Buscar

PREVENÇÃO E REPRESSÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ANAINA OLIVEIRA
IRACEMA REIMÃO
JEFERSOM ANDRADE
MARB BRANDÃO
MARIA AUXILIADORA
NOEMI FELIX TARRÃO
SAIHONARA OLIVEIRA
VALDELICE MATOS
WASHINGTON LUIZ
PREVENÇÃO E REPRESSÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS
SALVADOR/BA
2015
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................1,2
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRÁFICO DE PESSOAS...........................3,4,5,6
3 CONCEITO INTERNACIONAL DE TRÁFICO DE PESSOAS SEGUNDO A CONVENÇÃO DE PALERMO ................................................................................6,7
3.1 E SUA APLICAÇÃO NO CONTEXTO BRASILEIRO.......................7,8,9,10,11
4 O CRIME ORGANIZADO NA VISÃO DA CONVENÇÃO DE PALERMO.............................................................................11,12,13,14,15,16,17,18,19
5 O TRÁFICO DE PESSOAS E A LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIR.....................................................................................19,20,21,22,23,24,25
6 POLÍTICA DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS...................................................................................................25,26,27,28,29
7 FATORES QUE FAVORECEM O TRÁFICO DE PESSOAS E SUAS VULNERABILIDADES................................................................................30,31,32,33
8 REPARAÇÃO DOS DANOS MORAIS, PSICOLOGICOS E FINANCEIRO AS VITIMAS E AS FAMÍLIAS DOS TRAFICADOS...........................33,34,35,36,37,38 
CONCLUSÃO................................................................................................................39
 REFERÊNCIAS..................................................................................................40,41,42
INTRODUÇÃO
 
Com este trabalho pretendemos abordar todas as componentes que constituem um dos principais problemas da sociedade atual. Dessa forma, o trabalho propõe-se a definir e a caracterizar a atividade, bem como a sublinhar os possíveis riscos que esta pode ter para as vítimas, e também assinalar algumas formas de prevenção da mesma, sobretudo ao nível de associações e organizações capazes de lidar com o problema.
Ao pensar em crime, em carteis em facções, em organizações crimonosas, pensamos no monopólio de drogas, na rede de pedofilia até bem pouco tempo muito pouco difundida, mesmo agora, tão pouco comentada. Mas, nunca, nunca mesmo, pensamos na existência de uma rede que movimenta bilhões de dólares anualmente no mundo inteiro.
Quer se cogitamos a idéia de existir uma rede que trabalha com a exploração de seres humanos dentro do âmbito da sexualidade, trabalhos forçados, adoção ilegal de crianças, transplante de órgão ou pele humana, mendicância forcada, casamento forcado, para atividades criminosas, é inconcebível para qualquer pessoa a idéia de que possa existir tal barbárie.
O Tráfico de pessoas é daqueles poucos temas que conseguem unanimidade no que diz respeito à indignação à perplexidade quando se é abordado, quando se comenta, Como podemos em pleno século XXI, aceitar que seres humanos sejam escravizados e comercializados?
O Brasil é, ao mesmo, tempo exportador e importador de pessoas em situação de tráfico humano. Os desafios para superar essa chaga são inúmeros, desde a necessidade de mudança Legislativa que contemplem a, peculiaridade do crime de tráfico, passando pelo fortalecimento institucional e pela necessidade de apoiar e assegurar a sustentabilidade de organizações da sociedade voltadas à proteção dos grupos mais vulneráveis da sociedade.
Esse não é um problema apenas brasileiro. O tráfico de pessoas afeta grupos vulneráveis nas diversas partes do mundo. Da mesma forma, as redes criminosas se organizam além das fronteiras dos Estados Nacionais.
O combate ao crime organizado para explorar pessoas como mercadoria lucrativa, apenas poderá funcionar se o foco das diversas iniciativas for à proteção do ser humano que sofre a exploração. Essa é uma posição de princípio. Necessário, portanto, o estabelecimento de um amplo conjunto de estratégias coordenadas. Que vão da reforma institucional a programas de educação, voltados à prevenção, à proteção da integridade e dignidade das pessoas vulneráveis. 
2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRÁFICO DE PESSOAS
Podemos tratar o tema em quesito, de instituto que abrange uma vasta clareza e conhecimento de fatores que levam a sua causa e a crescente obstáculo que se tem na busca de dados concretos e elaboração de meios eficazes para a solução do problema, é que se vê necessário um célere histórico da matéria relacionada tanto na causa quanto na criação de meios resolutivos no âmbito nacional e internacional.
2.1 BREVE ESCORÇO HISTÓRICO
De acordo com Shecaria e Silveira a mais antiga referência histórica do tráfico de pessoas que teve início no século XIV e XVII, com prática do tráfico negreiro. O Brasil além de manter a escravidão, foi o último país da América a ab-rogar.No início do século XIX a existência de mão-de-obra escrava não interessava mais aos ingleses, que tinham grandes interesses no comércio na América do Sul.
Portugal nessa época conservava a liderança na prática do tráfico e mercado de escravos, fazendo com que a coroa Inglesa começasse a pressionar o país para o término da prática do tráfico negreiro, foi considerado ilícito para os Ingleses em 1807, e crime contra humanidade em 1808.
Passando a ser o principal alvo de medidas que visasse o término do trabalho escravo e o tráfico. Portugal e sua colônia, em 1810 foram forçados pelos ingleses a aceitar um tratado de “Cooperação e Amizade” em que a questão da escravidão era tratada, porém os Ingleses não obtiveram os resultados esperados no acordo, gerando uma nova pressão inglesa, que obtiveram uma aprovação de uma Lei contra o tráfico em 7 de novembro de 1831, que passou a ser chamada como lei de Diogo Feijó. Tal lei ratificava o término do tráfico de escravos que garantia, logo em seu art. 1º, que "todos os escravos, que entrarem no território ou nos portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres".
A disposição normativa não teve resultado, apesar das normas proibitivas que previam sanções criminais aos violadores, grandes levas de escravos continuaram vindo da África em 1855. Essa lei tinha como verdadeiro objetivo dar uma satisfação internacional, exclusivo à Inglaterra, que a fez conhecida como “Lei para inglês ver”.
Uma segunda norma brasileira contra o tráfico foi aprovada: Lei Eusébio de Queiroz, que deu poderes de apreender qualquer embarcação brasileira e estrangeira que tivesse escravos, ou mesmo com sinais de terem se destinado ao tráfico de escravos, conforme o (art. 1º). Como a repressão ao tráfico negreiro continuou suavemente, em 5 de junho de 1854, foi aprovada uma terceira lei, dando ainda mais poderes contra os importadores de escravos vindo da África. A notícia que se tem que em 1855 foi o último desembarque de escravos no Brasil.
Em seu livro sobre Tráfico Internacional de Mulheres e Crianças Damásio de Jesus, relata:
 Que o tráfico de seres humanos faz parte da nossa história. Os navios negreiros transportaram, durante 300 anos, milhões de pessoas - homens, mulheres e crianças - para o trabalho agrícola, que se estendia à servidão doméstica, à exploração sexual e às violações físicas. (Damasio,2203,P,20)
Logo após a escravidão, um novo século surgiu, uma movimentação constante de pessoas provenientes da Europa vindos em direção ao território brasileiro. Milhares de pessoas deslocaram-se da Europa para países do Novo Mundo, fugindo da fome e da perseguição que os afligia naquela época. Uma realidade que os Europeus sonhavam, era diversa da esperada. Os imigrantes encontraram aqui uma dura realidade do trabalho semi-escravo. Nesse enorme fluxo de pessoas, apareceu o tráfico de mulheres, meninas e jovens eram trazidas da Europa para serem exploradas sexualmente nos países da fronteira da crescente economia capitalista. Milhares de pessoas ainda cruzamfronteiras em busca de um sonho e uma vida melhor.
2.2 SITUAÇÕES ATUAIS E ASPECTO GERAL
Não é algo novo o tráfico de pessoas, nos dias de hoje é uma forma de escravidão moderna que persistiu durante toda história, é um problema antigo, o mundo democrático pensava que estava extinto, porém vem se consubstanciando com a letargia e a reserva que se tem em encarar o problema, devido a muitos aspectos que a eles são imanentes. 
O mundo enfrenta, hoje, dois tipos de tráfico de mulheres e crianças. Um deles tem atividade de precípuo interesse vinculado à mão-de-obra escrava, ainda que não se desvincule do interesse de comércio sexual. Ocorre principalmente na África. Outro tem clara conotação sexual e sua prática vem ocorrendo em todos os continentes. (Shecaria e Silveira)
O tráfico de pessoas constitui um fenômeno ominoso, cada vez torna-se mais grave e preocupante. Isso não afeta apenas um número limitado de pessoas, pois suas conseqüências abalam a estrutura social e econômica. Sua principal causa é de fluxo imigratório. Com a falta de direita ou baixa interpretação das regras internacionais de direitos humanos, a pobreza, a desigualdade, a instabilidade econômica, as guerras, os desastres naturais e a instabilidade política, sua prática é facilitada pela globalização e pelas tecnologias modernas. O tráfico de pessoas não se restringe só na exploração sexual, envolve também a exploração do trabalho em condições próximas da escravidão. As vítimas sofrem violências, violações, maus tratos e atrocidades, e outros tipos de pressões e coações.
