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FERNANDES, Florestan. "O que é a Sociologia?". In: Elementos de Sociologia teórica

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BIBLIOTECA UNIVERBIT ARIA 
Serie 2.a - Ciencias Sociais 
Valurne 38 
Direräo de 
FLORESTAN FERNANDES 
(Professor Emerito da Universidadc de Säo Paulo) 
FLORESTAN FERNANDES 
II ( Universit:Wde de Toronto) 
elementos de 
SOCIOLOGIA 
, 
TEORICA 
COMPANHIA EDITORA NACIONAL 
EDITöRA DA UNIVERSIDADE DE SA.O PAULO 
SAO PAULO 
f _,;.;. ) 
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Exemplar 
capa de 
C. CAHVIGLIONI 
N!? 1fiiJ4 ·"Jr~ 
. 'jf-,:,. 
/ 
> ".' ~-
t<,' 11ftJ./4~2~ 
I V 
Direitos desta edirii.o reservados a 
COMPANHIA EDITORA NACIONAL 
Rua dos Gusm6es, 639 
SÄo PAULO 2, SP 
1970 
Impresso no Brasil 
tNDICE 
Prefacio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 
Introdu!;äo 
Capitulo 1 - 0 QUE f A SocmLOGIA ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 
PRIMEffiA PARTE 
EsbÖ!;O de um quadro 
de referencia geral 
Capitulo 2 - As GRANDES FORMAS DA VIDA SOCJAL 35 
- As comuniclades vegetais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 
As comuniclades animais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 
As comunidades humanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 
As bases sociais da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • 53 
Capitulo 3 - As PEHSPECTIVAS FUNDAMENTAIS DA EXPLICA9ÄO SO-
CIOLOclCA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 
Capitulo 4 - A INTERA9ÄO socrAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 
Capitulo 5 - 0 CONCEITO DE SISTEMA SOCIAL . . . . . . . . . . . . . . . . 85 
S'EGUNDA PARTE 
Orienta!;OeS te6ricas no cstudo 
da sociedade 
Capitulo 6 - Ü ESTUDO DA ORGANIZA9ÄO SOCIAL . . . . . . . . . . . . . . 113 
Capitulo 7 - 0 CONCEITO DE CONTROLE SOCIAL E SUA APLICA9AO 
NA SOCIOLOGIA . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 
1 - lntrodu9iio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 
2 - Obscuridade e equivocidade do conceito de 
"controle social" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 
! 
i 
,I 
I' II I' I Ii 
" ij\ 
3 - A "equa<;lio pessoal" na conceitua9ao de con-
trole social ............................... 170 
4 - Conclusöes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 
Capitulo 8 - FuNCIONALISMO E ANALISE ciENTlFICA NA SocroLOGIA 
MODERNA , , , , , . , , .... , ... , . , . , , , ...... , . . . . . . 191 
Capftulo 9 - A UNIDADE DAS CIENCIAS SOCIAIS E A ANTROPOLOGIA 202 
- Unidade das ciencias sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203 
- A Antropologia e seus problemas te6ricos . . . . . . . . 207 
- Significa9lio da Antropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217 
Capitulo 10 - A coNCEP!;AO DE CIENCIA rodTICA DE K. MANNHEIM 223 
I - A Politica ...................................... 224 
1) Objeto da ciencia politica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 
2) Fun9äo politica da ideologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229 
3) A conduta politica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 
4) Teoria e pn\.tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 
5) A sintese dialetica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236 
III - Conseqüencias gerais do pensamento de Mannheim .. 239 
A) Do ponto de vista metodol6gico . . . . . . . . . . . . . . 240 
1) A ciencia em face da mudan9a cultural . . . . 241 
2) 0 estudo dos processos e a busca das "leis 
gerais": Delimita9ao das esferas praticas da 
sociologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255 
B ) Do ponto de vista sociol6gico . . . . • . . . . . . . . . . . 260 
1) 0 controle da realidade social . . . . . . . . . . . . . 261 
2) Educa9ao e conduta politica . . . . . . . . . . . . . . 284 
3) Relatividade das esferas do politico . . . . . . . . 288 
APENDICE 
0 conhecimento sociologico e os processos politicos . . . . . . . . . . . . 293 
f ~ 
CAPITULO 1 
0 QUE E A SOCIOLOGIA ? ( (J) 
A maneira mais simples de enunciar o objeto da sociologia 
consiste em descreve-la como "a ciencia que estuda os feno-
menos sociais". Mesmo o observador desprevenido pode dar-
se conta de que certas atividades de organismos como as for-
migas, as abelhas, os macacos ou os homens realizam-se 
mediante a conjuga9äo de esfor9os e concorrem para a sa-
tisfagäo de necessidades que säo tanto individllais, quanto 
supra-individuais ou coletivas. Por isso, e täo comum falar-se 
em "comportamento social" das formigas, das abelhas, etc., e 
em "mllltidäo", "comllnidade" ou "sociedade" de formigas, de 
abelhas, etc. Nesse sentido, entende-se que a noifcio de "fe-
nomeno social" se refere a atividades ( ou comportamentos) 
cuja manifestaifcio, generalidade e repeti9äo dependem, indi-
reta ou diretamente, de condi9öes extemas ou intemas dos 
organismos: o modo deles coexistirem; as dependencias exis-
tentes entre eles no que concerne a adaptaifcio ao ambiente 
natural, a alimentagäo, a reprodu9ä0 Oll a prote9äo mutua; 
os la90s invislveis Oll objetivos, que fazem da agrega~o e da 
associa9äo mecanismos neoessarios nos processos da vida. 
