuravam a melhor maneira de resolverseus problemas práticos estavam, na realidade, exercitando a arte de administrar. No Egito ptolomaico dimensionou-se um sistema econômico planejado que não poderia ter-se operacionalizado sem uma administração pública sistemática e organizada. Na velha China de 500 a.C., os trabalhos de Mencius (ch. Meng-tzu) advogavam a necessidade de se adotar um sistema organizado de governo para o império; a constituição de Chow, com seus oito regulamentos para governar os diferentes setores do governo e as Regras de Administração Pública de Confúcio, de que se destacava a necessidade de um conhecimento da realidade objetiva para bem governar, exemplificam a tentativa chinesa de definir regras e princípios de Administração. Apontam-se outras raízes históricas. As instituições otomanas refletiam um sistema altamente aperfeiçoado de Administração. Pode-se inferir, graças à expansão atingida pelo império romano e à forma como eram administrados seus grandes feudos, que os romanos souberam manipular uma complexa máquina administrativa, indício de desenvolvimento considerável de técnicas administrativas. Na Idade Média, os prelados católicos e os próprios párocos destacaram- se como administradores. De 1550 a 1700 desenvolveu-se, na Áustria e na Alemanha, um grupo de professores e administradores públicos: os fiscalistas ou cameralistas. Tal como os mercantilistas britânicos ou fisiocratas franceses, valorizavam a riqueza física e o Estado. Sua preocupação ia mais além, pois ao lado das reformas fiscais preconizavam uma administração sistemática, especialmente no setor público. Na história da Administração, duas instituições merecem ser mencionadas: a igreja católica romana e as organizações militares. A igreja católica romana pode ser considerada a organização formal mais eficiente da civilização ocidental. Tem atravessado séculos e sua forma primitiva tem permanecido mais ou menos a mesma: um chefe executivo, um colégio de conselheiros, arcebispos, bispos, párocos e a congregação de fiéis. 11 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 1 Podemos notar que a Administração constitui-se de unificações de ideias. Não se tem um fundador ou maior pensador, mas, sim, diversas mentes que cunharam a Administração uma ciência. As ideias dos filósofos e pensadores antigos e modernos foram postas em prática durante uma nova fase do surgimento da Administração, talvez a mais importante de todas, a Revolução Industrial. Aqui são observadas mudanças significativas no pensamento social e nos processos produtivos, como veremos a seguir. Influência da revolução industrial A Revolução Industrial teve seu início na Inglaterra, no final do século XVIII. Ela provocou transformações na estrutura social, política e econômica. Neste período, percebemos a passagem do capitalismo comercial para o industrial e, posteriormente, para o capitalismo financeiro, assim como mudanças na concepção do trabalho. Apoiada não só na força de atração de seus objetivos, mas, também, na eficácia de suas técnicas organizacionais e administrativas, a igreja tem vivido às revoluções do tempo e oferecido um exemplo de como conservar e defender suas propriedades, suas finanças, rendas e privilégios. Sua rede administrativa espalha-se por todo o mundo e exerce influência, inclusive, o comportamento dos fiéis. A organização de exércitos nacionais tem-se constituído numa das principais preocupações do Estado moderno. O exército aparece nos tempos modernos como o primeiro sistema administrativo organizado. Substituiu as displicentes ordens de cavaleiros medievais e, posteriormente, os exércitos mercenários que proliferaram nos séculos XVII e XVIII. O exército moderno se caracteriza não só por uma hierarquia de poder, que vai desde o comandante em chefe até o último soldado, como também pela adoção de princípios e práticas administrativas comuns a todas as empresas modernas. Malgrado todos esses momentos históricos, é difícil precisar até que ponto os homens da Antiguidade, da Idade Média e, até mesmo, do início da Idade Moderna foram conscientes de que estavam administrando. Há, hoje em dia, uma interação muito grande entre a Administração e as Ciências Sociais, particularmente o Direito, a Ciência a Política, a Economia, a Sociologia, a Psicologia Social e Antropologia. Sob o impacto e influência das Ciências Sociais, a Administração desenvolveu a engenharia humana, com ênfase em como executar racionalmente coisas, para a Ciência Social Aplicada, em que a decisão racional constitui a variável fundamental. Observa-se essa evolução mais nitidamente quando se identificam as principais escolas, orientações e abordagens seguidas pelos estudiosos da Administração, quer pública, quer particular, nas várias tentativas já efetivadas para a formulação de uma teoria administrativa. Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional/Vol. 2 Saiba mais O pioneirismo da Inglaterra A Inglaterra industrializou-se cerca de um século antes de outras nações, por possuir uma série de condições históricas favoráveis dentre as quais, destacaram-se: a grande quantidade de capital acumulado durante a fase do mercantilismo; o vasto império colonial consumidor e fornecedor de matérias-primas, especialmente o algodão; a mudança na organização fundiária, com a aprovação dos cercamentos (enclousures) responsável por um grande êxodo no campo, e, consequentemente, pela disponibilidade de mão de obra abundante e barata nas cidades. 12 CAPÍTULO 1 • ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ADMINISTRAçãO Em seu sentido mais pragmático, a Revolução Industrial significou a substituição da ferramenta pela máquina. Os movimentos que acompanharam a trajetória da Revolução Industrial foram a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa. A influência dos princípios dos Iluministas foi marcante nessa passagem, eles assinalaram a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Suas maiores influências estão ligadas à economia e ao processo social. É importante lembrar que, nesse período, a produção artesanal estava sob controle das corporações de ofício, assim como o comércio também se encontrava sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção. A manufatura predominou ao longo da Idade Moderna, resultando da ampliação do mercado consumidor com o desenvolvimento do comércio monetário. Nesse momento, já ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido à divisão social da produção, em que cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um produto. A ampliação do mercado consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao Oriente como em direção à América, permanecendo o lucro nas mãos dos grandes mercadores. Outra característica desse período foi a interferência do capitalista no processo produtivo, passando a comprar a matéria-prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os principais mercados consumidores. A partir da máquina, fala-se numa primeira, numa segunda e até numa terceira e quarta Revolução Industrial. Porém, se concebermos a industrialização como um processo, seria mais coerente falar num primeiro momento (energia a vapor no século XVIII), num segundo momento (energia elétrica no século XIX) e num terceiro e quarto momentos, representados, respectivamente, pela energia nuclear e pelo avanço da informática, da robótica e do setor de comunicações ao longo dos séculos XX e XXI, porém aspectos ainda discutíveis. Saiba mais Desdobramentos econômicos O artesanato era a forma de produção característica da baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão) possuía os meios de produção (era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final; ou seja, não havia divisão do trabalho ou especialização.13 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 1 Podemos dizer que a organização e a empresa moderna nasceram com a Revolução Industrial devido a alguns fatores como: » a ruptura das estruturas corporativas da Idade Média; » o avanço da tecnologia e a aplicação das descobertas científicas à produção; » o descobrimento de novas formas de energia e a grande ampliação dos mercados; » a substituição do tipo artesanal por um tipo industrial de produção. Resumo Neste capítulo inicial pudemos perceber a influência de elementos voltados à Administração, de forma diluída em diversos fatos da humanidade, principalmente na explanação de Maximiano quanto à origem da Administração e sua viabilidade no desenvolvimento das cidades. No entanto, a Revolução Industrial apresenta a substituição do trabalho artesanal e ilustra a industrialização e seus desdobramentos sociais. Saiba mais DESDOBRAMENTOS SOCIAIS A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando, inicialmente, um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção. Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, o operariado nascente era facilmente explorado, devido, também, à inexistência de leis trabalhistas. O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão de obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. O agravamento dos problemas socioeconômicos, com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo. O divórcio entre é representado socialmente pela polarização entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime. Disponível em: <http://www.historianet.com.br>. 14 Apresentação Para tornar possível seu desenvolvimento e competitividade no mundo corporativo, é essencial que o administrador possua algumas habilidades e, sobretudo, competências vitais para elucidação de soluções. Neste segundo capítulo o aluno será conduzido a uma reflexão quanto aos novos desafios de um cenário globalizado e em constante evolução. Objetivos » Compreender os desafios que ilustram a prática de Administração no cenário atual. » Perceber a importância do desenvolvimento das habilidades necessárias a qualquer gestor. » Vislumbrar a influência das competências duráveis no desenvolvimento profissional do administrador. » Observar a contribuição de Peter Drucker para Administração moderna. Perspectivas da administração O processo de internacionalização dos negócios, a globalização da economia e o avanço tecnológico têm provocado grandes transformações não apenas no âmbito da economia, mas, também, no dia a dia corporativo, no cotidiano da sociedade e na organização do trabalho. Diversos fatores, como pressões legais, normativas, mercadológicas e até a elevação da criticidade do consumidor, influenciaram o aumento da produtividade e da qualidade de empresas e produtos, tornando-se necessidades competitivas de interesse global, não apenas em relação a bens produzidos e a serviços prestados pelas organizações, mas, também, como um requisito para que elas se mantenham em um mercado caracterizado por concorrências mais acirradas e por interferências em nível mundial. 2 CAPÍTULO O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS 15 O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS • CAPÍTULO 2 A internacionalização dos negócios, o fenômeno da globalização, a necessidade de produtividade e qualidade podem parecer distantes da realidade de muitas pessoas. No entanto, esses fatores podem ser observados no nosso cotidiano. Ao comer em uma lanchonete de fast-food no México, cuja matriz é norte-americana, ao calçar uma sandália de dedo brasileira na França ou utilizar um processador de última geração, desenvolvido nos Estados Unidos e produzido em Hong Kong, temos exemplos claros desse novo quadro. Diante desse cenário, percebe-se a necessidade de uma nova postura do administrador, que precisará desempenhar papéis diversos além de desenvolver habilidades e competências. Alguns aspectos podem ser impulsionadores da transformação organizacional, obrigando o administrador às adaptações necessárias. Entre esses aspectos podem ser destacados: » Mudanças rápidas e inesperadas no mundo dos negócios nos campos do conhecimento e da explosão populacional, impondo novas e crescentes necessidades às quais as atuais organizações não têm condições de atender. » Crescimento e expansão das organizações que se tornam complexas e globalizadas. » Atividades que exigem pessoas de competências diversas e especializadas envolvendo problemas de coordenação e, principalmente, de atualização em função das rápidas mudanças. O novo desenho do mundo dos negócios torna certo que o gestor estará diante da administração das incertezas. Os problemas de hoje em dia são multifacetados e mais complexos que no início do século XX, quando a concorrência era menos acirrada e as indústrias estavam em fase de desenvolvimento. Portanto, não havia tantos produtos similares no mercado e a qualidade era pouco exigida. Conforme Chiavenato (2003, pp. 15-16), vários fatores deverão provocar profundos impactos sobre as organizações e empresas, entre eles se destacam: » Crescimentos das organizações. As organizações bem-sucedidas tendem ao crescimento e à ampliação de suas atividades, seja na expansão de mercados, seja no volume de operações. O crescimento é uma decorrência inevitável do êxito organizacional. Na medida em que a organização cresce, ocorre uma subdivisão interna (divisão do trabalho) e especialização dos órgãos e, em decorrência, maior necessidade de coordenação e integração das partes envolvidas para garantir a eficiência e a eficácia. O mundo externo é caracterizado por mudanças rápidas e frequentes e, para acompanhar com sucesso essas mudanças, os administradores “generalistas” dotados de habilidades genéricas variadas terão perspectivas mais promissoras do que os administradores “especialistas” e concentrados em poucas habilidades gerenciais. 16 CAPÍTULO 2 • O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS » Concorrência mais aguda. Na medida em que aumentam os mercados e os negócios, crescem também os riscos da atividade empresarial. O produto ou o serviço que demonstra ser melhor ou superior será o mais procurado. O desenvolvimento de produtos ou serviços exigirá maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento, aperfeiçoamento de tecnologias, dissolução de velhos e criação de novos departamentos, busca incessante de novos mercados e competição com outras organizações para sobreviver e crescer. » Sofisticação da tecnologia. Com o uso das telecomunicações, do computador e do transporte, as organizações estão internacionalizando suas operações e atividades. A tecnologia proporciona eficiência maior, precisão maior e a liberação da atividade humana para tarefas mais complicadas que exijam planejamento e criatividade. A tecnologia introduzirá novos processos e instrumentos que causarão impactos sobre as organizações. » Visibilidade maior das organizações. Enquanto crescem, as organizações tornam-se competitivas, sofisticadas, internacionalizam-se e, com isso, aumentam sua influência ambiental, ou seja, as organizações chamam mais a atenção do ambiente e do público e passam a ser mais visíveis e percebidas pela opinião pública. A visibilidadeda organização – a sua capacidade de chamar a atenção dos outros – pode ocorrer de maneira positiva (imagem positiva da organização perante a opinião pública) ou negativa (imagem negativa). De qualquer forma, a organização jamais será ignorada pelos consumidores, fornecedores, imprensa, sindicatos, governo, e isso influenciará o seu comportamento. Habilidades Não basta ter conhecimentos sobre administração... Você precisa estar preparado para praticá-la. (ROBBINS, 2000) A preparação para exercer a administração requer das pessoas o desenvolvimento de algumas habilidades para que possam ter um bom desempenho no cargo. Essas habilidades identificam aptidões ou comportamentos que são fundamentais ao sucesso num cargo gerencial. Para Katz (1955), o gerente precisa desenvolver as habilidades conceituais, humanas e técnicas. Vejamos cada uma delas: » Habilidades conceituais: dizem respeito à aptidão mental para analisar e diagnosticar situações complexas, auxiliando os gerentes a perceber de que maneira as coisas se relacionam e, também, a tomar decisões mais adequadas e acertadas. 