É certo que, algumas pessoas além de estar dispostas, assumiram totalmente o risco de cair nas mãos de traficantes, em busca de uma condição melhor de vida, existe nos países industrializados uma tendência preocupante à utilização de mão-de-obra barata e clandestina, bem como à exploração de mulheres e crianças no mundo da prostituição. As mulheres são particularmente vulneráveis ao tráfico de pessoas devido à pobreza, à sobreposição do homem sobre mulheres. Triste, saber que muitas meninas sofrem abusos, e ainda são forçadas a ter relações sexuais de risco e temporárias e algumas delas se vêem obrigadas a se casar, mesmo sendo ainda crianças. Em vista de tais estatísticas, a ONU ainda inclui dados da seguinte ordem: cerca de quatro milhões de mulheres e crianças que foram vendidas e compradas tendo como destino o matrimônio, a prostituição ou a escravidão, muitas delas caem nas mãos de traficantes que as exploram.
(...) Charo Nogueira, relata que em 2000, a Organização das Nações Unidas começou a elaboração do informe sobre a população mundial, dando ênfase expressiva ao problema da prostituição de meninas e o tráfico de mulheres como sendo um item relevante e merecedor de destaque nas agendas internacionais e nacionais. 
Diversos países vêm tentando reprimir o tráfico de pessoas nas fronteiras, tomando medidas como: realizações de campanhas nos aeroportos, divulgação na mídia impressa e televisiva, etc. Foram elaborados também programas de associações de comércio exterior mostrando que os países desenvolvidos se organizam de uma maneira vasta para divulgação de informações sobre o tráfico. Por conta da longa inércia dos Estados em reconhecer a maioria dos fatos de tão importância, as vítimas de crimes desta categoria e outros que ainda aguardam medidas governamentais, e vêm sofrendo conseqüências graves, atrocidades e maus tratos e todo tipo de abuso contra integridade humana. Tal problema decorre da desproteção, da carência e da lentidão na elaboração de provimentos necessários para prevenção e combate ao Tráfico de Pessoas.
3. CONCEITO INTERNACIONAL DE TRÁFICO DE PESSOAS SEGUNDO A CONVENÇÃO DE PALERMO 
 
O tráfico de pessoas é o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração, nos termos do Protocolo de Palermo, incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. Apesar de não taxativo, o Protocolo nomeia as formas de exploração mais conhecidas e reconhecidas pela literatura nacional e internacional. No mundo inteiro, diversas pessoas têm caído na rede do tráfico. Melhores condições de vida, um melhor emprego, um marido estrangeiro, o sonho de morar em países desenvolvidos e de ter acesso a determinados bens de consumo têm sido nomeados na literatura como as principais razões para que pessoas, em regra vulneráveis, se arrisquem e saiam de seus territórios para outras cidades e países em busca de oportunidades. Isso nós já sabemos. O que não sabemos ainda são quantos seres humanos caem na rede do tráfico de pessoas por ano, por mês, diariamente. Fatores como a subnotificação do crime de tráfico de pessoas; a ausência de legislação adequada e que abranja o tráfico de pessoas para outros fins que não a exploração sexual; e ainda a falta de conhecimento dos profissionais que atendem as vítimas de tráfico de pessoas em reconhecê-las como tal contribuem para o desconhecimento desse fenômeno. Para que possamos mensurar o tráfico de pessoas, em tese, os sistemas de Segurança Pública e Justiça Criminal são essenciais. O Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças, ainda conhecidas como Protocolo de Palermo, adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 15 de novembro de 2000 e promulgado no Brasil pelo Decreto nº 5.017, de 12/03/2004 A mídia tem noticiado casos de tráfico de pessoas para fins de mendicância e de participação em conflitos armados. O Freedom Project, da rede de televisão Americana CNN, vem noticiando casos de tráfico de pessoas para as mais diversas formas de exploração. 
3.1 SUA APLICAÇÃO NO CONTEXTO BRASILEIRO
Em 2004, o Brasil ratificou o protocolo adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Criança1, do qual era signatário desde 2000. Em 2006, foi criada a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. De 2008 a 2010 vigorou o I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP). Em função do compromisso internacional firmado e das políticas instauradas, ocorreram mudanças na legislação, capacitaram-se operadores de direito e de segurança pública, produziu-se uma quantidade significativa de estudos qualitativos, ocorreram operações policiais e o tema ganhou espaço na mídia e nas preocupações da sociedade civil organizada.
Em 2010, o governo produziu uma avaliação do I PNETP. Dela, destacamos duas epígrafes que definem bem o que foi – e o que é - trabalhar com o tema do tráfico de pessoas para governantes, organismos internacionais, ONGs e academia:
Uma verdadeira viagem de descoberta não se resume à pesquisa de novas terras, mas envolve a construção de um novo olhar (Marcel Proust).
A complexidade indica que tudo se liga a tudo e, reciprocamente, numa rede relacional e interdependente. (...) Ao mesmo tempo em que o indivíduo é autônomo, é dependente, numa singularidade que o singulariza e distingue simultaneamente. Como o termo latino indica: ”Complexus- o que é tecido junto” (Edgar Morin).
De fato, “complexo” é um dos adjetivos mais utilizados pelos atores institucionais e/ou acadêmicos envolvidos no tema do tráfico de seres humanos (TSH). Tal complexidade vem da própria definição de tráfico de pessoas, consoante o artigo 3 do Protocolo de Palermo, conforme vimos anteriormente 
a) A expressão “tráfico de pessoas” significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ouuso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas, tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea ‘a’ do presente Artigo, será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea ‘a’
 c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de exploração serão considerados “tráfico de pessoas”, mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos da alínea ‘a’ do presente Artigo;
d) O termo “criança” significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos. 
Ora, uma categoria que envolve termos por si só difíceis de definir ou identificar como exploração sexual, escravatura, remoção de órgãos, consentimento e mesmo criança, obviamente, tornou-se um desafio para juristas, governantes, defensores de direitos humanos e cientistas sociais. O fato de “tráfico de pessoas” ser uma categoria exógena (mesmo em um país que aboliu a escravidão há pouco mais de um século) e homogenizadora levaram a questões hermenêuticas de complexa solução. De um lado, desagradou ativistas anti-trabalho escravo – em função de a nova pauta ter se sobreposto às já consolidadas ações e debates em torno do tema – e prostitutas e trans – pelo fato de que, para elas, o enfrentamento ao tráfico acabou significando, muitas vezes, o aumento da repressão de suas práticas. De outro, a nova pauta internacional também permitiu a construção de uma gradiente de enfrentamentos e composições que aponta para soluções interessantes em termos de estratégias locais, que precisam ser consideradas. É importante registrar que o tema do tráfico de pessoas já circulava no universo dos defensores dos direitos de crianças e adolescentes desde a década anterior, em função da Convenção dos Direitos da Criança das Nações Unidas, de 1989, e da Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho, de 1999, sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil. Em seu artigo 35, a Convenção dos Direitos da Criança (CDC) assegura que os Estados Partes tomarão todas as medidas de caráter nacional, bilateral e multilateral que sejam necessárias para impedir o seqüestro, a venda ou o tráfico de crianças para qualquer fim ou sob qualquer forma. A CDC foi adotada pelo Brasil em 1990. A Convenção 182 da OIT, em seu artigo 30, inciso “a”, elenca, entre as piores formas de trabalho infantil, todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados. 
No Brasil, a definição de tráfico de pessoas utilizada pelos órgãos oficiais é a mesma de Palermo, com uma diferenciação fundamental: o alcance geográfico. O Protocolo refere-se ao tráfico transnacional, enquanto a legislação brasileira prevê também o tráfico doméstico de pessoas. Essa tipificação tem sido responsável, conforme denúncias de prostitutas e suas associações, por um recrudescimento na repressão a prostituição, mesmo quando realizada de maneira autônoma. O Tráfico de compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados. A Convenção 182 foi adotada pelo Brasil no ano 2000.
A primeira tentativa de levantamento de informações sobre o tema no Brasil – a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial (Pestraf) – foi justamente produzida por uma rede de pesquisadores e entidades de defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Esta rede estava, há algum tempo, envolvida com o tema da exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil, inicialmente tratada como “prostituição infantil”.