Essa representa9äo do objeto da sociologia e, no entanto, 
demasiado tösca. Ela serve como ponto de partida. Mas, e 
imprecisa, por fundar-se em nogöes que näo säo especlficas 
( 0 ) Trabalho inedito, escrito em 1959, como parte de um manual destinado 
a serie de ci~ncias sociais da Biblioteca Universitaria da Companhia Editora Na-
cional. 
20 
ELEMENTOS DE SOCIOLOGIA TEORICA 
da sociologia. Por paradoxal que parec;a, a caracterizac;äo do 
que e "social" no comportamento dos organismos näo e pro-
blema exclusivamente sociologico. A parte desempenhada pela 
agregac;äo e pela associac;äo nos processos da vida chega a 
ser täo importante em varias espedes de organismos, que tanto 
a biologia, quanto a psicologia e a antropologia tambem se 
preocupam, fundamentalmente, com a natureza, as variedades 
e as func;öes dos comportamentos sociais entre os seres vivos. 
0 que particulariza a contribuic;äo da sociologia e que ela 
Jida com OS "fenomenos SOCiais" no plano em que eJes podem 
ser descritos, objetivamente, atraves de propriedades da por-
c;äo social do meio ambiente dos organismos e dos processos 
que nela ocorrem. Ern conseqüencia, näo Ihe cabe estudar os 
organismos corno tais, nem as propriedades deles, que deter-
minam ou condicionarn seus comportamentos sociais. Com-
pete-lhe, especificamente, estudar os comportamentos sociais 
em si mesrnos, ou seja, como parte de uma rede de interde-
pendencias e de interac;6es sociais, caracteristica da especie de 
organismos considerados. 
Portanto, o sociologo opera em um plano altamente com-
plicado e abstrato, isolando e analisando relac;6es que definem, 
de modo imediato, o nivel de cornplexidade alcanc;ado pelas 
diferentes rnanifestac;öes da vida social entre os seres vivos. 
Da rnesma rnaneira que o biologo e o psicologo sabern que os 
processos biologicos e psicologicos säo condicionados pelas 
situac;6es sociais de vida dos organisrnos, o sociologo reconhece 
que os processos sociais säo varüivelmente regularlos por ele-
mentos e rnecanismos extra-sociais, de natureza biologica, psi-
oologica ou ,biopsicol6gica. Apenas, concentra sua atenc;äo 
nas propriedades dos aspeotos sociais da vida, que säo objeto 
de sua especialidade. 
Ern surna, a sociologia näo se interessa, indiscriminada-
rnente, pelo "estudo dos fenomenos sociais". Ela trata dos fe-
nornenos sociais na medida em que estes traduzem ou expri-
rnern certo estado de sociabilidade e de coordenac;äo supra-
individual de rea96es ou de comportarnentos de organismos 
ooexistentes nas mesrnas unidadesde vida. Por isso, seu ponto 
de referencia, na descric;äo dos fenomenos sociais, näo e 0 
organismo, sua estrutura e mecanismos, mas, a propri·a teia 
",. ~-.,-,.'nn·""'"~''",'J '"'~. ·~ ···""'\>··7~ .... ,,~""'" ''"'"""V~~- ·~·'"""'"'-·~.,,~,...,"7'-,•.,....,.."., =~""'""""., __ 
INTRODU9AO 21 
de interac;öes e de relac;öes sociais. Ou seja, ern outras pa-
Iavras: a ordern social, inerente as diversas rnodalidades de 
manifestac;äo organizada da vida, oferece o ponto de referen-
cia atraves do qual os fenomenos sociais devem ser descritos 
sociologicamente. 
Esta conclusäo nada tern de tautologica. Ela näo esta-
belece que um fenomeno e social porque e pertinente a vida 
social. Antes, procura sugerir que certa porc;äo dos elementos 
e dos processos da vida e, por natureza, social. Säo OS ele-
mentos e os processos que concorrern para assegorar "con-
di~es normais de existencia" as espedes de organismos que 
dependern da agregac;äo ou da associac;äo para sobreviverem, 
se reproduzirern e se adaptarern as exigencias estaveis ou va-
riaveis do meio ambiente. Nesse caso, os organismos vivem 
em condic;öes que conv.ertern a agregac;äo ou a associac;äo em 
necessidade vital. A sociedade näo se opöe a natureza, pois 
representa o seu prolongarnento na organizac;äo dos processos 
da vida. 
