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Capítulo 1 – Língua, linguagem e comunicação 1 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa. À capacidade de comunicar-se por meio de signos damos o nome de linguagem. Assim, linguagem é a capacidade de o homem comunicar-se, seja por meio de ícones, índices ou símbolos. A língua é um conjunto de sinais (palavras) e de leis combinatórias por meio do qual as pessoas de uma comunidade se comunicam e interagem. Ela pertence a todos os membros de uma comunidade; por isso faz parte do patrimônio social e cultural de cada coletividade. Como ela é resultado histórico de uma convenção, um único indivíduo, isoladamente, não é capaz de criá-la ou modificá-la. Nem a língua nem a fala são imutáveis. A língua evolui transformando-a historicamente, algumas palavras ganham ou perdem certos fonemas, a exemplo da palavra “oxente”, o termo é formado pela aglutinação da expressão “ó gente”. Para comunicar-se, cada indivíduo utiliza o código linguístico do modo que julga mais apropriado. No entanto, para que a comunicação se dê de maneira bem-sucedida, faz-se necessário que a língua – que constitui o código linguístico – seja respeitada em suas regras internas. Assim podemos dizer que a língua é comum a todos os indivíduos de uma determinada comunidade linguística e que a fala é um ato individual, efetuado por um membro da comunidade Variedades Linguísticas A língua possui uma unidade que se garante por uma série de elementos particulares (como os fonemas, os vocábulos) e regras específicas para sua combinação, ela também possui variedades condicionadas por fatores sociais, Ó gente Ô gente Oxente Oxe Capítulo 1 – Língua, linguagem e comunicação 2 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa. regionais e das diversas situações em que se atualiza. As variedades linguísticas podem ser divididas a dois campos de estudo, segundo Dino Preti: 1) Variedades geográficas As variedades geográficas ocorrem em função do espaço geográfico em que a linguagem é analisada, pois um mesmo objeto de estudo pode possuir inúmeras nomeações, apesar de designarem um mesmo ser, dependendo da área estuda. 2) Variedades Socioculturais 2.1) Variedades determinadas pelo falante a) Grupos Culturais: Uma pessoa que conhece a língua que emprega apenas “de ouvido”, que não teve oportunidade de tomar conhecimento das regras internas que a compõe, domina essa língua de forma diversa de uma pessoa que tem contato com esse código linguístico por meio de livros, dicionários ou ainda por intermédio da convivência com pessoas de boa formação intelectual. No entanto, não se quer dizer que um grupo fale melhor ou pior que outro. Variedades Linguísticas Variedades geográficas Falares regionais ou dialetos Linguagem urbana x linguagem rural Variedade socioculturais Variedade devidas ao falante Variedades devidas à situação Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada. Capítulo 1 – Língua, linguagem e comunicação 3 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa. Deseja-se apenas registrar o fato de que a formação escolar de um indivíduo, por exemplo, suas atividades profissionais, seu nível cultural podem determinar um domínio diferente dá língua. b) O jargão (uma variação social): Observe os diversos grupos profissionais, cada um deles faz uso de um vocabulário e expressão que são típicos de seu trabalho. As análises feitas até aqui apontam para o fato de que há na língua inúmeras variedades que representam os usos incontáveis que podem ser feitos dela. Essas variedades são infinitas porque são infinitas as maneiras como o vocabulário, a pronuncia e a sintaxe de uma língua pode se manifestar. Definir quantas são ou contá-las seria pressupor uma artificialidade inexistente, pois não se trata de uma realidade palpável, que se posso tocar ou distinguir com clareza. Além disso, as variedades se modificam, permeiam-se, de modo que é impossível determinar onde cada uma começa ou termina, e sua separação só pode ser feita didaticamente. Geralmente, cada usuário emprega mais de uma variedade, condicionando-a à situação em que se encontra, ao gênero discursivo, às finalidade que determinam sua ação. Desse modo, em um mesmo ato de fala é possível encontrar características de uma variedade misturada às de outra. Outra questão fundamental a observar é que uma variedade não é única e exclusivamente linguística: cada uma dela é também, e ao mesmo tempo, uma manifestação social e cultural, porque a língua e os seus usos são determinados e condicionados social e culturalmente. Da mesma forma que a cultura e a maneira de se expressar de algumas classes sociais possuem maior prestígio (são mais valorizadas) do que as de outras, podemos dizer que algumas variedades linguísticas também recebem maior prestigio enquanto outras são menos valorizadas. Variedade padrão, língua padrão ou norma culta: é a variedade linguística de maior prestigio social. Variedade não padrão ou língua não padrão: são todas as linguísticas diferentes da não padrão. Capítulo 1 – Língua, linguagem e comunicação 4 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa. Obs.: 1) Marca de oralidade: Algumas construções como “deixei ele” , são típicas da linguagem oral, até mesmo de pessoas que evitariam expressar-se assim em textos escritos formais Obs.: 2) Liberdade de uso Mesmo que em aulas de língua um professor detenha-se mais nas características da norma padrão, não se espera que um falante – seja ele quem for – abandone a variedade linguística que domina e passe a empregar a norma-padrão em todos os momentos de sua vida (lembre que a norma-padrão é um modelo teórico). É preciso saber utilizar mais de uma variedade linguística, adequando nosso discurso ao contexto, aos interlocutores, à finalidade pretendida. Linguagem verbal: envolvimento direto com a palavra Linguagem não verbal: sem envolvimento direto com a palavra Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa
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