A adequação do termo para “exploração sexual comercial” foi resultado da participação de delegações brasileiras em eventos internacionais importantes, como o I Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças (realizado em Estocolmo, Suécia, em 1996, e que teve como resultado a Declaração de Estocolmo e a Agenda para a Ação, adotada por 122 países) e o II Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças, realizado em dezembro de 2001, em Yokohama, Japão, resultando no Compromisso Global de Yokohama, firmado por 161 países. Na Declaração de Estocolmo, a exploração sexual comercial de crianças (que ficou conhecida no Brasil pela sigla ESC) era definida como “uma forma de coerção e violência contra as crianças, que pode implicar em trabalho forçado e formas contemporâneas de escravidão”.
Entre ativistas da área, no Brasil, firmou-se, sobretudo a percepção de que não se deveria mais usar a expressão “prostituição” para menores de 18 anos, pois, sendo estes indivíduos crianças, conforme a CDC, presumia-se sempre a violência e a exploração.
No que se refere ao trabalho forçado, tínhamos um acúmulo grande de debates e de políticas de enfrentamento, ligadas à categoria nativa de “trabalho escravo”. Desde o final da ditadura militar, com o advento da Nova República, o governo federal – por meio da Coordenadoria de Conflitos Agrários do Ministério do Desenvolvimento Agrário- havia reconhecido institucionalmente a ocorrência de relações de trabalho análogas à escravidão, principalmente em grandes latifúndios da região amazônica.
Isto acabou levando a um menor entendimento da ESC como “forma contemporânea de escravidão” e a sobreposições equivocadas entre ESC e abuso sexual. O tema da ESC passaria a ser muito mais um tema da área penal do que trabalhista. “A questão não muito colocada, mas que desafiava a todos, era a de como posicionar-se quando aquela criança explorada sexualmente e comercialmente fazia 18 anos e era livre, pela legislação brasileira, para exercer a prostituição. Todo o largo debate do feminismo entre “abolicionistas” e “defensoras dos direitos das trabalhadoras do sexo” aparentemente não circulava no universo dos defensores dos direitos das crianças e adolescentes. Na área migratória, desde 1997, quando aconteceu o I Simpósio Internacional sobre Emigração Brasileira, promovido pela Casa do Brasil em Lisboa, a maior reivindicação dos brasileiros no exterior e seus mediadores externos (ONGs, Ministério Público, Congresso Nacional e pesquisadores de assuntos migratórios), explicitada no Documento de Lisboa, de 2002, era “a criação de uma instância orgânica interministerial para coordenar uma política para atendimento e apoio aos emigrantes brasileiros e incentivo ao seu regresso, integrando esforços de vários Ministérios”. Seguiram-se a Carta de Boston (2004) e o Documento de Bruxelas (2007). Conforme Rosita Milesi e Orlando Fantazzini, estes documentos “expressam um sentimento de que o Estado brasileiro ainda não dispensa aos brasileiros e brasileiras que residem no exterior a atenção que esses indivíduos merecem”.
Também foi grande a mobilização da sociedade civil brasileira, desde a década de 1990, para que o Brasil assinasse a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e seus Familiares, aprovada pela ONU em 18 de dezembro de 1990. O Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e o Centro Scalabrininiano de Estudos Migratórios (CSEM) vêm, desde 1994, lutando pela ratificação da Convenção. Apenas recentemente o governo brasileiro retirou alguns senões colocados pelo Ministério da Justiça e a assinatura está em estudo na Casa Civil da Presidência da República.
Neste ínterim,o Ministério do Trabalho e Emprego e o Conselho Nacional de Imigração avançaram na construção de uma política migratória brasileira, por meio de uma seqüência de seminários e reuniões que resultaram no documento Política Nacional de Imigração e Proteção ao Trabalhador (a) Migrante, colocado para consulta pública no primeiro semestre de 2010. O Presidente da Republica, em junho de 2010, assinou o Decreto no. 7.214, que estabelece princípios e diretrizes da política governamental para as comunidades de brasileiros no exterior, institui as Conferências “Brasileiras no Mundo”, cria o Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior (CRBE) e dá outras providências. Ou seja, treze anos após o primeiro encontro de brasileiros no exterior, em Lisboa, suas principais reivindicações parecem ter sido realizadas ou pelo menos tratadas. Ao se discutir a implementação da Política Nacional.
4. O CRIME ORGANIZADO NA VISÃO DA CONVENÇÃO DE PALERMO
	Quando se fala em Criminalidade Organizada, logo vem à cabeça uma grande organização mafiosa como aquelas dos filmes de Hollywood, o que se resume a pura ficção, a realidade é bem diferente. Trata- se na verdade do grande e inestimável comércio de armas e drogas nos morros e favelas, as facções dentro dos presídios; com alto grau de organização, estrutura hierárquica, possuindo na maioria das vezes legislação própria; atualmente temos como um dos maiores exemplos o Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo organizado que atua no estado de São Paulo cujo objetivo é o “resgate” de presos, defendendo os direitos de cidadãos encarcerados geralmente dos líderes, auxiliando nas fugas e nas grandes rebeliões que ocorrem nos presídios do estado. 
	Em decorrência das peculiares características dessas organizações juntamente com seu alto poder de atuação, corrupção e interferência estatal, alcançam seus ideais sob o resguardo da impunidade atormentando toda sociedade. O grande desafio é enfrentar a criminalidade organizada sem ofender os Direitos e Garantias Fundamentais, de modo a prevenir, combater e controlar; para isso se faz necessário dar efetividade a Lei 9.034/95 que versa sobre o Crime Organizado no país de forma conjunta com a legislação internacional introduzida no ordenamento jurídico pátrio - A Convenção de Palermo também conhecida como Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, adotada pela ONU no ano de 2000, sendo promulgada pelo Brasil no dia 12 de março de 2004 através do Decreto 5.015. 
	Os legisladores por várias vezes, em diversos projetos de lei tentaram tipificar o delito de “Crime Organizado” respeitando o disposto na ordem jurídica internacional; porém até o presente momento não foi encontrada uma solução eficaz para essa questão de modo que o mais pertinente nesse caso seria a adoção pelo ordenamento pátrio e internacional; do Crime Organizado não como um fato típico descrito no texto de lei e sim como uma qualificadora a ser empregada. 
4.1 O CRIME ORGANIZADO NO BRASIL
	 A criminalidade organizada nacional teve sua origem no final do século XIX e início do século XX com o movimento popularmente conhecido como “Cangaço”, seu mais famoso líder foi Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”. Esses grupos se dedicavam a prática de diversas atividades ilícitas, no Nordeste do país; e já possuíam alto grau de organização de seus membros de forma hierárquica. Mas foi no século XX que ocorreu um aumento significativo na criminalidade brasileira, após o Decreto-Lei 3.688/1941, a Lei das Contravenções Penais; ela trouxe vários tipos penais importantes como o “jogo do bicho” que teve seu auge no país nos anos 80. Nos anos de 1970 surgiram nas penitenciárias brasileiras, a princípio nos presídios cariocas, grupos que se destinavam ao tráfico de drogas e roubos a bancos, como o Comando Vermelho originário na penitenciária de Bangu I, Terceiro Comando e a Falange Vermelha, essa surgiu no presídio de Ilha Grande. Posteriormente, se espalhando rapidamente, em 1993 em São Paulo no presídio de segurança máxima anexo à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, o Primeiro Comando da Capital – PCC. Esses grupos passam a existir em meio a uma situação crítica em que se encontrava o país, havia uma grave crise política e econômica e o auge do êxodo rural, ou seja, a população rural se deslocava para as grandes capitais, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro a procura de melhores condições de vida. Concomitantemente ocorria o crescimento desgovernado nas cidades e o surgimento das periferias e favelas, ponto ideal para o surgimento e crescimento da criminalidade.
4.2 O CRIME ORGANIZADO (CONCEITOS)
	Quando se fala em crime organizado há uma grande dificuldade em relação a um conceito preciso do tema, visto que, refere-se a um fenômeno muito antigo que com o passar dos séculos foi evoluindo e tomando diversas formas conforme o momento e o local. Sempre que se tenta definir o Crime Organizado é normal nos depararmos com suas características e não sua tipificação legal. Portanto se faz necessário verificar quais são as principais propriedades e especificidades de acordo com os fenômenos sociais.
 Franco (1994) trouxe a definição elencando seus pontos principais:
O crime organizado possui uma textura diversa: tem caráter transnacional na medida em que não respeita as fronteiras de cada país e apresenta características assemelhadas em várias nações; detém um imenso poder com base em estratégia global e numa estrutura organizativa que lhe permite aproveitar as fraquezas estruturais do sistema penal; provoca danosidade social de alto vulto; tem grande força de expansão compreendendo uma gama de condutas infracionais sem vítimas ou com vítimas difusas; dispõe de meios instrumentais de moderna tecnologia; apresenta um intrincado esquema de conexões com outros grupos delinqüências e uma rede subterrânea de ligações com os quadros oficiais da vida social, econômica e política da comunidade; origina atos de extrema violência; urde mil disfarces e simulações e, em resumo, é capaz e inerciar ou fragilizar os Poderes do próprio Estado.