A. luz de tais argurnentos imp6e-se, sobretudo, considerar 
tres fatos basicos. Primeiro, a ordern social parece constar 
entre os fundamentos do equilibrio da natureza, nos niveis 
de organiza9äo da vida que requerem, normalmente, a agre-
gac;äo ou a associac;äo dos organisrnos. Segundo, a importancia 
relativa da ordern social, na determinac;äo do equilibrio da 
natureza, e incontestavelrnente variavel, por serem muito di-
versas as necessidades que ela parece preencher nos diferentes 
niveis de organizac;äo da vida. Terceiro, a estabilidade da 
ordern social parece ser amplamente afetada por fatores e 
mecanismos extra-sociais rnas, inversamente, tambem parece 
claro que, em dadas condic;6es, a instabilidade da ordern so-
cial resulta de elernentos e de processos sociais, o que Ihe con-
fere influencia causal para alterar o padrao de equilibrio da 
natureza. 
Quanto ao primeiro fato, e possivel distinguir, grosso 
modo, quatro niveis de organizac;äo da vida, tendo-se em vista 
a estrutura dos organismos e a natureza do intercämbio que 
eles conseguern desenvolver com o meio em que vivem. A 
esses niveis aplicamos qualificac;6es provisorlas e precarias, 
que se justificarn, contudo, no estado atual de nossos conhe-
'''""''--" 
22 ELEMENTOS DE SOCIOLOGIA TEORICA 
cimentos: a ordern bi6tica, a ordern biossocial, a ordern psicos-
social e a ordern sociocultural(l ). A ordern biotica rraduz a 
condi9äo mais elementar da capacidade dos organismos de esta-
belecer intera9äo social com outros organismos da mesma es-
pecie ou de espedes diferentes. 0 melhor exemplo, a respeito, 
säo as aglomera96es vegetais. Nelas se observam certas ten-
dencias greganas, vinculadas a um padräo extremamente ele-
mentar de sociabilidade, assegurado pelo modo de coexisten-
cia das plantas individuais no espa90 e por interdependencias 
puramente bioticas, produzidas por fatores inorganicos e orga-
nicos(2). A ordern biossocial aparece em um nfvel mais com-
plexo de organiza9äo da vida, no qual os organismos dispöem 
da capacidade, biologicamente condicionada, de se locomove-
rem e de interagirem entre si. Tal ordern representa o pro-
duto do concurso de fatores organicos estaveis, embora se 
possa presumir que fatores supra-organicos chegam a desem-
penhar algum papel na intera9äo dos organismos entre si ou 
oom o meio( 3 ). 0 exemplo tfpico desse nfvel de organiza~o 
de vida nos e dado pelas "sociedades de insetos" ( como as 
constitufdas por formigas e por abelhas ), nas quais os "fatores 
biol6gicos predominantemente canalizam as fun96es sociais" e 
em que os padröes sociais emergem, ontogenicamente, atraves 
da influencia dominante de fatores hereditanos( 4 ). A ordern 
psicossocial envolve uma combina9äo mais complicada na ope-
ra9äo de fatores organicos, de carater psicobiol6gico, e de 
fatores sociais, inerentes a maneira peJa qua} OS indivfduos 
aprendem a viver em grupo e a reagir apropriadamente a 
presenga de outros organismos, da mesma especie ou de espe-
des diferentes. A ilustragäo tfpica desse nfvel de organiza9äo 
da vida e fornecida pelos primatas sub-humanos. Ern rela~o 
aos chipanzes, por exemplo, ja se disse que eles sentem "uma 
fome ou necessidade de estimulagäo social que e comparavel, 
( 1) Cf. F. FERNANDEs, Sociologia, pp. 3-4; a parte objetivamente fundada das 
distin!;i)es baseia-se em conclusöes dos estudos te6ricos de Scbneirla ( especialmente, 
"The Levels Concept in the Study of Social Organization on Anima!" e "Ant 
Learning as a Problem in Comparative Psychology") e nos resu!tados das inves-tiga~es psicol6gicas, antropol6gicas e sociol6gicas söhre os prima.tas e o homo 8apiens. 
(2) A &se respeito, cf. especialmente, J. BRAUN-BLA.NQ,UET, Plant Sociology, pp. 35 e segts. 
( 3) Cf. acima, nota 1, as refer&lcias as contribui9<'5es de SCHNEIRLA. 
(4) Cf. SCHNEiliLA, "The Level8 Concept ( ... )", p. 103. 
• "::.~~:e~·:.:;:::;;~~,:;.:(J..,~~',~~~)~'!\'~=mtc'''=---··- L;c 
JNT.RODUc;A,O 23 
em importäncia, com impulsöes nutritivas, reprodutivas e outras 
tendencias organicas similares" ( 5 ). A ordern sociocultural pöe-
nos diante de uma modalidade de organizagäo da vida na qual 
os fatores orgänicos säo amplamente corrigidos e complemen-
tados por fatores supra-organicos. Os primatas humanos ates-
tam o que ocorre nessas condigöes, nas quais os organismos 
se tornam capazes de produzir cultura, de transmiti-la e de 
criar, por meio dela, importantes transformagöes nos recursos 
adaptativos condicionados biol6gica ou psicologicamente. Sem 
libertar-se das influencias das fatores organicos, 0 homem e 
o tl.nico animal capaz de domesticar suas manifestac;öes e de 
fugir as suas limitac;6es na "luta pela vida". 