17 O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS • CAPÍTULO 2 » Habilidades humanas: incluem a capacidade de se relacionar com pessoas e trabalhar em equipe, de exercer uma comunicação eficaz, assim como, também, delegar trabalho para outros membros da equipe. » Habilidades técnicas: referem-se ao conhecimento especializado ou experiência. Esta habilidade torna-se mais importante para o exercício de cargos específicos como o de finanças, produção, informática, em que o gerente necessita ter conhecimentos práticos relacionados à função. Figura 1. As três habilidades do administrador e os níveis organizacionais. Fonte: Adaptada de Chiavenato (2003, p. 4). Competências Não apenas as habilidades são importantes para o exercício de um cargo gerencial. As competências pessoais do administrador são tão importantes quanto as habilidades, pois elas constituem qualidades das pessoas que são capazes de analisar uma situação, propor soluções e equacionar assuntos ou problemas. Atenção Você já deve ter ouvido falar, ou deve ter lido em alguma revista de negócios, que a delegação de poder, o achatamento da hierarquia organizacional ou a redução do quadro de pessoal diminuiu a necessidade de gerentes. Atenção! Esta informação de redução do quadro gerencial é equivocada. Ocorre que funcionários comuns estão recebendo responsabilidades gerenciais. Outro fator é que empresas de pequeno e médio porte ampliaram o número de postos gerenciais. 18 CAPÍTULO 2 • O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS Podemos dizer que elas constituem uma das maiores riquezas de um administrador, o seu capital intelectual. Chiavenato (2003) define as competências pessoais como competências duráveis: conhecimento, perspectiva e atitude. A figura a seguir exprime estas competências. Figura 2. As competências duráveis do administrador. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2003, p. 5). Percebemos, ao longo desta discussão, que o administrador precisará estar em constante atualização, partir para uma postura de aprender a aprender. No desempenho de suas funções, será exigido dele um conjunto de comportamentos relacionados às suas atividades. A este conjunto de comportamentos chamamos de papéis. Vimos até agora algumas das principais perspectivas da Administração de Empresas e os desafios que são colocados para os gerentes. Entendemos que, diante desses desafios, o gerente precisará desenvolver habilidades e competências, bem como desempenhar papéis. Saiba mais Competências Pessoais Mas, afinal, qual dessas três competências é a mais importante? Qual delas sai as outras? Sem dúvida, a competência pessoal mais importante para o administrador é a atitude. Defendemos o ponto de vista de que o administrador precisa ser um agente de mudança dentro das organizações. É ele que faz acontecer a mudança de mentalidade, de cultura, de processos, de atividades, de produtos/serviços etc. Seu principal produto é a inovação (...) Chiavenato (2003, p. 6). 19 O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS • CAPÍTULO 2 Leitura 1 Para sobreviver no mercado de trabalho O que mudou nos ambientes organizacionais nos últimos 20 anos e o que se exige de um profissional nos dias atuais? CENA 1 CENA 2 7h30min chegada ao local de trabalho 9h chegada ao local de trabalho Papéis e pastas nas gavetas Micro ligado, 60 novos e-mails. Máquina de escrever elétrica (esférica IBM última geração) videoconferência com parceiros da venezuela, dos Estados Unidos e de Hong Kong (o inglês do oriente é incompreensível!) Pedir uma ligação para a telefonista Reunião com o pessoal da categoria de produtos e do processo de supply chain Fazer trabalho prévio para participar no curso gerencial de trabalho em equipe (40 horas de duração) 25 minutos de visita à intranet para preencher formulário de autoavaliação de desempenho Aviso de aumento de salário vindo do departamento de pessoal Reunião com célula de trabalho para tomar decisões técnicas e de gestão de pessoas Almoçar num dos quatro restaurantes da empresa, aquele do seu nível hierárquico Elaboração de relatório de custos da célula para enviar ao gerente Pedir um relatório de dados ao CPD Conference call com fábrica e departamento de marketing para update de lançamentos de produtos Discutir com O&M uma norma de utilização da máquina “xerox” Verificar as metas para estimar o bônus do mês Estar no oitavo posto (de cima para baixo) dos 10 níveis hierárquicos existentes Estar no meio dos três níveis hierárquicos existentes 17h15min retorno para casa E o almoço? *Suply Chain: termo de uso frequente em Logística. Significa canais de distribuição. *Conference Call: teleconferência ou videoconferência geralmente envolve várias filiais de diversos países onde determinada empresa tem sede. *Update: atualizar. Muito utilizado em marketing e informática. Quantos anos separam as duas cenas? Não é difícil dizer: apenas 20 anos. Quantas diferenças! A única igualdade é a presença dos protagonistas. Por isso interessa ressaltar aqui não as mudanças ocorridas nesses anos e que transformaram os ambientes tão drasticamente; essas todos nós conhecemos ou experimentamos. No entanto, parece sempre muito mais importante discutir e refletir sobre que exigências são feitas aos protagonistas das cenas de hoje do dia a dia organizacional, para que possam ter um desempenho adequado para sobreviver e obter sucesso profissional, em comparação àquelas exigidas dos protagonistas de ontem. Isso porque aprendemos, depois de muitas mudanças, que as estruturas e modelos de gestão organizacionais mudaram muito mais rapidamente do que nossa capacidade de nos adaptarmos a eles, e além disso, diz-se nos meios organizacionais que as pessoas são o patrimônio mais importante das empresas hoje. Portanto, nunca é demais buscar entender o que as empresas esperam/exigem dos seus “colaboradores” hoje. Algumas exigências feitas hoje são velhas conhecidas: trabalho em equipe, competência interpessoal, falar outro idioma, visão de resultados e de custos, estilo participativo... Quer dizer, vêm sendo desenvolvidas e discutidas com mais ênfase nos últimos 15 ou 20 anos. 20 CAPÍTULO 2 • O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS Outras são inéditas, por isso mais recentes: trabalhar em/com grupos virtuais, autonomia decisória, trabalhar sem supervisão permanente, desempenhar-se em estruturas matriciais, ter visão de processo, falar outros idiomas..., a exemplo dos home offices. Acrescente-se a elas a pressão por resultados, a vivência cotidiana com o ambíguo, o intangível, o anacrônico, o virtual, o efêmero, o estressante, o rápido, e teremos um quadro fiel da luta pela sobrevivência de muitos nas organizações de hoje. Obviamente, os impactos em cada um de nós são diferentes. Alguns desenvolvem comportamentos adequados e se adaptam rapidamente sem problemas; outros sofrempara conseguir isso; outros acabam não conseguindo, porém mudam “a reboque”. Mas todos fazem esforços para decodificar as exigências, buscar entendê-las e transformá-las em comportamentos adaptados e esperados pela empresa. Esse processo de busca das pessoas é intenso e interminável. Assim acontece o desenvolvimento humano. Uma das fontes de apoio a ele têm sido, inegavelmente, as explicações teóricas, as metáforas, os depoimentos de líderes de sucesso, as analogias com o esporte, a literatura de autoajuda, os treinamentos