	No Congresso Internacional de Direito Penal realizado em 1994 no Rio de Janeiro, O Crime Organizado foi tema de discussão entre diversos juristas que não conseguiram em nenhum momento definir o que é o Crime Organizado, uma vez que o Estado de Direito e a quebra das garantias e normas processuais acabou por se tornar objeto essencial quando se trata de Crime Organizado. Mingardi traz as principais conclusões sobre o tema abordado no Congresso (1998, p.27):
Prof. Eugênio Raul Zaffaroni (Argentina): O Crime Organizado não é uma categoria clara, mas supondo que fosse a maior fonte dele seria o Estado, através do terrorismo de Estado, do controle da máquina estatal por parte de corruptos, da proibição ou repressão a determinados produtos e, principalmente, pelo uso do fantasma do Crime Organizado para debilitar o estado de Direito. Prof. Faria Costa (Universidade de Coimbra): A categoria de Crime Organizado não tem qualquer lógica. Além disso a criação, em Portugal, da figura da Associação Criminosa facilitou o trabalho policial pois é fácil acusar disso, muito mais do que provar a co-autoria em um crime comum. Prof. Juarez Tavares (Rio de Janeiro): O Crime Organizado é como qualquer outro fato delituoso comum, e que pode ser enquadrado nas normas vigentes do Código Penal. Prof. Ada Pellegrini Grinover (USP): As leis de exceção, criadas em vários países para combater o terrorismo, o tráfico, etc., tem suprimido certas garantias processuais, e por isso são um perigo para o Estado de Direito. Não crê que seja através da supressão de noras processuais que se poderá resolver o problema.
	Mingardi (1998, p.82) concluiu que: 
Grupos de pessoas voltadas para atividades ilícitas e clandestinas que possui uma hierarquia própria e capaz de planejamento empresarial, que compreende a divisão do trabalho e o planejamento de lucros. Suas atividades se baseiam no uso da violência e da intimidação, tendocomo fonte de lucros a venda de mercadorias ou serviços ilícitos, no que é protegido por setores do Estado. Tem como características distintas de qualquer outro grupo criminoso um sistema de clientela, a imposição da Lei do Silêncio aos membros ou pessoas próximas e o controle pela força de determinada porção de território.
	Oliveira (2004) em pesquisa apresentou o seguinte conceito:
 A construção do conceito do que é o crime organizado não é fácil. Aspectos econômicos e institucionais devem ser levados em consideração. Inicialmente, é de vital importância tentar descobrir quais são as características – que estão no âmbito econômico e institucional – que permitem que o grupo de indivíduos que pratica atos ilícitos possa ser classificado como organização criminosa. Dentre essas características devem ser observados o “modus operandi” dos atores na operacionalização dos atos criminosos, a estruturas de sustentação e ramificações do grupo, as divisões de funções no interior do grupo e seu tempo de existência.
	É possível encontrar ainda diversos outros conceitos, porém há um consenso no sentido de que o crime organizado seja um grupo de pessoas que praticam atividades ilícitas sendo estas sustentadas por atores estatais, devendo ser feita essa interpretação no sentido jurídico, político-social e econômico.
	Não há ainda como definir o crime organizado tendo, como base condutas ilícito uma vez que as Organizações Criminosas possuem um inexplicável poder variante, ou seja, elas estão em constante modificação de forma que aquela atividade se torne mais lucrativa possível devendo sempre acompanhar a evolução tecnológica e conseqüentemente fugir da persecução penal. É difícil definir, legislar e punir. 
	Quando se fala em crime organizado é comum associá-lo ao terrorismo o que pode gerar certa confusão nos conceitos, fato que merece ser ressaltado por provocar o mesmo temor na sociedade. A diferença marcante se da em suas finalidades, enquanto a criminalidade organizada objetiva o lucro, grupos terroristas se destinam a pratica de ilícitos que promovam a insegurança e o medo sob justificativas políticas e religiosas.
4.3 ASPECTOS GERAIS
	Atualmente existem diversas organizações criminosas, cada uma atuando de maneira própria com características peculiares de acordo com as necessidades encontradas. No entanto há algumas características essenciais e 29 comuns de importância relevante para definir e caracterizar a atuação desses grupos. A forma mais clara e visível recentemente de ação é aquela que substitua o Estado em qualquer uma de suas atividades inerentes, decorrente da ausência da prestação do serviço público ou pelo fato de funcionarem mal - é o que se denomina “Estado Paralelo”, embora ilegal é indispensável certo grau de organização contendo no comando os elementos de qualquer administração. Em primeiro plano, destaca- se a acumulação de poder econômico dos integrantes, o que emana a necessidade de “legalizar” o lucro obtido de forma ilícita – através da lavagem de dinheiro por meio dos paraísos fiscais no Panamá, Ilhas Cayman, Uruguai, Ilhas Virgens Britânicas, Andorra. 
	Segundo a ONU, 3% de toda a riqueza que circula no mundo é proveniente da lavagem de dinheiro e do tráfico ilícito de entorpecentes. O poder de corrupção é característica marcante sendo direcionado a várias esferas do Estado, criando uma impressão de estabilidade visto que os criminosos encontram segurança para atuar continuamente, o que gera o famoso problema da impunidade, incentivo cada vez mais a prática de novos delitos. Derradeiro, nota-se que a criminalidade difusa decorre da ausência de vítimas conhecidas, sendo um obstáculo à reparação dos danos causados, uma vez que quando se tem conhecimento da infração, os danos são enormes e na maioria das vezes irreparáveis, restando ao Poder Público o rastreamento daquilo que foi causado, tarefa essa de difícil materialização frente à morosidade e dificuldades naturais. 
	As organizações criminosas possuem característica mutante, variante, ou seja, de tempos em tempos modificam sua estrutura administrativa, utilizam empresas fictícias, terceiros, popularmente conhecidos como "laranjas" e diversas contas bancárias em paraísos fiscais, há uma mistura de atividades lícitas com atividades ilícitas, por exemplo, bares e o tráfico de drogas, lojas e contrabando – descaminho, dentre outros – como forma de inviabilizar a atuação pelo Poder Público. Outro fator considerável é o alto poder de intimidação, sendo estabelecida a todos os membros da organização a chamada “Lei do Silêncio”, além 30 do uso da violência quando necessário, nas grandes organizações é utilizada em último caso, uma vez que empregada a violência o delito passa a chamar a atenção das autoridades e da população em geral.
4.4 CONSEQUÊNCIAS
	A partir da análise das características do crime organizado é necessário vislumbrar suas conseqüências perante diversas esferas, principalmente do ponto de vista político, econômico, social e jurídico, visto que esse tipo de criminalidade se expande de tal modo que atinge todos os poderes do Estado, colocando em risco a vida democrática de uma nação. 
	
	a) Aspecto social
	Esse tipo de organização tem como principais atrativos lucros inestimáveis, posição social e respeito; aproveitando-se das baixas expectativas sociais, para atrair cada vez mais membros. Essa realidade não será reprimida apenas com o combate, o extermínio de um ou mais grupos, com é comum; a melhor política para isso é sem dúvida é a prevenção tendo como objeto principal a educação, medida eficaz para enfrentar esse fenômeno social.
	b) Aspecto político
	Sob esse aspecto pode-se dizer que as organizações criminosas transformaram-se em um verdadeiro “contra-poder” dentro do Estado; com a finalidade de controlar o palco político o crime organizado se utilizada de seu principal instrumento - a corrupção, destinado exclusivamente para sua aderência aos poderes do Estado. Por meio de uma grande quantidade de capital esses criminosos financiam a conivência nos diferentes cenários, desde aqueles que fazem e aprovam as leis em nosso país até aqueles responsáveis pela efetivação de seu cumprimento, como a polícia por exemplo. 
	c) Aspecto econômico 
	Em relação aos aspectos econômicos o crime organizado é bem diversificado, podendo atuar em diversos setores da economia inclusive simultaneamente, caracterizando-se especialmente pela prática de uma economia paralela, onde as atividades ilícitas se difundem com atividades lícitas; poder de penetração é inexplicável, principalmente onde a corrupção estiver presente. Nos anos 50 e 60 a máfia esteve envolvida com atividades agrícolas, posteriormente adentrou as cidades e o meio empresarial; nas décadas de 70 a 90 estando no auge, a criminalidade organizada se destinou ao tráfico de drogas. Atualmente, apesar das diversas áreas de atuação em relação à prática de atividades econômicas o crime organizado vem se destacando nas grandes privatizações, com a finalidade não somente para a lavagem de dinheiro, mas também como forma de adentrar à sociedade, através da prática de uma atividade econômica lícita.
	d) Aspecto jurídico
	Quando se fala no Crime Organizado sob o aspecto jurídico logo se associa as leis; e aqui se trata de leis antigas, mal formuladas, contraditórias e ao mesmo tempo complexas, dificultando cada dia mais a própria aplicação perante o ordenamento jurídico, pois não foram elaboradas com base em uma visão sistemática do real fenômeno, que é a criminalidade organizada, por não conhecer de fato o problema, objeto de controle e combate.