0 que se pode chamar de ordern social, em cada um 
desses nfveis de organizagäo da vida, e portanto algo extrema-
mente variavel. De um extremo ao outro, passamos das me-
canismos sociais elementares e difusos, latentes nas mais di-
versas formas de manifestac;äo da vida, a padröes definidos 
de diferenciagäo e de integragäo das atividades sociais. A 
rigor, s6 no nfvel humano os fatores sociais da vida alcan9am 
uma expressäo criadora comparavel a influencia dos fatores 
organicos nos demais nfveis. Todavia, em torlos eles existem 
certas reagöes ou tendencias que evidenciam a importancia 
adquirida pela sociabilidade, pela agrega9äo ou pela associa-
~äo como requisitos da adaptac;äo dos organismos as situagöes 
de vida que estejam aptos a enfrentar. Daf a conclusäo de 
que as expressöes mais altas da vida social acham seus fun-
damentos em tendencias de agregagäo ou de associa~o que 
SäO Universais entre OS seres vivos, das pJantas aos animais ( 6 ). 
Estas tendencias indiferenciadas e universais seriam incon-
gruentes se os organismos Vivessem em estado de isolamento 
e se as reagöes a presenga de outros näo adquirissem valor 
pratico, seja para os indivfduos, seja para as aglomeragöes ou 
agrupamentos por eles constitufdos ( 7 ). E por aqui que se ex-
plicam as enormes variac;öes, inerentes a importancia relativa 
de tendencias e de comportamentos sociais nos diversos nfveis 
( 5) R. M. YEIIXES, Chipamzees, p. 42. 
(6) Cf., especialmente, W. C. ALLEE, The Social Life of Animals, capitulos 
m-vm, especialmente, pp. 117, 245-50 e 274-75. 
(7) Cf., especialmente, 0. L. TINKLEPAUGH, "Social Behavior of Animals", 
pp. 372-92. 
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24 ELEMENTOS DE SOCIOLOGIA TEORICA 
de organiza9ao da vida. A estrutura dos organismos e a na-
tureza do intercambio que precisam desenvolver com o meio 
em que vivem sao variliveis, exigindo diferentes combina9öes 
de mecanismos sociais inatos e adquiridos. 
No passado, os soci6logos deram escassa aten9ao aos tipos 
de ordern social produzidos por elementos e por fatöres extra-
sociais. As investiga9öes sociol6gicas concentraram-se söhre os 
fenömenos sociais humanos, o que fez com que se conside-
rasse como prot6tipo da ordern social a especie de ordena9ao 
das atividades sociais encontnivel entre os seres humanos. 
Esta apresenta apreciavel gama de varia9ao, ja que em cada 
nivel de organiza9ao da vida ocorrem diferen9as substanciais 
na intera9äO social dos organismos. Mas e, peculiarmente, 
uma ordern na qual os efeitos de eierneutos ou de fatöres 
extra-sociais podem ser negligenciados, sem graves inconve-
nientes para a descri9ao dos comportamerrtos sociais, bem 
como de suas bases estruturais e dinamicas. Os embates, de 
cunho doutrinario, afastaram os soci6logos dos verdadeiros 
problemas cruciais, que diziam respeito a manifesta9a0 e as 
fun9öes da ordern social nas diversas modalidades de organi-
za9ao da vida. 
0 fato incontestavel e que a interas:ao social dos seres 
vivos responde a necessidades que variam de acordo com a 
estrutura dos organismos, as condi9ÖeS de existencia que eles 
enfrentam e a capacidade deles de estabelecer, mediante rea-
s:öes e atividades apropriadas, um padrao de equillbrio dina-
mico entre essas duas esferas ( 8 ) • Isso significa que o campo 
de adapta96es a por91io social de seu ambiente näo pode ser 
fixado de maneira rigida. Certos organismos respandem efi-
cientemente as exigencias da situas:ao atraves de mecanismos 
sociais inatos. Outros, para conseguir resultados analogos, 
dependem de mecanismos sociais que säo descobertos ou re-
novados pela experiencia e transmitidos pela socializa9äo. Ern 
conseqüencia, a ordern social inerente as diferentes modali-
dades de diferencias:ao e de integra9ao de rea96es e de ativi-
dades sociais pode exprimir, parcial ou globalmente: a) o 
produto de elementos e de fatöres inorganicos e organicos ( ou 
(8) Cf. F. FERNANDES, loc. cit. 
:JN'}'l\ODUgAO 25 
extra-sociais); b) o produto de eierneutos e de fatores super-
organicos ( ou propriamente sociais); c) o produto da com-
bina91lo variavel de elementos e de fatöres inorganicos, orga-
nicos e superorganicos. 