alternativos... todos elaborados como tentativas válidas de ajudar a compreensão da realidade organizacional de hoje e dar pistas de sobrevivência para o amanhã às pessoas. No entanto, essas fontes não são iguais nem em profundidade nem em intenção explicativa; essa parece ser também uma característica do contexto de hoje se comparado ao de ontem. É preciso que os profissionais desenvolvam, para isso, outra última exigência que pode ajudar em todas as outras: a visão crítica. Somente com ela poderão selecionar as informações/explicações desse tipo que chegarão a eles em uma velocidade e quantidade sempre crescentes. (...) Sobreviver e desenvolver-se no contexto organizacional de hoje tornou-se, portanto, um exercício complexo e ambíguo: de um lado, estar pressionado para adaptar-se rapidamente às exigências de desempenho e, de outro, estar exposto a uma grande quantidade de fontes não muito sustentáveis de explicações e soluções, que não tratam o comportamento humano na empresa com a profundidade e na complexidade que lhe é inerente. Autor: Luis Felipe Cortoni Qualificação: Psicólogo, Sócio-gerente da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações. RH Portal, 2013. Disponível em: http://www.rhportal.com.br/artigos/rh.php?idc_cad=8t29wicno, Acesso em 10 de julho de 2015. Os administradores também são influenciados em relação às mudanças da forma de trabalho, como a preocupação ética e de gestão socioresponsável de empresas, como funções inerentes ao administrador. Podemos, também, acrescentar as questões enfervescentes da atualidade, como o combate ao preconceito, seja ele étnico, de gênero, religioso, sexual, além da atenção e respeito aos novos modelos de arranjos familiares (como casais do mesmo sexo, famílias menores, joves adultos morando sozinhos), que sedimentam as últimas mudanças sociais. Isso certamente impacta as organizações atuais e os ambientes em que elas se inserem e atuam. Administração hoje Notamos que muito da Administração, senão seu todo, constitui-se de unificações de ideias, de conceitos que ao longo do tempo evoluíram e tornaram-se bases para o desenvolvimento dela como ciência. Não se tem um fundador ou maior pensador da Administração, mas, sim, diversas http://www.rhportal.com.br/artigos/rh.php?idc_cad=8t29wicno 21 O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS • CAPÍTULO 2 mentes que, de forma brilhante, tornaram a Administração uma ciência muito respeitada e necessária para o desenvolvimento corporativo e humano. Na voz de Peter Drucker, certamente o autor mais influente do século XX no que tange à Administração, considerado o pai da Administração moderna, tivemos revelações marcantes e contundentes sobre o assunto, já que Peter Drucker não só acariciava os modelos corretos, mas, também, era objetivo e severo em suas críticas aos modelos que destoavam dos padrões acertados de administrar. Em seu livro Introdução à Administração (1998, pp. 2-3), o autor explica o seguinte sobre o tema: A Administração e os administradores constituem necessidades específicas de todas as entidades, da menor à maior. Constituem o seu órgão específico. São eles que mantêm sua coesão e a fazem trabalhar. Nenhuma de nossas entidades poderia funcionar sem a cooperação dos administradores. E os administradores fazem o serviço que lhes é inerente – não o fazem por delegação do “proprietário”. A necessidade da Administração não deriva simplesmente do fato de o serviço ter assumido dimensões grandes demais para que uma pessoa só dele se encarregue. Administrar uma empresa privada ou uma entidade pública de prestação de serviços é intrinsecamente diferente de dirigir o que nos pertença, ou de dirigir o exercício da medicina ou o de uma advocacia por si mesmo praticada. Naturalmente, muitas são as grandes e complexas empresas privadas que nasceram de uma oficina individual. Mas conjuntamente com a evolução inicial, o crescimento provoca algo mais do que simples mudança nas dimensões do empreendimento. Em determinada altura (bem antes de a empresa chegar ao “tamanho médio”), a quantidade transforma-se em qualidade. Nesse ponto, mesmo se continuarem como donos exclusivos, seus proprietários já não dirigem mais “a própria firma”. Aí, o que eles têm nas mãos é uma empresa real – e se rapidinho não virarem seus administradores, em pouco serão substituídos como “proprietários”, ou então a empresa irá por água abaixo. Pois, nessa altura, a empresa já constitui uma organização e, para sobreviver, precisa de uma estrutura diferente, princípios diferentes, comportamento diferente e trabalho diferente. Precisa de administradores e de Administração. Conforme vimos, não é o fato da propriedade que conduz ao sucesso, mas a decisão de administrar de maneira correta e com delegação de funções. Não nos é possível enxergar tudo, precisamos de outros olhos para um alcance mais amplo, que torne mais veloz a chegada e a saída de informações acelerando o processo administrativo de maneira coerente e segura. Para refletir Como você acha que surgiu a administração? A administração foi criada de maneira pensada? A administração é ideia de um só pensador? 22 CAPÍTULO 2 • O PAPEL DO ADMINISTRADOR E SUAS COMPETÊNCIAS Resumo Observamos neste nosso segundo capítulo que diversos fatores exercem forte pressão na prática de Administração. Para que o administrador consiga obter êxito no desenvolvimento de sua prática profissional é essencial que desenvolva habilidades e esteja constantemente aprimorando suas competências, sem deixar de lado as diretrizes preconizadas por Peter Drucker. 23 Apresentação Neste terceiro capítulo, serão apresentados ao aluno os precursores da Administração como ciência. As primeiras empresas tinham estruturas simples e eram organizadas de forma rudimentar, conforme você deve ter observado no capítulo anterior quando comentamos sobre as estruturas que serviram de modelo para as organizações que estavam se estabelecendo com a Revolução Industrial. Somente a partir de 1900 começaram a surgir os primeiros estudos sobre os métodos e processos organizacionais. Entre os precursores da administração científica das empresas, em suas diversas áreas, mencionaremos aqueles que mais contribuíram para o seu desenvolvimento. Em um primeiro momento, serão expostas ao aluno as contribuições de Frederick Winslow Taylor e sua Administração Científica; a seguir, trataremos do Fordismo, de Henry Ford; depois apresentaremos a Teoria Clássica, de Henri Fayol, e as contribuições de Max Weber. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Compreender o início do desenvolvimento da Abordagem Clássica da Administração. » Destacar a importância dos precursores da Administração. » Descrever o movimento da administração científica e da teoria clássica, sintetizando os principais aspectos de seus participantes. Introdução A Abordagem Clássica, ou Escola Clássica da Administração, é a reunião sinérgica dos pensamentos e teorias de quatro grandes pensadores. No início do século XX, a grande expansão das empresas industriais e outras organizações motivaram o desenvolvimento de novos conceitos e métodos de administração. Nos Estados Unidos, nasceram o movimento da administração científica e a linha de montagem móvel. Na França, Henri Fayol sistematizou ideias a respeito do processo de 3 CAPÍTULO ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO 24 CAPÍTULO 3 • ESCOLACLáSSICA DA ADMINISTRAçãO administrar organizações. Na Alemanha, Max Weber elaborou teorias para explicar as organizações formais. Esses conceitos e métodos surgidos na passagem para o século XX integram o movimento chamado Escola Clássica da Administração. Uma das preocupações marcantes da Administração dessa época era a eficiência dos processos de fabricação. Frederick Winslow Taylor, pioneiro da Administração científica, conseguiu montar um conjunto de princípios e técnicas visando à eficiência no processo fabril. Taylor acreditava que a prosperidade econômica somente seria conseguida com a maximização da produtividade dos trabalhadores, e a eficiência dependeria do redesenho do trabalho e da mudança de atitude dos trabalhadores. A importância do redesenho se dava pela ausência de métodos, e sem métodos, cada trabalhador fazia suas tarefas de acordo com palpites e intuições, sem contar a dificuldade na avaliação de desempenho, por parte dos administradores. Em 1903, Taylor publicou seu estudo Shop Management (Administração Fabril), em que propunha sua filosofia de administração, que compreendia quatro princípios. 