4.5 PALERMO E O CRIME ORGANIZADO
	Antecedentes e Diretrizes Através de mecanismos do Direito Internacional é possível a criação de acordos e tratados multilaterais ou bilaterais, sendo a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional objeto do presente trabalho, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro em 12 de março de 2004, por força do Decreto 5.015 tendo a finalidadede definir e combater de forma eficaz o crime organizado. 
	A Convenção é o ato normativo internacional, que prevê medidas e técnicas de investigação, visando à prevenção e o combate à criminalidade organizada; juntamente com outros três tratados internacionais aderidos pela ONU para, em conjunto com a Convenção, uniformizar o procedimento das autoridades responsáveis pela aplicação da lei, esses são chamados de Protocolos Adicionais.
	A Convenção de Palermo estabelece no artigo 3°, que sua aplicação ocorrerá quanto à prevenção, investigação, instrução e julgamento e medidas de repressão de forma geral em relação aos delitos previstos nos artigos 5°, 6°, 8° e 23, bem como outros tipos penais que não esteja disposto nela devendo, entretanto, estar presente o caráter de transnacionalidade ou ainda a condição de grupo organizado, conforme presente as respectivas características.
	A Convenção de Palermo em seu artigo 10 refere-se a responsabilizada da pessoa jurídica quando essa estiver ligada as organizações criminosas, esse dispositivo discorre que a Pessoa Jurídica que participar de infrações graves ou ainda qualquer um daqueles delitos preconizados pela Convenção como por exemplo a lavagem de dinheiro, corrupção, obstrução de justiça, etc.; deverá ser responsabilizado pelo seu respectivo Estado. Essa responsabilidade poderá ser civil, administrativa e inclusive penal. Cabia ressaltar aqui, que a responsabilidade penal objetiva aplicada as pessoas jurídicas quando se tratar de organização criminosa deverá ser aplicada em conformidade com o ordenamento jurídico pátrio.	Quando se fala em Crime Organizado não se pode esquecer a figura da “máquina” do Estado, uma vez que há íntima e indiscutível relação entre eles, de forma que uma não sobrevive sem a outra; sempre haverá alguém provido de situação financeira avantajada, status social e muito poder; colaborando de forma imprescindível para a atuação contínua daquele grupo. Diante do que foi exposto pode- se dizer que a atuação e repercussão do Crime Organizado representam uma afronta aos Estados e a todo ordenamento jurídico, uma vez que esses juntamente com a ONU buscam de forma eficaz medidas para enfrentar a criminalidade organizada; e para alcançar os ideais almejados é necessário que haja extrema cooperação por parte dos estados aliados fazendo valer as medidas preventivas e de repressão trazidas pela Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado. 
	É possível ilustrar vários pontos concluídos: a princípio inexiste um conceito de lei nacional quanto ao Crime Organizado de modo a dificultar qualquer medida a ser tomada pelo ordenamento, com o advento da Convenção de Palermo tentou-se preencher essa lacuna; porém não foi obtido êxito, pois não se conseguiu vinculá-la de forma direta no direito interno em decorrência de contradições de seu conceito com os demais dispositivos encontrados na respectiva ordem internacional.
Diante disso tem-se afronta a diversos princípios e garantias constitucionais como o Princípio da Legalidade e do Devido Processo Legal, pois é transferido ao Poder Judiciário o poder de definir esse tipo penal; há uma negação quanto à anterioridade da lei penal bem como da taxatividade dos tipos penais. Em relação aos demais pontos trazidos pela lei penal internacional principalmente em relação aos instrumentos processuais são perfeitamente cabível e pertinente sua aplicação direta no direito doméstico de modo a proporcionar melhores resultados quanto a medidas preventivas e de repressão ao crime organizado. 
	
5. O TRÁFICO DE PESSOAS E A LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA.
Muitos questionam como é possível em um mundo altamente globalizado o tráfico de pessoas ser uma realidade tão presente, á aqueles que nem acreditam que tal prática criminosa aconteça em dia atuais. Segundo a ONU o tráfico de pessoas é uma das atividades criminosas mais lucrativas do mundo atinge pelo menos, 2,5 milhões de pessoas e movimenta 32 bilhões de dólares por ano, sendo o tráfico de pessoas com fins para exploração sexual de mulheres correspondentes a 85% destes dados.
O Protocolo de Palermo foi elaborado em 2000, tendo entrado em vigor em 2003 e ratificado pelo Brasil por meio do Decreto n 5. 017, de 12 de 2014, a partir de então o Brasil ao reconhecer o Protocolo se obrigam a observá-lo e conseqüentemente criar políticas públicas de enfrentamento ao tráfico humano, a ratificação do Protocolo motivou uma grande mudança na legislação interna brasileira. O Preâmbulo do Protocolo destaca o principal objetivo do instrumento – prevenção, punição e proteção.
Uma ação eficaz para prevenir e combater o tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças, exige por partes dos países de origem, de trânsito e destino uma abordagem global e internacional, que inclua medidas destinadas a prevenir esse tráfico, punir os traficantes e proteger as vítimas desse tráfico, designadamente protegendo os seus direitos fundamentais, internacionalmente reconhecidos... (BRASIL Decreto 5017, 2014).
 Mais uma evidência da especial atenção que passou a ser destinado ao tema “tráfico de pessoas”, a partir da adesão do Brasil à “Convenção de Palermo”, encontra-se na legislação penal em vigor. Duas leis introduziram profundas alterações no Código Penal. A primeira, Lei 11.106/2005, foi editada com o propósito de modificar alguns dispositivos relacionados com o objeto desta exposição, mas não teve longa duração de sua vigência, pois logo se seguiu a promulgação da Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009, que implementou uma nova textura aos tipos penais. Hoje, por força de tais alterações, o Código Penal, em sua Parte Especial, apresenta o Título VI, tutelando a dignidade sexual, no espaço em que outrora tratava dos crimes contra os costumes. 
Essa tutela penal é plenamente justificável na medida em que a dignidade da pessoa humana constitui um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CF). 
Entende-se que a dignidade sexual é uma espécie do gênero dignidade da pessoa humana, bem jurídico indisponível, daí ter o legislador incluído, na composição do referido Título VI do Código Penal, alguns Capítulos que versam, em tom abrangente, de crimes sexuais. E no seu Capítulo V – Do lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração sexual – é que se encontram os tipos penais que versam sobre tráfico internacional e o tráfico interno de pessoas para fim de exploração sexual. Como veremos a seguir, os tipos penais em espécie visam coibir principalmente a ação da criminalidade organizada, que visivelmente predomina sobre a prostituição e demais formas de exploração do sexo.
Será punido com reclusão, de 3 a 8 anos, quem promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. Na mesma pena incorre aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. Incide o aumento da metade da pena: se a vítima é menor de 18 anos; se a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; e, ainda, se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. Ademais, será imposta, cumulativamente, a pena de multa se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica (art. 231, caput, §§ 1º, 2º e 3º, do Código Penal, com as alterações determinadas pela Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009). 
Entende-se que a conduta de promover funda-se em termos bem abrangentes, podendo ter os seguintes significados: dar impulso; trabalhar a favor; estimular; executar; efetuar diretamente; favorecer o progresso; fomentar; causar; originar. Portanto,promover a entrada de alguém proveniente do exterior, ou a saída de alguém do território nacional para o exterior, compreende a arregimentação da pessoa e a organização de tudo aquilo que seja necessário para que seja bem-sucedido o tráfico internacional, condizente com a finalidade de exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual (Exs.: turismo sexual, pornografia, ou outro tipo de dominação e abuso do corpo da pessoa). Nota-se, portanto, que o sentido que se atribui ao termo promover é genérico. Como ressalta o Doutor Penalista Rogério Creco, “o agente atua verdadeiramente como um empresário do sexo, da prostituição, adquirindo passagens, obtendo visto em passaporte, arrumando alguma colocação em casas de prostituição, enfim, praticando tudo aquilo que seja necessário para que o sujeito passivo consiga ultrapassar as fronteiras dos países nos quais se prostituirá ou será explorado sexualmente”. 
Quanto ao núcleo facilitar significa auxiliar, ajudar, eliminar as barreiras legais para a entrada de alguém proveniente do exterior, ou a saída de alguém do território nacional para o exterior. Verifica-se aqui a implícita vontade da vítima de exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, de sorte que o agente exerce o papel de assessor ou colaborador na realização do tráfico internacional. Logo, o consentimento da vítima não elide a responsabilidade do agente. 
O elemento objetivo território nacional – toda região em que o Estado exerce a sua soberania - compreende os espaços terrestre, aéreo e aquático (o mar territorial brasileiro é de 12 milhas). Conforme lição de Maximiliano e Maximilianus Fürer,7 “respeitado o princípio da tipicidade estrita, no conceito de território não se incluem as extensões referidas no art. 5º, § 1º, do Código Penal, ou seja, as embarcações e aeronaves nacionais que se encontram fora do território nacional”. 