Os exemplos assinalados acima sugerem que a ultima al-
ternativa e a mais .freqüente. Ha condis:öes nas quais o super-
organico tanto pode ser mero efeito de mecanismos adapta-
tivos mais simples ( a tolerancia a presen9a de outros ou a 
tendencia a coopera9ä0 automatica COIDO produto do modo de 
coexistencia dos organismos); inversamente, existem condi96es 
nas quais o superorganico atesta a capacidade inventiva e 
criadora dos seres vivos, como acontece com a cultura entre 
os primatas humanos. 0 que importa ressaltar, pois, diz res-
peito as fun9Öes das rea9Öes e dos comportamentos sociais -
ou especificamente, da ordern social - na organizas:ao da vida. 
A medida que o campo de adapta9öes dos organismos passa 
a depender, de maneira crescente e dominante, de elementos 
e de fatöres superorganicos, qualquer que seja sua origem ou 
natureza, aumenta a plasticidade das relas:öes dos organismos 
entre si e a faculdade deles de exercer contröles ativos sobre 
• 1• as condi96es normais de vida. Isso faz com que a Ol'dem so-
cial se transforme de requisito da organiza9ao da vida, o que 
e verdadeiro para OS organismos, cuja sobrevivencia depende 
da agrega9ao ou da associa91io, em fator de diferencia9äo e de 
reintegra9ao das formas de organiza9ao da vida. A evolus:ao 
dos primatas e, em particular, a hist6ria cultural do homem 
contem as melhores evidencias desse processo, que confere a 
ordern social o poder de interferir na configuras:ao do padrao 
de equilibrio da natureza. 
Segundo as considera96es desenvolvidas, a ordern social 
constitui um sistema de referencias de caniter universal. Onde 
'
1 os organismos se agregarem ou se associarem socialmente, exis-
tiräo certas regularidades no modo de coexistencia ou de con-
vivencia deles entre si. A no9ao de ordern social denota essas 
regularidades, quaisquer que sejam suas origens, as condi96es 
que os suportem, estruturalmente, e os fatöres que determi-
nem, dinamicamente, sua continuidade ou instabilidade. Tais 
origens, condis:öes e fatöres possuirao natureza variavel, de 
26 ELEMENTOS DE SOCIOLOGIA TEORICA 
arordo corn 0 nfvel de organiza9ä0 da vida DO qual se pre-
tenda estudar os fenomenos sociais. ::E certo que, no nivel hu-
rnano, eles seräo de natureza sociocultural; rnas, nos niveis 
sub-hurnanos, eles compreenderäo toda a gama de elernentos 
inorganicos, organicos e superorganicos que concorrarn para 
estabelecer o alcance, a cornplexidade e a plasticidade da fun-
9äo sodal do rneio em que existarn os seres vivos. 
Par isso, em qualquer das niveis de organiza9äo da vida 
a ordern social surge corno um sisterna de referencias adequa-
da a caracteriza9äO sociol6gica dos fenomenos sociais. Utili-
zando-o construtivamente, o sociol6go pode determinar, de 
rnodo irnediato e univoco, se dada condi9äo, rea91io, tenden-
cia, cornportarnento ou processo e ou näo social. 0 que lhe 
importa, logicarnente, e a rela91io do elernento considerado 
( condi9äo, rea91io, tendencia, etc.) com o sisterna de referen-
cias proporcionado a observa9a0 e a anaJise pela ordern SO-
cial. 0 soci6logo lida, assirn, corn aspectos e rnecanismos da 
vida que säo negligenciados pelo biologo e pelo psic6logo. 
Corno e sabido, 0 primeiro, insere OS referidos elernentos no 
sistema de referencias oferecido pela estrutura anatornica e 
pela fisiologia dos organisrnos. 0 segundo, por sua vez, en-
cara-os em termos do sisterna de referencia fomecido pelas 
potencialidades individuais de comportarnento dos organismos. 
Ambos tornarn em conta certos reflexos e efeitos da situa9äo 
grupal nos fenomenos da vida que estudam. Mas, näo se 
devotarn a questäo de saber ate que ponto OS rnecanisrnos da 
vida dependern do modo pelo qua! os organismos constituern 
agregados e grupos sociais. Mesrno quando se interessarn 
pela descris;äo de processos que pressupöern, inevitavelrnente, 
situa9öes grupais, como ocorre com a cornpeti9äo entre os seres 
vivos ( 9 ), ornitern a importancia estrutural e dinarnica das con-
di9öes coletivas de existencia, sejarn elas eshiveis ou variaveis 
de rrianeira constante. Concentrando-se sobre esses aspectos 
da realidade, a sociologia contribui para alargar os conheci-
mentos da ciencia, estendendo-os aos recantos da vida mais 
resistentes a Capaeidade de observa9ä0 e de explicas;ao do 
hornem. 
(9) Cf. N. TINBERGEN, Social Behaviour in Animals; e B. F. SKINNER, The 
Behavior uf Organisms. 