1. O objetivo da Administração era pagar salários altos e ter baixo custo de produção. 2. Com esse objetivo, a Administração deveria aplicar métodos de pesquisa para determinar a melhor maneira de executar tarefas. 3. Os empregados deveriam ser cientificamente selecionados e treinados, de maneira que as pessoas e as tarefas fossem compatíveis (racionalização). 4. Deveria haver uma atmosfera de íntima e cordial cooperação entre a administração e os trabalhadores, para garantir um ambiente psicológico favorável à aplicação desses princípios. A abordagem clássica da Administração remonta às consequências geradas pela Revolução Industrial e pode ser resumida em dois fatos de natureza genérica: » O crescimento acelerado e desorganizado das empresas – a partir do momento em que houve o crescimento das empresas, surgiu a necessidade de uma abordagem mais científica para substituir o empirismo e a improvisação. » A necessidade de aumentar a eficiência e a competência das organizações – a eficiência e competência passaram a representar uma necessidade constante visando ao aumento da lucratividade. Os estudos de Taylor dividem-se em duas fases distintas. Cada uma delas corresponde a publicações de um livro. A primeira fase corresponde à publicação do livro Shop Management (Administração Fabril), em 1903. A segunda fase é demarcada com a publicação de Principles os Scientific Management (Princípios da Administração Científica). 25 ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 3 Ao longo de sua vida profissional, Taylor buscou solucionar esses e outros problemas que eram e continuam sendo comuns em muitas empresas da atualidade. A partir de suas observações e experiências, ele começou a desenvolver seu sistema de administração de tarefas, mais adiante conhecido como sistema Taylor, taylorismo e, finalmente, administração científica. Organização Racional do Trabalho Taylor observou que os operários aprendiam a maneira de executar as tarefas olhando seus colegas de trabalho. Devido a isso, os operários acabavam realizando a mesma tarefa de maneiras diferentes, e isso gerava desperdício de tempo e recursos. O que prevalecia eram métodos empíricos, e Taylor buscou substituir métodos empíricos e rudimentares pelos métodos científicos, os quais receberam o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT). A ORT fundamenta-se nos seguintes aspectos: » Análise do trabalho e do estudo dos tempos e movimentos. » Estudo da fadiga humana. » Divisão do trabalho e especialização do operário. » Desenho de cargos e tarefas. » Incentivos salariais e prêmios de produção. » Conceito de homo economicus. » Condições ambientais de trabalho. » Padronização de métodos e de máquinas. » Supervisão funcional. Vejamos, de forma resumida, cada um desses aspectos: Estudo dos tempos e movimentos Consistia na cronometragem dos movimentos dos trabalhadores, dividindo-os nas tarefas que os compunham, chamando-as de unidades básicas de trabalho. O segundo passo era analisar as unidades básicas de trabalho, procurando a melhor maneira de executá-las e de combiná- las para a tarefa maior. Usando um sistema de pagamento por peças produzidas, que fazia os rendimentos do trabalhador aumentarem de acordo com seu esforço, Taylor conseguia aumentar expressivamente a eficiência. 26 CAPÍTULO 3 • ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO Isso, para Taylor, causava uma revolução mental relacionada ao trabalho, em que o trabalhador encarava sua tarefa com mais responsabilidade. A questão não é trabalhar duro, nem depressa, nem bastante, mas trabalhar de forma inteligente. Na década de 1950, os japoneses retomaram e aprimoraram as ideias de Taylor a respeito do estudo sistemático do trabalho e as transformaram no Kaizen – o aprimoramento contínuo. Vantagens da análise do trabalho » Eliminar movimentos inúteis. » Tornar mais racional a seleção e o treinamento. » Distribuir uniformemente o trabalho. » Melhorar a eficiência do operário. » Base uniforme para salários. Vantagens do estudo dos tempos e movimentos » Eliminação de todo o desperdício de esforço humano. » Adaptação e treinamento dos operários aos seus trabalhos. » Estabelecimento de normas bens detalhadas de trabalho. Estudo da fadiga humana A fadiga predispõe o trabalhador à(ao): » diminuição da produtividade. » aumento do turnover, doenças e acidentes. » diminuição da capacidade de esforço. Fadiga – redutor da eficiência Para reduzir a fadiga, devem-se adotar alguns princípios de economia (racionalização) de movimentos, os quais podem ser: » relativos ao uso do corpo humano. » relativos ao arranjo material do local de trabalho. » relativos ao desempenho das ferramentas e do equipamento. 27 ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 3 Divisão do trabalho e especialização do operário O trabalho de cada pessoa deveria, tanto quanto possível, se limitar à execução de uma única e simples tarefa predominante, de maneira contínua e repetitiva. Principal aplicação: linha de montagem. Desenho de cargos e tarefas Para cada tarefa há um método apropriado, pois os cargos e tarefas são desenhados para uma execução automatizada por parte do trabalhador, que deve fazer e não pensar ou decidir. Esse pensamento é resultante do método de Taylor para dar conta do aumento de produtividade demandada pela Revolução Industrial. Vantagens » Admissão de empregados com qualificações mínimas e salários menores, redução dos custos de produção (em substituição aos artesãos). » Minimização dos custos de treinamento. » Redução de erros na execução, diminuição dos refugos e rejeições. » Aumento da eficiência do trabalhador permitindo maior produtividade. Incentivos salariais e prêmios de produção Taylor sugere que se pague mais a quem produzir mais, de acordo com um sistema de incentivos monetários. Acredita que, dessa forma, se garante maior produção, e como não se vê qualquer oposição de interesses entre trabalhadores e administração, imagina-se que isso se traduza necessariamente em maiores lucros e maiores salários. Conceito de homo economicus O conceito de homo economicus, ou melhor, homem econômico, diz que toda pessoa é concebida como influenciada exclusivamente por recompensas salariais, econômicas e materiais. Isso quer dizer que o homem procura o trabalho não por que gosta dele, mas como um meio de ganhar a vida mediante recebimento de salário. Essa concepção não se restringia a ver o homem apenas como um indivíduo motivado por dinheiro, mas como um indivíduo mesquinho, limitado e preguiçoso, culpado pela vadiagem e desperdício das empresas. Dessa forma, o homem precisa ser controlado para poder executar seu trabalho. 