Em relação aos sujeitos do crime, o traficante (sujeito ativo) pode ser qualquer pessoa (crime comum). Já a vítima (sujeito passivo) também pode ser qualquer pessoa (mulher, homem, travesti8). Como visto, se for criança ou adolescente, a pena é majorada de metade. O tipo subjetivo é o dolo específico, afinado com o tráfico internacional destinado ao exercício da prostituição ou de outra forma de exploração sexual (o agente deve ter conhecimento e agir de acordo com essa finalidade). Não há previsão de modalidade culposa. 
Inexiste consenso na doutrina quanto ao momento de consumação do crime. Uma linha doutrinária, da qual somos adeptos, defende que o ilícito é de natureza formal, ou seja, que se consuma com a efetivação da entrada ou saída da vítima do país; e que basta o intuito e não necessariamente que se prostitua no destino de saída ou de chegada, visto que o efetivo exercício da prostituição caracterizaria o exaurimento do delito. Outra corrente10 assenta-se ao entendimento de tratar-se de crime material, pois as expressões “venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual e vá exercê-la no estrangeiro” pressupõem a necessidade do efetivo exercício da prostituição ou de outra exploração sexual. Embora possa existir resistência por pequena parte da doutrina, é de ser admitida a punição da infração tentada, eis que é perfeitamente possível fracionar o iter criminis. 
Tocante às condutas paralelas (incorre nas mesmas penas aquele que) agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la (art. 231, § 1º), cabe assinalar: agenciar significa atuar como agente representante ou empresarial; aliciar exige o comportamento ativo de atrair, conquistar, convencer o sujeito passivo; comprar aplica-se ao caso em que a vítima é comparativamente reduzida a uma coisa, isto é, submetida ao mais degradante nível da escravidão sexual, podendo ser adquirida mediante pagamento. De outro vértice, quem transportar
(conduzir por qualquer meio), transferir (deslocar de um lado para outro) ou der alojamento (hospedagem ou guarida) à pessoa traficada, conhecendo essa condição, merece idêntica punição. 
Quando o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, a imposição de multa é obrigatória. A ação penal é pública incondicionada, de iniciativa exclusiva do Ministério Público Federal, já que o juízo competente para julgamento do processo criminal é federal (art. 109, V, da Constituição Federal). Lembre-se, ainda, que a ação penal corre em segredo de justiça (art. 234-B, do Código Penal).
De outro vértice, será punido com reclusão, de 2 a 6 anos, quem promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual. Na mesma pena incorre aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. Incide o aumento da metade da pena: se a vítima é menor de 18 anos; se a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; e, ainda, se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. Ademais, será imposta, cumulativamente, a pena de multa se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica (art. 231-A, caput, §§ 1º, 2º e 3º, do Código Penal, com as alterações determinadas pela Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009). 
Preferiu o legislador cuidar da ilicitude do tráfico de pessoa para fim de exploração sexual em dois dispositivos do Código Penal, sendo um destinado à repressão da conduta criminosa internacional e outro para combater o ilícito em território nacional. Nada obstante, nota-se que as redações dos arts. 231 e 231-A são quase idênticos, diferenciando-se apenas em pequenos detalhes. De sorte que as observações anotadas no item anterior, pertinentes ao exame da modalidade internacional da infração penal, de modo geral, servem também de esteio para essa breve noção explicativa do crime de tráfico de pessoa para fim de exploração sexual que se realiza dentro das fronteiras do país.
É obvio que no tráfico interno inexiste a conotação de entrada ou saída do território pátrio da pessoa que é vítima do delito, que tem por finalidade o exercício da prostituição ou de outra forma de exploração sexual. Daí a punição ser dirigida ao agente que promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional. Deslocamento corresponde à mudança, transferência, afastamento ou desprendimento físico de alguém de um para outro lugar.
Outro dado desigual que se verifica na análise comparativa das redações dadas aos mencionados tipos penais, consiste em: (1) preceitua o § 1º do art. 231 (tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual), que incorre na mesma pena (reclusão, de 3 a 8 anos) aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la; (2) reza o § 1º do art. 231-A (tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual), que incorre na mesma pena (reclusão, de 2 a 6 anos) aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. Parece ter havido um cochilo do legislador, pois somente na equivalência de condutas delituosas do crime de tráfico interno é que inseriu ao contexto descritivo do tipo o verbo vender [a pessoa traficada], esquecendo-se de incluí-lo na redação concernente ao tráfico internacional.
A pesquisa sobre o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual e comercial no Brasil, promovida pela ONU, apontam que as regiões mais pobres do Brasil são as que apresentam a maior concentração de rotas de tráfico de pessoas, o Norte tem a maiorconcentração de rotas 76, seguido do Nordeste 69, do Sudoeste 35, Centro Oeste 33 e do Sul 28 totalizando 241 rotas sendo 110 relacionadas ao tráfico interno (intermunicipal e Interestadual) e 131 com tráfico Internacional.
Segundo Relatório NACIONAL, sobre o tráfico de pessoas, apresentado pelo Senado Federal em 2013, 254 brasileiros foram vítimas de tráfico de pessoas no Brasil. A Legislação Penal Brasileira traz mecanismos de proteção e prevenção e punição para o combate de tráfico de pessoas em seu artigo 231:
Art. 231. - Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de mulher que nele venha exercer a prostituição, ou a saída de mulher que vá exercê-la no estrangeiro: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do 1º do art. 227: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
Mesmo com os avanços da ratificação do Protocolo de Palermo, o Brasil se depara com as deficiências na proteção as vítimas, na legislação Penal ou impõe penas brandas para os grupos criminosos, tais problemas acabam incentivando o crescimento do lucrativo da atividade de tráfico de seres humanos.
“A legislação penal brasileira é incompleta e trata insuficientemente as matérias relativas ao tráfico de seres humanos, pois não aborda todas as hipóteses; ainda é necessário tipificar algumas condutas e sair apenas do plano interno”, considerou o procurador Mario Luiz Bonsaglia, do Ministério Público Federal (MPF).
Segundo o procurador, nem todas as condutas previstas nos Protocolos encontram-se contempladas na legislação penal brasileira. No Protocolo relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, o Brasil criminaliza o tráfico internacional de adultos, crianças e adolescentes para qualquer finalidade. Já o artigo 231 do Código Penal (CP) só criminaliza o tráfico internacional para fins de prostituição, trabalhos forçados, escravidão ou formas análogas à escravidão e transplante de órgãos e tecidos.
Trata- se de um negócio com um investimento baixo, alta lucratividade, e um alto índice de impunidade. 
6. POLÍTICA DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS
O tráfico de pessoas acompanha a história do Brasil desde o seu descobrimento, sendo uma atividade ilícita praticada nacional e internacionalmente. 
A prática do tráfico humano pode ser definida de diversas formas, porém, de acordo com a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional e seus Protocolos, também conhecida como Convenção de Palermo, esta prática é definida como uma forma de criminalidade organizada transnacional, o qual prevê em seu artigo 4º “0 presente Protocolo aplica-se, salvo disposição em contrário, à prevenção investigação e repressão das infrações estabelecidas em conformidade com o artigo 5° do presente Protocolo, quando essas infrações são de natureza transnacional e envolvem um grupo criminoso organizado, bem com a proteção das vítimas dessas infrações”
Atualmente no Brasil, o tráfico de pessoas é uma grande fonte de renda, só perdendo para o tráfico de drogas e o tráfico de armas, e movimenta aproximadamente, 32 bilhões de dólares por ano, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Sobre a criminalização a Convenção de Palermo no artigo 5.º Cada Estado Parte deverá adaptar as medidas legislativas e outras que considere necessárias para estabelecer como infrações penais os actos descritos no artigo 3.º do presente Protocolo, quando tenham sido praticados intencionalmente. 
As Organizações das Nações Unidas considera que este crime é o pior desrespeito aos direitos inalienáveis da pessoa humana, tendo em vista que a pessoa traficada é transformada em objeto de comércio, limitando sua liberdade e agredindo sua dignidade, a vítima tem sua identidade desconstruída.
O tráfico de pessoas consiste numa forma de escravidão, já que priva a pessoa de suas liberdades fundamentais, como a liberdade de locomoção, de escolha e, inclusive, de seu próprio corpo.
O mais recente Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas do UNODC destaca a real extensão deste crime. Estima-se que pelo menos 152 países de origem e 124 países de destino são afetados pelo tráfico de pessoas e com mais de 510 fluxos através do mundo, nenhum país está imune. 
Desta forma é evidente que, são inaceitáveis pessoas inocentes sejam ofendidas em sua dignidade, sofrendo as mais diversas humilhações, torturas, ofendendo diversos direitos consagrados e garantidos na Constituição Federal, como a vida e a liberdade.