Jlft'BODU<;ÄO 27 
Säo dois os criterios pelos quais os soci6logos obtern a 
convi<:91io de que dada condis;äo, reas;äo, tendencia, cornporta-
roento ou processo e social. Prirneiro, mediante analise da na-
tureza dos efeitos da coexistencia ou da intera91io de uma plu-
ralidade de organismos individuais. A coexistencia ou a in-
tera91io a-dquirem carater social onde elas evidenciam algum 
grau positivo de sociabilidade, quer esta se apresente como 
roera interdependencia condicionada pela fun91io dos indivi-
duos no todo, quer ela traduza uma forma mdimentar de 
tolerancia mutua, quer ela envolva reciprocidade e querer co-
roum. Segundo, mediante amilise da natureza das proprieda-
des estruturais e funcionais das aglomeras;öes formadas pelos 
organismos. Uma aglomera91iO de organismos possui carater 
ICicial quandoa contigüidade espacial se converte em situas;äo 
coletiva de existencia, qualquer que seja o fundamento do 
modo de estar ligado no todo e pelo todo ( passiva ou ativa-
roente, mecanica ou organicamente, imediata ou mediatamen-
te, ffsica ou moralmente, etc.). A fo:rma mais simples, assu-
roida pela aglomeras;äo social, e a que resulta da agrega91io 
de organismos da mesma especie ou de especies diferentes. 
As chamadas "cornunidades de plantas" e grande numero de 
"'comunidades animais", säo, de fato, agregados sociais. A 
aglomeras;äo social assume formas mais complexas quando se 
produz por associar;iio. Nesse caso, mecanismos organizat6rios, 
de base organica ou de origem superorganica, coordenam as 
posi9öes e regulam as atividades dos organismos, ajustando-as 
quer as necessidades deles como membros individuais da co-
letividade, quer as necessidades da coletividade como um todo. 
Corno o demonstram as "colonias" de formigas ou de abelhas 
e as sociedades humanas, a diferencia9äo e a integras;äo da 
ftms;äo social do meio ambiente assumem, entäo, padröes es-
trutural e funcionalmente bem definidos. 
As fronteiras empiricas da sociologia säo delimitadas pelas 
possibilidades 16gicas de aplica9äo desses dois criterios. Nem 
töda modalidade de aglomeras;ao ou de interas;äo dos seres 
vivos e social, cabendo legl.timamente no campo de investi-
gas;äo da sociologia. A aglomera9äo de organismos, para ser 
interpretada sociologicamente, precisa apresentar algum pa-
dräo, por simples que seja, de composi9äo do todo e de ooor-
I .I 
! I' 
28 ELEMENTOS DE SOCIOLOGIA TOORICA ~u9A.o 29 
denac;äo no todo. A interac;;äo dos organismos precisa revelar, da, refere-se a natureza do ponto de vista sociol6gi A tr 
igualmente, para ser objeto de indaga9öes sociol6~cas, alguma tar as ~correncias quese passam na esfera social dac~da ~ma~ 
forma de sociabilidade, por indiferenciada e rudunentar que regulandades que devem ser descritas e interpretadas at , 
, d , . d d " stitu' - d . raves 
se
1
·a. A convic9ao dos sodologos e que certas ocorrenc1as a a. con I~o o mew sociai interno", 0 soci6logo - _ 
f 
, . . nal' d rt' I d nao pre 
vida devem ser entendirlas como erwmenos socwts e a t- ten e conve e- as em enti ades substantivas que ex· t 
d. t . · ~1 , IS am em sadas sociologicamente repousa, portanto, em proce Imen os s: e para SI. .c ~ preocupa-se, inversamente, em ajustar seu 
objetivos de descri9ao da realidade, que ~dem ser postos .em SIStema de nota90es - peio qual a realidade e descrita e in-
pn1tica ou repetidos p~r q~a,lquer, investigador .. , Pela aphca- terpretada - ao quadro de referenda imposto peios fatos 
('ao apropriada dos dms cntenos e que os socwlogos conse- observados. Fundando-se nas propriedades que e'le 
• 1 ·'I s apresen-
guem estabelecer, objetivamente, a parte tomada pe as ocor- tam, o soc10 ogo procura abstrair as condi('öes e os pro 1. - d f - ' · t · · d • cessos rendas observadas na preserva9a0 ou na amp Ia9a0 a Un9a0 propnamen e SOCiais OS demais fenomenos da 'd Al I 
. 'd d dis d b . VI a. em 
social do meio em que vivam os orgamsmos cons1 era os. so, procura · esco nr o que tais condi('öes e pr 
. . , . . . d . d . t . , . • ocessos re-
Assim os dms cntenos permitem ev1 enc1ar, e maneua com- presen am para a ex1stenc1a a sobrevivenCI·a e a ev I - d 
, , ~ . ' 0 u9a0 OS 
P
rovavel por investigadores diferentes, como aquelas ocorren- s~res VIVOS. Pode acontecer que neles repousem e d'l d -
f 
· t d ·.. ees e 
cias se relacionam com a composi9ao, com o uncwnamen o e pen am os pnncipais mecanismos da vida As 00 'd d h il · mum a es 
com a altera9ao da ordern social. umana~ . ustram mui~o bem esse ponto. Mas, tambem ocorre 
A conseqüencia mais importante dessa maneira de caracte- 0 ~ntran?, ~ que exige que se tenha uma visäo reiativista 
rizar os fenomenos sociais consiste em que a ordern social nao da rmportancm estrutural e dinamica dos mecanismos sociais 
se define a partir do comportamento social de organismos in- mesm? ~os casos em que o valor adaptativo deles alcan9~ 
dividuais. Ao contr:lrio, o comportamento social de organis- magmtu es extremas. 