28 CAPÍTULO 3 • ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO Princípios da Administração Científica de Taylor Para Taylor, a gerência adquiriu novasatribuições e responsabilidades descritas pelos quatro princípios a seguir: » Princípio do planejamento: o gerente deverá substituir o empirismo e a improvisação do operário por métodos baseados em procedimentos científicos. Deverá programar e planejar o método de trabalho. » Princípio do preparo: selecionar cientificamente os trabalhadores de acordo com suas aptidões e prepará-los e treiná-los para produzirem mais e melhor, de acordo com o método planejado. Além do preparo da mão de obra, o gerente deverá preparar também as máquinas e os equipamentos de produção, bem como o arranjo físico e a disposição racional das ferramentas e materiais. » Princípio do controle: o gerente deverá controlar o trabalho para se certificar de que este está sendo executado conforme as normas estabelecidas e segundo o plano previsto. A gerência deve cooperar com os trabalhadores para que a execução seja a melhor possível. » Princípio da execução: distribuir distintamente as atribuições e as responsabilidades, para que a execução do trabalho seja bem mais disciplinada. Segundo as ideias tayloristas, o operário não tem capacidade, nem formação, nem meios para analisar cientificamente o seu trabalho e estabelecer racionalmente qual o método ou processo mais eficiente. O que acontecia nas fábricas era que o supervisor deixava seu pessoal escolher o melhor método de trabalho e isso acarretava problemas. Com a Administração Cientifíca ocorre uma repartição de responsabilidades: a administração (gerência) fica com o planejamento (estudo minucioso do trabalho do operário e o estabelecimento do método de trabalho) e a supervisão (controle contínuo ao trabalhador durante a produção), e o trabalhador fica com a execução do trabalho, pura e simplesmente. O taylorismo exerceu uma influência prática também poderosíssima. A “taylorização” das relações de produção caracteriza todo um período da industrialilzação mundial. De fato, o pensamento de Taylor encontrou seguidores em todo o mundo. Contudo, a Administração Científica sofreu inúmeras críticas, entre elas: o mecanicismo de sua abordagem (teoria da máquina), a superespecialização que robotizava o operário, a visão microscópica do homem visto isoladamente e como parte da maquinaria industrial, a abordagem incompleta envolvendo apenas a organização formal, a limitação do campo de aplicação à fábrica, omitindo o restante da vida de uma empresa, a abordagem eminentemente prescritiva e normativa e tipicamente de sistema fechado. Mesmo assim, essas limitações e restrições não apagam o fato de que a Administração Científica foi o primeiro passo concreto da Administração rumo a uma teoria administrativa. Foi Taylor quem implantou diversos conceitos que até hoje são utilizados na Administração. 29 ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 3 Fordismo Henry Ford nasceu nos Estados Unidos em 1863 e morreu em 1947. Filho de fazendeiros, Ford era responsável pela manutenção das máquinas da propriedade da família, mas ainda jovem foi trabalhar com manutenção de motores em algumas empresas até desenvolver seus próprios motores e carros. Era um engenheiro prático, e fundador da Ford Motor Company, em 1903, com mais 11 investidores e um capital de 28 mil dólares. Ford foi pioneiro ao implementar a linha de montagem em esteira, uma ideia que ele subtraiu de um sistema de carretilhas aéreas de um matadouro, em que as peças (reses) passavam nessas carretilhas enquanto os homens executavam os cortes necessários. Ford implementou essa ideia em sua fábrica juntamente com o aprimoramento dos princípios de Taylor, e conseguiu tornar o carro acessível à classe média. O famoso modelo “T”, lançado em 1908, foi fruto dessa produção em esteira e revolucionou a indústria automotiva na época, por ter baixo custo de produção e manutenção e também pela velocidade empregada na produção (produtividade), sendo capaz de entregar um carro a cada 90 minutos. Essa produtividade levou o modelo “T” a ter mais de 50% do mercado norte-americano em 10 anos, porém, para alcançar essa velocidade, somente produzia carros na cor preta. Em determinado momento, Ford teve problemas de desperdício de materiais, absenteísmo e turnover; então, para resolver essas questões, ele implementou o Five Dolar Day, dizendo que cada operário iria receber cinco dólares por dia, quando o salário industrial médio dos EUA era de US$ 1/dia, se cumprisse determinadas exigências. A primeira parte seria o salário propriamente dito e a segunda parte o trabalhador receberia mediante as exigências. A primeira era que se o trabalhador fosse casado, ele deveria estar cuidando de sua família; se fosse solteiro deveria ser reconhecidamente um poupador e, se fosse moça solteira, deveria estar cuidando de um parente inválido. O que há de comum nessas exigências seria o fato de que essas pessoas seriam, a princípio, responsáveis e, então, se comprometeriam em realizar o trabalho conforme o que fosse determinado. Isso também demonstra a ideia do homem motivado por recompensas materiais, mas, além disso, seria uma forma de controle, de racionalização não só do trabalho, mas, também, da sociedade. O trabalho se tornou algo central em nossas vidas, e por mais que haja críticas ao modelo taylorista-fordista com relação à visão do homem motivado por dinheiro, não poderíamos negar que é a partir das recompensas salariais e materiais que as pessoas conseguem realizar boa parte dos seus principais objetivos na sociedade moderna. Além de recompensar as pessoas, deveria proporcionar as condições adequadas de trabalho para que o homem pudesse realizar bem as suas atividades, conforme citado por Taylor em seus principais aspectos da organização racional do trabalho. 30 CAPÍTULO 3 • ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO A Teoria Clássica A Teoria Clássica de Henri Fayol foi desenvolvida na França quase que concomitantemente aos trabalhos de Taylor e Ford nos Estados Unidos, no início do século XX. Essa difere do modelo taylorista-fordista pelo tipo de abordagem, ou seja, Taylor e Ford tiveram uma microabordagem, analisaram essencialmente as tarefas desempenhadas pelos operários, enquanto Fayol teve uma macroabordagem, pois observava o todo organizacional; sua ênfase foi, portanto, na estrutura. As duas maiores contribuições de Fayol para a Administração foram as Funções Organizacionais e as Funções Gerenciais (relacionadas ao papel do administrador ou gerente), que veremos a seguir. Nesse contexto, Fayol foi o primeiro pensador a dar um passo importante para o reconhecimento profissional do administrador, que só se concretizou no Brasil em 9 de setembro de 1965. Com o fayolismo, a ideia da divisão do trabalho foi expandida para toda a fábrica, que deveria ser subdividida em Funções Organizacionais, são elas: técnicas (produção), comerciais (compra e venda), financeiras (gerência de capitais), contábeis (custo, balanço), segurança (cuidar do patrimônio) e administrativas (coordenação de todas as outras funções). Essa última função administrativa deveria ser exercida por uma pessoa, o gerente preferencialmente, que deveria planejar as atividades, organizar o duplo organismo tanto material quanto pessoal, coordenar sendo um elo entre as pessoas e os departamentos, exercer sua autoridade e controlar para que o trabalho fosse realizado conforme o planejado. Essas Funções Gerenciais (planejar, organizar, comandar ou dirigir, coordenar e controlar) seriam exercidas pelo administrador, ou seja, a pessoa que estivesse numa linha de comando e que tivesse subordinados dentro da escala hierárquica. Funções gerenciais » Previsão ou Planejamento: avalia o futuro e o aprovisionamento dos recursos em função dele. Provocação Controle Ato ou efeito de controlar; monitoração, fiscalização ou exame minucioso, que obedece a determinadas expectativas, normas, convenções etc. Provocação Planejamento Ato ou efeito de planejar serviço de preparação de um trabalho, de uma tarefa, como estabelecimento de métodos convenientes; o mesmo que planificação. 