Nesse contexto, foram criados documentos, protocolos e organismos que têm como ponto central o enfrentamento ao tráfico de pessoas. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, DEC 7.901/2013 (DECRETO DO EXECUTIVO) 04/02/2013. Institui a Coordenação Tripartite da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e o Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONATRAP) será integrado pelos seguintes órgãos: I - Ministério da Justiça; II - Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; e III - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Além disso, a Carta das Nações Unidas, assinada na cidade norte-americana de São Francisco, em 26 de junho de 1945, determinou parâmetros para que os Estados-membros atuassem em busca de segurança internacional e de manutenção da paz, o que é de extrema importância para o combate do tráfico internacional de pessoas. Em seu texto, incluiu a proteção aos Direitos Humanos, conforme se extrai de seu artigo 1º os propósitos das Nações unidas são:
Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz;
A carta foi responsável pela criação da Organização das Nações Unidas (ONU) que, por sua vez, criou a Declaração Universal dos Direitos dos Homens (DUDH).
Em 10 de dezembro de 1948, a então bastante jovem Organização das Nações Unidas adotou a Declaração Universal dos Direitos do Homem dispõe no artigo IV, que: “Ninguém será mantido em escravidão ou em servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas”.
O Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, também chamadas de Protocolo de Palermo, entrou em vigor em 25 de dezembro de 2003. Foi criado com objetivo de prevenir e combater o tráfico de seres humanos, bem como proteger as vítimas e promover a cooperação entres os Estados-Membros.
Por iniciativa da Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania foi criado o primeiro Observatório de Direitos Humanos no Estado de São Paulo, visando o recebimento das denúncias por meio digital.
O primeiro projeto conjunto entre o governo (Ministério da Justiça) e o UNODC, de 2002 a 2005, deu início ao Programa de Combate ao Tráfico de Seres Humanos no Brasil. Os focos foram concentrados em quatro estados: Rio de Janeiro e São Paulo (centros de saída pelos aeroportos internacionais) e Goiás e Ceará (onde o tráfico atua mais intensamente). O Brasil ratificou o Protocolo contra Tráfico de Pessoas em 2004. Houve alteração no artigo 231 do Código Penal, que trata especificamente do tráfico internacional de seres humanos, tipificando, pela primeira vez, o tráfico interno, que atinge principalmente crianças e adolescentes.
O Estado brasileiro, que ratificou o Protocolo de Palermo em 2004, passou a compreender o tráfico de pessoas como um problema de governo a partir da Recomendação da Organização dos Estados Americanos (OEA), para elaborar uma pesquisa que demonstrasse a situação do tráfico de pessoas, em especial, mulheres e meninasno Estado brasileiro.
Em 2006 foi aprovada a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, por meio do Decreto n. 5.948/2006. Este Decreto estabeleceu a criação de um grupo interministerial para elaborar um plano nacional para enfrentar o tráfico de pessoas.
O Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas com o Decreto n. 6.347/2008, trouxe os compromissos do Governo brasileiro no enfrentamento ao tráfico de pessoas. As metas e ações estabelecidas foram pensadas com foco em três eixos: prevenção; repressão e responsabilização, e atenção à vítima.
O Brasil está num processo de organização para o combate a essa violação dos direitos humanos, inclusive com relação à legislação penal, que prevê o tráfico internacional e interno para fins de exploração sexual, mas não para fins de trabalho forçado ou remoção de órgãos. Para esse caso, deve-se recorrer a outros artigos não específicos e que não representam a gravidade da situação apresentada. Isso não significa que a mudança da lei penal, por si só, será responsável pela diminuição do crime de tráfico; ela ajudaria a esclarecer o conceito, competências e limites para categorização do crime, no entanto a prevenção é o melhor e mais eficaz meio de eliminar esse crime.
O tráfico de seres humanos constitui uma violação dos direitos da pessoa humana e um atentado à dignidade e à integridade do ser humano que pode conduzir a uma situação de exploração para as suas vítimas. Portanto, é necessária que a comunidade nacional e internacional esteja comprometida com a melhoria das condições socioeconômicas dos grupos sociais mais vulneráveis, vez que, não pode haver enfrentamento ao tráfico de pessoas, sem desenvolvimento social que proporcione o acesso de todos os seres humanos aos direitos fundamentais.
Assim, é possível concluir que, diante de tantas atrocidades sofridas pela humanidade ao longo de décadas, não é admissível que a dor faça uma nação fracassar e desistir. Conforme Alexandre de Moraes (2005, p.129):
O principio fundamental consagrado pela Constituição Federal da dignidade da pessoa humana apresenta - se em uma dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes.
Desta forma conforme explica Alexandre de Moraes, o principio da Dignidade da pessoa humana, consagrado na Magna Carta, expressa uma exigência feita a todos, no sentido de que o indivíduo deve respeitar o seu semelhante, no sentido de não prejudicar ninguém.
É de extrema importância que órgãos governamentais tracem metas no sentido de investigar e descobrir todos que estão envolvidos nos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, como a adoção ilegal, seqüestro, entre outros delitos não menos graves. São importantes também ações governamentais no sentido de fiscalizar as fronteiras do Brasil, que envolvam capacitação dos profissionais, melhores condições de trabalho, atuando ainda como forma de combater a corrupção de policiais, agentes que ficam nas barreiras, que são atraídos por dinheiro fácil.
O esforço coletivo é vital para mudar o patamar do enfrentamento ao tráfico de pessoas, buscando o apoio de todos os países, pois isso se faz imprescindível e incansável á busca pela aplicação dos direitos humanos a todos os indivíduos, bem como o combate a criminalidade.
7 FATORES QUE FAVORECEM O TRÁFICO DE PESSOAS E SUAS VULNERABILIDADES
Os Fatores que Favorecem a entrada de pessoas como vítima deste crime? A pobreza, o desemprego, e a ausência de educação podem ser citados nesse sentido. Inserido na complexa estrutura do modelo de desenvolvimento capitalista o trafico de pessoas tem na globalização excludente a causa e cenário para o seu surgimento, crescimento e sustentação. Como um fenômeno multifacetário é muitos fatores básicos que contribuem para a entrada das pessoas nesta rede criminosa, fatores de ordem socioeconômica e política, cultural e ideológica: a pobreza, ausência de oportunidades de trabalho, a discriminação de gênero, a violência domestica, a desinformação, a cultura hedonista veiculada pela mídia, a instabilidade política, econômica em região de conflito, a migração forçada, o turismo sexual, a corrupção das autoridades, leis deficientes, a impunidade, são os mais citados pelos os estudiosos do assunto como fatores que favorecem a inserção das pessoas neste mercado do crime.
Particularmente vulneráveis ao tráfico de seres humanos, trafico de mulheres e adolescentes para fins de exploração sexual é resultado das contradições sociais acirradas pela globalização e pela fragilidade dos Estados- nações, aprofundando as desigualdades de gêneros, raça e etnia. O perfil das mulheres traficadas em geral é: pessoas situadas de vulnerabilidade social, desempregadas, mães solteiras, com pouco estudo, que já sofrem violência. Quando à etnia, há uma predominância para as afrodescendentes ou indígenas. São oriundas na sua maioria das regiões mais periféricas e sem condições dignas de sobrevivência. Mulheres que carregam o sonho e a disposição de conseguir um futuro melhor e para si e sua família.
È importante refletir sobre as causas ou principais fatores de vulnerabilidade que propiciam a ambiência para que o tráfico de pessoas possa se perpetua. Em geral, esses fatores não estão ligados única e exclusivamente a questões econômicas e sociais. É claro que estas condições e fatores, a pobreza, a busca por melhores oportunidades de trabalho, necessidade de sustentar a família, motivos ambientais (secas ou inundações) estão entre as motivações que levam as pessoas a cair em falsas promessas que se revelam e situações de exploração posterior.
Recrutado em regiões distantes muitos imigrantes, embarca para outros países atrás de falsas oportunidades de trabalho, e cada um submetendo a jornada exaustiva, condições degradantes, ameaças, contração de dividas e até mesmo violência física, uma forma contemporânea de trabalho forçado no exterior. Na jornada de trabalhos também são limitado, o período de descanso, alimentação, os alojamentos não são adequado, apreensão de documentos, presença de guardas armados constantemente no local, e ameaças. O Trabalho forçado, 20 milhões e 900 mil pessoas são vítimas da exploração da mão de obra no mundo, muitas delas traficada, para o Brasil também é vítima desse crime, daqui homens e mulheres são levados para trabalhar em outros países em regime severo e subumano. Sendo exploradas na Ásia as modelos muitas vezes tem o salário descontado por dividas e tendo o horário de trabalho muito duro, muito longo e tratamento brutal. Na América do Sul, brasileiros foram encontrados em situação de servidão por dividas, o garimpo da goiana e Suriname, mulheres brasileira vão para ser cozinheira durante o dia e trabalhadoras do sexo durante a noite.
7.1 PERFIL DA VÍTIMA
Com base nos textos internacionais que tratam do tema, constata-se uma evolução em relação à vítima desta atividade criminosa. Em um primeiro momento, as mulheres brancas eram o alvo dos criminosos, depois mulheres e crianças e, atualmente, qualquer ser humano pode ser vítima do tráfico.