mos individuais e, que se define a partir da ordern inerente a? , E~ suma, como ~ biologo e o psic6Iogo, 0 soci6Iogo tam-
estado em que eies se congreguem, normalmente, entre SI. bem lida c?m os fenomenos da vida. Apenas trata-os d 
Corno esoreve Mauss, refletindo sobre 0 carater dos fenomenos ponto de VISta especial, que 0 leva a estudar 'sistema' ticae um 
d 
t . fl ' . ' men-
sociais humanos: "o ato e social porque tira sua forma a so- ~· ~s 1~ uencias exercidas peias condi9öes coletivas de exis-
ciedade e porque nao tem razäo de ser senao em r:la9ao a te~Ia sobre os mecan~smos adaptativos dos seres vivos. Sua 
ela" ( 10). ~;so quer dizer, :m outras pala~ras, que ~~o basta un_Hlade de tra~aiho nao säo nem os organismos nem as ro-
referir os comportamentos de uns orgamsmos aos compor- p~edades que eles possuem. Mas, o modo peio qual 0 P _ 
tarnen tos" de outros organismos para considen1-Ios, sociologica- ~os se congregam sociaimente e as conseqüencias : or~a, 
mente, como "sociais". Para merecer essa qualifica9ao, os advem para as formas de organiza9ao da vida. q.;; ai 
" d · · · 1 · 1 perspectiva c b ' · I · essa 
"comportamentos os orgam&mos preCisam mc mr-se, regu ar- . ' a e ,a socw Ogia estudar todas as espedes ou 
mente, na esfera social da teia da vida. vaned~de~ ·de fenomenos sociais, pertinentes as comunidades 
Dai decorrem duas implica9öes basicas. A primeira, diz vege~;Is, as comunidades animais ou as comunidades huma-
respeito a relatividade inevitavel da pr6pria noc;äo de "social" ~as( ). A facuidade de viver socialmente näo e exclusiva do 
vista sociologicamente. Corno a fun9äo sociai do meio varia ~mem. ? que parece ser peculiar ao homem e 0 modo de 
tanto de um nfvel de organiza9a0 da vida para outro, quanto ' VIVer SOCiaimente articulado a comunica9a0 simbolica, a SO-
no seio de um mesmo nivel social, ela se apresenta ao so-
ci6logo como uma categoria extremamente relativa. A segun-
(10) H. HUDERT e M. MAUSS, Melanges d'Histoire des Religions, p. XXIV. 
(11) Alguns autores tambem se preocupam com as questöes que a sociologia 
.poderia se propor tendo em vista a organizagäo da materia e a continuidade do 
morgAn.ico ao orgilnico ( cf. HALMOs, pp. 4 e segts.). Nao obstante, o interesse 
meramente analbgico dessas questoes näo e de molde a refletir-se na delimitagao 
do campo e do metodo da sociologia. 
I 
30 ELEMENTOS ,DE SOCIOLOGIA TEORICA " ~u<;Ao 31 
cializa~ao pela transmissäo da heran~a cultural e a conviven-
cia fundada em uma ordern social. l!:sses sao, porem, caracte-
res especificos, que separam o universo social humano do 
mundo social sub-humano. Alem deles, existem outros requi-
sitos da vida social que se repetem sempre que a intera~ao e I 
a aglomera~ao de seres vivos assumem caniter social. Tais ·~ 
requisitos sao, naturalmente, afetados pelo grau de comple- J 
xidade atingido pelo ambiente social nos diferentes niveis de 1 
organiza~ao de vida, o que ja foi mencionado acima, a pro- ~. 
p6sito da sociabilidade, da agrega~o e da associa~äo. Mas, I 
isso nao impede que eles possuam enorme interesse empirlco ~ 
e te6rico para a sociologia, a qual se defronta, em nossos dias, J 
com dois tipos de tarefas igualmente diffceis: 1.0 ) obter sobre ~:: 
os fenomenos sociais sub-humanos oonhecimentos romparaveis ~~ 
aos acumulados pelos soci6logos mediante o estudo das socie-l 
dades humanas, as quais permitem explicar as condi<;öes de ~ 
afividades ou de a~öes e de rela~6es, inerentes as vanas mo-
dalidades de agrega~äo e de associa~ao, o estado de coexis-
Wncla dos organismos e dinamico, de intera~äo dentro de um 
campo social indiferenciado ou organizado. Por isso, bastaria 
ligaressa no~äo ao ponto de vista defendido acima, a res-
peito da extensäo das indaga96es sociol6gicas, para se ter uma 
defini~äo suficientemente inclusiva do objeto da sociologia. 