31 ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 3 » Organização: proporciona tudo o que é útil ao funcionamento empresa e pode ser dividida em organização material e organização social. » Comando ou Direção: leva a organização a funcionar. Seu objetivo é alcançar o máximo retorno de todos os empregados no interesse dos aspectos globais do negócio. » Coordenação: harmoniza todas as atividades do negócio, facilitando seu trabalho e sucesso. Sincroniza coisas e ações em proporções certas e adapta meios aos fins visados. » Controle: consiste na verificação para certificar se tudo ocorre em conformidade com o plano adotado, as instruções transmitidas e os princípios estabelecidos. O objetivo é localizar as fraquezas e erros no intuito de retificá-los e prevenir a recorrência. Funções Organizacionais » Funções Técnicas/Produção: relacionadas com a produção de bens e de serviços da empresa. » Funções Comerciais: relacionadas com compra, venda e permutação. » Funções Financeiras: relacionadas com procura e gerência de capitais. » Funções de Segurança: relacionadas com proteção e preservação dos bens e das pessoas. » Funções Contábeis: relacionadas com inventários, registros, balanços, custos e estatísticas. » Funções Administrativas: relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco funções. As funções administrativas coordenam e sincronizam as demais funções da empresa, pairando sempre acima delas. Princípios Gerais da Administração de Fayol » Divisão do trabalho: especialização das tarefas e das pessoas buscando aumentar a eficiência. » Autoridade e responsabilidade: autoridade é o direito de dar ordens, e poder de esperar obediência/responsabilidade é a consequência natural da autoridade. » Disciplina: depende da obediência, aplicação, energia, comportamento e respeito aos acordos estabelecidos. » Unidade de comando: cada empregado deve receber ordens de um único superior. » Unidade de direção: uma cabeça e um plano para cada grupo de atividades que tenham o mesmo objetivo. » Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais: os interesses gerais devem sobrepor-se aos interesses particulares. 32 CAPÍTULO 3 • ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO » Remuneração do pessoal: deve ser justa e garantida satisfação para empregados e organização. » Centralização: concentração da autoridade no topo da hierarquia. » Cadeia escalar: linha de autoridade que vai do escalão mais alto ao mais baixo. É o princípio do comando. » Ordem: um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. É a ordem material e humana. » Equidade: amabilidade e justiça para alcançar lealdade do pessoal. » Estabilidade do pessoal: turnover tem impacto negativo sobre a eficiência do pessoal. » Iniciativa: a capacidade de visualizar um plano e assegurar pessoalmente o seu sucesso. Hierarquia, comando, direção, divisão do trabalho. Essas palavras já foram citadas logo no primeiro capítulo deste Livro Didático quando foram apontadas as influências da igreja e da organização militar no desenvolvimento da teoria da Administração. De fato, é possível fazer uma correlação desses princípios a essas instituições. Apesar da crítica de que a teoria clássica foi normativa e prescritiva, ou seja, normativa ao passo que ela impunha normas a serem seguidas e, prescritiva, pois ela prescrevia como o administrador deveria fazer para obter a eficiência, como uma receita de bolo pronta para ser seguida e obter sucesso, pode-se observar que a teoria clássica de Fayol (1916), em seus Princípios Gerais da Administração, citava que a remuneração para os trabalhadores deveria ser justa e garantir sua satisfação e o que deveria prevalecer dentro da empresa seria o espírito de equipe. A obra de Fayol inspirou, sobretudo, a produção cultural francesa no campo da ciência administrativa ou administração pública. O Tipo ideal de Burocracia (Max Weber) Max Weber, filósofo e sociólogo alemão (1864-1920), desenvolveu uma análise mais profunda em relação à dominação, não se restringindo apenas aos fatores econômicos. Ao contrário de Taylor e Ford, Weber não fez recomendações para a administração das organizações. Weber Provocação Hierarquia Organização fundada uma ordem de prioridade entre os elementos de um conjunto ou relações de subordinação entre os membros de um grupo. 33 ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO • CAPÍTULO 3 foi um explicador das organizações modernas. Suas ideias, hoje, são usadas como base para o entendimento da natureza das organizações e das diferenças entre elas. De acordo com Weber, as organizações formais modernas (empresas) baseiam-se em leis racionais. Qualquer sociedade, organização ou grupo que se baseie em leis racionais é uma burocracia. As organizações formais, ou burocráticas, apresentam três características principais, que as distinguem dos grupos informais ou primários, como as famílias e o grupo de amigos: formalidade, impessoalidade e profissionalismo. Essas três características formam o chamado tipo ideal de burocracia, uma ideia central da teoria de Weber. » Formalidade significa que as organizações são constituídas com base em regulamentos explícitos, chamados leis. As leis estipulam os direitos e deveres dos participantes. O comportamento do cidadão, do empregado ou do empregador e das autoridades públicas, está subordinado a normas racionais (que procuram estabelecer coerência lógica entre os meios e fins da organização). Violar as leis é um comportamento passível de punição. » Impessoalidade significa que as relações entre as pessoas que integram as organizações burocráticas são governadas pelos cargos que elas ocupam e pelos direitos e deveres investidos nesses cargos. A pessoa que ocupa um cargo investido de autoridade é um superior e está subordinado a uma legislação que define os limites de seus poderes, dentro dos quais pode dar ordens e deve ser obedecida. » Profissionalismo significa que os cargos de uma burocracia oferecem a seus ocupantes uma carreira profissional e meios de subsistência. O integrante de uma burocracia é um funcionário que faz do cargo um meio de vida, recebendo um salário regular em troca de seus serviços. A escolha para ocupar o cargo, em geral, deve-se às suas qualificações, que são aprimoradas por meio de treinamento especializado. Vale ressaltar que a contribuição de Weber em relação à análise organizacional, moldando o que ele chamou de tipo ideal de burocracia, anos depois deu origem a uma nova abordagem da Administração, a estruturalista. Podemos observar na atualidade que muitos dos princípios da abordagem clássica da Administração receberam influência da Filosofia, da Igreja Católica e da Organização Militar. A Administração Científica de Taylor, a produção em esteira de Ford (incluído na Adminisração Científica) a Teoria Clássica de Fayol, e a análise sobre as organizações modernas e burocráticas de Weber compreendem a totalidade da Abordagem Clássica ou Escola Clássica da Administração. 34 CAPÍTULO 3 • ESCOLA CLáSSICA DA ADMINISTRAçãO Resumo Vimos que a preocupação que norteou a Escola Clássica da Administração foi a busca pela eficiência. Nessa jornada, Taylor, por meio da observação, constatou que determinada atividade possuía diversas formas de execução; para isso, idealizou a Organização Racional do Trabalho com o propósito de padronizar o método de trabalho. Podemos inferir que o estudo de tempos e movimentos foi fator determinante para adequação e uniformidade do tempo necessário a cada atividade e a produtividade esperada. Pela leitura percebemos que, para o Taylorismo, o homem era impulsionado por recompensas salariais e incentivos financeiros. Não obstante, Henri Fayol contribuía na França nesse mesmo período, mas dando então enfoque à estrutura e não à atividade propriamente, como Taylor. Já Max Weber contribuiria com aspectos fundamentais para um tipo idealde burocracia, fundamentada em aspectos como formalidade, impessoalidade e profissionalismo. 