Estudos e pesquisas apontam que mulheres e crianças correspondem à maior parte das vítimas do tráfico de pessoas, bem como o sexo feminino é maioria. A faixa etária das vítimas, em regra, ocorre entre os 18 e 30 anos, com maior incidência entre os 18 e 20 anos, e em sua maioria são pessoas solteiras.
Geralmente a vítima está fragilizada por sua condição social, tornando-se presa fácil para os traficantes que se aproveitam dessa situação de vulnerabilidade e transformam-na em objeto de mercado. Nesse sentido, a Associação Internacional de Direito Penal prevê que entre as mulheres vítimas do tráfico encontram-se, em regra, aquelas de pouca escolaridade e com baixo poder aquisitivo, muitas vezes envolvidas na prostituição. Contudo, percebem-se no mercado do tráfico também mulheres comgrau de instrução médio ou superior, com relatos de anterior ocupação no mercado de trabalho, que pensam em voltar ao seu país de origem.
Conclui-se, dessa forma, que há dois gêneros de vítimas: aquelas que saíram do país com ilusão de alcançar melhores trabalhos, desconhecendo o fim da exploração; e aquelas que já estavam no mercado do sexo.
7.2 O CONCEITO DE VULNERABILIDADE PARA O TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS
O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças, adotadas em Nova York e incorporadas ao direito brasileiro, através do Decreto nº 5.017 de 12/03/04, considera mulheres e crianças como pessoas vulneráveis ao tráfico de pessoas.
O Protocolo de Palermo, por sua vez, define a situação de vulnerabilidade como um dos meios de que se valem os agentes do tráfico para obter o consentimento de pessoas para seu recrutamento, transferência, transporte, alojamento e acolhimento, com intuito de explorar seres humanos. O Protocolo, ainda, considera em seu preâmbulo que mulheres e pessoas com idade inferior a 18 anos, independentemente do sexo, como vulneráveis ao tráfico e, portanto, merecedoras de proteção internacional.
7.3 A QUESTÃO DO CONSENTIMENTO DA VÍTIMA PARA A TIPIFICAÇÃO DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS
No que tange o tema do consentimento da vítima do tráfico internacional de pessoas para que haja sua configuração, é importante observar o que dispõe o Protocolo de Palermo sobre essa questão, o qual prevê a irrelevância do consentimento da vítima nesta modalidade de tráfico.
Sendo assim, para a consumação do delito o agente não precisa depender de grande esforço para concretizar seu objetivo, pois não precisa ameaçar coagir, enganar, fraudar, seqüestrar, abusar de autoridade ou corromper, basta recrutar, transportar, transferir, alojar ou acolher pessoa aproveitando-se e prevalecendo-se de sua situação de vulnerabilidade. Pouco importa qual a percepção que a pessoa recrutada tem a respeito de sua vulnerabilidade. O agente, porém, há de ter a percepção de que a outra pessoa é vulnerável em relação a si.
Além disso, o crime se consumará com a entrada ou saída da pessoa do território nacional, não se exigindo o efetivo exercício da prostituição; trata-se de crime instantâneo. Nesse sentido, verifica-se a jurisprudência brasileira.
8 REPARAÇÃO DOS DANOS MORAIS, PSICOLOGICOS E FINANCEIRO AS VITIMAS E AS FAMÍLIAS DOS TRAFICADOS
O dever do Estado é de prevenção, reparação e jamais ser negligente na vigilância dos atos praticados pelos cidadãos. Observa-se que não há como caracterizar a responsabilidade do Estado como direta quando ocorre o tráfico de pessoas.
Seguindo este raciocínio lógico, é necessário discutir os danos morais, psicológicos e financeiros para caracterizar a responsabilidade do Estado, o qual não se pretende aprofundar, eis que a extensão do prejuízo de uma vitima de tráfico de pessoas é imensurável.
Os danos são de ordem material (físico, agressões, lesões, mutilações) e de cunho moral, cujas conseqüências pode se perdurar ao longo da vida, necessitando de acompanhamento psiquiátrico. 
Tal pensamento vem ao encontro com a teoria da culpa administrativa, na qual a obrigação do Estado indenizar decorre da ausência objetiva do serviço público em si. Não se trata de culpa do agente público, mas de culpa especial do Poder Público, caracterizada pela não prestação de serviço de segurança pública, o que detalhadamente explica Hely Lopes Meirelles: 
A teoria da culpa administrativa representa o primeiro estágio da transição entre a doutrina subjetiva da culpa civil e a tese objetiva do risco administrativo que a sucedeu, pois em conta a falta do serviço para dela inferir a responsabilidade da Administração. Já aqui não se indaga da culpa subjetiva do agente administrativo, mas perquire-se a falta objetiva do serviço em si mesmo, como fato gerador da obrigação de indenizar o dano causado a terceiro. Exige-se, também, uma culpa, mas uma culpa especial da Administração, a que se convencionou chamar de culpa administrativa. 
(MEIRELLES, Hely Lopes. 1998 p. 532).
Para esta teoria a ausência de serviço poderá ocorrer em três modalidades, a saber: inexistência do serviço, mau funcionamento do serviço ou retardamento do serviço. Sendo certo que em quaisquer desta modalidade ocorrerá à obrigação de indenizar por parte do Estado.
É importante reconhecer o fato de que uma mulher explorada na indústria do sexo pode ser vítima de estigmatizarão ou exclusão social quando confrontada com a sua comunidade ou família.
No que concerne ao quantum indenizatório, o entendimento dos tribunais nacionais, principalmente em sede de dano moral, de forma geral, é no sentido de que a indenização pecuniária não tem apenas cunho de reparação do ilícito sofrido, mas também caráter punitivo, pedagógico, preventivo e repressor. A indenização não apenas repara o dano matéria ou moral, repondo o patrimônio abalado seja físico ou a própria honra, mas também atua como forma educativa para o Estado evitar novas omissões ou ações de criminosos.
Em resumo, os danos e as perdas não materiais/nãos patrimoniais que a pessoa traficada pode procurar reparar através de processos civis e/ou criminais, incluem: 
Abusos e violações cometidos contra si (ou seja, dano físico ou mental incluindo dor, sofrimento e sofrimento emocional); 
Oportunidades perdidas, incluindo educação e perda de potenciais rendimentos; 
Dano à sua reputação ou dignidade, incluindo dano com probabilidade de prosseguir no futuro (por exemplo, como resultado da estigmatização). 
Inclusive, este é o pensamento do mestre SÍLVIO SALVO VENOSA:
Do ponto de vista estrito, o dano imaterial, isto é, não patrimonial, é irreparável, insusceptível de avaliação pecuniária porque é incomensurável. A condenação em dinheiro é mero lenitivo para a dor, sendo mais uma satisfação do que uma reparação (Cavalieri Filho, 2000:75). Existe também cunho punitivo marcante nessa modalidade de indenização, mas que não constitui ainda, entre nós, o aspecto mais importante da indenização, embora seja altamente relevante. Nesse sentido, o Projeto de Lei nº 6.960/2002 acrescenta o art. 944 do presente código que “a reparação do dano moral deve constituir-se em compensação ao lesado e adequado desestímulo ao lesante”. “Como afirmamos, se o julgador estiver a ferrolhado a um limite indenizatório, a reparação poderá não cumprir essa finalidade reconhecida pelo próprio legislador.” (VENOSA. Silvio, Salvo. 2004 p. 41).
E o ilustre doutrinador ainda acrescenta: 
Por tais razões, dada a amplitude do espectro casuístico e o relativo noviciado da matéria nos tribunais, os exemplos da jurisprudência variam da mesquinhez à prodigalidade. Nem sempre o valor fixado na sentença revelará a justa recompensa ou o justo lenitivo para a dor ou para a perda psíquica. Por vezes, danos ínfimos são recompensados exageradamente ou vice-versa. A jurisprudência é rica de exemplos, nos quais ora o valor do dano moral guarda uma relatividade com o interesse em jogo, ora não guarda qualquer relação. Na verdade, a reparação do dano moral deve guiar-se especialmente pela índole dos sofrimentos ou mal-estar de quem os padece, não estando sujeita a padrões predeterminados ou matemáticos. (VENOSO Silvio Salvo. 2004 p. 39/40). 
Com a aplicação desta teoria não se pretende o enriquecimento ilícito da vítima com a condenação do Estado em valores astronômicos, mas pura e simplesmente tornar a condenação mais justa, em face da lamentável realidade, pela morosidade da justiça e precatórios que levam décadas para o devido pagamento, o que certamente conduzirá a vitima, a uma espera infindável que certamente lhe resultará em prejuízos ainda maiores. 
Protocolo de Palermo, artigo 6:
 Art.º 6º. 2: Cada Estado Parte deverá assegurar que será fornecida às vítimas de tráfico de pessoas informação sobre os processos judiciais e administrativos

Continue navegando

Outros materiais