Em sfntese, a sociologia e a ciencia que tem por objeto estudar 
a interayiio social dos seres vivos nos diferentes niveis de orga-
nizaylio da vida( 13 ) • 
REFERf:NCIAS BIBLIOGRAFICAS 
existencia social atraves dos requisitos esped.ficos da intera~o j~ ALLEE w c h . . s~cial em dad.o nivel da '?da; 2.0 ) d~r nova orienta~o a ana-~ & co:, I~c~ ;g;;.cwl L!fe of Animals, Nova York, W. W. Norton 
hse comparativa dos fenomenos socmis, de modo a estender 2~ B -B . _ . 
as explica~es sociol6gicas as propriedades elementares e uni- .• ~ RAUNH SL~c:UETd, I·;,.,~di~aso ~rgaruzada e traduzida por G. F. Fuller e 
• • • • 0 • • vvnar , rwnt ocwlogy Th S d f 
versrus desses fenomenos. No estado atual da sociOlog1a, os ~ Nova York e Londres M G · H·ne tu Y 0 Plant Communities 
investigadores mostram-se pouco propensos a admitir que se- ';( FERNANDES F. 5 . lo . ' c .raw- I B~ok Co., Inc., 1932. ' 
melhantes desenvolvimentos das investiga~öes sociol6gicas ;; Sao P~ulo 'Tipoocngoraf~w da( ArtF 1goldtrdanscnto da Enciclopedia Delta) A . , Ia acu a e de Filo f c·· . , 
possam contribuir para ampliar os nossos conhecimentos sobre ....• da Universidade de Sao Paulo 1957 ( ~ Ia,. Ie~cias e .Letras 
o oomportamento social humano. Isso parece ser incontesta-.· Sociolog.ia Geral e Aplicada säo Paulo reL~r u.z1dpo· m Ensasos de 
' • ·.•·· 1960 ) ' ' Ivrana 10neira Edit' 
vel. Todavia, nao e menos claro que lan~ariam nova luz sobre.. , cap. I . ora, 
a compreensäo das fun96es do ambiente social nos processos ' HALMos, P., Towards a Measure of Man Th F . 
da vida e que, especialmente, ofereceriam uma perspectiva .. :. Adjustment, Londres, Routledge & Ke~an ;aul,ro::;;~ of Normal 
adequada a focaliza9äO de condi96es ou mecanismos da vida .. :.· HUBERT, H. e MAuss, M. Melanges d'HJ""- . d R z· . ' . b . . F 'lix , ..,.o~re es e lgtans p . L· 
social, que manifestam no mvel humano sem se tomarem pa;,; rame e Alcan, 1929. ' ans, 1-
tentes a observa~o e a anilise ( 12 ). ' SCBELER, M., Essencia y Forma de la s · t' d 
c Aires, Editorial Losad S A tmpa za, tra · J. Gaos, Buenos 
Da solu~o dessas questöes dependeni, certamente, o teor,: s " a, · ., 1942. 
mais ou menos inclusivo da defini~o que se atribuir ao objeto' CHNEIRLAzat· ' !· Ac... The Levels Concept in the Study of Soci·al Org . 
, . · Ion In mmals" i J H R h am-
da sociologia. Ern sentido lato, e inegavel que a sociologta Social Psycholo a; t: C · 0 rer e M. Sherif, organizadores, 
estuda fenomenos de intera~o social. Quer se trate de inter· Publs., 1951 c~ 4 ... ~ ;o~sroa<J:, Nova York, Rarper & Brothers, 
dependencias produzidas pela sociabilidade, quer de redes d( Psychology",' in P. L. H~rrime:;:g ~ a ~oble~ in Comparative 
chology. Recent Develo m . ou ros, wentieth Century Psy-
( 12) .Um exemplo disso e oferecido pelos aspectos de convivencia que preo-
cupam SCHELER no estudo dos fatöres emocionais mais profundas do comporta· 
mento humano. 
losophical Library, 194l, ;;~s 2~6_;6';hology, Nova York, The Phi-
-
(13) Cf. F. FERNANDES, op. cit., p. 4. 
,·: j 
32 
ELEMENTOS DE SOCIOLOGIA TEÜmCA 
SKINNER, B. F., The Behavior of O.rganisms. An Experimental Analysis, 
Nova York, Appleton-Century-Crofts, Inc., 1938. 
TINBERGEN, N., Social Behaviour in Animals. With Special Reference to 
Vertebrates, Londres, Methuen & Co. Ltd., 1953. 
TINKLEPAUGH, 0. L., "Social Behavior of Anirnals", in F. A. Moss, orga-
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Inc., 1942, cap. 13. 
YERKES, R. M., Chipamzees, A Laboratory Colony, New Haven, Yale 
University Press, 1943.

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