35 Apresentação A Escola Clássica da Administração foi um movimento crucial para a ciência da Administração, gerando altos ganhos de produtividade. Porém, entre as suas principais críticas figuram a não preocupação com o bem-estar do trabalhador, a monotonia das tarefas repetitivas, o mecanicismo, a supervisão coercitiva, e a visão de motivação apenas pelo retorno financeiro. Esses fatores foram gerando insatisfações em trabalhadores, sindicatos, estudiosos e até no congresso norte-americano, com uma grande lista de oposicionistas. A Teoria das Relações Humanas surgiu nesse contexto, em oposição ao mecanicismo exagerado da Administração Científica, com ideias e soluções que visavam ao bem-estar do trabalhador e entendem que as relações criadas no ambiente de trabalho tinham relação direta com a motivação e com a produtividade global de setores e organizações. Já a Teoria Estruturalista reformula os postulados anteriores. Para os Clássicos, a ênfase nas tarefas, o redesenho do trabalho e a adoção de métodos formariam o caminho correto para a produtividade e a excelência fabril. Para os humanistas, a preocupação com o bem-estar e com as relações informais no ambiente de trabalho trariam mais produtividade e excelências às organizações. Já os estruturalistas acreditavam que a excelência viria com a correta estrutura organizacional, com hierarquia, linha de comandos definidas, fluxos de informações planejados, no qual todos, tendo consciência de seus papéis, cargos e funções, tornariam as empresas mais eficientes. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Identificar as origens e o surgimento da TRH. » Diferenciar a ênfase nas estruturas e tarefas para a ênfase nas pessoas. » Reconhecer o “homem social”. 4 CAPÍTULO TEORIA DAS RELAçÕES HUMANAS E TEORIA ESTRUTURALISTA 36 CAPÍTULO 4 • TEORIA DAS RELAçÕES HUMANAS E TEORIA ESTRUTURALISTA O Surgimento da Teoria das Relações Humanas (TRH) A Abordagem Humanística ocorre com o surgimento da Teoria das Relações Humanas, que acompanha o desenvolvimento das Ciências Sociais, sendo a Psicologia sua maior contribuinte. A Abordagem Humanística pressupõe oposição aos conceitos das teorias anteriores que colocavam à margem as pessoas, não se preocupavam com o significado ou com as correlações existentes entre um trabalho melhor e mais bem executado e as formas de tratamento do funcionário no ambiente de trabalho. O surgimento da Teoria das Relações Humanas (TRH) ou Escola Humanística da Administração está vinculado, entre outros fatores, a uma experiência feit a em uma fábrica de componentes telefônicos e elétricos. Essa experiência é conhecida como Experiência de Hawthorne, realizada pelo Conselho Nacional de Pesquisas dos Estados Unidos, em uma fábrica da Western Eletric Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorne e sua finalidade era determinar a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários medida por meio da produção. A experiência foi coordenada por Elton Mayo, e se estendeu à fadiga, acidentes no trabalho, rotatividade do pessoal (turnover) e ao efeito das condições de trabalho sobre a produtividade do pessoal. A fábrica da Western Eletric Company era a maior fornecedora de equipamentos para a Bell System, empresa que possuía o monopólio de telefonia nos EUA naquela época. Seus funcionários chegavam a 30.000. A experiência de Hawthorne, primeiramente, tinha a pretensão de estudar a influência de fatores ambientais, como iluminação e fatores psicológicos, como a forma de supervisão sobre a produtividade dos trabalhadores, mas acabou revelando a importância do grupo sobre o desempenho dos indivíduos. Esse evento foi o precursor dos estudos sistemáticos sobre a organização informal. Do experimento originou-se a escola das relações humanas, já que ficou demonstrado que entre os fatores mais importantes para o desempenho individual estão as relações entre colegas de trabalho e administradores, isto é, o lado emocional influi diretamente na produção. Houve aí uma quebra de barreiras, tornando o trabalho mais transparente na sua realização. Os estudos de Hawthorne foram divididos em quatro fases ou experiências: » 1ª Fase: Estudos de iluminação; Grupo de observação e grupo de controle para conhecer o efeito da iluminação na produtividade. Saiba mais Monopólio Segundo o dicionário Houaiss, significa: comércio abusivo que consiste em um indivíduo ou grupo tornar-se único possuidor de determinado produto para, na falta de competidores, poder vendê-lo por preço exorbitante. 37 TEORIA DAS RELAçÕES HUMANAS E TEORIA ESTRUTURALISTA • CAPÍTULO 4 » 2ª Fase: Estudos da sala de testes de montagem de relés; Grupo experimental e grupo de controle para conhecer os efeitos de mudanças nas condições de trabalho: 1. Estabelecer a capacidade de produção em condições normais. 2. Isolamento do grupo experimental na sala de provas. 3. Separação do pagamento por tarefas do grupo experimental. 4. Intervalos de cinco minutos pela manhã e à tarde. 5. Aumento dos intervalos de descanso para 10 minutos. 6. Três intervalos de cinco minutos pela manhã e o mesmo à tarde. 7. Retorno a dois intervalos de 10 minutos (manhã + tarde). 8. Saída do trabalho às 16h30 e não mais às 17h. 9. Saída do trabalho às 16h. 10. Retorno à saída às 17h. 11. Semana de cinco dias com sábado livre. 12. Retorno às condições do terceiro período. » 3ª Fase: o programa de entrevistas; » 4ª Fase: os estudos da sala de observação de montagem de terminais – Análise da organização informal do grupo. Conclusões e contribuições de Hawthorne A experiência em Hawthorne, como um todo, permitiu chegar a algumas conclusões de relativa importância: » Os empregados não eram motivados somente por fatores externos, como pagamento e condições físicas do ambiente de trabalho – havia fatores psicológicos que afetavam a produtividade, e não só fisiológicos. » Pausas no trabalho demonstraram bons resultados no que se refere à produtividade dos operários, mas não poderiam ser analisadas como elemento isolado. » O relacionamento social entre operárias e a supervisão provocava condições de trabalho que favoreciam o aumento da produtividade das funcionárias. » Havia tendência de liderança em grupos mais sociáveis, o que significava maior cooperação do grupo para ultrapassar dificuldades no trabalho. 38 CAPÍTULO 4 • TEORIA DAS RELAçÕES HUMANAS E TEORIA ESTRUTURALISTA » A satisfação (ou insatisfação) com as tarefas realizadas afetava fortemente o resultado da produção e a intenção dos operários. » Os grupos informais (organização informal) afetavam mais os resultados de produção do que as determinações da alta administração. » O grupo exercia enorme poder sobre o indivíduo, isto é, o comportamento do indivíduo era fortemente afetado pelas diretrizes estabelecidas pelo grupo. » O volume de produção gerado por um operário não dependia da sua habilidade ou inteligência, mas da restrição do grupo ao qual pertencia. » Inovações e melhorias técnicas introduzidas pela administração da organização não eram bem vistas pelos operários, que achavam ser explorados nessas condições – produzir mais ganhando o mesmo salário. James A. F. Stoner resume as contribuições dos estudos da Hawthorne pelos seguintes aspectos: » A produtividade não é um problema da engenharia, mas de relacionamento do grupo. » Havia uma verdadeira preocupação com pagamentos de ricos dividendos aos trabalhadores. » As habilidades administrativas das pessoas como oposição às habilidades técnicas são necessárias para o sucesso gerencial. » Bons relacionamentos interpessoais e intergrupais necessitam ser mantidos para a obtenção de ganhos de produtividade. Os estudiosos e pesquisadores concluíram que os acréscimos na produtividade não eram causados por eventos físicos, mas
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